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Alexandre Ricardo Manjor

António Luís Rui

Edson Noa Araújo

Hélder Jorge

Marta da Nércia Rafael Mazuze

As ciências e o Lugar da Antropologia

(Licenciatura em ensino de Geografia com habilitação a História)

Universidade Púnguè

Chimoio

2022
Alexandre Ricardo Manjor

António Luís Rui

Edson Noa Araújo

Hélder Jorge

Marta da Nércia Rafael Mazuze

As ciências e o Lugar da Antropologia

Trabalho de carácter Avaliativo da Cadeira de


Antropologia Cultural, a ser apresentado à
Faculdade de Geociências e ambiente, curso de
Licenciatura em Ensino de Geografia 2 o ano, Sob a
orientação do docente:

MSc. Tomé Morais

Universidade Púnguè

Chimoio

2022
Introdução

O presente trabalho refere-se as ciências e o lugar da Antropologia.

A interdisciplinaridade, entendida como os saberes comuns a uma ou mais matrizes do


conhecimento, vem sendo colocada como dimensão necessária a qualquer projecto científico que
se queira implementar com vistas a obter avanços teóricos e práticos mais consistentes e de
relevância social.

Nesse sentido, a ciência antropológica acaba por se constituir numa esfera privilegiada e que
muitas possibilidades oferecem para o aprofundamento desses debates, por sua reconhecida
capacidade de privilegiar e bem abordar a cultura como dimensão fundadora da sociedade do
humano e, historicamente, tomar como objecto de estudo o homem e a cultura. Este
conhecimento acumulado pela antropologia ao longo de sua história, sem dúvida, possibilita um
olhar mais alargado e descentrado. O que diferencia a perspectiva antropológica sobre o homem
das outras ciências sociais ou humanas, em primeiro lugar, é que a antropologia busca uma
explicação totalizadora do homem, que leve em conta a dimensão biológica, psicológica e
cultural; em segundo lugar, a perspectiva antropológica possui uma dimensão temporal muito
mais abrangente, abarcando tanto o momento actual quanto o passado da humanidade.
Objectivos

Gerais:

 Compreende as ciências e o Lugar da Antropologia

Específicos:

 Descrever As ciências e o Lugar da Antropologia


 Explicar as ciências e lugar da antropologia

Metodologia de Trabalho

O método é o conjunto das actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e
economia, permite alcançar o objectivo, conhecimentos validos e verdadeiros, traçando o
caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. (LAKATOS &
MARCONI, 1992)

Para a realização desta pesquisa, neste capítulo são nomeados os materiais que serão usados na
elaboração do trabalho, os métodos de estudo, técnicas e instrumentos de recolha de dados. Para a
realização desta pesquisa vai se utilizar a pesquisa bibliográfica para colecta de informações de
outras abordagens do tema com base em outros autores que já abordaram sobre o assunto. O
outro método que o autor ira utilizar é o trabalho de campo, onde este terá a ver com o trabalho
que será realizado no campo, desde o acompanhamento de dados iniciais até a colecção dos
resultados finais.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Conceitos básicos

Etimologicamente, o termo Antropologia deriva de: Antrophos= homem cultural (genérico) e


Logos= Palavra, discurso, estudo, ciência que pretende estudar a evolução do homem físico,
socio-cultural onde a sua palavra chave é a cultura, palavra que significa que tudo o que o homem
cria e usa ( desde os objectos materiais até aos valores). Como ciência da humanidade, ela
preocupa-se em conhecer cientificamente o ser humano em sua totalidade, o que lhe confere três
aspectos: (MORAIS, 2021).

Antropologia é um ramo das ciências sociais que estuda o ser humano e a sua origem de maneira
abrangente. Por meio de estudos sobre as características físicas, a cultura, a linguagem e as
construções do ser humano, o antropólogo vai buscar determinar, com base em grupos sociais
específicos, como se formaram os seres humanos a ponto de tornarem-se o que são em suas
comunidades, (MORAIS, 2021).

Antropologia é a ciência centralizada no estudo do homem. Ela se preocupa em conhecer o ser


humano em sua totalidade, o que lhe confere um tríplice aspecto:
Ciência Social - propõe conhecer o homem enquanto elemento integrante de grupos organizados.

Ciência Humana - volta-se especificamente para o homem como um todo: sua história, suas
crenças, usos e costumes, filosofia, linguagem etc.

Ciência Natural - interessa-se pelo conhecimento psicossomático do homem e sua evolução.

As ciências e o Lugar da Antropologia

Seguindo o pensamento do antropólogo Adolfo Yanez Casal (1996), podemos afirmar que as
Ciências Sociais, nas quais se integra a antropologia, aparecem, enquanto exercício profissional e
académico, no século XIX. Este começo não se da por acaso, uma vez que e nessa altura que se
consolida a sociedade burguesa e a modernidade, e que aparecem novos problemas sociais que se
manifestam na relação entre o individuo e o grupo. As Ciências Sociais e Humanas têm em
comum a relação entre sujeito (humano) e objecto (humanos) de estudo, o que implica falar de
um estatuto epistemológico próprio, diferente do das ciências naturais. Esta postura não se
encontra, porem, isenta de um forte debate científico que remonta a origem das ciências humanas
e sociais. Durkheim (1995) considerava que as ciências humanas e sociais deveriam imitar as
ciências naturais e considerar os fenómenos sociais como naturais.

Esta perspectiva resume-se na expressão durkheimiana: “os factos sociais como coisas”
(Durkheim, 1995). Autores como Dilthey (1839-1911), Max Weber (1864-1920) e Peter Winch
defenderam, contrariamente, que as ciências sociais deveriam ter um estatuto epistemológico
próprio, porque a acção humana e radicalmente subjectiva. Para estes autores, situados numa
linha “compreensiva”, as ciências sociais devem compreender os fenómenos sociais, a partir das
atitudes mentais e do sentido que os agentes conferem as suas acções. Esta perspectiva defende a
ideia de que se deve utilizar métodos diferentes das ciências naturais, basicamente qualitativos e
indutivos, que nos levem a explicar e/ou melhor compreender a realidade sociocultural. Um
exemplo disto e o seguinte (Schutz e Luckman, 1977): se vemos a uma pessoa abrir a porta de
uma vivenda, podemos interpretar que esta entrando na sua casa, mas pode ser que nos
enganemos e talvez seja o serralheiro, e por isso que e melhor perguntar aos participantes indo
mais além do senso comum. Portanto, o auto-conhecimento e o conhecimento intersubjectivos
caracterizariam as ciências humanas e sociais, desde o ponto de vista epistemológico. Dilthey
(1992) chegou a afirmar que as ciências sociais devem centrar-se não nas causas dos fenómenos
sociais, e também nas representações, sentimentos e interpretações dos mesmos.

Geografia e o lugar da Antropologia

Estas duas disciplinas foram evidentes a partir de Franz Boas, nomeadamente, desde a publicação
da sua teoria do determinismo geográfico, inspirada em Ratzel, e do determinismo geográfico-
climático (BOAS, 1964).

Franz Boas aplicou esta teoria nos seus estudos sobre os esquimós do Canada. As semelhanças
destas duas ciências passam também pelo uso e criação de mapas, como representação do espaço
e do território.

Os mapas antropológica. Os mapas e os croquis são um auxiliar de campo e o seu desenho um


método de investigação para os antropólogos, que se centram muito na construção de mapas
mentais sobre o espaço. Conceptualmente são importantes os paralelismos entre área cultural
(cf.Brown e Janelle, 2001)
O conceito geográfico de região, e também, o de fronteira. Este último conceito foi utilizado, pela
primeira vez em antropologia, por Clark Wissler, em 1917, no seu estudo sobre a fronteira entre
os colonos e os indígenas dos EUA (Wissler, 1917).

Em termos teóricos, e sendo antigas, as influências entre estas disciplinas foram mútuas. Por
exemplo, a teoria do lugar central do geógrafo Walter Christaller influenciou a antropologia do
espaço. Em antropologia, a preocupação por uma análise do espaço esta bem representada pelo
antropólogo Edward T. Hall que estudou a forma como as pessoas utilizam culturalmente e
significativamente o espaço. As geografias pós-modernas, como por exemplo os trabalhos de
Eduardo Soja, incidem muito nas ideias da antropologia urbana. Apesar das semelhanças,
também existem diferenças conceptuais, teóricas e metodológicas. O trabalho de campo
antropológico e específico da antropologia. A geografia tende a realizar, sobre o terreno, uma
observação mais exterior dos fenómenos sociais.

História e o lugar da Antropologia

A antropologia nasce do encontro do Ocidente com sociedades não ocidentais, Representadas na


altura como “selvagens” e “barbaras” (Harris, 1998). A antropologia começa por estudar
sociedades sem escrita dominadas pela oralidade, e entretanto, a História fica com a
responsabilidade de estudar o passado das sociedades ditas “civilizadas”. No século XIX, os
antropólogos evolucionistas e de fusionistas produziram uma história especulativa e conjectural.
Eles tinham reservado a missão intelectual de fazer a história dos outros povos não ocidentais (cf.
Harris, 1998; McGee e Warms, 2000; Martinez Veiga, 2008). A divisão do trabalho intelectual
entre as ciências sociais (cf. Godelier,1996), no século XIX, levou a que a antropologia ficasse
pelo estudo das práticas culturais não ocidentais e a sobrevivência das instituições que teriam
existido na Europa ha séculos, segundo o pensamento dominante na época, a Europa teria
evoluído para a Civilização. A antropologia estudava de forma intensa o exotismo da Índia, do
Japão e da China. A história estudava a civilização europeia ocidental (com modos de vida
baseados no Estado e na escrita). E, por seu turno, a sociologia estudava as sociedades urbanas e
industriais ocidentais. Também estudaria alguns aspectos das sociedades não ocidentais como o
urbanismo, as industrias e as relacoes de poder.
Posteriormente, os antropólogos funcionalistas tenderam a excluir a história dos seus trabalhos,
aproximando-se da sociologia, e ainda que com Edward Evan Evans-Pritchard a antropologia
social britanica tenha recuperado a importância da relação entre antropologia e história, foi a
antropologia marxista quem vigorosamente recuperou a história para a antropologia (cf.
Meillassoux, 1999; Godelier, 1996) ate regularizar e normalizar hoje em dia uma antropologia
histórica e uma história antropológica.

Do ponto de vista metodológico há muitas aproximações entre antropologia e história: trabalho


de campo e história oral. Por outro lado, os antropólogos também trabalham com documentação
escrita. A Antropologia histórica trabalha com documentos e memorias orais em simultâneo, mas
a História, enquanto disciplina científica, ainda tende a dar maior importância aos documentos
escritos. A antropologia tenta compreender as relações entre passado, presente e futuro, que
podem convergir metaforicamente no presente. A história tende a reconstruir, eventualmente, o
passado. A antropologia interpreta as representações do passado, as amnésias e os esquecimentos
(Pereiro, 2012). Segundo Maurice Godelier (1996: 13), as pontes entre antropólogos e
historiadores foram feitas em trabalhos de etnohistoria e antropologia histórica. E qual o trabalho
do antropólogo relativamente a história? Godelier (1996: 22)

Responde a esta questão:“... De vuelta a la practica del antropologo, cuya tarea consiste en
reconstruir las genealogias, y a traves de las genealogias las historias de clanes y familias, y las
historias de vida, ya sea de individuos ilustres o de hombres y mujeres ordinarios de los que ha
permanecido la memoria. Recordemos que, en fu ncion de cual sea la sociedad de la que
tratemos, la memoria genealógica puede variar entre un mínimo de três generaciones mas alla de
nuestro informante (es decir la generacion de sus abuelos y la de sus bisabuelos) hasta un
maximo de quince. Pues bien, tres generaciones corresponden a cien anos, lo que significa que
cuando un antropologo desarrolla una investigacion no solamente se enfrenta a los
acontecimientos contemporaneos, sino que se sumerge en una duracion de mas de un siglo.”
Portanto, para os antropólogos a memória histórica e relevante. A memória histórica e uma
sequencia de eventos recordados e também conservados; e uma espécie de registo ou esquema
que arruma a versão oficial da memória do passado (Halbwachs, 1968: 67).

E a memoria dos vencedores, uma espécie de registo oficial do passado. Mas para a antropologia
e também muito importante a memoria dos vencidos, dai a relevância da memória colectiva e da
memória social (Fentress e Wickham, 2003). De acordo com Maurice Halbwachs (1968: 68) a
memória colectiva e um processo de reconstrução desarrumada que mistura as lembranças dos
diversos membros de um grupo social, não e uma soma de memórias individuais, mas esta
formada por elas. A memória

Colectiva implica uma memória social selectiva construída desde o presente e desde relações de
afectividade ou também desafecto. A memória colectiva e a memória dos vencidos e não dos
vencedores. Esta memoria colectiva ou social e para Paul Connerton (1989: 1) a partilhada por
um grupo, integrando aspectos inconscientes e elementos políticos. Ela guia a nossa experiencia
do presente e nela também pode haver divergências relembra Connerton (1989: 3).

Filosofia e o lugar da Antropologia

A antropologia e a filosofia são essenciais para melhor compreender o mundo e o ser humano.
Para alguns autores, a origem da antropologia encontra-se na filosofia greco-latina, ainda que na
realidade a antropologia integre também de outras tradições filosóficas não ocidentais (ex.
Oriente, América Latina). Os contributos da filosofia, enquanto saber académico, foram e são
muito importantes param a antropologia. O saber antropológico tem como base o saber filosófico
sobre a natureza humana. A filosofia contribuiu para a reflexão sobre as condições de produção
do conhecimento antropológico, enquanto problema epistemológico. A filosofia deu azo a análise
antropológica, por exemplo, a filosofia hermenêutica de Gadamer (1992) ou o pós-estruturalismo
de Michael Foucault (2003; 2009). A filosofia também chamou a atenção da antropologia para a
forma como os seres humanos pensam e apreendem. A filosofia deu um grande contributo para o
pós-modernismo antropológico (Clifford e Marcus, 1991). Sobre esta questão, recomendamos a
leitura da obra do antropólogo Adolfo Yanez Casal (1996). A diferença entre antropologia e
filosofia, e que a antropologia e fundamentalmente epistemológica, teórica e metodológica, assim
a filosofia tende a ser mais dedutiva e a antropologia mais indutiva e com uma base empírica no
que as pessoas dizem, pensam, sentem e fazem.

Direito e o lugar da Antropologia

Se revermos a história da antropologia, alguns dos primeiros ‘antropólogos’ eram advogados de


profissão e tinham estudado Direito. O objecto de estudo do Direito são as normas jurídicas e o
dos antropólogos as normas sociais e culturais, nem todas elas jurídicas no sentido ocidental da
palavra. Também entre os antropólogos há trabalhos que se dedicam ao estudo intercultural das
legislações, um exemplo clássico e a obra de Malinowski (2015), “Crime e Costume na
Sociedade Selvagem”, obra dedicada ao estudo da lei entre os trobriandeses da Nova Guine que
data de 1926. Em 1941 publicou-se nos EUA o livro “The Cheyenne Way” do jurista Llewellyn e
do antropólogo Hoebel, um clássico fundacional da antropologia jurídica, representou uma
colaboração estreita entre um antropólogo e um jurista (cf. Cardesin, 2001). Outro exemplo e a
obra do antropólogo Paul Bohannan sobre a legislação tradicional dos Tiv de Nigeria (Bohannan,
1989). Na actualidade podemos falar de um subcampo ou especialização da antropologia que e a
antropologia jurídica (Cardesin, 2001), que faz as pontes com o Direito a partir da lente
antropológica.

Sociologia e o lugar da Antropologia

A antropologia nasceu como uma espécie de “sociologia dos outros” e dos povos chamados
“primitivos”. A antropologia foi inicialmente pensada como uma microssociologia e uma
sociologia comparada (Radcliffe-Brown, 1975: 36) mas ela tem uma epistemologia própria. E ao
longo da história da antropologia os “outros” foram sendo incorporados no “nos” e o objecto de
estudo entrou em crise, diversificando-se e integrando objectos de estudo e problemas da própria
sociedade do antropólogo. A antropologia não e uma parte da sociologia, pensar desta forma seria
uma ingenuidade, ela tem uma identidade própria, ainda que relacional com a sociologia, pois a
antropologia e, neste sentido e enfoque, social e cultural. Os problemas sociais e culturais
estudados pelos antropólogos não podem ser exclusivamente considerados sob uma perspectiva
social (ex.: a religião não cumpre apenas funções sociais: o problema não se esgota ai).

O objecto de estudo da antropologia e a cultura humana e as formas culturais particulares como


esta e vivenciada, em sociedade. O antropólogo estuda grupos humanos e vivenciada em
sociedade e o seu lugar epistemológico e a diferença cultural. A antropologia partilha com a
sociologia departamentos universitários, objectos de estudo, e também métodos, ainda que
também apresenta algumas diferenças de traço identitário (cf. Fernández de Rota, 2012).
A antropologia assumiu como próprio o trabalho de campo antropológico prolongado e intensivo,
a etnografia, com base na observação participante, entrevistas em profundidade e a comparação
(histórica, geográfica, social e cultural). Tradicionalmente focada na analise micro e noutras
sociedades diferentes a do antropólogo, hoje em dia, o tapete antropológico diversificou-se mais e
o antropólogo, do ponto de vista metodológico e técnico, faz etnografia multi-situada, etnografia
das mobilidades local-global, etnografia em casa, ciberetnografia, etc. Além do mais,

Antropologia construiu teorias e conceitos diferenciados da sociologia (ex. relativismo cultural,


etnocentrismo,…) acumulando um conhecimento da diversidade cultural planetária com o fim de
descobrir os princípios da natureza humana. Neste sentido, a antropologia tende a ser mais
histórica que a própria sociologia, tradicionalmente mais pressentiste e quantitativista. Mais, a
antropologia tem como base as teorias sociais nativas, a voz e perspetiva emic, as percepções
sociais das coisas, o que implica um modo de estar com as pessoas Por outro lado, a sociologia e
uma ciência social que tende a estudar a sua própria sociedade, e o social pelo social (Giner,
1988). Os factos sociais explicam- se em função de outros factos sociais. Os seus objectos de
estudo são (Giddens, 1998; 2000):

1. O comportamento social de um grupo humano, de acordo com as variáveis: idade, sexo,


profissão, classe, prestigio, papel, mudança, etc.
2. A sociedade por ela propria enquanto grupo social.
3. A sociedade em geral e as suas leis gerais.
4. A sua propria sociedade.

A sociologia e uma ciencia com conceitos próprios como estrutura social, relações sociais, etc.
também utilizados pela antropologia. Neste sentido, a comunicação teorico-concetual entre
ambas e fluida, algo que observaremos no caso da antropologia e sociologia do turismo mais
adiante. Se bem que não haja uma unica sociologia, os seus métodos tendem a adoptar um
enfoque mais quantitativo, com base em inquéritos por questionário, entrevistas, testes, análise
estatística, etc. Nesta linha, a sociologia recorre mais aos métodos quantitativos do que a
antropologia e utiliza com maior frequência a observação exterior e os estudos macro do que os
micro (Teixeira Lopes, 1997).
Ela e mais Histórica e pressentiste, isto e, tende a prestar mais atenção a realidade social actual, o
que não significa que não haja uma sociologia histórica. Portanto, a sociologia estuda o
comportamento humano em grupos sociais,

E como a vida individual reflecte as experiencias sociais. No entender da sociologia, tomar um


café e algo mais do que tomar um café, esse ato social apresenta um valor simbólico, o café como
droga socialmente aceite, relações sociais e económicas, desenvolvimento social e económico. A
sociologia foca a relação entre individuo e sociedade, o que a sociedade faz de nos e o que
fazemos de nos próprios em sociedade. Assim, estruturamos e damos forma ao mundo social e o
mundo social estrutura as nossas vidas. A sociologia estuda também a reprodução social e a
transformação social, a mudança. A sua empresa científica tem como missão tomar consciência
das diferenças e desigualdades sociais, a avaliação dos efeitos das políticas, o autoconhecimento
e auto-realização em sociedade.

A Psicologia e o lugar da Antropologia

A antropologia e a psicologia tiveram historicamente uma relação académica importante, com


influencias mútuas, basta pensar na escola de cultura em personalidade em antropologia (cf.
Reynoso, 1993). Na seguinte tabela, podemos observar detalhadamente a relação entre a
antropologia, a psicologia e a sociologia E se bem que as duas estudem o ser humano, existem
algumas diferenças entre ambas sobre as quais podemos construir dois campos diferenciados Para
a antropologia, a realidade social assenta numa realidade psicológica e biológica – bioquímica-,
mas o ser humano não se reduz só ao psicológico, pois ele apresenta uma experiencia cultural
mais complexa, dai que a antropologia estude as experiencias humanas e como o cultural e o
social modelam os psicológicos e vice-versa. A antropologia pratica uma integridade na analise
sociocultural, foca mais o grupo, o colectivo e o comunitário, e como o individuo atua e age,
através da cultura, na sociedade. Para isso os seus métodos (ex. trabalho de campo) são diferentes
da psicologia.
Pelo seu lado, a psicologia identifica os traços psicológicos do individuo e explica os processos e
mecanismos psíquicos interorgânicos. Alguns dos seus conceitos básicos são: impulso, repressão,
reflexos, condicionamentos, ego, personalidade e motivação. Os seus métodos, diferentes dos da
antropologia, baseiam-se em experiencias controladas de laboratório, testes psicométricos,
inquéritos por questionário, etc. A psicologia tenta determinar as bases psicológicas da conduta
individual. Tenta descobrir um humano abstracto existente em todas as culturas. E de forma
particular, a psicologia social estuda como o psicológicos modela o social, fazendo pontes com
outras ciências sociais.

Diferindo da psicologia, a antropologia e vista como uma ciência social mais critica e
questionadora, que problematiza as estruturas sociais e as culturas, relativizando também estas e
apresentando formas diferentes e alternativas de ser humanos. A psicologia e vista pelos
antropólogos como um saber mais adaptativo e instrumental, com o seu rigor ajuda os indivíduos
a melhor adaptar-se a vida em sociedade transformando a personalidade ou alguns dos seus
traços.
Conclusão

O Conceito antropológico de cultura passa necessariamente pelo dilema da unidade biológica e a


grande diversidade cultural da espécie humana. Um dilema que permanece como tema central de
numerosas polémicas e que aponta para a preocupação, há muito presente, com a diversidade de
modos de comportamento existentes entre os diferentes povos.

Desde a Antiguidade, foram comuns as tentativas de explicar as diferenças de comportamento


entre os homens, a partir das variações dos ambientes físicos. No entanto, logo os estudiosos
concluíram que as diferenças de comportamento entre os homens não poderiam ser explicadas
através das diversidades sematológicas ou mesológicas. Tanto o determinismo geográfico quanto
o determinismo biológico foi incapaz de resolver o dilema, pois o comportamento dos indivíduos
depende de um aprendizado chamado de endoculturação, ou seja, um menino e uma menina
agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação
diferenciada.
A sociologia é de extrema importância pois é uma ciência que busca pontuar as características do
tema de interesse e buscar soluções e causas; e a antropologia busca conhecer as diversas formas
de interacção entre os homens (cultura).
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