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Casa Do Idoso - Autonomia e Independência Por Meio Do Design de Interiores
Casa Do Idoso - Autonomia e Independência Por Meio Do Design de Interiores
Resumo
Atualmente, com o aumento da expectativa de vida, houve um aumento significativo
da população idosa expandindo, assim, o estudo acerca dessa faixa etária com o
objetivo de proporcionar qualidade de vida. Este artigo buscou responder o seguinte
questionamento: “como através do design de interiores viabiliza a autonomia e a
independência ao idoso na sua casa?”. Baseado na hipótese através do design de
interiores é possivel desenvolver uma casa onde o idoso tenha autonomia e
independência para fazer qualquer tipo de atividade doméstica sem correr riscos ou
danos físicos. Tendo como objetivo o estudo da autonomia e independência do
idoso e como o design de interiores por meio da interdisciplinaridade do design
universal e acessibilidade podem promover essa autonomia e independência. A
coleta de dados realizou-se através de entrevista semi-estruturada com 10 idosos de
ambos os sexos, moradores da cidade de Macapá-Ap e um geriatra, que atua há 5
anos na área, no estado do Amapá. A análise dos dados foi baseada na análise de
conteúdo com abortagem qualitativa. Os resultados encontrados indicam que o
incentivo da autonomia e independência no envelhecimento é extremamente
importante e algo a ser estimulado. Portanto, o design de interiores por meio do
design universal e outras técnicas são capazes de contribuir para a promoção da
autonomia e a independência dos idosos.
1. Introdução
O envelhecimento é um processo que ocorre como consequência do aumento da
expectativa de vida aliada a baixa taxa de natalidade. Atualmente, houve uma
explosão de crescimento da faixa etária idosa, mas qual é o conceito que define que
uma pessoa se encaixa nessa faixa etária? Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS, 2005) considera-se como idoso a parcela da população com idade
maior ou igual há 65 anos, para os indivíduos de países desenvolvidos, e com idade
maior ou igual há 60 anos, para indivíduos de países em desenvolvimento.
O Brasil faz parte dos países que tiveram esse aumento da população idosa,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2013), o
Brasil apresenta um dos mais acelerados processos de envelhecimento
populacional. Esse aumento não tem sido apenas no Brasil, a população idosa tem
crescido mundialmente. No Japão, a porcentagem de japoneses maiores de 65 anos
será de 30% da população do país em 2022. Os números só vêm crescendo
segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), nas próximas décadas
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a população mundial com mais de 60 anos vai passar dos atuais 841 milhões para 2
bilhões até 2050.
O Brasil está em um processo de envelhecimento, e em 2020, teremos 30 milhões
de idosos, mas isso não significa que todos chegarão à terceira idade com qualidade
de vida. Com o avanço da idade vêm às necessidades e limitações, essas
alterações físicas, psicológicas e sociais transformam a forma como o idoso se
relacionar consigo mesmo, com os outros e com o ambiente. De acordo com
pesquisa feita pela MC15 Consultoria, 49% dos idosos se preocupam em ser um
peso para a família. Eles buscam ter autonomia, esperam ser tratados como
qualquer adulto com capacidades de decisão e discernimento. Conforme Pasinato
(2004), o estar saudável deixa de ser associado à idade e passa a se relacionar com
a capacidade do indivíduo de prover as suas necessidades diárias, ter objetivos na
vida e de realizar novas conquistas.
Segundo Pavarini e Neri (2000), o maior desafio que a longevidade enfrenta é a
preservação da qualidade de vida, da autonomia e da independência, diante das
ameaças da perda. A velhice bem sucedida inclui uma vida com atividade e
satisfação e, consequentemente, a promoção da saúde.
Conforme Daré (2010) esta dificuldade na relação com o ambiente construído e o
idoso, vai provocando, com o passar do tempo, uma relação de hostilidade onde o
mesmo sente a sua liberdade limitada e, logo, um decréscimo da sua qualidade de
vida. Apesar de tudo, não deixa de ser uma relação ambígua no momento em que o
utilizador começa a se sentir hostil em relação ao espaço, pois, o habitat que esteve
ao longo de sua vida, foi alterado à medida das suas próprias necessidades e gosto
pessoal, conferindo-lhe uma identidade e privacidade.
Santos (2012) considera que 60% da vida do utilizador é passada no ambiente
doméstico, sendo esse um elemento de forte impacto na vida dos seus utilizadores,
podendo em situações de desajuste das necessidades do utilizador, acarretar
consequências graves ao nível psicossocial.
Criar espaços acessíveis para idosos vai muito além de dar autonomia, pois em
paralelo ao envelhecimento, cresce, também, os riscos de acidentes domésticos.
Segundo a sociedade brasileira de geriatria e gerontologia, 30% dos idosos caem
uma vez ao ano, e essas quedas que ocorrem, na maioria das vezes dentro da sua
própria casa, são responsáveis por mortes prematuras.
Esse artigo propõe-se a expor, se, através do design de interiores é possível
desenvolver diretrizes para criação de espaço que dê autonomia ao idoso para fazer
qualquer tipo de atividade doméstica dentro das suas limitações físicas e diminuindo,
assim, os riscos ou danos físicos.
Quadro 1: Os três tipos de necessidades do Idoso face ao planejamento do espaço por parte de
Arquitectos e Designers.
Fonte: Santos (2012)
Hoje, a norma mais significativa é a NBR 9050 de 2015 que estabelece critérios e
parâmetros técnicos a serem observados quanto ao projeto, a respeito de
acessibilidade nas edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Esta
norma estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quanto ao
projeto, construção, instalação e adaptação do meio urbano e rural, e de edificações
às condições de acessibilidade. A norma teve uma reformulação em 2004, onde foi
agregado o conceito de design universal aos parâmetros.
Dentro dos critérios arquitetônicos da NBR 9050 o piso deve ser estável, confortável
e com o mínimo de desníveis, se haver, esse deve ter no máximo 0,5 cm. Acerca da
iluminação, devem ter iluminação indireta, sensores de presença, luzes de
emergência e o máximo de luz natural, considerando os indivíduos que passam
bastante tempo dentro da casa, as portas devem ter maçanetas de alavancas. Com
relação ao conforto visual, são recomendadas cores claras nas paredes e utilização
de contraste entre piso e parede.
Dentro dos critérios de design de interiores da NBR 9050 destaca-se a retirada de
tapetes, sendo ele uma das causas de acidentes domésticos, retirada de fios ou
qualquer barreira no chão, no caso de uso de capachos esses devem ser aderentes.
O layout da casa deve ser pensando segundo os critérios de circulação da NBR
9050. O mobiliário deve atender as medidas antropométricas do idoso, um exemplo,
ao se escolher uma cama essa deve permitir que o idoso ao sentar nela encoste
seus pés ao chão (formando um ângulo de 90º) e que o mesmo possa levantar com
facilidade e segurança. O guarda roupa necessita ter luz interna e todos os móveis
têm que ser com quinas arredondadas, estofados com densidade alta, não deve ser
muito macio, pois dificultam no levantar.
Ao se construir espaços para idosos, vários parâmetros devem ser observados a
longo prazo como, as mudanças biológicas que poderão ocorrer no futuro e,
principalmente, empenhar-se que todos os ambientes domésticos atendam as
normas da RDC Nº 283 e da NBR 9050, que estão como auxiliadoras para
construção de um ambiente acessível e agradável ao idoso.
6. Baixo esforço físico: Uso eficientemente, com conforto e com o mínimo de fadiga.
Precisa permitir que o usuário mantenha uma posição neutral do corpo e realizar
esforços de trabalho razoáveis para a tarefa, eliminando ações repetitivas e esforço
físico excessivo. Exemplo: botões acessíveis e fáceis de serem ativados.
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Na década de 90, começou a ficar cada vez mais claro que a acessibilidade
deveria seguir o paradigma do desenho universal, segundo o qual os
ambientes, os meios de transporte e os utensílios fossem projetados para
todos e, portanto, não apenas para pessoas com deficiência. E, com o
advento da fase da inclusão, hoje entendemos que a acessibilidade não é
apenas arquitetônica, pois existem barreiras de vários tipos também em
outros contextos que não o do ambiente arquitetônico. (SASSAKI, 2005).
Littlewood (1996) definiu uma pessoa autônoma como aquela que tem a capacidade
de fazer escolhas e governar suas próprias ações. Esta capacidade depende de dois
elementos: habilidade e desejo. Portanto, uma pessoa pode ter a habilidade de fazer
escolhas independentes, mas não sentir nenhuma vontade de praticá-las (porque tal
conduta não é, por exemplo, entendido como apropriado ao seu papel em uma
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determinada situação). Por outro lado, uma pessoa pode ter o desejo de praticar
escolhas independentes, mas não ter a capacidade para fazê-lo.
Para Kant (1964), autonomia surge como um conceito básico em sua teoria ética.
Ele usou o termo para descrever a aptidão das pessoas de serem dignas e, mais do
que isso, de legislarem sobre a sua própria dignidade. Kant afirmava que ser
autônomo, é, portanto, aplicar cada um o seu próprio código de ética, era um “bem
sublime”, indicativo de um indivíduo maduro e racional. (apud SMULLEN, 2003:555).
4. Método Adotado
A coleta de dados ocorreu por intermédio da entrevista, com a utilização de um
termo de consentimento que visou ao esclarecimento dos sujeitos sobre a finalidade
do estudo, o sigilo profissional e a importância da colaboração e participação deles
para a referida investigação. Utilizou-se a técnica da entrevista semi-estruturada, que
permite a liberdade para o pesquisador desenvolver cada situação na direção que
julgar adequada, e das perguntas abertas, que podem ser respondidas a partir de
uma conversação informal. Segue as perguntas feitas na entrevista semi-estruturada
com idosos:
Idade
Sexo
Estado Civil
Trabalha ou possui alguma ocupação?
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tudo o que ele almeja na sua vida, a dependência pode trazer desconforto e
conduzir para um quadro de depressão, então, se fosse escolher uma coisa para
oferecer para qualquer pessoa no envelhecimento a autonomia é tudo o que ele
precisa.
5. Conclusão
O aumento da população idosa gera a necessidade de se desenvolverem meios
para melhor atender às dificuldades advindas com esse crescente número. Apesar
das perdas e limitações físicas que integram o processo do envelhecimento, a
promoção de autonomia e independência é algo extremamente importante a ser
estimulado no envelhecimento.
Assim como, ao longo da vida desde o nascimento o ser humano passa por
mudanças físicas e psicológicas, e o espaço onde habita também se altera. O
ambiente tem como objetivo se adaptar as necessidades e não o oposto, o que é
visto, são pessoas em processo de envelhecimento tendo que se adpatar
fisicamente e psicologicamente ao ambiente físico. Segundo Perito (2007), a
habitação idealizada nos moldes tradicionais, não contemplam as alterações que
podem ocorrer ao longo do ciclo de vida do ser humano, podendo gerar um
descompasso quanto à sua utilização.
Conforme Altman (2002), a reavaliação do ambiente doméstico não deve focalizar
apenas nas necessidades atuais, mas também, nas necessidades que irão ocorrer
num futuro próximo. As facilidades dos indivíduos hoje se transformam nas
necessidades de amanhã.
Sendo assim, é de extrema importância à incorporação de métodos como design
universal, acessibilidade e o uso de normas existente para a criação de uma nova
diretriz para construção de espaços para idosos, e que esses sejam espaços que
contemplem todas as limitações provenientes ou não da idade. O design de
interiores por meio da interdisciplinaridade pode, além da promoção da autonomia e
independência, auxiliar na diminuição dos riscos de queda através de especificação
de materiais, móveis planejados e etc.
Importante ressaltar que, de acordo com Daré et al. (2010), no processo de
envelhecimento existe uma grande diversidade individual muito complexa e que
abrange questões de estilo de vida; cada um tem o seu próprio padrão de
comportamento, de estar, de viver. Por isso, não tem como se definir uma formula
mágica para criação de espaços para idosos, contudo, podem-se aplicar diretrizes
no projeto de interiores ou arquitetônico visando à eliminação de fatores de riscos
relacionados com a incapacidade funcional.
Diante desse cenário, é primordial o conhecimento das individualidades do idoso e a
partir desse conhecimento do indivíduo em associação as metodologias de design
universal e o cumprimento das normais como a NBR 9050 e RDC Nº 283 possa-se
projetar um ambiente que promova segurança, saúde e conforto. Sobretudo,
preservar os idosos independentes e autonomos é necessário para se atingir uma
melhor qualidade de vida.
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