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Obtenção de matéria pelos seres heterotróficos:

Importância da membrana celular na obtenção de matéria:


A membrana celular/plasmática é uma fronteira que delimita o meio intracelular do meio
extracelular. Esta desempenha um papel fundamental nos processos de obtenção de matéria,
regula todo o transporte de substâncias que entram e saem da célula.

Composição e estrutura da membrana celular:


As membranas são constituídas essencialmente por lípidos e proteínas, e às vezes glícidos. A
quantidade relativa destes componentes varia com o tipo de membrana e está relacionada com a
sua função biológica.

Os lípidos mais abundantes nas membranas são os fosfolípidos, moléculas anfipáticas, isto é,
possuem uma extremidade polar que é hidrofílica e uma extremidade apolar que é hidrofóbica.
Devido ao seu caráter anfipático, em meio aquoso, as moléculas dos fosfolípidos tendem a
formar uma dupla camada, o que determina a estrutura fundamental da membrana.
Para além dos fosfolipídos, nas membranas das células animais é possível encontrar colesterol
que contribui para a integridade da membrana.

As proteínas presentes na membrana plasmática possuem composição e funções diversas.


Estas moléculas podem ter uma função estrutural ou intervir no transporte de substâncias
através da membrana. Funcionam, ainda, como recetores de estímulos químicos, vindos do
meio extracelular: enzimas, catalisando reações que ocorrem na superfície da célula; estruturas
de ancoragem ao citoesqueleto.

Os glícidos membranares situam-se na parte exterior da membrana plasmática e estão


envolvidos em processos de reconhecimento celular.

História da membrana celular:


Em 1972, Jonathan Singer e Garth Nicolson, tendo em conta as propriedades das moléculas
constituintes da membrana, propuseram o modelo do mosaico fluido. Este admite que a
membrana não é uma estrutura rígida, existindo movimentos das moléculas que a constituem,
dotando-a, assim, de grande fluidez.
Verifica-se que as moléculas fosfolipídicas têm grande mobilidade lateral, trocando de
posição com outras que se encontrem na mesma camada. Ocasionalmente, podem ocorrer
movimentos transversais de fosfolípidos, de uma camada para a outra.

Glícidos: encontram-se na face externa da membrana ligados a fosfolípidos (glicolípidos) ou


a proteínas (glicoproteínas);

Proteínas integradas (intrínsecas): mergulham total ou parcialmente na bicamada


fosfolipídica. Estas podem atravessar a membrana de um lado ao outro, pro transmembranares;

Proteínas periféricas (extrínsecas): não penetram na bicamada fosfolipídica, encontrado-se


na sua superfície. Algumas proteínas da membrana interagem com o citoesqueleto;

Colesterol: encontra-se entre as caudas dos fosfolípidos, contribui para a integridade da


membrana, influenciando a sua fluidez
Conclui-se que as proteínas membranares podem apresentar mobilidade lateral na bicamada
fosfolipídica. Contudo, nem todas apresentam mobilidade. Algumas proteínas da membrana
encontram-se ligadas ao citoesqueleto, o que restringe a sua mobilidade, outras estabelecem
ligações com uma rede de proteínas formando a matriz extracelular das células animais.

A temperatura influencia a fluidez das membranas. A temperatura a que uma membrana


solidifica depende do tipo de lípidos que a constitui.
- Cadeias insaturadas: dificultam a compactação dos fosfolípidos, contribuindo para o aumento
da fluidez da membrana.
- Cadeias saturadas: permitem uma maior compactação dos fosfolípidos, diminuindo a fluidez.

Papel do colesterol nas membranas (das células animais):


A temperaturas baixas, o colesterol aumenta a fluidez da membrana, pois dificulta a
compactação dos fosfolípidos.
A temperaturas mais elevadas, o colesterol diminui a fluidez da membrana, pois reduz o
movimento dos fosfolípidos.
Assim, o colesterol aumenta a amplitude de temperaturas a que membrana é capaz de manter
uma fluidez funcional.

Na superfície externa da membrana plasmática, existem moléculas de glícidos ligadas às


proteínas (formando glicoproteínas) e, às vezes, ligadas aos lípidos (formando glicolípidos).
Estas moléculas estão envolvidas em diversos processos, como, por exemplo, o reconhecimento
celular realizado pelo sistema imunitário.

Movimentos transmembranares:
A composição e a estrutura da membrana plasmática determinam que esta apresente uma
permeabilidade seletiva, isto é, seja mais permeável a umas substâncias do que a outras, sendo
mesmo impermeável a alguns compostos. Esta propriedade da membrana é responsável pela
diferente composição dos fluidos intra e extracelulares e pode variar.
A passagem de substâncias através da membrana pode ocorrer através de vários mecanismos
e está dependente, entre outros fatores, da configuração molecular dessas substâncias.

Difusão:
É o processo de movimento das moléculas a favor do gradiente de concentração, de um meio
onde a sua concentração é mais elevada para um meio onde a sua concentração é mais baixa.
A difusão ocorre até se atingir um equilíbrio de concentrações. Quando esse equilíbrio é
atingido, este movimento de moléculas não para, continuam a mover-se de tal forma que a sua
distribuição global não se altera.
A difusão é um transporte passivo, porque ocorre devido à agitação térmica das moléculas e
a sua ocorrência não acarreta gasto de energia metabólica por parte da célula.

A difusão simples é o movimento de substâncias de acordo com o gradiente de concentração,


sem que haja intervenção de proteínas transportadoras, transporte não mediado.

A difusão facilitada é o movimento de substâncias de acordo com o gradiente de


concentração, exigindo a intervenção de proteínas transportadoras para atravessarem a
membrana, transporte mediado.
Difusão simples:
As características da bicamada lipídica, em partícular a natureza hidrofóbica das caudas dos
fosfolípidos, tornam-na numa barreira para diversas moléculas. Contudo, existem moléculas
que conseguem atravessar a membrana, difundindo-se diretamente através dos fosfolípidos,
através da difusão simples.

As moléculas de dimensões reduzidas conseguem passar através da bicamada lipídica, mas, as


moléculas volumosas, polares e os iões não a conseguem atravessar.

Difusão facilitada:
Uma grande quantidade de solutos não é capaz de se difundir diretamente através da
bicamada lipídica, recorrem a proteínas presentes na membrana para conseguirem atravessá-la
Estas proteínas que medeiam o transporte podem ser divididas em dois tipos:

As permeases são proteínas intrínsecas onde se ligam as moléculas a transportar. Após esta
ligação, a proteína modifica a sua conformação (alteração conformacional da permease) de
forma a libertar a substância no outro lado da membrana, regressando à sua forma inicial.

Os canais são proteínas que funcionam como poros, que, quando se encontram abertos,
permitem a difusão de solutos de um lado para o outro da membrana.
Porinas: transportam moléculas neutras; Canais iónicos transportam iões;
A abertura ou fecho dos canais está dependente de diversos tipos de estímulos.

No caso da difusão simples, a velocidade de transporte através da membrana é diretamente


proporcional à concentração do substrato.
No caso da difusão facilitada por permeases, a velocidade de difusão é superior para
concentrações do substrato relativamente baixas ou intermédias, quando comparado com a
difusão simples. No entanto, quando a concentração é elevada, atinge-se um ponto de saturação,
isto é, todos os locais de ligação às permeases estão ocupados. Nesta altura, a velocidade de
transporte estabiliza, mesmo que a concentração da substância aumente.

Osmose, permeabilidade à água:


A osmose é um caso particular da difusão e refere-se ao movimento da água através de uma
barreira semipermeável (membrana plasmática). Este movimento ocorre de acordo com o seu
gradiente de concentração, isto é, do local onde existe maior quantidade de água para onde
existe menor quantidade, até se atingir um equilibrio.

As moléculas de água são pequenas moléculas polares que podem difundir-se diretamente
através da bicamada lipídica, mas podem também atravessá-la através de canais designados
aquaporinas. A osmose é um processo passivo, não necessitando de consumir energia
metabólica para que ocorra.

isotónica: igual concentração de soluto; hipertónica: maior concentração de soluto;


hipotónica: menor concentração de soluto;

O movimento da água é determinado pelo potencial hídrico, que traduz a tendência que as
moléculas de água apresentam para entrarem ou saírem de uma solução, e o seu valor pode
resultar de vários fatores.
Nas células vegetais, o potencial hídrico ( ) resulta, sobretudo, do potencial osmótico ( )
e do potencial de pressão ( ). Ou seja:

O potencial de pressão corresponde à pressão física a que a solução está sujeita. No caso das
células vegetais, essa pressão resulta da pressão exercida pela parede celular (o potencial de
pressão tem, normalmente, um valor positivo).
O potencial osmótico (é o seu simétrico) corresponde ao efeito que os solutos têm no
potencial hídrico, que se traduz na sua redução (o potencial osmótico toma um valor negativo).

Assim, de uma maneira geral, a adição de um soluto à água faz diminuir o seu potencial
hídrico (diminui o potencial osmótico), enquanto que a pressão exercida sobre a solução faz
aumentar o potencial hídrico.

O sentido do movimento da água é determinado pelo potencial hídrico da célula


relativamente ao potencial hídrico do meio envolvente, realizando-se do local com maior
potencial hídrico para o local com menor potencial hídrico.
Quanto maior for a concentração de soluto menor será o potencial hídrico.

No caso das células que não apresentam parede celular, como as células animais, o potencial
hídrico resulta apenas do potencial osmótico.
Assim, no caso das células animais, pode então considerar-se que o fluxo de água ocorre do
meio com menor concentração do soluto (meio hipotónico) para o meio com maior
concentração do soluto (meio hipertónico).
Quando a concentração do soluto é igual nos dois meios, eles dizem-se isotónicos e o fluxo de
água é equivalente nos dois sentidos, uma vez que o potencial hídrico é igual nos dois meios.

O mecanismo de osmose também pode ser estudado com hemácias. No entanto, como todas
as células animais, as hemácias não possuem parede celular, pelo que, quando são colocadas
numa solução muito hipotónica, o fluxo contínuo de água para o interior da célula pode levar ao
aumento de volume celular para lá da capacidade elástica da membrana, acabando a célula por
rebentar, lise celutar. Quando a lise celular ocorre em hemácias designa-se hemólise.

Transporte ativo:
Os processos de transporte passivo tendem a garantir um equilíbrio de concentrações entre os
meios intracelular e extracelular. No entanto, relativamente a algumas substâncias, a célula
necessita de apresentar concentrações diferentes das do meio que a rodeia.

Para que seja obtido este desequilíbrio de concentrações é necessário que ocorra transporte
contra o gradiente de concentração, o que exige consumo de energia metabólica. Este transporte
é realizado por proteínas transportadoras, num processo designado transporte ativo.

A bomba de sódio e potássio é um dos exemplos mais estudados de transporte ativo.


Utilizando a energia proveniente da hidrólise da molécula de ATP, a bomba de sódio e potássio
promove a saída de três iões Na e a entrada de dois iões K , contra o gradiente de concentração.
Desta forma, assegura uma diferença de concentrações entre o meio intracelular e extracelular.
Transporte de partículas (transporte em massa):
As células eucarióticas possuem dois outros mecanismos que lhes asseguram o transporte de
macromoléculas Este transporte pode realizar-se do exterior para o interior da célula,
designando-se endocitose, ou do interior para o exterior, designando-se exocitose.
Ambos os mecanismos implicam que o material a transportar seja envolvido por vesículas de
natureza membranar e requerem o consumo de energia metabólica.

Existem, três tipos de endocitose: a fagocitose, a pinocitose e a endocitose mediada por recetor.

Na fagocitose, a membrana plasmática engloba partículas de grandes dimensões ou mesmo


células inteiras. A célula emite prolongamentos, denominados pseudópodes, que englobam a
partícula, formando uma vesícula fagocítica que se destaca da membrana para o interior do
citoplasma. As vesículas assim formadas fundem-se, geralmente, com lisossomas (vesículas
que contêm enzimas digestivas), dando origem a vacúolos digestivos, onde se dá a digestão das
substâncias fagocitadas.

Na pinocitose as substâncias que entram na célula são substâncias dissolvidas ou fluidos, pelo
que as vesículas são de menores dimensões.

A endocitose mediada por recetor é um processo de endocitose em que macromoléculas


entram na célula, ligadas à membrana das vesículas de endocitose.

A exocitose é um processo, inverso à endocitose, no qual as células libertam para o meio


extracelular substâncias armazenadas em vesículas. No processo de exocitose, as vesículas de
secreção fundem-se com a membrana plasmática, libertando o seu conteúdo para o meio
extracelular. Esta é fundamental para a célula se livrar de resíduos da digestão intracelular, mas
também pode fazer parte do processo digestivo de seres pluricelulares.

Importância do transporte membranar na transmissão do impulso nervoso:


Todas as células, e de forma particular os neurónios, apresentam diferenças de concentração
de iões entre a face interna e a face externa da sua membrana citoplasmática.
Os neurónios são células altamente estimuláveis, capazes de detetar pequenas alterações do
meio. Em resposta a estas variações, verifica-se uma alteração elétrica, que percorre a sua
membrana. Estas alterações elétricas permitem a transmissão de sinais, que são a base de
funcionamento do sistema nervoso.

O fluido extracelular que rodeia os neurónios apresenta elevadas concentrações de Na e Cl,


mas baixa concentração de K. Por outro lado, no meio intracelular existe uma elevada
concentração de K, mas baixa concentração de Na e Cl e outros aniões. Como o citoplasma dos
neurónios contém, proporcionalmente, menor quantidade de iões positivos do que o fluido
intersticial, a superfície interna da membrana apresenta carga elétrica negativa, enquanto que a
face externa apresenta carga elétrica positiva. Desta forma, gera-se uma diferença de potencial
elétrico entre as duas faces da membrana, potencial de membrana, que, quando o neurónio não
está a transmitir impulsos, tem tipicamente um valor próximo de -70 mV, potencial de repouso.
O menos indica que o interior da célula tem carga global negativa, relativamente ao exterior.
O potencial de repouso deve-se, principalmente à diferença de concentração de Na e K dentro
e fora da célula. Esta diferença mantém-se devido ao funcionamento de bombas de sódio e
potássio, que bombeiam sódio para o meio externo e potássio para o meio interno (com
consumo de ATP), contrariando o movimento de difusão passiva destes iões.
Como a bomba de sódio e potássio transporta 3 Na por cada 2 K, a quantidade de iões K que
sai da célula (por transporte passivo), supera a quantidade de iões Na* que entra na célula, Por
outro lado, durante o repouso, existem mais canais de K abertos do que canais de Na, o que
resulta numa maior saída de K, por transporte passivo, do que de entrada de Na por este
processo. Desta forma, a célula perde cargas positivas, gerando-se um excesso de cargas
negativas no interior da célula, relativamente ao exterior. Paralelamente, certos aniões, como
proteínas com carga elétrica negativa, tendem a acumular-se mais no meio in-tracelular,
contribuindo para uma carga elétrica negativa na face interna da membrana.

Na ausência de estimulação do neurónio a maioria dos canais de sódio e alguns canais de


potássio especiais (designados canais dependentes da voltagem) encontram-se fechados.

Contudo, quando um neurónio é atingido por um determinado estímulo, os canais de Na


abrem-se, conduzindo a uma rápida entrada de Na para a célula. Esta brusca entrada de iões
positivos faz com que o potencial de membrana passe de - 70 mV para + 35 mV.
Esta alteração da diferença de potencial designa-se despolarização. Esta rápida alteração do
potencial elétrico, que ocorre durante a despolarização, designa-se potencial de ação e é da
ordem dos 105 mV (de -70 mV para + 35 mV).

A despolarização de um determinado ponto ocorre durante cerca de 1,5 milésimos de


segundo, pois quando o potencial de ação atinge o seu pico, aumenta a permeabilidade da
membrana ao K (os canais de K dependentes da voltagem abrem-se), enquanto que os canais de
Na se fecham. Assim, verifica-se uma queda do potencial da membrana, até se atingir o seu
valor de repouso, repolarização.

A estimulação de um neurónio obedece à lei do "tudo ou nada", o estimulo tem de ter uma
determinada intensidade para gerar um potencial de ação. O estímulo mínimo necessário para
desencadear um potencial de ação designa-se estímulo limiar. Uma vez ultrapassado esse
estímulo limiar, e portanto estimulado o neurónio, o potencial de ação é igual,
independentemente da intensidade do estímulo.

O potencial de ação, que se gera na área da membrana estimulada, propaga-se à área vizinha,
conduzindo à sua despolarização. Verifica-se, então, uma sucessão de despolarização e
repolarização ao longo da membrana do neurónio. Esta onda de despolarização/repolarização
constitui o impulso nervoso.
A propagação do impulso nervoso faz-se num único sentido, das dendrites para o axónio.

Transmissão do impulso nervoso entre os neurónios – sinapses:


As terminações dos axónios estabelecem comunicação com as dendrites ou com o corpo
celular dos neurónios seguintes, permitindo que o impulso nervoso seja conduzido a longas
distâncias.
A passagem do impulso nervoso de um neurónio para outro faz-se através das sinapses, uma
região de junção muito próxima entre a extremidade de um neurónio e a superfície de outras
células (outros neurónios, células musculares, sensoriais ou glandulares).

As mais frequentes são as sinapses químicas, nas quais existe um pequeno espaço entre as
membranas de células adjacentes, designado fenda sináptica.
Quando o impulso nervoso atinge as extremidades do axónio pré-sináptico, libertam-se para a
fenda sináptica substâncias químicas designadas neurotransmissores. Estas ligam-se a recetores
da membrana da célula seguinte (célula pós-sináptica), desencadeando o impulso nervoso, que
assim continua a sua propagação.

Os neurotransmissores encontram-se armazenados em vesículas. O potencial de ação


associado ao impulso nervoso induz a fusão dessas vesículas com a membrana do axónio. Este
fenómeno de exocitose permite que os neurotransmissores sejam lançados na fenda sináptica.
Os neurotransmissores, ao ligarem-se a recetores da membrana do neurónio pós-sináptico,
conduzem à abertura de canais iónicos associados a esses recetores, permitindo a entrada de Na
na célula, provocando a despolarização da membrana, originando um impulso nervoso nela.

Sistema endomembranar e digestão intracelular:


A obtenção e o processamento de matéria envolve outros componentes celulares, para além
da membrana plasmática.
Nas células eucarióticas existe um conjunto de estruturas de natureza membranar que
estabelecem entre si relações estruturais e funcionais, o sistema endomembranar.
Este sistema é formado pela membrana celular, o invólucro nuclear, o retículo
endoplasmático, o complexo de Golgi e as vesículas que dele derivam.
E é responsável por diversas funções, incluindo síntese de proteínas, transporte de
macromoléculas, processos de digestão celular, metabolismo dos lípidos e eliminação de
substâncias tóxicas.

Retículo endoplasmático:
O retículo endoplasmático (RE) é constituído por uma extensa rede de membranas que
formam túbulos e cisternas achatadas, que podem dar origem a vesiculas. Este é uma estrutura
dinâmica, que pode aumentar ou diminuir as suas dimensões, conforme a atividade celular

- o retículo endoplasmático rugoso (RER): possui ribossomas ligados à face externa das suas
membranas, o que lhe confere um aspeto rugoso. Os ribossomas ligados à membrana do RER
produzem proteínas que são libertadas para o lúmen do retículo. Uma vez no lúmen algumas
dessas proteínas podem sofrer modificações estruturais, incluindo a adição de glícidos,
glicosilação, formando-se glicoproteínas. O RER participa também no processo de transporte
das proteínas para outros locais da célula, nomeadamente para o complexo de Golgi.

- o retículo endoplasmático liso (REL): não possui ribossomas, apresentando por isso um
aspeto liso. O REL encontra-se envolvido no metabolismo dos glícidos, na síntese de lípidos
(incluindo fosfolípidos e hormonas esteroides), na elaboração de novas membranas e em
processos de eliminação de substâncias tóxicas.
Complexo de Golgi:
O complexo de Golgi é o conjunto dos dictiossomas de uma célula. Cada dictiossoma é
composto por conjuntos de sáculos ou cisternas achatadas e empilhadas de forma regular, na
periferia das quais existem vesículas.
Os dictiossomas têm uma zona virada para o RE, face cis ou de face de formação, e uma zona
virada para a membrana, face trans ou de maturação, onde se formam vesículas.

Na face de formação fundem-se vesículas que transportam substâncias provenientes do RE.


As cisternas, que se vão constituindo na face de formação, vão substituindo as que se situam na
face de maturação, que, por sua vez, dão origem a vesículas de secreção.

O complexo de Golgi está envolvido em processos de secreção, síntese e alteração de diversas


substâncias, tais como glicoproteínas e polissacarídeos.
Enzimas presentes no complexo de Golgi podem modificar proteínas sintetizadas no RE.
Estas modificações incluem a remoção de partes das proteínas, a alteração dos glícidos
adicionados no RE e novas glicosilações. As substâncias que passam pelo complexo de Golgi
são maioritariamente exportadas em vesículas, algumas das quais são lisossomas.

Lisossomas:
Os lisossomas são pequenas vesículas, mais ou menos esféricas, delimitadas por uma
membrana e que contêm vários tipos de enzimas, principalmente hidrolases.
Os lisossomas formam-se na face de maturação do complexo de Golgi e podem unir-se a uma
vesícula endocitica, formando um corpo de maiores dimensões chamado vacúolo digestivo,
onde ocorre a digestão intracelular das substâncias captadas por endocitose, por ação das
enzimas hidrolíticas provenientes do lisossoma, num processo denominado heterofagia.
Por outro lado, os lisossomas também participam na digestão dos próprios organelos
celulares, quando tal é necessário, formando-se nesses casos vacúolos autofágicos. Este
processo designa-se autofagia e permite uma contínua renovação da célula.

Ingestão, digestão e absorção:


Ingestão: entrada dos alimentos para o organismo.
Digestão: conjunto de processos que permite a transformação de moléculas complexas dos
alimentos em moléculas mais simples.
Absorção: passagem dos nutrientes para o meio interno.

A obtenção de nutrientes é uma necessidade comum a todos os seres vivos. Para que os
nutrientes possam ser usados é necessário que cheguem até às células.
A passagem dos nutrientes do meio externo para o meio interno designa-se absorção.
No caso dos seres unicelulares, o meio interno corresponde ao meio intracelular. No caso dos
seres multicelulares o meio interno inclui, para além do meio intracelular, os fluidos que
rodeiam as células, como o sangue e a linfa. Note-se que, em ambos os casos, a absorção
implica que as substâncias atravessem membranas celulares.

Alguns nutrientes encontram-se numa forma suficientemente simples para serem absorvidos
diretamente. No entanto, muitos outros necessitam de sofrer uma transformação em substâncias
mais simples para que possam ser absorvidos. A transformação dos nutrientes é a digestão.
A digestão intracelular ocorre no interior de vacúolos digestivos, formados na sequência de
processos de fagocitose.

A digestão extracelular ocorre no exterior do organismo ou em cavidades intracorporais


especializadas. Neste tipo de digestão, são libertadas enzimas para o meio extracelular que
degradam macromoléculas de nutrientes (como proteínas ou polissacarídeos) em moléculas
mais simples (como aminoácidos e monossacarídeos) capazes de serem absorvidas.

Obtenção de matéria em diferentes seres heterotróficos:


Seres procariontes:
As bactérias e as arqueobactérias absorvem os nutrientes que se encontram dissolvidos no
meio. Por possuírem parede celular rígida, não são capazes de englobar partículas de grandes
dimensões. Esta limitação é contornada através da secreção de enzimas para o meio
extracelular, que digerem as macromoléculas em moléculas mais simples capazes de serem
absorvidas.

Seres eucariontes:
Os fungos absorvem os nutrientes diretamente do meio, dizendo-se, por isso, que realizam
nutrição por absorção.
Diversos fungos desenvolvem-se sobre matéria orgânica que decompõem. Para isso, segregam
enzimas que são libertadas no meio, ocorrendo uma digestão extracelular e extracorporal.

Outros seres eucariontes como os animais e alguns protistas obtêm o alimento por ingestão,
isto é, colocam o alimento no interior do organismo procedendo aí à sua digestão.
Nos animais, os processos de ingestão, digestão e absorção envolvem sistemas digestivos
mais ou menos complexos. Ao longo da evolução, os sistemas digestivos foram sofrendo
modificações no sentido de um processamento cada vez mais eficaz dos alimentos.

Nos animais mais simples, como a hidra e a planária, a digestão inicia-se fora das células e
completa-se no seu interior. Nestes animais, as cavidades digestivas apresentam uma só
abertura por onde entra o alimento e são expulsos os resíduos da digestão.

Tubo digestivo incompleto:


Os tubos digestivos que apresentam uma só abertura designam-se incompletos.

A hidra é um animal muito simples, cujas paredes do corpo delimitam uma cavidade interna,
designada cavidade gastrovascular. Estes animais capturam as presas com o auxílio de
tentáculos que rodeiam a única abertura desta cavidade denominada boca.
A digestão inicia-se na cavidade gastrovascular devido à ação de enzimas que são para aí
libertadas pelas células glandulares existentes na parede desta cavidade (digestão extracelular).
As partículas semidigeridas são fagocitadas por células da parede gastrovascular, originando-se
vacúolos digestivos, nos quais continua o processo digestivo (digestão intracelular).
Os nutrientes resultantes da digestão, difundem-se destes vacúolos para o citoplasma da
célula e para as outras células do corpo. Pode assim concluir-se que na hidra ocorre,
cumulativamente, digestão extracelular e digestão intracelular.
As partículas não absorvidas, juntamente com as que são libertadas pelas células por
exocitose, são expulsas da cavidade gastrovascular, através da boca, devido às contrações das
paredes do corpo do animal.

A planária possui uma cavidade gastrovascular tubular ramificada. Este organismo possui
uma faringe que se projeta da boca, e liberta enzimas que digerem parcialmente o alimento. As
partículas parcialmente digeridas são então ingeridas através da faringe e distribuídas ao logo
da cavidade gastrovascular, completando-se a sua digestão no meio intracelular (fig. 29).

Tubo digestivo completo:


Os animais mais complexos possuem um tubo digestivo completo, com duas aberturas: a
boca, para a entrada dos alimentos, e o ânus, para a saída dos resíduos.
Esta modificação constitui um importante avanço evelutivo, pois permite uma digestão e
abserção sequenciais no tubo digestivo, uma vez que os alimentos se deslocam num só sentido.

A digestão pode ocorrer nos órgãos, por processos mecanicos e ações enzimáticas distintas.

Nestes animais, ocorre digestão extracelular em cavidades digestivas que, apesar de se


encontrarem dentro de organismo, fazem parte do meio externo, pois não são mais de que
prolongamentos desse meio para o interior do corpo, Nestas cavidades, são lançados sucos
digestivos contendo enzimas, que atuam sobre os alimentos, transformando-os em substâncias
mais simples, capazes de serem absorvidas.

Os anelídeos (minhoca) e os insetos possuem um tubo digestivo completo, diferenciado em


regiões especializadas. Ao longo do tubo digestivo, o alimento é digerido por ação de enzimas
hidrolíticas. As moléculas suficientemente simples são absorvidas e distribuídas pelo
organismo. Os resíduos alimentares não absorvidos são eliminados pelo ânus.
Nos vertebrados, o tubo digestivo também é completo, sendo, no entanto, mais complexo do
que o da minhoca. A constituição básica é semelhante nos diversos grupos de vertebrados.
Contudo, ocorrem variações relacionadas com o regime alimentar.

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