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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE

DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE____


Processo nº xxxxxxxxx
XXXXXXXXXXXXXXX, (qualificação), por seu advogado,
bastante procurador, que esta subscreve, vem, respeitosamente
à presença de Vossa Excelência, com fundamento no
artigo 564 do Código de Processo Civil,
apresentar CONTESTAÇÃO na Ação de
Reintegração/Manutenção de Posse que lhe
move XXXXXXXXXX, já qualificada nos autos em epígrafe,
expondo e requerendo o que segue.
1 – SÍNTESE FÁTICA
De acordo com a inicial, a requerente adquiriu, em agosto de
2015, através do programa “Minha Casa Minha Vida”, um
imóvel localizado na Rua xxxxxxxxxxxxxxx.

Aduziu que estava gravida e por isso precisou mudar-se para a


cidade de xxxxxxxx no início de 2016, onde receberia os
cuidados de sua avó.

Porém, para não deixar o imóvel abandonado, a requerente


teria pedido à sua amiga XXXXXXXX que tomasse conta da
propriedade até o seu retorno.

Posteriormente, alega a requerente que em março de 2016 fora


informada que o requerido teria invadido a sua residência, o
que a fez registrar um boletim de ocorrência.

Nesta seara, informa a requerente que deixou seus pertences


no imóvel, e que está pagando todas as prestações do contrato
de financiamento bem como o IPTU e demais contas.

Por fim, a requerente sustenta que, em razão da suposta


invasão do requerido, necessitou locar outro imóvel, pagando a
quantia de R$ xxxxxxx, e que por essa razão precisa ser
imediatamente reintegrada na posse do imóvel objeto da
presente lide.
Todavia, em que pede os forçosos argumentos lançados pela
requerente na exordial, a presente Ação não merece prosperar,
conforme melhor se demonstrará nos tópicos a seguir.

2 – DO DIREITO
2. – Da Falta de Interesse Processual
Conforme se observa da leitura da peça inaugural, a requerente
alega ser proprietária do imóvel, fundamentando apenas nisto
seu pedido de reintegração de posse.

Ora, conforme preceituado nos artigos 560 e seguintes


do Código de Processo Civil, a causa de pedir nas ações
possessórias deve ser a posse e não a propriedade. Caso
quisesse reaver o imóvel com base no seu domínio sobre ele,
deveria a requerente ter proposto uma ação reivindicatória.

A jurisprudência brasileira coaduna desse entendimento,


vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL N. 0010403-36.2010.8.08.0048


(048100104032). APELANTE: JOÃO BATISTA ROSA DO
NASCIMENTO. APELADA: KEILA RODRIGUES PENNA
VILLA. RELATOR: DESEMBARGADOR SUBSTITUTO
RODRIGO FERREIRA MIRANDA. A C Ó R D Ã O EMENTA:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
TERRENO ABANDONADO. NÃO COMPROVAÇÃO DA POSSE
PELO PROPRIETÁRIO DO BEM IMÓVEL.

1. - Para o deferimento da ação reintegratória, o autor deve


provar, dentre outros requisitos, a sua posse sobre o bem
imóvel objeto do litígio. Inteligência dos artigos 926 e 927,
ambos do Código Civil.

2. - O autor alegou posse mas só comprovou domínio. Logo,


ele se utilizou de via processual inadequada, uma vez que a
ação de reintegração tutela a posse e não o domínio, sendo no
caso vertente irrelevante a discussão acerca da propriedade.
¿O entendimento do STJ é no sentido de que, em se tratando
de ação possessória, não se discute o domínio sobre os bens
em comento, mas tão somente a posse exercida sobre eles.
¿ (REsp 1279929⁄MT, Rel. Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 18-03-2014, DJe 15-
04-2014).

3. - In casu, a ré comprovou o exercício da posse sobre o


terreno discriminado nos autos, que outrora estava em estado
de abandono, sendo desnecessária a discussão sobre o
domínio do imóvel.

4. - Recurso desprovido. Vistos, relatados e discutidos estes


autos, ACORDAM os Desembargadores que integram a
Terceira Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do
Estado do Espírito Santo, de conformidade com a ata do
julgamento e as notas taquigráficas em, à unanimidade,
negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator.
Vitória-ES., 01 de março de 2016. PRESIDENTE RELATOR

(TJ-ES - Apelação: APL


00104033620108080048)
APELAÇÃO CÍVEL. POSSE. BENS IMÓVEIS. AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ABANDONO DO IMÓVEL PELA
AUTORA. EXERCÍCIO DA POSSE DO RÉU DEMONSTRADO.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA.

Para o deferimento do pedido de reintegração de posse,


mister sejam atendidos os requisitos do art. 927 do CPC. A
prova dos autos demonstrou que a autora não detinha a posse
do imóvel, pois o abandonou há muitos anos, época em que o
réu e sua falecida companheira, filha da autora,
permaneceram residindo no local. Sentença mantida. APELO
DESPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70051774180,
Décima Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Elaine Maria Canto da Fonseca, Julgado em
17/09/2015).

RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE


POSSE - ALEGAÇÃO DE DOMÍNIO - INOCORRÊNCIA DAS
EXCEÇÕES ADMITIDAS - IMPOSSIBILIDADE - REEXAME
DE PROVAS - INVIABILIDADE – SÚMULA 7/STJ.

1. A teor da jurisprudência desta Corte, em se tratando de


ação possessória, descabe discussão sobre domínio, exceto se
os litigantes disputam a posse alegando propriedade ou
quando duvidosas ambas as posses suscitadas. Inocorre, no
caso, ambas as hipóteses. Assim, incensurável o v. Acórdão
que julga carecedor de ação – por falta de adequação do
pedido autoral à providência requerida – o proprietário que
invoca a proteção possessória fundada em título dominial.

2. De outro lado, a pretensão do recorrente de reexame das


provas, sob o argumento de não terem sido devidamente
analisadas pelas instâncias

ordinárias, encontra óbice na Súmula 7/STJ.

3. Recurso não conhecido.

(STJ, 4ª Turma, REsp 755861 / SE, Rel. Min. Jorge


Scartezzini. DJ 05/09/2005 p. 434)

Portanto, conforme é cediço, o requisito basilar na ação


reintegratória é a prova de que a requerente exercia a posse no
imóvel que pretende reintegrar. Assim, não havendo a posse
prévia da requerente antes do suposto esbulho do requerido,
não há que se falar em reintegração.

Elucidando sobre o tema o Desembargador Oscar Gomes


Nunes[1] nos esclarece que “Os interditos possessórios
pertencem ao sistema da proteção da posse, de modo que a eles
só podem recorrer os possuidores, quando esbulhados,
turbados ou ameaçados em seu direito. O que legitima o autor
na ação possessória é o fato da posse. Carece de ação, o autor
que só prova domínio”.

Destarte, a presente Ação carece de interesse processual, haja


vista que no momento em que o requerido adentrou no imóvel,
a requerente já não exercia mais a posse deste, devendo Vossa
Excelência extinguir o processo sem julgamento do mérito, nos
termos do artigo 485, VI, do Código de Processo Civil.

2. – Das Contradições Narradas pela Requerente


Caso não seja acolhido o pedido de carência da Ação, ad
argumentandum tantum, faz-se necessário apontar as
inconsistências na narrativa da requerente, que deixaram claro
que ela abandonou o imóvel e pretendia vende-lo.
Inicialmente nota-se que na narrativa inicial a requerente
sustentou que saiu da residência mas teria deixado seus
pertences lá, pois supostamente somente se ausentaria por um
curto período. Ocorre que, no boletim de ocorrência realizado
em 15/03/2016 (fls. Xxxx), a requerente disse completamente
o oposto, aduzindo que tinha se mudado para a cidade de
Assis e deixou a residência trancada e sem mobiliário.
Outrossim, temos que em virtude de sua ausência que
supostamente seria temporária, a requerente pediu que sua
amiga XXXXXXXX tomasse conta do imóvel. Neste diapasão,
embora seja normal que as pessoas peçam aos amigos que
tomem conta da residência enquanto se ausentam, é no
mínimo estranho que a requerente tenha solicitado esta
vigilância para uma “amiga” que ela conhecia há apenas cinco
meses. De se levantar mais suspeita ainda é que esse período
de 5 meses é justamente a faixa temporal em que a requerente
iniciou o financiamento da residência para logo após se mudar
para a cidade de xxxxxxxx.

Há que se destacar que, ao contrário do alegado pela


requerente, as prestações de financiamento do imóvel, IPTU e
demais contas da residência estão sendo pagas pelo requerido.
Com efeito, o requerido pagou e está pagando todas as contas
referentes ao imóvel, tanto aquelas em nome da requerente
quanto outras em nome de sua companheira, conforme se
observa dos documentos em anexo.

Também não se apresenta como verossímil a alegação da


requerente de que necessitou locar outro imóvel.
Primeiramente porque não apresentou qualquer documento
que comprove essa locação; e depois porque no preâmbulo da
inicial indicou como seu endereço atual a residência discutida
nesta Ação, sendo que lá atualmente reside o requerido e sua
companheira.

A verdade é que, após financiar a residência através do


programa Minha Casa Minha Vida, a requerente se mudou
para a cidade de xxxxxx, abandonando o imóvel financiado,
para algum tempo depois vende-lo para os seus supostos
amigos que estariam “tomando conta” da casa.

Deste modo, a requerente descumpriu o contrato assinado com


a CEF, pois abandonou a residência financiada, que
posteriormente fora ocupada pelo requerido que, sem ter onde
morar, deu a destinação adequada à residência, razão pela qual
deve ser a presente ação julgada improcedente, protegendo-se
a posse do requerido, nos termos do artigo 556, do Código de
Processo Civil.

2.4 – Da Função Social da Propriedade


A função social da propriedade foi consagrada na Carta
Magna de 1988, que determinou que “a propriedade atenderá a
sua função social” (art. 5º, XXIII, CF).

Portanto, temos que a requerente fora agraciada com um


programa de moradia do Governo Federal para que tivesse
direito à moradia, porém, ao invés de desfrutar dessa benção,
foi gananciosa e tentou tirar proveito econômico da situação,
vendendo o imóvel financiado para terceiro.
Assim, a requerente abandonou o imóvel, deixando-o
suscetível a se tornar um criadouro do mosquito Aedes
Aegypti, bem como de outros animais e insetos peçonhentos.

Nesta seara, o requerido que não tinha um local para residir,


ao perceber que a residência estava abandonada, lá adentrou e
fixou-se juntamente como sua companheira, tendo, finalmente
um lar.

Com efeito, a residência estava sem água e luz, que somente


foram religados após o requerente pagar todas as contas em
atraso, conforme pode se observar nos documentos em anexo.

Consequentemente, não há qualquer razão legal ou moral para


se tirar o requerido da posse do imóvel em debate e entrega-la
para requerente, uma vez que o requerido e sua companheira
não tem outro local para residir, enquanto que a requerente
deixou o local por livre e espontânea vontade para morar com
sua avó e vender a residência que havia financiado. Nesse
sentido:

Posse. Reintegração. Perda. Abandono da coisa. Novos


possuidores que dão novo aproveitamento ao bem antes
abandonado. Caracterização de melhor posse. Proteção de um
dos elementos da propriedade condicionada ao cumprimento
de sua função social. Reintegração de posse julgada
improcedente. Recurso dos réus provido para esse fim,
prejudicado o da autora.

(TJ-SP - Apelação: APL


00261358120088260224 SP
0026135-81.2008.8.26.0224)
APELAÇÃO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. IMÓVEL
LOCALIZADO EM AGLOMERADO URBANO/FAVELA
(CABANA DO PAI TOMÁS). ABANDONO MATERIAL.
OCUPAÇÃO PARA FINS DE MORADIA. POSSE E ESBULHO
NÃO VERIFICADOS. FUNÇÃO SOCIAL. IMPROCEDÊNCIA
DO PEDIDO. ART. 927 DO CPC.

- Não restando demonstrada a posse anterior do imóvel, bem


como o esbulho praticado pelo réu, a improcedência do pedido
é medida que se impõe.

- A ausência de poder fático sobre o bem derrui o estado


possessório de um lado e, de outro, a verdadeira situação de
abandono do imóvel afasta a caracterização do esbulho.

- A categorização de um estado jurídico como posse requer a


verificação da funcionalidade (social) do poder exercido sobre
a coisa.

(TJ-MG - Apelação Cível: AC


10024097604417001 MG)
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
PROGRAMA HABITACIONAL. DESTINAÇÃO SOCIAL DO
IMÓVEL. ABANDONO. POSTERIOR CESSÃO DE DIREITOS.
OPOSIÇÃO. FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE. MELHOR POSSE
DEMONSTRADA.

1. Aautorização para ocupação de lote concedido pela


CODHAB condiciona a permanência do ocupante no imóvel
desde que ocorra a posse, guarda e ocupação e que o
concessionário providencie a ocupação e o cercamento
imediato no lote no prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias.

2. Possuidor é todo aquele que tem de fato o exercício pleno ou


não de alguns dos poderes inerentes à propriedade (CC,
art. 1.196), que são o uso, o gozo, a disposição e o direito de
reaver a coisa de quem quer que injustamente a detenha (CC,
art. 1.228).

3. Embora o Código Civil não faça referência à função social


no âmbito da tutela possessória (arts. 1.196 a 1.224),
a Constituição da Republica Federativa do Brasil, em seu
art. 5º, reconhece a função social da propriedade (inciso
XXXII), mas exige que essa propriedade privada cumpra sua
função social (inciso XXXIII) e nesse imperativo também está
inclusa que a posse atenda uma função social.

4. Quando o concessionário não confere ao bem a destinação


social que lhe é esperada, há a perda da proteção possessória.

5. No conflito entre duas situações possessórias, deve


prevalecer aquela que cumpre a função social. Portanto, se
uma atende à função social e a outra não, devido ao
abandono, por exemplo, nega-se a proteção possessória ao
possuidor que não a atende.

6. Se o imóvel tem a destinação social que lhe era esperada,


por meio de construção de casa e moradia da família merece
a proteção possessória, pois está comprovada a melhor posse.

7. Recurso conhecido e desprovido.

(TJ-DF: 20130210017606 0001717-


21.2013.8.07.0002)
Assim, conforme o exposto, a requerente não conseguiu
comprovar que detinha a posse do imóvel. Também, os
elementos fáticos e probatórios trazidos aos autos deixam
evidente que não houve esbulho por parte do requerido, pois o
imóvel estava abandonado no momento em que ele adentrou.
Destarte, não cumprido os requisitos do artigo 561 do Código
de Processo Civil, deve a presente Ação possessória ser julgada
improcedente, mormente porque o requerido deu a correta
destinação social ao imóvel, e só lá adentrou após o efetivo
abandono da requerente.

2.4 – Da Liminar
Conforme amplamente demonstrado nos tópicos acima, a
requerente não conseguiu comprovar a sua posse e tampouco o
esbulho praticado pelo requerido, razão pela qual não há que
se falar em concessão de liminar reintegratória de posse à
requerente.

3 – CONCLUSÃO
Ante todo o exposto, requer a Vossa Excelência:

a) A concessão ao requerido dos benefícios da assistência


judiciária gratuita, nos termos da Lei 1.060/50, por ser pessoa
pobre, não podendo arcar com as custas do processo sem
prejuízo do sustento seu e de sua família, conforme declaração
em anexo;

b) Seja indeferido o pedido liminar formulado pela requerente,


uma vez que ela não provou sua posse e tampouco o esbulho
praticado pelo requerido;

c) Seja mantido o requerido na posse do bem imóvel objeto da


lide, até o final do processo, com fundamento no artigo 1.210, §
2º, c. C artigo 1.211, ambos do Código Civil;

d) Preliminarmente, seja extinta a presente ação, sem


julgamento do mérito, nos termos do artigo 485, VI, do Código
de Processo Civil;

e) Caso não seja esse o entendimento, no mérito, requer seja


julgada a presente Ação totalmente improcedente, haja vista
que a requerente não logrou êxito em demonstrar a sua posse e
o esbulho praticado pelo requerido;
f) A condenação do requerente ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em


direito admitidos, em especial o depoimento das partes, oitiva
de testemunha, cujo rol segue abaixo, juntada de novos
documentos e tudo mais que se fizer necessário.

ROL DE TESTEMUNHA
1. Xxxxxx

2. Xxxx

3. Xxxxxx

Termos em que,

Pede deferimento.

Cidade, 6 de fevereiro de 2017

ADVOGADO
OAB

[1] Egrégio Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande do


Sul, parida pela 1a Câmara Cível, na apelação nº 1.831, de
12.5.72, sendo, então relator, Doutor OSCAR GOMES NUNES,
in, Julgados do TARGS, volume nº 03, página 156

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