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RESPONSABILIDADE

CIVIL POR PERDA DE


UMA CHANE E PELO
DESVIO PRODUTIVO
DO CONSUMIDOR

LETÍCIA JUNGER
Mestre em Direito Público/PUCMG
Advogada
CURRÍCULO RESUMIDO
TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE
ORIGEM EVOLUÇÃO DA APLICAÇÃO DA TEORIA
ORIGEM EVOLUÇÃO DA APLICAÇÃO DA TEORIA

• No Brasil- aplicação é recente:

 Tribunal do Rio Grande do Sul, em 1990, fixou os seus pressupostos.

 O Superior Tribunal de Justiça acolheu a teoria da responsabilidade civil pela perda


de uma chance em um dos mais famosos julgados: o caso “Show do Milhão”. REsp
nº 788.459-BA, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ 13.03.06

 Atualmente: há reconhecimento da teoria de perda de uma chance pelos Tribunais,


mas, analisando os julgados do STJ, não há uma posição consolidada.
CONCEITO DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE

• A palavra chance traduz a ideia de oportunidade, de probabilidade, de


possibilidade de se obter uma vantagem ou de se evitar um prejuízo
 
• Instala-se uma situação inicial em que a pessoa se apresenta como detentora da
oportunidade de obter algo

A privação da oportunidade de se obter a vantagem provável gera o dever de


indenizar.

É a chance que lhe será devolvida sob a forma de indenização.


• São exemplos correntes na literatura jurídica:

 o do cliente prejudicado pelo advogado que perde o prazo para recorrer de uma
sentença desfavorável
 o do proprietário de um cavalo de corrida que é impedido de participar da prova
por culpa do transportador
 o da vítima com chances diminuídas de ser aprovada em um concurso.

NÃO SE CONHECE O RESULTADO FINAL

• A reparação não diz respeito ao prejuízo final (dano incerto) e sim à perda da
chance (dano certo).
REFERÊNCIAS NORMATIVAS QUE FUNDAMENTAM
A APLICAÇÃO DA TEORIA

• O fundamento para a admissão da teoria se concentra no dever genérico não causar


dano; incide no art. 927, do Código Civil

• Os demais dispositivos, referentes à responsabilidade civil, desde que compatíveis,


são igualmente aplicados
DESAFIOS PARA APLICAÇÃO DA TEORIA

• É uma espécie autônoma de dano (Dano patrimonial, moral ou uma terceira


espécie)?

• O critério da seriedade das chances- adoção de uma métrica para separa danos
prováveis dos hipotéticos?

• Como atribuir valor das chances?

• A teoria pode ser dividida em modalidades?


MODALIDADES
A maioria da doutrina reconhece duas modalidades de responsabilidade civil por perda
de uma chance:

uma referente ao dano autônomo (perda de chance típica)

a perda do resultado final é um evento presente e certo em relação à oportunidade


perdida. Há uma interrupção na cadeia dos eventos

outra à causalidade parcial -chance de cura ou de sobrevivência- (perda de chance


atípica

o curso dos acontecimentos não é interrompido e a omissão reduz (ou fulmina) as


chances de obtenção da vantagem ou de evitar o prejuízo.
TIPO DE DANO
• Entendimento de ser a chance um prejuízo autônomo, reconhecendo-se a existência
do nexo causal entre a conduta e o dano, mesmo em seara da responsabilidade civil
médica.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.540.153 - RS (2015/0082053-9)


“Na configuração da responsabilidade pela perda de uma chance não se vislumbrará o
dano efetivo mencionado, sequer se responsabilizará o agente causador por um dano
emergente, ou por eventuais lucros cessantes, mas por algo intermediário entre um e
outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar posição mais vantajosa,
que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado.”

• O Enunciado 444, da V Jornada de Direito Civil do Conselho de Justiça Federal-


admite danos patrimoniais e danos extrapatrimoniais pela chance perdida.
SERIEDADE DAS CHANCES
FIXAÇÃO DO VALOR

• No campo da responsabilidade civil, é essencial a quantificação do dano suportado


pela vítima para a concessão da indenização

• Parte-se do art. 944 do Código Civil e a indenização será medida pela extensão do
dano
• Daniel Amaral Carnaúba apresenta a “fórmula” de avaliação das oportunidades
perdidas consagrada pelo direito francês, que considera duas etapas.
1- No primeiro momento, alerta para o ganho auferido ou para a perda evitada se a
vítima conseguisse o resultado esperado;
2- posteriormente, aborda a possibilidade de multiplicação do valor “pela porcentagem
de chances que a vítima perdeu em decorrência do ato do réu, e o resultado dessa
conta quantificará o montante a ser indenizado como perda da oportunidade”.
FIXAÇÃO DO VALOR

A aplicação da fórmula pode ser observada na decisão do Superior Tribunal de Justiça.


Um hipermercado divulgou um sorteio, para clientes, em um montante de 900 vales-
compras em valor de R$ 100,00 (cem reais) a unidade e mais 30 (trinta) casas de R$
40.000,00 (quarenta mil reais). Somente concorreriam ao sorteio das casas aqueles que
recebessem o primeiro prêmio. A autora/recorrente obteve êxito na primeira etapa, mas
não foi comunicada do sorteio das casas. Comprovada a omissão por parte do
hipermercado, o Tribunal condenou-o ao pagamento do valor de 1/30 de R$ 40.000,00
(quarenta mil reais). (EDcl no AgRg no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº
1.196.957 – DF)
TEORIA DO DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR
CONTEXTUALIZAÇÃO

• Em meados dos anos 2000, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro


(TJRJ) iniciou uma importante caminhada para a construção da Teoria do Desvio
Produtivo do Consumidor.
• Construção da Teoria partiu de construção doutrinária e aplicação dos Tribunais

Tempo útil do consumidor, questão também vinculada à perda do tempo livre, ao


desvio produtivo e ao dano temporal ou cronológico- há um dever de indenizar?
PERDA DE TEMPO ÚTIL: DANO OU MERO DISSABOR?

• perda desarrazoada de tempo pelo consumidor na defesa de seus direitos é algo


intolerável, extravasando o mero dissabor, o percalço cotidiano.

• Perda de tempo apta a gerar o dever de indenizar deve ser:

 desarrazoada
 exagerada
 injustificada
 abusiva
• A conduta do fornecedor para a resolução do problema: deverá fazer toda
diferença na apuração da responsabilidade pelo dano cronológico.
FUNDAMENTAÇAÕ NORMATIVA PARA REPARAÇÃO PELO
DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR

• Tempo é um bem passível de proteção jurídica e sua subtração abusiva gera o


dever de reparar.

 DIGNIDADE HUMANA - servirá como base nuclear da tutela do aspecto


temporal da vida humana. Dignidade Temporal

 Direito à liberdade de ir e vir do consumidor, obrigando-o em algumas situações a


aguardar em espera longa e interminável- Liberdade Temporal

 Art. 927 do Código Civil e demais dispositivos relativos à Responsabilidade Civil


aplicáveis.
ESPÉCIE DE DANO TEMPORAL

•Dano temporal- ofensa distinta da esfera patrimonial ou mesmo moral em sentido


estrito do cidadão.

• Reconhecimento da autonomia do dano temporal ensejará maior repercussão


pedagógica entre os fornecedores na seara da responsabilização civil por perda
indevida de tempo

•Tribunais se posicionam no sentido de se tratar de um dano extrapatrimonial- Lesão


os direitos da personalidade
AREsp 1.260.458/SP / AREsp 1.241.259/SP
CONTATO

 leticiajunger@gmail.com

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