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Apostila Pesquisa em Psicologia
Apostila Pesquisa em Psicologia
EM PSICOLOGIA
autora
PROFA. DRA. MARÍLIA CAMMAROSANO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2018
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.
A seleção da amostra 55
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
5
6
1
A prática da
pesquisa em
Psicologia
A prática da pesquisa em Psicologia
A Psicologia é uma ciência relativamente jovem, e por isso, ainda há muito a se
desenvolver e investigar nessa importante área do conhecimento. Neste capítulo,
você vai compreender a diferença entre a Psicologia enquanto ciência e o senso
comum. É importante que antes de adentrar em tipos, métodos e técnicas de pes-
quisa, você entenda o que é uma abordagem científica, quais são os objetivos da
ciência, e como podemos levantar problemas de pesquisa. Vamos lá?
OBJETIVOS
• Diferenciar ciência e senso comum no campo da Psicologia;
• Definir o que é uma abordagem científica e os objetivos da ciência;
• Definir o que é conhecimento e seus níveis;
• Compreender quais fontes podem ser utilizadas para formular um problema de pesquisa;
• Discutir a importância da ética na pesquisa em Psicologia;
• Compreender o papel dos comitês e comissões de ética em pesquisa.
A abordagem científica
capítulo 1 •8
(2003) dá um exemplo bastante claro sobre isso. Talvez você já tenha conhecido
casais que relatassem várias tentativas para engravidar, até que acabaram optan-
do por adotar uma criança ou por realizar um procedimento de fertilização ou
inseminação artificial. Após anos na expectativa de se tornarem pais, quando se
sentiram mais relaxados quanto ao assunto, ou ainda, por já terem alcançado tal
desejo por outros meios, acabaram engravidando naturalmente quando menos
esperavam.
Assim, é comum ouvirmos dizer que a pressão psicológica e a ansiedade possi-
velmente é que estavam interferindo nos resultados na concepção, o que dificulta-
va o sonho de ser alcançado. Tais conclusões, apoiadas em experiências como estas,
são obtidas por meio de vivências e formam o que chamamos de “senso comum”
ou conhecimento popular.
Hummm.... Hoje
acordei diferente.
Acho que vai chover!
Sempre é assim quando
acordo desse jeito.
©© SPECTRAL-DESIGN | SHUTTERSTOCK.COM
capítulo 1 •9
Podemos dizer que sim se basearmos em nossas experiências ou nos fatos daquilo
que costumamos escutar, isto é, no relato de terceiros. Porém, ainda assim, não po-
demos dizer que se trata de uma afirmação científica.
Há algum tempo, você deve ter ouvido falar por veículos da mídia sobre uma
substância utilizada para o tratamento do câncer que dividiu opiniões. Afirmar
que um determinado remédio ou substância pode curar ou amenizar os sintomas
de uma doença não é algo tão simples. Para provarmos sua eficácia e até mesmo in-
vestigar possíveis efeitos nocivos ou colaterais, é necessário que um passo a passo,
com base em pesquisas sérias e controladas, seja rigorosamente seguido. Podemos
criar expectativas sobre um determinado medicamento, e por isso, termos a sensa-
ção de melhora. No entanto, quando medimos essa melhora por técnicas científi-
cas, é possível afirmarmos com segurança quais são reais seus efeitos.
Verificamos aqui
pelos relatórios e
análises que há grande
possibilidade de chuva
para hoje.
©© DMITRI MA | SHUTTERSTOCK.COM
capítulo 1 • 10
SAIBA MAIS
No artigo de autoria de Michel Paty, intitulado “A ciência e as idas e voltas do senso co-
mum”, publicado em 2003, você pode aprofundar a discussão sobre a abordagem científica e
o senso comum. Para acessá-lo, utilize o link: <http://www.scielo.br/pdf/ss/v1n1/a01v1n1.
pdf>. Boa leitura!
capítulo 1 • 11
Aceitava-se como ciência aquilo que era provado por demonstração e experi-
mentação. Assim, o conhecimento científico era visto como (CERVO; BERVIAN;
SILVA, 2007):
• Certo, com explicação e motivos de sua certeza;
• Geral, isto é, que poderia ser generalizado para casos da mesma espécie;
• Metódico e sistemático, pois o cientista acredita que os fatos estão ligados
por certas relações e o objetivo era investigar quais eram estas, o qual alcançada por
meio de leis e princípios, ou seja, pelo conhecimento ordenado.
capítulo 1 • 12
A figura 1.1 ilustra os tipos de conhecimentos e seus níveis.
Popular
Científico
Filosófico
Teológico
Figura 1.1 – O conhecimento e seus níveis. Cervo, Bervian e Silva (p. 6, 2007).
capítulo 1 • 13
SAIBA MAIS
O que é Epistemologia?
É o “estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas, e
que visa determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance objetivo delas (Definição
contida no Novo Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio).
Severino (2017), em uma equação básica, busca sintetizar o que vimos até
aqui. Para ele, ensinar e aprender significa conhecer. Já conhecer compreende
construir o objeto a ser conhecido, isto é, o que se pretende conhecer. Construir
o objeto é sinônimo de pesquisar. E pesquisar é igual a abordar o objeto em suas
fontes primárias. Assim, de forma simples:
capítulo 1 • 14
Vamos agora abordar fontes de ideias e questionamentos como ponto de par-
tida para a prática de pesquisa. Afinal, como formulamos uma pergunta de pes-
quisa? O que é uma problemática de pesquisa? Qualquer pergunta relacionada ao
comportamento humano pode ser investigada na Psicologia? Por onde começa-
mos a pesquisar? Tudo isso será abordado na próxima seção. Vamos lá?
Os questionamentos que muitas vezes nos fazemos no dia a dia são ótimos
provocadores para indagarmos determinada teoria ou técnica, a relação entre fa-
tos, ou algum conceito. Partir das crenças do próprio senso comum ou de expe-
riências profissionais também pode ser uma forma de estimularmos um início
para o raciocínio científico, e portanto para a prática em pesquisa. Por exemplo,
um psicólogo clínico pode observar, por meio de suas experiências e atuação, que
algumas técnicas aprendidas durante sua formação são mais eficazes para determi-
nadas queixas do que para outras. Com base em sua percepção, ele pode inferir
que algumas coisas repercutem em melhores resultados para algumas pessoas e
não para outras. Quando essas inferências passam a ser indagadas, inicia-se um
processo de construção de uma possível problemática de pesquisa.
Digamos que tudo começa por meio de um brainstorming (ou chuva de ideias),
muitas vezes resultado do acúmulo de leituras e experiências, de observação, ou até
mesmo, de ideias trocadas em conversas com outros profissionais.
No entanto, para de fato iniciarmos uma investigação, é necessário averiguar o
que já existe sobre o assunto. Será que outras pessoas já não investigaram o que esta-
mos nos questionando? É muito provável que a resposta seja sim, isto é, que outros
pesquisadores e profissionais já tenham feito questões semelhantes. Podemos nos
surpreender ao ver que, muitas vezes, já temos dados científicos que comprovam ou
refutam certas questões que nos despertaram interesses e indagações. É preciso, por-
tanto, termos um conhecimento prévio sobre o assunto para verificarmos se realizar
determinada pesquisa trará resultados e contribuições relevantes.
Realizar uma pesquisa, passo a passo, exige muita leitura e um bom plane-
jamento do que deverá ser seguido. O ponto de partida pode ser compreendido
como a formulação da pergunta de pesquisa. Mas o que seria isso? Uma pergunta
de pesquisa refere-se a uma questão central que queremos responder. Ela é fruto
de uma problemática que deve ser levantada por meio de informações científi-
cas confiáveis e obtidas por meio de fontes aceitas pelo mundo acadêmico e da
capítulo 1 • 15
pesquisa. Fazer uma boa pergunta é fundamental para que possamos ter uma di-
reção de pesquisa.
Mas, como saber se nossa pergunta já foi feita? Ou ainda, como posso lapidar
a pergunta de pesquisa com base no que já foi investigado sobre o assunto? Para
levantarmos um problema de pesquisa, é necessário verificarmos as lacunas de
conhecimento existentes sobre determinado tema. Para isso, devemos fazer uma
revisão das principais pesquisas, principalmente as recentes, isto é, aquelas publi-
cadas nos cinco anos anteriores. Chamamos isso de revisão da literatura.
A revisão da literatura consiste em levantamento, leitura e estudo das princi-
pais obras científicas publicadas sobre o tema e os conceitos centrais que envolvem
nossas ideias iniciais para formulação da pergunta de pesquisa. Por meio desse
passo, podemos então verificar o estado do conhecimento ou estado da arte sobre
um determinado assunto. O estado da arte consiste em averiguar onde paramos
na construção do conhecimento sobre certa temática, para assim, darmos conti-
nuidade a partir desse ponto.
Devemos conhecer a literatura clássica sobre a temática de nossa investigação,
mas primordialmente, devemos levantar e estudar o que foi pesquisado em anos
recentes sobre o assunto central (ou assuntos centrais) para a formação de uma
problemática. Mas onde podemos encontrar essas pesquisas? Qualquer meio de
publicação é viável? Posso simplesmente pesquisar na internet?
A revisão da literatura para o levantamento de um problema de pesquisa que
consequentemente vai nortear a formulação de nossa pergunta de pesquisa deve
ser feita por meio de obras aceitas no mundo científico. Livros, principalmente de
autores conceituados na área, são ótimos meios para compreendermos conceitos
e teorias já bem formuladas. No entanto, para uma revisão completa e atualizada,
é importante que façamos a consulta de artigos científicos publicados em revistas
ou periódicos.
SAIBA MAIS
Uma boa revisão de literatura implica leitura e conhecimento das principais pesquisas e
obras clássicas sobre o assunto a ser investigado e no levantamento de pesquisas recentes
sobre o tema. Atualmente, com o número de publicações que podem ser acessadas por meio
de periódicos eletrônicos nacionais e internacionais, consideramos recentes as pesquisas
publicadas nos últimos cinco anos.
capítulo 1 • 16
Quando falamos de artigos científicos encontrados em revistas, não estamos
nos referindo àquelas matérias contidas em revistas populares e constituídas a par-
tir de opiniões do meio jornalístico. Um paper ou artigo científico se trata de
pesquisa documentada, com partes bem delimitadas e definidas, que trazem ao
leitor informações conceituais relevantes, bem como resultados de investigações.
Nesse documento, de modo geral, temos a definição dos conceitos centrais a se-
rem pesquisados, a formulação de pergunta de pesquisa, o objetivo a ser seguido,
o método para se responder à pergunta formulada e, portanto para alcançar o
objetivo delineado, os principais resultados, sua discussão e principais conclu-
sões. Por meio da leitura das partes fundamentais de artigos recentes, podemos
compreender, então, o estado do conhecimento atual sobre certa temática. Vamos
abordar com mais detalhes as partes de um artigo no último capítulo, quando será
apresentado o assunto sobre a escrita científica.
Falamos sobre a busca por artigos científicos, mas ainda faltou abordar uma
questão importante: onde podemos encontrar esses documentos? Já dissemos que
estes não são publicados em revistas do meio midiático ou comerciais, certo? Mas,
então, onde são publicados? As revistas ou periódicos científicos são meios pelos
quais os pesquisadores comunicam seus principais achados, pesquisas de várias na-
turezas, resenhas, resumos, entre outros. Segundo a Associação Brasileira de
Normas e Técnicas (ABNT), um periódico científico é definido como editada
em unidades físicas sucessivas, com designações cronológicas ou numéricas que
podem ser continuadas indefinidamente. Ele tem esse nome justamente porque
suas publicações são realizadas em certos períodos, isto é, de tempos em tempos,
podendo ser anual, trimestral, semestral, entre outros.
No Brasil, um dos portais mais importantes que oferece uma boa base de
dados científica refere-se aos Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes). Nesse portal é possível acessar publicações aca-
dêmicas respeitadas e aceitas no mundo científico, tanto de pesquisas desenvolvi-
das no âmbito nacional quanto internacional. Há, no entanto, revistas de acesso
público e gratuito, e outras que necessitam de assinatura. Geralmente as univer-
sidades têm acesso a tais bases de dados, sendo que o pesquisador pode acessá-los
por meio das redes dessas instituições.
capítulo 1 • 17
SAIBA MAIS
Para acessar o portal de Periódicos da Capes, utilize o link:
<www.peridicos.capes.gov.br>.
Você poderá fazer buscas por meio de assuntos, periódicos, livros e outras bases.
Além do portal de Periódicos da Capes, você pode fazer buscas por artigos
em outras bases de dados como o Scielo (www.scielo.br), Web of Science e Science
Direct, com publicações internacionais de acesso restrito às universidades, sendo
geralmente pagas por tais entidades, e até mesmo, o Google Acadêmico ou Google
Scholar. Para fazer uma busca, é importante utilizar palavras-chave relacionadas
aos principais conceitos sobre a temática da pesquisa que se pretende desenvolver.
Há alguns anos, a Capes tem avaliado a qualidade dos periódicos, evidencian-
do a relevância das pesquisas publicadas em seu corpo editorial. O Qualis Capes
é um conjunto de procedimentos utilizados pela Capes para classificar as revistas
científicas conforme critérios de avaliação, que permitem ao leitor compreender
as contribuições dos artigos de determinada revista científica. As publicações em
periódicos com boas classificações aumentam o prestígio do pesquisador e sua
produção científica.
Já um parâmetro internacional é o que denominamos Journal Citation Reports
(JCR) publicado pelo Institute for Scientific Information (ISI). O JCR é calculado
com base no número de citações de certo periódico em um campo de pesquisa,
indicando o seu “fator de impacto” em determinada área de conhecimento. Essas
questões são avaliadas com profundidade por pesquisadores experientes, sendo
importante que você, estudante, compreenda sua importância e sabia sua relevân-
cia para o mundo científico.
É possível que muitas investigações sobre o assunto envolvendo nossas per-
guntas de pesquisa sejam encontradas e é necessário que tomemos conhecimento
sobre o conteúdo delas. Nossa tarefa nessa etapa é verificar alguns pontos relevan-
tes, como após a revisão da literatura, o que ainda faltou responder? Quais lacu-
nas ainda podem ser encontradas? De que forma nossa pesquisa pode contribuir
com o conhecimento existente? Em que ela vai agregar? A partir disso, podemos
então levantar nosso problema de pesquisa, e realizar a pergunta norteadora de
forma mais precisa, apontando sua relevância e apresentando uma justificativa
para sua realização.
capítulo 1 • 18
De forma concomitante à formulação da pergunta a ser respondida em uma
investigação, também é importante que os objetivos sejam definidos. Eles de-
finem a natureza do trabalho, o material a ser coletado, entre outras questões
(MARCONI; LAKATOS, 2007). Geralmente, definimos um objetivo geral de
pesquisa, e a partir dele os objetivos específicos.
SAIBA MAIS
Os objetivos esclarecem o que é pretendido com a pesquisa e indicam as metas que
almejamos alcançar ao final da investigação. Os objetivos são normalmente categorizados
em geral e específicos:
a) Objetivo geral: dimensão mais ampla pretendida com a pesquisa;
b) Objetivos específicos: definem metas específicas da pesquisa que sucessivamente com-
plementam e viabilizam o alcance do objetivo geral.
REIS, A. S.; FROTA, M. G. C. Guia básico para elaboração do projeto de pesquisa.
Disponível em: <https://www.ufmg.br/proex/cpinfo/educacao/docs/06a.pdf>.
Acesso em: 7 ago. 2017.
capítulo 1 • 19
A questão sobre a forma como a pesquisa será feita envolve a delimitação
do método de pesquisa, que deverá seguir os objetivos de pesquisa. Tal assunto
será abordado em capítulos posteriores. Já questão sobre quem será investigado
envolve o objeto de estudo em si, se a pesquisa necessitará da participação do que
denominamos sujeitos ou participantes.
Muitas vezes, os estudos são realizados utilizando-se animais de laboratórios,
estudados em ambientes controlados e até mesmo em seu hábitat, dependendo
dos objetivos de nosso estudo. É muito comum que ratos e camundongos parti-
cipem como sujeitos de investigações, que nem sempre envolvem procedimentos
invasivos. Tudo vai depender do que será investigado.
Pesquisas também podem ser realizadas por meio da participação de seres hu-
manos. Por exemplo, ao se investigar os efeitos de determinado medicamento ou
substância para tratamento de uma doença, pessoas com certos pré-requisitos são
recrutadas para a participação em estudos científicos. É necessário, portanto, que
o número de sujeitos ou participantes seja delimitado com base em conhecimen-
tos prévios, bem como o perfil que necessitam apresentar, pois todos os fatores
serão importantes e podem interferir nos resultados do estudo. Vamos tratar com
mais profundidade sobre questões relacionadas à amostragem mais adiante.
Você deve estar se perguntando sobre um ponto muito importante que será
agora abordado: mas podemos fazer qualquer tipo de pesquisa com animais e seres
humanos? A resposta é: evidentemente não. As pesquisas que envolvem sujeitos ou
participantes necessitam de minuciosa análise de grupos de pesquisadores especialis-
tas que irão aprovar ou reprovar a realização da investigação, ou ainda, solicitar que
modificações importantes sejam feitas para que a pesquisa seja colocada em prática.
Iremos agora definir a importância do papel das Comissões e Comitês de Ética
em Pesquisa no Brasil.
Para garantir que as pesquisas com animais ou serem humanos sejam rea-
lizadas dentro de princípios éticos e jurídicos, grupos inter e multidisciplinares
são formados nas universidades e instituições de ensino superior, de modo geral.
Trata-se de colegiados independentes, de caráter consultivo, educativo e delibera-
tivo. Mas afinal, o que é ética?
Não vamos tratar aqui de questões da Filosofia mais aprofundadas sobre con-
ceitos envolvendo ética e moral. Mas é importante que você entenda o que é
ética na pesquisa em Psicologia. De modo geral, segundo o dicionário de Língua
capítulo 1 • 20
Portuguesa Aurélio, podemos definir ética como “estudo dos juízos de apreciação
referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem
e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”.
Assim, seguir padrões éticos significa analisar, conforme a legislação e regras prees-
tabelecidas, se determinado protocolo segue os passos necessários para assegurar os
diretos daqueles que participam de uma investigação.
Tais grupos são responsáveis pela análise de projetos de pesquisas. No Brasil,
temos as Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs) e os Comitês de Ética
em Pesquisa com Seres Humanos (CEPs), cujas competências estão relacionadas à
garantia de bem-estar e dignidade dos participantes das investigações.
Segundo Feijó, Grey e Crippa (2014), os CEUAs são incumbidos de cumprir
a legislação relacionada às pesquisas com animais no ensino e campo investigati-
vo, previamente examinando os procedimentos que serão aplicados nos sujeitos,
cadastrando os projetos de pesquisa. É competência do CEUA interromper qual-
quer investigação que não esteja cumprindo os aspectos éticos delimitados, além
de criar normas para o desenvolvimento e manutenção dos animais em laborató-
rios e biotérios, garantindo questões de bem-estar e dignidade.
Da mesma forma, os CEPs têm a responsabilidade de avaliar os projetos de
pesquisa que envolvem a coleta de dados por meio de seres humanos. São compe-
tências dos CEP analisar o método de investigação, os propósitos da pesquisa, o
acompanhamento da formulação de termos de consentimento, entre outras ques-
tões. As pesquisas em seres humanos são aceitáveis quando respondem preliminar-
mente conveniências da terapêutica e do diagnóstico do próprio participante, com
o intuito de restabelecer sua saúde ou minimizar suas queixas (SCHNAIDER,
2008). Para garantir que o participante (ou responsável) esteja ciente do que se tra-
ta a pesquisa, consolidando sua anuência, é necessário o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) seja devidamente assinado.
SAIBA MAIS
O que é o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)?
É um documento integrante do Protocolo de Pesquisa, elaborado pelo pesquisador em
linguagem acessível à compreensão dos participantes do estudo. O TCLE deverá ser obtido
após o participante ou seu responsável legal estar suficientemente esclarecido de todos os
possíveis benefícios, riscos e procedimentos que serão realizados, assim como fornecidas
todas as informações pertinentes à pesquisa (SCHNAIDER, 2008).
capítulo 1 • 21
Os projetos de pesquisa devem ser submetidos para análise no Sistema Nacional
de Informações Sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos (SISNEP) de
responsabilidade do Ministério da Saúde. Por meio do site da Plataforma Brasil,
é possível escolher o Comitê de Ética que fará a avaliação, bem como acompanha
todo o processo. Todo pesquisador que investiga questões relacionadas a serem
humanos deve ter cadastro para submissão de seus projetos de pesquisa.
ATIVIDADES
01. Qual a diferença entre a Psicologia com base no senso comum e a Psicologia científica?
02. O conhecimento pode ser dividido em diferentes níveis. Defina cada um deles.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, C. A. A. A ciência como forma de conhecimento. Ciência & Cognição. v. 8, p.127-142,
2006.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. Pearson: São Paulo, 2007.
COZBY. P. C. Métodos de Pesquisa em Ciências do Comportamento, São Paulo: Atlas, 2003.
FEIJÓ, A. G. S.; GREY, N. C.; CRIPPA, A. A ética, a ciência e os animais não humanos na
experimentação. In: PICHLER, N A.; GIACOMINI, A. C. V. V. Ética em pesquisa com animais e
humanos: bem-estar e dignidade. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2014.
capítulo 1 • 22
FRANCELIN, M. M. Ciência, senso comum e revoluções científicas: ressonâncias e paradoxos. Revista
Ciência da Informação. v. 33, n. 3, p. 26-34, 2004.
REIS, A. S.; FROTA, M. G. C. Guia básico para elaboração do projeto de pesquisa. Disponível em:
<https://www.ufmg.br/proex/cpinfo/educacao/docs/06a.pdf> Acesso em: 7 ago. 2017.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007.
PATY, M. A ciência e as idas e voltas do senso comum. ScientleStudia. v. 1, n. 1, p. 9-23, 2003.
SCHNAIDER, T. B. Ética e pesquisa. Acta Cirúrgica Brasileira. v. 23, n. 1, p. 107-111, 2008.
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2017.
capítulo 1 • 23
capítulo 1 • 24
2
A classificação
de pesquisas em
Psicologia
A classificação de pesquisas em Psicologia
As pesquisas desenvolvidas tanto na área de Psicologia quanto em outros cam-
pos do conhecimento podem receber diferentes classificações, dependendo do que
se deseja investigar. Neste capítulo, você vai conhecer os principais tipos de pes-
quisa, sendo esta informação muito importante para que o pesquisador escolha
o método adequado para a coleta de dados, e assim para que atinja o objetivo de
investigação, respondendo à pergunta de pesquisa formulada no primeiro passo.
OBJETIVOS
• Apresentar os principais tipos de pesquisa na Psicologia;
• Discutir sobre a classificação de uma pesquisa quanto a diferentes parâmetros;
• Descrever tipos de pesquisa quanto à abordagem, natureza, aos objetivos e procedimentos;
• Aprender a classificar uma pesquisa conforme a(s) pergunta(s) de pesquisa que se deseja
responder na investigação.
capítulo 2 • 26
prosseguimento a esse trabalho. Assim, o método de pesquisa trata da escolha de
procedimentos para a explicação do fenômeno que se pretende investigar.
Segundo Gerhardt e Souza (2009), é importante salientar a diferença entre
metodologia e método de pesquisa. Podemos dizer que a metodologia trata do
estudo dos caminhos a serem percorridos para que uma investigação seja con-
cretizada. Significa, portanto, o estudo dos passos e dos instrumentos a serem
utilizados para se realizar uma pesquisa científica. Já o método de pesquisa se
refere diretamente aos procedimentos escolhidos para se atingir os objetivos de
investigação, isto é, às técnicas propriamente definidas e que serão utilizadas para
se responder à pergunta norteadora inicialmente formulada.
Dessa forma, conforme o método de pesquisa definido, uma pesquisa pode
ser classificada quanto à sua abordagem, quanto à natureza, quanto aos objetivos
e quanto aos procedimentos. Mas para defini-lo de forma adequada, é crucial que
você aprenda sobre as principais características de cada um desses tipos de pesquisa
para ajustar suas técnicas a seus objetivos de investigação. Vamos lá?
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre o positivismo, leia o artigo “Epistemologia positivista: qual a sua
influência hoje?”, de Silvino (2007). Você pode acessá-lo pelo link a seguir:
< h t t p : / / p e p s i c . b v s a l u d . o r g / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s ci _ a r t t e x t & p i d = S 1 4 1 4 -
98932007000200009>.
Boa leitura!
capítulo 2 • 27
Segundo Silveira e Córdova (2009), as principais características da pesqui-
sa qualitativa envolvem a definição do fenômeno; a hierarquização das ações de
descrever, compreender, explicar e relacionar o global e o local em determinado
fenômeno; a observação das diferenças entre o social e o natural; a interação entre
os objetivos, orientações teóricas e dados empíricos; a busca de resultados mais fi-
dedignos possíveis; e, por fim, a oposição ao pressuposto que defende um modelo
único de pesquisa para todas as ciências.
SAIBA MAIS
O que é fidedignidade?
Refere-se à consistência dos resultados obtidos em um procedimento de pesquisa, isto
é, à confiança das conclusões tiradas com base em determinadas informações e dados.
Medidas fidedignas são estáveis, consistentes e precisas (COZBY, 2004). Dizemos que os
resultados de uma pesquisa são fidedignos quando são confiáveis e apresentam veracidade
quanto ao fenômeno investigado.
capítulo 2 • 28
SAIBA MAIS
O que é viés?
No mundo científico, compreende-se viés como uma visão tendenciosa, que pode trazer
interpretações errôneas.
capítulo 2 • 29
MÉTODO QUANTITATIVO MÉTODO QUALITATIVO
Utiliza procedimentos estruturados e ins- Coleta dados sem instrumentos formais
trumentos formais para coleta de dados e estruturados
Tabela 2.1 – Comparação entre o método quantitativo e o método qualitativo. Polit et al.
(2004 apud SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009).
SAIBA MAIS
Um artigo muito interessante que discute as vantagens e desvantagens das pesquisas
quantitativas e qualitativas, e as dificuldades de separarmos plenamente ambas as aborda-
gens pode ser acessado pelo link:
<http://www.scielo.br/pdf/%0D/ptp/v22n2/a10v22n2.pdf>.
O artigo é de autoria Hartmut Günther (2006)
Boa leitura!
capítulo 2 • 30
hipótese confirmada ou refutada, e os pesquisadores qualitativos apresentam bons
meios para se aumentar a profundidade de suas descobertas (CUNNINGHAM;
YOUNG; LEE, 2000; STAKE, 2011).
A tabela 2.2 aponta as principais diferenças entre a pesquisa quantitativa e
qualitativa, o que nos permite compreender que a pergunta de pesquisa é quem
determinará a melhor abordagem a ser escolhida (GÜNTHER, 2006).
PESQUISA PESQUISA
ASPECTO QUANTITATIVA QUALITATIVA
Enfoque na interpretação
Menor Maior
do objeto
Importância do contexto
Menor Maior
do objeto pesquisado
Proximidade do pesquisa-
dor em relação aos fenô- Menor Maior
menos estudados
Alcance do estudo no
Instantâneo Intervalo maior
tempo
Quantidade de fontes de
Uma Várias
dados
Ponto de vista do
Externo à organização Interno à organização
pesquisador
Quadro teórico e
Definidas rigorosamente Menos estruturadas
hipóteses
Tabela 2.2 – Comparação dos aspectos da pesquisa qualitativa com os da pesquisa quan-
titativa. Fonseca (2002).
capítulo 2 • 31
aplicadas, pois são o início de uma série de investigações necessárias para se esgotar
dados coletados e analisados sobre um determinado fenômeno.
Como exemplo de pesquisa na Psicologia, podemos classificar as pesquisas
básicas aquelas realizadas com sujeitos (ou cobaias) em situações totalmente con-
troladas. Vamos supor que o objetivo da pesquisa seja analisar o possível efeito
ansiolítico da ingestão de determinada substância por meio de observações de
comportamentos, o que é muito comum em pesquisas realizadas com camundon-
gos em laboratórios. Assim, uma amostra experimental é testada e analisada para
se refutar ou validar uma determinada hipótese. Trata-se de pesquisa básica com o
intuito de investigar determinado fenômeno ainda sem aplicação prática imediata.
Já a pesquisa aplicada utiliza os conhecimentos adquiridos das pesquisas bá-
sicas para gerar aplicação prática e solucionar problemas específicos (COZBY,
2004). Um exemplo de pesquisa desse tipo seria a investigação da eficácia de de-
terminado medicamento para o tratamento da ansiedade em pessoas com trans-
tornos ansiosos, bem como seus efeitos colaterais e outros possíveis efeitos com-
portamentais. Trata-se, portanto, de uma pesquisa aplicada, prática, cujo objetivo
é bem definido e busca o tratamento de determinadas doenças.
As pesquisas aplicadas geralmente são antecedidas das pesquisas básicas, sendo
ambas complementares e fundamentais para a compreensão de fenômenos. Trata-
se de um passo a passo para a aplicação do conhecimento adquirido para a solução
de um determinado problema específico.
capítulo 2 • 32
de uma população sem aprofundamento de conteúdos e explicações. Nesse tipo
de pesquisa não deve haver interferência do investigador, que deverá apenas com-
preender a frequência de ocorrência de certo fenômeno ou como funciona certo
sistema, processo ou método.
A pesquisa exploratória, segundo Silva e Menezes (2005), tem como princi-
pal objetivo proporcionar maior familiaridade com determinado problema para
torná-lo mais explícito ou para construir hipóteses. Envolve a abordagem de pes-
soas ou sujeitos que são diretamente associadas a experiências práticas relaciona-
das à problemática levantada. Enfatizam a descoberta de ideias e discernimentos
(MARCONI; LAKATOS, 2007).
capítulo 2 • 33
tipo de pesquisa da pesquisa bibliográfica é o tipo de material analisado. Podemos
entender que na pesquisa documental são analisados documentos oficiais que con-
tenham informações suficientes para se responder à pergunta de pesquisa, e na
pesquisa bibliográfica são analisados dados de obras acadêmicas e científicas, o que
significa que, geralmente, envolve a análise de materiais já elaborados.
Se o objetivo de uma pesquisa fosse investigar o número de pacientes com
diagnóstico de depressão por determinado serviço de saúde na rede pública em
um período de dez anos, esta possivelmente seria uma pesquisa documental, pois
envolveria o levantamento dos atendimentos realizados nessas instituições especí-
ficas por meio de registros e documentos oficiais do passado. Já se o objetivo fosse
a compreensão das técnicas mais utilizadas em serviços de saúde nos últimos 10
anos, de modo geral, poderíamos realizar isso por meio de pesquisa bibliográfica,
levantando o que foi publicado sobre esse assunto nas principais bases de da-
dos científicas.
Além de análises de obras acadêmicas e científicas e de documentos, podemos
ainda realizar outro tipo de pesquisa, denominada pesquisa de campo. Esta en-
volve a coleta de dados em situações reais, in loco, muitas vezes com observações e
coleta de dados junto às pessoas. Segundo Marconi e Lakatos (2007), a pesquisa de
campo consiste nas observações de fatos tal como estes ocorrem espontaneamente.
Para a realização desse tipo de pesquisa, é muito importante que uma prévia
pesquisa bibliográfica seja realizada: afinal, o que já existe sobre o assunto? O que
teorias já existentes dizem sobre determinado fenômeno? Por meio da pesquisa de
campo, é possível confirmar tais teorias ou refutá-las, ou ainda, acrescentar infor-
mações importantes para complementá-las.
Outro tipo de pesquisa muito comum que podemos realizar na Psicologia
é a pesquisa experimental. Geralmente este tipo de pesquisa envolve pesquisas
em laboratório ou em campo, com controle de variáveis, sendo a análise do com-
portamento uma das linhas teóricas que mais utiliza este tipo de pesquisa. Sendo
assim, segue um planejamento rigoroso, iniciando-se por meio da formulação de
hipóteses bem delineadas, com delimitação de variáveis para controle, e assim a
compreensão do fenômeno a ser estudado (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009).
A pesquisa experimental começa pela determinação precisa do objeto de
estudo, seleção de variáveis que poderiam influenciá-lo, definição de formas de
controle e de observação para compreensão dos efeitos de tais variáveis sobre o
fenômeno a ser estudado (GIL, 2007).
capítulo 2 • 34
Por exemplo, vamos supor que nosso objetivo de pesquisa seja compreender a
eficácia de técnicas de relaxamento como estratégia de intervenção para pacientes
com transtorno de ansiedade generalizada (TAG). Como podemos medir o efeito
de tais técnicas? Como saberemos se não se trata de efeito placebo? Devemos lem-
brar que nossos resultados devem ser fidedignos para que afirmações e conclusões
certeiras sejam alcançadas. Nesse caso, poderíamos trabalhar com dois grupos de
pessoas, sendo ambos formados por pacientes com o diagnóstico de TAG. Um
grupo, chamado de controle, participaria de encontros semanais, porém sem re-
ceber intervenções precisas com as técnicas de relaxamento. Poderíamos dizer que
seria um “grupo de bate-papo”. Já o outro grupo, chamado de grupo experimen-
tal, participaria de encontros semanais com psicoterapeutas, com intervenções
programadas com técnicas de relaxamento bem elaboradas a serem investigadas.
É importante que os participantes saibam dos objetivos de pesquisa, mas em um
primeiro momento, não tenham a informação se fazem parte do grupo controle
ou experimental, para que as próprias expectativas não gerem possíveis vieses nos
resultados.
Ao final, sendo que todos participaram do mesmo número de encontros, no
mesmo ambiente, mudando apenas o “tipo de tratamento” recebido, poderíamos
mensurar, por meio de entrevistas, questionários, entre outros instrumentos que
abordaremos a seguir, os resultados em relação aos sintomas da TAG. Se o grupo
experimental, de fato, apresentar diferenças significativas de melhorias de sinto-
mas da TAG em relação ao grupo controle (o que pode ser medido por meio
de técnicas estatísticas, por exemplo), podemos, então, tirar conclusões quanto à
eficácia de tais técnicas.
Devido a sua importância e uso na Psicologia, a pesquisa experimental será
aprofundada em capítulo posterior.
Outro tipo de pesquisa também muito utilizado na Psicologia é o estudo de caso.
Segundo Fonseca (2002), um estudo de caso pode ser compreendido como um estudo
aprofundado sobre determinada entidade, unidade social, pessoa, instituição ou pro-
grama. Visa compreender como e por que determinado fenômeno ocorre em situações
pontuais. Como exemplo, podemos dizer que uma psicobiografia é um tipo de estudo de
caso em que o pesquisador aplica a teoria psicológica para explicar a vida de uma pessoa.
Os estudos de caso são muito importantes para o levantamento de caracterís-
ticas de situações raras. Geralmente levam à formulação de hipóteses que podem
ser estudadas por meio de outros métodos de pesquisa (COZBY, 2004).
capítulo 2 • 35
Embora o estudo de caso apresente como vantagem a visão aprofundada sobre
determinado fenômeno, a principal crítica relacionada a esse tipo de pesquisa refe-
re-se à generalização dos resultados. Ao estudarmos um caso único, não podemos
generalizá-lo para todos os outros casos semelhantes, no entanto, o estudo apro-
fundado de determinadas situações trazem informações muito importantes para a
compreensão de um fenômeno, sendo que a repetição de resultados em estudos de
vários casos análogos pode trazer dados relevantes.
Existem ainda pesquisas que envolvem o estudo de casos múltiplos, isto é,
quando em uma mesma investigação há a análise de vários casos parecidos ou
que apresentem determinadas características comuns, sendo comparados os dados
divergentes e/ou convergentes em relação ao que se está investigando.
Dando continuidade aos tipos de pesquisa, uma investigação também pode ser
classificada como pesquisa de levantamento. Este tipo de pesquisa geralmente é utili-
zado em estudos exploratórios e descritivos. Trata-se do levantamento de determinadas
informações ou características sem a manipulação de dados. O objetivo é apenas des-
crever ou explorar um determinado fenômeno por meio do levantamento de dados.
Segundo Cozby (2004), pesquisas de levantamento utilizam entrevistas e
questionários a fim de levantar informações sobre as pessoas, como atitudes, dados
sociodemográficos, crenças, valores, isto é, envolvem um método para solicitar às
pessoas que falem sobre si mesmas.
Para alguns autores, há grande relação entre as pesquisas de levantamento e
as pesquisas tipo survey. Estas últimas envolvem a busca por dados diretamen-
te com pessoas envolvidas com o fenômeno a ser investigado (FORZA, 2002).
Segundo Hair Jr. et al. (2005), esse é um procedimento utilizado para coleta de
dados com base em indivíduos e envolve grandes amostras, geralmente utilizando-
se questionários previamente elaborados. O propósito de uma pesquisa tipo survey
não é necessariamente a criação de uma teoria, mas sim o desenvolvimento e apri-
moramento de teorias já existentes. Alguns autores consideram que as pesquisas
de levantamento e pesquisas survey tratam do mesmo tipo de pesquisa, entretanto,
considerando as definições de cada uma delas, podemos dizer que as survey são, de
fato, pesquisas de levantamento, porém, as pesquisas de levantamento podem ser
mais abrangentes do que se propõem as pesquisas survey.
Por fim, o último tipo de pesquisa que abordaremos conforme o procedimento
é a pesquisa-ação. Esta pressupõe participação planejada do pesquisador na situação
investigada. O pesquisador deixa o papel de observador do fenômeno para obter atitu-
de participativa e de papel de sujeito/participante na investigação. Tal tipo de pesquisa
capítulo 2 • 36
recebe várias críticas por conta do envolvimento do investigador na mesma, mas é bas-
tante utilizada por pesquisadores com ideologias participativas (FONSECA, 2002).
Segundo Tripp (2005), a pesquisa-ação apresenta como principais características: é
um tipo de pesquisa inovadora, contínua, proativa estrategicamente, participativa, in-
tervencionista, problematizada, deliberada, documentada, compreendida e disseminada.
Tal tipo de pesquisa é muito comum na área da educação, sendo uma estraté-
gia para o desenvolvimento de professores/pesquisadores a fim de que eles possam
utilizar suas investigações para aprimorar seu ensino e assim o aprendizado de seus
alunos (TRIPP, 2005).
Conhecendo esses tipos de pesquisa, você deve estar se perguntando: mas de-
vemos classificar uma pesquisa em um único tipo? Será que uma pesquisa pode se
enquadrar em mais de um tipo dentro os que estudamos aqui? A resposta é sim.
Uma pesquisa pode se enquadrar em mais de um tipo de pesquisa, por exemplo,
ser uma pesquisa de campo experimental. Mas para classificar sua investigação, é
importante que você compreenda suas características e siga os critérios para enten-
der onde ela se encaixa.
Etapa 3 - A problemática
Etapa 7 - As conclusões
Tabela 2.3 – Etapas da pesquisa. Quivy e Campenhoudt (1995, apud GERHARDT, 2009).
capítulo 2 • 37
Segundo Gerhardt (2009), uma pesquisa apresenta sete etapas principais para
sua elaboração, sendo elas: a questão inicial, a exploração do tema, a problemá-
tica, a construção do modelo de análise, a coleta de dados, a análise dos dados, e
as conclusões.
EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO
Formulação de uma questão inicial:
02. Teste esta questão com um grupo de colegas ou amigos, de forma a assegurar que ela
está clara e precisa e, portanto, pode ser compreendida por todos da mesma forma. Formule
a questão ao grupo sem expor seu sentido ou dar explicações. Cada pessoa do grupo deve
expor a forma como compreendeu a pergunta. A questão será precisa se as interpretações
convergirem e corresponderem às intenções do pesquisador.
A exploração do tema
capítulo 2 • 38
Conforme vimos no primeiro capítulo, não devemos nos basear em sites de
senso comum ou qualquer outro tipo de referências sem reconhecimento científi-
co. A leitura deve ser cuidadosa e realizada em fontes seguras, geralmente livros e
artigos de periódicos conceituados.
Nesta fase, é comum realizarmos fichamentos e resumos das leituras realiza-
das. Em meio a tantas informações iniciais, muitas vezes podemos nos perder sem
um mapeamento dos artigos e dos dados que realmente nos interessaram. Por
isso, ao realizar suas leituras, você pode organizar em um quadro o título da obra,
autores, ano de publicação, principais objetivos, achados e conclusões. Trata-se
de uma forma de sistematizar as pesquisas nas quais irá se basear. Isso facilitará a
formulação das próximas etapas e a escrita própria de seu relatório de pesquisa,
conforme veremos no último capítulo.
capítulo 2 • 39
EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO
Definição de conceitos de base e formulação das hipóteses principais da pesquisa
Para efetuar este exercício com sucesso, eis algumas sugestões:
01. Parta de uma questão precisa, revista e corrigida pelo trabalho exploratório e pela
problemática.
02. Não queime etapas. Este exercício constitui o fim natural de um trabalho exploratório
corretamente realizado e de uma reflexão sobre sua problemática.
03. Consulte autores reconhecidos. Não hesite em utilizar seus conceitos e inspirar-se em
suas hipóteses. Nesse caso, preocupe-se em indicar claramente as referências utilizadas.
Trata-se de uma questão de honestidade intelectual e também de validade externa de seu
trabalho.
04. Cuide da coerência de seu modelo de análise: coloque claramente em evidência como
você concebe as relações entre conceitos e hipóteses.
05. Procure sempre ser claro e objetivo. Lembre-se de que a qualidade é mais importante
que a quantidade: um ou dois conceitos centrais e uma ou duas hipóteses principais são, na
maior parte dos casos, suficientes. Não se preocupe com conceitos e hipóteses secundários,
pois, após ter adquirido certeza dos conceitos e hipóteses centrais, formulará mais facilmente
outros conceitos e hipóteses.
Quivy; Campenhoudt, p. 36, 1995, apud Gerhardt, p. 46, 2009.
A coleta de dados
capítulo 2 • 40
a ser acertado. O público-alvo deve estar bem definido, a forma de abordá-lo, as
perguntas a serem realizadas, os instrumentos de investigação, enfim, todos os
pontos que envolvam as perguntas qual, quem e como devem estar bem definidos.
Se a forma como os dados são coletados e as próprias informações obtidas
propriamente ditas não forem bem definidas, o pesquisador corre o risco de inva-
lidar sua investigação. Assim, esta etapa reflete todo o cuidado tomado nas etapas
anteriores, que envolvem a exploração e o planejamento da pesquisa.
Após a coleta dos dados, chega o momento em que estes devem ser analisados.
Esta etapa também deve ser predefinida, pois o investigador deve ter domínio
quanto às técnicas que serão utilizadas para a interpretação das informações que
levantou.
Assim, no planejamento da pesquisa, a forma como os dados serão analisados
também já deve estar bem descrita no método. Imagine-se como um pesquisador
com inúmeras entrevistas realizadas com várias pessoas em um serviço de saúde
sem saber como fazer para interpretá-las? É importante que você compreenda,
ao menos em parte as possibilidades de análise dos dados, se, por exemplo, estas
envolveram técnicas quantitativas, estatísticas e ainda que tipo de técnicas ou téc-
nicas qualitativas, com análises de discurso e conteúdo. A forma de interpretação
dos dados também é crucial para manter a fidedignidade de uma pesquisa.
A análise dos dados pode demandar bastante tempo, e seguramente exige
muito estudo quanto às técnicas de pesquisa, bem como cuidado para se interpre-
tar informações e chegar a conclusões.
As conclusões
capítulo 2 • 41
RESUMO
Neste capítulo, você estudou as possíveis classificações de uma pesquisa quanto à na-
tureza, abordagem, aos objetivos e procedimentos. São informações fundamentais para que
você, futuro profissional e possível pesquisador, possa realizar sua própria investigação e ain-
da compreenda a importância do mundo científico na aplicação prática dentro da Psicologia.
Ainda, compreender as etapas de uma pesquisa é fundamental para que possamos juntos,
continuar nossos estudos sobre a pesquisa em Psicologia. Abordamos as etapas iniciais para
a realização de uma investigação, falamos sobre a importância do planejamento da pesquisa
e sobre o delineamento preciso do método. Agora iremos aprofundar um tipo de pesquisa
muito importante na Psicologia: a pesquisa experimental! Vamos lá? Espero você!
ATIVIDADES
01. Qual a diferença entre método de pesquisa e metodologia?
03. As pesquisas aplicadas são melhores do que as pesquisas básicas? Por quê?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. Pearson: São Paulo, 2007.
COZBY. P. C. Métodos de Pesquisa em Ciências do Comportamento, São Paulo: Atlas, 2003.
CUNNINGHAM, L.; YOUNG, C.; LEE, M. (2000). Methodological triangulation in measuring public
transportation service quality. Transportation Journal, v. 40, p. 35-47.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007.
capítulo 2 • 42
POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos,
avaliação e utilização. Trad. de Ana Thorell. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SIEBER, S. D. (1973). The integration of survey research and field work: contributions to data
collection. American Journal of Sociology, v. 78, n. 6, p. 1335-1359.
SILVA, E .L.; MENEZES, E. M. (2005). Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4.
ed. Florianópolis: UFSC.
STAKE, R. E. (1999). The Art of case study research. Thousand Oaks: Sage.
TRIPP, D. (2005). Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, v. 31, n. 3, p.
443-466.
capítulo 2 • 43
capítulo 2 • 44
3
O estudo sobre
comportamento
O estudo sobre comportamento
Neste capítulo, você vai compreender questões muito importantes para o es-
tudo científico do comportamento dos seres humanos e dos organismos, de modo
geral. Vamos apresentar conceitos fundamentais para que, como pesquisador e
psicólogo, você aprenda a definir variáveis e compreenda métodos de mensuração
comportamentais muito importantes para a pesquisa em Psicologia. Entender as
relações entre variáveis para explicar fenômenos que envolvem o comportamento
é de suma importância para a evolução da Psicologia enquanto ciência e até mes-
mo para intervenções na prática clínica, visto que possibilita um olhar científico e
crítico para várias questões.
Recomendamos como leitura complementar o livro Métodos de Pesquisa em
Ciências do Comportamento de autoria de Paul C. Cozby, uma das obras mais ci-
tadas e tradicionais para os pesquisadores do comportamento para aprofundar os
conceitos que serão estudados aqui. Vamos começar?
OBJETIVOS
• Compreender o que são conceitos dentro de uma pesquisa;
• Entender as diferenças entre variáveis dependentes e independentes;
• Entender as diferenças entre as pesquisas experimentais e não experimentais;
• Compreender como fazer a seleção de amostras para pesquisas experimentais;
• Entender o conceito do efeito placebo e do efeito nocebo;
• Entender o que é o procedimento duplo-cego.
Você já deve ter refletido sobre por que as pessoas se comportam de determi-
nadas formas, não é mesmo? Por que algumas pessoas se comportam de maneira
violenta? Por que muitas vezes afirmamos que homens e mulheres se comportam
de forma diferente? O que faz uma criança aumentar a frequência de seus com-
portamentos de birra? Muitas vezes escutamos afirmações e explicações sobre esses
tipos de questionamentos, mas que, em sua maioria, são fundamentados na visão
do senso comum.
capítulo 3 • 46
Já vimos que a Psicologia enquanto ciência não se contenta e não pode ser
construída com base em teorias populares ou explicações superficiais sobre o com-
portamento. É necessário senso crítico e olhar científico para se chegar a conclu-
sões que tenham certa fidedignidade. Estamos falando, muitas vezes, de questões
qualitativas, isto é, difíceis de mensurar em alguns aspectos, por exemplo a violên-
cia, os sentimentos, tipos de personalidade etc. e, portanto, a inferência e a expec-
tativa por encontrar causalidades podem fazer as pessoas caírem na armadilha de
explicações errôneas e levianas. Assim, o estudo do comportamento envolve uma
série de pontos importantes que devem ser pensados, considerados e controlados
para que possamos validar nossas conclusões.
Quando iniciamos uma pesquisa, definimos seu tema e a pergunta à qual
desejamos responder utilizando a revisão da literatura, conforme abordamos an-
teriormente. Ao trabalhar como pesquisadores, verificamos que dentro de um
mesmo tema podemos encontrar diferentes definições para o mesmo conceito.
Mas afinal, o que é um conceito? Podemos dizer se trata da compreensão e defi-
nição de um objeto, de um conjunto de ideias, ou até mesmo de um fenômeno.
Cervo, Bervian e Silva (2007) apresentam a definição do dicionário Michaelis
(2000), que o define como uma opinião ou reputação, e de Lakatos (1983) que
compreende conceito como a expressão de uma abstração, formada por meio de
generalizações de observações.
PERGUNTA
O que é um conceito?
Podemos dizer se trata da compreensão e definição de um objeto, de um conjunto de
ideias, ou até mesmo de um fenômeno.
capítulo 3 • 47
PERGUNTA
O que é um construto?
Construto pode ser compreendido como um conceito não observável (exemplo: sentimen-
tos, valores, personalidade, etc.). Para que um conceito seja de fato um construto científico,
ele deve ter um embasamento teórico consistente e uma definição apurada e bem delineada.
PERGUNTA
O que é uma teoria?
Pode ser compreendida como um conjunto de leis ou regras sistematizadas para explicar
determinado conceito (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).
capítulo 3 • 48
em oposição à prática como ação. Pode ser compreendida como um conjunto de
leis ou regras sistematizadas para explicar determinado conceito.
A teoria é um conjunto de construtos (conceitos) inter-relacionados, defi-
nições e proposições que apresentam concepção sistemática dos fenômenos me-
diante a especificação de relações entre variáveis com o propósito de explicá-los e
prevê-los (KERLINGER, 1973 apud CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).
Entendendo tudo isso, vamos agora buscar compreender o que são as variáveis
de uma pesquisa. Considerando a definição apresentada, podemos entender que
uma teoria é formada pela sistematização de conceitos (e que devemos definir
nossa posição em uma pesquisa científica. Qual será nossa vertente teórica?), que
por sua vez podem ser estudados por meio de diferentes variáveis de pesquisa. Para
Cozby (2004), uma variável é qualquer situação, comportamento, evento, fato
que apresente, ao menos dois valores, por exemplo, sexo, estado civil, agressão,
raiva, idade etc. As variáveis, como o próprio nome diz, podem variar conforme
categorias ou valores numéricos.
PERGUNTA
O que é uma variável?
Uma variável é qualquer situação, comportamento, evento, fato que apresente, ao menos
dois valores, por exemplo, sexo, estado civil, agressão, raiva, idade etc.
De modo geral, as variáveis podem ser divididas em quatro grupos, sendo eles:
variáveis situacionais, variáveis de resposta, variáveis do participante e variáveis
intervenientes (COZBY, 2004). As variáveis situacionais descrevem as caracte-
rísticas de uma situação ou de ambiente (por exemplo: densidade espacial de uma
sala de espera, número de pessoas envolvidas numa situação de emergência etc.).
As variáveis de resposta podem ser compreendidas como os comportamentos
dos indivíduos (por exemplo: reação, desempenho, comportamentos específicos
que se deseja mensurar etc.). As variáveis do participante consistem nas carac-
terísticas da pessoa ou do sujeito que participa da pesquisa (por exemplo: sexo,
estudo civil, inteligência etc.). Por fim, as variáveis intervenientes se referem aos
“processos psicológicos que medeiam os efeitos de uma variável situacional sobre
uma resposta particular” (COZBY, p. 82, 2004).
capítulo 3 • 49
A definição das variáveis intervenientes é fundamental para que o pesquisador
possa medi-las e manipulá-las para compreender determinado fenômeno a ser
investigado. Isso faz o pesquisador definir operacionalmente o que vai investigar
de forma detalhada, o que envolve a discussão de conceitos abstratos em termos
concretos (MARCONI; LAKATOS, 2007). Muitas vezes, esse processo pode fa-
zer o pesquisador compreender que certas variáveis são amplas demais para serem
estudadas cientificamente, e que há a necessidade de definição do conceito a ser
investigado para se concretizar a pesquisa. Assim, uma pesquisa científica necessita
ter foco. Os conceitos precisam estar bem delineados para que as variáveis inter-
venientes sejam definidas e, assim, observadas e/ou manipuladas na investigação.
Um erro ou abstração excessiva nesse processo pode invalidar a pesquisa.
Segundo Cozby (2004), muitas pesquisas estudam as relações entre duas ou
mais variáveis. Também conhecemos o estudo dessas relações como “estudos cor-
relacionais”. O objetivo é compreender qual a relação entre variáveis para explicar
determinado fenômeno. Essas relações podem ser positivas, negativas, curvilineares,
ou ainda, o pesquisador pode chegar à conclusão de que não existem relações entre
as variáveis.
Em uma relação linear positiva, os aumentos dos valores de uma variável são
acompanhados pelo aumento dos valores na outra variável. Por exemplo, vamos
supor que nossa pesquisa irá investigar a relação entre idade e independência finan-
ceira. O intuito é verificar se essas duas variáveis têm alguma relação e qual o tipo
de relação que é estabelecida. Ao levantarmos os dados junto a pessoas de diferentes
idades e sua situação de dependência ou independência financeira, e após a análise
dos dados, poderíamos supostamente encontrar uma relação positiva entre elas, isto
é, quanto mais velhas são as pessoas (maior idade), maior sua independência finan-
ceira. Isso significa que se uma variável aumenta, a outra também aumenta.
Já em uma relação linear negativa podemos encontrar o oposto, isto é, quan-
do os valores de uma variável aumentam, os valores da segunda diminuem. Vamos
a um exemplo hipotético. Suponha que o objetivo seja investigar o tempo de
trabalho em uma determinada empresa e a pretensão de sair do emprego para
buscar outra oportunidade (chamamos de intenção de turnover, isto é, quando o
funcionário tem a pretensão de sair da empresa, o que muitas vezes causa prejuízo
a esta devido à alta rotatividade de pessoas entre os cargos).
Após coleta e análise dos dados, poderíamos encontrar supostamente uma
relação negativa entre as duas variáveis definidas, isto é, quando maior o tempo
capítulo 3 • 50
de trabalho na empresa, menos a intenção de deixá-la. Esse seria um exemplo de
relação negativa entre as variáveis.
Em uma relação curvilinear podemos ter um terceiro tipo de situação. Os
aumentos nos valores de uma variável são acompanhados tanto por aumento
quanto por diminuição nos valores da outra. Se colocássemos a relação entre as
variáveis em um gráfico, nesse caso, teríamos um U invertido. Isso significa que,
até certo ponto, as variáveis têm alguma relação positiva, e que a partir dele, essa
relação começa a mudar para uma situação negativa. As relações aqui não são li-
neares, isto é, não formam uma reta. Por isso, falamos em “curvas”, o que faz com
que obtenhamos o U invertido.
Já quando não há uma relação entre as variáveis, o que se obtém é um grá-
fico horizontal, o que descreve a ausência de relação entre as duas variáveis.
A figura 3.1 ilustra os quatro tipos de relações entre variáveis.
Relação Linear Positiva Relação Linear Negativa
12 12
10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
A B A B
Agora que você já sabe quais os tipos de relações que as variáveis podem apre-
sentar, podemos ainda compreender as variáveis de uma pesquisa como dependen-
tes ou independentes. Mas, o que seria isso?
De modo geral, em uma investigação em que se almeja averiguar as relações
entre variáveis, considera-se que uma pode ser a “causa” e a outra, o “efeito”. Assim,
capítulo 3 • 51
nos nossos exemplos dados, poderíamos considerar que a idade afeta a indepen-
dência financeira, ou ainda, que o tempo de empresa afeita a intenção de turnover.
Dessa forma, podemos dizer que as variáveis que são causa podem ser compreen-
didas como variáveis independentes, e as variáveis que são efeito com variáveis
dependentes. Como o próprio nome diz, a variável independente é aquela que,
se sofrer qualquer mudança ou variação, afetará a variável que depende dela, isto
é, a variável dependente. Para cada problema de pesquisa, as variáveis dependen-
tes e independentes devem ser sempre definidas com base na situação específica
pesquisada, pois tais relações podem mudar conforme a pergunta da investigação.
CURIOSIDADE
A variável (ou variáveis) independente(s) é aquela em que se supõe ter relação com uma
variável dependente, sendo que a primeira é a causa e a segunda é efeito. As manipulações
sobre a variável independente serão sentidas pela variável dependente.
Vamos a outro exemplo para que isso fique mais claro. Suponha que o obje-
tivo da pesquisa seja averiguar se as pessoas que possuem determinados valores
pessoais têm traços de introversão ou extroversão. Nesse caso, teríamos como va-
riáveis independentes os “valores pessoais”, e como variáveis dependentes “traços
de introversão ou extroversão”. Para esse exemplo, conforme houvesse variação
dos valores, as pessoas poderiam ser mais introvertidas ou mais extrovertidas, se
de fato, a relação entre tais variáveis se concretizasse por meio de pesquisa. Assim,
nesse tipo de pesquisa, a variação das variáveis independentes (causa) acarretará
efeito nas variáveis dependentes.
É importante ressaltar que cientistas do comportamento não se preocupam
com questões puramente de causa e efeito, como verdades absolutas. Eles estão
mais interessados em descrever o comportamento de forma cuidadosa, estudar
como as variáveis afetam umas às outras e desenvolver teorias que expliquem de-
terminados fenômenos sobre o comportamento (COZBY, 2004).
capítulo 3 • 52
dependentes e independentes? A resposta é não. Tudo vai depender se nosso estu-
do for experimental ou não experimental. Vamos entender melhor isso.
Um estudo que envolve um método em que devemos realizar o controle das
variáveis, isto é, em que vamos analisar os efeitos das variáveis independentes so-
bre as variáveis dependentes são denominados experimentais. Falamos um pouco
sobre a pesquisa experimental no capítulo passado. Portanto, é aqui que ela se
enquadra. Assim, o pesquisador irá manipular a variável de interesse e observar a
resposta por meio do controle experimental.
Segundo Cozby (p. 92, 2004), o controle experimental permite que as va-
riáveis sejam mantidas constantes. “Se uma variável é mantida constante, ela não
pode ser resultado do experimento”. Assim, para se efetivar uma pesquisa expe-
rimental é necessário que todos os participantes sejam tratados da mesma forma,
sendo do grupo controle ou do grupo experimental. Este último é composto por
pessoas em que as variáveis independentes serão variadas, isto é, sofrerão alguma
alteração para que os feitos sobre as variáveis dependentes sejam analisados. Já no
grupo controle, as pessoas serão observadas sobre determinadas condições sem
manipulação das variáveis, para comparar os resultados entre os dois grupos.
Por exemplo, vamos supor que nosso objetivo seja analisar se a quantidade de
luz no ambiente pode interferir no desempenho dos funcionários de uma fábrica
de meias. No grupo experimental, a intensidade da luz receberá variações, sendo
mensurado o desempenho dos funcionários com base nessas mudanças. Aqui a
variável independente é a luz, e a variável dependente refere-se ao desempenho
das pessoas. Para verificar se o desempenho não mudou por outras questões, por
exemplo, pelo simples fato de as pessoas saberem que estão sendo observadas em
uma pesquisa, ou que com o tempo de observação, o desempenho pode sofrer
alterações devido ao cansaço ou outras questões, um grupo controle também é
observado para comparação. Neste, o desempenho é mensurado sem qualquer
variação da intensidade de luz, que é mantida do início ao fim. Ao se analisar os
resultados do grupo experimental e do grupo controle em relação ao desempenho,
podemos tirar conclusões sobre a variação da luz durante o tempo em que o expe-
rimento foi realizado.
Em alguns casos, manter uma variável constante pode ser difícil, sendo que
existem outras variáveis (que chamamos de covariáveis) que podem influenciar
os resultados e trazer erros e vieses para nossas interpretações. Para isso, pode-se
utilizar o que chamamos de randomização, que é uma forma estatística de tornar
nossa variável ou amostra aleatória.
capítulo 3 • 53
CONCEITO
Veja o exemplo de Cozby (2004, p. 93) para compreender melhor o que é esse conceito:
Para tornar o conceito de designação randômica mais concreto, você pode tentar fazer um
exercício parecido com o que eu fiz com uma caixa cheia de figurinhas velhas de jogadores
de beisebol. A caixa continha figurinhas de 50 jogadores da Liga Norte-Americana e de 50
jogadores da Liga Nacional. Misturei completamente as figurinhas e, em seguida, selecionei
32 delas e as designei a “grupos”, usando a lista de números aleatórios (...). À medida que se-
lecionada cada figurinha, usava a seguinte regra: se o número randômico fosse par, o jogador
iria para o ‘Grupo 1’, e se o número fosse ímpar, ele iria para o ‘Grupo 2’. Em seguida, procurei
verificar se meus dois grupos diferiam em termos da representação da Liga. O Grupo 1 tina 9
jogadores da Liga Norte-Americana e 7 jogadores da Liga Nacional, enquanto o Grupo 2 tinha
igual número de jogadores de ambas as ligas. Os dois grupos eram praticamente idênticos.
capítulo 3 • 54
causa outra (MARCONI, LAKATOS, 2007). Afinal, pessoas com depressão pos-
suem a tendência a ter outro tipo de transtorno psicológico ou outros tipos de
transtorno podem aumentar as chances de o paciente ter depressão? Os resul-
tados podem ser ambíguos e as conclusões podem ser errôneas. Assim, estudos
experimentais, por meio do controle de variáveis, podem auxiliar na supressão
desse problema.
A seleção da amostra
capítulo 3 • 55
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre como aplicar a estatística em pesquisa, você pode consultar o livro
de autoria de Hair Jr. et al. (2005), intitulado Fundamentos de Técnicas de Pesquisa em Admi-
nistração. Por ser um livro de Ciências Humanas Aplicadas, podemos utilizar muitas técnicas
em estudos realizados na Psicologia. Vale a pena conferir!
Em pesquisas em que não se pretende generalizar dados, mas sim iniciar uma
série de investigações, ou ainda realizar pesquisas em profundidade, podemos uti-
lizar, por exemplo, um único participante (ou alguns participantes), tendo assim
um estudo de caso (ou estudos de casos). Ou ainda, realizar entrevistas com pes-
soas específicas para se responder perguntas pontuais, relacionadas àquela amostra
em si. Esses procedimentos são muito comuns na Psicologia, sendo que a profun-
didade da investigação e a riqueza de análise dos dados podem trazer importantes
capítulo 3 • 56
contribuições para a compreensão de certo fenômeno ou para encontrar respostas
para perguntas de pesquisa diversas.
Nesses casos, técnicas de análises qualitativas, como a análise de discurso e
análise de conteúdo, podem ser utilizadas para a interpretação dos dados. Tudo
dependerá do tipo de investigação que será realizada. Isso será determinante para
que você defina e selecione sua amostra e eleja a melhor técnica de análise dos
dados coletados. Esse assunto será abordado mais adiante, no próximo capítulo.
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre a análise de discurso realizada em estudos na área de Psicologia,
você pode se aprofundar com o artigo “Método de análise de conteúdo: ferramenta para a
análise de dados qualitativos no campo da saúde”, que pode ser acessado pelo link:
<http://www.scielo.br/pdf/reben/v57n5/a19v57n5.pdf>.
Boa leitura!
capítulo 3 • 57
em artigos internacionais sobre o assunto, o efeito placebo ocorre quando as ex-
pectativas dos participantes de uma pesquisa sobre o efeito de determinado me-
dicamento ou tratamento trazem vieses para os resultados, não representando os
mecanismos reais do tratamento em si.
No mundo da farmacologia, placebo é uma substância inerte, sem proprieda-
des farmacológicas intrínsecas. Porém, acredita-se que o placebo possa gerar efei-
tos terapêuticos por conta da expectativa dos participantes, e não pelos seus efeitos
em si. De modo geral, na área científica, o “efeito placebo” não se trata apenas de
medicamentos, mas pode envolver fatores genéticos, cognitivos, mecanismos de
aprendizagem, entre outros (DIAS; SARTORI, 2015).
PERGUNTA
O que é efeito placebo?
Trata-se de um fenômeno em que melhoras de sintomas ou doenças são relatadas por
pacientes que receberam tratamentos aparentemente inespecíficos ou inertes, sendo que
a própria expectativa positiva da pessoa acaba gerando tais resultados (TEIXEIRA, 2009).
PERGUNTA
O que é efeito nocebo?
É um fenômeno oposto ao efeito placebo, sendo que a expectativa negativa em relação a
algum tipo de tratamento possa conduzir a agravação de um sintoma ou doença (TEIXEIRA,
2009).
capítulo 3 • 58
Podemos dizer quem uma falsa cirurgia no olho, isto é, algum procedimen-
to que o pesquisador/médico possa realizar no paciente, porém sem intervenção
terapêutica cirúrgica, por exemplo, pode acarretar em relatos de melhoras dos
pacientes. O contexto de atendimento em si, a relação que se estabelece com o
paciente (ou participante de pesquisa) pode de fato produzir “resultados de cura
ou melhoras” sentidas por este.
Assim, em intervenções psicológicas, há determinados questionamentos que
vinculam essas questões: a melhora relatada por pacientes reflete de fato a inter-
venção em si ou a simples presença do psicólogo (ou a expectativa de melhora do
paciente) é que o fizeram se sentir melhor? No artigo de Rocha et al. (2008), o
debate sobre esses pontos é bastante interessante, sendo apontadas algumas formas
de controle do “efeito placebo” nas pesquisas realizadas na Psicologia.
Ainda, é importante pensarmos que, além das expectativas do participante,
também devemos lidar com as expectativas dos pesquisadores. Ao interpretar os
dados, os responsáveis por uma investigação podem sobrepor seus próprios valores
e pontos de vista, com base em suas expectativas quanto aos resultados, trazendo
vieses na compreensão dos mesmos.
Uma das ferramentas apontadas para se eliminar o efeito placebo (ou o efeito
nocebo) é o que denominamos procedimento duplo-cego (ou condição de duplo-
cego). Nesse delineamento, os participantes não têm conhecimento das condições
de tratamento a que estão sendo submetidos e conduzidos pelos pesquisadores, ou
pelos que estão avaliando os resultados da pesquisa. Nesse procedimento, nem as
pessoas que estão sendo examinadas nem aqueles que estão examinando (investi-
gadores) sabem quais são as variáveis em um determinado momento da pesquisa.
Vamos a um exemplo para que fique mais claro.
Suponha que o objetivo da pesquisa seja investigar a eficácia de determinado
medicamento em comprimidos para melhorar ou suprir tremores de pacientes
diagnosticados com Parkinson (doença progressiva do sistema neurológico que
tem como um dos sintomas mais marcantes tremores incontroláveis pelos seus
portadores). Comprimidos contendo o medicamento ativo e comprimidos feitos
com farinha (placebos) poderiam ser utilizados para a pesquisa, sendo que nem o
participante nem o pesquisador que vai aplicar a intervenção saberiam quais são
os que contêm o medicamento em si e quais são os placebos. Tais comprimidos
poderiam ter algum código, apenas para controlar essa questão. Assim, teríamos
dois grupos: um que receberia apenas comprimidos com o princípio farmacoló-
gico ativo e outro que receberia apenas placebos (isso poderia ser controlado por
capítulo 3 • 59
outros pesquisadores, que não aplicariam as intervenções e que não analisariam os
dados em si). Após a intervenção medicamentosa, os resultados seriam medidos e
interpretados, e nessa fase sim, seria revelado qual grupo tomou os comprimidos
placebos e qual recebeu o medicamento para tratamento real da doença. Com esse
procedimento, o efeito placebo ou o efeito nocebo poderiam ser controlados.
Apesar de sua importância e benefícios, tais procedimentos devem ser
analisados pelo Comitê de Ética em Pesquisa, antes da realização de qualquer in-
tervenção desse tipo, visto que algumas críticas são feitas pelo fato do paciente não
saber o que está tomando, por exemplo. Isso infringe certas questões apontadas
como fundamentais em pesquisas com seres humanos, sendo que estes precisam
ter ciência do que será aplicado, e dos passos do procedimento ao qual serão sub-
metidos e consentir sua participação.
ATIVIDADES
01. O que é conceito, construto, teoria e variável de pesquisa?
05. O que é efeito placebo? Por que o pesquisador deve tomar cuidado com isso?
06. O que é procedimento duplo-cego e para que ele é utilizado? Descreva o exemplo dado
no capítulo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPOS, C. J. G. Método de análise de conteúdo: ferramenta para análise de dados qualitativos no
campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem. v. 57, n. 5, p. 611-614, 2004.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. Pearson: São Paulo, 2007.
COZBY. P. C. Métodos de Pesquisa em Ciências do Comportamento, São Paulo: Atlas, 2003.
capítulo 3 • 60
DIAS, E. V.; SARTORI, C. R. Compreendendo o efeito placebo. Revista Ciências em Saúde. v. 5, n. 4,
p. 1-12, 2015.
HAIR JR., J. et al. (2005). Fundamentos de métodos de pesquisa em administração. Porto
Alegre: Bookman.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007.
ROCHA, M. M. et al. (2008). Placebo na pesquisa psicológica: algumas questões conceituais,
metodológicas e éticas. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. v. 4, n. 2, p. 39-54, 2008.
TEIXEIRA, M. Z. Bases neurofisiológicas do fenômeno placebo-nocebo: evidências científicas que
valorizam a humanização da relação médico-paciente. Revista da Associação Médica Brasileira. v.
55, n. 1, p. 13-18, 2009.
capítulo 3 • 61
capítulo 3 • 62
4
Técnicas de coleta
e análise de dados
Técnicas de coleta e análise de dados
Até aqui, abordamos os principais pontos iniciais para planejamento de uma
investigação, bem como discutimos questões fundamentais que devem ser pre-
viamente analisadas para que o objetivo de pesquisa seja cumprido. Agora, você
vai conhecer as ferramentas mais utilizadas para uma próxima etapa: a coleta de
dados, e posteriormente, compreender de que forma o pesquisador pode fazer a
análise e interpretação dos mesmos. Neste capítulo, iremos estudar os instrumen-
tos mais comuns usados nas pesquisas em Psicologia e as ferramentas para inter-
pretações e análises que irão auxiliar o investigador a responder à sua pergunta de
pesquisa. Vamos lá?
OBJETIVOS
• Definir o que são técnicas de coleta de dados;
• Abordar o que é, os tipos e como elaborar um roteiro de entrevista;
• Possibilitar o entendimento sobre como extrair dados de pesquisa por meio de observação;
• Apresentar as etapas para a construção de um questionário de pesquisa;
• Discutir sobre a validação dos instrumentos de pesquisa;
• Apresentar conceitos de mensuração;
• Apresentar as principais ferramentas para a análise dos dados coletados em uma pesquisa.
capítulo 4 • 64
atrelada ao tipo de pesquisa que você irá desenvolver, assunto que vimos no capí-
tulo 2. Assim, a forma como os dados serão coletados e, posteriormente, analisa-
dos vai determinar a classificação da investigação dentro dos vários tipos de pes-
quisa que estudamos. Iremos abordar a seguir três instrumentos muito utilizados
nas pesquisas em Psicologia: a observação, a entrevista e o questionário. Vamos lá?
Observação
PERGUNTA
O que é observação enquanto técnica de coleta de dados?
É um método que o pesquisador pode utilizar para levantar dados e informações impor-
tantes para sua investigação, com base em sua pergunta e objetivo de pesquisa. Ela pode ser
de quatro tipos, dependendo de como é realizada: segundo os meios utilizados (sistemática
x assistemática); segundo a participação do observador (não participante x participante);
segundo o número de observações ou observadores (individual x em equipe); e segundo o
local onde ocorre (na situação real x em laboratório).
capítulo 4 • 65
Todas essas vantagens devem ser consideradas quando o pesquisador escolhe
a técnica de observação para sua coleta de dados. Entretanto, deve também estar
atento às limitações atreladas a ela (MARCONI; LAKATOS, p.89, 2007):
• O observador acaba tendo impressões favoráveis ou desfavoráveis em rela-
ção ao observado;
• Em algumas ocasiões, o observador pode não conseguir presenciar o fato
que deseja observar;
• Fatores imprevistos podem interferir na observação do pesquisador;
• A duração dos acontecimentos que se quer observar pode ser rápida demais
ou demorar muito, trazendo dificuldades para a coleta de dados;
• Aspectos relacionados à vida particular ou a determinados comportamentos
podem ser de difícil acesso ao pesquisador.
capítulo 4 • 66
b) Segundo a participação do observador;
A observação também pode ser classificada com base na participação do ob-
servador, sendo observação não participante e observação participante. Na
primeira o observador não se integra à realidade observada. Ele entra em contato
com o observado, porém, não participa das situações analisadas. Também é conhe-
cida como observação passiva, visto que o pesquisador faz o papel de espectador,
nesse caso. Já na segunda, o pesquisador participa da comunidade ou do grupo
observado, incorporando as características do mesmo. O objetivo inicial seria, por
exemplo, ganhar a confiança de um grupo a ser pesquisado.
c) Segundo o número de observações;
A observação também pode ser classificada como observação individual ou
observação em equipe. Na observação individual é a técnica de observação reali-
zada por apenas um pesquisador. Já a observação em equipe é realizada por vários
estudiosos, sendo que vantagem é a visão de mais de um pesquisador sobre deter-
minado fato ou fenômeno. Um maior número de informações pode ser registrado,
nesse caso.
d) Segundo o lugar onde se realiza.
Conforme o local onde a observação é realizada, ela pode ser compreendida
como observação na vida real ou observação em laboratório. Como o próprio
nome diz, a primeira está atrelada à condição natural na qual o fato a ser observa-
do ocorre, sendo de forma espontânea. Já a segunda está relacionada a condições
controladas e artificiais, criadas especificamente para a pesquisa. A vantagem desse
tipo de observação é o controle de outras variáveis que podem interferir na coleta
de dados.
capítulo 4 • 67
A figura 4.1 ilustra os tipos de observação que podem ser utilizadas em
uma pesquisa:
OBSERVAÇÃO
MEIOS
SISTEMÁTICA X
UTILIZADOS
ASSISTEMÁTICA
PARTICIPAÇÃO DO OBSERVAÇÃO
OBSERVADOR PARTICIPANTE X
NÃO PARTICIPANTE
OBSERVAÇÃO
NÚMERO DE OBSERVAÇÃO
OBSERVAÇÕES INDIVIDUAL X
EM EQUIPE
LOCAL DA OBSERVAÇÃO EM
OBSERVAÇÃO LABORATÓRIO X
VIDA REAL
Figura 4.1 – Tipos de observação. Ander-Egg (1978 apud MARCONI; LAKATOS, p. 88,
2007).
Como já falamos, a coleta de dados pode ser feita por vários instrumentos.
Vamos agora conhecer os tipos de entrevista e como podemos elaborar um roteiro
para nossa investigação.
Entrevista
capítulo 4 • 68
Assim como a observação, a entrevista apresenta vantagens e desvantagens,
apesar de ser considerada um dos instrumentos de maior excelência para a coleta
de dados no campo da Psicologia. Para Marconi e Lakatos (p. 94, 2007), suas
principais vantagens são:
• Pode ser utilizada para diversas populações;
• Fornece amostragem melhor da população geral;
• Há maior flexibilidade, podendo o pesquisador repetir perguntas, esclarecer
dúvidas, reformular, repetir, para garantir que o entrevistado entenda o que está
sendo perguntado;
• Oferece maior oportunidade para avaliar atitudes e condutas, sendo que as
reações também podem ser registradas;
• Possibilita a obtenção de dados que não se encontram em documentos e que
sejam relevantes para a investigação;
• Possibilita a obtenção de informações mais precisas;
• Permite que os dados possam ser quantificados e submetidos a tratamento
estatístico, quando há planejamento prévio para isso.
capítulo 4 • 69
• Possibilidade de influência do entrevistado pelo entrevistador;
• Disposição do entrevistado para dar as informações necessárias;
• Retenção de dados importantes, com receio de identificação (por isso, o
anonimato e sigilo das informações é tão importante. E isso deve ser previamente
descrito do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme vimos em
capítulos anteriores);
• Pode demorar muito tempo ou ser difícil de realizá-la, dependendo do que
se deseja investigar.
ATENÇÃO
A entrevista pode ser de três tipos, dependendo da flexibilidade em que é realizada:
entrevista não estruturada, entrevista semiestruturada e entrevista estruturada. A escolha do
tipo de entrevista vai depender o planejamento para sua investigação, considerando o objeti-
vo que se pretende atingir e a pergunta de pesquisa que se deseja responder.
capítulo 4 • 70
por meio de formulários bem delineados, sendo que sempre as mesmas pergun-
tas são feitas a todos os entrevistados, o que recebe uma padronização maior nas
respostas. Aqui o pesquisador não é livre para adaptar suas perguntas conforme o
caminhar da entrevista e não pode alterar a ordem das perguntas ou acrescentar
novas questões.
PERGUNTA
O que é um formulário para entrevista?
É uma lista informal, catálogo ou inventário, destinado à coleta de dados resultantes de
observações e interrogações, sendo seu preenchimento feito pelo investigador. As perguntas
são fechadas e padronizadas. Devem ser simples de aplicar, interpretar e analisar (CERVO;
BERVIAN; SILVA, 2007).
capítulo 4 • 71
Ao iniciarmos uma entrevista, é importante realizarmos aquilo que denomi-
namos rapport. Mas o que seria isso? O rapport é o contato prévio entre entre-
vistado e entrevistador momentos antes da coleta de dados. Isso significa tornar
o ambiente amistoso e agradável para que o entrevistado se sinta à vontade para
falar. Sentindo que o ambiente está preparado, o pesquisador pode iniciar a entre-
vista, buscando ser natural, fazendo uma pergunta de cada vez, conforme o tipo
de entrevista que delineou.
As respostas dos participantes devem ser anotadas ou gravadas, sendo que para
este segundo procedimento, deve haver uma autorização prévia do entrevistado,
informação que também deve estar descrita no TCLE. É importante não deixar
para anotar as respostas depois da entrevista, pois é possível que o pesquisador se
esqueça de pontos importantes ou se confunda com tantas informações.
Após todas as perguntas serem feitas e todas as respostas serem dadas, chega a
etapa de finalização da entrevista. O pesquisador/entrevistador deve, então, fazer
seus agradecimentos e se colocar à disposição para qualquer dúvida, mesmo após
os dados já terem sido coletados. Além disso, pode também oferecer um resumo
dos principais dados da pesquisa para o participante, se este assim o desejar. Esse
ponto geralmente também é descrito no TCLE.
SAIBA MAIS
O que é rapport?
É a criação de um ambiente agradável e amistoso para que o entrevistado possa falar
à vontade e espontaneamente. No link a seguir você pode ter algumas dicas de como fazer
um rapport. Acesse:
<https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/tecni -
cas-de-rapport/33461>.
Boa leitura!
capítulo 4 • 72
Questionário
capítulo 4 • 73
para que ele compreenda os fins da pesquisa. O TCLE também deve estar contido,
garantindo a anuência do participante em relação à coleta de dados.
Embora o participante possa responder o questionário conforme seu ritmo (a
menos que haja uma justificativa para o tempo de respostas), é muito importante
que o pesquisador coloque uma data de início e finalização para a coleta de dados,
informando sobre o recolhimento ou prazo de envio do questionário respondido.
Em média, a taxa de retorno dos instrumentos respondidos é de 30%, sendo que
algumas técnicas podem ajudar a aumentá-lo. Uma delas consiste no envio de
algumas “ondas” ou disparos de convites por meio de e-mails ou redes sociais (isso
quando se trata de coleta de dados on-line). Em geral, utilizamos três “ondas” para
relembrar os participantes quanto ao convite de participação da pesquisa.
Apesar de ter muitas vantagens, a coleta de dados on-line apresenta limitações
como a não garantia de que o real participante tenha respondido as perguntas, por
exemplo. Ou ainda, a participação pouco interessada ao responder as questões.
Podemos apontar ainda como limitações do questionário, seja impresso ou on-li-
ne, alguns pontos como (MARCONI, LAKATOS, 2007):
• Taxa de retorno relativamente baixa;
• Grande número de perguntas sem respostas (casos omissos), sendo que em
questionários on-line isto pode ser sanado;
• Não pode ser aplicado a pessoas analfabetas;
• Impossibilidade de auxílio ao participante na interpretação das perguntas;
• Influência entre as questões: ao ler uma questão, o participante pode ser
influenciado para responder a outra;
• Devolução tardia, o que muitas vezes acaba inutilizando o questionário
respondido;
• Desconhecimento do ambiente no qual foi respondido, dificultando o con-
trole do pesquisador quanto a outras variáveis;
• Exige um universo mais homogêneo;
• Não há garantia do participante que realmente o respondeu.
capítulo 4 • 74
Vamos agora abordar algumas questões importantes para a construção e vali-
dação de instrumentos.
Conforme vimos nas seções anteriores, a coleta de dados pode ser realizada por
meio de vários instrumentos. Quando realizamos a revisão da literatura, devemos
levantar se já existem instrumentos organizados e validados por outras pesquisas
com assuntos semelhantes ao da nossa investigação. Seguramente, utilizar, por
exemplo, um instrumento já construído e validado irá garantir créditos, relevância
e fidedignidade à pesquisa, e consequentemente, maior solidez em relação aos re-
sultados encontrados. Isso vai economizar tempo para a coleta de dados, visto que
já estaremos usando um instrumento validado.
Mas o que significa utilizar um instrumento já validado? Quando falamos de
pesquisa em Psicologia, é muito comum encontrarmos diversas investigações que
se propõem a construir e comprovar que determinado questionário, formulário/
inventário, escala, ou teste mensuram um determinado tipo de comportamento ou
fenômeno, a fim de que pesquisas mais práticas possam utilizá-los posteriormente,
ou ainda, que tais instrumentos possam ser aplicados em situações práticas, seja
na clínica ou saúde, nas organizações, ou ainda na área da educação, por exemplo.
ATENÇÃO
Para garantir a fidedignidade de uma pesquisa, é necessário que os instrumentos de coleta
de dados apresentem confiabilidade (capacidade para diferenciar, de forma constante, entre
um valor e outro, ou seja, obter os mesmos resultados quando aplicada a uma mesma amostra)
e validade (capacidade da escala para medir as qualidades a que se propõe, devendo ser clara
e objetiva) (TAMAYO; TAMAYO, 1995 apud BERMUDES; SANTANA; BRAGA; SOUZA, 2016).
capítulo 4 • 75
Os formulários também são instrumentos bastante utilizados, conforme ci-
tamos anteriormente, sendo importantes principalmente para entrevistas. Este
consiste em uma lista formal, catálogo ou inventário, sendo seu preenchimento
feito pelo próprio pesquisador. Segundo Cervo, Bervian e Silva (2007), o que
caracteriza um formulário é o contato face a face entre pesquisador e participante,
funcionando como um tipo de roteiro de entrevista.
Também é possível utilizarmos uma escala como instrumento para a coleta de
dados. Ela pode ser compreendida como um instrumento organizado em técnicas
escalares que permitem transformar dados qualitativos em quantitativos ou variá-
veis, podendo ser aplicadas técnicas estatísticas e de mensuração.
Segundo Bermudes, Santana, Braga e Souza (2016), podemos encontrar qua-
tro tipos de escalas, sendo eles: nominal, ordinal, intervalar e proporcional. A esco-
la nominal é utilizada quando se deseja classificar ou categorizar dados (exemplo:
sexo do participante: masculino x feminino). A escala ordinal é mais definida e
pode variar entre um patamar mínimo a um máximo (exemplo: classes sociais). A
escala intervalar é uma forma quantitativa de se registrar um fenômeno (exemplo:
medidas de opinião como “mais satisfeito”, “menos satisfeito”, “neutro”). A escala
proporcional é a mais complexa de todas, sendo definido um ponto de partida ou
ponto zero. Nesta escala, uma unidade de medida é definida em relação à sua dife-
rença com o ponto zero e uma intensidade conhecida (exemplos: altura, volume).
Um tipo de escala muito comum em Psicologia, que é um tipo de escala intervalar,
é a denominada “Escala Likert”, que dá “valores” às respostas já predeterminadas. No
exemplo a seguir, temos uma escala de mensuração de 4 pontos, que pode ser analisada
com técnicas estatísticas, transformando dados qualitativos em quantitativos.
EXEMPLO
Qual o grau de satisfação com seu trabalho:
( ) 1 insatisfeito ( ) 2 pouco satisfeito ( ) 3 satisfeito ( ) 4 muito satisfeito
capítulo 4 • 76
das ciências, sendo uma área da Psicologia vinculada às ciências exatas. O objetivo
é explicar o sentido das respostas dos participantes e propor técnicas de medidas
para o comportamento e/ou processos mentais.
SAIBA MAIS
Para que você compreenda com mais detalhes o passo a passo da validação de testes
em Psicologia, recomendamos a leitura do artigo de Luiz Pasquali (2009), que pode ser
acessado pelo link:
<http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43nspe/a02v43ns.pdf>.
Boa leitura!
É evidente que para construir e validar um instrumento com tal grau de exi-
gência dependerá da experiência do pesquisador, estudo e auxílio estatístico para
tal. Para um pesquisador iniciante, é necessário treino e pesquisas iniciais para
entender como elaborar um instrumento de medida.
capítulo 4 • 77
LEITURA
Para exemplos de instrumentos validados no campo de Psicologia Organizacional, re-
comendados a leitura do livro Medidas do Comportamento Organizacional, organizado por
Mirlene Maria Matias Siqueira, publicado em 2008 pela editora Artmed.
Boa leitura!
CONEXÃO
Veja o manual com as Diretrizes Internacionais para Utilização de Testes, elaborado pela
Comissão Internacional de Testes (ITC), por meio do link:
<https://www.intestcom.org/files/guideline_test_use_portuguese.pdf>.
capítulo 4 • 78
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capítulo 4 • 79
Antes que isso seja feito, é importante que ele já tenha pesquisado sobre a técnica
mais adequada, o que faz parte do planejamento da pesquisa, antes mesmo da
coleta de dados propriamente dita. Conforme abordamos no capítulo anterior,
existem várias técnicas estatísticas que podem ser utilizadas, dependendo do obje-
tivo de pesquisa, sendo que um estudo mais aprofundado é necessário nesse caso.
Por meio das análises dos dados, o pesquisador poderá interpretá-los e fazer
inferências com o intuito de responder à sua pergunta de pesquisa e assim cum-
prir os objetivos estabelecidos. Em pesquisas quantitativas, é comum termos a
elaboração de hipóteses, isto é, o que o pesquisador espera encontrar, sendo estas
confirmadas ou refutadas, seja parcialmente ou completamente. É nessa etapa que
o investigador irá, de fato, trazer sua contribuição ao campo de conhecimento ao
qual se propôs acrescentar dados e resultados por meio de sua pesquisa.
capítulo 4 • 80
nível interpretativo no nível mais amplo), preservando o significado essencial
(GRANEHEIM; LUNDMAN, 2004).
Já a análise de discurso trabalha com o sentido do discurso em si, sendo que
existem diversas linhas para que tal análise seja realizada. Essa técnica considera
a língua, a história e o sujeito em si. Segundo Caregnato e Mutti (2006) não se
trata de uma metodologia, mas sim de uma disciplina de interpretação. O sentido
do discurso, sendo este verbal e não verbal, é compreendido como a forma que o
sujeito se posiciona em relação a um determinado fenômeno. “Na análise de dis-
curso, a linguagem vai além do texto, trazendo sentidos pré-construídos que são
ecos da memória do dizer.” (CAREGNATO; MUTTI, p. 681, 2006).
Finalizando a interpretação dos dados, chega o momento em que o pesquisa-
dor deverá fazer a redação final de seu relatório de pesquisa. É claro que este pode
ser feito passo a passo, conforme a investigação ocorre. Mas com os resultados em
mãos, poderá cumprir com efetividade o que se propôs ao planejar sua pesquisa.
É por meio destes relatórios que elaboramos artigos científicos, trabalhos para
eventos científicos, dissertações e teses.
ATIVIDADES
Vamos treinar um pouco agora!
Neste capítulo, abordamos a importância do planejamento de uma entrevista antes que
a mesma seja aplicada para a coleta de dados. Suponha que seu objetivo de pesquisa seja
realizar um estudo de caso com um participante que apresente transtorno de ansiedade
generalizada (TAG), com o intuito de investigar a eficácia de técnicas autoaplicáveis de rela-
xamento. Faça um roteiro para uma entrevista semiestruturada e elabore perguntas que você
poderia fazer para cumprir esse objetivo de investigação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDER-EGG, E. Introducción a las técnicas de investigación social: para trabajadores sociales:
Buenos Aires: Humanitas, 1978.
BERMUDES, W. L.; SANTANA, B. T.; BRAGA, J. H. O.; SOUZA, P. H. Tipos de escalas utilizadas em
pesquisas e suas aplicações. Vértices, v. 18, n. 2, p. 7-20, 2016.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. Pearson: São Paulo, 2007.
capítulo 4 • 81
CAREGNATO, R. C.; MUTTI, R. Pesquisa qualitativa: análise de discurso versus análise de conteúdo.
Texto Contexto Enfermagem, v. 15, n. 4, p. 679-684, 2006.
GRANEHEIM, U. H.; LUNDMAN, B. Qualitative content analysis in nursing research: concepts,
procedures and measures to achieve trust worthiness. Nurse EducationToday, v. 24, n. 2, p.105-112,
2004.
HAIR JR., J. et al. (2005). Fundamentos de métodos de pesquisa em administração. Porto
Alegre: Bookman.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007.
PASQUALI, L. Psicometria. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 43, n. especial, p. 992-
999, 2009.
ROSA. M. V. F. P.; ARNOLDI, M. A. G. C. A Entrevista na pesquisa qualitativa. Belo Horizonte:
Autêntica, 2008.
SIQUEIRA, M. M. M. Medidas do comportamento organizacional: ferramentas de diagnóstico e de
gestão. Porto Alegre: Artmed, 2008.
capítulo 4 • 82
5
Comunicação
da pesquisa:
elaboração do
projeto e do
relatório final
Comunicação da pesquisa: elaboração do
projeto e do relatório final
Neste capítulo, vamos abordar de que forma a redação de todos os passos da pes-
quisa finalizada pode ser concretizada e comunicada à sociedade científica. Vimos ao
longo deste livro como começar uma investigação, a importância da revisão de lite-
ratura, a formação da pergunta de pesquisa, os objetivos, o delineamento do método
de pesquisa, os tipos de pesquisa que podem ser realizados, as principais técnicas
de coleta e de análise de dados e agora, a comunicação dos resultados de todo esse
trabalho. Todo esse caminho é fundamental para que outros pesquisadores tenham
a consciência do que está sendo desenvolvido no âmbito científico.
É necessário apresentar à comunidade os achados de nossa investigação, contri-
buindo com a construção do conhecimento. A escrita científica é pré-requisito para
que muitos alunos de graduação colem grau, isto é, desenvolvam o que comumente
chamamos de Trabalho de Conclusão de Curso (o famoso TCC), que pode ser a
escrita de uma monografia ou artigo, por exemplo. Mas, devemos pensar muito
mais longe do que isso. Comunicar resultados de uma investigação vai muito além
do que um trabalho acadêmico. E são esses valores que queremos passar a vocês com
a finalização desta obra: a importância da Pesquisa em Psicologia para sua formação
profissional, acadêmica e para concretização desse campo do saber.
OBJETIVOS
• Apresentar as principais características da escrita científica;
• Apresentar os tópicos essenciais de um projeto de pesquisa;
• Apresentar os tópicos essenciais de um relatório final de pesquisa;
• Explanar os principais tipos de obras científicas: artigos, monografias, dissertações e teses.
A escrita científica
capítulo 5 • 84
especial. É importante que autor tenha consciência de que ele está escrevendo
para um leitor, e portanto, a coerência e coesão do texto são fundamentais para
esta comunicação. A qualidade textual é um requisito muito importante para a
escrita científica.
Além disso, o autor deve reconhecer que estará escrevendo para uma comu-
nidade específica de sua área, que termos científicos poderão ser utilizados, pois o
público que fará a leitura será de especialistas. Entretanto, também deve levar em
consideração que leigos poderão fazer a leitura de seu trabalho, e portanto, este
deve ser claro, com justificativa evidente, direto e sem prolixidade.
Segundo Cervo e Bervian (2002), existem alguns pontos fundamentais que
devem ser cuidadosamente respeitados, sendo eles:
a) Impessoalidade: na escrita, devemos utilizar o tempo verbal impessoal, sem
nos referir a “eu” ou “nós”. Por exemplo, veja a diferença entre os trechos a seguir:
Exemplo 1: entendemos que o transtorno obsessivo-compulsivo seja um tipo
de transtorno de ansiedade, conforme a Classificação Internacional de Doenças
(CID).
Exemplo 2: penso que este seja um assunto de grande relevância, pois nos
últimos anos foi bastante abordado pelas revistas científicas.
Veja que em ambos os exemplos temos o uso de “nós” e “eu”, respectivamente.
Entretanto, de modo geral, não devemos utilizar esses tempos verbais. Devemos
escrever na forma impessoal, que seria:
Possível correção para o exemplo 1: compreende-se que o transtorno obses-
sivo-compulsivo seja um tipo de transtorno de ansiedade, conforme a Classificação
Internacional de Doenças (CID).
Possível correção para o exemplo 2: considera-se que este seja um assunto
de grande relevância, pois nos últimos anos foi bastante abordado pelas revis-
tas científicas.
Nas correções, percebemos que não há uma pessoa que faz as afirmações, a
escrita é feita na forma impessoal.
Em alguns tipos de linhas dentro da Psicologia, é possível escrever em primei-
ra pessoa. Quando usamos abordagem fenomenológica, por exemplo, é possível
que o autor escreva em primeira pessoa, pois estará relatando seu ponto de vista
sobre determinado problema de pesquisa investigado. Porém, se trata de situações
específicas, nas quais é importante que um orientador, isto é, um pesquisador mais
experiente, faça a devida orientação de como fazer isso. De modo geral, pede-se a
escrita na forma impessoal.
capítulo 5 • 85
b) Objetividade: a linguagem deve ser objetiva, o que é resultado do próprio
campo da ciência. A linguagem impessoal e objetiva deve afastar o ponto de vista
científico do ponto de vista do senso comum e subjetivo. Expressões como “pare-
ce-me”, “penso que”, fazem o trabalho perder seu caráter científico, sendo muito
importante para a escrita do projeto de pesquisa ou do relatório final. A linguagem
científica necessita ser objetiva, direta, sem ambiguidades. Veja exemplos da lin-
guagem objetiva e subjetiva:
Linguagem subjetiva: “O local estava sujo”.
Linguagem objetiva: “O entrevistando, enquanto falava, deixou cair restos
de pão na mesma. Havia fragmentos de papel no chão e migalhas de pão”.
c) Modéstia e cortesia: os resultados de um estudo ou pesquisa, quando cientifi-
camente alcançados, impõem-se por si mesmos. Segundo Cervo e Bervian (2002),
o pesquisador não deve insinuar que os resultados anteriores ao seu trabalho es-
tejam cobertos de erros, atando outro colega. A cortesia e a modéstia são traços
importantes, sendo importante utilizá-las ao discordar de outros resultados.
Veja na tabela 5.1 as principais exigências e deformações da lingua-
gem científica.
EXIGÊNCIAS DEFORMAÇÕES
Impessoal Pessoal
Objetiva Subjetiva e ambígua
Modesta e cortês Arrogante
Informativa Persuasiva
Clara e distinta Confusa
Própria ou concreta Figurada
Técnica Comum
Frases bem construídas e diretas Frases longas e prolixas
capítulo 5 • 86
Para isso, devemos fazer devidamente o embasamento teórico de nosso traba-
lho e nossa escrita. Mas como fazemos isso? É importante que você compreenda o
que são citações e como utilizá-las na escrita científica. De modo geral, podemos
fazer citações diretas, citações indiretas e citação de citação. Há outros tipos, po-
rém, neste momento, estas são as principais e mais comuns, por isso as abordare-
mos para que você compreenda como fazer o embasamento teórico.
Uma citação direta é a reprodução integral ou transcrição de uma parte de
obra consultada, seja livro, artigo, teses, dissertação, conservando-se sua grafia e
escrita. Neste tipo de citação, é necessário escrevê-la de que forma que o leitor
compreenda que se trata de um trecho retirado diretamente da obra embasadora
daquele dizer, definição ou trecho. Trata-se, portanto, de uma transcrição literal.
Esse tipo de citação deve ser utilizado em menor escala, sendo apenas recomenda
para trechos de extrema importância ou definição de conceitos.
Já uma citação indireta é o texto criado com base nas ideias de uma determi-
nada obra consultada. Trata-se de trechos reescritos, parafraseados, refeitos. É uma
forma de o autor mostrar sua interpretação em relação a outras obras, ou ainda, de
evidenciar o embasamento de ideias e argumentos para justificar sua investigação,
por exemplo. Esse tipo de citação deve ser utilizado em maior escala, enriquecen-
do o trabalho científico.
Por fim, temos a citação da citação, que se trata de uma obra citada por outra
obra que estamos consultando. É comum não conseguirmos acesso a determinadas
referências, como as muito antigas ou raras e especiais. Quando isso ocorre, pode-
mos utilizar uma obra que citou aquela outra obra original. A isso denominamos
citação da citação. Trata-se da citação, seja direta ou indireta, de um texto que se
refere a um original que não tivemos acesso direto. Esta deve ser utilizada em último
caso, visto que procurar a obra original, ler, interpretar e escrever nosso próprio tex-
to, fazendo a devida referência a ela, pode enriquecer muito mais o trabalho.
PERGUNTA
O que é uma citação?
Conforme descrito no manual de Diretrizes para Apresentação de Dissertações e Teses
da Universidade de São Paulo (2016), uma citação é a menção no texto de informações
extraídas de uma fonte científica para esclarecer ou fundamentar as ideias de um autor.
Devem-se respeitar os direitos autorais, seguindo obrigatoriamente em todo o trabalho as
normas exigidas para sua escrita.
capítulo 5 • 87
Essa parte é muito importante para fazemos a nossa revisão da literatura, ge-
ralmente constituinte da introdução de nosso trabalho científico. Mais adiante,
vamos abordar os principais tópicos de um projeto de pesquisa e de um relatório
final de pesquisa, e você compreenderá melhor do que estamos falando quando
dizemos introdução do trabalho.
©© VIACHESLAV NIKOLAENKO | SHUTTERSTOCK.COM
Você também deve ter ciência de que as normas sobre como essas citações se-
rão feitas vão depender das exigências de cada tipo de obra científica que você vai
escrever. As normas vão indicar pontos importantes sobre tamanho das margens
das páginas; tipo e tamanho de letras; formatação de quadros, tabelas, figuras;
indicação das referências e citações, entre outras questões relevantes.
Para escrever um artigo científico, por exemplo, você deve verificar as normas
exigidas pela revista ou periódico onde ele será publicado. O mesmo vale para um
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), sendo que as normas mais comuns no cam-
po da Psicologia, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Ciências Biológicas
e da Saúde são as da Associação Brasileiras de Normas Técnicas (ABNT), American
Psychological Association (APA) Style e Vancouver Style. Assim, toda a formatação e nor-
mas deverão ser respeitadas do início ao fim do trabalho, podendo ter pequenas nuan-
ces conforme a Universidade, o periódico científico ou exigências específicas de um
determinado departamento da faculdade onde a obra será desenvolvida.
capítulo 5 • 88
SAIBA MAIS
Veja um manual sobre as normas da Associação Brasileiras de Normas Técnicas (ABNT)
apresentado pela equipe de bibliotecários da Universidade de São Paulo no link:
<http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/cata-
log/view/111/95/491-1>.
capítulo 5 • 89
dos resultados. Caso você não tenha um modelo, pode utilizar este para escrever seu
projeto de pesquisa, pois contém todas as partes fundamentais exigidas.
Vamos abordar cada uma das partes para que fique ainda mais claro para você,
sendo que a primeira parte a ser escrita se trata da introdução.
©© BLEND IMAGES | SHUTTERSTOCK.COM
capítulo 5 • 90
utilizar subtítulos para dividir os principais conceitos relacionados ao tema, o que
pode ajudar o leitor a compreender a construção do problema de pesquisa.
De modo geral, a escrita apresenta verbos no futuro, pois estamos falando de
um projeto e o que se pretende com ele. A investigação ainda não foi iniciada, de-
senvolvida e concretizada, assim escrevemos o que é almejado com sua conclusão.
Veja um possível esquema para a Introdução do projeto de pesquisa.
REQUISITOS PASSOS
1. Ideia geral
2. Delimitar problemas
3. Situar
Anunciar o assunto 4. Definir conceitos
5. Mostrar relevância
6. Justificar
7. Apresentar principais objetivos
Em seguida, você deve deixar bem claro qual será o objetivo de sua investigação.
Geralmente definimos um objetivo geral, isto é, o principal que se deseja alcançar na
pesquisa proposta, e os objetivos específicos, que correspondem a um passo a passo
que deverá ser seguido e concluído para que o objetivo geral seja alcançado.
A escrita dos objetivos é feita com verbos no infinitivo como “compreender”,
“levantar”, “descrever”, por exemplo. Este deve ser sucinto, objetivo, delimitado,
bem definido, para não haver ambiguidade. O pesquisador deve tomar cuidado
para não perder o foco, visando alcançar objetivos diversos. Ele deve se ater a uma
meta muito bem estabelecida e definida para sua investigação.
No plano de trabalho e execução, o pesquisador deverá apresentar um cro-
nograma sobre todos os passos que deverá seguir para concretizar sua pesquisa.
Deverá descrever a atividade a ser realizada e o tempo estimado para sua execução.
Você pode utilizar um quadro, por exemplo, para descrever a etapa da pesquisa
em si, de forma bem resumida e colocar os meses em que a pesquisa será realizada.
Veja um exemplo a seguir:
capítulo 5 • 91
TRIMESTRE
1 2 3 4 5 6 7 8
Revisão bibliográfica detalhada
Análise de documentos
Análise de dados
capítulo 5 • 92
Com essas informações, o leitor ou possível avaliador do projeto poderá dar
seu parecer em relação à viabilidade para concretização da pesquisa pretendida,
sua análise quanto à relevância e justificativa para concessão de uma bolsa para
financiamento, se esse for o caso. Os avaliadores de um projeto de pesquisa são,
em geral, pesquisadores experientes, com titulação e conhecimento para análises
detalhadas e apuradas. São pessoas que trabalham e pesquisam dentro das áreas
de conhecimento nas quais o projeto pertence, chamados de consultores ad hoc.
Entretanto, mesmo que seu objetivo não seja pleitear uma bolsa de pesquisa,
a confecção do projeto é importante para sua análise pelo Comitê de Ética em
Pesquisa, e de todo modo, para o próprio pesquisador, que deve ter uma base e um
planejamento para início, execução e concretização de sua investigação.
capítulo 5 • 93
para a escrita específica do trabalho científico que você desenvolveu. Abordaremos
aqui uma estrutura com base na proposta pelo manual citado. Veja a seguir:
Parte externa:
Capa (elemento obrigatório);
Lombada (elemento opcional).
Elementos pré-textuais:
Folha de rosto (obrigatório);
Dedicatória (opcional);
Agradecimentos (opcional);
Epígrafe (opcional);
Resumo na língua vernácula (obrigatório);
Resumo em língua estrangeira (obrigatório);
Lista de ilustrações (opcional);
Lista de tabelas (opcional);
Lista de abreviaturas e siglas (opcional);
Lista de símbolos (opcional);
Sumário (obrigatório).
Parte interna
Elementos textuais:
Introdução;
Desenvolvimento;
Conclusão.
Elementos pós-textuais:
Referências (obrigatório);
Apêndice (opcional);
Anexo (opcional).
capítulo 5 • 94
e identificação de autor, programa e instituição onde foi desenvolvido. O título
deve ser sucinto e objetivo, bem representativo do trabalho. Veja um exemplo de
capa a seguir:
Universidade Estácio de Sá
Departamento de Psicologia
José da Silva
Rio de Janeiro
2017
Figura 5.1 – Modelo de capa para trabalho científico. Desenvolvido pelo autor.
capítulo 5 • 95
folhas do trabalho. Já a folha de rosto, que deve vir em folha a seguir, é bastante
parecida com a capa, porém deve conter informações adicionais como:
a) Nome completo do autor;
b) Título: em letras minúsculas, com exceção da primeira letra, nomes próprios
e/ou científicos;
c) Subtítulo, se houver, deve ser precedido de dois pontos;
d) Número de volume: se houver mais de um, identificar em cada capa o respec-
tivo volume;
e) Natureza: tipo do trabalho (monografia, dissertação ou tese) e objetivo (apro-
vação em disciplina, grau pretendido e outros); nome da instituição a que é sub-
metido; área de concentração;
f ) Nome do orientador e, se houver, co-orientador
g) Local (cidade) e ano de entrega.
capítulo 5 • 96
contínua e conter entre 150 a 500 palavras. Junto ao resumo, logo a seguir, co-
locamos também as palavras-chave do trabalho (ou descritores) que descrevem o
assunto abordado no trabalho em si. Utilizamos, em geral, de 3 a 5 palavras-chave
nos trabalhos científicos.
As listas de figuras, tabelas, quadros, entre outros elementos são opcionais.
Devem vir com a numeração a que se referente, título e página onde pode ser
encontrados.
EXEMPLO
4.1 Principais comportamentos ansiosos.................................................... p. 56
Sumário
1. Introdução..................................................................................5
1.1 Definição de transtorno obsessivo-compulsivo....................8
1.2 Principais formas de tratamento.........................................10
1.3 Técnicas da análise do comportamento.............................12
2. Objetivos..................................................................................15
2.1 Objetivo geral......................................................................15
2.2 Objetivos específicos..........................................................15
3. Método de pesquisa..................................................................16
3.1 Participante..........................................................................17
3.2 Instrumentos........................................................................17
3.3 Técnicas de coleta e análise de dados...............................18
4. Resultados e discussão..........................................................19
5. Considerações finais................................................................28
Referências...............................................................................32
Figura 5.2 – Modelo de sumário para trabalho científico. Desenvolvido pelo autor.
capítulo 5 • 97
Assim como no projeto de pesquisa, o relatório final deve conter uma intro-
dução, na qual o pesquisador apresenta a delimitação do tema da investigação,
relevância, objetivos e a revisão da literatura em si. O que difere a introdução do
projeto e do relatório final é sua profundidade e atualização, sendo que a mesma
deve estar sempre de acordo com o ano em que o trabalho foi concluído. No
caso de uma tese de doutorado, por exemplo, que costuma ter a duração de três a
quatro anos, em média, é importante fazer uma atualização da introdução e apro-
fundamento da mesma.
A seguir você pode verificar um pequeno trecho para exemplo de escrita de
introdução de monografia.
INTRODUÇÃO
capítulo 5 • 98
O objetivo de pesquisa, assim como no projeto, geralmente mantido deste
deve ser escrito de forma sucinta e precisa, conforme já explicitado. Você pode ter
como exemplo o objetivo geral:
Descrever a eficácia de técnicas comportamentais aplicadas em um cliente
com diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo.
Método
Participante
Instrumentos
A pesquisa foi realizada em uma Unidade Saúde Escola (USE), sendo parte
do Programa de Saúde Mental. As sessões de atendimento ocorreram em uma
sala apropriada.
Na entrevista inicial realizada pela co-terapeuta foi utilizado um roteiro de
entrevista semiestruturada.
Foram utilizados no presente estudo seis instrumentos. Para a definição dos
sintomas obsessivos-compulsivos (sintomas-alvo) e da intensidade destes na linha
de base (pré-atendimento) e após as intervenções, foi utilizada a escala Yale Brown
Obsessive Compulsive Scale (Y-BOCS) de Goodman, Price e Rasmussen (1989,
apud ARAÚJO, 1998). Além disso, também foram utilizados o Inventário Beck
de Ansiedade (BAI), formulado com perguntas fechadas que têm quatro alter-
nativas para resposta cada uma; o Inventário Beck de Depressão (BDI), também
com perguntas fechadas com quatro alternativas para resposta; e o Inventário de
capítulo 5 • 99
sintomas de stress para adultos de LIPP (ISSL), juntamente com a Y-BOCS. Para
complementar as avaliações do tratamento, utilizou-se também a Escala Global
de 15 pontos de Obsessões e Compulsões do Instituto Nacional de Saúde Mental
dos EUA (NIMHOC), que avalia gravidade dos sintomas obsessivos-compulsi-
vos e tem sido utilizada em larga escala em ensaios clínicos com psicofármacos,
principalmente com medida secundária ou complementar na avaliação de trata-
mento (ARAÚJO, 1998). Também foi utilizado o Questionário de Anamnese e
de Histórico de Vida, com questões abertas e fechadas na fase de pré-atendimento
para avaliação do histórico de vida, de saúde e de informações gerais sobre os
participantes.
Para registro, foram utilizadas folhas de papel com as questões dos instrumen-
tos impressas, já com espaços para as respostas, e material para a escrita (lápis,
caneta).
Os materiais utilizados durante as sessões foram: slides feitos em Microsoft
Power Point projetados em Data Show (recursos presentes na sala da USE em que
os atendimentos foram realizados) e folhetos com algumas informações gerais so-
bre os transtornos e literatura de apoio, quando necessária.
capítulo 5 • 100
respondesse às questões de cinco instrumentos já definidos: BAI, BDI, ISSL,
Questionário de anamnese e Histórico de vida, e Y-BOCS. A aplicação destes
questionários foi realizada pela pesquisadora/co-terapeuta. Os dados dessa fase
de pré-tratamento foram utilizados para realizar-se a linha de base para o presen-
te estudo.
Em seguida, foram iniciadas as sessões de psicoterapia em uma sala de aten-
dimento coletivo na Unidade Saúde Escola (USE). As sessões do tratamento fo-
ram divididas em duas etapas para a coleta de dados. Na primeira etapa, após a
aplicação dos instrumentos no pré-tratamento, foram realizados doze encontros
para intervenção do TOC e outras queixas levadas pelo cliente sob a abordagem
da Análise do Comportamento, sendo que as sessões foram realizadas uma vez por
semana com duração de duas horas. Na primeira sessão, a terapeuta e co-terapeuta
acolheram o paciente, ressaltaram os objetivos do tratamento, o sigilo e anonima-
to para a divulgação dos resultados de pesquisa, o que foi concretizado com a assi-
natura do Termo de Comprometimento, Esclarecimento e Consentimento, sendo
que uma cópia ficou com o participante, outra com a co-terapeuta e pesquisadora,
e a terceira na própria Unidade Saúde Escola.
Após essa primeira etapa de tratamento, o participante respondeu novamen-
te aos instrumentos BDI, BAI e Y-BOCS para comparação com as respostas do
pré-tratamento. Por meio disso, verificou-se a modificação das variáveis compor-
tamentais com as intervenções feitas durante esse período. Para complementar a
avaliação, utilizou-se a escala NIMHOC (Escala Global de 15 pontos).
Na segunda etapa, foram realizados mais doze encontros, repetindo-se o pro-
cedimento da primeira etapa. Após esses encontros, aplicou-se novamente os in-
trumentos BAI, BDI, ISSL e Y-BOCS, como no pré-tratamento e na primeira
etapa e complementou-se a avaliação com a escala NIMHOC. Com isso, com-
pararam-se os resultados quantitativos e qualitativos do pré-tratamento, após a
primeira etapa de intervenção (doze sessões) e após a segunda etapa de intervenção
(doze sessões). Além disso, após cada uma das fases do tratamento, também solici-
tou-se que o próprio participante realizasse uma autoavaliação a fim de adicionar
dados à avaliação das técnicas aplicadas para intervenção do TOC.
Alguns relatórios de pesquisa utilizam seções separadas para descrever os re-
sultados encontrados, e posteriormente a discussão dos mesmos. No entanto, é
possível que estejam em uma mesma seção do trabalho. Nesta parte, é importante
que os principais achados estejam descritos para o leitor. É aqui que o pesquisador
“vende seu peixe”, informando os objetivos de pesquisa que conseguiu atingir e
comunica sua contribuição para a área de conhecimento na qual faz investigação.
capítulo 5 • 101
Veja um exemplo de breve trecho com a escrita de resultados e discussão.
Resultados e discussão
Avaliação quantitativa
Segunda aplicação
(término da primeira 35 Grave
etapa)
Terceira aplicação
(término da segunda 26 Moderada
etapa)
capítulo 5 • 102
60
50
Pontuação (BAI)
40
30
20
10
0
1 2 3
Aplicações
Figura 5.4 – Variação da intensidade de ansiedade do participante durante o tratamento.
PERGUNTA
O que é plágio acadêmico?
O plágio acadêmico se configura quando um autor retira de obras ideias (seja por citação
direta, indireta ou outras) que não são suas e não fazem referência aos devidos autores. O
plágio é considerado crime, justifica a reprova de um trabalho acadêmico, curso e até mesmo
a perda de titulação de um autor.
capítulo 5 • 103
Ressaltamos que aqui foram apresentados alguns exemplos e um modelo de
estrutura para relatório final de pesquisa. No entanto, é importante verificar as
exigências do local onde o trabalho final será realizado e seu destino, seja a apre-
sentação de um artigo científico, monografia, tese, dissertação ou outro trabalho
científico. O que de fato importa é que a escrita do trabalho deve ser original, sem
plágios e comunicar as principais contribuições da pesquisa realizada à comunida-
de, trazendo benefícios para todos os envolvidos.
ATIVIDADES
Reescreva os trechos a seguir considerando as regras para a escrita científica:
01. Penso que os ansiolíticos são poderosos para o tratamento do Transtorno de Ansiedade
Generalizada (TAG).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. Pearson: São Paulo, 2002.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. Pearson: São Paulo, 2007.
FUNARO, V. M. B. O. et al. Diretrizes para Apresentação de Dissertações e Teses da USP.
Disponível em: <http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/111/95/491-
1> Acesso em: 22 set. 2017.
GABARITO
Capítulo 1
01. A Psicologia com base no senso comum é advinda do conhecimento popular. Determi-
nadas teorias, princípios e crenças tidas como verdades acabam sendo construídas por meio
capítulo 5 • 104
da experiência do indivíduo ou de um grupo, sendo tais ideias muitas vezes disseminadas
entre as pessoas. Já a Psicologia enquanto ciência é resultado de procedimentos que culmi-
nam no conhecimento científico. Teorias, conceitos e relações entre fatos são investigadas
por meio de técnicas de pesquisa bem delimitadas que nos permitem chegar a conclusões
mais seguras sobre a realidade.
02. O conhecimento pode ser dividido em quatro níveis, sendo eles o popular, o científico, o
filosófico e o teológico ou religioso.
a) O conhecimento popular é construído por meio do senso comum. Crenças e ideias
tidas como verdades são advindas da experiência individual ou de grupos de indi-
víduos, muitas vezes passadas entre gerações. O conhecimento popular é passível
de erros e com base muitas vezes em percepções equivocadas e preconceituosas.
b) O conhecimento científico é apoiado em evidências científicas por meio de técnicas
controladas, objetivas, imparciais e que buscam mensurar os resultados encontra-
dos, sendo o interesse intelectual e o espírito crítico características importantes do
conhecimento científico. A ciência não é tida como estática e acabada, ela está em
constante construção, e tem o objetivo de chegar o mais próximo à verdade e à
realidade para compreensão de fatos e fenômenos.
c) O conhecimento filosófico tem base no dia a dia, porém ele difere do conhecimento
popular ou vulgar, pois questiona a natureza das coisas. Sua base é interrogar o
que parece ser verdade, sendo racional. No entanto, ele também não é semelhante
ao conhecimento científico, já que não se fundamenta em experimentos e não se
preocupa se as conclusões às quais se chegam são aceitas cientificamente.
d) Por fim, temos o conhecimento religioso ou teológico que se apoia em doutrinas
sagradas, reveladas pelo sobrenatural sendo falível e exato. O sujeito não pratica
novas formulações, apenas aceita o que já está organizado com regras, hierarquias
e leis. Assim, não se pode contrariar um conhecimento sagrado.
capítulo 5 • 105
problema é uma questão que envolve intrinsecamente uma limitação prática ou teórica, para
a qual se quer encontrar uma resposta.
05. Uma pergunta de pesquisa é formulada por meio do levantamento de uma problemática
de investigação. Parte-se das limitações teóricas e práticas encontradas por meio da revisão
da literatura para, assim, elaborar a pergunta a qual se quer responder por meio de uma
pesquisa. É importante que o problema esteja bem delimitado para que a pergunta seja bem
feita e possa nortear os próximos passos da pesquisa.
06. Os objetivos de pesquisa, geralmente definidos como objetivo geral e objetivos específi-
cos são as metas que se pretende atingir com o passo a passo e conclusão da investigação.
Os objetivos norteiam a pesquisa científica e correspondem ao que se quer averiguar, seja
na teoria ou na prática.
07. Pesquisas em Psicologia muitas vezes envolvem humanos e animais, visto que seu ob-
jeto de estudo corresponde a aspectos comportamentais e mentais. Assim, a ética nesse
campo é primordial para que todos os envolvidos na coleta de dados tenham seus direitos
garantidos, sendo seu bem-estar e dignidade os principais pontos a serem assegurados na
investigação científica.
Capítulo 2
01. A metodologia engloba o estudo das técnicas de pesquisa, isto é, o estudo dos pro-
cedimentos de investigação. Já o método de pesquisa consiste no delineamento dos pro-
cedimentos propriamente ditos. A metodologia é muito importante para que o pesquisador
aprenda a definir de forma satisfatória o método de pesquisa que irá seguir.
capítulo 5 • 106
MÉTODO QUANTITATIVO MÉTODO QUALITATIVO
Tenta compreender a totalidade do fe-
Focaliza uma quantidade pequena de
nômeno, mais do que focalizar conceitos
conceitos
específicos
Tem poucas ideias preconcebidas e salien-
Inicia com ideias preconcebidas do modo ta a importância das interpretações dos
pelo qual os conceitos estão relacionados eventos mais do que a interpretação do
pesquisador
Utiliza procedimentos estruturados e ins- Coleta dados sem instrumentos formais e
trumentos formais para coleta de dados estruturados
Coleta os dados mediante condições de Não tenta controlar o contexto da pesqui-
controle sa, e sim captar o contexto na totalidade
Enfatiza a objetividade, na coleta e análise Enfatiza o subjetivo como meio de com-
dos dados preender e interpretar as experiências
Analisa os dados numéricos por meio de Analisa as informações narradas de uma
procedimentos estatísticos forma organizada, mas intuitiva
PESQUISA PESQUISA
ASPECTO QUANTITATIVA QUALITATIVA
Enfoque na interpretação
Menor Maior
do objeto
Importância do contexto do
Menor Maior
objeto pesquisado
Proximidade do pesquisa-
dor em relação aos fenô- Menor Maior
menos estudados
Alcance do estudo no
Instantâneo Intervalo maior
tempo
Quantidade de fontes de
Uma Várias
dados
Ponto de vista do
Externo à organização Interno à organização
pesquisador
Quadro teórico e hipóteses Definidas rigorosamente Menos estruturadas
capítulo 5 • 107
03. Não. As pesquisas básicas são fundamentais para a realização das pesquisas aplicadas.
É comum que teorias sejam formuladas e desenvolvidas por meio da pesquisa básica e sejam
comprovadas ou refutadas pela pesquisa aplicada.
04. Segundo Gerhardt (2009), uma pesquisa apresenta sete etapas principais para sua
elaboração, sendo elas: a questão inicial, a exploração do tema, a problemática, a construção
do modelo de análise, a coleta de dados, a análise dos dados, e as conclusões.
Capítulo 3
02. As variáveis do participante consistem nas características da pessoa ou sujeito que par-
ticipa da pesquisa (por exemplo: sexo, estudo civil, inteligência etc.). São fundamentais para
a definição da amostra em uma pesquisa.
03. De modo geral, em uma investigação em que se almeja averiguar as relações entre
variáveis, considera-se que uma pode ser a “causa” e a outra, o “efeito”. Assim, nos nossos
exemplos apresentados, poderíamos considerar que a idade afeta a independência financei-
ra, ou ainda, que o tempo de empresa afeita a intenção de turnover. Dessa forma, podemos
dizer que as variáveis que são causa podem ser compreendidas como variáveis indepen-
dentes, e as variáveis que são efeito com variáveis dependentes. Como o próprio nome diz,
a variável independente é aquela que, se sofrer qualquer mudança ou variação, afetará a
variável que depende dela, isto é, a variável dependente. Para cada problema de pesquisa, as
variáveis dependentes e independentes devem ser sempre definidas com base na situação
específica pesquisada, pois tais relações podem mudar conforme a pergunta da investigação.
capítulo 5 • 108
04. Um estudo que envolve método em que devemos realizar o controle das variáveis, isto
é, em que vamos analisar os efeitos das variáveis independentes sobre as variáveis depen-
dentes são denominados experimentais. Já os estudos não experimentais se referem a ob-
servações do comportamento diretamente como ocorrem, sem manipulação de variáveis.
Por exemplo, em um estudo em que se deseja compreender quais tipos de comorbidadades
psicológicas uma amostra de pessoas com diagnóstico de transtorno depressivo apresenta,
poderíamos utilizar um método não experimental.
05. Trata-se de um fenômeno em que melhoras de sintomas ou doenças são relatadas por
pacientes que receberam tratamentos aparentemente inespecíficos ou inertes, sendo que
a própria expectativa positiva da pessoa acaba gerando tais resultados (TEIXEIRA, 2009).
O pesquisador deve ser cuidadoso com esse fenômeno, pois o placebo possa gerar efeitos
terapêuticos por conta da expectativa dos participantes, e não pelos seus efeitos em si, o que
traz vieses de interpretação dos resultados e pode invalidar a pesquisa.
06. Uma das ferramentas apontadas para se eliminar o efeito placebo (ou o efeito noce-
bo) é o que denominamos procedimento duplo-cego (ou condição de duplo-cego). Nesse
delineamento, os participantes não têm conhecimento das condições de tratamento a que
estão sendo submetidos e conduzidos pelos pesquisadores, ou pelos que estão avaliando os
resultados da pesquisa. Nesse procedimento, nem as pessoas que estão sendo examinadas
nem aqueles que estão examinando (investigadores) sabem quais são as variáveis em um
determinado momento da pesquisa. Vamos a um exemplo para que fique mais claro.
Exemplo: suponha que o objetivo da pesquisa seja investigar a eficácia de um determina-
do medicamento em comprimidos para melhorar ou suprir tremores de pacientes diagnostica-
dos com Parkinson (doença progressiva do sistema neurológico que tem como um dos sinto-
mas mais marcantes tremores incontroláveis pelos seus portadores). Comprimidos contendo o
medicamento ativo e comprimidos feitos com farinha (placebos) poderiam ser utilizados para a
pesquisa, sendo que nem o participante nem o pesquisador que vai aplicar a intervenção sabe-
riam quais são os que contêm o medicamento em si e quais são os placebos. Tais comprimidos
poderiam ter algum código, apenas para controlar essa questão. Assim, teríamos dois grupos:
um que receberia apenas comprimidos com o princípio farmacológico ativo e outro que recebe-
ria apenas placebos (isso poderia ser controlado por outros pesquisadores, que não aplicariam
as intervenções, e que não analisariam os dados em si). Após a intervenção medicamentosa, os
resultados seriam medidos e interpretados, e nessa fase sim, seria revelado qual grupo tomou
os comprimidos placebos e qual recebeu o medicamento para tratamento real da doença. Com
esse procedimento, o efeito placebo ou o efeito nocebo poderiam ser controlados.
capítulo 5 • 109
Capítulo 4
O aluno deverá descrever como poderia fazer o rapport antes de iniciar efetivamente a
entrevista. No roteiro, deixar espaço para colocar dados sociodemográficos do participan-
te como sexo, idade, estado civil, escolaridade. Em seguida, elaborar de 4 a 5 perguntas
para investigar a eficácia de técnicas de relaxamento autoaplicáveis em momentos de crise
de ansiedade.
Exemplo de roteiro
Iniciais do participante: __________________________
Idade: ___________
Sexo:_____________
Estado civil: _______________
Escolaridade:______________________________________
Data da entrevista:_________________________________
Roteiro de perguntas
01. Em quais momentos você aplicou as técnicas de relaxamento a que foi orientado prati-
car? Explique com detalhes.
02. Como você estava se sentindo quando começou a praticar o relaxamento? Descreva
suas sensações corporais. Descreva os pensamentos que passavam em sua cabeça.
03. Quanto tempo duravam as aplicações das técnicas de relaxamento? Quantas vezes você
as fazia por dia?
04. Quais eram suas sensações após a realização das técnicas? Como estavam
seus pensamentos?
05. Você indicaria para outras pessoas que sofrem com transtornos de ansiedade essas
técnicas? Por quê?
Capítulo 5
01. Segundo autores da área, os ansiolíticos podem apresentar efeitos importantes para o
tratamento do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) (WIELENSKA, 2002).
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02. O local utilizado para a realização da pesquisa apresentava luz insuficiente para a leitura.
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ANOTAÇÕES
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