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Coletânea Exames Reais - PDA
Coletânea Exames Reais - PDA
TÓPICOS DE RESOLUÇÃO
I / A)
I / A) 1. António apoderou-se, furtivamente, em 1980 de um conjunto de objetos de ouro
de Bento. Guardou-os numa gruta, situada numa ilha deserta, onde têm estado escondidos
e ocultos desde então. Na semana passada, foi buscá-los e trouxe-os para Lisboa passando
a exibi-los de forma totalmente pública. Apercebendo-se de onde estavam os seus bens,
Bento exige de imediato a António que proceda à respetiva entrega. António alega
usucapião para não ter de devolver. Tem razão?
• Não pode haver usucapião. Este resultado poderia ser alcançado com diversas
argumentações.
• A usucapião só poderia ser invocada se houver posse durante um período
estabelecido para o efeito. Neste caso, há um poder de facto ou controlo material
sobre a coisa. Mas haverá algum tipo de posse e será ela boa para usucapião?
Referência à necessidade de ideia publicidade como requisito e caraterística da
posse (artigos 1251.º, 1263.º/a) do Código Civil. Menção, porém, no artigo
1267.º/2 e 1297.º a uma posse oculta. Serão estes preceitos de aplicar ou não há
sequer aqui posse? É possível uma posse oculta? Se sim quais os efeitos?
• Possibilidade de referência à posição de Menezes Cordeiro: a posse pública é
definida, como tal, não por referência ao momento da sua constituição – como
sucede com a posse de boa ou de má fé ou com a posse violenta ou pacífica – mas,
antes de acordo com o modo por que é exercida, em contínuo. Seria esta a chave
do sistema: a posse pode passar de pública a oculta ou inversamente. Para se
constituir, a posse terá de ser cognoscível pelos interessados; pode, porém,
subsistir clandestinamente. Simplesmente, enquanto se mantiver neste último
estado, ela não é boa para usucapião: será uma mera posse interdital. Nesse
sentido parece apontar efetivamente o artigo 1297.º do CC. Em todo o caso, não
haveria usucapião. O tempo de publicidade não o permite, atendendo ao disposto
no artigo 1297.º.
• Possibilidade referência à posição defendida no curso acerca da posse oculta:
uma posse totalmente oculta desde o momento do início do controlo material
sobre a coisa não será verdadeira posse em sentido técnico jurídico. Segundo esta
perspetiva, a referência à posse oculta só se poderá entender se se tiver presente
o disposto no artigo 1267.º. Alusão à possibilidade de consideração, à luz deste
preceito, como posse oculta apenas da posse tomada ocultamente, mas que
entretanto se transformou em pública, desconhecendo contudo o antigo
possuidor, não obstante essa publicidade, a nova posse (esta posse é oponível a
terceiros, mas não ao esbulhado que mantém a sua posse). Esta posse oculta (que
é a tomada ocultamente mas, entretanto, tornada pública) não é oponível ao
esbulhado para efeitos de aplicação do prazo do artigo 1267.º/d) (cfr. artigo
1267.º/2) enquanto não for dele conhecida, mas por ter publicidade face a
terceiros é posse a partir do começo dessa publicidade (e só a partir dela) e torna-
se boa para usucapião a partir desse momento e só desse. Uma posse tomada
publicamente, mas que deixou de ter publicidade deixa de ser posse. Um controlo
material tomado ocultamente e mantido ocultamente também não é posse. Posse,
seja de que tipo for pressupõe sempre publicidade. A esta luz, mesmo perante o
artigo 1297.º, para se poder falar de uma posse tomada ocultamente, é necessário
que o controlo material tomado ocultamente já tenha dado lugar a um exercício
publico desse poder. Antes desse convolação do oculto em público não faz sentido
falar em posse, nem mesmo em posse tomada ocultamente. A referência a uma
posse tomada publicamente ou ocultamente pressupõe já o ato de nascimento
jurídico dessa posse.
I / A) 4. Abel alega que é o legítimo titular das gravuras. Quem tem razão?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A e
B.
• Na hipótese estará em causa a eventual aquisição originária do direito real de
propriedade por usucapião, por parte de B. Menção dos requisitos.
• Responder negativamente à aquisição por usucapião por parte de B.
I / A) 5. Ana diz não o ter de devolver, alegando ter direito pelo “decurso do tempo”.
Quem tem razão?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A e
B.
• A hipótese refere o “decurso do tempo”, logo estará em causa a eventual
aquisição originária do direito real de propriedade por usucapião por parte de
A. Menção dos requisitos.
• Responder negativamente à aquisição por usucapião por parte de A.
(5 valores)
I / B)
I / B) 1. António comprou a Bento três jarras de companhia das Índias. Ainda antes da
entrega das jarras, por Bento a António, elas são esbulhadas por Carlos. Quem é neste
caso o possuidor e que tipo de posse tem? Quem é que pode recorrer às ações possessórias
contra Carlos? António, Bento ou ambos?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A, B
e C.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de A: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consenso por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (artigo 408.º); A é,
com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material sobre
as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus possessório, que
nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que C adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• A pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a B, a admitir-se a transmissão da posse pelo constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.
I / B) 2. Francisco doa a Nuno um telemóvel, o qual é furtado por Gonçalo, escassos
momentos antes da entrega a Nuno. Quem tem posse, quais as caraterísticas da posse e
quem pode utilizar ações para defesa da posse?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: F,
N e F.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de N: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consenso por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (artigo 408.º); A é,
com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material sobre
as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus possessório, que
nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que G adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• N pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a F, a admitir-se a transmissão da posse pelo constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.
I / B) 5. Aníbal comprou a Bruno dois quadros de Monet. Ainda antes da entrega dos
quadros, por Bruno a Aníbal, elas são esbulhadas por Carmen. Tendo em conta a
factualidade do caso, responda ao seguinte: i) quem é o possuidor; ii) qual o tipo de posse;
e iii) quem é que pode recorrer às ações possessórias contra Carmen?
• Classificação e efeitos da posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese:
A, B e C.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de A: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consensus por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (v. artigo 408.º); A
é, com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material
sobre as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus
possessório, que nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que C adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• A pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a B, a admitir-se a transmissão da posse por constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.
(4 valores)
II
II 1. António, vendedor, celebrou um contrato de compra e venda de um terreno, que era
seu e que estava registado a seu favor, com Bento, comprador. Bento, por sua vez, vende-
o, dois anos mais tarde, a Carlos que regista a sua aquisição. Algum tempo depois vem-
se a apurar que o negócio entre António e Bento sofre de uma invalidade substancial.
António pretende recuperar o terreno e para isso interpõe uma ação destinada a obter a
declaração de invalidade da venda por ele efetuada e obtém ganho de causa. Mas Carlos
opõe-se dizendo nada ter de devolver uma vez que se deu uma aquisição tabular a seu
favor. Tem razão?
II 3. Aníbal, sob coação moral, vendeu uma moradia a Bernardo, que não registou a
aquisição. Dois anos depois, Bernardo vendeu a moradia a Carlota, que registou o
negócio. Anos mais tarde, Aníbal intenta com sucesso uma ação de declaração de
invalidade do negócio de compra e venda celebrado com Bernardo. Agora, Aníbal
pretende que Carlota lhe entregue a moradia, mas Carlota recusa-se, afirmando que a
Conservadora do Registo Predial lhe disse, aquando do registo da sua aquisição, que após
o registo a sua posição estava completamente salvaguardada para sempre. Terá razão?
III
III 1. António é tutor na FDL. No âmbito das suas atividades de tutoria António auxilia
o seu condiscípulo Bento que tem particulares dificuldades de aprendizagem em Direitos
Reais. Um dos aspetos em que Bento sente dificuldades prende-se com a noção e conceito
de direito real. Pede, por isso, a ajuda a António para que este explique o que se deve
entender por direito subjetivo real. Em especial, mas não só, Bento tem dificuldades em
perceber se ao direito real corresponde uma obrigação passiva universal, ou não, e o que
isso significa. Bento, também não percebe se o direito real é, ou não, um direito absoluto.
Se fosse o tutor o que diria?
III 2. Joaquim, estudante do dia de Direitos reais, segundo semestre, no ano letivo
2019/2020, é conhecido por todos os seus colegas da FDL como sendo uma pessoa
permanentemente disposta a aceitar desafios. Uma das coisas de que se gaba é de ter uma
memória de elefante. Depois de uma aula de Direitos reais em que é explicado o conceito
de direito subjetivo real, a ideia de obrigação passiva universal e a questão de saber se os
direitos reais são, ou não, absolutos Prudêncio, seu colega, decide desafiá-lo a dizer tudo
o que foi dito nessa aula. O que pensa deverá Joaquim dizer para superar o desafio?
III 3. Bernardino na noite anterior ao exame de Direitos Reais teve um sonho em que ele
aparecia numa oral a explicar aos examinadores o que se devia entender por obrigação
passiva universal no quadro dos direitos subjetivos reais e em que discorria ainda sobre a
própria ideia de direito subjetivo real. Nesse sonho, um dos examinadores enunciou a
Bernardino as caraterísticas dos direitos reais, mas não incluiu a absolutidade. Terá razão?
III 4. Albino está a escrever uns apontamentos destinados a servir de sebenta aos alunos
de Direitos reais. Está neste momento a escrever sobre o conceito de direito real. O que
pensa devia Albino escrever, de forma sucinta, sobre o direito subjetivo real, sobre se a
este corresponde uma obrigação passiva universal, ou não, sobre o que tal significa e no
que concerne à absolutidade dos direitos reais?
III 5. Ana é licenciada em Direito. Ana tem um primo, Norberto, que estuda Direito e
está de momento a preparar-se para o exame de Direitos reais. Em conversa, num almoço
de desconfinamento, começam a debater várias matérias que Norberto tem estudado.
Abordam questões como o que é um direito subjetivo real se lhe corresponde, ou não,
uma obrigação passiva universal e o que isso significa. Bruno, não entende, igualmente,
se o direito real é, ou não, um direito absoluto. O que pensa que Ana e Norberto terão
discutido?
III 6. Alexandre é aluno de Direito na Faculdade de Direito de Coimbra. Bernardo estuda
na Faculdade de Direito de Lisboa. Estando os dois juntos na Festa de aniversário de
Constança começam ambos a gabar a qualidade do ensino da respetivas Faculdades.
Perante os elogios que cada um fazia à sua instituição de ensino David lança-lhes um
desafio: cada um deles devia escrever o que sabia sobre o direito subjetivo real, sobre se
ele corresponde a uma obrigação passiva universal, e se ele é, ou não, um direito
absoluto”. No final ver-se-ia quem está melhor preparado. O que deverá escrever cada
um deles para superar o desafio?
(5 valores)
GRELHA DE CORREÇÃO
I
Abel, proprietário de uma moradia no Algarve, convidou, no início de maio de 2003, a sua
amiga Berta para ir consigo de férias.
No final de maio do mesmo ano, Abel regressou de urgência a Lisboa, deixando que Berta
continuasse a gozar as férias no imóvel.
Após a saída de Abel, Berta decidiu passar a habitar no imóvel, sabendo que Abel era
abastado e não se importaria que lá permanecesse.
Em seguida, Berta mandou construir uma piscina olímpica e instalar um telheiro de madeira
no jardim da moradia.
Em outubro de 2003, Abel regressou à moradia, vendo-a ocupada por Berta.
Em junho de 2023, Berta apresentou ação judicial com vista a invocar a usucapião do
imóvel do Algarve, tendo Abel contestado.
Quid juris?
Tópicos de correção:
Indicar que no momento em que Berta se encontra com Abel na moradia, é uma mera
detentora, nos termos previstos no artigo 1253.º, al. b), do Código Civil, uma vez que o gozo
da coisa resulta da tolerância do proprietário, não tendo sido celebrado entre as Partes
qualquer contrato de comodato ou qualquer outro direito pessoal de gozo atípico, razão pela
qual não tem aplicação a alínea c) do artigo 1253.º.
Discutir se a conduta de Berta, após a saída de Abel, é idónea a integrar uma situação de
inversão do título da posse, nos termos previstos no artigo 1263.º, al. d) e artigo 1265.º,
enquanto modo de aquisição originária da posse, desenvolvendo os requisitos de aplicação.
Caso não se tivesse verificado inversão do título da posse, a ação em causa seria julgada
improcedente e a usucapião não procederia.
II
António, proprietário de um relógio da marca Tudor, vendeu-o a Bento, aficionado por
relógios.
Entretanto, o relógio de Bento foi furtado por Carlos, ladrão profissional, que o vendeu a
Dário, comerciante de objetos em segunda mão, que por sua vez o vendeu a Ernesto,
amigo de Bento.
Numa festa em que Ernesto e Bento se encontravam, onde Ernesto exibia o relógio Tudor.
Bento reconheceu o seu relógio., exigindo a sua entrega imediata. Ernesto recusa.
Quid juris?
Tópicos de correção:
Indicar que António é proprietário e possuidor do relógio, nos termos dos artigos: 1302.º e
1305.º.
Referir que Bento praticou um esbulho, enquanto modalidade de apossamento, nos termos
do artigo 1263.º, al. a), desenvolvendo os requisitos de aplicação deste modo de aquisição
originária da posse, caracterizando a sua posse de acordo com os caracteres legais dos
artigos 1258.º a 1262.º e de acordo com os caracteres doutrinários.
Mencionar que a compra e venda de Bento a Carlos é nula por se tratar de compra e venda
de bens alheios, nos termos do artigo 892.º, não tendo aquele o poder de disposição nos
termos do artigo 1305.º do Código Civil.
Aplicar e explicar o regime do artigo 1301.º, dizendo que a ordem jurídica portuguesa não
consagrou o princípio da “posse vale título”. Sendo Ernesto terceiro de boa fé, apenas terá
de restituir o relógio a António, se este lhe pagar o preço pago a Dário. António poderá
exercer o seu direito de regresso contra o esbulhador.
III
Alberto vendeu, em 1970, a Benedita, um apartamento em Cascais mediante escrito
particular.
Benedita habitou no imóvel até 2022, data em que faleceu, deixando como única herdeira a
sua filha Carlota.
Aproveitando o facto de o imóvel não se encontrar registado, Daniel vendeu a Elma o
apartamento que pertencia a Carlota. Elma, além de ignorar que o imóvel pertencia a
Carlota, confiou na titularidade de Daniel, que antes assegurou a inscrição a seu favor com
documentos forjados.
Carlota decidiu agora vender o imóvel que era da sua mãe, verificando, contudo, que o
imóvel está registado a favor de Daniel.
Perante o sucedido, Carlota solicitou auxílio ao seu Advogado para que solucionasse
imediatamente a situação, o que este se prontificou a fazer.
Quid juris?
Tópicos de correção
Benedita adquire posse nos termos do direito de propriedade por via de tradição da coisa.
Classificação da posse de Benedita (que seria, desde logo, não titulada — artigo 1259.º, n.º
1). Carla sucede depois na posse de Benedita (artigo 1255.º).
O registo de Daniel é nulo, visto ter sido lavrado com base em títulos falsos (artigo 16.º, al.
a), CRPr). Daniel passou, por isso, a figurar no registo como sendo proprietário do imóvel
pertencente a Alberto.
Discutir a aplicação do artigo 17.º, n.º 2, do CRPr e indicação dos requisitos de tutela do
terceiro adquirente (Elma), designadamente em torno da questão de saber se o prazo de 3
anos contados desde a falsificação do documento que serviu de base à inscrição de Daniel
deve ser aplicável.
I
António, proprietário de um imóvel em Lisboa, celebra, no dia 08.08.2019, um
contrato com Bento, através do qual o primeiro transmitia ao segundo o direito
de propriedade sobre o imóvel e Bento transmitia a António um usufruto sobre
um apartamento. Bento, por incúria do notário onde a escritura pública havia sido
lavrado, não vê registado o seu facto aquisitivo.
Entretanto, António é penhorado, sendo o seu direito de propriedade vendido em
venda executiva a Carlos. Carlos registou o seu facto aquisitivo no dia
09.08.2020.
Bento, no dia 01.09.2020, dirige-se à Conservatória do Registo Predial de
Lisboa, para pedir uma certidão predial do imóvel de Lisboa, deparando-se com
a inscrição do direito a favor de Carlos.
Vendo o sucedido, Bento pretende reagir, uma vez que havia celebrado negócio
válido com António.
Quid iuris?
Tópicos de correção
Celebração entre A e B de um contrato de permuta, enquanto contrato oneroso
translativo de direitos reais. Cumprimento da forma legalmente prevista para o
negócio jurídico em causa (artigo 875.º do CC). Referência à transmissão do
direito real de propriedade a favor de B, por mero efeito do contrato (artigos
408.º/1 e 879.º a) inerente ao nosso sistema do título e consequentes princípios
da consensualidade e da causalidade.
Facto aquisitivo de B sujeito a registo de acordo com o artigo 2.º/1 a), do CRP,
no prazo de 60 dias (artigos 8.ºA/1, al. a) e artigo 8.ºC/1.
Violação pelo notário da obrigação de promover o registo (artigo 8.ºB/1 e
subsequente responsabilidade civil e disciplinar sua).
Discussão sobre a eventual aquisição tabular de C, atendendo à letra do artigo
5.º/4 do CRP, e dependendo da doutrina que se defenda a propósito da natureza
jurídica da venda executiva. Tomada de posição fundamentada sobre as
posições de B e C, de acordo com a posição seguida.
II
Abel, proprietário de um prédio rústico, pretende intentar ação de reivindicação
contra Bento, exigindo a entrega de um terreno em Serpa.
Abel pede ainda ao seu advogado que em tal ação real seja cumulado um pedido
de demarcação de tal terreno.
Entretanto, Abel constitui a favor de Camilo um usufruto vitalício, sendo previsto
no título constitutivo que Abel poderia continuar a gozar o imóvel conjuntamente
com Camilo e apenas Abel o poderia arrendar a terceiros. Camilo aliena o seu
direito real menor a Dário, que toma posse do imóvel, exigindo a retirada
imediata de Abel do mesmo, que recusa.
Quid iuris?
Tópicos de correção
III.
Em março de 2000, Francisco acordou com Guilherme arrendar-lhe um
apartamento em Faro por 30 anos, por uma renda mensal de 3000 €. Em abril
de 2010, a braços com dificuldades financeiras, Guilherme deixa de pagar as
rendas. Por amizade, Francisco foi tolerando a situação, não exigindo quaisquer
montantes em falta. Em maio de 2020, Francisco recebe uma carta de
Guilherme, que reclama ter adquiridos direitos pelo facto de Francisco ter
abandonado o prédio.
Refira os problemas jurídico-possessórios envolvidos na hipótese,
fundamentando a sua resposta.
Tópicos de correção
IV
Ana era proprietária de uma quinta em Fafe, onde tinha um pequeno pomar.
Como só conseguia ir à quinta de 2 em 2 meses, Ana decidiu constituir um
usufruto com duração de 15 anos, em maio de 2010, a favor de Bento, tendo o
negócio sido celebrado por documento particular autenticado. Bento
transformou, de imediato, o pomar num pessegal, comprometendo-se, porém,
com a sua restituição à forma anterior, quando o seu direito terminasse. Em
2019, Bento vem a falecer num acidente. Carlos, seu filho, já veio dizer que lhe
irá suceder na exploração do pessegal. Explique todas as questões jurídico-reais
da hipótese.
Tópicos de correção
i. Caracterização do contrato de usufruto celebrado entre A e B (artigos 1439.º e
ss., do CC), em especial, os direitos do nu proprietário e do usufrutuário; referir
que foi cumprida a forma legalmente exigida (artigos 875.º e 939.º, do CC e artigo
22.º, a), do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 04 de julho).
ii. No que diz respeito à transformação levada a cabo por B, discutir a sua
admissibilidade tendo em conta os limites negativos do usufruto (artigos 1439.º,
1446.º e 1306.º, do CC), expondo as diversas posições doutrinárias a este
respeito, bem com a discussão sobre a eventual supletividade deste regime
(artigo 1445.º, do CC). Em especial, discutir se a circunstância de o usufrutuário
se comprometer a restituir a coisa à sua forma anterior, tem relevância para a
resposta a esta questão.
iii. Quanto à posição jurídica de C, sendo um usufruto constituído por um
determinado prazo, C sucede na posição jurídica de B.
2. Quais os meios de reação a que Bernardo pode recorrer para reaver a quinta? (3 v.)
Entretanto, não querendo esperar pelos tramites de uma ação judicial, Bernardo
desloca-se pessoalmente à quinta, que passou a ocupar, não permitindo a Carlos entrar.
3. O que pode Carlos fazer para recuperar a posse e que viabilidade tem a sua
pretensão? (3 v.)
Apossamento de Bernardo por ação directa. A sua posse é causal, titulada, de boa-
fé, pública e possivelmente violenta (a hipótese não esclarece);
Carlos não tem ao seu dispor a ação de reivindicação, uma vez que não é
proprietário do imóvel;
Carlos pode, contudo, intentar uma ação de restituição da posse contra Bernardo,
mas este poderá deduzir a exceptio dominii, por ser o proprietário da quinta, tendo
vencimento; e
Não sendo deduzida a excepção de propriedade o conflito de posses (Carlos só
perde a posse um ano após o esbulho) era resolvido nos termos do n.º 2 e do n.º 3
do art. 1278.º do CC., tendo Bernardo melhor posse (titulada), o que quer dizer,
que a ação seria declarada improcedente.
II
O contrato de compra e venda celebrado entre Elisa e Filipe é nulo, nos termos do
artigo 892.º articulado com o artigo 904.º do CC e não produz quaisquer efeitos,
nos termos dos artigos 286.º e 289.º do CC, desde logo não produz o efeito
translativo previsto no artigo 879.º, alínea a), do CC. Discutir dos termos da
aquisição da posse por Filipe e seus caracteres;
A doação a Gilberta é igualmente nula pelo mesmos fundamentos não podendo
Filipe ter beneficiado de usucapião, atenta a sua posse ser uma posse de má fé e
não ter decorrido o prazo legalmente exigido em conformidade com esse caracter,
seis anos, de acordo com o artigo 1299.º do CC.
Gilberta adquire a posse por tradição, nos termos do artigo 1263.º, alínea b), do
CC. Caracterizar a posse de Gilberta; e
Apreciar dos meios de tutela que assistem a Daniela, em particular a ação de
reivindicação, nos termos dos artigos 1311.º e 1313.º.
III
I / A)
I / A) 1. António apoderou-se, furtivamente, em 1980 de um conjunto de objetos de ouro
de Bento. Guardou-os numa gruta, situada numa ilha deserta, onde têm estado escondidos
e ocultos desde então. Na semana passada, foi buscá-los e trouxe-os para Lisboa passando
a exibi-los de forma totalmente pública. Apercebendo-se de onde estavam os seus bens,
Bento exige de imediato a António que proceda à respetiva entrega. António alega
usucapião para não ter de devolver. Tem razão?
• Não pode haver usucapião. Este resultado poderia ser alcançado com diversas
argumentações.
• A usucapião só poderia ser invocada se houver posse durante um período
estabelecido para o efeito. Neste caso, há um poder de facto ou controlo material
sobre a coisa. Mas haverá algum tipo de posse e será ela boa para usucapião?
Referência à necessidade de ideia publicidade como requisito e caraterística da
posse (artigos 1251.º, 1263.º/a) do Código Civil. Menção, porém, no artigo
1267.º/2 e 1297.º a uma posse oculta. Serão estes preceitos de aplicar ou não há
sequer aqui posse? É possível uma posse oculta? Se sim quais os efeitos?
• Possibilidade de referência à posição de Menezes Cordeiro: a posse pública é
definida, como tal, não por referência ao momento da sua constituição – como
sucede com a posse de boa ou de má fé ou com a posse violenta ou pacífica – mas,
antes de acordo com o modo por que é exercida, em contínuo. Seria esta a chave
do sistema: a posse pode passar de pública a oculta ou inversamente. Para se
constituir, a posse terá de ser cognoscível pelos interessados; pode, porém,
subsistir clandestinamente. Simplesmente, enquanto se mantiver neste último
estado, ela não é boa para usucapião: será uma mera posse interdital. Nesse
sentido parece apontar efetivamente o artigo 1297.º do CC. Em todo o caso, não
haveria usucapião. O tempo de publicidade não o permite, atendendo ao disposto
no artigo 1297.º.
• Possibilidade referência à posição defendida no curso acerca da posse oculta:
uma posse totalmente oculta desde o momento do início do controlo material
sobre a coisa não será verdadeira posse em sentido técnico jurídico. Segundo esta
perspetiva, a referência à posse oculta só se poderá entender se se tiver presente
o disposto no artigo 1267.º. Alusão à possibilidade de consideração, à luz deste
preceito, como posse oculta apenas da posse tomada ocultamente, mas que
entretanto se transformou em pública, desconhecendo contudo o antigo
possuidor, não obstante essa publicidade, a nova posse (esta posse é oponível a
terceiros, mas não ao esbulhado que mantém a sua posse). Esta posse oculta (que
é a tomada ocultamente mas, entretanto, tornada pública) não é oponível ao
esbulhado para efeitos de aplicação do prazo do artigo 1267.º/d) (cfr. artigo
1267.º/2) enquanto não for dele conhecida, mas por ter publicidade face a
terceiros é posse a partir do começo dessa publicidade (e só a partir dela) e torna-
se boa para usucapião a partir desse momento e só desse. Uma posse tomada
publicamente, mas que deixou de ter publicidade deixa de ser posse. Um controlo
material tomado ocultamente e mantido ocultamente também não é posse. Posse,
seja de que tipo for pressupõe sempre publicidade. A esta luz, mesmo perante o
artigo 1297.º, para se poder falar de uma posse tomada ocultamente, é necessário
que o controlo material tomado ocultamente já tenha dado lugar a um exercício
publico desse poder. Antes desse convolação do oculto em público não faz sentido
falar em posse, nem mesmo em posse tomada ocultamente. A referência a uma
posse tomada publicamente ou ocultamente pressupõe já o ato de nascimento
jurídico dessa posse.
I / A) 4. Abel alega que é o legítimo titular das gravuras. Quem tem razão?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A e
B.
• Na hipótese estará em causa a eventual aquisição originária do direito real de
propriedade por usucapião, por parte de B. Menção dos requisitos.
• Responder negativamente à aquisição por usucapião por parte de B.
I / A) 5. Ana diz não o ter de devolver, alegando ter direito pelo “decurso do tempo”.
Quem tem razão?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A e
B.
• A hipótese refere o “decurso do tempo”, logo estará em causa a eventual
aquisição originária do direito real de propriedade por usucapião por parte de
A. Menção dos requisitos.
• Responder negativamente à aquisição por usucapião por parte de A.
(5 valores)
I / B)
I / B) 1. António comprou a Bento três jarras de companhia das Índias. Ainda antes da
entrega das jarras, por Bento a António, elas são esbulhadas por Carlos. Quem é neste
caso o possuidor e que tipo de posse tem? Quem é que pode recorrer às ações possessórias
contra Carlos? António, Bento ou ambos?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: A, B
e C.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de A: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consenso por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (artigo 408.º); A é,
com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material sobre
as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus possessório, que
nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que C adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• A pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a B, a admitir-se a transmissão da posse pelo constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.
I / B) 2. Francisco doa a Nuno um telemóvel, o qual é furtado por Gonçalo, escassos
momentos antes da entrega a Nuno. Quem tem posse, quais as caraterísticas da posse e
quem pode utilizar ações para defesa da posse?
• Classificação e efeitos posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese: F,
N e F.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de N: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consenso por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (artigo 408.º); A é,
com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material sobre
as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus possessório, que
nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que G adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• N pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a F, a admitir-se a transmissão da posse pelo constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.
I / B) 5. Aníbal comprou a Bruno dois quadros de Monet. Ainda antes da entrega dos
quadros, por Bruno a Aníbal, elas são esbulhadas por Carmen. Tendo em conta a
factualidade do caso, responda ao seguinte: i) quem é o possuidor; ii) qual o tipo de posse;
e iii) quem é que pode recorrer às ações possessórias contra Carmen?
• Classificação e efeitos da posse de cada um dos respetivos sujeitos da hipótese:
A, B e C.
• Em especial, mencionar aquisição da posse de A: requisitos e querela doutrinária
neste ponto, mencionado a posição da Regência, que defende que a posse se
transmite solo consensus por constituto possessório (artigos 1263.º, c) e 1264.º),
nos mesmos termos que se dá a transmissão dos direitos reais (v. artigo 408.º); A
é, com efeito, possuidor das três jarras, mesmo não tendo o controlo material
sobre as coisas corpóreas (fenómeno de desmaterialização do corpus
possessório, que nos indica, claramente, que a posse é uma questão de direito).
• Em especial, referir que C adquiriu a posse por apossamento (artigo 1263.º/ a)),
referindo os respetivos requisitos, e que, sendo contra a vontade do atual
possuidor, constitui um esbulho material; havendo um esbulho, a posse do
esbulhado mantem-se por um ano (artigo 1267.º/ n.º 1, d)) (mais um caso de
desmaterialização do corpus possessório), podendo este intentar uma ação de
restituição da posse (artigo 1278.º, n.º 1).
• A pode, igualmente, intentar ação de reivindicação (artigo 1311.º), uma vez que
o direito real de propriedade se transmitiu por mero efeito do contrato (artigos
408.º, 874.º e 879.º).
• No que diz respeito a B, a admitir-se a transmissão da posse por constituto
possessório, este será detentor nos termos do direito de propriedade (artigo
1253.º, a)), só podendo reagir contra um ato de esbulho se for admitida a
presença de uma posse nos termos de um direito pessoal de gozo típico (como o
depósito) ou atípico, pois a sua posse interdital permitir-lhe-á intentar uma ação
de restituição da posse.
(4 valores)
II
II 1. António, vendedor, celebrou um contrato de compra e venda de um terreno, que era
seu e que estava registado a seu favor, com Bento, comprador. Bento, por sua vez, vende-
o, dois anos mais tarde, a Carlos que regista a sua aquisição. Algum tempo depois vem-
se a apurar que o negócio entre António e Bento sofre de uma invalidade substancial.
António pretende recuperar o terreno e para isso interpõe uma ação destinada a obter a
declaração de invalidade da venda por ele efetuada e obtém ganho de causa. Mas Carlos
opõe-se dizendo nada ter de devolver uma vez que se deu uma aquisição tabular a seu
favor. Tem razão?
II 3. Aníbal, sob coação moral, vendeu uma moradia a Bernardo, que não registou a
aquisição. Dois anos depois, Bernardo vendeu a moradia a Carlota, que registou o
negócio. Anos mais tarde, Aníbal intenta com sucesso uma ação de declaração de
invalidade do negócio de compra e venda celebrado com Bernardo. Agora, Aníbal
pretende que Carlota lhe entregue a moradia, mas Carlota recusa-se, afirmando que a
Conservadora do Registo Predial lhe disse, aquando do registo da sua aquisição, que após
o registo a sua posição estava completamente salvaguardada para sempre. Terá razão?
III
III 1. António é tutor na FDL. No âmbito das suas atividades de tutoria António auxilia
o seu condiscípulo Bento que tem particulares dificuldades de aprendizagem em Direitos
Reais. Um dos aspetos em que Bento sente dificuldades prende-se com a noção e conceito
de direito real. Pede, por isso, a ajuda a António para que este explique o que se deve
entender por direito subjetivo real. Em especial, mas não só, Bento tem dificuldades em
perceber se ao direito real corresponde uma obrigação passiva universal, ou não, e o que
isso significa. Bento, também não percebe se o direito real é, ou não, um direito absoluto.
Se fosse o tutor o que diria?
III 2. Joaquim, estudante do dia de Direitos reais, segundo semestre, no ano letivo
2019/2020, é conhecido por todos os seus colegas da FDL como sendo uma pessoa
permanentemente disposta a aceitar desafios. Uma das coisas de que se gaba é de ter uma
memória de elefante. Depois de uma aula de Direitos reais em que é explicado o conceito
de direito subjetivo real, a ideia de obrigação passiva universal e a questão de saber se os
direitos reais são, ou não, absolutos Prudêncio, seu colega, decide desafiá-lo a dizer tudo
o que foi dito nessa aula. O que pensa deverá Joaquim dizer para superar o desafio?
III 3. Bernardino na noite anterior ao exame de Direitos Reais teve um sonho em que ele
aparecia numa oral a explicar aos examinadores o que se devia entender por obrigação
passiva universal no quadro dos direitos subjetivos reais e em que discorria ainda sobre a
própria ideia de direito subjetivo real. Nesse sonho, um dos examinadores enunciou a
Bernardino as caraterísticas dos direitos reais, mas não incluiu a absolutidade. Terá razão?
III 4. Albino está a escrever uns apontamentos destinados a servir de sebenta aos alunos
de Direitos reais. Está neste momento a escrever sobre o conceito de direito real. O que
pensa devia Albino escrever, de forma sucinta, sobre o direito subjetivo real, sobre se a
este corresponde uma obrigação passiva universal, ou não, sobre o que tal significa e no
que concerne à absolutidade dos direitos reais?
III 5. Ana é licenciada em Direito. Ana tem um primo, Norberto, que estuda Direito e
está de momento a preparar-se para o exame de Direitos reais. Em conversa, num almoço
de desconfinamento, começam a debater várias matérias que Norberto tem estudado.
Abordam questões como o que é um direito subjetivo real se lhe corresponde, ou não,
uma obrigação passiva universal e o que isso significa. Bruno, não entende, igualmente,
se o direito real é, ou não, um direito absoluto. O que pensa que Ana e Norberto terão
discutido?
III 6. Alexandre é aluno de Direito na Faculdade de Direito de Coimbra. Bernardo estuda
na Faculdade de Direito de Lisboa. Estando os dois juntos na Festa de aniversário de
Constança começam ambos a gabar a qualidade do ensino da respetivas Faculdades.
Perante os elogios que cada um fazia à sua instituição de ensino David lança-lhes um
desafio: cada um deles devia escrever o que sabia sobre o direito subjetivo real, sobre se
ele corresponde a uma obrigação passiva universal, e se ele é, ou não, um direito
absoluto”. No final ver-se-ia quem está melhor preparado. O que deverá escrever cada
um deles para superar o desafio?
(5 valores)
Época de Recurso
I
Há meses que António cobiçava o smartphone topo de gama do seu irmão, Bento, quando,
finalmente, em julho de 2016, o conseguiu convencer a dar-lho. Ficou então combinado entre ambos
que Bento entregaria o smartphone a António uma semada depois, após comprar um novo para si.
No dia seguinte, Bento almoçou com amigos na esplanada de um restaurante e quando retornou a
casa verificou que se tinha esquecido do smartphone. Horas depois, Carlos ia a passar na rua do
restaurante quando encontrou o dito smartphone à beira da estrada, numa sarjeta. Carlos riu-se para
si mesmo com desprezo por haver pessoas que atiram telemóveis tão bons para a sarjeta.
Dois anos depois, Carlos vendeu o smartphone a Daniela através de uma plataforma online de
venda de objetos usados, entregando-o no próprio dia.
Em maio de 2021, Daniela, que era comerciante de aparelhos eletrónicos novos e usados, colocou
o smartphone à venda na sua página da internet. António viu o anúncio e reconheceu o objeto que
havia pertencido ao seu irmão, pelo que enviou uma mensagem a Daniela a exigir-lhe a sua entrega.
Daniela não respondeu e vendeu o smartphone a Ernesto.
Responda a cada uma das seguintes questões isoladamente:
a) Caracterize a situação jurídico-real do smartphone relativamente aos vários intervenientes do
caso. (8 valores)
- Doação só fica perfeita com a tradição (contrato real quoad constitutionem) ou se for celebrada
por escrito, não sendo válida se for meramente verbal e sem tradição (947.º/2 CC). Logo, não há
trasmissão da propriedade para A, nem da posse.
- Perda da posse de B por perda da coisa (1267.º/1, b) CC).
- Aquisição da posse por C através de apossamento (1263.º, a) CC). Classificações legais e
doutrinárias da posse, nomeadamente a má fé (C devia saber que o smartphone encontrado pode ser
um objeto perdido).
- Aplicação do regime do achamento (1323.º CC). O prazo de 1 ano para C adquirir a propriedade
por essa via não começa a correr, porque C não procedeu ao respetivo anúncio.
- Nulidade das vendas de bem alheio entre C e D e entre D e E (892.º e 904.º CC).
- Aquando da venda a Ernesto, não há ainda possibilidade de invocar a usucapião:
- havendo acessão da posse apenas relativamente a D, seria necessário terem decorrido três
anos desde a aquisição da posse por D em julho de 2018 (1299.º, 1ª parte CC) – em maio de 2021,
falta ainda dois meses;
- havendo acessão da posse relativamente a D e C, seria necessário terem decorrido seis anos
desde a aquisição da posse por C, em julho de 2016, dada a má fé que caracteriza a posse deste
(1299.º, 1ª parte CC) – falta igualmente dois meses.
Duração: 90 minutos
- A não era proprietário nem possuidor, portanto não tem legitimidade para intentar qualquer ação
real. B perdeu a sua posse há mais de um ano, tendo caducado as ações de tutela possessória (1282.º
CC), mas pode intentar, com sucesso, uma ação de reivindicação contra E (1311.º CC), pois é ainda
o proprietário do smartphone. E terá então direito a receber de B o preço pago a D, tendo B direito
de regresso sobre D (1301.º C).
b) Suponha que Bento tinha entregado o smartphone de imediato a António e que este, desiludido
com o aparelho que tanto tinha cobiçado, o atirara propositadamente para a sargeta, o qual foi depois
encontrado por Carlos. O que mudaria na sua resposta? (3 valores)
- Aquisição da posse por A por tradição (1263.º, b) CC)
- Perda da posse por A por abandono (1267.º/1, a) CC), enquanto ato material intencional de
rejeição do direito sobre a coisa.
- Extinção do direito de propriedade de A (adquirido por doação com a entrega da coisa) por
renúncia
- Aquisição do direito de propriedade por C por ocupação, dado tratar-se agora de uma coisa
abandona e não já perdida (1318.º CC).
c) Imagine agora que Carlos, depois de encontrar o smartphone, o manteve fechado numa gaveta
até janeiro de 2020, altura em que o vendeu a Daniela. Em julho de 2021, Daniela coloca o aparelho
à venda e recebe a mensagem de António a exigir-lhe a sua entrega. Daniela responde que, mesmo
que a história relatada por António seja verdadeira, já passaram muitos anos, pelo que ela é a legítima
proprietária. Terá razão? (3 valores)
- Tomada de posição fundamentada sobre a possibilidade de existência de posse oculta como
verdadeira posse:
- Referência à necessidade de ideia publicidade como requisito e caraterística da posse (artigos
1251.º e 1263.º, a) CC). Os artigos 1267.º/2 e 1297.º CC mencionam, porém, uma posse oculta.
- Referência à posição, defendida no curso, que rejeita a existência de posse oculta: uma posse
totalmente oculta desde o momento do início do controlo material sobre a coisa não será verdadeira
posse em sentido técnico jurídico. A referência legal a uma posse oculta só se poderá entender se se
tiver presente o disposto no artigo 1267.º CC. Alusão à possibilidade de consideração, à luz deste
preceito, como posse oculta apenas da posse tomada ocultamente e que entretanto se transformou em
pública (no caso, com a venda do smartphone a Daniela), mas desconhecendo o antigo possuidor esta
nova posse – que é, portanto, boa para usucapião e oponível a terceiros, mas não ao antigo possuidor,
nomeadamente para efeitos de aplicação do prazo do artigo 1267.º, d) CC, nos termos do artigo
1267.º/2 CC.
- Possibilidade de referência à posição de Menezes Cordeiro quanto à possibilidade de posse
oculta: a posse pública é definida, não por referência ao momento da sua constituição, mas de acordo
com o modo por que é exercida. A posse poderá, assim, passar de pública a oculta ou inversamente.
Para se constituir, terá de ser cognoscível pelos interessados; pode, porém, subsistir clandestinamente
(no entanto, não é boa para usucapião: será uma mera posse interdital, nos termos do 1297.º e 1300.º/1
CC).
- D não podia invocar a usucapião, atento o prazo do artigo 1300.º/2 CC.
Duração: 90 minutos
II
Em janeiro de 2021, Fábio, proprietário de um terreno agrícola no Ribatejo, deu-o de usufruto a
Guida por € 50.000. O negócio foi realizado por correio eletrónico e, dada a confiança entre ambos,
as partes não consideraram necessário proceder ao respetivo registo. Ficou ainda estabelecido que
Guida poderia construir uma fábrica de papel no terreno. Em junho de 2020, Fábio, com dificuldades
financeiras por causa das restrições provocadas pela pandemia da COVID-19, vendeu o referido
terreno a Hélia, tendo a aquisição sido registada. Além disso, Fábio exigiu a Guida que demolisse a
fábrica que esta tinha começado a construir, com a justificação de que o acordo entre ambos era
inválido. Quid juris? (6 valores)
- NJ de constituição de usufruto é nulo por falta de forma (22.º, a) DL 116/2008 e 220.º CC).
- Embora a constituição de usufruto se trate de um facto sujeito a registo (2.º/1, a) CRPr), devido
à invalidade formal o registo, a ser requerido, deveria ser recusado por insuficiência do título (69.º/1,
b) CRPr). Não há, portanto, violação do princípio da obrigatoriedade consagrado no art.º 8.º-A CRPr.
- Tomada de posição fundamentada sobre se cláusula que permite construção de fábrica de papel
por Guida consistiria numa violação de algum dos limites negativos do usufruto, estabelecidos nos
artigos 1439.º e 1446.º CC, atendendo às posições doutrinárias sobre (i) os conceitos de forma,
substância e destino económico e (ii) a supletividade ou imperatividade das referidas normas.
- Uma vez que a constituição do usufruto fora nula, não se colocava a questão se saber se haveria
aquisição tabular (da propriedade plena) a favor de H, à luz do artigo 5.º/1 e 4 CRPr. Se fosse válida,
H teria adquirido por contrato apenas a nua-propriedade e só por aquisição tabular resultante da
aplicação dessas normas permitira que se tornasse proprietário pleno, dado que a propriedade plena e
o usufruto se tratam de direitos incompatíveis e F seria considerado autor comum, nos termos do n.º
4 do referido artigo.
Duração: 90 minutos
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
DIREITOS REAIS
3.º Ano Noite – 1 de julho de 2022
Regência: Prof. Doutor Pedro de Albuquerque
I
António é um latifundiário e vive num solar do século XVIII, decorado com valiosíssimas
obras de arte.
Num belo dia, António decide doar um dos quadros que ornamentava a sua sala de estar ao
mordomo, Bento, como reconhecimento dos seus bons anos de serviço. Para o efeito,
entregou-lhe em mãos o referido quadro. Como Bento tinha receio de o danificar ao transportá-lo
para a sua residência, deixou-o num canto da despensa do solar.
Carlos, outro empregado de António, que há anos nutria uma rivalidade intensa contra
Bento, ficou furioso com a doação. Assim, pela calada da noite, resolve furtar o quadro doado a
Bento, removendo-o da despensa onde Bento o havia guardado e escondendo-o num alçapão de
um armazém anexo ao solar, local que nem António conhecia. No dia seguinte, Bento, não vendo
o quadro na despensa e procurando-o por toda a casa, assumiu que o tinha perdido.
Decorridos mais de 10 anos, tendo Bento falecido, o seu sobrinho, Daniel sucedeu-lhe como
seu único herdeiro. Carlos resolve então tirar finalmente o quadro do alçapão onde esteve tantos
anos escondido. Como o quadro tinha um elevado valor de mercado resolveu vendê-lo a um museu,
que o restaurou, de modo a evitar a sua deterioração, e o expôs.
Passados 4 anos, Daniel vê o quadro exposto. Lembrando-se das histórias que o seu tio
contava sobre o quadro que perdera, pretende que o quadro lhe seja entregue. Quid juris? (8
valores)
António é o proprietário do quadro, transmitindo o seu direito a Bento, com uma doação válida (408.º,
1; 947.º, 2 e 954.º, a) todos do CC). A propriedade é transmitida por sucessão a Daniel (1317.º, b) CC).
António também transmite a sua posse, nos termos da propriedade, a Bento, por tradição material,
perdendo-a, respetivamente, por cedência (1251.º, 1263.º, b) e 1267, 1, c) CC).
Não há perda da posse por Bento (1267, 1, b) CC), na medida em que não se procede em tais termos
que seja manifestamente impossível recuperar a coisa.
Há discussão doutrinária sobre se Carlos adquire a posse ao furtar o quadro. A posição do curso é a de
que a posse tomada ocultamente e mantida oculta não é posse, a não ser quando é tornada pública, o
que acontece com a venda ao museu (apesar de não ser conhecida do antigo possuidor efetivo). Apesar
do furto e da venda, Bento e, depois, Daniel, que lhe sucedeu na posse — 1255.º, CC —, mantém-se
como possuidor. Aliás, o esbulhado só tem conhecimento efetivo do esbulho no momento em que vê a
obra de arte no museu (1267.º, 2, CC).
No entanto, Autores há que defendem que a posse pública é definida tendo por referência o modo como
é exercida e não o momento da constituição, podendo haver posse mesmo sendo tomada ocultamente
e mantida de forma oculta. Nesses termos, Carlos adquire a posse no momento do furto por
apossamento (1263.º, a), CC), sendo a sua posse oculta (1262.º, CC). Mesmo nesta doutrina, só a partir
do conhecimento efetivo do esbulho pelo esbulhado é que se conta 1 ano para a perda da posse de
Daniel. A discussão sobre se há usucapião por Carlos pode ser tida ao abrigo desta segunda doutrina,
mas a posse de Carlos não é boa para usucapião, na medida em que é oculta durante toda a sua extensão
(1262.º e 1300.º, 1 CC).
O museu adquire a posse nos termos da propriedade por tradição material da coisa (1263.º, b), CC),
perdendo Carlos a posse por cedência (1267, c), CC). A venda de Carlos é nula, por ser uma compra e
venda de bens alheios (892.º, CC). Se se adotar uma posição que vê a boa fé do regime da posse como
uma boa fé subjetiva ética, então pode discutir-se se a posse do museu é de boa ou má fé. Na medida
em que um museu diligente confirma a origem das peças que compra, pode não ser desculpável que o
museu desconhecesse que a peça não era de Carlos, estando a lesar com a sua posse um direito de
outrem (1260.º, 1, CC). Com base nesta discussão, o museu pode ou não, se invocado, adquirir a
propriedade do quadro por usucapião. A sua posse é titulada mas, se de boa fé, o prazo é de 3 anos; se
não, o prazo é de 6 anos (1299.º, CC). O 1300.º, 2, CC não era aplicável.
As benfeitorias necessárias (216.º, CC) realizadas pelo museu enquadrar-se-iam no regime do 1273.º,
1, CC.
Daniel pode propor uma ação de restituição da posse, na medida em que foi esbulhado e o prazo para
a caducidade da ação ainda não terminou (1278.º, 1, e 1282.º, CC). Se a posse do museu fosse
considerada de boa fé, a ação seria improcedente (1281.º, 2, CC); se considerada de má fé seria
procedente (a de Daniel seria mais antiga e o museu não podia invocar a propriedade por usucapião —
1278.º, CC).
Daniel pode propor uma ação de reivindicação, não precisando de fazer a prova diabólica, pois goza da
presunção da posse (1268, 1, CC). Há que indicar os requisitos da ação de reivindicação. A ação é
improcedente se o museu invocar usucapião, na medida em que extingue o direito de propriedade de
Daniel. Se não, a ação seria procedente.
II
António era proprietário de uma casa de campo, na Lousã. Porque já lá não ia, resolve vendê-
la a Eduardo. A venda foi celebrada por escritura pública, mas não foi registada.
Passados dois dias, António vendeu a mesma casa a Joana. A venda foi celebrada por
escritura pública e foi registada. António entregou logo a Joana as chaves da casa de campo.
Eduardo vem agora exigir a António a entrega da casa, mas António não consegue fazê-
lo, pois as chaves já estavam com Joana. Quid juris? (6 valores)
A propriedade transmitiu-se a Eduardo (408.º, 1, e 879.º, a), CC), na medida em que a compra e venda
é válida (875.º, CC). A falta de registo não interfere com a validade da compra e venda, nem com a sua
oponibilidade a terceiros, se bem que há uma corrente doutrinária minoritária que afirme que a ausência
do registo afeta a eficácia perante terceiros do direito real transmitido.
Há obrigatoriedade de registo, que deve ser cumprido pelo notário, se bem que num prazo de 2 meses
após se titular a compra e venda (2, 1, a); 8.º-A; 8.º-B, 1 e 8.º-C, 1 CRPr).
Há que se discutir se a posse nos termos da propriedade sobre a coisa vendida transmitiu-se ou não de
António a Eduardo, por constituto possessório (1263, c), e 1264.º, CC). Para o curso, sim (justificar).
Nestes termos, com a celebração do contrato de compra e venda, António passa a detentor nos termos
da propriedade (1253, a), CC) e Eduardo possuidor nos termos da propriedade.
A venda a Joana é nula, por ser uma compra e venda de bens alheios (892.º CC). No entanto, com esta
venda António adquire a posse sobre a casa por inversão do título da posse (1263, d) e 1265.º CC). É
uma posse de má fé e não titulada. Por sua vez, Eduardo é esbulhado (1267, 1, d) CC).
Ao entregar as chaves, António está a transmitir a posse por tradição simbólica da coisa (1263, b) CC),
perdendo-a por cedência (1267, 1, c) CC).
A falta de registo da venda válida faz com que António continue a beneficiar da presunção da
titularidade do bem (7.º, CRPr), não sendo recusado o registo por violação do princípio do trato
sucessivo (34.º, CRPd). Por outro lado, foi respeitada a regra da legitimação na celebração da compra
e venda nula (9.º, CRPd).
O registo de Joana suscita a aplicação do art. 5.º, CRPd. Estando preenchidos os requisitos, há a
aquisição tabular de Joana, que adquire o direito de propriedade por efeito do registo. Extinguindo-se
o direito de propriedade de Eduardo. Se bem que há divergência doutrinária sobre este último aspeto.
Quer uma ação de reivindicação, quer uma ação de restituição da posse propostas por Eduardo contra
Joana seriam improcedentes.
III
António e Gonçalo são irmãos. Ambos são comproprietários de uma herdade no Alentejo,
muito conhecida pelos seus eucaliptos. Gonçalo, que era muito inovador, quis alterar o modelo de
negócio que se fazia na herdade. Sem comunicar a sua vontade a António, resolve mandar arrancar
os eucaliptos e instalar painéis solares em toda a área da herdade. Depois dos trabalhos concluídos,
envia a nota de gastos a António. António¸ que só soube das atitudes de Gonçalo após receber a
nota de gastos, quer renunciar a sua posição de comproprietário de modo a eximir-se deste encargo.
Quid juris? (6 valores)
Quando duas ou mais pessoas são simultaneamente titulares de direitos de propriedade sobre a mesma
coisa estamos perante uma compropriedade.
A atuação de Gonçalo versa sobre a administração da coisa comum. Neste caso, não havendo um acordo
de administração entre António e Gonçalo, segue-se o regime do 1407.º, CC, que remete também para
o art. 985.º, CC.
De acordo com o regime legal, todos os comproprietários têm direito a praticar individualmente atos
de administração com eficácia coletiva sem necessidade do consentimento dos restantes
comproprietários. No entanto, um comproprietário pode opor-se ao ato de administração pretendido
pelo outro comproprietário (985.º, 1, e 985.º, 2, CC).
Presume-se que, no caso, o valor das quotas de cada consorte era de 50%, por falta de elementos
disponíveis.
Aplica-se o 1411.º, 1 e 3, CC, que dá a possibilidade de António renunciar ao seu direito sobre a coisa
se quiser eximir-se de pagar 50% dos encargos tidos com a administração de Gonçalo. A renúncia é um
negócio jurídico unilateral e, neste caso, seria liberatória.
Grupo I
Ana, Beatriz e Carla, irmãs, adquiriram no ano de 2000, um pequeno apartamento no
Campo Grande. Como nenhuma das irmãs estava familiarizada com estes negócios, nenhuma
promoveu o registo da aquisição. Ora, Ana viria a entrar na faculdade nesse mesmo ano de 2000
pelo que passou a habitar o imóvel. Vivendo no apartamento, Ana viria também, nos tempos
livres, a fazer pequenas obras de melhoramento: pintou as paredes, substituiu o soalho e
transformou a varanda numa marquise, que estão tão na moda. Como era Ana que habitava no
apartamento, e sendo que as irmãs nem para a visitar se deslocavam a Lisboa, nunca lhes deu
conta de nenhum dos seus projetos.
Em 2005, já licenciada, Ana decide “mudar de ares” e vende o apartamento a Diogo, por
250.000,00 EUR (duzentos e cinquenta mil euros), sendo que Diogo regista prontamente a
aquisição. Também Diogo tinha adquirido o imóvel para a sua filha, Filipa, que ia estudar para a
capital. Constituiu, por esse motivo, um usufruto a favor dela, o qual foi registado. Sucede que
Filipa introduziu também ela melhoramentos no apartamento, incluindo a construção de uma
incrível piscina interior, em substituição da marquise, que odiava. Também Diogo não foi
informado desta alteração.
Em 2021, Beatriz e Carla vieram finalmente vieram visitar Ana a Lisboa. Desconhendo
todas as peripécias do apartamento, ficaram muito surpreendidas quando viram Filipa a banhar-
se na piscina daquele que, julgavam era o seu apartamento. Ao questionarem Ana sobre o
sucedido, esta prontamente respondeu que que era titular do imóvel desde 2000, porquanto sempre
exteriorizou uma posse exclusiva do mesmo. Beatriz e Carla dirigiram-se à fração exigindo que
Filipa a abandonasse. Diogo, metido ao barulho, informou as irmãs que adquiriu aquela fração há
mais de quinze anos.
Quid iuris? (10 valores)
Tópicos de correção:
A, B e C são comproprietárias (1403.º e ss CC);
Na medida em que não procederam ao registo da aquisição, não beneficiam de registo a seu
favor e, portanto, não ficam protegidas pelo efeito consolidativo do registo (5.º CRP);
Parece ter havido convenção de uso exclusivo da fração a favor de A, possível nos termos do
artigo 1406.º/1 CC, o que, nos termos do n.º 2, não significa que A tivesse posse exclusiva da
fração;
A administração da coisa comum pertencia às três irmãs (1407.º CC), sendo que as obras de
reabilitação não parecem configurar benfeitorias necessárias (1411.º CC);
B e C poderiam requerer a anulação dos atos praticados (1407.º/3 CC).
A compra e venda celebrada entre C e D é nula (1408.º/2 CC);
O usufruto constituído a favor de Filipa seria também nulo, por falta de legitimidade de D.
No entanto, e na medida em que D beneficiava de inscrição registal a seu favor, D podia
adquirir tabularmente, nos termos do artigo 291.º CC, estando, em princípio, reunidos os
pressupostos da aquisição tabular previstos neste preceito.
Quanto à alegação de A, não tendo esta invertido o título da posse, não tinha posse exclusiva
do imóvel. A pretensão de B e C era, porém, improcedente, porquanto F era usufrutuária do
imóvel. Além disso, D exteriorizou uma posse pública e pacífica durante 15 anos, pelo que
podia invocar a usucapião (e isto mesmo que se considerasse que a sua posse era de má fé —
cfr. 1290.º/a) e b) CC): D era proprietário da fração.
Grupo II
Gaspar, conhecido por ocasionalmente se apropriar de coisas que não lhe pertencem,
assaltou uma carpintaria em Campo de Ourique. Hipólito, o carpinteiro, que viu Gaspar a fugir
com as tábuas na mão, dirigiu-se a sua casa para solicitar a devolução dos materiais roubados.
Ficou, contudo, muito surpreendido por Gaspar ter jeito para algo mais que roubar uma vez que
com as tábuas tinha feito um bonito aparador que havia sido adquirido por uma loja de mobília
vintage por um valor muito simpático.
Quid iuris? (6,5 valores)
Com a construção do aparador, G deu, pelo seu trabalho, uma nova forma a uma coisa móvel
pertencente a H, não podendo a coisa ser restituída à sua primitiva forma.
Estamos perante um caso de especificação (1338.º CC).
G deveria ser considerado de má fé (1337.º): H tinha, assim, direito à coisa no estado em que
se encontrava. Porém, na medida em que o valor da coisa deverá ter aumentado em mais um
terço, H deve restituir o excesso a G.
Concluindo-se que H era o proprietário do quadro, poderia exigi-lo à loja de mobília que,
afinal, o havia adquirido a non domino.
Grupo III
Ivo furtou o carro de Leonor e vendeu-o posteriormente a Marco, que tinha uma oficina
e desconhecia o furto.
Uma semana depois, Leonor, ao passar pela oficina de Marco, reconhece o carro, e exige
de imediato a sua devolução, o que Marco, naturalmente, recusa.
O que pode Leonor fazer para recuperar o automóvel? (3,5 valores)
LICENCIATURA EM DIREITO
ANO LECTIVO: 2020/2021
DIREITOS REAIS – 3.º ANO – TAN
REGÊNCIA: PROFESSOR DOUTOR PEDRO DE ALBUQUERQUE
EXAME DA ÉPOCA DE COINCIDÊNCIAS – 28.06.2021
I
Antónia, emigrante, proprietária e possuidora de uma moradia em Sintra decide, em 1990,
entregar a referida moradia a Bento, seu primo, para que este resida no imóvel pelo tempo que
este quisesse. Foi convencionado que Bento apenas teria de cuidar do jardim e garantir a
manutenção da vivenda.
Em 2010, Antónia regressa a Portugal, exigindo que Bento saia da sua moradia, uma vez que
precisava de um local para residir. Bento recusa sair do imóvel, alegando ter legitimidade para
permanecer na moradia.
Inconformada, Antónia decide pedir ao seu filho que arrombasse a porta e mudasse a fechadura,
de modo a que pudesse voltar a ter acesso à moradia.
Bento apresenta, de imediato, acção judicial para recuperar o acesso ao imóvel, a qual é julgada
procedente, no final de 2010.
Recuperado o acesso ao imóvel, e receando que Antónia continuasse a perturbar o uso do
mesmo, Bento envia uma notificação judicial avulsa a Antónia, dizendo-lhe que atendendo ao
teor da sentença, se considerava o novo proprietário do imóvel.
Antónia, inconformada, decide intentar ação de reivindicação da propriedade.
Bento contesta a ação, invocando usucapião.
Quid iuris?
Tópicos de correcção:
Antónia é proprietária do terreno, nos termos do disposto no artigo 1302.º do Código Civil (CC)
e possuidora, nos termos do disposto nos artigos 1251.º e ss. do CC. podendo onerar o seu
direito real de gozo através da constituição de um direito pessoal de gozo.
Antónia e Bento celebraram um contrato de comodato modal, nos termos do disposto nos artigos
1129.º e ss. do CC., por tempo indeterminado.
Bento é, deste modo, titular de um direito pessoal de gozo, possibilitando ao seu titular o gozo
directo e autónomo da moradia, o qual, porém, diversamente do que sucede com os direitos reais
de gozo, tem sempre por fundamento uma relação obrigacional, tendo, deste modo, uma posse
interdital.
Bento é ainda detentor, de acordo com o disposto no artigo 1253.º, al. c), do CC, nos termos do
direito de propriedade.
Antónia não tinha legitimidade para actuar nos moldes em que o fez, razão pela qual Bento pode
lançar mão de uma acção possessória de restituição da posse, nos termos do disposto no artigo
1278.º e 1281.º, ex vi, artigo 1133.º, n.º 2.
A declaração de vontade proferida por Bento integra uma forma de aquisição originária da posse,
através de inversão do título da posse, de acordo com o disposto no artigo 1263.º, al. d), do CC
e artigo 1265.º, 1.ª parte (densificar os requisitos de aplicação deste modo de aquisição da posse)
Antónia intenta acção real de reivindicação da propriedade, nos termos do disposto no artigo
1311.º do CC.
Bento apenas tem posse civil, nos termos do direito de propriedade, a partir da inversão do título
da posse em 2010, razão pela qual a posse interdital relativa ao período entre 1990-2010, na
qualidade de comodatário, não releva para efeitos de contabilização dos prazos de usucapião
(ver artigo 1290.º do CC).
Na data de invocação da usucapião por Bento, não tinha decorrido o período de tempo para que
este possa usucapir o direito de propriedade, nos termos do disposto no artigo 1296.º do CC,
pelo que o direito de propriedade continua a integrar a esfera jurídica de Antónia.
II
Alberto, proprietário de uma herdade em Serpa, celebra com Berta um contrato-promessa de
compra e venda, em março de 1993, tendo esta pago 100.000 escudos, a título de sinal.
Em dezembro de 1993, Berta paga o remanescente do preço convencionando, tendo sido
aditado ao contrato-promessa uma cláusula que lhe conferia legitimidade para marcar a escritura
de compra e venda em qualquer momento, devendo comunicar tal facto ao promitente vendedor,
com dez dias de antecedência, passando a viver na herdade a partir dessa data.
Berta, a partir de janeiro de 1994, interpelou Alberto, incessantemente, para que se celebrasse
o contrato definitivo, nunca tendo obtido resposta sua.
Berta morre, em 2013, tendo deixado dois filhos: Carlota e Dália.
Entretanto, verifica-se que Alberto havia vendido a herdade a um fundo imobiliário em 2019, o
qual, em 2021, pretende tomar posse do imóvel.
Sabendo da venda realizada em 2019, Carlota e Dália contactam o seu advogado para fazer
valer os seus direitos.
Quid iuris ?
Tópicos de correcção:
Alberto, sendo propriedade podia vender o imóvel, exercendo o seu poder de disposição
consagrado no artigo 1305.º, não obstante estar a incumprir o contrato-promessa celebrado com
Berta.
Carlota e Dália sucedem na posse da sua mãe, ao abrigo do disposto no artigo 1255.º, na
qualidade de herdeiras legitimárias de Berta.
Carlota e Dália não dispõem de um título novo de investidura na posse, diferente daquele com
base no qual o de cuius a adquiriu, sendo a sua posse exatamente igual à de Berta, com os
caracteres que esta revestia.
A posse do sucessor forma um todo único com a do de cuius, havendo apenas uma alteração
ou novação subjectiva na relação possessória de que aquele era titular.
Discutir a aplicação do instituto da usucapio contra tabulas ou usucapião contra o registo, nos
termos do disposto no artigo 5.º, n.º 2, do CRP, atendendo à posse de Carlota e Dália e
verificação dos prazos previstos no artigo 1296.º do CC.
III
Por referência ao caso II, imagine que Alberto havia vendido a herdade em Serpa a Berta, em
1993, que não regista o facto aquisitivo, apesar de viver no imóvel, desde essa data.
Berta morre, em 2013, tendo deixado dois filhos: Carlota e Dália.
Em 2019, Alberto vende a herdade a um fundo imobiliário que registou o facto aquisitivo,
pretendendo tomar posse do imóvel em 2021.
Quid iuris ?
Berta é proprietária do imóvel, na ordem jurídica substantiva (artigos 408.º, n.º 1 e artigo 879.º,
ambos do CC), atendendo ao princípio da consensualidade inerente ao sistema do título, em
vigor na ordem jurídica portuguesa.
Em 1993 inexistia obrigação de inscrição registal do facto aquisitivo, verificando-se, apenas uma
obrigatoriedade indireta, de acordo com a terminologia seguida pela doutrina v.g. Profs. Oliveira
Ascensão e Menezes Cordeiro.
Verifica-se uma compra e venda de um bem alheio por parte de Alberto, nos termos do disposto
no artigo 892.º do CC., consubstanciada numa dupla alienação do imóvel a favor do fundo
imobiliário, em virtude da realidade registal não plasmar a realidade substantiva.
O fundo imobiliário está, à partida, de boa fé, atendendo ao efeito presuntivo do registo (artigo
7.º do Código do Registo Predial (CRP).
Todavia, tal qual se verificava no caso II, ocorre uma situação de usucapio contra tabulas, que
se sobrepõe ao efeito atributivo do registo.
Duração: 90 minutos
Cotações I (10 valores); II (7 valores) e III (3 valores)
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
DIREITOS REAIS
3.º Ano Noite
18 de junho de 2021 Prof. Doutor Pedro de Albuquerque
EXAME FINAL
(Época Normal)
I
Em junho de 1996, Anabela vendeu a Bernardo, por documento escrito, uma moradia com um
hectare de terreno agrícola, sita em Santarém. Anabela entregou as chaves de imediato a Bernardo.
Em 1998, Bernardo solicitou o registo do negócio numa Conservatória, de forma a poder vender
o imóvel a Clementina, mas o pedido de registo foi recusado. Então, Bernardo pediu ao seu amigo
Daniel para forjar uma escritura pública de compra e venda do imóvel entre Anabela e Bernardo.
Em contrapartida, Bernardo concedeu a Daniel o direito a habitar, com a sua mulher, o anexo da
moradia, na medida das suas necessidades. Munido da escritura, Bernardo conseguiu proceder ao
registo do imóvel, ficando também registado o direito de Daniel sobre o anexo.
Em dezembro desse ano, Bernardo e Clementina formalizaram a venda da moradia a favor desta,
tendo o negócio sido registado. Porém, Bernardo continuou a habitar a moradia a título de
arrendamento, pagando a Clementina a renda mensal de € 450.
Em abril de 2019, Daniel foi viver para Lisboa e arrendou o anexo a Eduardo por € 175 mensais.
Perante as recriminações de Carlos por ter arrendado o anexo, Daniel comunicou-lhe que há mais de
vinte anos que era ele quem cultivava o terreno e que cuidava do anexo, pelo que era ele, agora, o
real proprietário do anexo e do terreno.
Anabela faleceu em novembro de 2020, tendo-lhe sucedido a sua filha Fátima, que sabe que a
escritura a favor de Bernardo havia sido forjada.
Responda a cada uma das seguintes questões isoladamente:
a) Pode Fátima reivindicar, com sucesso, o imóvel contra os demais intervenientes do caso? (10
valores)
- Compra e venda entre Anabela e Bernardo: negócio nulo por falta da forma legalmente exigida à
data dos factos (escritura pública): 875.º (redação à data dos factos) e 220.º CC.
- Aquisição da posse por Bernardo por tradição (1263.º, b) CC). Perda da posse de Anabela por
cedência (1267.º/1, c) CC). Classificações da posse e indicação da respetiva base legal, quando
aplicável.
- Recusa do registo com fundamento no 69.º/1, b) do CRPr. Nulidade do registo efetuado com base
na escritura forjada (16.º, a) CRPr).
- Negócio entre Clementina e Bernardo é nulo, por se tratar de uma venda de bens alheios (892.º e
904.º CC).
- Aquisição da posse por Clementina por constituto possessório (1264.º/1, 1ª parte CC): discussão e
verificação dos requisitos, atendendo, em particular, à divergência doutrinária quanto à necessidade
Duração: 90 minutos
de o negócio de transmissão do direito real ser ou não válido (tomada de posição fundamentada).
Classificações da posse.
- Bernardo como possuidor nos termos do direito do locatário (posse interdital) e mero detentor nos
termos do direito de propriedade.
- Aquisição tabular por Clementina após declaração de nulidade do registo, com base no 17.º/2 CPRr:
verificação dos requisitos (registo prévio, Clementina como terceira de boa fé, adquirente a título
oneroso, e antecedência do seu registo em face do registo de eventual ação de nulidade do registo).
Clementina é, por força do registo, proprietária do imóvel.
- Havendo aquisição da posse por Clementina por constituto possessório, pode esta invocar a
usucapião do direito de propriedade a partir de dezembro de 2008 (aplicação do prazo de 10 anos
contados desde o registo, previsto no art.º 1294.º, a) CC).
- Ao invés, a constituição do direito de uso e habitação a favor de Daniel, além de nula por falta de
legitimidade de Bernardo, não é tutelada pelo 17.º/2 CRPr, nem por outra norma da qual resulte o
efeito atributivo do registo predial, pois Daniel está de má fé por saber que a escritura é forjada. Por
outro lado, mesmo que haja inversão do título da posse a favor de Daniel por declaração dirigida a
Clementina, só a partir de abril de 2019 se tornaria Daniel possuidor nos termos do direito de
superfície sobre o anexo e o terreno, não tendo decorrido o prazo de 20 anos previsto no art.º 1296.º
CC para que este pudesse invocar usucapião (1290.º CC).
- Em consequência, Fátima, que sucederia, no plano substantivo, no direito de propriedade de
Anabela, poderia reivindincar (1311.º CC) com sucesso, de Daniel o anexo e o terreno; mas não
poderia, em virtude da já mencionada aquisição tabular, obter a condenação de Clemetina a entregar
o imóvel, permanecendo esta como proprietária por força do efeito atributivo do registo predial, bem
como por força da usucapião que Clementina poderia invocar desde dezembro de 2008. Igualmente,
tendo o direito pessoal de gozo enquanto locatário constituído a favor de Bernardo por contrato de
arrendamento com Clementina, Fátima também não poderia reivindicar de Bernardo o imóvel.
b) Analise juridicamente a conduta de Daniel quanto ao anexo e ao terreno, bem como a declaração
dirigida a Carlos. (3 valores)
- Sendo Daniel titular de um direito de uso e habitação (1484.º CC), funcionalmente delimitado à
satisfação das necessidades do titular e sua família, não pode locar o objeto do seu direito, apenas
podendo obter os frutos naturais, não os frutos civis 1488.º CC). Poderia, pois, responder perante
Eduardo a título de responsabilidade civil obrigacional, caso este venha a ser forçado a entregá-lo,
bem como por enriquecimento sem causa perante o proprietário, por fazer um aproveitamento do bem
para lá do conteúdo do seu direito real de gozo.
- A declaração de Daniel constitui uma inversão do título da posse (1263.º, c) e 1265.º, 1ª parte CC),
desde que efetuada perante Clementina (possuidora nos termos do direito de propriedade), já tal não
sucedendo se tivesse sido dirigada a Bernardo, por este ser também mero detentor perante Clementina
(possuidor apenas nos termos limitados da locação). Havendo inversão do título da posse, a posse
adquirida por Daniel é uma posse nos termos do direito de superfície, dado que Daniel restringe o
objeto do seu direito, ao que tudo indica, ao anexo e ao terreno.
Duração: 90 minutos
c) Suponha agora que Clementina tinha comprado a moradia juntamente com a sua irmã,
Guilhermina e que esta tomou, a dada altura, a decisão de denunciar o contrato de arrendamento
com Daniel. Poderia Clementina opor-se? (2 valores)
- Noção de compropriedade (1403.º/1 CC).
- Presunção de quotas quantitativamente iguais entre Clementina e Guilhermina (1403.º/2, 2ª parte
CC).
- A celebração de contrato de arrendamento – que constitui um direito pessoal de gozo a favor do
locatário e, portanto, uma relação obrigacional entre as partes, devendo o locador proporcionar ao
locatário o gozo da coisa (dever este cuja violação constitui o locador em responsabilidade
obrigacional, mas não conferindo ao locatário um direito absoluto e oponível erga omnes, o que
significa não estarmos perante uma oneração em sentido técnico, para efeitos de aplicação do art.º
1408.º CC) – consiste num ato de administração que deve respeitar os requisitos cumulativos do art.º
1407.º e 985.º (ex vi 1407.º): pelo menos metade do valor das quotas e mais de metade dos consortes.
Assim, nos termos do 985.º/2 CC, Clementina poderia opor-se à decisão de Guilhermina, a qual não
tem maioria a seu favor para fazer valer a sua decisão, uma vez que não existe há nem maioria dos
consortes, i.e., mais de metade dos consortes (985.º/4, mutatis mutandis).
II
Hugo vendeu a Inês um apartamento em Lisboa em novembro de 2020. O negócio foi celebrado
por escritura pública e registado.
Em janeiro de 2021, durante a assemblia de condóminos, Inês foi alertada de que, se não
procedesse ao pagamento de € 2.000 de quotas de condomínio em atraso relativamente à sua fração,
correspondentes aos anos de 2012 a 2020, deixaria de poder utilizar a garagem para poder estacionar
o seu carro. Hugo tinha dito a Inês, aquando da venda, que o seu lugar de garagem era exclusivo da
fração, embora tal não constasse de nenhum documento.
I
Em 1997, António vendeu a Bento uma herdade com vários hectares de terreno agrícola e
uma moradia que nela se incluia. Mal se celebrou a venda, por documento escrito, António
entregou a Bento as chaves da moradia. Esta venda não foi registada, mas, no ano seguinte, Bento
faleceu. O seu único herdeiro era o seu filho, Carlos.
Carlos, um bon vivant que apreciava o jogo, estava falido e, por isso, pretendeu vender a
herdade e a moradia a Margarida. Como sabia que a venda do imóvel a seu pai não tinha sido
registada, resolveu solicitar o seu registo, por forma a que lhe fosse possível vendê-lo. Ao tentar
registar a venda da herdade e moradia, o registo foi recusado. Perante este impasse, Carlos
resolveu forjar uma escritura pública da compra do imóvel entre si e António, que registou. De
seguida, vendeu, através de escritura pública, a herdade e a moradia nele incluída a Margarida,
que registou.
Porém, Carlos continuou a habitar a moradia a título de arrendamento, pagando a
Margarida a renda mensal de € 500, mas deixa de pagar a renda no ano de 2012. Margarida
interpelou Carlos para que este lhe pagasse as rendas em dívida e abandonasse o imóvel por
incumprimento contratual. Carlos respondeu-lhe dizendo que se considerava o proprietário da
herdade e da moradia, uma vez que a venda a Margarida não era válida. Desde esse momento em
diante, Carlos mudou a fechadura da moradia e avisou Margarida que a impediria se alguma vez
ela quisesse entrar na herdade.
Contudo, em 2014, Carlos, fartando-se da contenda, saiu da herdade e da moradia,
entregando as chaves da nova fechadura a Margarida, que logo passou a nela habitar e a cultivar
a herdade.
António faleceu em novembro de 2020, tendo como único sucessor a mulher Maria, que,
depois de algumas investigações, soube que a escritura a favor de Carlos havia sido forjada. Quid
juris? (8 valores)
- Compra e venda entre António e Bento: negócio nulo por falta da forma legalmente exigida à
data dos factos (escritura pública): 875.º (redação à data dos factos) e 220.º CC.
- Aquisição da posse por Bento por tradição (1263.º, b) CC). Perda da posse de António por
cedência (1267.º/1, c) CC). Classificações da posse e indicação da respetiva base legal, quando
aplicável.
- A posse de Bento, com a sua morte, foi transmitida a Carlos por sucessão (1255.º, CC).
- Recusa do registo com fundamento no 69.º/1, b) do CRPr. Nulidade do registo efetuado com base
na escritura forjada (16.º, a) CRPr).
- Negócio entre Carlos e Margarida é nulo, por se tratar de uma venda de bens alheios (892.º e
904.º CC).
- Aquisição da posse por Margarida por constituto possessório (1264.º/1, 1ª parte CC): discussão
e verificação dos requisitos, atendendo, em particular, à divergência doutrinária quanto à
necessidade de o negócio de transmissão do direito real ser ou não válido (tomada de posição
fundamentada). Classificações da posse.
- Carlos como possuidor nos termos do direito do locatário (posse interdital) e mero detentor nos
termos do direito de propriedade.
- Aquisição tabular por Margarida após declaração de nulidade do registo, com base no 17.º/2
CPRr: verificação dos requisitos (registo prévio, Margarida como terceira de boa fé, adquirente a
título oneroso, e antecedência do seu registo em face do registo de eventual ação de nulidade do
registo). Margarida é, por força do registo, proprietária do imóvel.
- A conduta de Carlos, relativamente ao pagamento das rendas, não tem efeitos possessórios,
mormente, no que concerne a uma eventual inversão do título da posse.
- Discutir e tomar posição se a conduta de Carlos, ao se arrogar como proprietário do imóvel, ao
mudar a fechadura da moradia e ao avisar Margarida que a impediria se alguma vez ela quisesse
entrar na herdade, atendendo, de igual modo, à falta de pagamento anterior das rendas, é idónea a
integrar o conceito de oposição do detentor e constituir um facto aquisitivo originário da posse,
por inversão do título da posse, ao abrigo dos artigos 1263.º, al. d) e 1265.º, do CC, e indicar os
respetivos requisitos.
- Indicar que a existir inversão do título da posse, Carlos passaria de mero detentor a possuidor nos
termos da propriedade, passando a exteriorizar uma posse civil em nome próprio, sem que,
contudo, haja uma alteração do direito real, que, por efeito do registo, continua a ser da titularidade
de Margarida. Já Margarida é considerada esbulhada, perdendo a posse 1 anos após a declaração
de Carlos a arrogar-se como proprietário (1267.º/1, b) e 1267,.º/2 CC).
- Em 2014 Carlos transmite a posse por tradição simbólica a Margarida (1263.º, b) CC) e perde a
sua posse por cedência (1267.º/1, c) CC).
- Maria, que sucederia, no plano substantivo, como titular do direito de propriedade sobre a
herdade, não poderia, em virtude da já mencionada aquisição tabular, obter a condenação de
Margarida a entregar o imóvel por meio de uma ação de reivindicação (1311.º, CC), permanecendo
esta como proprietária por força do efeito atributivo do registo predial.
II
João tinha um grande rebanho de ovelhas em Trás-os-Montes. Para cuidar dele, celebrou
com Mário um contrato no qual foi previsto que Mário teria de cuidar do rebanho. Em
contrapartida, Mário podia gozar do terreno no qual os animais pastavam. Foi atribuído pelas
partes eficácia real ao contrato.
Para auxiliar os seus trabalhos, Mário construiu um pequeno curral no terreno vizinho, bem
sabendo que esse terreno era de terceiro. O vizinho, quando soube, exigiu que o curral fosse
destruído às custas de Mário.
Agora, João pretende vender o rebanho e o terreno a Josefina. Será que Josefina, após a
venda, tem de tolerar a presença de Mário. Quid juris? (6 valores)
- Os direitos reais estão sujeitos ao princípio da tipicidade, não sendo admitidas figuras com
eficácia real para além daquelas que são dadas pela lei, nem que se altere o conteúdo imperativo
das figuras existentes. Assim, o direito de Mário não constitui um direito real (1306.º/1 CC).
- Pode-se questionar se o contrato celebrado entre António e Mário tem apenas eficácia
obrigacional ou é nulo ab initio. Apesar da querela doutrinária, há doutrina que indica que para
que se verifique a conversão de efeito real em obrigacional há que se verificar o preenchimento do
disposto no artigo 293.º CC. Em ambas as situações, Josefina não tem que tolerar a presença de
Mário.
- Os direitos reais não têm por objeto universalidades de facto, apesar da letra do 206.º CC. Quando
se vende a rebanho a Josefina está-se a transmitir os direitos de propriedade de António sobre todos
as ovelhas.
- Face ao curral, tem que se discutir se Mário adquiriu a posse do terreno vizinho nos termos da
propriedade, por apossamento. Se sim, o vizinho foi esbulhado e a posse de Mário seria de má fé
(1263.º, a); 1267.º/1, d) e 1260.º CC).
- De seguida, tem que se distinguir fundamentadamente o regime das benfeitorias na posse da
acessão.
- Caindo na acessão, o vizinho tem direito a que Mário destrua o curral às suas expensas, porque
estamos perante uma acessão industrial de má fé, aplicando-se o artigo 1341.º, 1.ª parte, CC.
- Se se aplicar o regime das benfeitorias na posse, a benfeitoria é útil (216.º CC) e será o art. 1273.º
do CC que solucionará a questão. Sendo a benfeitoria levantável sem detrimento da coisa, pode-
se questionar se Mário tem o dever de a levantar às suas expensas (1273.º/1 CC), na medida em
que a manutenção do curral não corresponde à vontade do proprietário do terreno.
III
Pedro legou em testamento aos seus filhos, Daniel, Xavier e Luís, um terreno, na proporção
de 70% para Daniel e 15% para cada um dos demais.
O terreno estava todo destinado à produção de batatas, mas após a morte de Pedro, Daniel
decidiu que uma parte correspondente a 5% da área total do terreno devia começar a produzir
nabos. Xavier não se opôs, mas Luís sim, no entanto a mudança de cultura realizou-se de acordo
com os planos de Daniel. As despesas relativas à mudança de cultura foram partilhadas pelos três
irmãos em função das percentagens acima indicadas.
Perante a exigência de Xavier e Luís em receberem 15%, cada um, dos rendimentos da
venda das batatas e dos nabos, Daniel declarou que como a plantação de nabos tinha sido ideia
sua, a parte do terreno na qual tinham sido plantados os nabos pertencia a si exclusivamente. Quid
juris? (6 valores)
I
Em janeiro de 2000, Ana vendeu a Bento, por escritura pública, uma moradia sita em Loures. Ana
entregou as chaves de imediato a Bento. Não se procedeu ao registo da aquisição. Bento faleceu seis
meses depois, tendo-lhe sucedido, como único herdeiro, o seu filho Carlos, enfermeiro residente em
Inglaterra.
Em dezembro de 2000, Ana tomou conhecimento do óbito de Bento e doou a moradia à sua
sobrinha Daniela. Daniela obteve o registo da aquisição e passou a habitar o imóvel de imediato,
tendo trocado de fechadura para poder aceder ao imóvel, já que Ana lhe comunicara que havia perdido
todas as chaves.
Em junho de 2010, Daniela vendeu o imóvel a Eduardo por € 150.000, tendo também este
negócio sido registado. Daniela e Eduardo combinaram, porém, que Daniela permaneceria a habitar
o imóvel, agora a título de arrendatária, a troco de € 400 por mês.
Em julho de 2022, Carlos reforma-se e regressa a Portugal, pretendendo residir no imóvel
comprado pelo seu pai em 2000. Contudo, depara-se com a presença de Daniela no imóvel.
Quid juris? (12 valores)
- Análise da situação jurídico-real do imóvel face aos vários intervenientes:
- B adquiriu o direito de propriedade sobre o imóvel por negócio jurídico válido (975.º, quanto
à forma, e 408.º CC quanto à produção do efeito real – princípio da consensualidade)
- C tornou-se proprietário por sucessão (1316.º e 1317.º b) CC)
- Doação de A a D constituiu uma doação de bem alheio, que é nula (956.º/1 CC)
- Venda de D a E constituiu uma venda de bem alheio, que é nula (892.º e 904.º CC)
Duração: 90 minutos
- Análise da situação registal do imóvel face aos vários intervenientes:
- Aquisição da propriedade do imóvel por B carece do efeito consolidativo do registo predial
(5.º/1 CRPr – explicação do significado e consequências da falta deste efeito)
- Tomada de posição fundamentada quanto à possibildiade de aquisição tabular por D, à luz
do art.º 5.º/1 e 4 CRPr, explicitando os respetivos requisitos, particularmente quanto à (controvertida)
onerosidade do negócio; valorização da resposta pela referência ao art.º 5.º/5 CRPr quanto ao
posterior arrendamento a favor de D
- Tomada de posição fundamentada quanto à possibilidade de aquisição tabular por E, à luz
do art.º 291.º CC (relevante sobretudo na hipótese de se considerar que D não adquiriu tabularmente),
explicitando os respetivos requisitos, particularmente quanto à (controvertida) necessidade de haver
haver “registo prévio” ou, pelo contrário, de não poder haver “registo prévio”
II
António e Bárbara, irmãos, herdam do seu avô, em janeiro de 2016, um quadro valioso da autoria
de Aurélia de Sousa. Uma vez que Bárbara era mais apreciadora de arte, ambos acordam que o
quadro ficaria na residência de Bárbara.
Em junho de 2018, António casa com Catarina, historiadora de arte, que ficou encantada com o
quadro exposto na sala de Bárbara. António pede então a Bárbara para ficar com o quadro durante
uns tempos. Bárbara diz que isso contrariaria o acordo entre ambos e recusa.
Pouco depois, em outubro de 2018, Catarina sugere que se empreste o quadro para exposição
num museu com o qual ela colabora. António assina o acordo com o museu para exposição
temporária do quadro, mas Bárbara recusa-se a aceitar o empréstimo do mesmo. Bárbara diz ainda
que, na realidade, o quadro só lhe pertence a ela, pois era sabido a preferência do avô por ela, mesmo
que isso não tivesse ficado expresso em testamento.
António decide então alienar a sua quota em fevereiro de 2019, comunicando a sua intenção a
Bárbara, que não dispunha então de condições para exercer o direito de preferência pelo valor que
havia sido proposto a António. Daniela, compradora da quota de António, pretende que se proceda à
divisão do bem, em face das dificuldades colocadas por Bárbara. No entanto, Bárbara continua a
afirmar que o bem lhe pertence em exclusivo.
Duração: 90 minutos
atrás analisados, mas não há maioria dos consortes possível, dado que são apenas dois, com posições
antagónicas. A solução legal para estes casos é o recurso a decisão judicial, proferida segundo juízos
de equidade (1407.º/2).
- Havia, até outubro de 2018, uma situação de composse (posse nos termos da compropriedade);
classificação das posses de A e B, de acordo com os critérios legais e doutrinários. A oposição de B
efetuada contra A relativamente à titularidade do quadro consubstancia uma inversão do título da
posse (1263.º d) e 1265.º, 1.ª parte), passando B a ser possuidora nos termos da propriedade plena e
exclusiva (1406.º/2), o que gerará a perde da posse de A, nos termos da composse, ao fim de 1 ano,
ao abrigo do art.º 1267.º/1, d), ou seja, em outubro de 2019.
- A vende a sua quota a D, nos termos do 1408.º/1, 1.ª parte, respeitando o direito de preferência de
B (1409.º). D torna-se comproprietária. Tomada de posição fundamentada sobre se há transmissão da
posse, nos termos da composse, para D, dado que o prazo de 1 ano referido no ponto anterior ainda
não tinha decorrido: não houve tradição material, pois a coisa encontra-se com B, e não há referência
no enunciado a um ato de tradição simbólica, ainda que tal fosse possível; restaria o constituo
possessório (1263.º, c) e 1264.º/2), mas B é agora possuidora nos termos da propriedade (e não mera
detentora).
- Nunca houve qualquer acordo de indivisão, portanto D tem direito a pedir, a qualquer momento, a
divisão da coisa comum (1412.º/1), podendo intentar uma ação para divisão da coisa comum, perante
a recusa de B em proceder à divisão amigável (1413.º/1).
- Uma vez que a posse de B era não titulada (porque não havia qualquer modo legítimo de aquisição
do direito real de propriedade: cf. art.º 1259.º) e de má fé (em sentido subjetivo ético: cf. art.º 1260.º),
teriam de decorrer 6 anos para B poder usucapir o direito de propriedade (1299.º, 2.ª parte), o que,
memso à data de hoje, não sucedeu. Portanto, a alegação de B de que é proprietária é improcedente e
B não pode impedir o sucesso da ação de divisão da coisa comum.
Duração: 90 minutos
Exame Direitos Reais (TA) – Época de Recurso
Alberto, em janeiro de 2002, dado não ter terreno para os seus cavalos, combinou com Bento a
utilização do terreno deste para apascentar os seus animais. O acordo entre Alberto e Bento foi selado
através de um contrato revisto por um advogado amigo de ambos. Em março de 2020, Bento chega
a acordo com Carlos, para a permuta deste seu terreno por um pequeno prédio T1 em Lisboa, tendo
o contrato sido celebrado por documento particular autenticado. Imediatamente após o acordo, Carlos
envia uma carta a Alberto, exigindo que o mesmo retire os cavalos do terreno. Alberto rejeita,
opondo o contrato celebrado com Bento.
Refira os problemas jurídico-reais envolvidos na hipótese, fundamentando a sua resposta. (5 v.)
- Referência ao acordo entre Alberto e Bento, como não tendo eficácia real (princípio da tipicidade,
absolutidade e causalidade e respetivos efeitos).
- Em especial, excluir aplicação do regime jurídico da servidão predial, que, apesar de constituir um
tipo aberto, tem como objeto o prédio serviente, e não qualquer tipo de aproveitamento
exclusivamente pessoal (rejeição da existência de servidões pessoais).
- Referência ao acordo entre Bento e Carlos como tendo eficácia real, para a constituição do direito
real de propriedade, apesar de o negócio ser atípico, pois não existe uma tipicidade de factos jurídicos
com eficácia real e não se aplicando a limitação prevista no art. 1378.º (aplicabilidade as normas
relativas à compra e venda (art 939.º). Mencionar princípio da consensualidade (art. 408.º, n.º 1) e
referência ainda à forma que foi respeitada (art. 875.º e art. 22.º, a), do Decreto-Lei n.º 116/2008, de
4 de julho).
- O contrato, com eficácia obrigacional, celebrado entre Alberto e Bento, com aquisição do terreno
por Carlos, extingue-se por impossibilidade absoluta superveniente, podendo Carlos opor o seu
direito a Alberto.
II
Em julho de 2020, quando se preparava para iniciar as suas férias na praia da rocha, ao passar junto
de um bar, Daniel identifica a sua mota Harley Davidson, que tinha sido furtada em outubro de 2019,
na zona de Santos, em Lisboa. A mota estava a ser utilizada por Ernesto, que se recusa a entregar a
mesma, referindo tê-la adquirido num stand em Setúbal.
Explique todas as questões jurídico-possessórias da hipótese. (4 v.)
- O furto corresponde a um esbulho material da coisa, tendo a posse sido adquirida através de
apossamento (art. 1263.º, a)).
- Referir que Daniel não perde o direito de propriedade e só perderá a posse se nova posse houver
durado por mais de um ano. In casu, tal não sucedeu, uma vez que só passaram 8 meses. Classificar
posse de Daniel.
- Quanto à possível ação de restituição (art. 1278.º, n.º 1), existe um problema de legitimidade passiva,
uma vez que Ernesto parece desconhecer o esbulho (art. 1281.º, n.º 2). Classificar posse de Ernesto.
- Daniel só poderia recorrer, assim, à ação de reivindicação (art. 1311.º), aplicando-se, contudo o art.
1301.º, i.e., seria obrigado a restituir o preço que o Ernesto tiver dado pela coisa, gozando, contudo,
do direito de regresso contra aquele que culposamente deu causa ao prejuízo.
III
Em julho de 1988, Francisca vendeu, por documento escrito, uma moradia sita em Oeiras a
Guilherme, que passou a habitá-la de imediato, sem que se tenha procedido ao registo predial do
negócio. Em 1994, Francisca doou o mesmo imóvel à sua sobrinha, Hélia, residente no Brasil, tendo
procedido ao respetivo registo. Em 2010, Guilherme vendeu a referida moradia a Igor por €200.000,
mediante documento particular autenticado. Na semana passada, Hélia retornou a Portugal e pretende
habitar a moradia, onde atualmente reside Igor, o qual recusa a entrega do imóvel, pois afirma “ter
tratado de todos os papéis do registo predial aquando da compra a Guilherme e não haver dúvidas
quanto a ser o proprietário”.
Poderá Igor ter razão? (5 v.)
- Venda de Francisca a Guilherme nula por não respeitar forma legalmente exigida (à data,
escritura pública, nos termos do art.º 875.º CC). Logo, não se deu o efeito transmissivo da propriedade.
- Aquisição da posse por Guilherme mediante tradição material do imóvel e concomitante
perda da posse por cedência de Francisca, nos termos dos artigos 1263.º, b) e 1267.º/1, c) CC
respetivamente.
- Classificação da posse de Guilherme: efetiva, formal, civil, pacífica (1261.º/1 CC), pública
(1262.º CC), não titulada (1259.º/1, parte final CC) e presumindo-se de má fé (1260.º/2 CC; tratando-
se de presunção ilidível, no caso, poderia considerar-se de boa fé).
- Transmissão do direito de propriedade a Hélia por doação, a qual deverá ter sido realizada
mediante escritura pública nos termos do art.º 947.º (redação vigente à data).
- Venda a Igor: o negócio respeita a forma legalmente exigida prevista no art.º 875.º CC desde
a entrada em vigor do DL 116/2008 (art.º 22.º, a) em conjugação com o art.º 36.º/3 do referido DL);
trata-se, porém, de uma venda de bem alheio, a qual padece de nulidade nos termos do art.º 892.º CC,
salvo se Guilherme tivesse invocada a usucapião, nos termos do art.º 303.º CC ex vi art.º 1292.º CC
o que poderia fazer desde julho de 2003, aquando da completude do prazo de 15 anos previsto no art.º
1296.º CC. Tendo em conta a afirmação de Igor de que “tratou de todos os papéis aquando da compra
a Guilherme” parece que terá sido realizado o processo de justificação, nos termos dos artigos 116.º
e ss. CRPr, tendo a usucapião sido assim invocada e o bem inscrito a favor de Igor enquanto
comprador do adquirente por usucapião Guilherme. Considerando que o efeito do registo no caso da
aquisição por usucapião do direito de propriedade sobre um imóvel consiste num efeito (meramente)
enunciativo, esse facto aquisitivo é oponível erga omnes, afastando-se a eventual proteção de um
terceiro (usucapio contra tabulas). No caso, Hélia não alienou a nenhum terceiro, pelo que a questão
é de ainda mais fácil resolução, prevalecendo a aquisição por usucapião de Guilherme e posterior
venda a Igor sobre a posição de Hélia. Valorização à eventual referência à discussão quanto à natureza
da posição de Hélia: extinção do seu direito (Oliveira Ascensão) ou (mera) não oponibilidade perante
a usucapião de Guilherme (Menezes Cordeiro).
IV
“A lei portuguesa inspirou-se na doutrina subjetivista de Savigni, defendendo a maioria da Doutrina
e a Jurisprudência essa solução. Na verdade, o art. 1253º, al. a) e c) introduzem no âmbito
da detenção o exercício do poder de facto sem intenção de agir como beneficiário do direito, e
o exercício da posse em nome alheio, o que corresponde à exigência do animus domini para
caracterizar a posse, qualificando como detenção os casos em que não se tem intenção de possuir a
coisa, designadamente quando a intenção é de a possuir para outrem (nomine alieno) o que
corresponde à formulação subjectivista. A lei, ao distinguir-se posse de mera detenção envereda pela
conceção subjetivista de posse, embora se apresente, contudo, a estender a tutela possessória a
alguns casos de posse precária, ou seja, em que não há animus possidendi (...)” (Ac. Trib. Rel.
Guimarães de 16.11.2017, proc.º n.º 1759/14.3T8CHV.G1, negritos no original).
Concorda com o Tribunal da Relação de Guimarães? Responda fundadamente. (5 v.)
Abel vendeu a Bento direito de propriedade sobre uma moradia no Estoril, a 15.05.2019, que
solicitou o registo do seu facto aquisitivo, a 30.05.2019
No dia seguinte, Abel celebrou com Carlos um negócio jurídico através do qual o primeiro lhe
transmitia (a Carlos) a propriedade da supracitada moradia do Estoril, enquanto que Carlos
transmitiria a Abel o direito de propriedade sobre um prédio rústico sito em Serpa.
Carlos regista o seu facto aquisitivo a 19.05.2019.
Entretanto, Bento vendeu a Daniel, seu filho, em 2017, a propriedade de uma moradia na
Lapa, prevendo-se, de comum acordo no contrato, que Daniel, após o negócio, não poderia
arrendar o imóvel a terceiros. Daniel regista o seu facto aquisitivo.
Bento tinha outros dois filhos que tomaram logo conhecimento do negócio, em 2017, mas que
não intervieram no mesmo para darem o consentimento necessário à venda entre pai e filho.
Daniel constituiu a favor de Ernesto um direito de usufruto, em 2019, o qual registou o facto
aquisitivo.
Em 2020, os dois outros filhos de Bento intentam acção judicial para invalidar a compra e
venda celebrada entre Bento e Daniel, com fundamento na falta de consentimento, que tinha
de ser por eles dado, à venda entre o Pai e o irmão, tendo sido proferido despacho saneador
sentença que decidiu a acção.
A, ao vender a B, no dia 15.05.2019, uma moradia no Estoril está a exercer o poder de disposição de
que é titular, enquanto proprietário, de acordo com o disposto no artigo 1305.º, do CC.
B adquire a propriedade sobre o prédio, desde o dia 15.05.2019, nos termos do disposto nos artigos
408.º/1 e 879.º al. a) e 1317.º al. a), todos do CC., em virtude do princípio da consensualidade e da
causalidade que vigora na nossa ordem jurídica, inerente ao sistema do título na transmissão dos
Direitos Reais.
Indicar que o facto aquisitivo de Bento é sujeito, obrigatoriamente, a registo (cfr. artigo 2.º/1, al. a) e art-
8.º-A/1, al. a), ambos do CRP.
Uma vez que se assistiu a uma dupla disposição de um direito totalmente incompatível por parte de um
Autor comum (quer a B, quer a C), tem lugar à aplicação do regime do artigo 5.º/1 e 5.º/4 do CRP,
enquanto modalidade típica da aquisição tabular. Analisar os respetivos pressupostos, fazendo
referência à posição defendida pela Escola de Lisboa (e a opinião própria do Professor Bonifácio
Ramos nesta sede), bem como a posição tomada pela Escola de Coimbra.
Concluir que C poderia adquirir tabularmente o direito de propriedade, uma vez que os requisitos da
aquisição tabular em discussão se verificam no presente caso, sendo certo que B não conseguirá
proceder à inscrição do seu facto aquisitivo a 30.05.2019.
A disposição contratual que proibia D de arrendar o imóvel a terceiros coloca em causa o poder de
disposição do proprietário, ao abrigo do artigo 1305.º, assistindo-se a uma violação do princípio da
tipicidade, nos termos do disposto no artigo. 1306.º do CC, na vertente da modificação do tipo, uma
vez que o poder de fruição, previsto no artigo. 1305.º, neste caso, dos frutos civis (artigo 212.º/2 do CC)
integra o conteúdo injuntivo típico do direito de propriedade, não estando ao dispor das partes no âmbito
da sua autonomia privada. Esta disposição tem eficácia meramente obrigacional, nos termos do
disposto no artigo 1306.º/1, 2ª parte, do CC.
Verifica-se, assim, uma situação de subaquisição com invalidade substantiva, colocando-se a hipótese
de eventual aplicação do regime do artigo 291.º do CC., enquanto modalidade de aquisição tabular,
verificando os respectivos pressupostos de aplicação desta forma de aquisição tabular.
Contudo, o artigo 291.º/2, do CC determina que os direitos de terceiro não são, todavia, reconhecidos,
se a acção for proposta e registada dentro dos três anos posteriores à conclusão do negócio.
Os filhos de B intentaram a acção de anulação do negócio em 2020, ou seja, no prazo de três anos
após a celebração do negócio a que alude o artigo 291.º/2, do CC, razão pela qual o usufruto de E iria
subsistir.
II
Ana emprestou a Berta um colar de esmeraldas para que esta fizesse boa figura num recital
de ópera, no dia 15.04.2013.
Ana, estranhando a não devolução do colar, vai ter a casa de Berta, em 20.04.2013, pedindo-
lhe a sua devolução, que esta recusa, alegando que Ana lhe devia €100.000, e que enquanto
esta não lhe pagasse o valor em dívida, o colar não iria sair do cofre pessoal onde a jóia se
encontrava.
Entretanto, em 30.05.2019, Berta vende o colar a Carlota, por €20.000,00, entregando-o,
desde logo, à compradora.
Em 25.05.2020, Ana contacta o seu advogado, pedindo-lhe aconselhamento sobre qual a
acção a intentar para reaver o colar. A acção é apresentada contra Berta e contra Carlota.
Carlota pede auxílio ao seu advogado para o defender da acção, apresentado a sua
contestação.
A celebrou com B um contrato típico e nominado com o nomen iuris comodato, previsto nos arts. 1129.º
e ss. do CC, o qual tem natureza gratuita.
B passa a ser titular de um direito pessoal de gozo, passando a poder gozar a coisa comodatada, e
sendo detentor, nos termos do disposto no art. 1253.º/al. c) do CC, uma vez que existe uma posse em
nome alheio, em concreto, em nome de A.
B, ao vender a C a joia está a alienar um direito que não integra a sua esfera jurídica, razão pela qual
se verifica um compra e venda de um bem alheio, nos termos do disposto no artigo 892.º, do CC, razão
pele qual tal negócio translativo padece de nulidade.
Não obstante a invalidade do negócio, C adquire a posse por tradição material da coisa, nos termos do
art. 1263.º al. b), enquanto facto translativo da posse, perdendo B a posse pela transmissão do corpus,
por cedência, nos termos do artigo 1267.º, n.º 1, alínea c).
Em 2020, A apenas poderia intentar uma acção real de reivindicação da propriedade, nos termos do
disposto no artigo 1311.º do CC, através da qual teria de peticionar o reconhecimento do seu direito e
a restituição da joia.
A não poderia recorrer às acções possessórias, mormente à acção de restituição da posse, nos termos
do disposto no artigo 1278.º, uma vez que havia perdido a posse, nos termos do disposto no artigo
1267.º/1 al. d), razão pela qual havia caducidade do direito de acção, ao abrigo do artigo 1282.º.
Além do mais haveria sempre o problema da falta de legitimidade passiva de C, de acordo com o
disposto no artigo 1281.º/1.
Discutir se C poderia invocar acessão da posse, nos termos no artigo 1256.º, de maneira a juntar a sua
posse à do seu antecessor B, com vista à invocação da usucapião, nos termos do disposto no art.
1299.º, do CC, sendo certo que a aplicação deste instituto dependerá da forma como B exerceu a sua
posse, mormente, se esta, depois de 2013, teve natureza pública.
Explicitar, por fim, a querela doutrinária sobre se o negócio translativo de direitos reais de B para C
teria de ser válido ou apenas abstractamente idóneo, por referência às posições concretas da doutrina
sobre este assunto.
Duração: 90 minutos
FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ano letivo de 2021/2022
DIREITOS REAIS – 3º Ano/Turma TAN
Exame Escrito (duração: 90 minutos)–Época Normal
20 de Junho de 2022
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
Tópicos de Correcção
- Referir que A celebrou com B um contrato de subarrendamento, razão pela qual foi
constituído a favor de B um direito pessoal de gozo e não um direito real de gozo.
- Indicar que B passa a ser titular de um direito pessoal de gozo, passando a poder gozar o
imóvel, na qualidade de detentor, nos termos do disposto no artigo 1253.º, al. c) do Código
Civil, uma vez que existe uma posse em nome alheio, em concreto, em nome do proprietário.
- Indicar que a existir inversão do título da posse, B passaria de mero detentor a possuidor,
passando a exteriorizar uma posse civil em nome próprio e não em nome alheio, como
anteriormente o fazia, referindo que há uma transmutação da situação jurídica real da coisa
relativamente apenas à qualidade de ligação ao corpus, passando B, de detentor nos termos
de um direito pessoal de gozo, a possuidor, nos termos de um direito de propriedade sem
que, contudo, haja uma alteração do direito real, que continua a ser da titularidade de D.
- Indicar os caracteres legais (artigos 1258.º a 1262.º) e doutrinários da posse de B, caso se
conclua que existiu inversão do título da posse.
- Referir que que B, a ser possuidor, apenas teria essa qualidade desde o início do ano de
2003, e não em momento anterior, não sendo o período da mera detenção contabilizado para
efeitos de usucapião (artigo 1290.º do Código Civil).
- Referir que a existir posse de B, se verificou um acto translativo da posse (tradição simbólica
do imóvel), enquanto facto translativo da posse (artigo 1263.º al. b), do Código Civil).
- Indicar que E intentou uma acção real de reivindicação (artigo 1311.º), com a indicação das
respectivas condições de procedência.
II
Alberto, proprietário com inscrição a seu favor, vende um apartamento no Estoril a Berta, no
ano de 1999, a qual não regista o facto aquisitivo. Berta passa a residir imediatamente no
imóvel.
Entretanto, em 2000, Alberto para saldar uma dívida avultada que tinha perante Carlos,
emigrante na Suíça, e aproveitando-se do facto ainda figurar como proprietário do
apartamento do Estoril, decide constituir um direito de habitação vitalício a favor de Carlos,
mediante celebração de escritura pública. Carlos regista o seu facto aquisitivo.
Em 2022, Carlos regressa a Portugal, pretendendo passar a residir no apartamento do Estoril,
tendo a oposição directa de Berta, que invoca ser legítima proprietária.
- Indicar que B não goza do efeito consolidativo do registo, em virtude de não ter registado o
seu facto aquisitivo.
- Referir que A não tinha legitimidade para constituir o direito de habitação a favor de C, por
não ser proprietário desde 1999, pelo que o contrato em causa está ferido de nulidade por
falta de legitimidade do disponente.
- Verificar a eventual existência de uma eventual situação de aquisição tabular, nos termos do
disposto no artigo 5.º/1 e 5.º/4, em virtude da incompletude registal e incompatibilidade dos
direitos reais de gozo em confronto, com a referência às diferenças entre as situações de
incompatibilidade absoluta e a incompatibilidade relativa.
- Analisar, caso se conclua pela situação da aquisição tabular de C, que B pode invocar
usucapio contra tabulas, atendendo aos requisitos gerais da usucapião (verificáveis no caso
concreto), com a indicação do artigo 5.º, n.º 2, al. a), do Código do Registo Predial e 1296.º,
1.ª parte, do CC.
2.2. Por referência à hipótese II, imagine que Carlos tinha adquirido o imóvel de Alberto
em hasta pública, na sequência de uma venda executiva verificada no decorrer de um
processo executivo intentado contra Alberto. Qual seria a sua resposta nesta
situação.(3 valores).
- Discutir o conceito de terceiro para efeitos de registo, nos termos previstos no artigo 5.º, n.º
4, do Código do Registo Predial; a concepção restrita e ampla de terceiro, fazendo ainda
referência aos dois acórdãos uniformizadores de jurisprudência divergentes proferidos antes
do aditamento do n.º 4, do artigo 5.º, do Código do Registo Predial.