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3 Ética Moral
3 Ética Moral
A ética, ou filosofia moral é a área da Filosofia que se dedica aos problemas relacionados com o
modo como devemos viver as nossas vidas.
A necessidade de fundamentação da moral
O que faz uma ação ser correta? Ou seja, qual é o critério da ação correta?
Trata-se de saber que caraterísticas fazem uma ação ser correta e outra incorreta.
De que depende o estatuto moral das ações? (Duas perspetivas éticas)
Introdução
A teoria utilitarista foi explicitamente desenvolvida a partir do século XVIII por Jeremy
Bentham.
Mas foi no século XIX que John Stuart Mill lhe deu nova vida, sendo hoje uma das teorias
éticas mais estudadas.
A tese principal defendida pelo utilitarismo é o Princípio da Maior Felicidade.
A ética de Stuart Mill
UTILITARISMO
A imparcialidade
A utilidade (ou felicidade) é o critério ético que permite justificar se uma ação é correta
ou é incorreta. Esta felicidade é a felicidade de quem? Será a do agente da ação?
Hedonismo qualitativo:
Mill argumenta que um juiz competente, o qual tem experiência dos dois tipos de
prazeres (intelectuais e corporais), não trocaria a oportunidade de fruir dos prazeres
superiores por nenhuma quantidade de prazeres inferiores.
Por exemplo, ainda que os prazeres de um porco fossem mais intensos e duradouros do
que os de um ser humano, os de um ser humano seriam preferíveis aos de um porco,
pois o porco apenas pode ter prazeres inferiores.
“É preferível ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito.”
(3) Há ações que é sempre errado realizar e há ações que é sempre correto realizar,
independentemente de as consequências serem sempre positivas ou negativas.
(4) Não é consequencialista. As consequências das ações não são critério de distinção do
certo e do errado.
(5) Há deveres morais absolutos. Estes devem ser cumpridos incondicionalmente e são
valdos para todos os seres racionais, quer os humanos quer os outros que possam existir.
A RAZÃO
Como saber quais são as ações que constituem um dever moral?
Como justificar o caráter absoluto e incondicional dos deveres?
Kant responde graças à razão. Somos seres racionais e deve ser a razão a dizer o que está certo e
o que está errado.
RAZÃO = CAPACIDADE DE PENSAR.
A moralidade é um assunto racional. Os sentimentos, as convenções sociais, a religião e
qualquer outro fator exterior à razão não têm nenhum papel a desempenhar na moralidade.
Como podemos saber qual é o nosso dever em cada situação da vida?
A teoria de Kant baseia-se na ideia de que há imperativos categóricos, sendo uma ação correta
unicamente quando os cumprimos.
IMPERATIVO CATEGÓRICO
Todos os seres racionais são capazes de compreender e aplicar um princípio ético – o
imperativo categórico (ou lei moral).
É o princípio supremo da moralidade – é o critério que permite distinguir as ações
moralmente corretas das ações moralmente incorretas.
Deveres derivados do imperativo categórico são também incondicionais e absolutos.
A RAZÃO É A FONTE DO IMPERATIVO CATEGÓRICO!
Regra das regras - O imperativo categórico é como um teste:
• as ações aprovadas no teste devem ser feitas;
• as ações não aprovadas no teste não devem ser feitas.
Kant formula o imperativo categórico de vários modos, afirmando que a sua aplicação leva-nos
a aceitar ou rejeitar as mesmas ações.
Kant formula o imperativo categórico de diversas formas para determinar quais são os nossos
deveres.
(1) A fórmula da lei universal.
(2) A fórmula do fim em si.
Ainda que nos pareçam muito diferentes, para Kant são apenas maneiras distintas de exprimir a
mesma ideia.
Uma ação é moralmente correta se, e só se, não infringe as regras morais corretas.
As regras morais corretas são aquelas que passam no teste do imperativo categórico; assim, as
regras morais corretas são:
(1) aquelas que podemos querer que sejam adotadas universalmente (fórmula da lei
universal);
(2) aquelas que nos levam a tratar as pessoas como fins, e não como meros meios. (fórmula
do fim em si).
A fórmula da lei universal
A sua formulação é a seguinte:
Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma
lei universal
A ideia é que devemos agir apenas de acordo com regras (máximas) que podemos querer que
todos os agentes adotem.
Consiste em mostrar se é ou não possível todos agirem segundo essa regra (máxima).
Teste do imperativo categórico (da lei universal)
Que regra (máxima) estamos a seguir se realizarmos esta ação?
Estamos dispostos a que essa regra (máxima) seja seguida por todos e em todas as situações?
Ou seja, é possível todos agirem segundo essa regra?
Ex: A Joana é dona de um hotel que nunca engana os clientes, fazendo sempre um preço justo.
Ela faz isso não por interesse (para não perder os clientes), mas simplesmente por dever de ser
honesta.
Será que este exemplo passa no teste do imperativo categórico?
Sim. Porque a máxima é “venderás sempre a um preço justo, porque é um dever ser honesto”.
Essa regra (máxima) torna-se lei universal e, consequentemente, o ato é moralmente
permissível.
E é possível todos agirmos segundo essa máxima e queremos que todos obedeçam a essa
máxima.
Ex: Um Homem em apuros que decide pedir dinheiro emprestado, prometendo restituir o
dinheiro, mas não tem a intenção de o devolver.
Será que este exemplo passa no teste do imperativo categórico?
Não. Porque a máxima é “faz promessas com a intenção de as não cumprires”.
E esta máxima não poderia tornar-se lei universal; pois, se todos fizessem promessas com a
intenção de as não cumprirem, a própria prática de fazer promessas desapareceria (uma vez
que esta baseia-se na confiança entre as pessoas).
Ex. O António mente ao Joel sobre uma traição da sua namorada Benedita, pois, não quer que o
Joel sofra (tem assim compaixão por ele).
Acontece que o Joel passa a andar traído sem o saber.
Será que este exemplo passa no teste do imperativo categórico?
Não. Porque a máxima é “mentirás porque tens compaixão”. E não poderíamos querer que a
mentira fosse uma lei universal, pois isso derrotar-se-ia a si mesmo: as pessoas descobririam
rapidamente que não podiam confiar no que os outros disseram, e por isso ninguém acreditaria
nas mentiras.
Outra das formulações do imperativo categórico
A FÓRMULA DO FIM EM SI / Fórmula da Humanidade
Como tratamos os outros quando cumprimos o Dever?
A sua formulação é a seguinte:
Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa de qualquer
outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio.
Kant afirma que é incorreto instrumentalizar as pessoas, ou seja, usá-las como simples meios
para atingir os nossos fins.
Para respeitar as pessoas, devemos tratá-las sempre como fins em si e não como meros
instrumentos que estejam ao serviço dos nossos planos.
As pessoas são agentes livres com capacidade para tomar as suas próprias decisões, estabelecer
os seus próprios objetivos e guiar a sua conduta pela razão.
(Dar esmola a um pobre para que outros pensem bem de nós. É usar a pessoa pobre como um
meio para se obter prestígio social)
As pessoas são seres racionais, e tratá-las como fim em si significa respeitar a sua racionalidade.
Assim, nunca poderemos manipular as pessoas, ou usá-las para alcançar os nossos objetivos.
Segundo a fórmula do fim em si, não é errado tratar as pessoas como meios – é errada tratá-las
como simples meios (desrespeitando a autonomia e a racionalidade das pessoas).
A BOA VONTADE
Boa vontade:
Questões
3. Qual é a única coisa boa em si mesma, segundo Kant? Porquê?
4. O que é a vontade boa, segundo Kant?
5. Kant pensava que a vontade só é boa quando é inteiramente dirigida pelo quê?
6. Que relação estabelece Kant entre a vontade boa e a felicidade?
Respostas
3. A vontade boa porque é a única coisa que não é usada para o mal.
4. A vontade boa é a vontade de cumprir sempre o dever. É uma vontade que é
inteiramente dirigida pela racionalidade e por isso quer cumprir sempre o
dever.
5. Pela racionalidade.
6. Só é digno de ser feliz quem tiver uma vontade boa.
Mas, no que se baseiam as ações realizadas por dever?
Na razão... Quando agimos por dever estamos a agir racionalmente.
Ou seja, agir por dever implica fazer aquilo que é correto tendo como único motivo ou
intenção obedecer à lei moral que a razão impõe.
Pelo contrário, quando agimos por outros motivos (inclinações) estamos a agir em
função de desejos não racionais. (Desejos esses que tiram todo o valor moral às nossas
ações).
Importância das intenções e das máximas
Se a boa vontade é bem último, na avaliação moral das ações a única coisa que interessa
são as intenções dos agentes e não as consequências.
Por sua vez, as nossas intenções expressam-se através de máximas (como p.e. "devemos
ser honestos").
As máximas são regras ou princípios que nos indicam a intenção dos agentes.
Kant considera que quando agimos estamos a seguir uma máxima. As máximas
traduzem-se em imperativos que seguimos quando agimos, como, por exemplo:
• Não mintas, se não quiseres perder a credibilidade;
• Não copies no exame, se correres o risco de ser apanhado;
• Ajuda os amigos em necessidade;
• Cumpre as tuas promessas.
Deveres perfeitos e deveres imperfeitos
De acordo com a perspetiva kantiana nós temos o dever de ajudar os outros. Mas é
preciso notar que Kant considera que este dever não é tão importante quanto o dever de
não prejudicar os outros, de não os enganar e de não violar os seus direitos.
Kant afirma que alguém que não ajuda os outros é, ainda assim, preferível a alguém que
ocasionalmente ajuda os outros, mas que noutras circunstâncias os prejudica.
Agir por dever implica o cumprimento de deveres morais: deveres para connosco
próprios e deveres para com os outros.
Os deveres perfeitos não admitem qualquer exceção, devem ser observados em
toda e qualquer circunstância (respeito total pelos deveres fundamentais das
pessoas (direito à vida, à liberdade, à integridade física e psicológica, entre
outros).
Têm um caráter negativo: são proibições morais absolutas (“Não mates!” “Não
tortures inocentes!”; “Não mintas!”; etc.)
Os deveres imperfeitos têm um caráter positivo: diz-nos que há fins obrigatórios
de beneficência.
Os deveres perfeitos têm prioridade sobre os deveres imperfeitos.
(é sempre errado cumprir um dever imperfeito, se ao fazê-lo violar um dever perfeito)
Do ponto de vista de Kant, os imperativos categóricos são acessíveis a qualquer ser
racional: basta usar a razão para os descobrir.
Porquê?
Porque são imposições da própria razão e não imposições exteriores a ela.
Assim, quando agimos corretamente, estamos a agir racionalmente.
Quando agimos em função das nossas inclinações (por medo ou pena, por exemplo), as
nossas ações não são moralmente corretas.
(Kant diz que ocorre uma heteronomia da vontade: a vontade deixa-se determinar por
algo exterior)
OBJEÇÕES À ÉTICA DE IMMANUEL KANT
Conflito de deveres
Segundo esta objeção, existem casos em que há deveres incompatíveis (conflito de
deveres).
Se os deveres em causa forem todos absolutos, não sabemos o que fazer, qual deles
seguir.
O imperativo categórico é consequencialista
Segundo esta objeção, ao contrário do que Kant pretendia, o único modo plausível de
entender o imperativo categórico é consequencialista: averiguar se uma máxima é ou
não universalizável é analisar se as consequências de todas as pessoas agirem do mesmo
modo, em circunstâncias semelhantes, são boas ou más.
É errado negar a importância moral dos sentimentos
Segundo esta objeção, alguns sentimentos são muito importantes para a vida humana e
têm caráter moral. É habitual considerar que a amizade ou o amor, por exemplo, são
sentimentos moralmente bons. Não é correto eliminá-los da esfera ética, negando a sua
importância moral.
Atenção!
Estas são apenas
três de várias objeções
possíveis à ética
de Kant.
CONFLITOS DE DEVERES
A ideia de que temos deveres absolutos levanta um outro problema: e se estes entrarem
em conflito?
Kant diz-nos que temos deveres absolutos. Ora, isso significa que nunca é permissível
fazer o que estes deveres proíbem (por ex. roubar, enganar, etc.).
Contudo podemos imaginar situações nas quais esses deveres entram em conflito.
Mas, se ambos os deveres são absolutos, somos conduzidos a um conflito irresolúvel
entre eles, sem ter nenhuma forma de os hierarquizar e de estabelecer uma prioridade
entre eles.
Ex. É incorreto mentir a um assassino? M. J. Sandel, Justiça. Fazemos o que devemos?,
Presença, 2011, pp. 141-142.
Cumprir um dever pode implicar não cumprir o outro. Se cumprirmos o dever de não
mentir, não cumprimos o dever de não contribuir para a morte de inocentes – e vice-
versa. Como sair deste impasse?
ANÁLISE COMPARATIVA