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PARECER JURÍDICO

EMENTA: VIOLAÇÃO AO CÓDIGO DE ÉTICA E AO ESTATUTO DA ORDEM


DOS ADVOGADOS – CONFLITO DE INTERESES – PATRONAS DA
PARTE CONTRÁRIA QUE ADVOGAM PARA SÓCIO DE EMPRESA
E PARA CREDORA DA SOCIEDADE EM POLOS DISTINTOS –
INCIDÊNCIA AO ART. 34, INCISOS VI, XIV, XVII, XX, XXIV E XXVII,
C.C. ART. 355 DO CP.
CLIENTE: MAXMA ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPACOES IMOBILIARIAS S.A.
CNPJ n. 10.585.931/0001-52.
DATA: 3 de outubro de 2022.

RELATÓRIO

Trata-se de consulta a respeito sobre atuação de escritório de advocacia


que representa duas partes em ações judiciais distintas promovidas contra a
consulente, a saber: Ação de Reintegração de Posse – MAXMA
ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES X MARIA CARPINTERO OLIVA - (Proc.
n. 1042902-44.2020.8.26.0100); Ação de Cobrança – MARIA CARPINTERO
OLIVA X MAXMA PONTO PRONTO - (Proc. n. 1010806-75.2017.8.26.0004);
Ação de Cobrança – MARIA CARPINTERO OLIVA X E-MAXMA - (Proc. n.
1080836-41.2017.8.26.0100); Ação de Extinção de Condomínio - MANUEL V.
VILLAVERDE X MARIA CARPINTERO OLIVA - (Proc. n. 1128123-
63.2018.8.26.0100); Ação de Cobrança – MARIA CARPINTERO OLIVA X
MAXMA ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES IMOBILIARIAS - (Proc. n.
1080843-33.2017.8.26.0100); Ação Rito Ordinário – Suspensão de Realização
de AGO – MARIA CARPINTERO OLIVA X MAXMA ADMINISTRAÇÃO E
PARTICIPAÇÕES IMOBILIARIAS - (Proc. n. 1070941-51.2020.8.26.0100); Ação
de Extinção de Condomínio - MANUEL V. VILLAVERDE X MARIA
CARPINTERO OLIVA - (Proc. n. 1012265-03.2018.8.26.0223); Ação de Divórcio
Consensual - MANUEL V. VILLAVERDE X MARIA CARPINTERO OLIVA - (Proc.
n. 0604976-42.1993.8.26.0100); Ação de Internação Compulsória – MANUEL V.
VILLAVERDE X PAULO V. CARPINTERO VILLAVERDE – (Proc. n. 1031428-
13.2019.8.26.0100); Ação de Dissolução Parcial de Sociedade Empresarial –
PAULO V. CARPINTERO VILLAVERDE X MAXMA ADMINISTRAÇÃO E
PARTICIPAÇÕES IMOBILIARIAS – (Proc. n. 1011512-24.2018.8.26.0004);
Ação de Prestação de Contas – MARIA CARPINTERO OLIVA X ANDRÉ V.
CARPINTERO (Proc. n. 1116030-68.2018.8.26.0100); Ação de Exigir Contas -
PAULO V. CARPINTERO VILLAVERDE X STEIN, PINHEIRO E CAMPOS
ADVOGADAS - (Proc. n. 1007160-84.2022.8.26.0100); Ação de
Regulamentação de Visitas – ANDRÉ V. CARPINTERO X MARIA
CARPINTERO OLIVA – (Proc. n. 1121763-44.2020.8.26.0100); Ação de
Produção Antecipada de Provas - PAULO V. CARPINTERO VILLAVERDE X
MAXMA ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES IMOBILIARIAS – (Proc. n.
1010377-11.2017.8.26.0004); Ação de Interdição – MANUEL V. VILLAVERDE X
PAULO V. CARPINTERO VILLAVERDE (Proc. n. 1004471-04.2021.8.26.0100).

Consta que a consulente MAXMA é parte demandada nas ações acima


descritas, em que consta o escritório STEIN, PINHEIRO E CAMPOS
ADVOGADAS ASSOCIADAS como patronas das causas movidas contra a
consulente e suas demais empresas (spin-off).

Não obstante, embora as causas movidas sejam distintas uma das


outras, ainda existem litígios que envolvem sociedade a qual o sócio que
representam na ação de dissolução parcial de sociedade é também demandado
em ações de cobrança, de reintegração de posse e de prestação de contas.

Porém, como o referido escritório atua em várias frentes, sendo que o


sócio retirante também é demandado em sede de ações cognitivas propostas
por sua genitora que também detinha parte do capital social e integrava como
diretora da empresa à época dos litígios, independentemente do contexto, as
advogadas propuseram uma série de ações temerárias que causaram prejuízos
patrimoniais a consulente, inclusive com despesas não contabilizadas através
de contratos de prestação de serviços advocatícios que se encontram
inacessíveis.
Diante dessas informações, questiona a consulente os seguintes pontos:
1. Se existe algum conflito de interesses por parte da atuação do escritório
que representa tanto o sócio retirante da MAXMA (PAULO) quanto a
genitora credora da sociedade demandada;
2. Se a representação das advogadas é nula de pleno direito em caso
positivo do primeiro questionamento;
3. Quais as medidas cabíveis que devem ser adotadas contra o escritório de
advocacia, em caso positivo do segundo questionamento.
Foram fornecidos como documentos pela consulente para analise, todos
os processos acima listados, o qual dispensa a sua relação neste parágrafo.
Em face das informações prestadas e os respectivos questionamentos,
é que passo a seguinte fundamentação.

DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

Inicialmente, cabe apontar que a legislação que regula a profissão de


advogado é a Lei n. 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados
do Brasil), que em seu art. 1º, incisos I e II, diz o seguinte texto:
Art. 1º São atividades privativas de advocacia:
I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos
juizados especiais; (Vide ADIN 1.127-8)
II - as atividades de consultoria, assessoria e direção
jurídicas.
Isso significa que por possuir regramento próprio, a atividade de
advogado deve obedecer aos limites legais impostos pelo legislador
infraconstitucional, conforme disposição do art. 5º, inciso XIII, da Constituição
Federal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XIII - e livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer;
Justamente por causa dessa limitação constitucional, a profissão de
advogado deve ser amparada também por um código de conduta ética que
estabelece direitos e deveres ao advogado, conforme disposição dos arts. 7º,
7º-A e 31, todos da Lei n. 8.906/94.
Neste caso, se o advogado procede de forma temerária e contrária a
ética profissional durante o seu exercício, o mesmo pode ser responsabilizado
por atos que prejudiquem terceiros se o fizer com dolo ou culpa, conforme
disposição do art. 32 do EAOAB:
Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no
exercício profissional, praticar com dolo ou culpa.
Além disso, se o advogado comete uma série de crimes tipificados no
Código Penal, o mesmo perde a condição de idoneidade moral exigida para a
sua inscrição nos quadros da OAB, conforme exigência do art. 8º, inciso VI, do
EAOAB:
Art. 8º Para inscrição como advogado é necessário:
[...];
VI - idoneidade moral;
A atuação de advogado em causas que versem as mesmas partes em
polos distintos, seja como patrono da parte autora, seja como patrono da parte
ré, é considerado como patrocínio infiel da causa, tipificado no art. 355, caput,
do Código Penal, que diz o seguinte:
Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o
dever profissional, prejudicando interesse, cujo patrocínio,
em juízo, lhe é confiado:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Nesse sentido, o Prof. ROGÉRIO GRECCO (2017, pág. 1.072) leciona
da seguinte forma:
Existe uma relação de confiança entre o cliente e seu
advogado. Muitas vezes, fatos graves, que se encontravam
ocultos, são confessados ao advogado na esperança de
serem por ele solucionados. A quebra dessa relação de
confiança poderá importar na prática da infração penal
prevista no art. 355 do estatuto repressivo, cujo tipo contém
os seguintes elementos: a) a conduta de trair, na qualidade
de advogado ou procurador, o dever profissional; b)
prejudicando interesse; c) cujo patrocínio, em juízo, lhe é
confiado1.
Entende-se como trair a confiança, a prática por parte do causídico que
demanda em ação judicial ou represente aquele que lhe outorga poderes, que
cause prejuízos de ordem moral e/ou material ao outorgante/representado, seja
com intenção de causar dolo, seja por decorrência de imprudência, imperícia ou
negligência, que são elementos caracterizadores da culpa do agente.
Mais grave que a conduta, é quando o interesse patrocinado é interesse
legitimo a qual o causador do dano sabia da possibilidade de insucesso ou de
sucesso da causa, mas ainda assim, não procedeu com o devido zelo ou cuidado
a qual deveria dispender em favor do seu outorgante.
Se a atuação de advogado/a é no sentido de patrocinar tanto causa em
que representa tanto réu quanto autor (a chamada tergiversação), mesmo que
em ações distintas mas com vistas a obtenção de vantagem de qualquer espécie
ou ainda de gerar obrigação indevida que cause prejuízo a um de seus
outorgantes, ainda assim fica caracterizado o patrocínio infiel da causa.
O Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil,
Seção São Paulo, em parecer que gerou a Ementa E-5.500/2021, dispõem da
seguinte forma:
PATROCÍNIO SIMULTÂNEO – CONFLITO DE INTERESSES –
LIMITES ÉTICOS.
O relacionamento entre cliente e advogado é pautado pela
lealdade e boa-fé, tratado minudentemente no Capítulo III,
artigos 9º a 26, do CED. A Classe Advocatícia tem papel
substancial na conciliação e na prevenção de conflitos de
interesses. Todavia, em caso de configurado conflito de
interesses é expressamente vedado o patrocínio,
instaurando-se um dever de optar por um dos mandatos ou
declinar da causa, conforme rezam os artigos 19 a 22, CED.
Portanto, não há impedimento ético para o patrocínio
simultâneo de causas e/ou interesses de mais de um
mandatário, por si só, desde que não sejam antagônicos.
Cabe ao profissional detida análise de conveniência e
oportunidade de tal patronato, à luz das circunstâncias e
dos elementos do caso, inclusive podendo optar por um dos
mandatos e renunciar aos demais, a qualquer tempo,
visando evitar conflito de interesses e possíveis prejuízos
aos clientes. Precedente E-2.117/00. Proc. E-5.500/2021 -
v.u., em 24/03/2021, parecer e ementa da Rel. Dra. REGINA
HELENA PICCOLO CARDIA, Rev. Dr. EDUARDO AUGUSTO
ALCKMIN JACOB - Presidente Dr. GUILHERME MARTINS
MALUFE.

1
GRECCO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume III. 14a ed. Niterói, RJ: Impetus, 2017.
Pág. 1.072)
No mesmo sentido, é o que expõem o art. 17 do CED (Código de Ética
e Disciplina da OAB:
Art. 17. Os advogados integrantes da mesma sociedade
profissional, ou reunidos em caráter permanente para
cooperação recíproca, não podem representar em juízo
clientes com interesses opostos.
Se a causa demandada implicar em gerar obrigação indevida – ou ainda
– causar prejuízo de ordem moral e/ou material ao patrocinado, em decorrência
de falta zelo ou de imperícia, imprudência ou negligência, o mesmo falta com o
dever ético exigido pela profissão se não se abstém de propor lide temerária e
ainda encoraja cliente para tanto ao invés de orientar ou aconselhar da forma
correta, conforme disposto no art. 20 do CED:
Art. 20. O advogado deve abster-se de patrocinar causa
contrária à ética, à moral ou à validade de ato jurídico em
que tenha colaborado, orientado ou conhecido em consulta;
da mesma forma, deve declinar seu impedimento ético
quando tenha sido convidado pela outra parte, se esta lhe
houver revelado segredos ou obtido seu parecer.
Nesse sentido o art. 34 do EAOAB enumerou os vários tipos de infração
ético-disciplinar, sendo o rol taxativo. A perda da idoneidade moral do advogado
é previsto no inciso XXVII como causa de propositura de Processo Ético
Disciplinar, dispondo da seguinte forma:
XXVII - tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da
advocacia;
A violação ao disposto no rol do art. 34 do EAOAB, prevê em seu art. 35,
incisos I ao IV, punições de acordo com a gradação e a quantidade de infrações
ético-disciplinares cometidas pelo advogado, a saber:
Art. 35. As sanções disciplinares consistem em:
I - censura;
II - suspensão;
III - exclusão;
IV - multa.
Neste caso, havendo perda da idoneidade moral, ocorre a pena de
exclusão dos quadros da OAB, conforme disposto no art. 38, inciso II:
Art. 38. A exclusão é aplicável nos casos de:
[...];
II - infrações definidas nos incisos XXVI a XXVIII do art. 34.
Como patrocínio infiel da causa não é considerado crime infamante, mas
conduta que demanda traição da confiança, somente o cliente/outorgante pode
representar contra o advogado se este for vítima da conduta do seu patrono
constituído.
Não sendo o cliente o prejudicado, mas sim terceiro ou de sua família,
ainda que exclusivamente por decorrência da atividade profissional, mesmo que
esteja caracterizado o delito acima descrito, ocorre apenas infração ético-
disciplinar, devendo neste sentido ser aplicável os dispostos nos incisos VI, XIV,
XVII, XX, XIV e XV do art. 34 do EAOAB:
Art. 34. Constitui infração disciplinar:
[...];
VI - advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se
a boa-fé quando fundamentado na inconstitucionalidade, na
injustiça da lei ou em pronunciamento judicial anterior;
[...];
XIV - deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação
doutrinária ou de julgado, bem como de depoimentos,
documentos e alegações da parte contrária, para confundir
o adversário ou iludir o juiz da causa;
[...];
XVII - prestar concurso a clientes ou a terceiros para
realização de ato contrário à lei ou destinado a fraudá-la;
[...];
XX - locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou
da parte adversa, por si ou interposta pessoa;
[...];
XXIV - incidir em erros reiterados que evidenciem inépcia
profissional;
[...];
XXVII - tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da
advocacia;
Quando se propõem ação ou desarquiva autos já encerrados, com intuito
meramente de criar embaraço ou deturpar a aplicação da lei, com vistas a gerar
obrigação indevida, pratica o advogado o tipo previsto no inciso VI do art. 34 do
EAOAB, uma vez que advoga contra literal disposição de lei em relação à coisa
julgada material prevista no art. 503 do CPC:
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito
tem força de lei nos limites da questão principal
expressamente decidida.
Quando se propõem ação com intuito meramente de causar embaraço
ou dispêndio desnecessário a uma das partes, bem como causar prejuízo a
terceiros, sabendo que a disposição em lei ou em julgados, ou depoimentos em
outros processos indiquem o contrário, pratica o advogado o tipo previsto no
inciso XIV do art. 34 do EAOAB, uma vez que ao colacionar em autos de
processo relatos inverídicos ou trechos de decisões que apenas interessam sem
se ater a sua integralidade, meramente para induzir a erro a parte contrária ou
juízo da causa, está cometendo litigância de má-fé por deduzir pretensão ou
defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso, bem como alteração
da verdade dos fatos, prevista no art. 80, incisos I e II do CPC:
Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei
ou fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
Quando se propõem ação em conluio com a outra parte contrária e
atuando em concurso as partes opostas, com vistas a fraudar a aplicação da lei
(a conhecida ‘casadinha’ na Justiça do Trabalho), pratica o advogado o tipo
previsto no inciso XVII do art. 34 do EAOAB, uma vez que age de má-fé ao
simular situação com vistas a prejudicar terceiros de boa-fé, bem como se eximir
ou gerar obrigação indevida, sendo o caso até de responder por crime de
falsidade ideológica prevista no art. :
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular,
declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o
documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa,
se o documento é particular.
Quando se propõem ação temerária com intuito de obter vantagem
indevida às custas do cliente, criando obrigações onerosamente excessivas a
ponto de gerar insolvência ou de angariar ou adjudicar patrimônio do cliente a
ponto de reduzi-lo à miserabilidade, pratica o advogado o tipo previsto no inciso
XX do art. 34 do EAOAB, pois neste sentido, se o patrono se enriquece às custas
do patrimônio do próprio cliente, como por exemplo – tomando posse de cartões
de crédito e débito a qual o mesmo recebe proventos ou remunerações para a
sua subsistência – sendo ele ou Pessoa com Deficiência amparada pelo Estatuto
da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015), ou Pessoa Idosa amparada
pelo Estatuto da Pessoa Idosa (Lei n. 10.741/2003), comete os crimes previstos
no art. 91 do Estatuto da Pessoa com Deficiência e no art. 102 do Estatuto da
Pessoa Idosa:
Lei nº 13.146 de 06 de julho de 2015
Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio
eletrônico ou documento de pessoa com deficiência
destinados ao recebimento de benefícios, proventos,
pensões ou remuneração ou à realização de operações
financeiras, com o fim de obter vantagem indevida para si
ou para outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Lei nº 10.741 de 01 de outubro de 2003
Dispõe sobre o Estatuto da Pessoa Idosa e dá outras
providências. (Redação dada pela Lei nº 13.423, de 2022)
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos,
pensão ou qualquer outro rendimento da pessoa idosa,
dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
(Redação dada pela Lei nº 14.423, de 2022)
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.

Quando se propõem ações infundadas e descabidas, com intuito de


gerar ou causar embaraço contra disposição expressa em lei, ou ainda com base
em interpretação errônea da lei, sendo as ações iguais ou similares, tanto quanto
ao pedido quanto na causa de pedir, pratica o advogado o tipo previsto no inciso
XXIV do art. 34 do EAOAB, uma vez que litiga de má-fé contra disposição legal,
conforme termos do art. 80, inciso I, do CPC:
Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei
ou fato incontroverso;
Quando se propõem diversas ações com intuito de causar gravame,
atuando o profissional contra disposição legal, bem como busca por todos os
meios obter vantagem indevida, usando a profissão para cometer ilegalidades,
pratica o advogado o tipo previsto no inciso XXVII do art. 34 do EAOAB,
perdendo este a condição de idoneidade para permanecer inscrito nos quadros
da OAB, conforme é exigido pelo art. 8º, inciso VI, do diploma legal.
A perda da idoneidade profissional ocorre em casos em que o
profissional tenha sido condenado em processos no âmbito criminal relacionados
com investigações de práticas de ilícitos no exercício da profissão e que
deponham contra a ética profissional, tais como: a) atuar como pombo correio
do crime organizado; fraudar documento público ou particular com vistas a
obtenção de vantagem indevida para si ou para terceiros; c) exercer atividade
ilícita paralela à advocacia e que seja contrária à moral e aos bons costumes; d)
pratique crimes infamantes ou hediondos contra qualquer pessoa; e) obtenha
vantagem manifestamente indevida com utilização de terceiros em concurso,
ainda quando no exercício regular de um direito mas com vistas a fraudar a
aplicação da lei quando infundada ou incabível a lide patrocinada, de forma
reiterada; f) atos que desprestigiem a advocacia durante o seu exercício, tais
como: i. conduta pública e escandalosa, ii. Embriaguez habitual e, iii. Vicio em
jogos de azar.
Portanto, no presente caso, as condutas acima descritas permitem a
aplicação das seguintes penalidades:
a) Censura, em caso de prática dos tipos previstos nos incisos I ao
XVI do art. 34 do EAOAB, conforme disposição do art. 36, inciso
I, do mesmo diploma legal (incisos VI e XIV do art. 34);
b) Suspensão, em caso de prática dos tipos previstos nos incisos
XVII ao XXV do art. 34 do EAOAB, conforme disposição do art.
37, inciso I, do mesmo diploma legal (incisos XVII, XX e XIV do
art. 34);
c) Exclusão dos quadros da OAB, em caso de prática dos tipos
previstos nos incisos XXVI a XXVIII do art. 34, conforme
disposição do art. 38, inciso II (inciso XXVII do art. 34) ou em caso
de ter sido aplicada pena de suspensão por 3 x, conforme
disposição do art. 38, inciso I, do mesmo diploma legal.
CONCLUSÃO

Por todo o exposto, opino pelos seguintes termos abaixo transcritos:

i. A conduta das advogadas, embora seja considerada


conflito de interesses, neste caso, tergiversação prevista
no art. 355 do CP, as mesmas só poderiam ser alvo de
apuração criminal se houver representação proposta
contra as mesmas pelos seus clientes, a saber: PAULO e
DONA MARIA, já que estes possuem relação profissional
com o escritório suscitado e estes seriam considerados
como vítimas da atuação profissional das causídicas;
ii.A possibilidade de ser decretada nulas todas as
procurações não são possíveis, em vista de que as
representações estão nos termos do art. 5º, §2º do EAOAB,
mas nada impede que as mesmas sejam anuladas em
juízo em caso de eventual suspensão da inscrição das
mesmas perante o Tribunal de Ética da Ordem dos
Advogados do Brasil;
iii. Mesmo que haja a prática dos seguintes crimes – arts. 299
e 355, CP; art. 91, EPCD; art. 102, EPI – pelas advogadas,
estas somente podem ser objeto de representação criminal
por parte de seus clientes ou de quem quer que os
represente por determinação legal (neste caso,
procuradores, tutores e curadores);
iv.Mesmo que haja representação das mesmas, existe a
possibilidade de não serem processadas criminalmente em
face do disposto no art. 3º-A, c.c. art. 7º, inciso I, do
EAOAB;
v. Por se tratar de infrações ético-disciplinares grande parte
das condutas, somente três podem ser alvo de
representação por terceiros prejudicados pelas advogadas
e que constituam um dos polos de qualquer das ações
intentadas pelas mesmas, a saber os tipos previstos nos
incisos XIV, XVII e XX do art. 34 do EAOAB, enquanto os
incisos VI, XXIV e XXVII do art. 34 somente cabe aos
outorgantes (ou mediante outorga legal por meio de
procurador, tutor ou curador) representarem contra as
advogadas perante o TED da OAB/SP em face da
pessoalidade da relação profissional causar dolo
específico por decorrência da conduta antiética das
causídicas.

É, portanto, esta a conclusão deste parecerista quanto ao tema acima


consultado, devendo o mesmo ficar à disposição do interessado para a adoção
das medidas cabíveis que entender necessário e que sejam de Direito.
São Paulo/SP, 3 de outubro de 2022.

Osmar Alves Bocci


OAB/SP n. 212.811

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