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Monstro da mamadeira

Caso da mãe que colocava cocaína na mamadeira da filha que,


então, morreu de overdose. Essa a notícia que correu como um
rastilho de pólvora, iniciada com a entrevista do orgulhoso delegado
titular da Delegacia de Investigações Gerais de Taubaté, na qual já
julgava Daniele Toledo Prado, de 21 anos: 'Foi um homicídio doloso.
A mãe ministrava cocaína na mamadeira da criança. Ela morreu de
overdose'. Daí por diante, não pararam mais as acusações pela
imprensa, tudo por conta de um pó branco que a polícia encontrou
na mamadeira e de pronto identificou como cocaína. Com
espantosa rapidez a máquina policial, depois o Ministério Público e
o Judiciário correram atrás e Daniele foi acabar na cadeia pública
de Pindamonhangaba. Lá, como as demais presas também lêem
jornais e vêem televisão, também julgaram e condenaram Daniele,
que foi violentamente espancada, teve uma caneta enfiada em seu
ouvido e sua mandíbula foi quebrada, sem que ninguém a
socorresse. Só então, o tal pó foi devidamente analisado pelo
Instituto de Criminalística, que elaborou um laudo conclusivo acerca
da ausência de cocaína na mamadeira, como afirmava, desde o
início, a mãe, Daniele que, então, foi libertada, deformada, com
problemas de visão e de audição. Daí, mais fatos vieram a público,
agora que Daniele deixara de ser o monstro da mamadeira e
passara à condição de injustiçada. E todos ficaram sabendo, pelos
diligentes repórteres investigativos, que a criança sempre sofrera de
uma estranha doença, que a deixava inconsciente por horas, que
inclusive tomava remédios para evitar convulsões (exatamente um
pó branco), que já fora internada em UTIs por diversas vezes, que
em uma das internações da criança a mãe fora estuprada dentro do
hospital, por um quintanista do corpo de residentes do próprio
hospital (há laudo policial confirmatório do fato), que justamente
depois da denúncia do estupro é que um médico do hospital
declarou ter encontrado no pescoço da criança um estranho pó
branco que achava ser cocaína, que tão logo foi constatada a morte
da criança, uma médica do hospital, sempre o mesmo hospital, já a
acusou da morte, chamando-a de assassina etc., etc. Por todo esse
calvário passou Daniele, uma jovem de 21 anos, que tentou,
inutilmente, salvar sua filha doente que, como tantas, não contou
com atendimento médico adequado. Ao contrário, foi até estuprada.
Então, não contou com o atendimento policial adequado, e nem
com o atendimento judicial ao qual tinha direito. Foi jogada na
cadeia pública por meras suposições e não foi protegida das
agressões que sofreu enquanto 'hóspede do Estado'. Finalmente,
com a filha morta, deformada e com sequelas, estuprada e
maltratada, Daniele foi posta em liberdade

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