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DISCIPLINA RESPONSABILIDADE CIVIL

Introdução e Responsabilidade Civil Subjetiva


Culpa (cont.)

*Responsabilidade Extracontratual/Aquiliana Subjetiva


[...]

Nexo de causalidade

Observações gerais

O nexo causal é a relação de causa e efeito entre o dano e o fato


que o propiciou.
Cuida-se de questão puramente de fato e não de direito.
Relevância com a diluição dos demais requisitos da RC.
Medida de comprovação e quantificação.

As teorias do nexo de causalidade

Teoria da equivalência das condições ou equivalência


dos antecedentes ou teoria sine qua non

O intérprete deve perquirir toda as situações que tenham


colaborado para o dano e incluí-las na relação de causalidade.

Crítica: retroceder à causa mais primitiva e originária que


causou o dano (o fabricante da arma, o dirigente da greve e etc) – Ampliação
Ilimitada da Cadeia Causal.

"O fato de a vítima ter falecido no hospital em decorrência


das lesões sofridas, ainda que se alegue eventual omissão no atendimento
médico, encontra-se inserido no desdobramento físico do ato de atentar
contra a vida da vítima, não caracterizando constrangimento ilegal a
responsabilização criminal por homicídio consumado, em respeito à teoria da
equivalência dos antecedentes causais adotada no Código Penal e diante da
comprovação do animus necandi do agente." (HC 42.559/PE, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 04/04/2006, DJ
24/04/2006, p. 420)

Teoria da causalidade adequada

Busca da causa mais relevante para a efetivação do dano.


Não permite o desdobramento exagerado do nexo causal e identifica a causa
mais relevante para o dano.

Na verdade, pauta-se pela aferição probabilística em


abstrato da relevância da causa – “Prognose Póstuma”.
Após a verificação concreta de um determinado processo
causal, deve-se formular, em um plano abstrato, um juízo de probabilidade
com cada uma das múltiplas possíveis causas, de acordo com a experiência
comum.
Se, após a análise de certo fato, for possível concluir que
era provável a ocorrência do evento, deve-se reconhecê-lo como causa
adequada.
Assim, causa adequada é aquele fato que demonstrar
melhor aptidão ou maior idoneidade para causação de um resultado lesivo,
apresentando-se como consequência normal e efeito provável a ocorrência
de um determinado resultado danoso. (REsp 1718564/SP, Rel. Ministro
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
23/06/2020, DJe 26/08/2020)

Problemas: Juízo de probabilidade entre o dano e a origem


desse dano.

5. No âmbito das relações de consumo, aplicando-se a


teoria da causalidade adequada e do dano direto imediato, somente há
responsabilidade civil por fato do produto ou serviço quando houver defeito e
se isso for a causa dos danos sofridos pelo consumidor. (REsp 1468567/ES,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
07/08/2018, DJe 10/08/2018)

"4. Dessa forma, quando qualquer entidade se


apresente como fornecedor de determinado bem ou serviço ou mesmo que
ela, por sua ação ou omissão, causar danos causados ao consumidor, será
por eles responsável. Aplicação da teoria da aparência e da teoria da
causalidade adequada. 5. Na hipótese dos autos, o suposto estelionatário
atuava dentro de uma concessionária de veículos mantida pela recorrente -
onde todo o atendimento ao recorrido aconteceu - com ampla liberdade
dentro do mencionado estabelecimento comercial." (REsp 1637611/RJ, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/08/2017,
DJe 25/08/2017)

9. Reconhecendo-se a possibilidade de vários fatores


contribuírem para o resultado, elege-se apenas aquele que se filia ao dano
mediante uma relação de necessariedade, vale dizer, dentre os vários
antecedentes causais, apenas aquele elevado à categoria de causa
necessária do dano dará ensejo ao dever de indenizar.
10. A arte médica está limitada a afirmar a existência de fator de risco entre o
fumo e o câncer, tal como outros fatores, como a alimentação, álcool, carga
genética e o modo de vida. Assim, somente se fosse possível, no caso
concreto, determinar quão relevante foi o cigarro para o infortúnio (morte), ou
seja, qual a proporção causal existente entre o tabagismo e o falecimento,
poder-se-ia cogitar de se estabelecer um nexo causal juridicamente
satisfatório. 11. As estatísticas - muito embora de reconhecida robustez - não
podem dar lastro à responsabilidade civil em casos concretos de mortes
associadas ao tabagismo, sem que se investigue, episodicamente, o
preenchimento dos requisitos legais. (REsp n. 1.113.804/RS, relator Ministro
Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 27/4/2010, DJe de
24/6/2010.)

Teoria do dano (ou da causa) direto e imediato


Para doutrina majoritária, a teoria da causalidade adequada
está abarcada no art. 403 do CC.

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do


devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os
lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual.

De todas as condições presentes, só será considerada


causa eficiente para o dano aquela que com ele tiver um liame direto e
imediato.
Difere-se da teoria da causalidade adequada por, aqui, não
se fazer um juízo de normalidade ou de probabilidade, mas sim de análise
concreta.
Problemas da teoria: gera injustiças e inviabilizada a
indenização de danos que não tenham consequência direta -> Dano
Ricochete.

A subteoria da necessidade / interrupção do nexo causal:


Causa próxima e remota, desde que necessária ao dano -> Vínculo lógico e
não temporal.

Julgado: Análise do nexo de causalidade entre companhia


que deixa a luz faltar e o incêndio causado pelo uso de velas. TJRJ,
Apelação Cível 0118975-42.2012.8.19.0038.

Teoria da causalidade alternativa


“Sempre que o dano for produzido por uma pessoa não
individualizada que, no entanto, faz parte de um grupo determinado e
perfeitamente identificado, ou seja, qualquer um dos membros daquela
coletividade poderia ter gerado o dano, daí porque a denominação destas
situações como sendo de causalidade alternativa (tanto um como outro
poderia ter causado o dano)” (MULHOLLAND, Caitlin Sampaio. A
Responsabilidade Civil por Presunção de Causalidade. Rio de Janeiro: GZ,
2009. pg. 217).

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele,


responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem
lançadas em lugar indevido.

Em alguns casos é possível identificar o grupo de cuja


atuação veio o dano mas não é possível identificar o causador.
Ex.: acidente de caça (sabe-se que o tiro partiu do grupo de
caçadores mas não se sabe quem atirou);
Pela causalidade alternativa, atribui-se solidariamente a
responsabilidade a todo o grupo envolvido.

RESPONSABILIDADE CIVIL. Discussão sobre a


existência de responsabilidade civil de candidatos a eleições
municipais em razão de tombo levado por eleitora em panfletos de
divulgação ("santinhos") espalhados em frente ao local de votação.
Ação ajuizada em face de seis candidatos. Defesas escoradas em
duas teses distintas, a saber: (i) alguns réus negaram ter espalhado
"santinhos" no local de votação; (ii) outros, sustentaram a
impossibilidade de afirmar que a queda decorreu de escorregão em
seu panfleto, e não no de outro candidato, a afastar o nexo de
causalidade. Sentença de improcedência em relação aos réus que
negaram a existência de seus "santinhos", e parcial procedência em
face daqueles que reconheceram a possibilidade de haver "santinhos"
seus no local, mas se cingiram a dizer que não era possível concluir
que a queda foi determinada por escorregão em "santinho" de
determinado candidato. Condenação mantida com fundamento na
teoria da causalidade alternativa. Cabível a responsabilização solidária
de integrantes de grupo determinado se for possível extrair a
conclusão de que o dano foi causado por um deles, sem saber, com a
necessária dose de certeza, quem foi o verdadeiro agente. Existência
de dano moral indenizável em razão do tombo, à vista das presumidas
e agudas dores físicas sofridas pela autora que, em razão da queda,
fraturou o antebraço. Existência, ainda, de nexo de causalidade,
fundada na teoria da causalidade alternativa. Mantido o montante da
indenização fixado na origem, no patamar de R$ 12 mil reais. Termo
inicial dos juros moratórios alterado para a da data do fato, por se
tratar de ilícito aquiliano. Alterado o critério de fixação dos honorários
de sucumbência. Recurso da autora parcialmente provido. Recursos
dos réus desprovidos.
(TJSP; Apelação Cível 0005111-75.2013.8.26.0400; Relator
(a): Francisco Loureiro; Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado;
Foro de Olímpia - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 15/08/2017;
Data de Registro: 17/08/2017)

"1. Trata-se de ação de indenização por danos materiais,


morais e estéticos em decorrência de tentativa de roubo a joalheria, situada
em um centro comercial, em que a vítima, então com 12 (doze) anos de
idade, foi baleada e ficou tetraplégica, no momento em que retornava da
escola e passava pela rua em frente ao local do crime, quando teve início um
tiroteio provocado pela reação dos seguranças contratados, ainda que
informalmente, pelos lojistas. [...] A teoria da causalidade alternativa permite
que, na hipótese de o dano ter sido provocado por uma pessoa
indeterminada integrante de grupo específico de pessoas, ante a
impossibilidade de sua identificação, todos os integrantes do grupo possam
ser responsabilizados civilmente, e de forma solidária, a fim de garantir a
reparação da vítima. Ocorre que, na espécie, não remanesce nenhuma
dúvida acerca dos reais causadores do evento danoso, não se tratando,
portanto, de autoria singular que vem a ser estendida aos demais partícipes
de um grupo, mas, de causalidade concorrente ou comum, na medida em
que os agentes atuaram coletivamente ou mediante coparticipação para a
produção do resultado lesivo, advindo o liame causal não dos disparos em si,
mas, da ação que desencadeou o confronto armado. Daí a responsabilização
dos ora recorrentes pelos danos ocorridos." (REsp 1732398/RJ, Rel. Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/05/2018,
REPDJe 14/06/2018, DJe 01/06/2018)

Culpa concorrente / Concausa

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a


sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em
confronto com a do autor do dano.

Concausas Concomitante X Concausas Sucessivas


(Presença de preponderância?)

[...] 2. Contrato celebrado por usuário final com empresa autorizada a


sublicenciar software de gestão empresarial de propriedade da recorrente
(SAP BRASIL LTDA.) e a operar nas demais etapas necessárias à
operacionalização do sistema. 3. Resolução do contrato por culpa
concorrente imputável à desenvolvedora do software, à empresa responsável
pela sua implantação e ao próprio usuário final. [...] 8. A constatação de culpa
concorrente poderia, se dano houvesse, servir para fins de redução do valor
da respectiva indenização, nos termos do art. 945 do Código Civil, mas não
para afastar o dever de restituição integral das parcelas pagas pelo usuário
final, que, ao fim e ao cabo, não pôde usufruir das facilidades que o software
de gestão empresarial poderia lhe proporcionar. 9. Recurso especial
parcialmente provido. (REsp 1728044/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/04/2018, DJe
13/04/2018)

Excludentes do nexo de causalidade (da responsabilidade)

(i) Caso Fortuito ou Força Maior – art. 393 CC

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito
ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Sinônimos? “Imprevisível e Inevitável” X “Previsível, mas Inevitável”


Ao fim: “extraordinário, inevitável e atual”
Fortuito interno. Enunciado 443 do CJF.
O caso fortuito e a força maior somente serão considerados como
excludentes da responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for
conexo à atividade desenvolvida.

[...] 4. O fato de terceiro, conforme se apresente, pode ou não romper o nexo


de causalidade. Exclui-se a responsabilidade do transportador quando a
conduta praticada por terceiro, sendo causa única do evento danoso, não
guarda relação com a organização do negócio e os riscos da atividade de
transporte, equiparando-se a fortuito externo. De outro turno, a culpa de
terceiro não é apta a romper o nexo causal quando se mostra conexa à
atividade econômica e aos riscos inerentes à sua exploração, caracterizando
fortuito interno. 5. Na hipótese, conforme consta no acórdão recorrido, a
recorrente foi vítima de ato libidinoso praticado por outro passageiro do trem
durante a viagem, isto é, um conjunto de atos referidos como assédio sexual.
6. É evidente que ser exposta a assédio sexual viola a cláusula de
incolumidade física e psíquica daquele que é passageiro de um serviço de
transporte de pessoas. 7. Na hipótese em julgamento, a ocorrência do
assédio sexual guarda conexidade com os serviços prestados pela recorrida
CPTM e, por se tratar de fortuito interno, a transportadora de passageiros
permanece objetivamente responsável pelos danos causados à recorrente.
Precedente. 8. Recurso especial não provido. (REsp 1747637/SP, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/06/2019,
DJe 01/07/2019)

(ii) Culpa/Fato Exclusiva da Vítima

Agente/Terceiro como simples instrumento da ocorrência do dano.

(iii) Culpa/Fato de terceiro

Dano decorrente de causa direta e imediata atribuível a terceiro.

Até a próxima

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