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UM OLHAR NORMATIVO DAS LAVRAS GARIMPEIRAS

NA AMAZÔNIA LEGAL

Paulo Sérgio Sampaio Figueira


Advogado

Não tem uma semana, principalmente na mídia que é contra o presidente


Bolsonaro, que não veicule informações sobre desmatamento, queimada,
atividades do agronegócio e garimpeiras.
Aqui cabe uma observação, visto que não é veiculado nessa mesma mídia,
o que de fato é lícito, e ilícito.
Nas normas constitucionais e infraconstitucionais, principalmente
relacionada ao Direito Ambiental, Florestal, Mineral, Agrário, é perceptível
identificar que existe regras aplicadas a essas atividades, que deriva
principalmente dos procedimentos administrativos concernente aos licenciamentos
ambientais, em que essas atividades dentro das ditas regras e pelo
monitoramento, controle e de fiscalização do órgão ambiental é licito.
Portanto, merece cuidado essa massificação na mídia sensacionalista,
quanto a mesma de forma proposital, não realiza essa distinção, quanto a
atividades que tem as licenças ambientais obtidas nos órgãos públicos da União,
dos Estados, e dos Munícipios.
Mas, o objetivo desta matéria não perpassa por fazer uma análise geral de
todas essas atividades, visto que será abordado atividade de garimpos na
Amazônia Legal, nas normas constitucionais e infraconstitucionais.
As Atividades garimpeiras dentro das normas do direito minerário e
ambiental, e quando proveniente de uma outorga mineral concedida pela Agencia
Nacional da Mineração (ANM), procedida de licença ambiental, não é atividade
ilícita.
A Lei n.º 7.805, de 18 de julho de 1989, cria o regime de permissão de lavra
garimpeira, extingue o regime de matrícula, e faz observância a respeito da
independencia de prévios trabalhos de pesquisa como ocorre com grandes
empresas mineradoras, mas estabelece critérios para essa lavra, em que se
localizada em área urbana há necessidade da anuência dos municípios, bem como
da exigência da licença ambiental para a operação e da outorga por 5 anos do
órgão mineral da União para uma área de 50 hectares, visto que o subsolo é de
competência da União. Vale ressaltar que o órgão da União pode solicitar pesquisa
se observar as necessidades quanto a esses procedimentos com prazo de 90 dias.
A mesma norma descreve ainda que será admitida a permissão de lavra
garimpeira em área de manifesto de mina ou de concessão de lavra, com
autorização do titular, quando houver viabilidade técnica e econômica no
aproveitamento por ambos os regimes. Há permissão na lei para atividades em
unidades de conservação e faixas de fronteiras, entretanto não se aplica as terras
indígenas.
A outra norma é a Lei nº. 11.685, de 2 de junho de 2008, que institui o
Estatuto do Garimpeiro. No artigo 2º, inciso I, define garimpeiro, como “toda
pessoa física de nacionalidade brasileira que, individualmente ou em forma
associativa, atue diretamente no processo da extração de substâncias minerais
garimpáveis”. E no mesmo artigo, no inciso II, conceitua garimpo como “a
localidade onde é desenvolvida a atividade de extração de substâncias minerais
garimpáveis[...]”. No inciso III, elenca o rol de minérios garimpáveis, como ouro,
diamante, cassiterita, columbita, dentre outros.
No artigo 3º, salienta que o exercício da atividade de garimpagem só
poderá ocorrer após a outorga do competente título minerário, sendo o referido
título indispensável para a lavra e a primeira comercialização dos minerais
garimpáveis extraídos.
Vale acrescentar que no artigo 4º, elenca o rol de modalidades que pode
ser realizada as atividades de extração de substâncias minerais garimpáveis, e no
artigo 5º, descreve que dentre essas modalidades, que terão prioridade as
“cooperativas de garimpeiros”.
No mesmo Estatuto, nos artigos 6º - 8º, descrevem outras formas de
obtenção para lavras, incluindo, rejeitos, minerais garimpáveis; jazidas vinculadas
a títulos minerários declarados caducos; aproveitamento de substâncias minerais
garimpáveis por cooperativas de garimpeiros com autorização do titular. No artigo
9º, é assegurado o direito de comercialização ao consumidor final e no 11, o
registro do exercício da atividade de garimpagem nas carteiras expedidas pelas
cooperativas de garimpeiros.
Vê-se, portanto, que o Estatuto e a Lei n.º 7.805, de 1989, são normas
infraconstitucionais que disciplinam corretamente, todo processo de lavra
garimpeira, inclusive ambas descrevem deveres e obrigações dos garimpeiros,
quanto a obrigação de recuperar as áreas degradadas, cumprirem a legislação.
Além do Estatuto do Garimpeiro e da Lei n.º 7.805, de 1989, têm-se o
Decreto n.º 9.406, de 12 de junho de 2018, que faz alusão as permissões (art.8º, I,
III, VI, art. 11, 40, 42), aproveitamentos (art. 13,14), renúncia (art. 51) para lavras
garimpeiras. No mesmo Decreto, o artigo 52 e 66, relaciona as infrações e as
sanções administrativas que ocorrem com a lavra garimpeira, envolvendo,
advertência; multa; caducidade do título.
Ainda no rol de normas infraconstitucional, a União editou o Decreto n.º
10.966, de 11 de fevereiro de 2022, contendo 15 artigos, que atende
especificamente a Amazônia Legal, criando o Programa de Apoio ao
Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala e a Comissão
Interministerial para o Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena
Escala.
É salutar informar que além dessas normas infraconstitucionais, têm-se a
norma maior nas hierarquias das leis, a Constituição Federal, que trás um rol de
artigos asseverando os direitos sociais e as proteções para atividades das lavras
garimpeiras, principalmente como cooperativas.
Desta maneira, a Constituição Federal, no artigo 20, ao elencar os bens de
domínio da União, cuida desses assuntos, mencionando: “IX - os recursos
minerais, inclusive os do subsolo; [...]”. No artigo subsequente, 21, afirma que
compete à União “XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da
atividade de garimpagem, em forma associativa”. O tema é retomado no artigo
174, que dispõe sobre o desenvolvimento das atividades econômicas em geral, do
papel subsidiário do Estado e dispõe sobre garimpo, juntamente com a proteção
ao meio ambiente: “§3º. O Estado favorecerá a organização da atividade
garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a
promoção econômico-social dos garimpeiros”.
Posto isso, fique claro, portanto, que o garimpo é uma atividade econômica
lícita, amparada por normas constitucionais e infraconstitucional, podendo essa
atividade, ser exercida em todo território nacional, principalmente de forma
associativa.
Aqui uma observação em relação as terras indígenas, visto que existem
limitações quanto aos dispostos no artigo 231 da Constituição Federal, da qual se
extrai no “§3º -. aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais
energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só
podem ser efetivadas com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as
comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da
lavra, na forma da lei”. Mesma situação, enfoca a Lei nº. 6.001, de 19 de
dezembro de 1973, do Estatuto do Índio, em que a maioria dos dispositivos atenta
para a destinação das Terras dos Índios (Título III). Portanto, dentro das normas,
as terras indígenas, é um território bastante protegido, que quanto a exploração
mineral deve ser observada os impactos ambientais que podem afetar diretamente
esse povo.
Diante das normas expostas, fica claro, que existe regramento para as
atividades de lavra garimpeira, entretanto o grande problema está no exercício
ilegal, arbitrário, abusivo e violento da garimpagem e da mineração, principalmente
em terras indígenas. A exploração sem controle estatal, apresenta, sim, riscos
ambientais e sociais.
Diante deste cenário, tem que ser observado o que leva essa massificação
de garimpos na Amazônia Legal? Quem financia essas atividades ilícitas, e como
ocorre essa comercialização sem controle estatal?
A União, através do Ministério de Minas e Energia, tem que atentar para
esses questionamentos acima expostos, primeiro definindo áreas possíveis para
essas lavras garimpeiras associativas, controlando essas formas de instituições, e
facilitando sua regulamentação associativa, as anuências da outorga mineral, e
principalmente com a receita federal e a Polícia Federal, no controle dessa
comercialização e saída do país.
Quanto a terras indígenas para lavra garimpeira, a Constituição Federal
não proibi essa atividade, entretanto, deixa claro, que é o Congresso Nacional que
define essa atividade e que deve haver a participação dos povos indígenas nesses
processos, além da presença do Ministério de Minas e Energia, do Ministério do
Meio Ambiente, da Casa Civil, da Funai e do Ibama.
Em síntese, a mineração é essencial para a qualidade de vida de toda a
humanidade. Não há ocorre o desenvolvimento tecnológico conseguido pelo
homem sem o uso dos recursos minerais. Um exemplo da importância dos
produtos minerais é a designação das fases da evolução da humanidade baseada
no uso de produtos minerais: Idade da Pedra Lascada, Idade da Pedra Polida,
Idade do Bronze, Idade do Ferro, e Idade do Aço. Assim, a mineração realizada
pelos garimpeiros, quando lícita, não deve ser objeto de escândalo, de
especulação política e de desinformação pela mídia nacional e internacional,
principalmente marginalizando essa atividade e as pessoas que a exercem.

Advogado e professor com atuação em Direito Ambiental, Agrário e


Administrativo. Técnico Agrícola, Graduado em Bacharel em Direito, em Administração
de Empresas, em Arquivologia, em Ciências Agrícolas. Pós-graduação em
Desenvolvimento Sustentável e Gestão Ambiental, em Direito Ambiental e Política
Pública, em Arquivologia, em Metodologia Cientifica, em Advocacia Eleitoral, e Mestre
em Direito Ambiental e Política Pública. Autor de Obras em Direito Ambiental e Agrário
e de Política Pública, Vice-Presidente da Comissão Nacional de Regularização
Fundiária da UBAU-Região Norte, Presidente da Pasta Ambiental da UBAM, já foi
Secretário de Estado de Meio Ambiente, Membro da Anamma e da Abema, e
Presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB/AP.

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