Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 24

Abordagens Clínicas em Psicologia

Criança e Adolescente -Teoria Analítica Junguiana I

Estrutura da psique:
O inconsciente

Prof. Dr. Fábio Rezeck


Pode-se representar a psique como um vasto oceano, na
qual emerge pequena ilha (consciente).

CO EN

CONSCIENTE

EGO
Na área do consciente se desenrolam as relações entre
conteúdos psíquicos e o ego, que é o centro do consciente.

PSÍ

EGO
Os conteúdos psíquicos constituem o imenso domínio do
inconsciente

EGO
Jung define o ego como um complexo de elementos
numerosos, formando uma unidade bastante coesa
transmitindo uma ideia de continuidade e identidade
consigo mesma.
De acordo com Stein (2006, p. 21),
“Ego” é um termo técnico cuja
origem é a palavra latina que
significa “eu”. Consciência é a
percepção dos nossos próprios
sentimentos e no seu centro
existe um “eu”.
Dada sua composição feita de múltiplos
elementos, Jung frequentemente usa a
expressão complexo de ego, em vez de
ego, apenas. “A luz da consciência tem
muitos graus de brilho e o complexo do
ego muitas gradações de força”.
Inconsciente

De acordo com a teoria psicanalítica, o inconsciente contém


apenas as partes da personalidade que poderiam ser
conscientes se a educação não as tivesse reprimido.
Entretanto, Jung acreditava que o inconsciente possuía,
além deste, outro aspecto, incluindo não apenas
conteúdos reprimidos, mas todo o material psíquico que
subjaz ao limiar da consciência. É impossível explicar pelo
princípio da repressão a natureza subliminal de todo este
material; caso contrário, a
remoção das repressões
proporcionaria ao
indivíduo uma memória
fenomenal, à qual nada
escaparia.
O inconsciente jamais se acha em repouso, no sentido
de permanecer inativo, mas está sempre empenhado
em agrupar e reagrupar seus conteúdos. Só em casos
patológicos tal atividade pode tornar-se completamente
autônoma; de um modo normal ela é coordenada com a
consciência, numa relação compensadora.
Inconsciente pessoal

Refere-se às camadas mais superficiais do inconsciente,


cujas fronteiras com o consciente são bastante
imprecisas.
Pode-se afirmar que esses conteúdos são pessoais, na
medida em que forem adquiridos durante a existência
do indivíduo. Sendo esta última limitada, também
deveria ser limitado o número de conteúdos adquiridos
e depositados no inconsciente. Se assim fosse, haveria
a possibilidade de esgotar o inconsciente mediante a
análise ou o inventário exaustivo dos conteúdos
inconscientes; isto se admitíssemos o fato de que o
inconsciente não pode
produzir algo diferente
dos conteúdos já
conhecidos e recolhidos
pela consciência.
Aí estão incluídas as percepções e impressões subliminares
dotadas de carga energética insuficiente para atingir o
consciente; combinações de ideias ainda demasiado fracas e
indiferenciadas; traços de acontecimentos ocorridos durante
o curso da vida e perdidos pela memória consciente;
recordações penosas de serem relembradas; e, sobretudo,
grupos de representações carregados de forte potencial
afetivo, incompatíveis com a atitude consciente
(complexos).
Acrescente-se a soma das qualidades que nos
são inerentes porém, que nos desagradam e
que ocultamos de nós próprios, nosso lado
negativo, escuro.
Esses diversos elementos, embora não estejam
em conexão com o ego, nem por isso deixam
de ter atuação e de influenciar os processos
conscientes, podendo provocar distúrbios
tanto de natureza psíquica quanto de natureza
somática.
Inconsciente coletivo

Corresponde às camadas mais profundas do


inconsciente, aos fundamentos estruturais da psique
comuns a todos os homens.
"Do mesmo modo que o corpo humano apresenta uma
anatomia comum, sempre a mesma, apesar de todas as
diferenças raciais, assim também a psique possui um
substrato comum. Chamei a este substrato inconsciente
coletivo. Na qualidade de herança comum transcende
todas as diferenças de cultura e de atitudes conscientes, e
não consiste meramente de conteúdos capazes de
tornarem-se conscientes, mas de disposições latentes para
reações idênticas.
Assim o inconsciente coletivo é
simplesmente a expressão psíquica da
identidade da estrutura cerebral. Deste
modo pode ser explicada a analogia, que vai
mesmo até a identidade, entre vários temas
míticos e símbolos, e a possibilidade de
compreensão entre os homens em geral. As
múltiplas linhas de desenvolvimento
psíquico partem de um tronco comum cujas
raízes se perdem muito longe num passado
remoto."
Jung formulou o conceito de inconsciente coletivo em
1910, quando entregava-se apaixonadamente a estudos
de arqueologia e de mitologia. Em suas Memórias conta
porque naquela época ficou empolgado por esses
assuntos. O motivo foi um sonho.
Ele se acha numa casa desconhecida que, não obstante,
era sua casa. Uma casa de dois andares. Inicialmente,
encontra-se no andar superior, num salão ornado de
belos quadros e provido de móveis de estilo século XVIII.
Descendo as escadas, chega ao pavimento térreo onde o
mobiliário é medieval e o piso de tijolos vermelhos.
Percorre várias peças, explorando a casa até deter-se
diante de uma pesada porta. Abre-a e vê degraus de
pedra que conduzem à adega. Desce e encontra-se num
amplo salão abobadado de aspecto muito antigo.
Suas paredes são construídas à maneira dos romanos
e o piso é formado por lajes de pedra. Por entre essas
pedras descobre uma argola. Puxando-a, desloca-se
uma laje, deixando aparecer estreita escada.
Descendo ainda, vê-se numa caverna talhada na
rocha. Espessa camada de poeira cobre o solo e de
permeio, entre fragmentos de cerâmica, descobre
ossos espalhados e dois crânios humanos.
Para Jung os sonhos são auto descrições da
vida psíquica. Sendo assim, interpretou este
sonho vendo na casa a imagem de sua
própria psique, O consciente estava figurado
pelo salão do primeiro andar, cujo mobiliário
apresentava-se bem de acordo com a
formação cultural do sonhador (filosofias do
século XVIII e do século XIX): e o pavimento
térreo correspondia às camadas mais
superficiais do inconsciente. Quanto mais
descia' mais se aprofundava em mundos
antigos até chegar a uma espécie de caverna
pré-histórica.
Da convergência de dados empíricos obtidos na
observação clínica, com dados provenientes de sua
própria experiência interna, originou-se a concepção do
inconsciente coletivo de Jung.
O inconsciente coletivo funciona, na interpretação
psicológica, como o denominador comum que reúne e
explica numerosos fatos impossíveis de entender, no
momento atual da ciência, sem sua postulação.
Enquanto o inconsciente pessoal é composto de
conteúdos cuja existência decorre de experiências
individuais, os conteúdos que constituem o
inconsciente coletivo são impessoais, comuns a
todos e transmitem-se por hereditariedade.
Referências:

JUNG, C. G. Psicologia do inconsciente. Vol. 7/1.


Obras Completas. Petrópolis: Editora Vozes, 1961/2011.

____________. A Natureza da Psique. Vol. 8/2. Petrópolis:


Vozes, 1971/2011.

STEIN, Murray. Jung O mapa da alma. São Paulo: Cultrix,


2012.

SILVEIRA, Nise. Jung: Vida e obra. São Paulo: Paz e Terra,


1997.

Você também pode gostar