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01 de dezembro de 2023

1. IDENTIFICAÇÃO

Nome: Bryan Arthur Ferreira da Silva


Idade: 4 anos completo
Escolaridade: Jardim I
Escola: Bethe Shalon
Dominância manual: destro; preensão do lápis: pega trípode
Filiação – Mãe: Wlida Jordânia da Silva
Pai:
Responsável que compareceu a anamnese: Joelma Pedro dos Santos (tia)
Faz uso de medicamento: ( x ) NÃO ( ) SIM

2. QUEIXA

A família se queixa principalmente de agressividade verbal e do tempo excessivo que


o adolescente passa em frente à TV; segundo a tia, o adolescente quebra os
brinquedos, tem comportamento agressivo com adultos e crianças, não aceita escutar
“não” e se incomoda com barulhos altos. A família diz perceber “algo diferente” desde
os seis anos, diz que o aprendente chora em diversas situações em que é contrariado e
que, apesar de saber se comunicar de maneira clara, tende a ser explosivo em suas
reações. Apresenta irritabilidade em ambientes barulhentos e com barulhos
específicos, como o som do liquidificador ligado.
Os professores se queixam que o adolescente fala muito em sala de aula, não
permanece na sua banca, costuma não ter filtro social, não faz as atividades escolares e
diz não conseguir lembrar dos conteúdos sistemáticos vistos em sala de aula.

ISTÓRICO DE SAÚD
De acordo com a tia, responsável que compareceu na consulta em que se realizou a
anamnese, o aprendente foi uma criança desejada, a mãe realizou o acompanhamento
pré-natal, entretanto o casal passou por alguns estresses durantes a gestação, pois o pai
fazia uso de bebida alcoólica e havia instabilidade na relação do casal, fazendo com
que a mãe passasse por um período denominado pela tia como conturbado, onde ela
chorou muito e ficou bastante nervosa.
O único episódio de estresse marcante durante a gravidez foi um acidente com uma
panela de pressão que explodiu, assustando muito a mãe, mas, a gravidez seguiu até os
nove meses completos, Felipe nasceu de parto normal e não houve nenhum problema
durante o parto. Em seu histórico de saúde Felipe não apresenta nenhuma alteração.

3.1. ANTECEDENTES FAMILIARES


Felipe não faz nenhum acompanhamento terapêutico;
Tem na família um tio de primeiro grau diagnosticado com Transtorno do Espectro
Autista (TEA).

3.2. JEITO DE SER DO ADOLESCENTE , SEGUNDO A TIA:


De acordo com a tia, o adolescente é agressivo, dependente, disperso, ativo, excitado,
isolado, inconstante e curioso. Passa muito tempo em frente à TV, tende a ficar
agressivo e bravo quando é contrariado ou enfrenta alguma situação frustrante, e, já
chegou a passar dois dias seguidos sem se comunicar oralmente com família após não
ter suas vontades atendidas.
Segundo a tia, Felipe é um adolescente que chora por tudo, é impaciente com a mãe,
não tem afeição pela irmã, tem resistência em ir para a escola e não gosta de se
relacionar com adolescentes de sua idade ou mais velhas, preferindo interagir com
crianças menores ou, na maior parte das vezes, preferindo ficar sozinho.
Felipe não costuma respeitar regras e limites. Embora consiga fazer amigos com
facilidade, ele não estabelece vínculos duradouros, mas gosta de conversar com
adultos, desenhar, montar e desmontar brinquedos.

3.1. JEITO DE SER DO ADOLESCENTE, SEGUNDO A MÃE:


Segundo a mãe, Felipe é um adolescente agressivo, impaciente, ativo e costuma
depender bastante dela, prefere brincar com brinquedos que possa encaixar, montar e
desmontar. Não é compreensivo, tem dificuldade para esperar e fica bravo quando é
contrariado. Insulta os adultos e é desafiador, não gosta de ser interrompido quando
está focado em alguma atividade, intromete-se nas conversas da mãe com outros
adultos e frequentemente manda a mãe calar a boca e/ou parar de conversar com
alguém. Também se incomoda com barulhos altos, conversas e agitação.

4. VIDA ESCOLAR

O início da escolaridade foi aos quatro anos, não chorou e gostou da escola. Durante o
ano de 2023, a família mudou de cidade e o aprendente precisou mudar de escola,
porém a família só conseguiu vaga em uma nova instituição escolar no meio do ano.
Segundo a mãe, Felipe não se relaciona bem com os novos colegas, mas
constantemente fala que precisa estudar e tirar boas notas, pois, em suas palavras, não
quer ser um fracassado.
O aprendente ainda não desenvolveu plenamente a leitura e a escrita, por este motivo
reprovou o 4º ano do ensino fundamental. Felipe iniciou dois reforços escolares este
ano, um deles realizado no horário da aula na própria escola e o outro sendo um
reforço particular, do qual o próprio Felipe decidiu sair, pois, em suas palavras, a
professora era chata e exigente.
Segundo a mãe, apresenta dificuldades em matemática, e segundo a tia apresenta
dificuldades nas disciplinas de português, inglês e história. Na relação com seus
colegas de escola, o aprendente já entrou em confrontos e brigas. Não tem muitos
amigos e não gosta de ir para a casa deles, de acordo com os familiares.
Felipe tem dificuldade de realizar as atividades de casa de forma autônoma, apesar de
preferir realiza-las sozinho, pois não é alfabetizado, necessitando de orientação,
geralmente dada pela tia. Ainda segundo a tia, o adolescente não tem agilidade na
escrita e, quando não compreende a atividade fica estressado.

COMPORTAMENTO DO ADOLESCENTE DURANTE A AVALIAÇÃO

Em um primeiro momento, Felipe apresentou ser um adolescente tímido, no entanto


após se familiarizar com as estagiarias, ele passou a ser mais comunicativo. Frente as
atividades apresentadas, o aprendente se mostrou empolgado, persistente e
participativo, constantemente querendo demonstrar que conseguiria realizar o que foi
proposto.
Durante os atendimentos, Felipe não se frustrou com facilidade e esteve disponível
para recomeçar ou refazer as tarefas, quando necessário. Entretanto, teve dificuldade
em esperar sua vez, demonstrando traços de impulsividade nas atividades que
envolviam controle inibitório.
Felipe é bastante comunicativo, mas demonstrou uma carência afetiva ao contar para
as estagiárias que tem poucos amigos, pois as outras crianças não costumam gostar de
estar em sua companhia. Para além disso contou que fica de castigo, sozinho no
quarto, sem poder comer “mistura” [carne].
Durante as avaliações o adolescente manteve o foco e a atenção, esteve sempre calmo,
conversou tranquilamente, respondeu todas as perguntas com educação e atendeu aos
pedidos e comandos das estagiárias. Porém, na última sessão, o aprendente relatou que
se envolveu em uma briga na escola e que após esse episódio passou a ser conhecido
como “o rei da escola” e que agora as outras crianças “se ajoelham” para ele quando
ele passa.
Após o encerramento da sessão, Felipe ficou na sala de espera, aguardando a mãe que
estava em diálogo com duas das estagiárias, durante a espera demonstrou impaciência
e irritabilidade, andando de um lado para o outro e falando “quando ela chegar, ela vai
ver”, referindo-se a mãe.
Ao perceber este comportamento, uma das estagiárias, o conduziu para outra sala e
tentou acalmá-lo desviando o foco da situação, Felipe demonstrou resistência para a
acompanhar e começou dizer rispidamente para a estagiária que a mãe estava
demorando muito, usando as seguintes palavras “ela fala demais, gente que fala
demais a gente manda calar a boca”. Este episódio levou as estagiárias a
compreenderem que há um conflito na relação mãe e filho.

3. AVALIAÇÃO

Para a Avaliação Neuropsicopedagógica foram utilizados testes


padronizados, qualitativos, observação clínica, , testes clínicos estruturados e
pedagógicos lúdicos não estruturados, informações obtidas pela família.
Foram realizadas três sessões , com enfoque nas áreas: Anamnese; Sócio
afetiva/Emocional;Memória e Atenção; Percepção; Linguagem (Leitura e
Escrita).

3.1. INSTRUMENTOS
Objetivo
Instrumento
Conversa informal Construção de vínculo com o aprendente
E.O.C.A Investigar os vínculos que o aprende te possui com os objetos e os
conteúdos da aprendizagem escolar, observar suas defesas,
condutas evitativas e como enfrenta novos desafios, levando
em conta o que o adolescente sabe fazer, o que aprendeu e o
que a ensinaram fazer e a modalidade de aprendizagem.

Caixa das Investigar a percepção sensorial a partir da identificação das


sensaçõ sensações – quente, frio, morno, macio, duro, áspero etc. – através
es do tato.
Dinâmica não Investigar a percepção visuoespacial e a coordenação global do
estruturada aprendente.
com bambolê
e bola
Tangram Investigar a percepção visuoespacial, observar como o adolescente
se orienta espacialmente, quais estratégias lógicas utiliza para
resolver os quebra-cabeças propostos. Investigar a relação do
aprendente com os conceitos de cálculo mental e o raciocínio
lógico-matemático.
Perguntas de noção Identificar a compreensão do aprendente sobre noção temporal e a
temporal. forma como ele se orienta quanto a precisão temporal, bem
como sua capacidade de processar
informações relativas ao dia, hora, mês, ano, momento adequado de
agir, etc.
Ditado Mudo Identificar em o nível de escrita e leitura do aprendente.

Teste de sondagem Identificar em o nível de escrita e leitura do aprendente.


da escrita.
Teste de Observar se o adolescente consegue compreender bem o que está
compreensão sendo dito. As crianças com TDAH normalmente sentem
oral. dificuldade ao realizar este teste
- Apresenta rejeição da leitura e da escrita, optando por
permanecer com uma atividade de desenho e verbalizando que
não gosta de ler;
- Vínculo negativo com a aprendizagem sistemática: esquiva-se
de falar sobre o cotidiano da escola e sempre traz a conversa
para situações vivenciadas fora da escola;
- Dificuldade de organização e planejamento da fala;
- Medo ao ataque (resistência em entrar em contato com o
material. Prefere mais falar do que fazer);
- Melhor rendimento e interesse na aprendizagem
assistemática do que sistemática;
- De acordo com a entrevista, o aprendente ouve em diferentes
ambientes que ele é especial, mas associa “ser especial” com ser
raivoso.
- Suspeita-se de aspectos emocionais que envolvem a
relação em família tendo interferência no
desenvolvimento da aprendizagem;
- Suspeita de dislexia, discalculia ou TDAH.
Caixa das O aprendente tem boa percepção sensorial, conseguindo
sensações identificar e descrever todas as texturas e sensações apresentadas
na atividade.
Dinâmica não O aprendente demonstrou boa coordenação global, mas
estruturada com esperou sempre a iniciativa do outro participante da atividade (a
bambolê e bola estagiária) para jogar o objeto que estava em sua mão,
também não conseguiu identificar as direções de
esquerda e direita.
Tangram Inicialmente não consegue compreender duas consignas, mas ao
receber um comando por vez, o adolescente consegue realizar o
que foi pedido. Conseguiu ordenar as peças da menos para a maior
como foi pedido, no entanto, identificou peças que tinham o
mesmo tamanho como sendo peças de tamanhos diferentes. Não
conseguiu montar as figuras do Tangram, demonstrando pouca
noção visuoespacial, dificuldade de cálculo mental e
raciocínio lógico.

Perguntas de noção O aprendente não possui noção temporal, não consegue


temporal. identificar os dias da semana, a hora, data ou dia em que a sessão
estava sendo realizada e não consegue identificar as horas em
relógio analógico.
Ditado Mudo Transição do nível silábico para o silábico alfabético.
Teste de sondagem Transição do nível silábico para o silábico alfabético.
da escrita.
Teste de Compreende totalmente as frases lidas pela estagiária e
compreensão oral. identifica as noções de sentido ou falta de sentido do que foi lido.

Teste de Não consegue realizar a leitura da fábula apresentada.


compreensão do
texto
Jogo da memória Teve dificuldade de inibir respostas competitivas e
esperar sua vez. Apresentou boa memória de curto prazo e
alta capacidade de armazenar e manipular informações
temporárias e de reavaliar e planejar situações.
Emboscada Demonstrou atenção sustentada, levantou hipóteses sobre a
resolução do jogo, planejou estratégias, não se frustrou com
facilidade e foi persistente, apresentou boa coordenação
motora fina, e velocidade de processamento e tempo de
reação médias.
União por relação Na atividade realizada a partir de imagens, o aprendente
apresentou bom desempenho, manteve a atenção
sustentada e identificou os próprios erros.
Motricidade Apresentou respostas positivas nessa área, de acordo com sua
faixa etária.
Escala MTA-SNAP- Subescala de desatenção – 13 pontos = sintomas leves Subescala
IV de hiperatividade/impulsividade – 13 pontos = sintomas leves
Subescala de oposição / desafio – 8 pontos = sintomas leves

ATA – Autistic Traits 39 pontos - O atingimento de 15 pontos sugere a presença de


Assessment transtorno autista, sendo mais severo quanto maior for a pontuação.
(Avaliação de Traços
Autistas)
AQ-10 Versão “Se o resultado total corresponder a uma pontuação superior a 6
Adolescente (12-15 pontos, deve ser ponderado um encaminhamento para uma avaliação
anos) diagnóstica especializada”.
Resultado = 6 pontos
Teste para “Acima de 60% das respostas negativas, que mostrem que a criança
diagnóstico da apresenta uma grande dificuldade em lidar com os números e que
discalculia (a partir não consegue aprender bem as questões e lógica matemática,
dos 08 anos) deve-se realizar alguns testes e encaminhar ao neuropediatra.”
Resultado: 62,5% de respostas negativas e 37,5% respostas
positivas.

Protocolo de As respostas das questões específicas do teste foram afirmativas,


observação para indicando alto risco de dislexia e requerem intervenção.
detectar indicadores
de dislexia no 1° CEB
(a partir do 2°
ano)
Conclusão

De acordo com os testes clínicos e pedagógicos realizados com o aprendente, destacam-se dificuldades de
aprendizagem matemática e de língua portuguesa, mais especificamente, Felipe apresentou pouca noção
visuoespacial, dificuldade de realizar cálculo mental e raciocínio lógico, e não possui noção temporal.
Quanto ao

desenvolvimento da leitura e da escrita, o aprendente apresenta nível abaixo


do esperado para a faixa etária, sinalizando atraso no desenvolvimento dessas
habilidades. Quanto a questões cognitivas, de memória, atenção, e as funções
executivas, ele apresenta desempenho adequado para a idade estando em
transição do estágio operatório concreto para o operatório formal, como
esperado para a faixa etária de 12 (doze) anos.
Ressaltamos que as dificuldades de aprendizagem podem ser provenientes
de transtornos, dificuldades ou problemas emocionais. Neste sentido,
concluímos que os resultados das escalas são inconsistentes por apresentarem
divergência entre os relatos das entrevistas, da avaliação clínica, da
compreensão das questões realizadas por parte do responsável que respondeu
as escalas e da divergência entre os resultados de diferentes escalas.

4. INDICAÇÕES DE TRATAMENTO

Compreende-se que as demandas de Felipe, partem inicialmente de


aspectos que envolvem questões emocionais, deste modo, sugere-se
avaliação e acompanhamento psicológico. Após recomenda-se avaliação
Neuropsicopedagógica, pois, fatores externos emocionais podem ter
interferido no processo de avaliação.
Recomenda-se investigação com fonoaudiólogo(a) para investigação
dos aspectos relacionados a sensibilidade auditiva relatada pelo aprendente e
pela família.

5. ORIENTAÇÕES À ESCOLA

- Sugere-se trabalhar com atividades que envolvam o desenvolvimento da


compreensão leitora e aspectos matemáticos;
- Sugere-se que a escola proporcione um ambiente menos agitado no
momento de realização das atividades escolares do aprendente;
- Utilizar palavras de reforço positivo e acolher as demandas emocionais do
aprendente, viabilizando um ambiente afetivo e criando estratégias para a
formação de vínculo entre Felipe e os demais colegas;
- Acompanhar o caderno;
- Elogiar;
- Avaliar a capacidade de realizar as tarefas de maneira diferenciada;
- Propor que ela seja ajudante da professora e dos colegas, buscando
fortalecer sua autoestima;
- Demonstrar que acredita na sua capacidade, vislumbrando
a zona de desenvolvimento proximal

6.
ORIENTAÇÕES AOS RESPONSÁVEIS

- Recomenda-se a utilização de palavras afetivas e de carinho;


- Construir regras e combinados comportamentais com a participação;
- Manter a rotina diária de estudo e realização de tarefas, sob o olhar sensível da
família, bem como sua estimulação e incentivos;
- Mediar e negociar nos momentos de conflitos;
- Valorizar as potencialidades e habilidades;
- Estimular a participar de atividades coletivas com demais crianças e seus familiares;

Nos colocamos à disposição para quaisquer outros esclarecimentos.

Atenciosamente,

Jailson
Aureliano

Ana Carolina de Souza Silva

Ana
Letycia
Santos
Lyra
Jessica
Maria da
Silva

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