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DISCIPLINA: TEORIA PSICANALÍTICA.

PROFESSOR: FLÁVIO R. PROVAZI

10a Aula:

Tema de discussão:

A atitude frente à castração: neuroses, psicoses, perversões.

FREUD, S. Neurose e Psicose (1924). In: Obras Completas de S. Freud (volume XIX),
Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda.

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NEUROSE E PSICOSE (1924)

Na obra neurose e psicose, Freud já havia estabelecido a segunda tópica, uma


teoria da divisão do aparelho psíquico que permite descrever uma serie de
relações de forma mais clara e compreensível. Neste contexto, caracterizou os
múltiplos laços de dependência do ego, sua posição intermediária entre o mundo
externo e o Id, e o seu empenho em fazer a vontade de todos os seus senhores
ao mesmo tempo. Para ele o comportamento de um indivíduo seria o resultado
da interação e conflitos entre as instâncias.

Para Freud as personalidades de todos os indivíduos podem ser compreendidas


por meio de três estruturas mentais: Psicose, Neurose e Perversão. Uma vez
definida a personalidade dentro de uma das estruturas, ela nunca mudará,
podendo apenas variar o grau de intensidade dos sintomas específicos de cada
uma. Isso quer dizer, ainda, que uma estrutura exclui a outra: um indivíduo
neurótico jamais apresentará nenhum sintoma ligado a psicose, por exemplo.

Um dos pontos essenciais quando se trata de compreender essas estruturas


mentais supracitadas é o seu funcionamento. Cada uma delas possui, segundo
Freud, um mecanismo de defesa específico. Esse mecanismo de defesa nada
mais é do que uma forma inconsciente que a mente do indivíduo encontra para
lidar com o sofrimento que advém do Complexo de Édipo.

Na Neurose, o mecanismo de defesa utilizado é do recalque ou repressão.


Segundo o autor as neuroses1 surgem pelo fato de o ego não querer aceitar e
promover a efetivação motora de um impulso instintual poderoso do id, ou de

1 O neurótico apresenta um grau variável de sofrimento psíquico e é fiel a realidade. Este, no entanto,
mantém relativamente adaptado aos diversos aspectos da vida cotidiana, mantendo fiel a realidade,
porém com sintomas que podem comprometer a vida pessoal, social e profissional do paciente. É
classicamente dividida em neurose de angústia, histeria, neurose obsessiva, fobia e depressão. Na
neurose os sintomas são expressões simbólicas do conflito psíquico e constituem uma formação de
compromisso entre desejo e defesa.
contestar o objeto que ele visa. O ego então, se defende através do mecanismo
de repressão e o que é reprimido se revolta contra seu destino criando assim o
sintoma. A serviço do Superego e da realidade, o Ego entrou em conflito como
Id, e assim ocorre em todas as neuroses. (Freud 1924) Na neurose, o Ego, em
sua dependência com a realidade, reprime e recalca o impulso instintual do Id

Para Freud a neurose é o resultado de um conflito entre o Ego e seu Id, enquanto
a psicose seria o análogo desfecho de uma tal perturbação nos laços entre o Eu
e o mundo exterior”. (Freud 1924)

Ou seja, tanto a neurose quanto a psicose se originam do conflito do Ego com


as diversas instâncias que o governam, correspondendo a um fracasso da
função do EU.

Sobre a psicose Freud destaca sintomas de confusão alucinatória onde o mundo


externo não é percebido, desse modo, a psicose apontam para um distúrbio na
relação entre o Eu e o mundo exterior.

Para ele na psicose o ego cria um mundo externo e interno, edificado pelos
impulsos e desejos do Id. Sugere que tal ruptura com o mundo exterior ocorreu
a partir de uma intolerável frustração do desejo por parte da realidade.

Para o autor “comum à irrupção de uma psiconeurose ou psicose2 é sempre a


frustração, a não realização. Tal frustração é, no fundo, sempre externa; em
casos individuais pode vir daquela instância interior, do Superego que se
encarregou de representar as exigências da realidade. O efeito patógeno
depende de que o Eu, nessa tensão conflituosa, continue fiel à sua dependência
do mundo externo e procure amordaçar o Id, ou se deixe sobrepujar pelo Id e
separar da realidade. Esta situação aparentemente simples, porém, é
complicada pela existência do Superego, que, por um nexo ainda não
esclarecido, reúne influências que vêm tanto do Id como do mundo externo,
sendo como que um modelo ideal daquilo visado por todo o esforço do Eu, a
conciliação de suas múltiplas dependências” (1924).

Freud considera importante o comportamento do Superego no surgimento de


todas neuroses e psicoses. Desse modo, destaca a Psiconeurose narcisista ou
Perversão3, distúrbios que são baseados num conflito entre o Ego e Superego.

2A psicose propriamente dita se refere a condição de pacientes esquizofrênicos, nesses casos ocorre uma
deterioração das funções do ego e uma perda do contato com a realidade externa, Freud reconhece que
os pacientes psicóticos não são suscetíveis à Psicanálise.

3A palavra perversão, em sua etimologia é o resultado de per+verter, cuja tradução é “pôr às avessas”. É
o ato no qual o sujeito põe as avessas o “jeito natural das coisas”. Conscientemente ele sabe que seu
comportamento é o oposto do estabelecido socialmente, ou seja, para ele a lei não existe.
Desse modo, a neurose corresponde ao conflito entre Eu e Id, a psiconeurose
narcisista/perversão ao conflito entre Eu e Super-eu, a psicose àquele entre
eu e mundo exterior.

Por fim, Freud afirma que as neuroses e psicoses surgem a partir dos conflitos
do ego com as diferentes instâncias, e ,do fracasso do ego em conciliar todas as
diferentes reivindicações.

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