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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

CURSO DE TEOLOGIA

IRLAS SOARES DAS VIRGENS

RESUMO DO VERBETE CRISTOLOGIA

Ananindeua – PA
2017
IRLAS SOARES DAS VIRGENS

RESUMO DO VERBETE CRISTOLOGIA

Resumo apresentado à Faculdade Católica de


Belém, como requisito para avaliação da
disciplina Cristologia, ministrada pelo Prof.
Dr. Pe. João Paulo Dantas.

Ananindeua - PA
2017
RESUMO

Segundo Simonetti, Jesus foi logo entendido, pela Igreja nascente, como um Messias
que ultrapassa aquele anunciado pela tradição judaica. Pois ele se deu a conhecer, além de sua
forma humana - pela qual foi possível sua morte -, mas também de uma forma transcendental
- como na transfiguração. Por isso foi compreendido como sendo, aquele por quem o mundo
foi remido (o Filho de Deus), mas também por meio dele o mundo havia sido criado (Deus ele
mesmo).
"Desta convicção surgiam duas interrogações: Se Cristo é Deus, como conciliar sua
divindade com a divindade de Deus Pai, no contexto do tradicional monoteísmo que
o cristianismo havia herdado do judaísmo? Na pessoa de Cristo como se conciliam,
juntas, a dimensão divina e a dimensão humana?" (SIMONETTI, 2002, p. 363).

Neste contexto surgem as primeiras heresias judaico-cristãs, no caso o ebionismo,


que negava a verdadeira divindade de Jesus, reconhecendo-o apenas como um homem dotado
de dons particulares, "o verdadeiro profeta". Por outro lado, sob a influência do judeu-
cristianismo, buscavam explicar a transcendência de Cristo, bem como do Espírito Santo,
comparando-os com os anjos, seres espirituais. Mas apesar de apontar para a transcendência,
com este termo fazia-se entender que eram seres divinos, em sua transcendência, inferiores ao
Pai.
Sob a influência do judaísmo unido ao helenismo, buscou-se apresentar a
transcendência de Cristo utilizando-se do conceito de espírito (pneuma): como substância
compartilhada pelo Pai, o Filho e o Espírito. Este mesmo termo era usado como nome de
Cristo, também nomeado como Logos.
Agora sob a influência do gnosticismo, Cristo foi entendido como Logos preexistente
que emana do Pai, contudo inferior a Ele. Seguindo também a mentalidade gnóstica dualista,
contrária à matéria, negavam que Cristo houvesse assumido um corpo real na encarnação,
tendo assumido um corpo apenas “aparente”.
O reconhecimento de Cristo como Logos de Deus foi refletida por vários teólogos
por volta do séc. II. Simonetti cita Irineu, Justino, Taciano, Teófilo, Atenágoras. Eles
concluem o Logos de Deus “como ab aeterno imanente impessoalmente em Deus e por ele
gerado ante tempus para providenciar a criação e o governo do mundo” (SIMONETTI, 2002,
p. 364). Cristo procede do Pai, portando ele é Filho de Deus, sendo ele mesmo Deus, mas
distinto quanto à pessoa, contudo, não separado. Por ele estabelece-se uma relação entre Deus
e o homem que passa pela criação, pela redenção, até o julgamento. Portanto sua ação
redentora não se ressume na encarnação, mas acontece de forma gradual e progressiva na
história como se vê na economia do AT, a partir do pecado de Adão. Neste âmbito entende-se
“o Logos como sujeito das teofanias do AT” (SIMONETTI, 2002, p. 364). Tais teofanias
culminam na encarnação real. Tendo Cristo salvado tudo aquilo que assumiu, não salvou
apenas o espírito e a alma humana, mas também o corpo. Esse ato de redenção se cumpriu na
cruz, com a morte de Cristo.
Simonetti continua explicando que a cristologia do Logos foi aprofundada entre o
fim do séc. II e a metade do séc. III, quando se buscava rebater certas heresias como o
monarquismo que, na tentativa de salvaguardar a compreensão monoteísta de Deus, afirmava
que Cristo era apena um homem dotado de dons divinos e que foi assumido por Deus como
Filho apenas depois da ressurreição. Outros entendiam Cristo como um modo de agir do Pai,
que se encarnou e sofreu na cruz com aspecto do Filho. Para esclarecer tudo isso Hipólito,
Tertuliano e, também, Novaciano, aprofundam a cristologia do Logos explicando que a
distinção entre o Pai e o Filho não comprometia a unidade de Deus, que tem uma só
substância, pois ela acontece no interior da unidade, na relação das pessoas (prosopon)
divinas. Orígenes aprofunda a questão da distinção acrescentando o termo hipóstase. E, ainda
contra os monarquianos, fala da unidade do Pai e do Filho como uma unidade dinâmica, de
querer e agir, e da “geração do Logos pelo Pai como geração eterna e contínua, pela qual o
Filho sempre recebe a vida divina do Pai, incessantemente” (SIMONETTI, 2002, p. 365).
Para explicar o modo de união entre a divindade e humanidade em Cristo, Tertuliano
falou na união de duas substâncias, mas sem confusão, preservadas em suas propriedades e
Cristo age tanto como Deus, quanto como homem. Simonetti apresente o pensamento de
Orígenes afirmando que “em virtude da união podemos atribuir ao homem característica da
divindade, e a Deus os caracteres da humanidade” (SIMONETTI, 2002, p. 365).
No Oriente durante a segunda metade do séc. III e o início do IV deu-se sequência a
oposição entre monarquismo e teólogos do Logos. Após muitas polêmicas quanto a
inferioridade do Logos em relação ao Pai, surge uma concepção de Cristo que apresenta-O a
partir do esquema Logos/sarx (carne), afirmando que o Logos encarnou-se num corpo
humano sem alma e teria assumido suas funções. Essa doutrina aponta para uma
desvalorização da verdadeira humanidade de Cristo apesar de afirmar sua verdadeira
divindade.
Por sua vez Ario afirmava que Cristo não era verdadeiramente Deus, sendo Ele
inferior ao Pai, criado por Ele e de natureza distinta. Também baseava sua teologia no
esquema Logos/sarx e atribuía ao Logos as paixões humanas. Eustácio criticou o esquema
Logos/sarx, afirmando a presença de alma humana em Cristo. Por sua vez Atanásio não
negava a presença de alma em Cristo, contudo não soube explicar sua função e atribuiu ao
corpo as características humana de Cristo.
A polêmica ariana avançou da questão cristológica para trinitária. A oposição às
afirmações arianas procurou distinguir as ações de Cristo, de um lado o que pertencia à sua
fraqueza humana e, de outro, o que vinha do poder do Logos, correndo o risco de fazer
entender que existia em Jesus dois sujeitos e, portanto, dois Cristos: homem e Logos.
Por sua vez Apolinário aprofundou a cristologia que segue o esquema Logos/sarx.
Ele aceitava o fato de que o Logos assumiu um corpo com alma, contudo desprovido da
faculdade racional (nous) – (alma sensitiva, animal). Deste modo pôde realizar uma união
com um único princípio no querer e agir, em uma só natureza: Deus Logos encarnado. Por
assim dizer o Logos poderia estar ligado intimamente ao corpo na paixão e na morte.
A resposta a Apolinário se dava como base no axioma: “Cristo assumiu tudo quanto
redimiu”. Portanto para salvar o homem completo, Cristo assumiu o homem em sua
integridade corpo e alma (racional). Quanto à afirmação de uma única natureza, foi rebatida
com a compreensão de em Cristo haver duas naturezas unidas, porém sem confusão.
Simonetti continua falando do posicionamento distinto das escolas de Antioquia e
Alexandria:
Aquela assegurava a significação e autonomia à natureza humana de Cristo, a ponto
de afirmar, de fato, nele, dois sujeitos, comprometendo sua unidade; esta assegurava
a unidade, fazendo do Logos o único sujeito, com o resultado de reduzir a
humanidade a instrumento passivo do Logos (SIMONETTI, 2002, p. 366).

Neste senário, Nestório apresentava sua cristologia afirmando em Cristo um só


prosopon, mas fazendo distinção entre as duas naturezas de tal forma que negava a
communicatio idiomatum (comunicação idiomática). Devido esta visão negava de igual modo
o título de Maria como Mãe de Deus (theotokos), preferindo o título Mãe de Cristo
(christotokos). Contra esta cristologia, Cirilo substitui o termo prosopon por hipótasis, termo
mais forte para apontar a unidade do sujeito, que corresponde a uma só hipóstase, o Logos,
centro da vontade e atividade. Ele distingue nessa unidade as naturezas humana e divina, sem
confusão, e define o título a Maria como Mãe de Deus.
Êutiques retomou a formulação monofisista abrindo novamente as discussões. Leão
Magno foi quem rebateu aos hereges retomando a fórmula de Calcedônia escrevendo o Tomus
ad Flavianum. Este foi rejeitado pelos monofisistas que consideraram as afirmações como
nestorianas. Passaram, então, a articularem variantes de suas afirmações e com Severo de
Antioquia se vê uma semelhante à de Cirilo na distinção das propriedades humanas e divinas,
sem confusão, mas afirmando, ainda assim, uma só natureza (monofisismo verbal).
Sob Justiniano, no início do séc. IV, contra o monofisismo foi integrada à fórmula
calcedonense para dar maior realce à unidade de Cristo, a expressão unus de trinitate passus,
que tornava mais evidente a participação do Logos no sofrimento de Cristo na paixão. As
afirmações da cristologia neocalcedonense foram acolhidas no II Concílio de Constantinopla.
Na tentativa de aproximação (políticas) com os monofisistas surgem, ainda, as
heresias do monoenergismo e do monotelismo (Sergio I, patriarca de Constantinopla).
Especialmente esta última se via que, “embora afirmando duas naturezas em Cristo, faz
emanar o querer e o agir não destas, mas da hipóstase, isto é do sujeito, que é um só, de modo
que dele emanam uma só vontade e uma só operação, divina e humana” (SIMONETTI, 2002,
p. 367). Esta afirmação foi combatida tanto pelos monofisistas como pelos católicos. As
motivações para uma aproximação encerraram-se quando o Egito e a Síria (locais de forte
influência monofisista) passaram para o domínio dos árabes e as controvérsias cristológicas
chegaram ao fim quando, tanto o monoenergismo, quanto o monotelismo foram condenados
no III Concílio de Constantinopla (680-681).
REFERÊNCIA

Verbete Cristologia. In: ______ Dicionário de patrística e de antiguidade cristã. Rio de


Janeiro: Vozes, 2002. p. 363-367.

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