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O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO

NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços
educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além
de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................................... 2

1. O CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR ........................................................... 4

1.1 Bases legais para as ações de saúde do trabalhador........................................ 6

2. SITUAÇÃO DE SAÚDE DOS TRABALHADORES NO BRASIL ............................. 10

3. DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO....................................................... 17

3.1 Grupo I da CID – 10 – doenças infecciosas e parasitarias .................................. 20

3.2 Grupo II da CID – 10 – neoplasias (tumores) ...................................................... 21

3.3 Grupo III do CID – 10 doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos .......... 22

3.4 Grupo IV Cid – 10 – doenças endócrinas, nutricionais e ..................................... 23

metabólicas................................................................................................................ 23

3.5 Grupo V CID-10 – Transtornos mentais e do comportamento ............................. 24

3.6 Grupo VI CID-10 – Doenças do sistema nervoso ............................................ 24

3.7 Grupo VII CID-10 – Doenças do olho e anexos ................................................... 25

3.8 Grupo VIII CID-10 – Doenças do ouvido .......................................................... 25

3.9 Grupo IX CID-10 - Doenças do sistema circulatório ............................................ 26

3.10 Grupo X CID-10 Doenças do Sistema Respiratório ........................................... 26

3.11 Grupo XI CID-10 – Doenças do sistema digestivo ............................................. 27

3.12 Grupo XII CID-10 - Doenças da pele e tecidos subcutâneos ............................. 27

3.13 Grupo XIV CID-10 – Doenças do Sistema Geniturinário ................................... 28

4. REFERÊNCIAS: ..................................................................................................... 29

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1. O CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR

A Saúde do Trabalhador constitui uma área da Saúde Pública que tem como
objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e a saúde. Tem como
objetivos a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio do
desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e
condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e
prestação da assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos de
diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada, no SUS.

Nessa concepção, trabalhadores são todos os homens e mulheres que exercem


atividades para sustento próprio e/ou de seus dependentes, qualquer que seja sua
forma de inserção no mercado de trabalho, nos setores formais ou informais da
economia. Estão incluídos nesse grupo os indivíduos que trabalharam ou trabalham
como empregados assalariados, trabalhadores domésticos, trabalhadores avulsos,
trabalhadores agrícolas, autônomos, servidores públicos, trabalhadores cooperativados
e empregadores – particularmente, os proprietários de micro e pequenas unidades de
produção. São também considerados trabalhadores aqueles que exercem atividades
não remuneradas – habitualmente, em ajuda a membro da unidade domiciliar que tem
uma atividade econômica, os aprendizes e estagiários e aqueles temporária ou
definitivamente afastados do mercado de trabalho por doença, aposentadoria ou
desemprego.

A PEA brasileira foi estimada, em 1997, em 75,2 milhões de pessoas. Dessas,


cerca de 36 milhões foram consideradas empregadas, das quais 22 milhões são
seguradas pelo Seguro Acidente de Trabalho (SAT) da Previdência Social (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE – Programa Nacional de Pesquisas
Continuadas por Amostras de Domicílios/PNAD, 1998).

Entre os determinantes da saúde do trabalhador estão compreendidos os


condicionantes sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais responsáveis pelas
condições de vida e os fatores de risco ocupacionais – físicos, químicos, biológicos,
mecânicos e aqueles decorrentes da organização laboral – presentes nos processos
de trabalho. Assim, as ações de saúde do trabalhador têm como foco as mudanças nos

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processos de trabalho que contemplem as relações saúde-trabalho em toda a sua
complexidade, por meio de uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e
intersetorial.

Os trabalhadores, individual e coletivamente nas organizações, são


considerados sujeitos e partícipes das ações de saúde, que incluem: o estudo das
condições de trabalho, a identificação de mecanismos de intervenção técnica para sua
melhoria e adequação e o controle dos serviços de saúde prestados.

Na condição de prática social, as ações de saúde do trabalhador apresentam


dimensões sociais, políticas e técnicas indissociáveis. Como consequência, esse
campo de atuação tem interfaces com o sistema produtivo e a geração da riqueza
nacional, a formação e preparo da força de trabalho, as questões ambientais e a
seguridade social. De modo particular, as ações de saúde do trabalhador devem estar
integradas com as de saúde ambiental, uma vez que os riscos gerados nos processos
produtivos podem afetar, também, o meio ambiente e a população em geral.

As políticas de governo para a área de saúde do trabalhador devem definir as


atribuições e competências dos diversos setores envolvidos, incluindo as políticas
econômica, da indústria e comércio, da agricultura, da ciência e tecnologia, do trabalho,
da previdência social, do meio ambiente, da educação e da justiça, entre outras.
Também devem estar articuladas às estruturas organizadas da sociedade civil, por
meio de formas de atuação sistemáticas e organizadas que resultem na garantia de
condições de trabalho dignas, seguras e saudáveis para todos os trabalhadores.

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1.1 Bases legais para as ações de saúde do trabalhador

As bases legais para as ações de saúde do trabalhador no Brasil referem-se às


leis, normas e regulamentações que estabelecem diretrizes e obrigações para garantir
a promoção da saúde e a prevenção de doenças relacionadas ao trabalho.

Aqui estão algumas das principais bases legais no Brasil:

Constituição Federal de 1988: Estabelece o direito à saúde como um direito de


todos e dever do Estado, incluindo a saúde do trabalhador como uma das áreas de
atuação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Lei nº 8.080/1990: Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e


recuperação da saúde no âmbito do SUS, abrangendo também a saúde do
trabalhador.

Lei nº 8.213/1991: Define as regras para a concessão de benefícios aos


trabalhadores, como auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, relacionados a
doenças ou acidentes decorrentes do trabalho.

Norma Regulamentadora 7 (NR-7): Estabelece a obrigatoriedade do Programa


de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), que visa à promoção e
preservação da saúde dos trabalhadores, incluindo a realização de exames médicos
admissionais, periódicos, de retorno ao trabalho e demissionais.

O PCMSO deve ser atualizado sempre houver necessidade, ao haver


atualização de riscos no ambiente de trabalho. Possui caráter preventivo que inclui o
rastreamento e o diagnóstico precoce de possíveis doenças ocupacionais, ou seja, tem
a finalidade tanto de promover quanto de preservar a saúde física e mental dos
colaboradores da empresa.

“Nele são realizados os exames admissionais, demissionais, periódicos, retorno


ao trabalho e mudança de risco. Os exames complementares e exigidos pela NR-07
vão de acordo com os riscos ocupacionais verificados no PGR. Cada Grupo de

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Exposição terá suas características e riscos identificados (físicos, químicos, biológicos,
acidentes e ergonômicos)”.

Norma Regulamentadora 15 (NR-15): Estabelece os limites de tolerância para


agentes nocivos à saúde no ambiente de trabalho, como ruído, calor, agentes
químicos, entre outros, visando à proteção da saúde dos trabalhadores.

O Programa de Gerenciamento de Risco (PGR) é uma estratégia adotada por


empresas e organizações para identificar, avaliar e controlar os riscos relacionados às
suas atividades, visando a prevenção de acidentes, proteção da saúde dos
trabalhadores e preservação do meio ambiente.

Objetivos do PGR:

▶ Identificar os riscos associados às atividades da empresa.


▶ Avaliar os impactos desses riscos na saúde, segurança e meio ambiente.
▶ Implementar medidas preventivas e corretivas para controlar os riscos.
▶ Monitorar e revisar periodicamente o programa para garantir sua eficácia.

Componentes do PGR:

Identificação de Perigos: Identificação e análise dos perigos potenciais nas


atividades da empresa, como agentes químicos, físicos, biológicos, ergonômicos e de
acidentes.

Análise de Riscos: Avaliação dos riscos associados aos perigos identificados,


considerando a probabilidade de ocorrência e a gravidade dos impactos.

Controle de Riscos: Implementação de medidas de controle para reduzir ou


eliminar os riscos, como medidas de engenharia, medidas administrativas e uso de
EPIs (Equipamentos de Proteção Individual).

Treinamento e Capacitação: Capacitação dos trabalhadores para identificar


riscos, usar corretamente os EPIs e seguir procedimentos seguros de trabalho.

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Monitoramento e Revisão: Monitoramento contínuo dos riscos, análise de
incidentes e revisão periódica do PGR para garantir sua atualização e eficácia.

O PGR entrou em vigor em 3 de janeiro de 2022 com nova Norma


Regulamentadora NR-01 e, com isso, houve mudanças nas diretrizes com relação à
gestão de riscos ocupacionais. “Agora o PGR é renovado a cada dois anos, porém, ele
é um documento de gerenciamento e deve ser constantemente atualizado.

Benefícios do PGR:

▶ Redução de acidentes e doenças ocupacionais.


▶ Melhoria do ambiente de trabalho.
▶ Conformidade legal.
▶ Proteção da imagem da empresa.
▶ Redução de custos com saúde e segurança.

Essas bases legais acima citadas são fundamentais para garantir que as
empresas cumpram suas obrigações quanto à saúde e segurança no trabalho,
promovendo um ambiente laboral saudável e livre de riscos para os trabalhadores.

A execução das ações voltadas para a saúde do trabalhador é atribuição do


SUS, prescritas na Constituição Federal de 1988 e regulamentadas pela LOS. O artigo
6.º dessa lei confere à direção nacional do Sistema a responsabilidade de coordenar a
política de saúde do trabalhador.

Segundo o parágrafo 3.º do artigo 6.º da LOS, a saúde do trabalhador é definida


como “um conjunto de atividades que se destina, por meio das ações de vigilância
epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde do trabalhador,
assim como visa à recuperação e à reabilitação dos trabalhadores submetidos aos
riscos e agravos advindos das condições de trabalho”. Esse conjunto de atividades
está detalhado nos incisos de I a VIII do referido parágrafo, abrangendo:

• a assistência ao trabalhador vítima de acidente de trabalho ou portador de


doença profissional e do trabalho;

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• a participação em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e
agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho;

• a participação na normatização, fiscalização e controle das condições de


produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de
substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam
riscos à saúde do trabalhador

• a avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;

• a informação ao trabalhador, à sua respectiva entidade sindical e às


empresas sobre os riscos de acidente de trabalho, doença profissional e do
trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e
exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os
preceitos da ética profissional;

• a participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde


do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas;

• a revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de


trabalho;

• a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a


interdição de máquina, do setor, do serviço ou de todo o ambiente de
trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde do
trabalhador.

Além da Constituição Federal e da LOS, outros instrumentos e regulamentos


federais orientam o desenvolvimento das ações nesse campo, no âmbito do setor
Saúde, entre os quais destacam-se a Portaria/MS n.º 3.120/1998 e a Portaria/MS n.º
3.908/1998, que tratam, respectivamente, da definição de procedimentos básicos para
a vigilância em saúde do trabalhador e prestação de serviços nessa área. A
operacionalização das atividades deve ocorrer nos planos nacional, estadual e
municipal, aos quais são atribuídos diferentes responsabilidades e papéis.

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No plano internacional, desde os anos 70, documentos da OMS, como a Declaração
de Alma Ata e a proposição da Estratégia de Saúde para Todos, têm enfatizado a
necessidade de proteção e promoção da saúde e da segurança no trabalho,
mediante a prevenção e o controle dos fatores de risco presentes nos ambientes de
trabalho (OMS, 1995). Recentemente, o tema vem recebendo atenção especial no
enfoque da promoção da saúde e na construção de ambientes saudáveis pela
OPAS,1995. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Convenção/OIT n.º
155/ 1981, adotada em 1981 e ratificada pelo Brasil em 1992, estabelece que o país
signatário deve instituir e implementar uma política nacional em matéria de
segurança e do meio ambiente de trabalho.

2. SITUAÇÃO DE SAÚDE DOS TRABALHADORES NO


BRASIL

No Brasil, as relações entre trabalho e saúde do trabalhador conformam um


mosaico, coexistindo múltiplas situações de trabalho caracterizadas por diferentes
estágios de incorporação tecnológica, diferentes formas de organização e gestão,
relações e formas de contrato de trabalho, que se refletem sobre o viver, o adoecer e o
morrer dos trabalhadores.

Essa diversidade de situações de trabalho, padrões de vida e de adoecimento


tem se acentuado em decorrência das conjunturas política e econômica. O processo de
reestruturação produtiva, em curso acelerado no país a partir da década de 90, tem
consequências, ainda pouco conhecidas, sobre a saúde do trabalhador, decorrentes da
adoção de novas tecnologias, de métodos gerenciais e da precarização das relações
de trabalho.

A precarização do trabalho caracteriza-se pela desregulamentação e perda de


direitos trabalhistas e sociais, a legalização dos trabalhos temporários e da
informalização do trabalho. Como consequência, podem ser observados o aumento do
número de trabalhadores autônomos e subempregados e a fragilização das
organizações sindicais e das ações de resistência coletiva e/ou individual dos sujeitos

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sociais. A terceirização, no contexto da precarização, tem sido acompanhada de
práticas de intensificação do trabalho e/ou aumento da jornada de trabalho, com
acúmulo de funções, maior exposição a fatores de riscos para a saúde,
descumprimento de regulamentos de proteção à saúde e segurança, rebaixamento dos
níveis salariais e aumento da instabilidade no emprego. Tal contexto está associado à
exclusão social e à deterioração das condições de saúde

A adoção de novas tecnologias e métodos gerenciais facilita a intensificação do


trabalho que, aliada à instabilidade no emprego, modifica o perfil de adoecimento e
sofrimento dos trabalhadores, expressando-se, entre outros, pelo aumento da
prevalência de doenças relacionadas ao trabalho, como as Lesões por Esforços
Repetitivos (LER), também denominadas de Distúrbios Osteomusculares Relacionados
ao Trabalho (DORT); o surgimento de novas formas de adoecimento mal
caracterizadas, como o estresse e a fadiga física e mental e outras manifestações de
sofrimento relacionadas ao trabalho. Configura, portanto, situações que exigem mais
pesquisas e conhecimento para que se possa traçar propostas coerentes e efetivas de
intervenção.

Embora as inovações tecnológicas tenham reduzido a exposição a alguns riscos


ocupacionais em determinados ramos de atividade, contribuindo para tornar o trabalho
nesses ambientes menos insalubre e perigoso, constata-se que, paralelamente, outros
riscos são gerados. A difusão dessas tecnologias avançadas na área da química fina,
na indústria nuclear e nas empresas de biotecnologia que operam com organismos
geneticamente modificados, por exemplo, acrescenta novos e complexos problemas
para o meio ambiente e a saúde pública do país.

Esses riscos são ainda pouco conhecidos, sendo, portanto, de controle mais
difícil. Com relação aos avanços da biologia molecular, cabe destacar as questões
éticas decorrentes de suas possíveis aplicações nos processos de seleção de
trabalhadores, por meio da identificação de indivíduos suscetíveis a diferentes
doenças. Essas aplicações geram demandas no campo da ética, que os serviços de
saúde e o conjunto da sociedade ainda não estão preparados para atender.
Constituem questões importantes para a saúde dos trabalhadores nas próximas
décadas.

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Uma realidade distinta pode ser observada no mundo do trabalho rural. Os
trabalhadores do campo, no Brasil, estão inseridos em distintos processos de trabalho:
desde a produção familiar em pequenas propriedades e o extrativismo, até grandes
empreendimentos agroindustriais que se multiplicam em diferentes regiões do país.
Tradicionalmente, a atividade rural é caracterizada por relações de trabalho à margem
das leis brasileiras, não raro com a utilização de mão-de-obra escrava e,
frequentemente, do trabalho de crianças e adolescentes. A contratação de mão-de-
obra temporária para os períodos da colheita gera o fenômeno dos trabalhadores
boias-frias, que vivem na periferia das cidades de médio porte e aproximam os
problemas dos trabalhadores rurais aos dos urbanos.

Por outro lado, questões próprias do campo da Saúde do Trabalhador, como os


acidentes de trabalho, conectam-se intrinsecamente com problemas vividos hoje pela
sociedade brasileira nos grandes centros urbanos. As relações entre mortes violentas e
acidentes de trabalho tornam-se cada vez mais estreitas. O desemprego crescente e a
ausência de mecanismos de amparo social para os trabalhadores que não conseguem
se inserir no mercado de trabalho contribuem para o aumento da criminalidade e da
violência.

As relações entre trabalho e violência têm sido enfocadas em múltiplos


aspectos: contra o trabalhador no seu local de trabalho, representada pelos acidentes
e doenças do trabalho; a violência decorrente de relações de trabalho deterioradas,
como no trabalho escravo e de crianças; a violência decorrente da exclusão social
agravada pela ausência ou insuficiência do amparo do Estado; a violência ligada às
relações de gênero, como o assédio sexual no trabalho e aquelas envolvendo
agressões entre pares, chefias e subordinados.

A violência urbana e a criminalidade estendem-se, crescentemente, aos


ambientes e atividades de trabalho. Situações de roubo e assaltos a estabelecimentos
comerciais e industriais, que resultam em agressões a trabalhadores, por vezes fatais,
têm aumentado exponencialmente, nos grandes centros urbanos. Entre bancários, por
exemplo, tem sido registrada a ocorrência da síndrome de estresse pós-traumático em
trabalhadores que vivenciaram situações de violência física e psicológica no trabalho.
Também têm crescido as agressões a trabalhadores de serviços sociais, de educação
e saúde e de atendimento ao público, como motoristas e trocadores. A violência no

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trabalho adquire uma feição particular entre os policiais e vigilantes que convivem com
a agressividade e a violência no cotidiano. Esses trabalhadores apresentam problemas
de saúde e sofrimento mental que guardam estreita relação com o trabalho. A violência
também acompanha o trabalhador rural brasileiro e decorre dos seculares problemas
envolvendo a posse da terra.

No conjunto das causas externas, os acidentes de transporte relacionados ao


trabalho, acidentes típicos ou de trajeto, destacam-se pela magnitude das mortes e
incapacidade parcial ou total, permanente ou temporária, envolvendo trabalhadores
urbanos e rurais. Na área rural, a precariedade dos meios de transporte, a falta de uma
fiscalização eficaz e a vulnerabilidade dos trabalhadores têm contribuído para a
ocorrência de um grande número de acidentes de trajeto.

De modo esquemático, pode-se dizer que o perfil de morbimortalidade dos


trabalhadores caracteriza-se pela coexistência de agravos que têm relação direta com
condições de trabalho específicas, como os acidentes de trabalho típicos e as doenças
profissionais; as doenças relacionadas ao trabalho, que têm sua frequência,
surgimento e/ou gravidade modificada pelo trabalho e doenças comuns ao conjunto da
população, que não guardam relação etiológica com o trabalho.

Visando a subsidiar as ações de diagnóstico, tratamento e vigilância em saúde


e o estabelecimento da relação da doença com o trabalho e das condutas decorrentes,
o Ministério da Saúde, cumprindo a determinação contida no art. 6.º, § 3.º, inciso VII,
da LOS, elaborou uma Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, publicada na
Portaria/MS n.º 1.339/1999, conforme mencionado na introdução a este manual. Essa
Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho foi também adotada pelo Ministério da
Previdência e Assistência Social (MPAS), regulamentando o conceito de Doença
Profissional e de Doença Adquirida pelas condições em que o trabalho é realizado,
Doença do Trabalho, segundo prescreve o artigo 20 da Lei Federal n.º 8.213/1991,
constituindo o Anexo II do Decreto n.º 3.048/1999.

Espera-se que a nova lista contribua para a construção de um perfil mais


próximo do real quanto à morbimortalidade dos trabalhadores brasileiros. Atualmente,
as informações disponíveis não permitem conhecer de que adoecem e morrem os
trabalhadores no Brasil, ou o perfil de morbimortalidade, em linguagem epidemiológica,

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informação essencial para a organização da assistência aos trabalhadores e o
planejamento, execução e avaliação das ações, no âmbito dos serviços de saúde.
Essas informações também são importantes para a orientação das ações sindicais em
saúde e para os sistemas de gestão de saúde, segurança e ambiente pelas empresas.

A despeito da aprovação de algumas normas relativas à adequação dos


sistemas de informação em saúde e incorporação de variáveis de interesse da saúde
do trabalhador, essas não foram ainda implementadas. Assim, frequentemente, as
análises da situação de saúde, elaboradas em âmbito nacional, estadual ou municipal,
limitam-se à avaliação do perfil de morbimortalidade da população em geral, ou de
alguns grupos populacionais específicos, mas as informações disponíveis não
permitem a adequada caracterização das condições de saúde em sua relação com o
trabalho, nem o reconhecimento sistemático dos riscos ou o dimensionamento da
população trabalhadora exposta. Essas deficiências impedem o planejamento de
intervenções, sendo ainda isolados os estudos sobre a situação de saúde de
trabalhadores em regiões específicas.

De forma mais sistemática, estão disponíveis apenas os dados divulgados pelo


MPAS sobre a ocorrência de acidentes de trabalho e doenças profissionais, notificados
por meio da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), da população trabalhadora
coberta pelo Seguro Acidente de Trabalho (SAT), que corresponde, nos anos 90, a
cerca de 30% da população economicamente ativa. Estão excluídos dessas
estatísticas os trabalhadores autônomos, domésticos, funcionários públicos
estatutários, subempregados, muitos trabalhadores rurais, entre outros. Considerando
a diminuição, em todos os setores da economia, do número de postos de trabalho e de
trabalhadores inseridos no mercado formal de trabalho, não existem informações
quanto a um significativo contingente de trabalhadores. Mesmo entre os trabalhadores
segurados pelo SAT, estudos têm apontado níveis de subnotificação bastante
elevados.

Em 1998, foram registrados pelo MPAS, no país, 401.254 acidentes de


trabalho, distribuídos entre acidentes típicos (337.482), de trajeto (35.284) e doenças
do trabalho (28.597). O total de acidentes distribui-se entre os setores da indústria
(46,1%), serviços (40,1%) e agricultura (8,1%), sendo que 88,3% ocorreram nas
regiões Sudeste e Sul. Entre trabalhadores do sexo masculino, o principal ramo

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gerador de acidentes é o da construção civil. Dos casos notificados, cerca de 57,6%
referem-se ao grupo etário até 34 anos de idade. Verifica-se um aumento de acidentes
no “ramo dos serviços prestados” principalmente às empresas. Foram 32.642
acidentes, em 1998, comprovando a importância crescente do trabalho terceirizado no
conjunto dos acidentes de trabalho no país.

Desde 1970, o MPAS vem registrando uma diminuição sistemática da


incidência e da mortalidade por acidentes de trabalho no país. Em 1970 ocorriam 167
acidentes, em cada grupo de mil trabalhadores segurados pela Previdência Social; em
1980, essa relação reduz-se a 78 por mil; em 1990, a 36 por mil; em 1994, atingiu 16
por mil. No tocante à mortalidade, a taxa reduziu-se, entre 1970 e 1994, de 31 para 14
por 100 mil trabalhadores segurados. O decréscimo da mortalidade é menos intenso
que o da incidência. Consequentemente, a letalidade mostra-se ascendente naquele
período, crescendo mais de quatro vezes: de 0,18%, em 1970, para 0,84%, em 1994.
Apesar dos números indicarem uma queda da notificação desses agravos, não devem
induzir à crença de que a situação está sob controle: o aumento da letalidade é o
elemento indicador da gravidade da situação.

Por outro lado, as mudanças na conjuntura social no mundo do trabalho exigem


que a vigilância em saúde do trabalhador dirija o foco de sua atenção para as
situações de trabalho em condições precárias, incluindo o trabalho autônomo e o do
mercado informal, nas quais os acidentes ocupacionais devem estar ocorrendo em
proporções maiores que entre a parcela dos trabalhadores inseridos no mercado
formal. O conhecimento sobre o que ocorre entre aqueles trabalhadores é ainda
extremamente restrito.

A análise da dispersão da média nacional de acidentes de trabalho entre os


trabalhadores formais mostra que, em certos setores econômicos, como na atividade
extrativa mineral e na construção civil, a taxa de mortalidade aproxima-se de 50 por
100 mil. Além da contribuição dos acidentes de trabalho típicos, tais como quedas de
altura, colisão de veículos, soterramentos, eletrocussão, entre outros, essa alta
incidência, em alguns setores, tem sido agravada pela ocorrência de doenças
profissionais graves, como é o caso da silicose e de intoxicações agudas, ainda
presentes na indústria de transformação e em outros segmentos específicos.

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As informações disponíveis sobre acidentes de trabalho indicam o predomínio
do acidente-tipo, seguido pelos acidentes de trajeto e, em terceiro lugar, pelas doenças
profissionais e doenças do trabalho. Merece destaque o aumento percentual dos
acidentes de trajeto e das doenças profissionais e do trabalho, nas estatísticas oficiais,
entre 1970 e 1997, fato que se acentuou particularmente a partir de 1990.

A incidência de doenças profissionais, medida a partir da concessão de


benefícios previdenciários, manteve-se praticamente inalterada entre 1970 e 1985: em
torno de dois casos para cada 10 mil trabalhadores. No período de 1985 a 1992, esse
índice alcançou a faixa de quatro casos por 10 mil. A partir de 1993, observasse um
crescimento com padrão epidêmico, registrando-se um coeficiente de incidência
próximo a 14 casos por 10 mil. Esse aumento acentuado deve-se, principalmente, ao
grupo de doenças denominadas LER ou DORT, responsáveis por cerca de 80 a 90%
dos casos de doenças profissionais registrados, nos últimos anos, no MPAS.
Considera-se que esse aumento absoluto e relativo da notificação das doenças
profissionais ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), por meio da CAT, é um
dos frutos das ações desenvolvidas nos projetos e programas de saúde do trabalhador,
implantados na rede de serviços de saúde, a partir da década de 80.

Não se conhece o custo real, para o país, da ocorrência de acidentes e das


doenças relacionados ao trabalho. Estimativa recente avaliou em R$ 12,5 bilhões
anuais o custo para as empresas e em mais de R$ 20 bilhões anuais para os
contribuintes. Esse exercício, embora incompleto, permite uma avaliação preliminar do
impacto dos agravos relacionados ao trabalho para o conjunto da sociedade (Pastore,
1999).

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3. DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO

A saúde dos trabalhadores constitui uma importante área da Saúde Pública


que tem como objetivo a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio
do desenvolvimento de ações de acompanhamento dos riscos presentes nos
ambientes. e condições de trabalho, dos problemas a saúde do trabalhador, a
organização e prestação de assistência aos trabalhadores, compreendendo
procedimentos de diagnósticos, tratamento e reabilitação de forma integrada, no
Sistema de Saúde Pública brasileiro.
Neste conceito, trabalhadores são todos os homens e mulheres que exercem
atividade para sustento próprio ou de seus dependentes, qualquer que seja sua
atividade executada no mercado de trabalho. Estão incluídas nesse grupo as
pessoas que trabalharam assalariado, trabalhadores domésticos, trabalhadores
avulsos, trabalhadores agrícolas, autônomos, servidores públicos, trabalhadores
cooperativados e empregadores.
Entre os fatores determinantes da saúde do trabalhador estão
compreendidas as condições sociais, econômicas e os fatores de risco
ocupacionais, físicos, químicos, biológicos, mecânicos e aqueles decorrentes da
organização laboral presentes nos processos de trabalho. Assim, ações de saúde
do trabalhador tem como foco modificar os processos de trabalho, de forma a
contemplarem as relações saúde-trabalho em todas as atividades profissionais.
Os trabalhadores individual e coletivamente nas organizações são
considerados sujeitos e participantes das ações que incluem o estudo das condições
de trabalho, a identificação de mecanismos de intervenção técnica para sua
melhoria, adequação e o controle dos serviços de saúde prestados

O adoecimento dos trabalhadores e sua relação com o trabalho. Os


trabalhadores compartilham das mesmas doenças e morte da população em geral,
em função de sua idade, gênero, grupo social ou presença em grupo especifico de
risco. Além disso, os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas
relacionadas ao trabalho, em consequências da profissão que exercem ou
exerceram ou pelas condições adversas em que seu trabalho e ou foi realizado.
Assim, o perfil de adoecimento e morte dos trabalhadores resultara na separação
desses fatores que podem ser resumidos em quatro grupos de causas:

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• Doenças comuns, aparentemente sem qualquer relação com o trabalho;

• Doenças comuns (crônico-degenerativas, infecciosas, neoplasias,


traumáticas) eventualmente modificadas no aumento da frequência de sua
ocorrência ou no surgimento em trabalhadores, sob determinadas
condições de trabalho;
• Doenças comuns que são agravadas em função das condições de
trabalho, a asma brônquica, a dermatite de contato alérgica, a perda
auditiva conduzida pelo ruído (ocupacional), doenças musculoesqueléticas
e alguns transtornos mentais exemplificam esta possibilidade, na qual, em
decorrência do trabalho, multiplicam-se as condições provocadoras ou
desencadeadoras desses quadros hospitalares.

• Agravos à saúde específicos, típicos dos acidentes do trabalho e pelas


doenças profissionais. A silicose e a asbesto se exemplificam este grupo
de agravos específicos.

Os três últimos grupos constituem a família das doenças relacionadas ao


trabalho. A natureza dessa relação e sutilmente distinta em cada grupo. O quadro
abaixo resume e exemplificados grupos das doenças relacionadas de acordo com a
classificação proposta por Chileno.

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Classicamente, os fatores de risco para a saúde e segurança os
trabalhadores, presentes ou relacionados ao trabalho, podem ser classificados em
cinco grandes grupos, que serão mostrados a seguir:

Verificada a classificação dos grupos de risco a saúde e segurança dos


trabalhadores, e importante mostrar as doenças relacionadas ao trabalho confirme a
Classificação Internacional de Doenças 10 (CID10), que podemos verificar a seguir:

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3.1 Grupo I da CID – 10 – doenças infecciosas e parasitarias

As doenças infecciosas e parasitarias relacionadas ao trabalho apresentam


algumas características, que as distinguem dos demais grupos:

• Os agentes originários não são de natureza ocupacional;

• A ocorrência da doença depende das condições ou circunstancias em que o


trabalho e executado e da exposição ocupacional que favorece o contato, o
contagio ou transmissão.

Os agentes originários estão, geralmente, mencionados no próprio nome da


doença e são comuns às doenças infecciosas e parasitarias não relacionadas ao
trabalho. Estão disseminados no meio ambiente, dependente das condições
ambientais e de saneamento.
As consequências da exposição para a saúde do trabalhador a fatores de
risco biológico presentes em situações de trabalho incluem quadros de infecção

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aguda e crônica, parasitoses, reações alérgicas, toxicas a plantas e animais. As
infecções podem ser causadas por bactérias, vírus, riquetsias, clamídias e fungos.

As parasitoses estão associadas a protozoários, helmintos e artrópodes.

Algumas dessas doenças infecciosas e parasitarias são transmitidas por


artrópodes que atuam como hospedeiros intermediários. Diversas plantas e animais
produzem substancias alergênicas irritativas e toxicas, com as quais os
trabalhadores.

Entram em contato diretamente, por poeiras contendo pelos, pólen, esporos,


fungos ou picadas e mordeduras.

Muitas dessas doenças são originalmente zoonoses que podem estar


relacionadas ao trabalho. Entre grupos mais expostos estão os trabalhadores de
agricultura, da saúde (em contato com paciente ou materiais contaminados) em
centros de saúde, hospitais, laboratórios, necrotérios, em atividades de
investigações. Também podem ser afetadas as pessoas que trabalham no meio
silvestre, como na silvicultura, em atividades de pesca, produção e manipulação de
produtos animais, como abatedouros curtumes, frigoríficos, indústrias alimentícias
(carnes e pescados), trabalhadores em serviços de saneamento e de coleta de lixo.

3.2 Grupo II da CID – 10 – neoplasias (tumores)

O termo neoplasia ou tumores designa um grupo de doenças caracterizadas


pela perda de controle do processo de divisão celular, por meio do qual que os
tecidos normalmente crescem ou se renovam, levando a multiplicação celular
desordenada.
A inoperância dos mecanismos de regulação e controle de proliferação
celular, além do crescimento incontrolável, pode levar, no caso do câncer, a invasão
os tecidos vizinhos e a propagação para outras regiões do corpo, produzindo
metástase.

Apesar de não serem conhecidos como mecanismos envolvidos, estudo


experimental tem demonstrado que a alteração celular responsável pela produção de

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tumor pode se originar numa única célula e envolve dois estágios. No primeiro,
denominado de iniciação, mudanças irreversíveis (mutações) ocorrem no material
genético da célula. No segundo estágio, denominado de promoção, mudanças intra
e extracelulares permitem a proliferação da célula transformada, dando origem a um
nódulo que, em etapas posteriores, pode se disseminar para regiões distintas do
corpo.

Por outro lado, tem em comum com outras doenças ocupacionais, a


dificuldade de relacionar as exposições a doença e ao fato que são, em sua grande
maioria, preveníeis. Dessa forma, a vigilância efetiva do câncer ocupacional e feita
sobre os processos de atividades do trabalho com potencial carcinogênico, ou seja,
dos riscos ou das exposições. A vigilância de agravos ou efeitos para a saúde busca
a detecção precoce de casos e a investigação da possível relação com o trabalho
para a identificação de medias de controle e intervenção.

3.3 Grupo III do CID – 10 doenças do sangue e dos órgãos


hematopoiéticos

O sistema hematopoiético constitui um complexo formado pela medula óssea,


outros órgãos termoformadores e pelo sangue. Na medula óssea produzidas,
continuamente, as células sanguíneas eritrócitos, neutrófilos e plaquetas, sob rígido
controle dos fatores de crescimento. Para que cumpram sua função fisiológica, os
elementos celulares do sangue devem circular em número e estruturas adequados.
A capacidade produtiva da medula óssea é impressionante. Diariamente, ela
substitui 3 bilhões de eritrócitos por quilograma de peso corporal. Os neutrófilos têm
uma meia vida de apenas 6 horas e cerca de 1,6 bilhões de neutrófilos por
quilograma de peso corporal, que necessitam ser produzidos a cada dia. Uma
população inteira de plaquetas deve ser substituída a cada 10 dias. Toda essa
intensa atividade torna a medula óssea muito sensível a infecções, aos agentes
químicos, aos metabólicos e aos ambientais que alteram a síntese do DNA ou a
formação celular. E, também, por isso, o exame do sangue periférico se mostra uma
sensível e acurado espelho da atividade medular.

Nos seres humanos adultos, o principal órgão hematopoiético localiza-se na


camada medular óssea do esterno, costelas, vértebras e ilíacos. A medula óssea é

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formada por um estroma e pelas células termoformadores que têm origem na célula
primordial linfoide e célula primordial mieloide de três linhagens. Sob o controle de
substâncias indutoras, estas células primordiais sofrem um processo de
diferenciação e proliferação, dando origem, após a formação de precursores, as
células circulantes do sangue periférico.

3.4 Grupo IV Cid – 10 – doenças endócrinas, nutricionais e


metabólicas

Os efeitos ou danos sobre o sistema endócrino, nutricional e metabólico,


decorrente da exposição ambiental, ocupacional a substancias e agentes tóxicos são
ainda pouco conhecidos, porém, ainda necessitam de estudos mais aprofundados.

As prevenções das doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas


relacionadas ao trabalho baseiam-se nos procedimentos de vigilância dos agravos à
saúde, dos ambientes e das condições de trabalho, em conhecimento medico
clinico, epidemiológico, de higiene ocupacional, toxicologia, ergonomia, psicologia,
entre outras disciplinas, nas percepções dos trabalhadores sobre o trabalho e a
saúde, nas normas técnicas e regulamentadas existentes, envolvendo:

• Conhecimento prévio das atividades e locais de trabalho, onde existam


substancias químicas, agentes físicos ou biológicos e fatores de risco
decorrentes da organização do trabalho, potencialmente causadores de
doenças;

• Identificação dos problemas ou danos potenciais para a saúde, decorrentes


da exposição aos fatores de riscos identificados;

• Identificação e proposição de medidas de controle que devem ser adotadas


para eliminação ou controle da exposição aos fatores de risco e para a
proteção dos trabalhadores;

• Educação e informação aos trabalhadores e empregados.

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3.5 Grupo V CID-10 – Transtornos mentais e do comportamento

A contribuição do trabalho para as alterações da saúde mental das pessoas e


dada a partir de ampla gama de aspectos de fatores pontuais, como a exposição a
determinado agente toxico, até a completa exposição de fatores relativos a
organização do trabalho, como a divisão e parcelamento das tarefas, as políticas de
gerenciamento das pessoas e a estrutura hierárquica organizacional.

Os transtornos mentais e de comportamento relacionados ao trabalho


resultam, assim, não de fatores isolados, mas de contexto de trabalho em interação
com o corpo e aparato psíquico dos trabalhadores. As ações implicadas no ato de
trabalhar podem atingir o corpo dos trabalhadores, produzindo disfunções e lesões
biológicas, mas também reações psíquicas as situações de trabalho que provocam
doenças, além de poderem desencadear processos psicopatológicos
especificamente relacionados as condições do trabalho desempenhado pelo
trabalhador.

Em decorrência do lugar de destaque que o trabalho ocupa na vida das


pessoas, sendo fonte de garantia de subsistência e de posição social, a falta de
trabalho ou mesmo a ameaça de perda do emprego geram sofrimento psíquico, pois
ameaçam a subsistência e a vida material do trabalhador de sua família.

Ao mesmo tempo, abalar o valo subjetivo que a pessoa se atribui, gerando


sentimentos de menor valia, angustia insegurança, desanimo e desespero,
caracterizando quadros ansiosos e depressivos.

3.6 Grupo VI CID-10 – Doenças do sistema nervoso

A vulnerabilidade do sistema nervoso aos efeitos da exposição ocupacional e


ambiental a um grama de substanciais químicas, agentes físicos e fatores causais
de adoecimento, decorrentes da organização do trabalho, tem ficado cada vez mais
evidente, traduzindo-se em episódios isolados ou epidêmicos de doenças nos
trabalhadores.

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As manifestações neurológicas das intoxicações decorrentes de exposição
ocupacional a metais pesados, aos agrotóxicos ou a solventes orgânicos, e de
outras doenças do sistema nervoso relacionadas as condições de trabalho,
costumam receber o primeiro atendimento na rede básica e serviço de saúde.
Quando isso ocorre, e necessárias profissionais que atendem esses trabalhadores
estejam familiarizados com os principais agentes químicos, físicos, biológicos e os
fatores decorrentes da organização do trabalho, potencialmente causadores de
doença, para que possam caracterizar a relação da doença com o trabalho,
possibilitando o diagnóstico correto e o estabelecimento das condutas adequadas.

3.7 Grupo VII CID-10 – Doenças do olho e anexos

O aparelho visual e vulnerável a ação de inúmeros fatores de risco para a


saúde presentes no trabalho como, por exemplo, agentes mecânicos (corpos
estranhos, ferimentos contusos e cortantes), agentes físicos (temperaturas
extremas, eletricidade, radiações ionizantes e não-ionizantes), agentes químicos,
agentes biológicos (picadas de marimbondo e pelo de lagarta) e ao sobre-esforço
que leva a debilidade induzida por algumas atividades de monitoramento visual.

Os efeitos de substancias toxicas sobre o aparelho visual tem sido


reconhecido como um importante problema de saúde ocupacional.

3.8 Grupo VIII CID-10 – Doenças do ouvido

As doenças otorrinolaringológicas relacionadas ao trabalho são causadas por


agentes ou mecanismos irritativos, alérgicos ou tóxicos. No ouvido interno, os danos
decorrem da exposição a substancias neurotóxicas e fatores de natureza física como
ruído, pressão atmosférica, vibrações e radiações ionizantes. Os agentes biológicos
estão frequentemente associados as inflamações do ouvido externo, aos eventos de
natureza traumática e a lesão do pavilhão auricular.

A exposição ao ruído, pela frequência e por suas múltiplas consequências


sobre o organismo humano, constitui um dos principais problemas de saúde
ocupacional e ambientais na atualidade. A Perda Auditiva Induzida pelo Ruido

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(PAIR) e um os problemas de saúde relacionados ao trabalho mais frequente em
todo o mundo.

A investigação, a orientação terapêutica e a caracterização dos danos ao


aparelho auditivo provocados pelas situações de trabalho que incluem a exposição
ao ruído, devem ser realizadas em centros especializados. Entretanto, os
profissionais da atenção básica devem estar capacitados a reconhecer suas
manifestações para o correto encaminhamento do paciente.

3.9 Grupo IX CID-10 - Doenças do sistema circulatório

Apesar da crescente valorização dos fatores pessoais como sedentarismo,


tabagismo e dieta, na determinação das doenças cardiovasculares, pouca atenção
tem sido dada aos fatores de risco presentes na atividade ocupacional atual ou
anterior dos pacientes. O aumento dramático da ocorrência de transtornos agudos e
crônicos do sistema cardiocirculatório na população faz com que as relações das
doenças com o trabalho mereçam maior atenção.

Observa-se, por exemplo, que a literatura e a mídia têm dado destaque as


relações entre ocorrência de infarto agudo do miocárdio, doença coronariana crônica
e hipertensão arterial, com situações e a condição desemprego, entre outras.

3.10 Grupo X CID-10 Doenças do Sistema Respiratório

O sistema respiratório constitui uma comunicação importante do organismo


humano com o meio ambiente, particularmente com o ar e seus constituintes. A
poluição do ar no ambiente de trabalho associada a uma extensa gama de doenças
do trato respiratório acometem desde o nariz até o espaço pleural.
Entre os fatores que influenciam os efeitos da exposição a esses agentes
estão a propriedade químicas, físicas dos gases e as características próprias do
indivíduo, como herança genética, doenças persistentes e hábitos de vida, como
tabagismo.

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3.11 Grupo XI CID-10 – Doenças do sistema digestivo

Entre os fatores importantes para ocorrência das doenças digestivas


relacionadas ao trabalho estão os agentes físicos, substâncias tóxicas, fatores da
organização do trabalho, como estresse e situações de conflito, tensão, trabalho em
turnos, fadiga, posturas forçadas, horários e condições inadequadas para
alimentação.

Entre os fatores de risco físico presentes no trabalho podem lesar o sistema


digestivo estão radiações ionizantes, vibrações, ruído, temperaturas extremas (calor
e frio) e exposição a mudanças rápidas e radicais de temperatura ambiente.
Queimaduras, se extensas, podem causar úlcera gástrica e lesão hepática.

Posições forçadas no trabalho podem causar alterações digestivas,


particularmente na presença de condições predisponentes, como hérnia para
esofageana e viceroptose. Os fatores relacionados à organização do trabalho são
responsáveis pela crescente ocorrência de problemas e queixas gastrintestinais
entre os trabalhadores.

Condições de fadiga física patológica trabalho muito pesado, trabalho em


turnos, situações de conflito e de estresse, exigência de produtividade, controle
excessivo e relações de trabalho despóticas podem desencadear quadros de dor
epigástrica, regurgitação e aerofagia, diarreia e ulcera péptica.

3.12 Grupo XII CID-10 - Doenças da pele e tecidos subcutâneos

As doenças de pele ocupacionais compreendem as alterações da série


mucosa e anexos, direta ou indiretamente causadas, mantidas ou agravadas pelo
trabalho. São determinadas pela interação de dois grupos de fatores:

• Predisponentes ou causas indiretas, como idade, sexo, etnia, antecedentes


mórbidos e doenças concomitantes, fatores ambientais, como diria o clima
(temperatura, umidade) hábitos e facilidades de higiene;

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• Causas diretas constituídas pelos agentes biológicos, físicos, químicos ou
mecânicos presentes no trabalho que atuariam diretamente sobre o
regulamento, produzindo ou agravando uma dermatose preexistente.

Cerca de 80% das dermatoses ocupacionais são produzidas por gentes


químicos, substancias orgânicas e inorgânicas, irritantes e sensibilizantes. A maioria
e de tipo irritativo e um menor número e de tipo sensibilizante. As dermatites de
contato são as dermatoses ocupacionais mais frequentes.

3.13 Grupo XIV CID-10 – Doenças do Sistema Geniturinário

A exposição ambiental ou ocupacional a agentes biológicos, químicos e


farmacológicos pode lesar, de forma aguda ou crônica, os rins e o trato urinário. O
diagnóstico diferencial nos casos decorrentes da intoxicação medicamentosa e
facilitado pelo relato do paciente ou de seus familiares e pela evolução, geralmente
aguda e reversível. Porém, os demais agentes desencadeiam insidiosos crônicos,
dificultando sua identificação e aumentando a possibilidade de dano.

O sofrimento, o comprometimento da qualidade de vida, a morte do


trabalhador vítima de uma doença renal ou do trato urinário, o custo social
decorrente de sua incapacidade para o trabalho, os tratamentos dispendiosos a que
deverá ser submetido, como os procedimentos de dialises ou transplante dos rins,
entre outros, aumenta a importância do controle, o monitoramento dos ambientes e
condições de trabalho em que estão presentes fatores de risco de lesão para o
sistema geniturinário. Reforçam, também, a necessidade de acompanhamento, de
controle medico e indicação de afastamento da exposição ao primeiro sinal de
alteração, evitando comprometimento mais grave.

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4. REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria/MS n.º 1.339/1999, de 18 de novembro


de 1999. Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho. Diário Oficial da União,
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