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Literatura Realista e Naturalista

Prof. Jorge Alessandro


Desencaixotando Machado: a crônica está no detalhe, no (2010.1) Considerando os seus conhecimentos sobre os
mínimo, no escondido, naquilo que aos olhos comuns gêneros textuais, o texto citado constitui-se de:
pode não significar nada, mas, uma palavra daqui, “uma A) fatos ficcionais, relacionados a outros de caráter
reminiscência clássica” dali, e coloca-se de pé uma obra realista, relativos à vida de um renomado escritor.
delicada de observação absolutamente pessoal. O B) representações generalizadas acerca da vida de
borogodó está no que o cronista escolhe como tema. membros da sociedade por seus trabalhos e vida
Nada de engomar o verbo. É um rabo de arraia na pompa cotidiana.
literária. Um “falar à fresca”, como o bruxo do Cosme C) explicações da vida de um renomado escritor, com
Velho pedia. Muitas vezes uma crônica brilha, gloriosa, estrutura argumentativa, destacando como tema seus
mesmo que o autor esteja declarando, como é comum, a principais feitos.
falta de qualquer assunto. Não vale o que está escrito, D) questões controversas e fatos diversos da vida de
mas como está escrito. personalidade histórica, ressaltando sua intimidade
(SANTOS, Joaquim Ferreira dos (org.). As cem melhores crônicas familiar em detrimento de seus feitos públicos.
brasileiras. RJ: Objetiva, 05, p.17) E) apresentação da vida de uma personalidade,
organizada sobretudo pela ordem tipológica da narração,
(2009.3) Em As Cem Melhores Crônicas Brasileiras, com um estilo marcado por linguagem objetiva.
Joaquim Ferreira dos Santos argumenta contra a ideia de
que a crônica é um gênero menor. De acordo com o O nascimento da crônica
fragmento apresentado acima, a crônica: Há um meio certo de começar a crônica por uma
A) apresenta características semelhantes a construções trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor!
literárias de vanguarda. Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como
B) impõe-se como Literatura, apresentando um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca.
características estéticas específicas. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-
C) tem sua organização influenciada pelo tempo e pela se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre
sociedade em que está inserida. a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La
D) é o texto preferido pelo homem do povo, que aprecia glace est rompue; está começada a crônica.
leituras simples e temas corriqueiros. Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda
E) é um gênero literário importante, mas inferior ao do que as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes de
romance e ao drama. Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Jacó,
antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova
dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por
crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é
21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de que não havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a
negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo ao
Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar- naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas
se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.
mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, (ASSIS, M. In: SANTOS, J .F. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio
também mulata, que se dedica ao menino e o matricula de Janeiro: Objetiva, 2007)
na escola pública, única que frequentou o autodidata
Machado de Assis.

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(2011.2) Um dos traços fundamentais da vasta obra tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de
literária de Machado de Assis reside na preocupação uma virtude, e as virtudes devem ser como os
com a expressão e com a técnica de composição. Em O orçamentos: melhor é o saldo que o défict.
nascimento da crônica, Machado permite ao leitor Como era muito seco de maneiras, tinha inimigos
entrever um escritor ciente das características da que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato
crônica, como: alegado neste particular era o de mandar com frequência
A) texto breve, diálogo com o leitor e registro pessoal de escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer
fatos do cotidiano. sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e
B) texto ficcional curto, linguagem subjetiva e criação de os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado
tensões. em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um
C) priorização da informação, linguagem impessoal e pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e
resumo de um fato. não se pode honestamente atribuir à índole original de
D) linguagem literária, narrativa curta e conflitos internos. um homem o que é puro efeito de relações sociais.
E) síntese de um assunto, linguagem denotativa, A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios
exposição sucinta. encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que
padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova
— É o diabo!... praguejava entre dentes o irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma
brutalhão, enquanto atravessava o corredor ao lado do confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão
Conselheiro, enfiando às pressas o seu inseparável remido de uma destas, o que não se coaduna muito com
sobretudo de casimira alvadia. — É o diabo! Esta menina a reputação da avareza; verdade é que o benefício não
já devia ter casado! caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz)
— Disso sei eu... balbuciou o outro. — E não é por mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
falta de esforços de minha parte; creia! (ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova
— Diabo! Faz lástima que um organismo tão rico Aguilar, 1992)
e tão bom para procriar, se sacrifique desse modo! Enfim
— ainda não é tarde; mas, se ela não se casar quanto (2014.1) Obra que inaugura o Realismo na literatura
antes — hum... hum!... Não respondo pelo resto! brasileira, Memória póstumas de Brás Cubas condensa
— Então o Doutor acha que...? uma expressividade que caracterizaria o estilo
Lobão inflamou-se: Oh! o Conselheiro não podia machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu
imaginar o que eram aqueles temperamentozinhos cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas
impressionáveis!... eram terríveis, eram violentos, quando refina a percepção irônica ao:
alguém tentava contrariá-los! Não pediam — exigiam — A) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se
reclamavam! injustiçado na divisão da herança paterna.
(AZEVEDO, A. O homem. Belo Horizonte: UFMG, 2003) B) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade
com que Cotrim prendia e torturava os escravos.
(2012.2) O romance O homem, de Aluísio Azevedo, C) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo
insere-se no contexto do Naturalismo, marcado pela personagem quando da perda da filha Sara.
visão do cientificismo. No fragmento, essa concepção D) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma
aplicada à mulher define-se por uma: confraria e membro remido de várias irmandades.
A) conivência com relação à rejeição feminina de assumir E) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e
um casamento arranjado pelo pai. egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.
B) submissão da personagem feminina a um processo que
a infantiliza e limita intelectualmente. O Jornal do Commércio deu um brado esta
C) caracterização da personagem feminina como um semana contra as casas que vendem drogas para curar a
estereótipo da mulher sensual e misteriosa. gente, acusando-as de as vender para outros fins menos
D) convicção de que a mulher é um organismo frágil e humanos. Citou os envenenamentos que tem havido na
condicionado por seu ciclo reprodutivo. cidade, mas esqueceu de dizer, ou não acentuou bem, que
E) incapacidade de resistir às pressões socialmente são produzidos por engano das pessoas que manipulam
impostas, representadas pelo pai e pelo médico. os remédios. Um pouco mais de cuidado, um pouco menos
de distração ou de ignorância, evitarão males futuros.
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a Mas todo ofício tem uma aprendizagem, e não há
quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente benefício humano que não custe mais ou menos duras
honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos agonias. Cães, coelhos e outros animais são vítimas de
que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que estudos que lhes não aproveitam, e sim aos homens; por
era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que que não serão alguns destes, vítimas do que há de

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aproveitar aos contemporâneos e vindouros? Há um virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não ser
argumento que desfaz em parte todos esses ataques às mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha;
boticas; é que o homem é em si mesmo um laboratório. bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha
Que fundamento jurídico haverá para impedir que eu de contralto que fazia gosto de ouvir.
manipule e venda duas drogas perigosas? Se elas Uma só palavra boiava à superfície dos seus
matarem, o prejudicado que exija de mim a indenização pensamentos: "Mulato". E crescia, crescia,
que entender; se não matarem, nem curarem, é um transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia
acidente e um bom acidente, porque a vida fica. todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava
(ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1967) todas as outras ideias.
— Mulato!
(2014.2) No gênero crônica, Machado de Assis legou Esta só palavra explicava-lhe agora todos os
inestimável contribuição para o conhecimento do mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão
contexto social de seu tempo e seus hábitos culturais. O usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas
fragmento destacado comprova que o escritor avalia famílias a quem visitara; as reticências dos que lhe
o(a): falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos
A) manipulação inconsequente dos remédios pela que, em sua presença, discutiam questões de raça e de
população. sangue.
B) uso de animais em testes com remédios (AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996)
desconhecidos.
C) fato de as drogas manipuladas não terem eficácia (2014.2) O texto de Aluísio Azevedo é representativo do
garantida. Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse
D) hábito coletivo de experimentar drogas com objetivos fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso
terapêuticos. naturalista, pois:
E) ausência de normas jurídicas para regulamentar a A) relaciona a posição social a padrões de
venda nas boticas. comportamento e à condição de raça.
B) apresenta os homens e as mulheres melhores do que
Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo eram no século XIX.
dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me C) mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de
levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma saberes entre homens e mulheres.
careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, D) ilustra os diferentes modos que um indivíduo tinha de
vestia-se, saía e só tomava na manhã seguinte. Mais ascender socialmente.
tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em E) critica a educação oferecida às mulheres e os maus-
ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada tratos dispensados aos negros.
do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana.
Conceição padecera, a princípio, com a existência da E vejam agora com que destreza, com que arte faço eu a
comborça; mas, afinal, resignara-se, acostumara-se, e maior transição deste livro. Vejam: o meu delírio começou
acabou achando que era muito direito. em presença de Virgília; Virgília foi o meu grão pecado de
(ASSIS, M. et al. Missa do galo: variações sobre o mesmo tema. São juventude; não há juventude sem meninice; meninice
Paulo: Summus, 1977) supõe nascimento; e eis aqui como chegamos nós, sem
esforço, ao dia 20 de outubro de 1805, em que nasci.
(2014.3) No fragmento desse conto de Machado de Viram?
Assis, "ir ao teatro" significa "ir encontrar-se com a (ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas.)
amante". O uso do eufemismo como estratégia
argumentativa significa: (2014.3) A repetição é um recurso linguístico utilizado
A) exagerar quanto ao desejo em "ir ao teatro". para promover a progressão textual, pois indica
B) personificar a prontidão em "ir ao teatro". entrelaçamento de ideias. No fragmento de romance, as
C) esclarecer o valor denotativo de "ir ao teatro". repetições foram utilizadas com o objetivo de:
D) reforçar compromisso com o casamento. A) marcar a transição entre dois momentos distintos da
E) suavizar uma transgressão matrimonial. narrativa, o amor do narrador por Vigília e seu
nascimento.
O mulato B) tornar mais lento o fluxo de informações, para
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática finalmente conduzir o leitor ao tema principal.
do Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos C) reforçar, pelo acúmulo de afirmações, a ideia do
de francês e tocava modinhas sentimentais ao violão e ao quanto é grande o sentimento do narrador por Vigília.
piano. Não era estupida; tinha a intuição perfeita da

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D) representar a monotonia, caracterizadora das etapas
da vida do autor: a juventude e a velhice. — Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é...
E) assegurar a sequenciação cronológica dos fatos — Eu?
representados e a precisão das informações. — O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta
é a verdade...
BONS DIAS! Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim
14 de junho de 1889 de um silêncio:
Ó doce, ó longa, ó inexprimível melancolia dos — Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei.
jornais velhos! Conhece-se um homem diante de um Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher
deles. Pessoa que não sentir alguma coisa ao ler folhas de sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela
meio século, bem pode crer que não terá nunca uma das é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma
mais profundas sensações da vida, – igual ou quase igual asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor
à que dá a vista das ruínas de uma civilização. Não é a porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os
saudade piegas, mas a recomposição do extinto, a mulatos!... Nunca me perdoariam um tal casamento;
revivescência do passado. além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a
(ASSIS. M. Bons dias! (Crônicas 1885-1839). Campinas Editora da promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão
Unicamp, São Paulo: Hucitec, 1590) a um branco de lei, português ou descendente direto de
portugueses! (AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008)
(2016.1) O jornal impresso é parte integrante do que
hoje se compreende por tecnologias de informação e (2017.2) Influenciada pelo ideário cientificista do
comunicação. Nesse texto, o jornal é reconhecido como: Naturalismo, a obra destaca o modo como o mulato era
A) objeto de devoção pessoal. visto pela sociedade de fins do século XIX. Nesse trecho,
B) elemento de afirmação da cultura. Manoel traduz uma concepção em que a:
C) instrumento de reconstrução da memória. A) miscigenação racial desqualificava o indivíduo.
D) ferramenta de investigação do ser humano. B) condição econômica anulava os conflitos raciais.
E) veículo de produção de fatos da realidade. C) discriminação racial era condenada pela sociedade.
D) escravidão negava o direito da negra à maternidade.
Esaú e Jacó E) união entre mestiços era um risco à hegemonia dos
Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu brancos.
lhe quisesse pôr alguma, e não me ocorresse outra. Não é
somente um meio de completar as pessoas da narração Quanto às mulheres de vida alegre, detestava-as;
com as ideias que deixarem, mas ainda um par de Lunetas tinha gasto muito dinheiro, precisava casar, mas casar
para que o leitor do Iivro penetre o que for menos claro ou com uma menina ingênua e pobre, porque é nas classes
totalmente escuro. pobres que se encontra mais vergonha e menos
Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da bandalheira. Ora, Maria do Carmo parecia-lhe uma
minha história colaborando nela, ajudando o autor, por criatura simples, sem essa tendência fatal das mulheres
uma Iei de solidariedade, espécie de troca de serviços, modernas para o adultério, uma menina que até chorava
entre o enxadrista e os seus trabalhos. na aula simplesmente por não ter respondido a uma
Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a pergunta do professor! Uma rapariga assim era um caso
dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de esporádico, uma verdadeira exceção no meio de uma
torre, nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, sociedade roída por quanto vício há no mundo. Ia concluir
branca e preta, mas esta não tira o poder da marcha de o curso, e, quando voltasse ao Ceará, pensaria seriamente
cada peça, e afinal umas e outras podem ganhar a no caso. A Maria do Carmo estava mesmo a calhar:
partida, e assim vai o mundo. pobrezinha, mas inocente...
(ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964)
(CAMINHA, A. A normalista)

(2016.2) O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra (2018.2) Alinhado às concepções do Naturalismo, o
como o narrador concebe a leitura de um texto literário. fragmento do romance de Adolfo Caminha, de 1893,
Com base nesse trecho, tal leitura deve levar em conta: identifica e destaca nos personagens um(a):
A) o leitor como peça fundamental na construção dos A) compleição moral condicionada ao poder aquisitivo.
sentidos. B) temperamento inconstante incompatível com a vida
B) a luneta como objeto que permite ler melhor. conjugal.
C) o autor como único criador de significados. C) formação intelectual escassa relacionada a desvios de
D) o caráter de entretenimento da literatura. conduta.
E) a solidariedade de outros autores.

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D) laço de dependência ao projeto de reeducação de TEXTO II
inspiração positivista. Um homem célebre expõe o suplício do músico
E) sujeição a modelos representados por estratificações popular que busca atingir a sublimidade da obra-prima
sociais e de gênero. clássica, e com ela a galeria dos imortais, mas que é traído
por uma disposição interior incontrolável que o empurra
Não digo que seja uma mulher perdida, mas implacavelmente na direção oposta. Pestana, célebre nos
recebeu uma educação muito livre, saracoteia sozinha saraus, salões, bailes e ruas do Rio de Janeiro por suas
por toda a cidade e não tem podido, por conseguinte, composições irresistivelmente dançantes, esconde-se
escapar à implacável maledicência dos fluminenses. dos rumores à sua volta num quarto povoado de ícones
Demais, está habituada ao luxo, ao luxo da rua, que é o da grande música europeia, mergulha nas sonatas do
mais caro; em casa arranjam-se ela e a tia sabe Deus classicismo vienense, prepara-se para o supremo salto
como. Não é mulher com quem a gente se case. Depois, criativo e, quando dá por si, é o autor de mais uma
lembra-te que apenas começas e não tens ainda onde cair inelutável e saltitante polca.
morto. WISNIK, J. M. Machado maxixe: o caso Pestana.).
Enfim, és um homem: faze o que bem te parecer.
Essas palavras, proferidas com uma franqueza por tantos (2021.1) O conto de Machado de Assis faz uma
motivos autorizada, calaram no ânimo do bacharel. referência velada a maxixe, gênero musical inicialmente
Intimamente ele estimava que o velho amigo de seu pai o associado à escravidão e à mestiçagem. No Texto II, o
dissuadisse de requestar a moça, não pelas conflito do personagem em compor obras do gênero é
consequências morais do casamento, mas pela obrigação, representativo da
que este lhe impunha, de satisfazer uma dívida de vinte A) pouca complexidade musical das composições
contos de réis, quando, apesar de todos os seus esforços, ajustadas ao gosto do grande público.
não conseguira até então pôr de parte nem o terço B) prevalência de referências musicais africanas no
daquela quantia. (AZEVEDO, A. A dívida.) imaginário da população brasileira.
C) incipiente atribuição de prestígio social a músicas
(2020.2) O texto, publicado no fim do século XIX, traz à instrumentais feitas para a dança.
tona representações sociais da sociedade brasileira da D) tensa relação entre o erudito e o popular na
época. Em consonância com a estética realista, traços da constituição da música brasileira.
visão crítica do narrador manifestam-se na E) importância atribuída à música clássica a sociedade
A) caracterização pejorativa do comportamento da brasileira do século XIX.
mulher solteira.
B) concepção irônica acerca dos valores morais inerentes – Há ocorrências bem singulares. Está vendo
à vida conjugal. aquela dama que vai entrando na igreja da Cruz? Parou
C) contraposição entre a idealização do amor e as agora no adro para dar uma esmola.
imposições do trabalho. – De preto?
D) expressão caricatural do casamento pelo viés do – Justamente; lá vai entrando; entrou.
sentimentalismo burguês. – Não ponha mais na carta. Esse olhar está
E) sobreposição da preocupação financeira em relação ao dizendo que a dama é uma recordação de outro tempo, e
sentimento amoroso. não há de ser muito tempo, a julgar pelo corpo: é moça
de truz.
TEXTO I
– Deve ter quarenta e seis anos.
Correu à sala dos retratos, abriu o piano, sentou-
– Ah, conservada. Vamos lá; deixe de olhar para o
se e espalmou as mãos no teclado. Começou a tocar
chão e conte-me tudo. Está viúva, naturalmente?
alguma coisa própria, uma inspiração real e pronta, uma
– Não.
polca, uma polca buliçosa, como dizem os anúncios.
– Bem; o marido ainda vive. É velho?
Nenhuma repulsa da parte do compositor; os dedos iam
– Não é casada.
arrancando as notas, ligando-as, meneando-as; dir-se-ia
– Solteira?
que a musa compunha e bailava a um tempo. […….]
– Assim, assim. Deve chamar-se hoje D. Maria de
Compunha só, teclando ou escrevendo, sem os vãos
tal. Em 1860 florescia com o nome familiar de Marocas.
esforços da véspera, sem exasperação, sem nada pedir ao
Não era costureira, nem proprietária, nem mestra de
céu, sem interrogar os olhos de Mozart. Nenhum tédio.
meninas; vá excluindo as profissões e chegará lá. Morava
Vida, graça, novidade, escorriam-lhe da alma como de
na Rua do Sacramento. Já então era esbelta, e,
uma fonte perene. ( ASSIS, M. Um homem célebre.)
seguramente, mais linda do que hoje; modos sérios,
linguagem limpa.

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ASSIS, M. Machado de Assis: seus 30 melhores contos. Rio de Janeiro:
Aguilar, 1961.

(2021.1) No diálogo, descortinam-se aspectos da


condição da mulher em meados do século XIX. O ponto
de vista dos personagens manifesta conceitos segundo
os quais a mulher
A) encontra um modo de dignificar-se na prática da
caridade.
B) preserva a aparência jovem conforme seu estilo de
vida.
C) condiciona seu bem-estar à estabilidade do
casamento.
D) tem sua identidade e seu lugar referendados pelo
homem.
E) renuncia à sua participação no mercado de trabalho.

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