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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA

_ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ATIBAIA

Claudio, brasileiro, solteiro, pintor automotivo, RG (xxxxxxxxxxxx),


inscrito no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas sob o nº xxxxxxxxxxxx,
residente e domiciliada à Rua XXXXXXX, por intermédio de sua advogada que
este subscreve vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
propor

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS E MATERIAIS

Em desfavor da Seguradora engane bem Ltda., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas
(xxxxxxxxxxxx), com sede em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e filial em
São Paulo, onde foi celebrado o contrato, e o hospital onde foi realizada a
cirurgia está localizado em Bragança, pelos fatos e fundamentos adiante
aduzidos:

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Preliminarmente, o código de processo civil garante a gratuidade da


justiça àqueles que se declararem com insuficiência de recursos para pagar
custas, despesas processuais e os honorários advocatícios conforme art. 98 e
seguintes. Sendo assim, o Autor requer, desde logo a concessão da gratuidade
de justiça com base no código de Processo Civil, pois não há condições de
arcar com as custas processuais sem comprometer o rendimento essencial à
sua sobrevivência.
DOS FATOS

Claudio celebrou com a Seguradora engane bem Ltda., um contrato-padrão


denominado “Seguro Saúde”, pelo qual teria o direito à cobertura médico-
hospitalar completa em caso de cirurgia de qualquer espécie.

Isto posto, após três anos de ter assinado esse contrato, o Autor foi
diagnosticado com uma grave enfermidade pulmonar, para a qual o transplante
era a única solução. Tão logo surgiu um órgão compatível, Claudio foi
internado e submetido, imediatamente, ao transplante pulmonar.

O resultado da cirurgia foi coroado com êxito. No entanto, ao acionar a


seguradora, a mesma negou-se ao reembolso das despesas médico-
hospitalares, que chegaram ao montante de R$ 1.050.000,00 (um milhão,
cinquenta mil reais), alegando que a doença de Claudio era preexistente à
assinatura do contrato e que fora por ele omitida quando da contratação.

Levando em consideração que Claudio estava em fase de pós-operatório, com


a alegação da seguradora, proporcionou uma situação de aflição psicológica,
de angústia e de constrangimento no Autor, ferindo a sua dignidade ao ser
acusado de cometer um ato ilícito no contrato, bem como momentos de
estresses em um momento no qual deveria estar em repouso após a sua
cirurgia, podendo, com todo esse entrave, prejudicar o seu quadro de
recuperação.
Em suma, não restou outra opção à não ser buscar a tutela jurisdicional
decorrente dos prejuízos sofridos com a negativa de reembolso por parte da
seguradora, mediante reparação justa, à título de danos morais e materiais.

DO DIREITO

1- DANOS MORAIS

No que se refere à danos materiais e morais, a CF/88 e o Código Civil trazem


expressamente:

‘’Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

(...)

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.’’
A reparação do dano moral não visa reparar a dor no sentido literal, mas sim,
aquilatar um valor compensatório que amenize o sofrimento provocado por
aquele dano, sendo a prestação de natureza meramente satisfatória.

Portanto, com a negativa do reembolso o requerente passou por momentos de


estresse, de constrangimento e de angústia, correndo o risco de prejudicar a
sua recuperação pós cirurgia de transplante.

2- DANOS MATERIAIS

Em relação aos danos materiais o Autor deve ser indenizado pelos danos
emergenciais, por ter tido que desembolsar o dinheiro que estava sendo
guardado em sua poupança para dar entrada em sua casa, conforme o art.
202, do Código Civil, e pelos R$ 1.050.000,00 (um milhão e cinquenta mil reais)
referentes à despesas médico-hospitalares paga pelo requerente:

‘’Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e


danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o
que razoavelmente deixou de lucrar.’’

Conforme os ensinamentos de Carlos Roberto Gonçalves:

“A responsabilidade civil tem, pois, como um de seus pressupostos, a violação


do dever jurídico e o dano. Há um dever jurídico originário, cuja violação gera
um dever jurídico sucessivo ou secundário, que é o de indenizar o prejuízo”.

3- DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


É possível observar a existência da figura do consumidor, Claudio, a figura do
fornecedor, empresa Seguradora engane bem Ltda. e a prestação de um
serviço que no caso em questão foi o seguro saúde. Portanto, temos uma
relação de consumo, na qual o Código de Defesa do Consumidor aborda
expressamente as suas características e a responsabilidade objetiva do
fornecedor:

Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.

Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência


de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.

4- DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Diante das peculiaridades do caso concreto e a condição de hipossuficiência


do requerente em face da Empresa requerida faz-se necessária a inversão do
ônus probatório, conforme se encontra no dispositivo consumerista abaixo:
Art. 6º.

(...)

VIII- a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus


da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência.

5- DA JURISPRUDÊNCIA

No que se refere a aplicação ao caso concreto, temos jurisprudências nesse


sentido:

AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO CÍVEL. GEAP. FUNDAÇÃO DE


SUGURIDADE SOCIAL. NEGATIVA DE REALIZAÇÃO DE CIRURGIA.
SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTES OS PEDIDOS EM SUA MAIOR
PARTE. DANO MORAL. DESPROVIMENTO DO RECURSO DE APELAÇÃO. A
demanda versa sobre indenização por dano moral ajuizada por pessoa física
em face de empresa ré decorrente de negativa de realização de cirurgia e
fornecimento dos materiais necessários. O STJ já firmou entendimento
segundo o qual a injusta recusa de cobertura de despesas referentes a
materiais essenciais para a realização de procedimento cirúrgico agrava a
situação de aflição psicológica e angústia do segurado, passível de
responsabilização por dano moral, que não pode ser excessivo a ponto de
ensejar um enriquecimento sem causa, porém deve ser significativo para
compensar a demandante pelo descaso a que foi submetida. Considerando as
circunstâncias avistadas, o quantum indenizatório arbitrado pelo juiz o quo
mostra-se de acordo com os parâmetros praticados por esta corte. Aplicação
do verbete 211 deste Tribunal. AGRAVO INTERNO CONHECIDO e
DESPROVIDO.

(TJ-RJ – APL: XXXXX20168190001, Relator: Des (a). CEZAR AUGUSTO


RODRIGUES COSTA, Data de Julgamento: 27/02/2018, OITAVA CÂMARA
CÍVEL)

**

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER -


PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO - REJEIÇÃO -
PLANO DE SAÚDE - NEGATIVA DE COBERTURA DE TRATAMENTO
MÉDICO PRESCRITO - LISTA DE PROCEDIMENTOS DA ANS - ROL
EXEMPLIFICATIVO - IMPLANTE DE VÁLVA AÓRTICA - RISCO DE AGRAVAR
O ESTADO DE SAÚDE DO PACIENTE - RELATÓRIO MÉDICO ATESTANDO A
IMPRESCINDIBILIDADE DO TRATAMENTO - REQUISITOS PARA
CONCESSÃO DA TUTELA RECURSAL NÃO PREENCHIDOS - DECISÃO
AGRAVADA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. "É inadmissível a recusa
do plano de saúde em cobrir tratamento médico voltado à cura de doença
prevista no contrato sob o argumento de não constar da lista de procedimentos
da ANS, pois este rol é exemplificativo, impondo-se uma interpretação mais
favorável ao consumidor. (AgInt no REsp XXXXX/MG, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/09/2019, DJe
10/09/2019) (destaquei) Para a concessão antecipada da tutela pretendida no
recurso de Agravo de Instrumento, prevista no artigo 1.019, inciso I, do CPC,
faz-se necessária a presença dos requisitos previstos no artigo 300 do mesmo
diploma, quais sejam, probabilidade do direito e o fundado receio de dano
grave ou de difícil reparação.
(TJ-MT, N.U XXXXX-75.2019.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE
DIREITO PRIVADO, JOSE ZUQUIM NOGUEIRA, Terceira Câmara de Direito
Privado, Julgado em 29/01/2020, Publicado no DJE 05/02/2020)

Consequentemente ao que foi abordado neste pedido, Vossa Excelência, o


Autor pede uma indenização no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para
que lhe sejam reparados os danos morais, visto que passou por momentos de
angústia, de constrangimento e aflição psicológica, e R$ 75.000,00 (setenta e
cinco mil reais) para os danos materiais referentes à despesas médico-
hospitalares e aos danos emergente.

DOS PEDIDOS:

Por todo o exposto, vem requer a V. Exa. que se digne de:

a) Conceder os benefícios atinentes à justiça gratuita, tendo em vista que o


Autor não possui condições de arcar com as custas do processo sem prejuízo
de sua própria mantença, bem como de sua família;

b) Conceder a inversão do ônus da prova em favor do requerente, nos moldes


do CDC;

c) Condenar o requerido aos pagamentos de indenização por dano moral no


valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), velando pela satisfação da reparação
da dor moral sofrida;

d) Condenar a Empresa ao pagamento por dano material no valor de R$


75.000,00 (setenta e cinco mil reais), acrescidos de juros e correção monetária.
Dá à causa o valor de R$ 90.000,00 (noventa mil reais).

Termos em que,

Pede deferimento.

São Paulo, 03 de maio de 2024

Karine Pereira Batista

OAB xxx.xxx

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