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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA

PÚBLICA DA COMARCA DE TIMBIRAS – ESTADO DO MARANHÃO.

LICENÇA-PRÊMIO

MARIA ASSUNÇÃO MACHADO, brasileira, solteira, aposentada, inscrita no CPF


sob o nº 235.547.113-49, portadora da cédula de identidade n° 066830182018-6 SESP/MA,
residente e domiciliada na Rua do Alto, n.º 06, São Sebastião – CEP: 65.420-000 – Timbiras/MA,
por seu procurador que esta subscreve, conforme documento de procuração em anexo, com
endereço na Rua Amélia Thomé, n.º 31, Centro – CEP: 65.420-000 – Timbiras/MA, e-mail:
fidoterry@hotmail.com, vem, à presença de Vossa Excelência, propor

AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA

em face da FAZENDA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE TIMBIRAS, pessoa jurídica de direito


público, inscrito no CNPJ/MF sob o n.º 06.424.618/0001-65, com sede de seu governo, na Rua
José Antônio Francis, nº 15, Centro – CEP: 65.420-000 – Timbiras/MA, por sua procuradoria
jurídica, nos termos que passa a expor:

I- PREFACIALMENTE

1. DA REPERCUSSÃO GERAL

Inicialmente, conforme posicionamento do STF, por meio da análise do Recurso


Extraordinário com Agravo (ARE) 721.001, que teve repercussão geral reconhecida, o qual
assegurou ao servidor público “a conversão de férias não gozadas em pecúnia, em razão da
vedação ao locupletamento ilícito por parte da Administração, uma vez que as férias devidas não
foram gozadas no momento oportuno, quando o servidor ainda se encontrava em atividade”.

Acrescentou ainda que, “com o advento da inatividade, há que se assegurar a


conversão em pecúnia de férias ou de quaisquer outros direitos de natureza remuneratório, entre
eles a licença-prêmio não gozada, em face da vedação ao enriquecimento sem causa”, conforme
acórdão colacionado a esta exordial. Assim, haja vista o entendimento consolidado na
jurisprudência dominante da Corte Superior, está mais do que evidente o direito da Requerente
em ter as licenças-prêmio não gozadas convertidas em pecúnia, dada a responsabilidade
objetiva da Administração Pública em virtude da vedação ao enriquecimento sem causa, vejam
ementa:
PLENÁRIO - REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COM AGRAVO 721.001 RIO DE JANEIRO RELATOR: MIN. GILMAR
MENDES RECTE.(S): ESTADO DO RIO DE JANEIRO PROC.(A/S)(ES):
PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO RECDO.(A/S):
ECIO TADEU DE OLIVEIRA ADV.(A/S): LEANDRO SILVEIRA NUNES.
Recurso extraordinário com agravo. 2. Administrativo. Servidor Público. 3.
Conversão de férias não gozadas – bem como outros direitos de natureza
remuneratória – em indenização pecuniária, por aqueles que não mais
podem delas usufruir. Possibilidade. Vedação do enriquecimento sem causa
da Administração. 4. Repercussão Geral reconhecida para reafirmar a
jurisprudência desta Corte. Decisão: O Tribunal, por unanimidade, reputou
constitucional a questão. O Tribunal, por unanimidade, reconheceu a
existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada. No
mérito, por maioria, reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria,
vencido o Ministro Marco Aurélio. Não se manifestaram os Ministros Joaquim
Barbosa e Cármen Lúcia. (ARE 721001 RG/RJ).

Diante o exposto, requer sejam deferidos os pedidos inaugurais, condenando o


Município Réu ao pagamento dos períodos de licenças-prêmio não gozadas, ante a
conformidade com a legislação aplicável e com o entendimento pelo STF.

2. DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA

Antes de adentrar aos fatos e fundamentos da presente demanda, cabe requerer o


benefício da justiça gratuita, visto que a Requerente é professora aposentada do Município, não
podendo suportar o valor das custas e demais despesas processuais sem pôr em risco sua
própria subsistência, fazendo jus ao benefício da justiça gratuita.

Conforme se observa pelo texto da Constituição Federal, é direito fundamental de


todo indivíduo, que não puder arcar com as despesas processuais sem prejuízo do próprio
sustento, a assistência jurídica gratuita, nos termos do art. 5º, LXXIV da Carta Magna, que segue
in verbis:

Art. 5º (omisses)
[...]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;

Nessa esteira a legislação infraconstitucional também prevê o benefício da


assistência jurídica gratuita àqueles que não puderem arcar com as custas e despesas
processuais, como se pode observar pela Lei n.º 1.060/50. Segue em anexo, declaração de
hipossuficiência financeira firmada pela Autora.

Desta forma, resta comprovado o direito da Autora de ser beneficiada pelo princípio
do acesso à justiça, sendo declarada isenta do pagamento de custas processuais no decorrer do
trâmite processual.

3. DO INTERESSE NA REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

Cumpre ressaltar ser muito provável que o Município Réu apresente proposta de
acordo em audiência de conciliação. A um, porque em casos semelhantes já ocorrera tal pleito, e
ainda, constitui mecanismo de estímulo à autocomposição das partes na fase inicial do processo,
antes mesmo da dilação probatória; a dois, porque sua procuradoria possui autonomia para
lançar proposta de acordo (Lei n.º 005/2022). Nesse interim, requer, portanto, a realização da
audiência de conciliação prevista no caput do artigo 334, do Novo CPC, nos termos do artigo
334.

4. DO MARCO PRESCRICIONAL

Impende registrar, conforme página 41, do Diário Oficial do Estado do Maranhão


em anexo, que a Autora se aposentou voluntariamente em 14/11/2017. Sendo este o marco
prescricional, verifica-se a não ocorrência do instituto da prescrição.

Pois, consoante entendimento jurisprudencial consolidado pela Primeira Seção do


Superior Tribunal de Justiça, vê-se que:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO


FEDERAL. TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO SOB A ÉGIDE DA CLT.
CONTAGEM PARA TODOS OS EFEITOS. LICENÇA PRÊMIO NÃO
GOZADA. CONVERSÃO EM PECÚNIA. PRESCRIÇÃO. TERMO A QUO.
DATA DA APOSENTADORIA. RECURSO SUBMETIDO AO REGIME
PREVISTO NO ARTIGO 543-C, DO CPC. [...]. 3. Quanto ao termo inicial, a
jurisprudência desta Corte é uníssona no sentido de que a contagem da
prescrição quinquenal relativa à conversão em pecúnia de licença-prêmio
não gozada e nem utilizada como lapso temporal para a aposentadoria, tem
como termo a quo a data em que ocorreu a aposentadoria do servidor
público. Precedentes: RMS 32.102/DF, Rel. Min. Castro Meira, Segunda
Turma, DJe 8/9/10; AgRg no Ag 1.253.294/RJ, Rel. Min. Hamilton Carvalhido,
Primeira Turma, DJe 4/6/10; AgRg no REsp 810.617/SP, Rel. Min. Og
Fernandes, Sexta Turma, DJe 1/3/10; MS 12.291/DF, Rel. Min. Haroldo
Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE), Terceira Seção, DJe
13/11/09; AgRg no RMS 27.796/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
Quinta Turma, DJe 2/3/09; AgRg no Ag 734.153/PE, Rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, Quinta Turma, DJ 15/5/06. 4. Considerando que somente com
a aposentadoria do servidor tem início o prazo prescricional do seu direito de
pleitear a indenização referente à licença-prêmio não gozada, não há que
falar em ocorrência da prescrição quinquenal no caso em análise, uma vez
que entre a aposentadoria, ocorrida em 6/11/02, e a propositura da presente
ação em 29/6/07, não houve o decurso do lapso de cinco anos. (REsp
1254456 / PE; Relator: Ministro BENEDITO GONÇALVES; Órgão Julgador:
S1 - PRIMEIRA SEÇÃO; Data do Julgamento: 25/04/2012; Data da
Publicação/Fonte: DJe 02/05/2012).

De outra parte, o Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Timbiras/MA, a


Lei n.º 18/93, assim dispõe:

Art. 85 – Após cada quinquênio ininterrupto de exercício, o servidor fará jus a


3 (três) meses de licença, a título de prêmio por assiduidade, com a
remuneração do cargo efetivo.

Art. 86 – Não se concederá licença-prêmio ao servidor que, no período


aquisitivo:
I – sofrer penalidade disciplinar;
II – afastar-se do cargo em virtude de:
a) – licença por motivo de doença em pessoa da família sem
remuneração;
b) – licença para tratar de interesses particulares;
c) – condenação a pena privativa de liberdade por sentença definitiva;
d) – afastamento para acompanhar cônjuge ou companheiro.
Parágrafo Único – As faltas injustificadas ao serviço retardarão a concessão
da licença prevista neste artigo, na proporção de 1 (um) mês para cada falta.

Art. 87 – O número de servidores em gozo simultâneo de licença-prêmio não


poderá ser superior a 1/3 (um terço) da lotação da respectiva unidade
administrativa do órgão ou entidade.

Depreende-se, assim, que a tempestividade do exercício do direito desta ação,


resta incontroversa.

II- DOS FATOS

A Autora é servidora pública sob matricula nº 213027-1, aposentada, pelo Município


de Timbiras, conforme publicação do Diário Oficial do Estado do Maranhão, Portaria nº 027, de
14 de novembro de 2017.

Tendo ingressado no serviço público municipal em 01/03/1980, exercendo as


funções de professora, a Autora adquiriu o direito às licenças-prêmio, com o fundamento na Lei
nº 18/93, nos respectivos períodos:

Quinquênio Ocorrência Saldo


1980-1985 Não gozou 3 meses
1985-1990 Não gozou 3 meses
1990-1995 Não gozou 3 meses
1995-2000 Não gozou 3 meses
2000-2005 Não gozou 3 meses
2005-2010 Não gozou 3 meses
2010-2015 Não gozou 3 meses
SALDO 21 meses

Dessa forma, requereu administrativamente por diversas vezes o direito ao gozo de


suas licenças-prêmio não usufruídas referentes aos intervalos acima citados, correspondentes a
sete períodos aquisitivos, conquanto não obteve êxito em seus pleitos, sob a justificativa do
Município Réu de que “considerando ter sido alcançado o limite prudencial com gastos de
pessoal e que a concessão do afastamento implicará acréscimo de despesa em razão da
necessidade de substituição”.

Vale ressaltar que a Autora não usufruiu das licenças-prêmio por falta de
adequação junto ao calendário escolar e por pouca demanda de funcionários perfazendo-se por
toda a sua carreira no magistério.

Deste modo, verifica-se que a servidora simplesmente não desfrutou de apenas


uma licença, uma vez que dedicou a vida à sua profissão, abdicando ao longo da carreira de
interesses pessoais para cumprir seu mister de professora. Logo, é imperioso que lhe sejam
convertidas as licenças, tendo em vista os vários anos que serviu em prol da sociedade.

Assim, não havendo mais a possibilidade do gozo das licenças-prêmio de forma


tradicional, tendo em vista já estar aposentada, não resta outra alternativa a Autora, senão a
propositura da presente demanda para que possa obter a tutela jurisdicional com a finalidade de
ter o seu direito amparado.

5. DA LICENÇA-PRÊMIO
A Autora foi professora da Rede Pública de Ensino do Município de Timbiras,
Estado do Maranhão, cujo início da atividade laborativa se deu em 01 de março de 1980.
Portanto, após 37 (trinta e sete) anos de serviço público a Requerente não gozou os períodos de
licença-prêmio, mesmo possuindo direito a 7 (sete) períodos. Desta feita, tem direito subjetivo a
7 (sete) períodos de licença-prêmio, o que corresponde a 21 (vinte e um) meses de afastamento
remunerado.

Levando em consideração que já possuía tempo de contribuição e idade suficiente


para a concessão de aposentadoria voluntária com proventos integrais, a Requerente pleiteou
sua concessão, ao que fora atendida por meio da portaria publicada em 14/11/2017.

Tendo em vista o exposto supra, vêm a Requerente buscar amparo jurisdicional


para que os períodos de licenças-prêmio aos quais faz jus, sejam convertidos em pecúnia, como
já vem decidindo a jurisprudência. De nada adiantará sua concessão nos anos vindouros, pois a
Requerente já se encontra aposentada.

6. DA CONVERSÃO DA LICENÇA PRÊMIO EM PECÚNIA

O Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Timbiras prevê o instituto da


licença-prêmio em seu artigo 79, inciso V, como direito de todo servidor público, sem que haja
prejuízo da sua remuneração, vejamos:

Art. 79 – Conceder-se-á ao servidor licença:


[...]
V – Prêmio por assiduidade;

Corrobora o entendimento acima o artigo 85, da Lei n.º 18/93, no tocante ao tempo
do pedido:

Art. 85 – Após cada quinquênio ininterrupto de exercício, o servidor fará jus a


3 (três) meses de licença, a título de prêmio por assiduidade, com a
remuneração do cargo efetivo.

Ora, resta claro que a Requerente cumpriu todos os requisitos necessários à fruição
do gozo de seu direito, e, ainda, não se enquadrou em nenhuma das objeções previstas no
artigo 86, do mesmo diploma legal.

Por conseguinte, conforme previsão legal, tomando por base sua última
remuneração bruta, qual seja, R$ 1.264,95 (um mil duzentos e sessenta e quatro reais e noventa
e cinco centavos) faz jus a Autora dos seguintes valores:

Períodos Quantidade de meses Valor (R$)


1980-1985 3 3.794,85
1985-1990 3 3.794,85
1990-1995 3 3.794,85
1995-2000 3 3.794,85
2000-2005 3 3.794,85
2005-2010 3 3.794,85
2010-2015 3 3.794,85
TOTAL 26.563,95
Neste cenário, além de contar com a expressa previsão legal do Estatuto Municipal,
o direito à indenização das licenças-prêmio não gozadas da qual tange o servidor inativo que
não gozou de tal direito é possível a sua conversão em pecúnia, conforme entendimento
pacificado no STJ e STF:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. AUSÊNCIA DE


OMISSÃO NO ACÓRDÃO. INTERPRETAÇÃO DE DIREITO LOCAL.
SÚMULA 280/STF. LICENÇA-PRÊMIO NÃO GOZADA. CONVERSÃO EM
PECÚNIA. POSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ. 1. Segundo se observa dos
fundamentos que serviram para a Corte de origem apreciar a controvérsia
acerca da concessão da licença-prêmio, o tema foi dirimido no âmbito local
(Leis Estaduais n. 6.672/74 e 9.075/90 e Lei Complementar Estadual n.
10.098/94), de modo a afastar a competência desta Corte Superior de Justiça
para o deslinde do desiderato contido no recurso especial. Incidência da
Súmula 280 do STF. 2. Ademais, a jurisprudência desta Corte já está firmada
no sentido de que é devida a conversão em pecúnia da licença-prêmio não
gozada, e não contada em dobro, na ocasião da aposentadoria do servidor,
sob pena de indevido locupletamento por parte da Administração Pública.
Precedentes. Agravo regimental improvido.
(STJ, AgRg no AREsp 120.294/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 03/05/2012, DJe 11/05/2012).

Ainda, neste sentido:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. SERVIDOR PÚBLICO


ESTADUAL APOSENTADO. PEDIDO DE CONVERSÃO DE LICENÇA-
PRÊMIO NÃO GOZADO EM PECÚNIA. POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO
EM PECÚNIA. DESNECESSIDADE DE PREVISÃO LEGAL E DE
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. INEXISTÊNCIA DE AFRONTA AOS
ARTIGOS 5º, INCISO II, e 37, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM
COMO A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL. COMPROVAÇÃO DO
EXERCÍCIO DAS ATIVIDADES DO SERVIDOR NO PERÍODO EM QUE
DEVERIA TER GOZADO LICENÇA-PRÊMIO. VEDAÇÃO AO
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA E DESTA CORTE. - É possível a conversão em pecúnia de
licenças-prêmios não gozadas de professor estadual, após a aposentadoria,
embora ausente previsão legal, uma vez inviabilizada, de forma tácita, a
fruição do benefício ainda em atividade, ensejando a responsabilização
objetiva do Estado (artigo 37, § 6º, da Constituição Federal), sob pena de
enriquecimento ilícito da Administração Pública. - Apelo conhecido e
desprovido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos em que
são partes as acima identificadas: Acordam os Desembargadores que
integram a 1ª Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de Justiça, à unanimidade
de votos, e em harmonia com o parecer da 16ª Procuradoria de Justiça, em
conhecer e negar provimento ao apelo, nos termos do voto do relator que
integra o presente acórdão. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível
interposta pelo ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE e pelo INSTITUTO
DE PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE - IPERN, através de procurador legalmente constituído, em face da
sentença proferida pelo Juiz de Direito da 3ª Vara da Fazenda Pública da
Comarca de Natal/RN, que nos autos da Ação Ordinária nº 0803210
74.2012.8.20.0001, promovida em seu desfavor por JOSÉ AUGUSTO DE
SOUZA, julgou procedente a pretensão autoral para condenar os
demandados a pagarem ao autor "(...) os valores decorrentes da conversão,
em pecúnia, do período de 18 (dezoito) meses de licença prêmio, excluídos
eventuais períodos utilizados para contagem especial na aposentadoria, tudo
sem incidência de imposto de renda. Os valores apurados serão atualizados
monetariamente, de acordo com a tabela Modelo I, da Justiça Federal, e
juros moratórios de 0,5% (meio por cento) ao mês, a partir da citação, a
incidir a partir de 07 de março de 2012, data em que o autor fora revertido à
inatividade e deveria ter recebido os valores a título de licença prêmio não
gozada e não utilizada para contagem especial da aposentadoria".

Pelo exposto, requer-se a condenação do Município Réu no valor de R$ 26.563,95


(vinte e seis mil, quinhentos e sessenta e três reais e noventa e cinco centavos), devidamente
corrigido desde a data de início do fato gerador, tendo em vista o direito adquirido da servidora,
uma vez que deixou de gozar a referida licença, permanecendo no trabalho, em prol da
necessidade do serviço prestado pelo ente público.

7. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

Imperioso destacar, ainda, que a aposentadoria voluntária da Autora não implica em


renúncia às licenças-prêmio não gozadas, como dispõe os arts. 79, inciso V, e, 85, da Lei
Municipal n.º 18/93, uma vez que importaria em enriquecimento indevido da administração
pública e seria flagrantemente inconstitucional, nos termos do art. 37, § 6º, da Carta Maior, in
verbis:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:
[...]
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Tal questionamento (renúncia) é fruto de uma interpretação equivocada por parte


da Administração Pública Municipal da legislação acerca do tema da licença prêmio e
caducidade.

O Município Réu entende que para ter direito ao gozo ou recebimento da licença-
prêmio, o pedido deve ser efetuado dentro do prazo de 360 dias após completar o quinquênio.

Ocorre que, conforme dito acima tal entendimento é equivocado, não podendo ser
aplicado ao caso da licença-prêmio e caducidade.

O tema é regido pelos artigos acima mencionados, Estatuto do Servidor Público


Municipal, sendo que no referido estatuto não há qualquer previsão de prazo para que tal pedido
seja formulado.

Nesta senda, a Primeira Turma do STF no julgamento do ARE 853324/PB


consignou:

[...] A irresignação não merece prosperar, haja vista que o acórdão recorrido
está em sintonia com a jurisprudência deste Tribunal no sentido de ser
possível a conversão em pecúnia de licenças prêmio não gozadas por
aqueles que não mais podem delas usufruir, sob pena de indevido
enriquecimento do Poder Público em detrimento de seu servidor.

Sobre o tema, anote-se:


AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
AGRAVO. SERVIDOR PÚBLICO. LICENÇA-PRÊMIO NÃO USUFRUÍDA.
CONVERSÃO EM PECÚNIA. REQUISITOS PREENCHIDOS NOS TERMOS
DA LEGISLAÇÃO ENTÃO VIGENTE. POSSIBILIDADE. DIREITO
ADQUIRIDO. PRECEDENTES DO STF. 1.Conforme a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, os servidores públicos têm direito à conversão em
pecúnia de licença-prêmio não usufruída quando os requisitos necessários à
sua concessão foram impelidos antes do advento de lei revogadora deste
direito. 2. Agravo regimental desprovido.
(ARE nº 664.387/PE-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Ayres Britto,
DJe de 8/3/12).

Dessa forma, diante da clareza do arresto acima, resta dirimida qualquer


possibilidade de dubiedade acerca da pretensão autoral. Uma vez que a mesma não gozou das
referidas licenças, permanecendo em serviço ativo em prol do Município Réu.

Destarte, em face da responsabilidade objetiva do Município Réu, a conversão das


licenças em pecúnia é medida que se impõe.

III- DO DIREITO

8. DA CONVERSÃO DA LICENÇA PRÊMIO EM PECÚNIA

Como Servidora Pública do Município de Timbiras, as relações funcionais da


Requerente são regidas pela Lei n.º 18/1993, que dispõe sobre o Regime Jurídico dos
Servidores do Município de Timbiras/MA, das Autarquias e das Fundações Públicas Municipais.

A Licença Prêmio é um direito assegurado a todos os servidores públicos do


Município de Timbiras pela Lei n.º 18/1993, conforme dispositivos transcritos abaixo.

LEI n.º 18, DE 20 DE OUTUBRO DE 1993

Art. 79 – Conceder-se-á ao servidor licença:


[...]
V – Prêmio por assiduidade;

Art. 85 – Após cada quinquênio ininterrupto de exercício, o servidor fará jus a


3 (três) meses de licença, a título de prêmio por assiduidade, com a
remuneração do cargo efetivo.

Art. 86 – Não se concederá licença-prêmio ao servidor que, no período


aquisitivo:
I – sofrer penalidade disciplinar;
II – afastar-se do cargo em virtude de:
a) – licença por motivo de doença em pessoa da família sem remuneração;
b) – licença para tratar de interesses particulares;
c) – condenação a pena privativa de liberdade por sentença definitiva;
d) – afastamento para acompanhar cônjuge ou companheiro.

Parágrafo Único – As faltas injustificadas ao serviço retardarão a concessão


da licença prevista neste artigo, na proporção de 1 (um) mês para cada falta.

Art. 87 – O número de servidores em gozo simultâneo de licença-prêmio não


poderá ser superior a 1/3 (um terço) da lotação da respectiva unidade
administrativa do órgão ou entidade.
Nesse sentido, a Requerente faz jus as licenças-prêmio que serão calculadas,
levando-se em conta o disposto no caput do artigo 85, da Lei 18/1993, na proporção de 3 meses
para cada cinco anos de efetivo exercício.

Excelência, é lícito e devido que o direito adquirido pela Requerente aos períodos
de licenças-prêmio seja convertido em pecúnia, sob pena de restar configurado o enriquecimento
sem causa do Município Réu.

Outro não é o entendimento jurisprudencial a respeito, senão vejamos:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. APOSENTADORIA. LICENÇA-


PRÊMIO NÃO GOZADA. CONVERSÃO EM PECÚNIA. PROCEDÊNCIA DO
PEDIDO. 1. A LICENÇA-PRÊMIO NÃO GOZADA DEVE SER CONVERTIDA
EM PECÚNIA NO MOMENTO DA APOSENTADORIA, SOB PENA DE
CARACTERIZAÇÃO DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA. 2. FERIRIA OS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, DA
RAZOABILIDADE, DA ISONOMIA E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
INTERPRETAR-SE A REGRA DO ARTIGO 87, § 2º, DA LEI 8.112/90 DE
FORMA A ASSEGURAR A CONVERSÃO EM PECÚNIA DE LICENÇA-
PRÊMIO NÃO GOZADA PELO SERVIDOR NA ATIVIDADE, EM BENEFÍCIO
DOS SUCESSORES DO SERVIDOR APOSENTADO, E NÃO ASSEGURÁ-
LA EM VIDA AO PRÓPRIO SERVIDOR. 3. APELO E REMESSA OFICIAL
NÃO PROVIDOS.
(TJ-DF - APL: 1624336420098070001 DF 0162433-64.2009.807.0001,
Relator: CRUZ MACEDO, Data de Julgamento: 09/02/2011, 4ª Turma Cível,
Data de Publicação: 17/02/2011, DJ-e Pág. 113).

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. LICENÇA-PRÊMIO NÃO


GOZADA. PEDIDO DE CONVERSÃO EM PECÚNIA. DIREITO GARANTIDO
CONSTITUCIONALMENTE. PRECEDENTES. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA REFORMADA. APELO PROVIDO. “Incumbe ao Poder
Público a obrigação de indenizar o servidor aposentado pelas licenças-
prêmio não gozadas na ocasião devida, independentemente da
demonstração de que não o foram por necessidade do serviço. O simples
fato de a Administração ter-se valido do trabalho do servidor no período em
que deveria ter sido usufruído o benefício é circunstância suficiente para
legitimar o pleito indenizatório”.
(Apelação Cível n., da Capital, rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j. em 19-11-
2007). (TJ-SC - AC: 559865 SC 2007.055986-5, Relator: Vanderlei Romer,
Data de Julgamento: 01/04/2008, Primeira Câmara de Direito Público, Data
de Publicação: Apelação Cível n., da Capital).

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. DECISÃO DEVE SER MANTIDA PELOS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS. SERVIDOR PÚBLICO. LICENÇA-PRÊMIO NÃO GOZADA.
CONVERSÃO EM PECÚNIA. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. 1. A decisão
agravada encontra-se de acordo com a orientação desta Superior Corte a
respeito da controvérsia, devendo, por isso, ser mantida. Ademais, a parte
agravante não trouxe nenhum novo argumento que pudesse ensejar a
reforma do juízo monocrático. 2. A jurisprudência do STJ pacificou a matéria
no sentido ser possível a conversão em pecúnia da licença-prêmio não
gozada e não contada em dobro para fins de aposentadoria, sob pena de
configurar enriquecimento ilícito. 3. Agravo regimental não provido.
(STJ - AgRg no REsp: 35706 PR 2011/0192555-0, Relator: Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, Data de Julgamento: 03/11/2011, T2 - SEGUNDA
TURMA, Data de Publicação: DJe 11/11/2011).
Pelo exposto, restando configurado o direito adquirido da Requerente e
considerando que entendimento contrário se consubstanciaria em verdadeiro enriquecimento
sem causa por parte do Município Réu, desde já requer que este insigne Juízo se digne em
condenar o Município de Timbiras no pagamento de indenização correspondente aos períodos
de licenças-prêmio não gozados pela Requerente em tempo oportuno.

IV- DO PEDIDO

Ante todo exposto, a Autora requer:

a) Em cumprimento ao que dispõe o art. 319, VII, do CPC, a Autora informa interesse
na realização de audiência de conciliação ou mediação;

b) Que Vossa Excelência se digne em condenar o Município Réu na conversão em


pecúnia, do período correspondente a 21 (vinte e um) meses de licença-prêmio
devidos a Requerente, ou seja, no pagamento de indenização equivalente a vinte e
um meses de remuneração com todas as vantagens incluídas na remuneração que
seria percebida pela Requerente, caso houvesse se licenciado, nos termos
declinados na causa de pedir;

c) Que Vossa Excelência determine que o Município Réu leve aos autos as
informações referentes a vida funcional da Requerente;

d) A citação do Município Réu no endereço supracitado para, querendo, apresentar


contestação no prazo legal, sob pena de ser declarado revel;

e) A condenação do Município Réu em honorários advocatícios, nos termos do CPC, e


custas processuais, com supedâneo na norma e jurisprudência apresentadas;

f) A intimação do Ministério Público para atuar no feito;

g) Por fim, a concessão do benefício da justiça gratuita na forma da Constituição


Federal, do NCPC e da Lei n.º 1.060/50, pois a Requerente não se acha em
condições de arcar com as despesas do processo sem pôr em risco a sua própria
subsistência e de sua família.

Caso Vossa Excelência entenda pela necessidade de instrução do feito, pretende


provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, primordialmente, prova
documental, que segue acostada e que pode ser juntada posteriormente.

Dá-se à causa o valor de R$ 26.563,95 (vinte e seis mil, quinhentos e sessenta e


três reais e noventa e cinco centavos) meramente para efeitos fiscais.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Timbiras/MA, data do sistema.


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GLEYSON ROBERT CANTANHEDE PAIVA FRAZÃO
Advogado – OAB/MA 18.370

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