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A chegada do novo Reino traz consigo novas e boas notícias.

A primeira é que este Reino tem suas portas abertas para todos que queiram ver
e entrar nele. Todos são chamados para fazer parte do Novo Reino.

A experiência do novo nascimento, (pois quem não nascer da água e do Espírito


pode ver e entrar nele Jo.3.1-15), abre a porta para uma nova experiência de vida
com o criador.

No Reino, é anunciada a chegada uma nova perspectiva na busca da


espiritualidade centrada na pessoa de Jesus de Nazaré.

A chamada é para uma nova maneira de viver, adorar e se relacionar com o Rei.

Neste novo Reino, não há acepção de pessoas. Todos tem livre acesso ao palácio.

No Reino, quem entra, não são apenas os da corte, mas os plebeus são
considerados bem vindos, não há subordinados e comandantes pois aquele que
quiser ser o maior, antes seja o menor com disposição para servir ao outro
(Mc.9.33-37; Mt.18.1-5; Lc.9.46-48).

O Reino de Deus não prioriza os religiosos, pois estes querem status, poder para
dominar e posição privilegiada entre o povo. O Reino é para todos.

Para ter acesso a sala do trono não é preciso marcar audiência, pois o Rei Jesus
exerce o reinado da convivência entre os mais desfavorecidos, é o Rei habitando
em nós (Ef. 2.22; 3.17; Tg. 4.5;), e os que amam a Deus poderão habitar nele
(Jo.14.23).

Não é um reinado transcendente, mas pessoal onde Jesus de Nazaré se faz


presente e agente na história humana.
O Rei dos reis nasceu entre os pobres e viveu entre eles. Em sua entrada triunfal
em Jerusalém encontramos um cenário marcado pela simplicidade.
Sua chegada como Rei acontece de maneira simples.

Montado em um jumentinho emprestado, em meio a esta cena, a multidão o recebe


também de maneira simples, estendendo suas vestes e ramos que haviam cortado
dos campos (Mc.11.1-11; Mt.21.1-17; Lc.19.28-40; Jo.12.12-19).

A chegada de Jesus de Nazaré como Rei de Jerusalém faz um contraste com as


cerimônias de impérios terrenos que quase sempre são marcados pela vaidade e
grandeza de suas liturgias.

Em Jesus é chegado o novo Reino.

É anunciada a salvação eterna na pessoa do Cristo, um Reino de paz, justiça,


alegria no Espírito Santo, obras de Justiça, misericórdia, perdão, ausência do eu,
caridade, fé, missão, um reino onde não há superiores, pois todos estão debaixo da
soberania do Rei que em sua humanidade não julgou com usurpação, aceitou a
humilhação, esvaziando-se de si mesmo assumindo a forma de servo, e não quis
ser igual a Deus, expressando em sua maneira de viver a prática da humildade, do
perdão, da misericórdia, do servir, em tudo, sendo submisso fazendo a vontade do
pai até a morte no calvário (Fp. 2.5-11; Jo. 6.38-40).

No sacrifício vicário de Cristo, todos podem por meio do novo nascimento entrar e
ver o Reino e assim fazer parte dele (Jo. 3.1-15).

A segunda boa notícia é que “o Reino de Deus não faz escravos, não faz
prisioneiros, o Reino de Deus só liberta”. (Ariovaldo Ramos).

Ao contrário dos reinados terrenos da época que aprisionavam, tornando escravos


aqueles que eram de outra nação, no Reino de Deus é anunciado a todos os povos
a mensagem de libertação.
Libertação do sistema religioso. Na proposta do Reino anunciada por Jesus, todos
que entrarem no Reino, são libertos dos grilhões do sistema religioso. Disse Jesus:
“Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre voz o meu Jugo e apendei de mim, porque sou manso e humilde de
coração; e achareis descanso para vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o
meu fardo é leve”. (Mt. 11.28-30).

Em outras palavras, Venham todos vocês que estão acorrentados, pelo sistema
religioso dos Fariseus hipócritas que vos oprime, impondo leis que nem mesmo
eles conseguem cumprir. Venham! Este Reino traz salvação e liberdade.

Esta é mais uma das boas notícias do Reino. Salvação aos cativos e oprimidos pelo
sistema religioso.

Jesus chama seus súditos a aprender do Rei que não escraviza e não tortura os
que estão sobre seu domínio, mas traz boas novas de libertação, de vida, de um
relacionamento amoroso e paternal com o criador.

Todos são chamados a aprender do mestre a prática do exercício da mansidão e


da humildade.

No Reino, a obrigatoriedade da lei, e suas minúcias, são substituídas pelo


ensinamento de Jesus de Nazaré focados numa espiritualidade de relação pessoal
com Deus e o interior humano, e não mais na estética e preceitos legalistas, pois a
letra mata, mas o Espírito vivifica (Rm. 2.29; 7.6; 2 Co.3.6;).

A suavidade do Jugo e a leveza do Fardo proposto por Jesus revela seu amor na
missão. Como expressão maior do autor da missão (Deus), Jesus acolhe a todos
que estão sufocados, sobrecarregados e oprimidos pelo sistema religioso.
Na missão de Deus, as portas do calabouço religioso estão abertas para trazer
liberdade aos cativos e assim desfrutarem das bênçãos do Evangelho do Reino.

Livres das algemas da religiosidade, para serem escravos do amor de Deus em


Cristo Jesus (1Co.7.22), onde encontra-se verdadeira liberdade, que por sua vez
gera no coração do homem uma atitude de verdadeiro arrependimento
manifestando a presença do Espírito Santo, pois sua atuação é também sinal de
libertação (2.Co.3.17; Gl.5.13).

No Reino, a cortina de fumaça criada pelo sistema religioso que encobre a


maravilhosa graça na missão de Deus, é retirada pela anunciação das boas novas
do Evangelho, trazendo assim visualização para aqueles que têm livre acesso a
ele.

Então, o Reino também anuncia a todos a palavra da liberdade em Cristo Jesus. A


liberdade de conhecer Deus submetendo-se ao seu poder e autoridade, e com ele
cooperar na missão, transpondo os limites e barreiras que a religião criou no que se
refere a relação Deus e criatura, conhecer sua vontade e seu projeto de
restauração para a criação, envolver-se na integralidade da missão, amar a criação
e o criador, é a Igreja interagindo na missão integral de Deus.

A terceira é que o Reino de Deus é manifesto pela prática da justiça.

“Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos”. (Mt.
5.6).
Bem aventurados os perseguidos por causa da justiça porque deles é o Reino dos
céus.

Bem aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem,
e, mentindo, disserem todo o mal contra voz.

“Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim
perseguiram os profetas que viveram antes de voz”. (Mt.5. 10-12).

A prática da justiça sempre esteve marcada na história do povo Hebreu e da igreja


cristã.

Observa-se a impressionante declaração do Salmista denunciando as autoridades


da época quanto à questão das injustiças aos mais desfavorecidos pedindo justiça
por eles. (Sl.58.1; 3-4).

Esta denuncia é contra os Reis, juízes, pastores, profetas e sacerdotes que


usavam da autoridade para benefício próprio desprezando os mais desfavorecidos.

Mais adiante, Salomão faz uma exortação quanto à necessidade de não se calar
diante das injustiças cometidas aos pobres e desvalidos (Pv.31.9). Davi e Salomão
foram Reis que direcionados por Deus, de alguma maneira se preocuparam com a
questão da justiça aos necessitados.
A prática da justiça foi incansavelmente pronunciada pelos profetas do AT, que
levaram como uma das marcas registradas de profetas de Deus, denunciar as
injustiças do povo. Vejamos alguns relatos do ministério do profeta Elias.

São nos capítulos 18 e 19 do livro de 1Reis que encontramos o relato da vocação


do profeta Elias como denunciador das injustiças.

O profeta sem meias palavras denuncia a falta de fidelidade do povo de Israel. Ele
lança um desafio ao povo dizendo que eles deveriam tomar uma posição a cerca de
quem eles deveriam seguir. Deus ou baal. Elias se depara com o silencio do povo
(1Rs.18.21).

A atitude do profeta em lançar o desafio ao povo para escolher que deveria seguir,
revela a situação do contexto em que o profeta Elias se encontrava.

Dentro de sua vocação, o profeta é desafiado a transmitir uma palavra profética ao


povo, no qual deveria levá-los ao arrependimento.

Desafio semelhante ao do profeta João Batista no NT, onde o contexto era bastante
semelhante ao do tempo do profeta Elias.

Semelhantemente estas experiências aconteceram com Ageu, Jeremias,


Malaquias, Eliseu e outros Profetas que sofreram e foram perseguidos por causa da
Justiça. Observe as palavras de incentivo de Jesus aos seus discípulos em Mt. 5.12
sobre a missão da prática da justiça.
Com a chegada do Reino, a anunciação e a prática da justiça é manifesta aos
homens apontando Jesus como a revelação da perfeita justiça no qual desafia seus
seguidores a ter fome e sede por ela. (Mt.5.6).

Aos pobres, é anunciado as boas novas de salvação (Mt.11.5; Lc.7.22), no


ministério de Jesus ele prega para ricos, comerciantes, cobradores de impostos,
políticos e religiosos, no entanto, destaca-se a prioridade para com os pobres.

Jesus foi ungido para pregar o evangelho aos pobres (Lc. 4.18), ensina a
disposição de compartilhar bens com os pobres, liberta os indivíduos do sistema
religioso como também o compartilhar é um pré-requisito para ser discípulo
(Mt.19.21; Mc.10.21; Lc.18.22).

Pela graça se fez pobre por amor aos discípulos, para que pudessem ser
beneficiados com as riquezas celestiais (2 Cor.8.9), aprova a atitude daqueles que
se compadecem dos pobres (Lc.19.8), desafia seus seguidores a renunciar tudo
quanto tem e partilhar para serem seus discípulos (Lc.14.33).

Em seu ministério, Jesus quebra barreiras sociais. O contexto da época foi marcado
pela injustiça para com os pobres e domínio do império romano.

Com a chegada do Reino, nasce uma nova esperança para aqueles que não têm a
ninguém para recorrer se não a Deus.

Vanderlei Gianastacio cita Richard Horsley que diz: “É num contexto social de imperialismo romano que Jesus
apresenta a sua mensagem. Proclamava a presença ou a iminência do reino de Deus, por meio da sua prática, bem
como fazia curas, exorcismos, alimentação das massas e apresentação de valores relacionados com a aliança. Não
era algo tão simples para Jesus, pois a Galileia, onde o Senhor vivia e cumpria sua missão, era dominada pelos
exércitos romanos que tinham invadido ali décadas antes. As crianças de alguns anos anteriores ao nascimento de
Cristo ficaram traumatizadas com a brutalidade da invasão, pois aldeias foram queimadas, regiões foram invadidas,
as pessoas sadias foram escravizadas e os incapazes, eliminados” (HORSLEY, 2002, p. 21).

Esta é uma forte razão para crermos que a missão de Deus é integral. O contexto social da época de Jesus aponta
para a injustiça cometida por parte das autoridades, o Reino surge também como um alívio aos cansados e
massacrados pelo terrorismo escravizador do império romano.

Para eliminar o mal entendido quanto à questão da missão integral, Deus tem sempre como prioridade a salvação
eterna do homem pela sua maravilhosa graça (Ef.2.8-10). A missão no tocante ao homem é salvar o espírito e cuidar
do corpo, estendendo-se em sua abrangência almejando restaurar os sistemas políticos, sociais, econômicos e
religiosos, restaurar o que foi prejudicado pela queda no Éden. Os do Reino não podem se conformar com este
mundo, mas tem a missão transformá-lo pela nova consciência que receberam em Cristo Jesus (Rm. 12.2). Não pode
haver dicotomia entre responsabilidade social e evangelização. Carlos Queiroz faz uma citação de John Stott em seu
artigo evangelização e conflito com a teologia do evangelho social que diz:

“A ação social e a evangelização são como as duas lâminas de uma tesoura, ou como as duas asas de um pássaro.
(...). Tanto a evangelização pessoal quanto o serviço pessoal são expressões da nossa compaixão. Ambos são formas
de testemunhar de Jesus Cristo, e ambos deveriam surgir de reações sensíveis às necessidades humanas” (STOTT;
1983: p. 21 e 39).

Como veremos mais adiante, o proposito da missão para a igreja é amar a Deus e sua criação, amar a criatura e o
criador, proclamar o evangelho, acolher o necessitado, não se calar diante das injustiças, é cumprir a missão de Deus
tendo como modelo a pessoa de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Russel Shedd em seu livro a justiça Social e a Interpretação da Bíblia fala sobre a questão das opressões sobre os
Hebreus pobres e desfavorecidos daquela época. Vejamos:

“Deus é proprietário absoluto e original das terras (Sl 24.1; 50.12; Dt. 10.14), portanto, o titulo de propriedade para
qualquer parte dela não concede direitos totais de posse aos proprietários humanos. Desde que os Hebreus
pertenciam a uma sociedade agrária, a restauração das terras alienadas dos primeiros donos eram uma clausula
importante na legislação divina. “Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha...”
(Lv.25.23). A tendência humana natural de adquirir mais e mais terra, criando um monopólio não deveria ser
permitida. Em lugar de fracos e pobres serem forçados à escravidão, em épocas de dificuldades, seja de fome ou de
tragédia pessoal, (como no caso de Noemi, Rt.1.1; 4.1-11), eles podiam começar de novo. Do mesmo modo, os
escravos israelitas (reduzidos a servidão em tempos de crise e incapacitados de pagar uma dívida) deveria ser
libertado em intervalos de sete anos pré-estabelecidos (Dt.5.12). As mulheres também tinham seus direitos
protegidos por lei. Os que cometiam assassinatos não-premeditado podiam encontrar proteção permanente contra
o vingador do sangue mudando-se para uma das cidades de refugio providas em lugares convenientes na terra”.
(SHEDD; 1984, p. 08).

Sobre a questão da prática da justiça Shedd diz:


“Uma vez que Deus odeia a opressão, ele quebrou as algemas da servidão de Israel (Ex.23.10; Dt.15.15). Por ser o
doador da prosperidade, e distribuidor da riqueza, Deus exige que sua generosidade seja reconhecida com gratidão
e louvor (Dt.8.11-20), acompanhada de um compromisso com a justiça. Deus é Deus de misericórdia, portanto exigiu
o cancelamento das dívidas e empréstimos em tempos determinados (Dt.15.1-6), e mostra, então, o modelo
desejado para ser seguido pela nação em que é reconhecido”. (SHEDD; 1984, P.09).

Para Shedd, Deus em sua rica misericórdia sempre se preocupou com os desfavorecidos, estabelecendo leis que
ajudaram os pobres em momentos de crise. O texto revela de maneira clara o desejo do coração de Deus quanto à
questão da injustiça social. A justiça de Deus estabelecida pelas leis divinas tem como prioridade favorecer os
pobres, os sem terra, gente que não tem a quem recorrer se não ao Deus de misericórdia.

Certamente a igreja como povo específico para ser a agenciadora da missão, deve ter como modelo de visão
missionária a visão de Deus. O autor da missão deseja que sua igreja cumpra seu papel de Igreja relevante para os
pobres. A anunciação das boas novas do Reino ao povo deve estar acompanhada com práticas de justiça, é ver as
injustiças como Deus vê, pois ele aborrece as opressões aos pobres, estrangeiros, viúvas e órfãos (Dt.10.18; 24.17;
Ex.23.1,6,7; Lv. 19.15; Ex.22.25). A missão em sua integralidade tem como alvo salvar o homem em sua totalidade,
oferecendo salvação, cura do corpo, acolhimento, provisão material, libertação e dignidade humana, concedendo ao
indivíduo saúde moradia, alimento digno, qualificação profissional, oportunidade de ser gente.

A missão é desafiadora, porém não é impossível. A abertura para essa possibilidade está no simples fato de que Deus
é o autor da missão, e nós como igreja somos apenas cooperadores. É em Deus que a missão se realiza, ele é o
criador, o provedor, o administrador, é nele que as barreiras são superadas, nele, a igreja sairá vitoriosa na missão. A
ideia de confiar em esforços humanos para fazer a missão está descartada, somente em Cristo Jesus poderá haver
êxito no cumprimento do que nos foi confiado, devemos confiar em sua fidelidade, em sua promessa para a igreja,
convictos de que Deus haverá de cumprir sua missão por meio daqueles que foram chamados para serem do Reino.

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