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4 Justiça Social
4 Justiça Social
A filosofia política é uma disciplina que procura refletir sobre questões acerca da forma como as
sociedades humanas devem estar organizadas.
A filosofia política estuda a maneira como devemos viver em sociedade, isto é, trata de saber
quais as formas corretas de organização social.
Quem deve deter o poder político?
Deve a liberdade de expressão ter limites?
COMO DEVE SER DISTRIBUÍDA A RIQUEZA PARA UMA SOCIEDADE SER JUSTA?
Trata-se do problema da justiça distributiva, ou seja, qual é a maneira correta de distribuir a
riqueza numa sociedade?
Relevância do problema
A Filosofia política é uma das áreas da Filosofia cujos problemas estão mais próximos da vida
quotidiana e onde as teorias filosóficas têm maior aplicabilidade.
Ao longo da história, as reflexões dos filósofos tiveram imensas consequências práticas.
Apesar de as sociedades poderem estar organizadas de formas muito diferentes, nem todas as
formas de organização social são justas.
Será justo que uma pessoa não beneficie de cuidados médicos quando necessita apenas porque
não ganha dinheiro suficiente para os pagar?
Que papel deve ter o Estado nesta matéria?
Onde deve o Estado ir buscar o dinheiro para os tratamentos que a pessoa não pode pagar?
Será que o estado possui o direito de obrigar os cidadãos com maiores rendimentos a pagarem
mais impostos para que todos (em especial os que menos ganham) tenham cuidados de saúde
gratuitos?
Em que se baseia o direito do Estado (dos governos) para impor a sua vontade aos que
discordarem das medidas que pretender aplicar?
Terão os mais ricos obrigações para com os mais pobres – por exemplo, a obrigação de garantir
que todos os cidadãos tenham acesso a bens sociais tão básicos como a educação, a saúde ou
outros?
Que papel cabe ao estado na distribuição da riqueza produzida na sociedade?
As desigualdades entre ricos e pobres continuaram a aumentar nas últimas décadas: entre países
mais e menos desenvolvidos e também entre a população dos países com as economias mais
avançadas.
Em 2022, 2 milhões de pessoas (19,4% da população) encontravam-se em situação de pobreza
ou de exclusão social em Portugal.
Terão os países ricos obrigações especiais para com os países pobres?
Uma sociedade igualitária é mais justa do que uma sociedade desigual?
A pobreza e a exclusão social também existe nos países desenvolvidos
Os novos pobres provêm da classe média. Resultam do desemprego de longa duração. Não se
trata de pobreza extrema, mas afeta profundamente a dignidade dos indivíduos e a estabilidade
familiar.
Estas desigualdades serão justas ou injustas?
Terá o Estado a obrigação de ajudar os mais desfavorecidos?
Não há respostas consensuais a essas questões.
Duas respostas clássicas, e muito diferentes uma da outra, são o igualitarismo e o liberalismo.
P1 P2 P3 P4 P5 Total
Sociedade 1 6 3 9 6 6 30
Sociedade 2 7 6 10 8 9 40
P1 P2 P3 P4 P5
Sociedade 3 1 10 10 10 2 33
Sociedade 4 6 7 7 6 6 32
Para um utilitarista, a sociedade S3 é mais justa do que S4. Mas será isso plausível? Pode-se
discordar disso, defendendo-se que S4 é melhor porque nessa sociedade há uma maior
igualdade de bens sociais. Assim, pode-se defender:
TEORIA 2 – IGUALITARISMO
A melhor situação social é aquela em que há maior igualdade de bens sociais.
1. Importância primordial ao valor da igualdade.
2. Numa sociedade justa o estado transfere riqueza dos ricos (através de impostos) para os mais
pobres para, assim, se evitar desigualdades.
TEORIA 3 - LIBERTARISMO
A melhor situação social é aquela em que se respeita a liberdade individual.
1.Importância primordial ao valor da liberdade individual e aos direitos de propriedade.
2. Numa sociedade justa o estado não pode interferir na propriedade individual.
John Rawls traça um caminho intermédio entre o libertismo e o igualitarismo, e defende uma
teoria da justiça como equidade.
O problema da organização de uma sociedade justa:
A teoria da justiça de John Rawls (1921-2002)
PROBLEMA DA JUSTIÇA DISTRIBUTIVA
A perspetiva de Rawls é habitualmente designada liberalismo igualitário.
A TEORIA DE JOHN RAWLS
Liberalismo igualitário
O igualitarismo idealiza uma sociedade com igual distribuição de riqueza, poder e direitos por
todos, e tem como valor principal a igualdade.
O libertarismo considera que só são injustas as desigualdades sociais e económicas que resultam
de atividades ilegítimas e tem como valor principal a liberdade.
Outros filósofos defendem que não precisamos de escolher entre igualdade e liberdade e que
podemos conciliar ambas.
John Rawls é um desses filósofos.
Liberalismo igualitário
Algumas desigualdades são injustas.
Deve-se tentar aumentar a igualdade, mas não acabar com todas as desigualdades sociais.
A justiça social requer, então, uma conciliação entre igualdade e liberdade.
Rawls questiona:
Em que princípios se deve basear uma sociedade para ser justa?
Quais os princípios da justiça que devem reger essa sociedade?
Rawls pressupõe que as perspetivas que as pessoas têm da justiça são muitas vezes
parciais.
Se és rico, provavelmente queres a liberdade de adquirir e de aproveitar os frutos do teu esforço.
Mas, se és pobre, provavelmente defendes mais um sistema que redistribui a riqueza.
Talvez uma pessoa inteligente diga que, numa sociedade justa, os mais inteligentes devem
ganhar mais, coisa que uma pessoa menos inteligente, mas mais trabalhadora, consideraria
injusto. Uma pessoa pobre talvez diga que os mais ricos devem pagar mais impostos do que
pagam, coisa que os ricos considerariam injusto.
Teoria da justiça
A justiça como equidade
Para isso, vamos fazer uma experiência mental para encontrar os princípios de justiça corretos.
Rawls usa o argumento do acordo hipotético para justificar e escolher os princípios da justiça, e
designa-o por "posição original".
Posição original –
Para fazer esta escolha propõe uma experiência mental: imaginar que podemos escolher os
princípios da justiça que irão reger uma sociedade em que vamos viver. É uma situação
hipotética e não real, porque todos vivemos em sociedades cujas regras já estão definidas.
A justiça requer imparcialidade. Esta imparcialidade pode ser modelada através do pressuposto
de ignorância.
Então, como garantir esta imparcialidade que é essencial para a justiça?
Através da “posição original”:
Ou seja, é uma situação imaginária em que as pessoas, estando sob um véu de ignorância
que garante a sua imparcialidade, escolhem os princípios de justiça corretos.
ESCOLHA DOS PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA
Posição original
Supõe-se que temos a possibilidade de escolher o modo como uma sociedade, em que
passaríamos a viver, se iria organizar.
Nesta situação hipotética todos têm liberdade de escolha – as pessoas estão numa situação de
igualdade, todas têm os mesmos direitos.
A posição original é uma situação equitativa e justa.
A pessoa não sabe o que achará bom ou mau, mas sabe que, independentemente das suas
características, precisará de certos bens sociais primários: liberdades, direitos, oportunidades e
riqueza.
Quais são os princípios da justiça para Rawls?
Rawls identificou dois princípios da justiça.
Ao primeiro chamou princípio da liberdade igual.
Não deu nome ao segundo e dividiu-o em duas partes distintas:
a) princípio da oportunidade justa;
b) princípio da diferença.
Por isso, os princípios da justiça são, na realidade, três.
Rawls considera que este segundo princípio é o que regula as desigualdades económicas e
sociais.
Este princípio indica uma maximização da situação dos que estão na pior situação à
partida. Implica uma certa visão distributiva (aos que estão em pior situação – os
pobres).
Rawls aceita a afirmação condicional de que se é necessária uma desigualdade para
melhorar as condições de todas as pessoas, e, em especial, para tornar as condições dos
mais desfavorecidos melhores do que seriam de outra forma, aquela deve ser permitida.
Deste modo, o princípio da diferença permite que algumas pessoas tenham mais que outras, mas
limita essa desigualdade ao impor uma tributação (cobrança de impostos)e a redistribuição da
riqueza.
Que razões temos para aceitar os princípios da justiça propostos por Rawls?
A razão é que, sob o véu da ignorância, o mais racional é jogar pelo seguro. Ou seja, adotar os
princípios de acordo com os quais o pior que nos poderia acontecer fosse o melhor possível.
Rawls diz que se trata de seguir regra MAXIMIN estratégia que permite maximizar o mínimo.
Maximizar o mínimo
Ralws defende que esta regra é muito diferente do que defendem os utilitaristas. Estes defendem
que devemos maximizar a felicidade geral.
Deste modo, é possível haver mais felicidade geral numa sociedade, em que há uma minoria de
pessoas que vivem muito mal, para que a maior parte delas viva muito bem, do que noutra em
que todos vivem moderadamente bem.
Por exemplo, a quantidade de felicidade geral numa sociedade em que quase todos vivem bem à
custa de meia dúzia de escravos pode ser maior do que numa sociedade em que não há escravos.
Este resultado é inaceitável para Rawls: viola os princípios da liberdade e da diferença.
Para melhor compreender a aplicação da regra maximin, vamos considerar três sociedades
diferentes e analisar a distribuição da riqueza em cada uma delas (suponhamos que cada uma
delas tem apenas quatro habitantes, A, B, C, D).
IGUALITARISMO
A sociedade mais justa é a 3: é onde existe menos desigualdade na riqueza dos seus
habitantes.
LIBERALISMO IGUALITÁRIO
A sociedade mais justa é a 1: existe desigualdade, mas é onde quem tem pior situação se
encontra melhor.
O argumento moral na escolha dos princípios da justiça
A distribuição da riqueza e de oportunidades não deve basear-se em fatores moralmente
arbitrários, isto é, em coisas pelas quais as pessoas não têm responsabilidade. É injusto que
nascer numa família pobre ou rica, pouco ou muito instruída possa determinar as perspetivas de
vida de uma pessoa.
O Estado deverá assegurar a existência de uma real igualdade de oportunidades, criando escolas,
hospitais e outros serviços públicos para que os mais desfavorecidos não sejam prejudicados
pela sua falta de recursos. Para implementar estes apoios, o Estado deve cobrar elevados
impostos aos mais ricos.
A intervenção do Estado na distribuição de riqueza e de oportunidades visa evitar que as pessoas
sejam vítimas da
lotaria social
lotaria natural
É uma questão de sorte e não de mérito, nascer numa família de classe social elevada ou ser
muito ágil.
Seria injusto abandonar à sua sorte as pessoas que tiveram azar numa das lotarias ou em ambas.
Mesmo pessoas sem mérito moral (preguiçosas ou irresponsáveis) merecem ser ajudadas.
As pessoas mais talentosas têm o direito de beneficiar, do ponto de vista social e económico, do
seu talento, mas devem também partilhar os seus proventos e contribuir para melhorar a vida
dos mais desafortunados. impostos.
CRÍTICAS A RAWLS
OBJEÇÕES
O princípio da diferença conduzir à desresponsabilização ou forçar os que trabalham a financiar
os que não trabalham são objeções que não levam necessariamente à rejeição da teoria de
Rawls.
Mas outras objeções são muito difíceis de compatibilizar com a teoria de Rawls, como é o caso
das críticas de:
Robert Nozick
Michael Sandel
As críticas à teoria da justiça de Rawls
NOZICK
Direito à liberdade e à propriedade
Para Nozick, existem direitos absolutos e invioláveis: o direito à liberdade e o direito à
propriedade.
Uma pessoa tem direito ao que adquiriu legitimamente e a justiça consiste em poder controlar e
dispor como bem entende das suas legítimas aquisições.
Cada um de nós tem direito ao que herdou, recebeu ou ganhou de modo legítimo.
A justiça social consiste nessa titularidade legítima.
Os impostos são uma apropriação indevida de rendimentos, o equivalente a trabalho forçado.
OBJEÇÕES À JUSTIÇA COMO EQUIDADE de Rawls
A distribuição de riqueza defendida por Rawls:
• promove a desresponsabilização dos que são apoiados pelo Estado;
• é injusta por obrigar os empenhados e cumpridores a financiar os que escolheram não se
esforçar e viver dos apoios do Estado.
A cobrança de impostos (para financiar as funções sociais do Estado e o apoio aos mais
desfavorecidos) constitui uma violação do direito à liberdade e do direito à propriedade.
É moralmente errado o Estado forçar uma pessoa a partilhar com outros os bens que adquiriu de
forma legítima.
Para Nozick, a cobrança de impostos significa uma instrumentalização das pessoas, ou seja, usá-
las como meios e não como fins, desrespeitando a sua dignidade.
As grandes desigualdades não são injustas.
Uma sociedade justa, que põe a liberdade individual em primeiro lugar e respeita os diretos de
propriedade legítimos, não impõe qualquer limite legal aos níveis de desigualdade económica
nela presentes.
Proporcionar liberdade às pessoas implica que não se pode impor restrições às posses
individuais de propriedade.
Nozick alega que a implementação das ideias de Rawls – que tem uma conceção padronizada
de justiça - implica uma intervenção constante do Estado na sociedade e na vida das
pessoas, o que limita ainda mais a liberdade
Isto sucede porque as escolhas livres das pessoas alteram os padrões estabelecidos pelo Estado
e, portanto, este tem de intervir constantemente para repor os padrões pretendidos.
Segundo Nozick, mesmo que, num certo momento, uma sociedade estivesse de acordo com os
padrões de justiça que Rawls propõe, manter esses padrões distributivos exigiria uma
intervenção constante do Estado através de tributações.
Nozick alega que a implementação das ideias de Rawls – que tem uma conceção padronizada
de justiça - implica uma intervenção constante do Estado na sociedade e na vida das
pessoas, o que limita ainda mais a liberdade
Isto sucede porque as escolhas livres das pessoas alteram os padrões estabelecidos pelo Estado
e, portanto, este tem de intervir constantemente para repor os padrões pretendidos.
Segundo Nozick, mesmo que, num certo momento, uma sociedade estivesse de acordo com os
padrões de justiça que Rawls propõe, manter esses padrões distributivos exigiria uma
intervenção constante do Estado através de tributações.
Uma vez dado o rendimento e a riqueza às pessoas segundo o princípio da diferença, algumas
gastá-los-ão, outras obterão mais, e assim a sociedade acaba por se afastar do princípio da
diferença. Quebrando o padrão.
Para que o padrão inicial seja reposto, a riqueza terá de ser redistribuída, o Estado terá de
intervir através de meios como a cobrança de impostos.
Estado mínimo
• Segundo Nozick, deve existir apenas um Estado mínimo. Este deve garantir os direitos
individuais dos cidadãos e a sua segurança em relação a ameaças externas e internas.
• O Estado deve cobrar apenas os impostos necessários para pagar esses serviços (polícia,
tribunais, exército…) e não para redistribuir a riqueza, ou seja, não deve obrigar os mais
favorecidos a pagar impostos destinados a apoiar os mais necessitados (pobres, doentes,
idosos, jovens, pessoas com limitações físicas e mentais). O Estado não deve ter
funções sociais.
• Defende um Estado mínimo que fomente a competição e a iniciativa individual,
limitando-se a assegurar as liberdades políticas e a proteger uns cidadãos da violência
de outros.
• Os libertaristas defendem um Estado mínimo cuja função é simplesmente a de defender
a vida, a segurança e a propriedade dos membros da sociedade e não a de redistribuir a
riqueza produzida.
• Qualquer intervenção do Estado na vida económica para regular a distribuição da
riqueza é uma violação dos direitos dos indivíduos.
A crítica comunitarista de Michael Sandel
Sandel concorda com muitas ideias de Rawls, nomeadamente com algumas que estão
envolvidas nos princípios da justiça. A sua crítica incide, sobretudo, no procedimento adotado
por Rawls para alcançar esses resultados.
No comunitarismo defende-se uma tese social sobre o ser humano, de acordo com a qual os
indivíduos não existem de forma isolada (noção de ser humano abstrata e individualista), mas
sim existem no seio das suas relações e interações sociais, em comunidade (daí a designação de
comunitarismo).
Podemos ver-nos como eus independentes, […] no sentido em que a nossa identidade nunca
está ligada aos nossos propósitos e afetos? Penso que não. […] As pessoas particulares que
somos são inseparáveis de uma certa família, comunidade, nação ou povo, de uma história e de
uma república de que são cidadãs. Lealdades como estas são mais do que valores que me
acontece ter. […] Lealdades como estas permitem que eu tenha mais deveres para com algumas
pessoas do que a justiça requer […], não pela razão de ter feito acordos, mas em virtude dos
[…] afetos e compromissos mais ou menos duradouros que, tomados em conjunto, definem
parcialmente a pessoa que sou.
M. Sandel, «The Procedural Republic and the Unencumbered Self», in R. Goodin (org.),
Contemporary Political Philosophy: An Anthology, Oxford, Blackwell, 2.ª ed., 2006, p. 244.
(Texto adaptado)
Este filósofo aceita muitas das ideias defendidas por John Rawls. No entanto, concordando
com as ideias, critica o procedimento usado e a justificação apresentada por Rawls.
Para Sandel, a posição original e o véu de ignorância não permitem determinar o que é uma
sociedade justa.
Rawls reflete sobre a justiça abstraindo-se das particularidades de cada pessoa para chegar a
conclusões imparciais, sem interesses pessoais envolvidos.
Sandel considera que abstrair as particularidades das pessoas não é possível nem desejável.
Somos seres profundamente comunitários: vivemos numa certa sociedade e fazemos parte de
vários grupos mais específicos.
“Eus” situados
A teoria de Sandel é considerada como comunitarista por este filósofo valorizar a importância
moral e política da comunidade.
Para Sandel, somos seres profundamente comunitários. Pertencendo a uma família e a um
determinado país, são-nos transmitidos valores e normas morais.
Somos eus situados e socialmente enraizados. Somos livres, mas somos também condicionados
pelos valores e normas morais da comunidade.
Por isso, Sandel discorda do conceito de liberdade de Rawls e da primazia que é dada ao
princípio da liberdade.
Nos grupos sociais de que a pessoa faz parte formam-se laços muito importantes.
Se, como pretendia Rawls, nos abstrairmos desses laços, não ficaremos com uma pessoa real,
mas com uma abstração vazia uma pessoa fictícia que nada nos poderá ensinar sobre a justiça.
«Eus situados»
Somos seres profundamente comunitários: vivemos numa certa sociedade e fazemos parte de
vários grupos mais específicos, como é o caso da família, partidos políticos, congregações
religiosas, clubes desportivos, etc.
A nacionalidade e a religião, por exemplo são parte essencial do que uma pessoa é e contribuem
para definir a sua identidade.
O bem e o justo
O BEM TEM PRIORIDADE SOBRE O JUSTO
• Sandel discorda de que o justo tenha prioridade sobre o bem, como defendeu Rawls.
• Pelo contrário, o bem tem prioridade sobre o justo.
Porque é com base no bem, diz Sandel, que podemos avaliar se as escolhas que fazemos
são justas ou injustas.
E O QUE É O BEM?
• Para Sandel, o bem é a vida boa.
• O conceito de vida boa remonta a Aristóteles: é a possibilidade de desenvolver as
capacidades próprias de seres racionais e sociais.
• O ser humano não se realiza vivendo uma vida privada – alguém que vive apenas para a
família e a profissão, não tem uma vida boa.
VIDA BOA
A vida boa só é alcançável na convivência com os outros, porque isso permite desenvolver as
capacidades próprias dos seres racionais, por exemplo:
a reflexão crítica
o debate público
a entreajuda
a participação na vida política
a participação na vida cívica
A pertença a esses grupos como a família e a nação, faz-nos receber uma certa herança cultural,
onde se incluem valores e normas morais. Estes não foram escolhidos por nós, ainda assim
condicionam-nos.
Por exemplo, quando nascemos já existia na nossa sociedade a instituição do casamento
monogâmico e valores como a fidelidade matrimonial que influenciam muitas das nossas ações.
De acordo com Sandel, somos livres mas não independentes em relação à comunidade. Somos
«eus» situados e socialmente enraizados.
O que somos é inseparável dessa pertença comunitária.
Sandel argumenta que:
a avaliação dos princípios da justiça é uma escolha moral. Mas, com o véu de ignorância de
Rawls, tais escolhas são realizadas de forma egoísta, pois as partes, na posição original, só se
preocupam individualmente em maximizar a sua situação e em não ficarem na pior situação
possível.
Sem referentes morais, os indivíduos não saberiam o que é “bom” nem o que é “justo”. Apenas
estariam preocupados em acautelar a sua situação pessoal, dado que há sempre a hipótese de
sofrerem os azares da lotaria social e natural.
Contudo, as escolhas morais também devem decorrer de laços comunitários que nos moldam e
onde temos as nossas raízes.