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Patrocinio infiel da causa
Patrocinio infiel da causa
RELATÓRIO
DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
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GRECCO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume III. 14a ed. Niterói, RJ: Impetus, 2017.
Pág. 1.072)
No mesmo sentido, é o que expõem o art. 17 do CED (Código de Ética
e Disciplina da OAB:
Art. 17. Os advogados integrantes da mesma sociedade
profissional, ou reunidos em caráter permanente para
cooperação recíproca, não podem representar em juízo
clientes com interesses opostos.
Se a causa demandada implicar em gerar obrigação indevida – ou ainda
– causar prejuízo de ordem moral e/ou material ao patrocinado, em decorrência
de falta zelo ou de imperícia, imprudência ou negligência, o mesmo falta com o
dever ético exigido pela profissão se não se abstém de propor lide temerária e
ainda encoraja cliente para tanto ao invés de orientar ou aconselhar da forma
correta, conforme disposto no art. 20 do CED:
Art. 20. O advogado deve abster-se de patrocinar causa
contrária à ética, à moral ou à validade de ato jurídico em
que tenha colaborado, orientado ou conhecido em consulta;
da mesma forma, deve declinar seu impedimento ético
quando tenha sido convidado pela outra parte, se esta lhe
houver revelado segredos ou obtido seu parecer.
Nesse sentido o art. 34 do EAOAB enumerou os vários tipos de infração
ético-disciplinar, sendo o rol taxativo. A perda da idoneidade moral do advogado
é previsto no inciso XXVII como causa de propositura de Processo Ético
Disciplinar, dispondo da seguinte forma:
XXVII - tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da
advocacia;
A violação ao disposto no rol do art. 34 do EAOAB, prevê em seu art. 35,
incisos I ao IV, punições de acordo com a gradação e a quantidade de infrações
ético-disciplinares cometidas pelo advogado, a saber:
Art. 35. As sanções disciplinares consistem em:
I - censura;
II - suspensão;
III - exclusão;
IV - multa.
Neste caso, havendo perda da idoneidade moral, ocorre a pena de
exclusão dos quadros da OAB, conforme disposto no art. 38, inciso II:
Art. 38. A exclusão é aplicável nos casos de:
[...];
II - infrações definidas nos incisos XXVI a XXVIII do art. 34.
Como patrocínio infiel da causa não é considerado crime infamante, mas
conduta que demanda traição da confiança, somente o cliente/outorgante pode
representar contra o advogado se este for vítima da conduta do seu patrono
constituído.
Não sendo o cliente o prejudicado, mas sim terceiro ou de sua família,
ainda que exclusivamente por decorrência da atividade profissional, mesmo que
esteja caracterizado o delito acima descrito, ocorre apenas infração ético-
disciplinar, devendo neste sentido ser aplicável os dispostos nos incisos VI, XIV,
XVII, XX, XIV e XV do art. 34 do EAOAB:
Art. 34. Constitui infração disciplinar:
[...];
VI - advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se
a boa-fé quando fundamentado na inconstitucionalidade, na
injustiça da lei ou em pronunciamento judicial anterior;
[...];
XIV - deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação
doutrinária ou de julgado, bem como de depoimentos,
documentos e alegações da parte contrária, para confundir
o adversário ou iludir o juiz da causa;
[...];
XVII - prestar concurso a clientes ou a terceiros para
realização de ato contrário à lei ou destinado a fraudá-la;
[...];
XX - locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou
da parte adversa, por si ou interposta pessoa;
[...];
XXIV - incidir em erros reiterados que evidenciem inépcia
profissional;
[...];
XXVII - tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da
advocacia;
Quando se propõem ação ou desarquiva autos já encerrados, com intuito
meramente de criar embaraço ou deturpar a aplicação da lei, com vistas a gerar
obrigação indevida, pratica o advogado o tipo previsto no inciso VI do art. 34 do
EAOAB, uma vez que advoga contra literal disposição de lei em relação à coisa
julgada material prevista no art. 503 do CPC:
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito
tem força de lei nos limites da questão principal
expressamente decidida.
Quando se propõem ação com intuito meramente de causar embaraço
ou dispêndio desnecessário a uma das partes, bem como causar prejuízo a
terceiros, sabendo que a disposição em lei ou em julgados, ou depoimentos em
outros processos indiquem o contrário, pratica o advogado o tipo previsto no
inciso XIV do art. 34 do EAOAB, uma vez que ao colacionar em autos de
processo relatos inverídicos ou trechos de decisões que apenas interessam sem
se ater a sua integralidade, meramente para induzir a erro a parte contrária ou
juízo da causa, está cometendo litigância de má-fé por deduzir pretensão ou
defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso, bem como alteração
da verdade dos fatos, prevista no art. 80, incisos I e II do CPC:
Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei
ou fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
Quando se propõem ação em conluio com a outra parte contrária e
atuando em concurso as partes opostas, com vistas a fraudar a aplicação da lei
(a conhecida ‘casadinha’ na Justiça do Trabalho), pratica o advogado o tipo
previsto no inciso XVII do art. 34 do EAOAB, uma vez que age de má-fé ao
simular situação com vistas a prejudicar terceiros de boa-fé, bem como se eximir
ou gerar obrigação indevida, sendo o caso até de responder por crime de
falsidade ideológica prevista no art. :
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular,
declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o
documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa,
se o documento é particular.
Quando se propõem ação temerária com intuito de obter vantagem
indevida às custas do cliente, criando obrigações onerosamente excessivas a
ponto de gerar insolvência ou de angariar ou adjudicar patrimônio do cliente a
ponto de reduzi-lo à miserabilidade, pratica o advogado o tipo previsto no inciso
XX do art. 34 do EAOAB, pois neste sentido, se o patrono se enriquece às custas
do patrimônio do próprio cliente, como por exemplo – tomando posse de cartões
de crédito e débito a qual o mesmo recebe proventos ou remunerações para a
sua subsistência – sendo ele ou Pessoa com Deficiência amparada pelo Estatuto
da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015), ou Pessoa Idosa amparada
pelo Estatuto da Pessoa Idosa (Lei n. 10.741/2003), comete os crimes previstos
no art. 91 do Estatuto da Pessoa com Deficiência e no art. 102 do Estatuto da
Pessoa Idosa:
Lei nº 13.146 de 06 de julho de 2015
Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio
eletrônico ou documento de pessoa com deficiência
destinados ao recebimento de benefícios, proventos,
pensões ou remuneração ou à realização de operações
financeiras, com o fim de obter vantagem indevida para si
ou para outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Lei nº 10.741 de 01 de outubro de 2003
Dispõe sobre o Estatuto da Pessoa Idosa e dá outras
providências. (Redação dada pela Lei nº 13.423, de 2022)
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos,
pensão ou qualquer outro rendimento da pessoa idosa,
dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
(Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.