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AULA 12

3.Implementação de políticas públicas:

Problemas, dilemas e desafios. Arranjos institucionais para implementação de políticas públicas.

IMPLEMENTAÇÃO

A área de políticas públicas utiliza somente a palavra “implementação” de políticas,


não se adota o termo “implantação”.

- O QUE É IMPLEMENTAÇÃO E POR QUE UMAS POLÍTICAS SÃO


IMPLEMENTADAS E OUTRAS NÃO???

SARAVIA (2006, p. 143-145) conceitua a implementação como sendo:

Constituída pelo planejamento e organização do aparelho


administrativo e dos recursos humanos, financeiros, materiais e
tecnológicos par executar uma política

A implementação abrange a elaboração de todos os planos, programas e projetos e o


recrutamento e o treinamento dos que irão executar a política (GRAÇAS RUA). Saravia
distingue a implementação da execução, que define como “o conjunto das ações
destinado a atingir os objetivos estabelecidos pela política”.

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A execução contém o estudo dos obstáculos que poderão inviabilizar a consecução dos
resultados, sobretudo a análise da burocracia (GRAÇAS RUA).

Na prática, Graças Rua afirma que:

“A implementação pode ser compreendida como um


conjunto de decisões e de ações realizadas por grupos ou
indivíduos, de natureza pública ou privada, as quais são
direcionadas para a consecução de objetivos
estabelecidos mediante decisões precedentes sobre
políticas públicas.”

Lembra ainda Graças Rua que:

“Trata-se das decisões e das ações para fazer uma política sair do papel – onde
expressa apenas intenções – e tornar-se intervenção na realidade. Sem
implementação, não haveria política pública.”

A implementação, de acordo com a professora, é muito mais do que a simples execução


das decisões inicialmente tomadas porque ela enseja novas decisões.

Graças Rua explica que isso resulta do fato de que, na formulação são selecionadas
alternativas que definem apenas os dispositivos gerais e iniciais e os arranjos
preliminares para que algo venha a ser executado posteriormente.

Atenção!!!!

“Muitas outras questões exigirão decisões subsequentes ao longo de todo ciclo de uma
política pública. Por isso, é importante ter em mente que as decisões não se encerram
durante a formulação (vamos lembrar da aula passada que a maioria dos autores
atribuem a tomada de decisão a fase de formulação porque é uma marca desta fase, mas
isto não quer dizer que haja decisão apenas nela) -se estendem por todo o período de
vigência de uma política pública.

Portanto, é preciso refletir que a implementação não ocorre automaticamente. Já que


as decisões podem apresentar ambiguidades, os objetivos podem ser estabelecidos
em função dos meios (e não o inverso, como supõem as abordagens racionalistas) e

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podem ser reformulados e redimensionados o tempo todo, de tal maneira que muito
frequentemente os atores não sabem o que estão implementando (GRAÇAS RUA).

Outro fator mencionado por Graças Rua é que quando uma política pública envolve
diferentes níveis de governo – federal, estadual, municipal –, diferentes regiões de um
mesmo país ou, ainda, diferentes setores de atividade, a implementação pode se
mostrar uma empreitada bastante problemática, já que o controle de seu processo se
torna mais complexo do que em nível local, e até em nível local há problemas quando
se depende de cooperação entre organizações para a implementação.

Existe toda uma cadeia funcionando em conjunto para a implementação de políticas


públicas e se há problema em um elo dessa cadeia, podemos estar diante de uma
política pública fracassada.

De forma, indica Graças Rua que todo esse processo de implantação precisa ser
acompanhado para identificar os erros e acertos, porque políticas são bem-sucedidas
e outras não.

Graças Rua afirma que é possível apresentar muitas perguntas sobre a


implementação, mas que existem três grupos de questões que são mais relevantes:

Em que medida os objetivos foram atingidos? Em que medida


os resultados são consistentes com os objetivos? Há impactos
não previstos?

Em que medida os objetivos originais foram alterados na


implementação?

Que fatores afetam a consecução dos objetivos, as


mudanças de objetivos e estratégias, etc.?

Para que as políticas públicas sejam implementadas existem formas de o fazê-lo e


modelos que podem ser adotados que veremos a seguir.

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MODELOS DE IMPLEMENTAÇÃO

A maneira como se dá a implementação de políticas públicas sido objeto de polêmicas


na Ciência Política.

O embate ocorre entre duas principais abordagens, são elas os denominados “Modelo
Top-Down” (“Modelo de Cima para Baixo”) e “Modelo Bottom-Up” (Modelo “de
Baixo para Cima”).

Hoje, existe uma terceira geração, descrita como “Modelos Híbridos”.

Vamos analisar a primeira que surgiu:

MODELO TOP-DOWN

O ModeloTop-Down– também conhecido como “Implementação Programada”


É resultante dos primeiros estudos a respeito de implementação, desenvolvidos por
PRESSMAN e WILDAVSKI (1973), adotados posteriormente por Donald S. VAN
METER e Carl E. VAN HORN; Eugene BARDACH; Brian HOGWOOD e Lewis
GUNN; Paul SABATIER e Daniel MAZMANIAN, entre outros.

O ModeloTop-Down está intrinsicamente ligado com o pensamento racionalista e com


o modelo weberiano de organização burocrática.

Da vertente racionalista origina-se a concepção de que a implementação consiste em


um conjunto ordenado de atividades-meio para alcançar objetivos previamente
estabelecidos.

E do modelo Weberiano de burocracia advém a perspectiva da implementação como


um sistema de comandos centralizados e hierárquicos associados a uma estrita
separação entre política e administração.

“O ModeloTop-Down– tem como ponto de partida que a implementação se inicia


com uma decisão do governo central, a qual define a relação entre os objetivos da
política pública – determinados pelas lideranças políticas – e os meios a serem
mobilizados pelos diferentes níveis da burocracia a fim de produzir os resultados
pretendidos.” (GRAÇAS RUA)

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"Os termos “implementadores” ou “organizações/agências/agentes
implementadores” denotam a burocracia pública, que são os principais atores
instituídos pelo poder público para atuar na execução da política pública.

Nessa concepção, portanto, a implementação cabe especificamente aos


burocratas, cuja margem de decisão limita-se aos aspectos operacionais e que
devem se manter fiéis aos objetivos originais da política (policy). Eles que garantem
a boa execução.

Ou seja, a implementação não representa uma preocupação das lideranças que


ficariam responsáveis apenas da formulação da política pública.

O ModeloTop-Down reproduz, assim, a noção weberiana de que há uma nítida


separação entre a política e a administração, na qual os administradores devem
obediência às normas e às determinações dos políticos. “

(GRAÇAS RUA)

Vários autores debatem na literatura quais seriam as condições para uma efetiva
implementação de política pública que siga os objetivos que foi pretendido
inicialmente.

Brian HOGWOOD e Lewis GUNN (1984) listam dez condições:

I) As circunstâncias externas à agência implementadora de uma política


pública específica não devem impor restrições que a desvirtuem;
II) A implementação deve dispor de tempo e de recursos suficientes (como
recursos humanos, materiais, financeiros, tecnológicos, etc.);
III) Não apenas não deve haver restrições em termos de recursos globais, mas
também, em cada estágio da implementação, a combinação necessária de
recursos deve estar efetivamente disponível. Ou seja: os recursos
necessários a cada fase da implementação da política pública devem estar
disponíveis no tempo, no espaço e no montante suficientes;
IV) A política a ser implementada deve ser baseada numa teoria adequada
sobre a relação entre a causa (de um problema) e o efeito (de uma solução
que está sendo proposta). Na ausência dessa relação lógica de causalidade,
implementadores e sociedade em geral não entenderão os motivos e
significados da política pública e sua implementação poderá ser dificultada;
V) Essa relação entre causa e efeito deve ser direta e, se houver fatores
intervenientes, esses devem ser mínimos. A relação causal subjacente a uma
política pública deve ser a mais simples e clara possível;
VI) Deve haver uma só agência implementadora, que não depende de outras
agências para alcançar seus objetivos; se outras agências estiverem
envolvidas, a relação de dependência entre elas deverá ser mínima em
número e em importância. A implementação da política deve ser
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centralizada em um só órgão ou em poucos órgãos independentes para que
as ações de um deles não imponham dificuldades às ações dos demais;
VII) Deve haver completa compreensão e consenso quanto aos objetivos a
serem atingidos pela política pública e essa condição deve permanecer
durante todo o processo de implementação. Caso não haja entendimento
dos objetivos e concordância em relação a eles, poderá haver reações
adversas à implementação;
VIII) Ao avançar em direção aos objetivos acordados, deve ser possível
especificar, com detalhes completos e em sequência perfeita, as tarefas a
serem realizadas por cada participante. Desse elemento deriva a percepção
de que a implementação é um processo, já que existe uma ordenação entre
as tarefas previstas; e, mais importante: cada agente implementador saberá
exatamente como agir em cada momento;
IX) É necessário que haja perfeita comunicação e coordenação entre os vários
elementos envolvidos no programa. Em outras palavras, a implementação
requer um eficaz sistema de comunicação, bem como um arranjo de
coordenação intra e intergovernamental;
X) Os atores que exercem posições de comando devem ser capazes de obter
efetiva obediência dos seus subordinados. Ou seja: a implementação deve
reger-se por um sistema hierárquico, com uma cadeia de comando
inequívoca, que estabelece o espaço de discrição apropriado para cada um
dos seus níveis.

Já SABATIER &MAZMANIAN (1980) listam seis condições:

• A legislação deve expressar objetivos claros e consistentes ou, pelo menos,


definir critérios para solucionar conflitos entre objetivos;
• A legislação deve incorporar uma teoria que identifique os principais fatores
causais que afetam os objetivos da política pública e proporcione aos agentes
implementadores jurisdição sobre os grupos-alvo e outros aspectos
necessários para alcançar os objetivos;
• A legislação deve estruturar o processo de implementação de modo a
maximizar a probabilidade de que os agentes implementadores e grupos-alvo
tenham o desempenho desejado. Isso abrange dotar as agências com a
adequada integração hierárquica, o apoio em regras decisórias, os recursos
financeiros suficientes e o acesso às autoridades que apoiam a política
pública;
• Os líderes da agência implementadora devem ter habilidades gerenciais e
políticas suficientes e estarem comprometidos com os objetivos da política
pública tal como definidos em lei;
• A política pública deve ser ativamente apoiada por grupos organizados da
sociedade e por alguns parlamentares-chave durante o processo de
implementação, com o Judiciário sendo simpático ou neutro;
• A prioridade dos objetivos não deve ser subvertida com o passar do tempo
pela emergência de políticas contraditórias ou por modificações em 6
condições socioeconômicas relevantes que fragilizem a teoria causal ou as
bases de apoio ao programa.
Para SABATIER & MAZMANIAN (1980), o mais importante papel da análise da
implementação é identificar as variáveis que afetam a consecução dos objetivos da
política no curso de seu processo.

a) a “tratabilidade” do problema a ser solucionado, que talvez seja a categoria mais


substantiva na elucidação das dificuldades da implementação;

A tratabilidade do problema diz respeito ao grau de facilidade (ou dificuldade) para se


lidar com um problema, devido a questões técnicas ou de qualquer outra natureza,
como:
• “A diversidade do comportamento a ser mudado ou do serviço público a ser
prestado, pois quanto mais complexo o comportamento ou o serviço público, mais
difícil será a implementação;
• O tamanho do público-alvo: quanto menor o grupo, mais fácil defini-lo e mais
fácil mobilizá-lo;
• A extensão da mudança comportamental necessária, porque quanto maior a
mudança pretendida, mais obstáculos a implementação terão de vencer. São
exemplos de mudança comportamental: no caso do Programa Bolsa Família, o
cumprimento das condicionalidades. No trânsito, o respeito à prioridade dos
pedestres na faixa, pelos motoristas. Na produção industrial, o cumprimento, pelas
indústrias, de padrões de qualidade dos produtos. No comércio, a observância dos
direitos dos consumidores pelos comerciantes. “ ( GRAÇAS RUA)

Essas questões são consideradas “tratáveis” se:

• “Existe uma teoria válida conectando a mudança comportamental à solução


do problema, a tecnologia necessária existe e medir a mudança não é oneroso;
• A variação no comportamento que causa o problema é mínima. Por exemplo:
se, como no caso do trabalho infantil no Brasil, em uma região do país um problema
possui causa econômica, enquanto em outra, o mesmo problema causa tem causa
cultural, será mais difícil enfrentá-lo;
• O público-alvo é uma minoria facilmente identificável em uma jurisdição
política como, por exemplo, uma comunidade quilombola em um estado ou em um
município;
• A mudança de comportamento necessária é reduzida, não exigindo que as
práticas existentes sofram alterações radicais.” (GRAÇAS RUA)

b) a capacidade dos dispositivos legais de estruturar favoravelmente o processo da


implementação;

• da definição dos objetivos da política pública;


• da seleção das instituições implementadoras;

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• da previsão de recursos financeiros;
• do direcionamento das orientações políticas dos agentes públicos (a
burocracia implementadora); e
• da regulação dos critérios, oportunidades, mecanismos e canais de
participação da sociedade.

Caso não haja um arranjo político-institucional claro e com regras claras, a política
pública poderá permanecer apenas como uma formalidade, uma norma jurídica que
não é aplicada no mundo real, destoando da realidade.

c) os efeitos do contexto sobre o apoio aos objetivos da policy.

• a necessidade de apoio político para superar os obstáculos à busca de


cooperação entre muitos indivíduos.
• o efeito de mudanças das condições tecnológicas e socioeconômicas sobre o
apoio do público em geral, dos grupos de interesse e dos poderes públicos (Executivo
e Legislativo), aos objetivos da política.

Há ainda a questão de os beneficiados por uma política pública poderem não perceber
esse benefício como tal e assim o refutá-lo.

Por fim, pode ocorrer o chamado déficit de implementação pelo qual várias omissões
na implementação se acumulariam, de modo que seria possível estimar o quanto de
uma política deixou de ser implementado.

O MODELO BOTTOM-UP

A cientista política, Graças Rua, conta que no início dos anos 1980, “os estudos de
políticas públicas começaram a mostrar que não apenas as políticas que eram
formuladas não eram executadas, como também eram implementadas de maneira
completamente distinta do pretendido e, ainda mais grave, os resultados das
políticas frequentemente não tinham relação com seus objetivos originais, não
havendo como mostrar a existência de uma relação de causa-efeito entre a politica
pública e seus impactos no ambiente”( GRAÇAS RUA).

A partir de então, alguns analistas alteraram o foco de seus estudos: deixaram de


enfatizar a concepção, os objetivos centrais, a estrutura de comando e o arranjo
institucional estabelecidos na formulação das políticas públicas e voltaram seus

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olhares para as redes de atores envolvidos na geração dos produtos (delivery) das
políticas. Vários pesquisadores passaram a questionar e rejeitar a ideia de que a
política pública era definida no topo do sistema e que os executores deveriam se ater
rigorosamente aos seus objetivos, como proposto pelo ModeloTop-Down.

(Graças Rua)

Desenvolveu-se a percepção de que, no nível mais baixo que determinada política


pública estava sendo implementada, no nível da “entrega” dos bens e serviços por um
servidor público a um cidadão, havia certo grau de discricionariedade.

Os teóricos pensaram que então a implementação da política pública seria melhor no


plano da concretude e não no plano da concepção.

Neste novo modelo, a implementação consiste em um conjunto de estratégias criadas


pela burocracia de nível de rua para a resolução de problemas encontrados no dia a
dia.

Nesse sentido, os burocratas de âmbito local são os principais atores na entrega de


uma política pública.

LIPSKY cunhou o conceito de “street level bureaucracy” (ou “burocracia de nível de rua”),
que seria composta por agentes implementadores próximos ao cidadão, como por
exemplo: a polícia, os assistentes sociais, os bombeiros, os professores, os diretores de
escolas, os médicos, os policiais, etc.

Nas palavras do autor:

“Os trabalhadores do serviço público que interagem diretamente com os cidadãos no


decurso dos seus trabalhos e que têm poder substancial na execução de seu trabalho são
chamados de burocratas de nível de rua neste estudo. Organizações do serviço público que
empregam um número significativo de burocratas de nível de rua em relação à sua força
total de trabalho são chamadas de burocracias de nível de rua. Os típicos burocratas de nível
de rua são os professores, policiais e outros funcionários responsáveis pela aplicação da lei,
os assistentes sociais, os juízes, os defensores públicos e outros oficiais dos tribunais,
trabalhadores da saúde e muitos outros funcionários públicos que concedem acesso a
programas governamentais e possibilitam a prestação de serviços dentro deles. As pessoas
que trabalham nesses postos tendem a ter muito em comum, porque elas experimentam,
analiticamente, semelhantes condições de trabalho.”

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Segundo ele, a implementação de políticas públicas, ao final, resume-se às pessoas que
realmente a implementam. A burocracia de nível de rua detém recursos de poder
suficientes para tomar pequenas decisões em sua localidade e, assim, definir o que vem a
se tornar política pública. Inclusive, possui o poder de impedir e de transtornar a execução
das políticas públicas no nível local, se assim preferir. Tudo considerado, é ela que formula
as políticas, executando uma função política que define a alocação de bens e serviços
específicos na sociedade. E isso é compreensível porque: “(...) a natureza da provisão de
serviços requer um julgamento humano que não pode ser programado e que não pode ser
substituído por máquinas”(LIPSKY, 1980 apud HILL; HUPE, 2010)

Assim sendo, a implementação das políticas começa da negociação dos burocratas


nível de rua e vai subindo gradualmente e encaminham-se para os patamares mais
centrais e mais altos na estrutura hierárquica governamental, até se transformarem
em uma política pública (GRAÇAS RUA).

Essa perspectiva reconhece o poder dos atores da sociedade que é capaz de cooperar,
bem como encontrar soluções para seus problemas (GRAÇAS RUA).

No Brasil, Graças Rua afirma que seriam exemplos aproximados do Modelo Bottom-
Up:

• o orçamento participativo;
• o processo de implementação da reforma agrária com o auxílio do MST;
• a estrutura do SUS, na qual a formulação começa nos Conselhos Municipais de
Saúde para depois alcançar os níveis superiores do sistema político.

De acordo Renato D’AGNINO (2009, p. 172-173) o Modelo Bottom-Up:

“parte da análise das redes de decisões que se dão no nível concreto em que os atores
se enfrentam quando da implementação, sem conferir um papel determinante às
estruturas pré-existentes (relações de causa e efeito hierarquia entre organizações
etc.). (...)

Para o bottom up- não há exatamente fases distintas de formulação e implementação.


Embora a bottom- up seja uma teoria de implementação da política pública, a sua
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hipótese central é que a tomada de decisões não antecede a implementação e isto
porque a formulação da política e sua execução acontecem em um movimento único,
pouco preciso, de baixo para cima, em que as diretrizes gerais
e as ações acabam se embaralhando – os momentos ocorrem conjuntamente, sem
haver como distinguir um do outro.

Quanto aos problemas relacionados às atividades da burocracia de nível de rua na


implementação, Graças Rua lista:

1- escassez de recursos públicos que ela enfrenta; a sua necessidade de


constante negociação com outros atores, inclusive outras burocracias.
2- preconceitos dos burocratas nível de rua se expressam em suas interações
com seus clientes – a exemplo de diretores de escola que negam vaga a uma
criança negra ou a alunos com deficiência; de policiais que tratam com mais
violência suspeitos pertencentes a certos grupos étnicos.

A literatura aponta que os atores realmente fazem escolhas políticas quando decidem
“como” vão implementar uma política pública, em vez de simplesmente aplicar as
decisões das autoridades eleitas. E ressaltam que os seus preconceitos influenciam no
tratamento oferecido aos cidadãos.

O exemplo fornecido por Graças Rua, no Brasil, são os diretores de escola que não
adotaram as rotinas necessárias para implementar a Lei nº 10.639, de 2003, que torna
obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes públicas e
particulares de ensino, além dos próprios professores que não se interessaram em
tomar conhecimento da lei a fim de aplicá-la.

De acordo com a autora a melhor estratégia de controlar a burocracia é o


fortalecimento da base da sociedade e de suas instituições de participação e controle.’

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QUADRO COMPARATIVO DOS MODELOS

Top-down (cima-para-baixo)
Em resumo, este modelo contém somente dois sujeitos que podem interferir no processo, os
formuladores e implementadores, sendo assim excluídos os demais sujeitos políticos que
poderão a ser impactados por essa política. Este tipo de modelo provoca prejuízos, visto que as
políticas públicas resultam das demandas de um determinado grupo que se organiza, excluindo
os demais do processo. Esse modelo é considerado, portanto, hierárquico (SECCHI, 2012). Esse
modelo é baseado na distinção entre "Política e Administração" (WILSON, 1887), no qual os
formuladores (políticos) são separados dos implementadores (administração).

Bottom-up (baixo-para-cima)
O modelo bottom-up busca uma relação mais orgânica de implementação de políticas
públicas, levando em consideração os sujeitos e as variáveis envolvidas como parte
fundamental do processo, e traz as demandas de "baixo para cima", isto é, a política pública
não é definida no topo da pirâmide, mas no nível real da sua execução.

Sob esta perspectiva, pressupõe-se que a política não é definida no topo da pirâmide da
administração, mas no nível real da sua execução, a implementação das Políticas Públicas é
compreendida como o resultado de um processo de interação entre o seu contexto e as
organizações responsáveis por sua implementação (SECCHI, 2012).

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.

As imagens abaixo ilustram os modelos Top-down (A) e Bottom-up (B).

TEORIAS HÍBRIDAS

As teorias híbridas se originam na terceira geração de estudos de implementação, após


a década de 1980. Seu intuito é tentar superar as lacunas entre os dois modelos,
mediante a composição e o ajuste dos conceitos e das hipóteses de ambos.

As teorias híbridas não admitem a concepção do ciclo de políticas públicas como


uma sequência de fases estanques e bem delineadas.

Existem dois modelos mais populares:

Modelo INTERATIVO, no qual há sempre uma combinação de movimentos


ascendentes e descendentes no processo, Merilee GRINDLE e John THOMAS (1991).

“Modelo INTERATIVO-ITERATIVO”, de Bernardo KLIKSBERG. Não existe, segundo o


Modelo Interativo-Iterativo, uma linha demarcatória clara entre agenda, etapas de
decisão e implementação de políticas, os diversos fluxos se retroalimentam, e o
processo se repete indefinidamente, daí a denominação “iterativo”, para se referir a
esse movimento sucessivas vezes repetido, espiral, circular.

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QUESTÕES

Ø Implementação de políticas públicas.

Questão 1: O ciclo de políticas, ou policy cycle, é uma abordagem para o estudo das políticas
públicas que identifica fases sequenciais e interativas no processo de produção de uma política,
a partir da decomposição do processo de sua elaboração nos momentos de formulação,
implementação e avaliação de resultados.
(RUA, 2012; CHRISPINO, 2016.) Em relação às etapas do ciclo de políticas, assinale a
afirmativa correta.
A) Avaliação: normalmente acompanha a implementação e consiste em um conjunto de
procedimentos de apreciação dos processos adotados, dos resultados preliminares e
intermediários obtidos e do comportamento do ambiente da política.
B) Formação da agenda: ocorre quando, após a análise do problema incluído na agenda, os
atores começam a apresentar propostas para sua resolução e, então, passa a ser possível
chegar-se a uma decisão sobre o núcleo da política que está sendo formulada.
C) Monitoramento: consiste em um conjunto de procedimentos de julgamento dos
resultados de uma política, segundo critérios que expressam valores e destina-se a
subsidiar as decisões dos gestores da política quanto aos ajustes necessários para que os
resultados esperados sejam obtidos.
D) Implementação: consiste em um conjunto de decisões a respeito da operação das rotinas
executivas das diversas organizações envolvidas em uma política, de tal maneira que as
decisões inicialmente tomadas deixam de ser apenas intenções e passam a ser
intervenção na realidade.
E) Formação das alternativas e tomada de decisões: ocorre quando uma demanda é
reconhecida como um problema político e sua relevância enquanto problema de
interesse social precisa ser dominada; então, sua discussão passa a integrar as atividades
de um grupo de autoridades dentro e fora do governo.

Questão 2: O ciclo de políticas públicas compreende identificação do problema, formação da


agenda, formulação de alternativas, tomada de decisão, implementação, avaliação e extinção.
No que concerne às fases do ciclo de políticas públicas, assinale a alternativa INCORRETA.
A) A agenda é um conjunto de problemas ou temas entendidos como relevantes. Ela pode
tomar forma de um programa de governo, um planejamento orçamentário, etc.
B) A formulação de alternativas se desenvolve por meio de escrutínios formais ou
informais das consequências do problema e dos potenciais custos e benefícios de cada
alternativa disponível.
C) A fase de implementação sucede à formulação de alternativas e antecede os primeiros
esforços avaliativos. É aquela em que regras, rotinas e processos sociais são
constituídos.

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D) A tomada de decisão representa o momento em que os interesses dos atores são
equacionados e as intenções (objetivos e métodos) de enfrentamento de um problema
público são explicitadas.
E) A avaliação da política pública é o processo de julgamentos deliberados sobre a validade
de propostas para a ação pública, bem como sobre o sucesso ou a falha de projetos que
foram colocados em prática.

Questão 3: O processo de construção e implementação de políticas públicas pode ser


denominado “ciclo de políticas públicas”. Com base nos conceitos e características inerentes a
esse ciclo, analise as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta.
I. A formação da agenda é uma de suas etapas, sendo que “agenda” é um conjunto de problemas
ou temas entendidos como relevantes, por exemplo, pela comunidade política, pelo poder
público ou pelos meios de comunicação.
II. A avaliação de políticas públicas é uma de suas etapas, podendo acontecer antes, durante e
após a implementação de uma política pública.
III. A implementação de políticas públicas é uma de suas etapas. O modelo top-down é
caracterizado pela maior liberdade de burocratas e redes de atores em auto-organizar e modelar
a implementação dessas políticas.
A) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
B) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
C) Todas as afirmativas estão corretas.
D) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
E) Somente a afirmativa III está correta.

Questão 4: As políticas públicas podem ser visualizadas e interpretadas didaticamente por meio
de um ciclo de vida. De acordo com a literatura, corresponde precipuamente ao estágio de
implementação de uma política pública
A) o outcome.
B) a janela de oportunidades de Kingdon.
C) a avaliação ex post.
D) o modelo dos fluxos múltiplos.
E) a abordagem bottom-up.

Questão 5: A gestão de políticas públicas pode ser elaborada através de esquemas de


visualização e interpretação também conhecido como ciclo de políticas públicas (policy cycle).
Esses esquemas são organizados em fases sequenciais e interdependentes com o intuito de
implantar e implementar política pública.
Sobre esse processo, é correto afirmar:
A) A formação de uma agenda pública é constituída apenas por um programa de governo.
B) A avaliação deve ser realizada apenas no final do processo, contribuindo para o sucesso
da efetivação das ações das políticas públicas.
C) Toda situação pública que afeta a vida das pessoas e se torna insatisfatória para elas
pode ser percebida como um problema.

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D) O estabelecimento de objetivos é importante para nortear a construção de alternativas e
as posteriores fases para tão somente implantar as políticas públicas.
E) A implementação da política pública é o momento em que o planejamento e a escolha
são transformados em atos, bem como são aplicados apenas os recursos financeiros e
tecnológicos para executar a política pública.

Questão 6: Julgue os itens a seguir, no que se refere ao planejamento e à formulação de políticas


públicas.
I A formulação e o desenvolvimento de políticas públicas seguem etapas sequenciais no
chamado ciclo de políticas públicas; nesse ciclo, uma tarefa típica da etapa de construção de
agendas é designar atores responsáveis pela execução de tarefas intermediárias para a
implementação de um programa público.
II A criação de políticas públicas envolve unicamente as seguintes atividades, que compõem o
ciclo das políticas públicas e ocorrem como uma progressão linear: formulação, implementação
e avaliação.
III Na fase de implementação, regras, rotinas e processos sociais são convertidos de intenções
a ações.
Assinale a opção correta.
A) Apenas o item I está certo.
B) Apenas o item II está certo.
C) Apenas os itens I e III estão certos.
D) Apenas os itens II e III estão certos.
E) Todos os itens estão certos.

Questão 7: Na implementação das políticas públicas tem traços racionais e weberianoso


modelo:
a- Top down
b- Botttom up
c- Iterativo
d- Teoria dos Jogos
e- agente principal

Questão 8: No ciclo de políticas públicas, “uma lista de assuntos ou problemas nos quais
representantes do governo e pessoas fora do governo […], estão seriamente prestando atenção
a qualquer momento”, denota:
A) Avaliação.
B) Implementação.
C) Tomada de decisão.
D) Formulação de alternativas.
E) Formação da agenda pública.

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Questão 9: Com relação às políticas públicas no Estado brasileiro contemporâneo, assinale a
opção correta.
A) A implementação de políticas constantemente orienta novas políticas. Assim como a
implementação implica a tomada de decisões, ela própria compõe-se em fonte de
informações para a formulação de novas políticas.
B) Comparativamente, a visão de implementação de políticas como um aprendizado é
empiricamente menos consistente que a visão tradicional e a visão como processo linear,
pois envolve redes de implementação que inserem nesse processo uma maior quantidade
de variáveis, complexando o processo decisório político.
C) A legitimidade das políticas públicas independe da visão adotada pelos governos
democráticos, posto que basta ter origem nas decisões de agentes públicos para que tal
legitimidade ocorra.
D) O policy learning, o aprendizado na implementação de uma política pública,
caracteriza-se pela horizontalização dessa política, em um contexto de ambiente
marcado por transformações estruturais.
E) A governança, entendida como regras do jogo e arranjos institucionais que dão
sustentação à cooperação, à coordenação e à negociação, pouco se relaciona à
implementação das políticas públicas, ao contrário da formulação das políticas públicas,
que está fortemente imbricada com tal conceito.

Questão 10: Implementação de políticas públicas é definido como:


A) inatividade que ocorre após a definição de políticas públicas e que as faz fracassar
B) atividades relacionadas com a implantação de um projeto político pelo gestor público
C) fase que se coloca entre a elaboração da política pública e sua implantação
D) eventos e atividades que ocorrem depois da emissão de autorizações e de diretrizes de
políticas públicas
E) o mesmo que elaboração, execução e controle de políticas públicas

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GABARITO

Ø Implementação de políticas públicas.

Questão 1:
Gabarito: D.
Comentário: Implementação: consiste em um conjunto de decisões a respeito da operação das
rotinas executivas das diversas organizações envolvidas em uma política, de tal maneira que as
decisões inicialmente tomadas deixam de ser apenas intenções e passam a ser intervenção na
realidade.

Questão 2:
Gabarito: C.
Comentário:
Implementação: início da parte prática propriamente dita, com a aplicação das fases anteriores
e cumprimento das diretrizes traçadas (prazos, recursos financeiros e tecnológicos)

Questão 3:
Gabarito: D.
Comentário: I - Certa. Problemas ou temas entendidos como relevantes serão priorizados;
II - Certa. Após priorizadas e implementadas, as ações que integram as políticas públicas devem
ser avaliadas;
III - Errada. O modelo top-down é caracterizado por regras mais rígidas e menor
discrionariedade, logo, os agentes públicos (burocratas) têm menor liberdade de escolha no
curso da ação.

Questão 4:
Gabarito: E.
Comentário: Bottom-up ou "de baixo para cima": Trata-se de um modelo de
implementação em que os implementadores (executores) destas políticas participam mais
do processo e têm uma maior liberdade para decidirem sobre "soluções" durante a
implementação das políticas públicas.

Questão 5:
Gabarito: C.
Comentário: Um problema político pode ser entendido como a situação que causa transtorno à
vida das pessoas e apresenta relevância política para ser objeto de possível política pública que
tente solucioná-lo.

Questão 6:
Gabarito: C.
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Comentário: No que se refere às etapas de planejamento e formulação de políticas públicas, as
quais antecedem o momento da implementação, está correto o quanto exposto nos itens I e III.

Questão 7:
Gabarito- A
Trata-se do modelo de cima para baixo.

Questão 8:
Gabarito: E.
Comentário: Definição de Agenda: Espaço em que os principais temas da sociedade em análise
encontram-se em debate. É um processo pré-decisório de inclusão de determinado pleito ou
necessidade social na lista de prioridades do poder público.

Questão 9:
Gabarito: A.
Comentário: A implementação de políticas constantemente orienta novas políticas. Assim
como a implementação implica a tomada de decisões, ela própria compõe-se em fonte de
informações para a formulação de novas políticas.

Questão 10:
Gabarito: D.
Comentário: Fase da implementação de políticas públicas: eventos e atividades que ocorrem
depois da emissão de autorizações e de diretrizes de políticas públicas

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