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Nome do Estudante: Armando Mahonhe Calção

Província e Data: Chimoio aos 20 de Maio de 2024

À 17/11/2018, Avelino, adepto incondicional do Têxtil do Púnguè, em plena partida de futebol em


que o seu clube garantia a manutenção no escalão máximo do campeonato nacional de Futebol, diante
da equipa “coqueiros de Inhambane” no tradicional campo da Manga, obrigouse a alienar a sua flat,
no bairro de Chingussura à Xirico. Para o efeito, ambos traduziram as suas inequívocas vontades, por
escrito, no verso do bilhete de ingresso ao campo de jogo. Avelino, ainda, vinculou-se, mediante
assinatura num guardanapo, diante de João, à oferece-lo 100.000,00 mts (Cem mil meticais) para este
último concluir ao pagamento de uma viatura, que pretende, por sua vez, doar às camadas inferiores
do melhor clube da Beira. Avelino, em virtude disto, entregou imediatamente 30.000,00 mts (trinta
mil meticais) a João. Vencido o contrato, Avelino contactou a Mano, propondo-o a venda. Mano,
impressionado, concordou e prometeu pagar o dobro do valor que Xirico pagaria. De imediato
Avelino, comunicou Xirico dizendo “ meu amigo, chegou o momento da celebração do negócio, no
entanto, contactados outros interessados, os mesmos mostraram-se disponíveis em pagar o dobro do
que prometeste. Assim sendo, o valor do preço sofrerá alteração. Decida-te, meu caríssimo amigo.”
Xirico, sem capacidades financeiras, “ viu o barco a passar”, ou seja, deixou de contratar com Avelino
e, no seu lugar, Mano adquiriu o imóvel. No mês seguinte, Avelino, cada vez mais esperto e
actualizado ao dinamismo financeiro, informou que já não ajudaria a João no pagamento e aquisição
da viatura e, por isso, exige a devolução de pelo menos metade do valor entregue a João. Meses antes,
Avelino e Xirico fizeram uma adenda ao contrato inicial e, nela declararam como sendo sinal o valor
de 500.000,00 mts (Quinhentos Meticais) que João entregara ao primeiro. Sucede que, pressionado
por seu melhor amigo, Avelino alienou o imóvel a empresa XPTO.

O caso apresentado envolve diversos aspectos jurídicos relacionados à formação e execução de


contratos, bem como questões de validade e execução de promessas de pagamento. Analisemos cada
situação separadamente:

1. Alienação do Imóvel para Xirico e Posteriormente para Mano

Contrato de Venda entre Avelino e Xirico

Forma do Contrato: Avelino e Xirico formalizaram a sua vontade de alienar o imóvel no verso de
um bilhete de ingresso ao campo de jogo. No direito civil, a forma do contrato de compra e venda de
imóveis deve respeitar certas formalidades, incluindo a escritura pública e o registro no cartório

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competente. Um acordo escrito no verso de um bilhete não satisfaz esses requisitos formais e,
portanto, não seria válido para a transferência de propriedade do imóvel.

Alteração do Preço: Avelino comunicou a Xirico que o preço do imóvel seria alterado devido ao
interesse de outros compradores. Esta alteração unilateral de condições contratuais não é permitida
sem o consentimento da outra parte (Xirico).

Venda do Imóvel para Mano

Contrato com Mano: Avelino vendeu o imóvel a Mano, que concordou em pagar o dobro do valor
que Xirico pagaria. Mano adquiriu o imóvel após a desistência de Xirico, motivada pela alteração de
preço feita por Avelino.

2. Promessa de Pagamento a João

Promessa de Pagamento de 100.000,00 Meticais

Forma e Validade: A promessa de pagamento feita por Avelino a João foi escrita em um guardanapo
e assinada por Avelino na presença de João. No direito civil, promessas de pagamento podem ser
válidas, mesmo que não formalizadas de forma convencional, desde que haja prova da intenção de
obrigar-se e da aceitação da outra parte.

Pagamento Parcial: Avelino pagou 30.000,00 Meticais a João, como parte da promessa de
pagamento de 100.000,00 Meticais. Avelino, posteriormente, desistiu de cumprir a promessa e exigiu
a devolução de pelo menos metade do valor entregue a João.

3. Adenda ao Contrato Inicial entre Avelino e Xirico

Adenda Contratual: Avelino e Xirico fizeram uma adenda ao contrato inicial, declarando como sinal
o valor de 500.000,00 Meticais que João entregou a Avelino. O sinal é um instituto jurídico que
confere segurança ao cumprimento do contrato, prevendo uma penalidade em caso de
inadimplemento.

Pressão para Alienação do Imóvel a XPTO: Avelino, pressionado por um amigo, alienou o imóvel
para a empresa XPTO. A alienação a XPTO, se formalizada de acordo com a lei (escritura pública e
registro), pode ser válida e efetiva.

Análise Jurídica

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Validade da Venda a Xirico: O contrato de venda entre Avelino e Xirico, feito no verso de um
bilhete, não atende aos requisitos formais legais para a alienação de um imóvel, sendo, portanto,
inválido. A alteração unilateral do preço por Avelino também é ilegal.

Venda a Mano: Se a venda a Mano foi formalizada correctamente, com escritura pública e registro,
esta transação é válida. Mano adquire o imóvel legitimamente.

Promessa de Pagamento a João: A promessa escrita no guardanapo pode ser considerada válida se
houver prova da intenção de obrigar-se. No entanto, a desistência unilateral de Avelino de cumprir a
promessa, sem uma cláusula de arrependimento ou condição resolutiva, pode configurar
inadimplemento. João poderia reter os 30.000,00 Meticais recebidos, a menos que haja prova de que a
devolução parcial foi acordada entre as partes.

Adenda ao Contrato: A adenda indicando o valor do sinal reforça o compromisso entre Avelino e
Xirico. Contudo, a venda subsequente a Mano e, posteriormente, a XPTO, pode ter prejudicado
Xirico, dependendo das circunstâncias da formalização desses negócios.

Venda a XPTO: Se a venda a XPTO foi realizada com todos os requisitos legais, esta transação
prevalece. Qualquer contestação de Xirico dependeria de provar a má-fé ou irregularidade na
alienação anterior.

II
Eduardo, professor de natação no clube “Irão fundo.”, Adormeceu, sentado num banco em frente à
piscina, e por alguns momentos, durante uma aula que leccionava as crianças entre os 5 e os 6 anos.
Durante esse tempo, André, asmático, que frequentava a classe pela primeira vez, deixou de conseguir
controlar a respiração, e, quando estava na iminência de se afogar, agarrou Manuel pelas pernas para
evitar ir ao fundo. As duas crianças acabaram por se afogar. André foi retirado inconsciente da água
alguns segundos depois, acabando por recuperar já no Hospital. Em virtude desta situação, que
prejudicou ainda mais os seus problemas respiratórios, não pôde ir à durante duas semanas, por
necessitar de acompanhamento e medicação permanentes, e passou a ter medo da àgua. Manuel sofreu
algumas escoriações nas pernas, consequência directa dos “agarrões” de André, tendo-lhe sido dada
alta no dia seguinte. Os pais de André pretendem obter uma indemnização por parte de Eduardo,
entendendo que foi ele o responsável por tudo o que se passou. a) Deverá Eduardo indemnizar os pais
de André? Justifique o seu posicionamento. b) Que danos deverão ser abrangidos no respectivo

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pedido indemnizatórios? c) Os pais de Manuel pretendem ser ressarcidos, igualmente, pelos pais de
André, pelo facto deste ter arrastado o seu pé e causado escoriações. Procederá o pedido?

Respostas
Vamos analisar as questões jurídicas envolvidas no caso descrito, com base nos princípios gerais do
direito de responsabilidade civil.

a) Deverá Eduardo indemnizar os pais de André? Justifique o seu posicionamento.

Sim, Eduardo deverá indemnizar os pais de André. A responsabilidade de Eduardo pode ser
fundamentada na sua negligência como professor de natação, que resultou em danos para André.
Eduardo adormeceu durante uma aula de natação, deixando de supervisionar adequadamente as
crianças sob sua responsabilidade.

Segundo o Código Civil português, especificamente o artigo 483.º, quem causa dano a outrem, com
dolo ou mera culpa, fica obrigado a indemnizar. A culpa de Eduardo é evidente, pois ele tinha o dever
de vigiar e proteger as crianças durante a aula e falhou nesse dever ao adormecer. Esta omissão de
vigilância constitui um comportamento negligente.

Além disso, Eduardo estava no exercício das suas funções profissionais, e como tal, tem um dever
acrescido de cuidado. A sua falha em cumprir com este dever resultou diretamente no incidente que
prejudicou André, justificando a sua responsabilidade pela indemnização.

b) Que danos deverão ser abrangidos no respectivo pedido indemnizatório?

Os danos a serem abrangidos no pedido indemnizatório incluem:

Danos Patrimoniais:

Despesas médicas e hospitalares: Custos com o tratamento imediato de André e qualquer


acompanhamento médico subsequente.

Despesas com medicação: Custos com a medicação necessária para a recuperação de André.

Perda de rendimentos dos pais: Se os pais de André tiveram de faltar ao trabalho para cuidar dele,
podem incluir a perda desses rendimentos.

Danos Não Patrimoniais:

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Sofrimento e angústia: O sofrimento psicológico e emocional de André devido ao incidente e ao
trauma subsequente.

Prejuízos morais: O medo da água desenvolvido por André, que pode impactar negativamente a sua
qualidade de vida e atividades futuras.

c) Os pais de Manuel pretendem ser ressarcidos, igualmente, pelos pais de André, pelo facto
deste ter arrastado o seu pé e causado escoriações. Procederá o pedido?

O pedido de indemnização dos pais de Manuel contra os pais de André não deverá proceder. O direito
de responsabilidade civil exige que haja culpa por parte do responsável pelo dano. No caso de André,
ele estava em uma situação de emergência, tentando não se afogar, e as suas ações não podem ser
consideradas culposas ou intencionais no sentido jurídico. A ação de André foi um reflexo instintivo
de sobrevivência, sem a intenção de causar danos a Manuel.

Portanto, a ação de André pode ser considerada como um evento fortuito ou um estado de
necessidade, isentando-o de culpa. Sendo assim, os pais de André não devem ser responsabilizados
pelos danos causados a Manuel, dado que a causa principal do incidente foi a negligência de Eduardo,
e não uma ação culposa de André.

Em resumo:

 Eduardo deverá indemnizar os pais de André por sua negligência.


 Os danos a serem abrangidos incluem tanto danos patrimoniais quanto não patrimoniais.
 O pedido de ressarcimento dos pais de Manuel contra os pais de André não deverá proceder, pois
não há culpa de André no incidente.

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