Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 9

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2024.0000106758

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1018799-24.2021.8.26.0007, da Comarca de São Paulo, em que é apelante SUPER
PAGAMENTOS E ADMINISTRAÇÃO DE MEIOS ELETRONICOS S/A, é
apelado JOSE WALISSON DE LIMA OLIVEIRA SILVA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 20ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ROBERTO MAIA


(Presidente) E ÁLVARO TORRES JÚNIOR.

São Paulo, 16 de fevereiro de 2024.

REBELLO PINHO
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO nº 45695
Apelação Cível nº 1018799-24.2021.8.26.0007
Comarca: São Paulo 2ª Vara Cível do Foro Regional de Itaquera
Apelante: Super Pagamentos e Administração de Meios Eletrônicos S/A
Apelado: José Walisson de Lima Oliveira Silva

COBRANÇA Reconhecimento da inexigibilidade da


dívida cobrada na presente ação, uma vez que a parte autora
não se desincumbiu do ônus de provar a existência e a
origem dessa dívida, ou seja, do fato constitutivo do direito
em que fundamentada a demanda, prova cujo ônus era da
parte autora (art. 373, I, do CPC/2015), motivo pelo qual, é,
de rigor, a manutenção da r. sentença quanto ao julgamento
de improcedência da presente ação.
Recurso desprovido.

Vistos.

Ao relatório da r. sentença de fls. 111/113, acrescenta-


se que a presente demanda foi julgada nos seguintes termos: “julgo improcedente o
pedido da inicial. Condeno a autora ao pagamento das despesas processuais
(atualizadas do desembolso; art. 1º da Lei nº 6.899/1981)”.

Apelação da parte autora (fls. 116/131), sustentando


que: (a) “não há assinatura, pois nenhum extrato possui assinatura. Não há assinatura
na abertura da conta, pois é uma conta digital”; (b) “a parte autora é vinculada ao
Grupo Santander, motivo pelo qual a conta digital de seus clientes são vinculadas ao
Banco Santander”; (c) “a apelante foi vítima de uma inconsistência no sistema que
permitiu que seus clientes, utilizando-se de conta de sua titularidade, efetuassem de
maneira consciente e ilícita, diversas operações que resultaram na criação de um
saldo ilegítimo”; (d) “somente a parte requerida detentora do login, senha, token e
cartão, utilizando-se de senha pessoal e intransferível pode acessar sua conta
Superdigital para operar as transações demonstradas”; e (e) “diante da demonstração
do ato ilícito praticado pela parte apelada, a r. sentença merece ser reformada para
julgar procedente os pedidos da apelante”.

O recurso foi processado, sem resposta da parte


apelada.

É o relatório.

1. A pretensão recursal da parte apelante é o


provimento do recurso, com reforma da r. sentença, para julgar a ação procedente.
Apelação Cível nº 1018799-24.2021.8.26.0007 -Voto nº JV-45695 2
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

2. Mantém-se a r. sentença.

2.1. A relação contratual entre as partes está


subordinada ao CDC.

Nos termos da Súmula 297/STJ: “O Código de Defesa


do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.

Diante das alegações das partes e da prova constante


dos autos, é de se reconhecer que a relação jurídica entre as partes, objeto da ação,
em que intervém a parte ré como destinatária final, é de consumo.

2.2. A presente ação ordinária de cobrança está


lastreada na alegação de que a parte ré é devedora do valor de R$12.015,70, referente
a estornos de operações bancárias realizados em duplicidade em sua conta corrente,
em razão de uma inconsistência no sistêmica da instituição de pagamentos autora.

2.3. Em ações de cobrança, incumbe ao banco autor


provar a existência da relação contratual entre as partes e a origem do débito, cuja
exigibilidade é impugnada pelo réu, não só por se tratar do fato constitutivo de seu
direito, mas também pela impossibilidade, ou, no mínimo, excessiva dificuldade da
parte ré cliente de cumprir o encargo de provar fato negado, consistente na
inexistência de contratação ou não ter contraído a dívida cobrada, por aplicação do
disposto no art. 373, I, II e §§ 1º e 2º, do CPC/2015.

Nesse sentido, quanto ao ônus da prova, adota-se a


orientação de: (a) Humberto Theodoro Júnior: (a.1.) “O art. 373, fiel ao princípio
dispositivo, reparte o ônus da prova entre os litigantes da seguinte maneira: (a) - ao
autor incumbe o ônus de provar o fato constitutivo de seu direito; e (b) ao réu, o de
provar o fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Cada parte,
portanto, tem o ônus de provar os pressupostos do direito que pretenda seja
aplicado pelo juiz na solução do litígio. Quanto o réu contesta apenas negando o
fato em que se baseia a pretensão do autor, todo o ônus probatório recai sobre
este. Mesmo sem iniciativa de prova, o réu ganhará a causa, se o autor não
demonstrar a veracidade do fato constitutivo do seu pretenso direito. (...)
Quando, todavia, o réu se defende através de defesa indireta, invocando fato capaz de
alterar ou eliminar as conseqüências jurídicas daquele outro fato invocado pelo autor,
a regra inverte-se. É que, ao se basear em fato modificativo, extintivo ou impeditivo
do direito do autor, o réu implicitamente admitiu como verídico o fato básico da
petição inicial, ou seja, aquele que causou o aparecimento do direito que,
posteriormente, veio a sofrer as conseqüências do evento a que alude a contestação.
O fato constitutivo do direito do autor tornou-se, destarte, incontroverso,
dispensando, por isso mesmo, a respectiva prova (art. 374, III). A controvérsia
deslocou-se para o fato trazido pela resposta do réu. A este, pois, tocará o ônus de
prová-lo. Assim, se o réu na ação de despejo por falta de pagamento nega a
existência da relação ex locato, o ônus da prova será do autor. Mas, se a defesa
basear-se no prévio pagamento dos aluguéis reclamados ou na inexigibilidade deles,
o onus probandi será todo do réu. (...) Por outro lado, de quem quer que seja o
onus probandi, a prova para ser eficaz há de se apresentar-se como completa e
Apelação Cível nº 1018799-24.2021.8.26.0007 -Voto nº JV-45695 3
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

convincente a respeito do fato de que deriva o direito discutido no processo.


Falta de prova ou prova incompleta equivalem-se, na sistemática processual do
ônus da prova” (“Curso de Direito Processual Civil Teoria Geral do Direito
Processual Civil - Processo de Conhecimento Procedimento Comum”, vol. I, 56ª
ed., Forense, 2015, RJ, p. 880, item 658, o destaque não consta do original); (a.2)
“Para aplicar-se corretamente o art. 373, II, deve-se levar em conta que não é a defesa
indireta aquela em que o réu nega a veracidade à versão do autor e indica outra
versão para o fato invocado na petição inicial. Se o autor, por exemplo, afirma que
seu veículo foi abalroado pelo réu, e este contesta afirmando ter sido o veículo do
autor que abalroou o seu, não se pode dizer que o contestante teria invocada fato
extintivo ou modificativo do direito do autor. O promovente da ação continua com o
ônus de provar que seu automóvel foi abalroado, para lograr êxito na ação intentada.
Na verdade, ao descrever o ocorrido de maneira diferente, o réu negou o fato
constitutivo do autor. (...) No simples conflito de versões para um só fato, o
encargo de provar o fato constitutivo continua inteiramente na responsabilidade
do autor, mesmo que o réu nada prove a respeito de sua versão. O importante é
que o fato fundamental da causa de pedir não foi aceito pelo réu e, portanto,
teria necessariamente de ser comprovado pelo autor, nos termos do art. 373, I.”
(“Curso de Direito Processual Civil Teoria Geral do Direito Processual Civil -
Processo de Conhecimento Procedimento Comum”, vol. I, 56ª ed., Forense, 2015,
RJ, p. 881, item 659, o destaque não consta do original); (a.3) “O novo Código, de
maneira diversa, do anterior, autoriza expressamente ao juiz distribuir o ônus
da prova entre as partes de maneira diferente da previsão dos critérios legais
ordinários (art. 373, § 1º). (...) Não se presta esta teoria [refere-se à teoria da
distribuição dinâmica do ônus da prova] - advirta-se a dispensar totalmente do
ônus da prova aquela parte que, segundo o art. 373, tem o encargo legal de
provar a base fática e sua pretensão, mas apenas de aliviá-la de algum aspecto
do evento probando, ao qual não tem acesso ou condições de investigação
satisfatória, ao passo que o adversário se acha em situação de fazê-lo. Nesse
sentido, adverte Peyrano de que o descolocamento do ônus da prova é sempre parcial
e nunca total” (“Curso de Direito Processual Civil Teoria Geral do Direito
Processual Civil - Processo de Conhecimento Procedimento Comum”, vol. I, 56ª
ed., Forense, 2015, RJ, p. 885 e 887, item 662, o destaque não consta do original); e
(a.4) “(...) ao inovar o regime das cargas legais da prova, o juiz deverá fazê-lo por
decisão fundamentada, em que demonstre, como adequação a ocorrência de um dos
requisitos objetivos do § 1º do art. 373 do NCPC. E, ainda que presente tal requisito,
a decisão jamais poderá gerar situação em que a desincumbência do encargo pelo
novo destinatário “seja impossível ou excessivamente difícil (art. 373, § 2º). A
vedação da exigência de prova diabólica, aquela insuscetível de ser produzida, é,
nessa ordem de ideais, um limite rigoroso à aplicação da distribuição dinâmica do
ônus probatório. (...) Ressalte-se que o encargo probatório dinâmico não se dá,
ordinariamente, em relação ao fato constitutivo da pretensão da parte contrária. Com
efeito, refere-se à defesa daquele que estaticamente não teria o ônus de prová-la, mas
que as circunstâncias particulares da causa justificam a exigência de fazê-lo, dada a
dificuldade extrema do adversário em demonstrar a improcedência ou não da
questionada defesa.” (“Curso de Direito Processual Civil Teoria Geral do Direito
Processual Civil - Processo de Conhecimento Procedimento Comum”, vol. I, 56ª
ed., Forense, 2015, RJ, p. 891, item 664, o destaque não consta do original); e (a.4)
Apelação Cível nº 1018799-24.2021.8.26.0007 -Voto nº JV-45695 4
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

“Há, porém, casos em que a dificuldade probatória decorre da própria natureza da


coisa ou do vento a serem demonstrados em juízo (...) A dificuldade, in casu, não diz
respeito apenas a uma das partes, que que nenhuma delas de achará em condições de
produzir um convencimento total e prefeito no juiz sobre o tema probando. Essa
distinção é importante, porque se uma das partes se acha em situação que lhe
permite demonstrar as afirmações formuladas em sua defesa, sendo verossímil a
narração dos fatos invocados pela parte contrária, é razoável que o juiz
redistribua o encargo probatório afetando aquele que se acha em melhores
condições de esclarecer o quadro fático da causa. Mas, se a dificuldade ou
impossibilidade atinge igualmente a ambas as partes, sua superação não poderá
ser buscada pela técnica da distribuição dinâmica do ônus da prova. Ao
prevalecer semelhante critério, estar-se-ia imputando ao novo destinatário a
chamada prova diabólica, pois de antemão se estaria decretando sua derrota
processual, visto que desde logo se teria exigido dele missão impossível de ser
cumprida. Para as dificuldades objetivas, outras são as soluções que a lei prevê,
como, por exemplo, os indícios e presunções, as máximas de experiência e outros
expedientes quase sempre preconizados pelo direito material. Por outro lado, como
já arrolado, não se pode recorrer à redistribuição do ônus da prova como
expediente que libere o primitivo sujeito do encargo de toda e qualquer
comprovação do fato constitutivo de seu pretenso direito. Antes de alterar, in
concreto, o sistema legal de distribuição do onus probandi, é necessário que o juiz,
diante dos elementos já produzidos no processo, tenha atingido “determinado grau de
convicção acerca da correspondência entre a versão que lhe é apresentada e a
realidade” (“Curso de Direito Processual Civil Teoria Geral do Direito Processual
Civil - Processo de Conhecimento Procedimento Comum”, vol. I, 56ª ed., Forense,
2015, RJ, p. 894/895, item 668, o destaque não consta do original); e (b) de Ernane
Fidélis dos Santos: “A regra geral é a de que ao autor incube a prova do fato
constitutivo de seu direito (art. 373, I) e, ao réu, quanto à existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (art. 373, II). Fatos
constitutivos são os que revelam ou constituem o dirieto do autor, cujo
reconhecimento como as respectivas consequências é materializado no pedido.
Afirma o autor que emprestou ao réu determinada importância em dinheiro e o
prazo do contrato já expirou, sem o pagamento respectivo. Ao autor incumbirá
o ônus de provar o contrato e a expiração do prazo revelam seu direito. (...) A
idéia de constitutividade, impedimento, modificação ou extinção do direito
mantém-se com a mesma característica e, dependendo do fato sobe que vai
atuar a prova, pode, no processo, não coincidir com a posição da parte que dele
tem o ônus. O autor faz cobrança contra o réu. O réu alega que pagou ao
mandatário do autor: deverá prová-lo. O autor, não negando o pagamento nem
a existência do mandato, alega, contudo, sua revogação com ciência real ou
presumida do réu. Não há dúvida de que o último fato alegado é impeditivo com
relação a um direito do réu, competindo a prova, portanto, ao autor. A regra
que impera mesmo no processo é a de que “quem alega o fato deve prová-lo”. O
fato será constitutivo, impeditivo, modificativo ou extintivo do direito, não
importando a posição das partes. Desde que haja a afirmação da existência ou
inexistência do fato, de onde se extrai a situação, circunstância ou direito a
favorecer quem alega, dele é o ônus da prova.” (“Manual de Direito Processual
Civil Processo de Conhecimento”, vol 1, 12ª ed., Saraiva, 2007, SP, p. 510, o
Apelação Cível nº 1018799-24.2021.8.26.0007 -Voto nº JV-45695 5
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

destaque não consta do original); e (c) Vicente Greco Filho: “Ainda cumpre
observar, com Moacyr Amaral Santos, que o art. 333 não deve ser entendido
como regra absoluta, porque a idéia basilar do problema é que a cada parte
corresponde o ônus de provar os fatos que servem de pressuposto para a norma
que consagra o efeito jurídico por ela pretendido, qualquer que seja sua posição
contratual.” (“Direito Processual Civil Brasileiro”, vol. 2, 18ª ed., Saraiva, 2007,
SP, p. 207, o destaque não consta do original).

2.4. A presunção de veracidade dos fatos alegados pela


parte autora, em razão da revelia da parte ré, é relativa, de sorte, que não acarreta, por
si só, o julgamento de procedência da ação, que depende do exame de outros
elementos de convicção e provas constantes dos autos, nem dispensa o enfrentamento
de questões de direito deduzidas e a apreciação de documentos, pertinentes à questão
debatida no litígio e expressamente analisada pela sentença, constantes de apelo,
tempestivo, oferecido pelo revel, sendo, a propósito, relevante salientar, como anota
Theotonio Negrão, “revel é quem não contesta a ação ou, o que é o mesmo, não a
contesta validamente (ex.: contestação fora do prazo ou apresentada por advogado
sem mandato, não ratificado posteriormente cf. art. 13-II). A revelia é o efeito daí
decorrente” ("Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor”, 39ª ed.,
2007, Saraiva, p. 457, parte da nota 3 ao art. 319).

Neste sentido, a orientação dos julgados do Eg. STJ


extraídos do respectivo site: (a) “PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA.
ENERGIA ELÉTRICA. REVELIA. EFEITOS. ARTIGO 319 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. 1. A presunção da veracidade dos fatos alegados pelo autor
é relativa. O alcance do artigo 319 do Código de Processo Civil deve ser
mitigado, porquanto a revelia não induz obrigatoriamente à procedência do
pedido inicial, que dependerá do exame pelo magistrado de todas as evidências e
provas dos autos. Precedentes. 2. Recurso especial improvido.” (STJ-2ª
Turma,REsp 689331/AL, rel. Min. Castro Meira, v.u., j. 21/02/2006, DJ 13/03/2006
p. 266, o destaque não consta do original); (b) “PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE
COBRANÇA. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. REVELIA. ALEGAÇÃO DE
PRESCRIÇÃO FORMULADA PELO REVEL EM APELAÇÃO.
POSSIBILIDADE. I - Declarada a revelia, o revel pode intervir no processo em
qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontra (CPC, art. 322).
Assim, tendo o réu assumido o processo a tempo de interpor o recurso de
Apelação, pode ele alegar em suas razões toda a matéria de direito que deva ser
apreciada pelo juiz, entre as quais, se inclui a prescrição. II - Embora a redação
do art. 219, § 5º, do CPC - então vigente - não determinasse que, em se tratando
de direitos patrimoniais, o juiz se pronunciasse de ofício sobre o tema da
prescrição, em sendo a questão suscitada pelo revel nas razões da Apelação, não
poderia o Tribunal estadual deixar de enfrentar e julgar a matéria, sob o
argumento de o réu estar inovando na lide. III - Recurso Especial provido para,
cassado o v. Acórdão, realizar-se novo julgamento das demais matérias da
Apelação.” (STJ-3ª Turma, REsp 890311/SP, rel. Min. Sidnei Beneti, v.u., j.
12/08/2010, DJe 23/08/2010, o destaque não consta do original); (c) “PROVA.
REVELIA. DOCUMENTOS EXIBIDOS PELO REVEL NA FASE DE
APELAÇÃO. ADMISSIBILIDADE DE SUA APRECIAÇÃO PELO
Apelação Cível nº 1018799-24.2021.8.26.0007 -Voto nº JV-45695 6
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TRIBUNAL. - À Corte Estadual é permitido levar em consideração os


documentos exibidos pelo réu revel no recurso de apelação, uma vez pertinentes
à questão debatida no litígio e expressamente analisada pela sentença. -
Aplicação ao caso da norma inserta no art. 21, parágrafo único, do CPC. Recurso
especial conhecido, em parte, e provido.” (STJ-4ª Turma, REsp 235315/SP, rel. Min.
Barros Monteiro, v.u., j. 02/08/2001, DJ 19/11/2001 p. 278 LEXJTACSP vol. 193 p.
710, o destaque não consta do original); e (d) “Ação de cobrança. Cheque especial.
Revelia. 1. Não pode o réu revel discutir em apelação questão própria da
contestação, na dependência de prova de sua responsabilidade, que não mais
pode produzir pelos efeitos da revelia, assim a demonstração de que inexatos os
extratos e o respectivo detalhamento juntados com a inicial. 2. Recurso especial
não conhecido.” (STJ-3ª Turma, REsp 284929/MG, rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, v.u., j. 21/06/2001, DJ 03/09/2001 p. 221 LEXSTJ vol. 148 p. 108,
o destaque não consta do original).

2.5. Reconhece-se a inexigibilidade da dívida cobrada


na presente ação, uma vez que a parte autora não se desincumbiu do ônus de provar a
existência e a origem dessa dívida, ou seja, do fato constitutivo do direito em que
fundamentada a demanda, prova cujo ônus era da parte autora (art. 373, I, do
CPC/2015), motivo pelo qual, é, de rigor, a manutenção da r. sentença quanto ao
julgamento de improcedência da presente ação.

Isto porque, no caso dos autos, diante das alegações das


partes e da prova constante dos autos, reconhece-se que a parte autora não logrou
êxito em comprovar sua alegações de que a ré possui conta junto à instituição
financeira, nem mesmo que, em razão de uma inconsistência sistêmica, a parte ré
cliente recebeu, de forma dobrada, em sua conta bancária o estorno de operações de
PIX canceladas, totalizando o montante exigido na exordial, ônus que era seu (CPC,
art. 373, I), sendo certo que os extratos juntados pela instituição de pagamento (fls.
64/91) não apresentam nenhuma operação de crédito em duplicidade nas datas e
valores listados na inicial, nem mesmo a evolução do saldo da conta bancária após
cada movimentação bancária.

Quanto a essas questões, ausente argumento hábil da


parte apelante para demonstrar o desacerto do r. ato judicial recorrido, para evitar
inútil tautologia e como autoriza o art. 252, do RITJ, adota-se a fundamentação da r.
sentença recorrida, muito bem lançada, pelo MM Juiz de Direito, Dr. Carlos Eduardo
Santos Pontes de Miranda, como razão de decidir e que se transcreve:

“No caso, as alegações de fato formuladas pela autora estão em


contradição com a prova constante dos autos. Desta feita, afasto os
efeitos da revelia (art. 345, IV, do CPC) e passo ao julgamento do
mérito.

A autora não apresenta qualquer instrumento assinado pelo réu,


registro de contratação verbal ou depoimento de testemunha que
prove a contratação da conta de pagamentos.

Observe-se que a chamada tela sistêmica nada mais é do que


Apelação Cível nº 1018799-24.2021.8.26.0007 -Voto nº JV-45695 7
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

extrato de dados armazenados em sistema de informática. Não é


digitalização de instrumento particular assinado pela parte autora
(art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 12.682/2012), tampouco
reprodução de documento eletrônico de autenticidade certificada
conforme a ICP-Brasil e que possa ser atribuída à parte demandante
(art. 10, caput, da Medida Provisória nº 2.200-2 de 2001). Logo, as
declarações constantes de tela sistêmica só se presumem
verdadeiras em relação a quem a produziu e assinou (art. 409 do
CPC e art. 10, § 1º, da Medida Provisória nº 2.200-2 de 2001), o
que não é o caso da parte autora, contra quem não fazem prova
(TJSP; Apelação Cível 1020889-57.2020.8.26.0001; Relator (a):
Mendes Pereira; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Privado;
Foro Regional III - Jabaquara - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento:
11/03/2021; Data de Registro: 11/03/2021).

Desta feita, ausente prova de que o réu era o titular da conta e de


que se beneficiou do crédito indevido, não há obrigação de
restituição por enriquecimento sem causa (art. 884 do CC). Nesse
sentido:

1. Apelação. Demanda de cobrança. Sentença de improcedência. 2.


Decisão mantida. 3. Apesar da revelia do réu, a autora não
demonstrou a origem da dívida, visto que limitou-se a juntar
documento unilateral e apócrifo. 4. Recurso desprovido. (TJSP;
Apelação Cível 1010685-44.2021.8.26.0477; Relator (a): Campos
Mello; Órgão Julgador: 22ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Praia Grande - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 25/10/2022;
Data de Registro: 25/10/2022)

Ação de cobrança. Fintech. Alegada utilização do sistema PIX,


com consequentes cancelamentos que teriam gerado estornos em
valores dobrados, ocasionando enriquecimento sem causa ao
demandado. R. sentença que julgou improcedentes a ação e a
reconvenção. Apelos de ambas as partes. Conjunto probatório
desfavorável à tese da empresa autora. Ausência de provas de
estornos em quantias superiores às devidas ou de que tenha a ré se
beneficiado das operações. Verba sucumbencial carreada à
reconvinte, vencida, bem aplicada, com fulcro no artigo 85, § 8º, do
Código de Processo Civil. R. sentença preservada. Intelecção do
artigo 252 do Regimento Interno deste Tribunal. Recursos
desprovidos. (TJSP; Apelação Cível 1010473-93.2021.8.26.0001;
Relator (a): Roberto Mac Cracken; Órgão Julgador: 22ª Câmara de
Direito Privado; Foro Regional I - Santana - 4ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 20/09/2022; Data de Registro: 20/09/2022)

Ante o exposto, julgo improcedente o pedido da inicial”.

Observa-se que: (a) nos termos do art. 252, do

Apelação Cível nº 1018799-24.2021.8.26.0007 -Voto nº JV-45695 8


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Regimento Interno deste Eg. Tribunal de Justiça que estabelece: “Nos recursos, em
geral, o relator poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão
recorrida, quanto, suficientemente motivada, houver de mantê-la”; e (b) “É
predominante a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça em reconhecer
a viabilidade de o órgão julgador adotar ou ratificar o juízo de valor firmado na
sentença, inclusive transcrevendo-o no acórdão, sem que tal medida encerre
omissão ou ausência de fundamentação no decisum.” (STJ-2ª Turma, REsp
662272/RS, rel. Min, João Otávio de Noronha, v.u., j. 04/09/2007, DJ 27/09/2007 p.
248, o destaque não consta do original).

2.6. Isto é o quanto basta para o desprovimento do


recurso, com manutenção do julgamento de improcedência da ação.

Desnecessário, perquirir, sobre as demais questões


alegadas pelas partes, visto que qualquer entendimento adotado não alteraria o
julgamento do presente recurso, ante a fundamentação adotada.

3. Embora desprovido o recurso, como não existem


honorários fixados anteriormente pela r. sentença apelada em face da parte autora,
incabível, no caso dos autos, a majoração da verba honorária, com fundamento no
art. 85, §11, do CPC/2015.

Nesse sentido, a orientação do julgado extraído do site


do Eg. STJ: “A majoração da verba honorária sucumbencial recursal prevista
no art. 85, § 11, do CPC/2015, pressupõe a existência cumulativa dos seguintes
requisitos: a) decisão recorrida publicada a partir de 18.03.2016, data de entrada em
vigor do novo Código de Processo Civil; b) recurso não conhecido integralmente ou
não provido, monocraticamente ou pelo órgão colegiado competente; e c)
condenação em honorários advocatícios desde a origem no feito em que
interposto o recurso” (Tese nº 04, da Edição n. 129: Dos Honorários Advocatícios
II, Jurisprudência Em Teses, o destaque não consta do original).

4. Em resumo, o recurso deve ser desprovido.

O presente julgamento não afronta as normas


constitucionais e infraconstitucionais invocadas pelas partes, visto que está em
conformidade com a orientação dos julgados supra especificados.

Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso.

Manoel Ricardo Rebello Pinho

Relator

Apelação Cível nº 1018799-24.2021.8.26.0007 -Voto nº JV-45695 9

Você também pode gostar