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Aula 29/03/2023

Nexo causal

Pluralidade de agentes

- causalidade comum: várias pessoas (+ 1 pessoa) → é possível estabelecer


percentual

Livro

Von Thur identificou nessas hipóteses a causalidade comum que ocorre


quando várias pessoas participam ou cooperam, de alguma maneira, na produção
de um dano. Cada partícipe atua em relação causal em prol do efeito conjunto,
ainda que não tenha realizado, pessoalmente, aquela parte do ato determinante
imediato do resultado contrário ao direito. Daí a sua responsabilidade pelo todo.

Típico caso de causalidade comum ocorreu com quatro colegas de trabalho,


residentes no Rio de Janeiro, que foram passar o Carnaval (2006) na cidade de
Salvador. Viajaram no carro de um deles, rateando entre os quatro as despesas
com combustível. No retorno, após mais de oito horas de viagem e já quase
meia-noite, pararam para jantar, ocasião em que beberam cerveja, como
habitualmente faziam. Prosseguindo viagem, o dono do veículo, e que sempre
esteve na sua direção, sugeriu parar porque estava cansado, mas, como todos
queriam chegar ao Rio, outro colega assumiu o volante. Menos de uma hora depois,
numa curva, o novo motorista cochilou, o veículo capotou três vezes, resultando do
acidente graves lesões em um dos viajantes, que o deixaram paraplégico.

No caso não pode ser responsabilizado pelo acidente apenas o motorista,


tampouco o dono do veículo, mas sim os quatro, inclusive o que sofreu as lesões. E
assim é porque todos viajaram além das horas recomendáveis; todos beberam
bebida alcoólica enquanto viajavam; todos tinham pressa e concordaram em
prosseguir a viagem; todos concordaram que outro colega assumisse a direção do
veículo, de sorte que todos deram causa ao resultado. Aplicável à espécie,
repita-se, a causalidade comum pela qual todos que integram o grupo serão
considerados responsáveis pelo evento. O fundamento da responsabilidade total
que se impõe a cada participante nasce da circunstância de que as diversas
condutas, em conexão com outras, dão origem ao resultado.

- causalidade alternativa: várias pessoas (+ 1 pessoa) → não é possível


estabelecer percentual (dano) para cada um.

Livro:
Continua sendo uma das maiores dificuldades definir o nexo causal quando o
dano é causado por uma pessoa integrante de um grupo determinado –
manifestações grevistas, passeatas estudantis, grupos de pessoas que praticam o
mesmo esporte, que exercem a mesma atividade profissional – e não se consegue
descobrir quem, dentre os vários participantes, com o seu ato causou o dano.

Típico exemplo desse problema é o caso de coisas caídas ou lançadas de


prédio que, atingindo transeuntes, causam-lhes lesões graves e até a morte. O art.
938 do Código Civil responsabiliza nesses casos aquele que habitar o prédio. Mas
se a coisa caiu ou foi lançada de um apartamento ou sala de grande edifício
residencial ou empresarial, e não foi possível identificar de onde ela veio, quem
deverá responder?

Doutrina e jurisprudência, para solucionarem esses e outros casos, têm se


valido da chamada causalidade alternativa, que permite a responsabilização de
todos os moradores solidariamente. Há quem se oponha veementemente à
responsabilização do grupo sem que exista prova da participação de todos os seus
integrantes. Mas, na sociedade moderna, em face da massificação das relações
sociais, empresariais e profissionais, e dos riscos sociais cada vez maiores, não
será justo, nem razoável, deixar a vítima sem a correspondente indenização por não
ter sido possível apurar quem, no grupo, deu causa direta e imediata ao evento.
Evidenciado o vínculo comunitário entre os membros do grupo, todos os possíveis
autores devem ser considerados responsáveis solidariamente, face à ofensa
perpetrada à vítima por um ou mais deles.

Nesse sentido a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, firmada pela


sua Quarta Turma no REsp 64.682/RJ: “Responsabilidade Civil. Objetos lançados
da janela de edifícios. A reparação dos danos é responsabilidade do condomínio. A
impossibilidade de identificação do exato ponto de onde parte a conduta lesiva
impõe ao condomínio arcar com a responsabilidade reparatória por danos causados
a terceiros. Inteligência do art. 1.529 do Código Civil” (1916, art. 938 no Código de
2002). Em seu voto, o Ministro Ruy Rosado de Aguiar aduziu ser aplicável à espécie
a causalidade alternativa, pela qual todos os autores possíveis – isto é, os que se
encontravam no grupo – serão considerados, de forma solidária, responsáveis pelo
evento, em face da ofensa perpetrada à vítima por um ou mais deles, ignorado o
verdadeiro autor, ou autores.

⇒ DANO

Dano material: lesão ao patrimônio(presente ou futuro) corpóreo ou


incorpóreo.

Livro: O dano patrimonial, como o próprio nome diz, também chamado de


dano material, atinge os bens integrantes do patrimônio da vítima, entendendo-se
como tal o conjunto de relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis
economicamente. Esta definição, embora não mereça a aprovação unânime dos
autores, tem o mérito de abranger todos os bens e direitos na expressão conjunto
das relações jurídicas, vale dizer, abrange não só as coisas corpóreas, como a
casa, o automóvel, o livro, enfim, o direito de propriedade, mas também as coisas
incorpóreas, como os direitos de crédito.

- Dano emergente: patrimônio emergente. O dano emergente é aquele


que importa a efetiva e imediata diminuição no patrimônio da vítima
em relação ao ato ilícito

● ex: v1 bate na traseira de v2 - vai ter dano emergente. É o que


você está vendo naquele momento. Todo dano que surgir
naquele momento ou em decorrência.

Livro: O dano emergente, também chamado positivo, este, sim,


importa efetiva e imediata diminuição no patrimônio da vítima em razão do
ato ilícito. O Código Civil, ao disciplinar a matéria no seu art. 402 (reprodução
fiel do art. 1.059 do Código de 1916), caracteriza o dano emergente como
sendo aquilo que a vítima efetivamente perdeu.

Livro: A mensuração do dano emergente, como se verá, não enseja


maiores dificuldades. Via de regra, importará no desfalque sofrido pelo
patrimônio da vítima. Pelo princípio da diferença, será a diferença entre a
situação patrimonial atual provocada pelo fato ilícito e a situação em que a
vítima se encontraria, se não fosse esse fato. Assim, valendo-se de um
exemplo singelo, num acidente de veículo com perda total, o dano
emergente será o integral valor do veículo. Mas, tratando-se de perda parcial,
o dano emergente será o valor do conserto, e assim por diante. Dano
emergente é tudo aquilo que se perdeu, sendo certo que a indenização
haverá de ser suficiente para a restitutio in integrum.

- Lucros cessantes: patrimônio futuro. Trata-se do prejuízo causado ao


patrimônio futuro da vítima. É a parte do ganho esperado, é a
expectativa do lucro comprovado.

● Ex: o indivíduo do v2 é uber e consegue comprovar que tem


uma renda de 1k diariamente e vai ter o carro parado na oficina
durante 7 dias. O prejuízo de patrimônio presente foi de 5k; e
vai perder 1k diários e é um patrimônio futuro, que ainda vai
ganhar.
Livro: Assim, enquanto o dano emergente consiste no prejuízo
causado no patrimônio do lesado já existente na data do fato, o lucro
cessante abrange os prejuízos referentes ao patrimônio futuro do lesado,
bem que ainda não lhe pertencia.

Obs: O dano meramente HIPOTÉTICO não é indenizável. Já o que você


consegue comprovar.

Obs: Semana de feriado e exposição na cidade de Campos. Consegue


comprovar que naquela semana tem um aumento de 20% através de comprovantes
dos anos anteriores

Livro: As duas modalidades do dano podem, todavia, coincidir, assim como


podem ocorrer distinta e insuladamente, conforme o caso concreto.”

O cuidado que o juiz deve ter neste ponto é para não confundir lucro
cessante com lucro imaginário, simplesmente hipotético ou dano remoto, que seria
apenas a consequência indireta ou mediata do ato ilícito.

Quando o “Metrô” do Rio de Janeiro estava realizando as suas obras no


Catete, Laranjeiras, Tijuca e outros bairros, muitas ruas foram interditadas durante
anos para as escavações, acarretando a paralisação do forte comércio nelas
existente. Inúmeras ações de indenização foram, então, movidas pelos
comerciantes contra o “Metrô” em busca do ressarcimento do lucro cessante nesse
período de paralisação do negócio. Os juízes dos feitos da Fazenda, na época,
adotamos, como critério razoável, fixar o lucro cessante com base na média do
lucro da empresa nos últimos três anos, apurado em perícia contábil.

⇒ TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE

- Perda de uma probabilidade

- Indivíduo vai exercer direito e por conta de ato ilícito de outrem não vai.

Livro: De regra, a perda de uma chance se caracteriza quando, em virtude da


conduta de outrem, desaparece a probabilidade de um evento que possibilitaria
um benefício futuro para a vítima, como progredir na carreira artística, profissional
ou militar, arrumar um melhor emprego, deixar de recorrer de uma sentença
desfavorável pela falha do advogado, perda da oportunidade de participar de um
concurso, e outras situações que tiram da vítima a oportunidade de um ganho ou
vantagem. Essas são hipóteses da chamada perda da chance clássica, nas quais a
conduta do agente faz a vítima perder a oportunidade. Há certeza quanto à autoria
do fato que frustra a chance e incerteza quanto à extensão dos danos decorrentes
desse fato.

Livro: É preciso, portanto, que se trate de uma chance séria e real, que
proporcione ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura
esperada. Aqui, também, tem plena aplicação o princípio da razoabilidade. Em
outras palavras, é preciso verificar em cada caso se o resultado favorável seria
razoável ou se não passaria de mera possibilidade aleatória. A vantagem
esperada pelo lesado não pode consistir numa mera eventualidade, suposição ou
desejo, do contrário estar-se-ia premiando os oportunismos, e não reparando as
oportunidades perdidas.

Livro: Não se deve, todavia, olhar para a chance como perda de um resultado
certo porque não se terá a certeza de que o evento se realizará. Deve-se olhar a
chance como a perda da possibilidade de conseguir um resultado ou de se evitar
um dano; devem-se valorar as possibilidades que o sujeito tinha de conseguir o
resultado para ver se são ou não relevantes para o ordenamento. Não se exige a
certeza do dano, mas sim a certeza da probabilidade. Situa-se nesse ponto a
característica essencial da perda de uma chance: a certeza da probabilidade.

● Ex: Show do milhão

- Pergunta sobre o percentual de território que os índios teriam direito de


acordo com a CF. Todas as alternativas estavam erradas e ela teria 25% de
chance de ganhar.

● STJ: perdeu a probabilidade de ganhar os 500 mil além dos 500 mil
que já havia ganhado. 25% dos 500 mil e 125 mil foi a indenização.
Assim, ela ficou com 500 mil que já havia ganhado + 125 mil

Livro: O valor da indenização deverá ser fixado de forma equitativa pelo juiz,
atentando também aqui para o princípio da razoabilidade. Bem ilustrativo é o caso
do programa de televisão que ficou conhecido como “Show do Milhão”. Tratava-se
de um concurso em que o concorrente, se respondesse acertadamente às
perguntas que lhe eram feitas, poderia chegar ao prêmio de um milhão de reais.
Determinada candidata já havia conquistado o prêmio de quinhentos mil reais; a
última pergunta, se respondida corretamente, a levaria ao prêmio máximo de um
milhão.

A empresa promotora do concurso, entretanto, talvez intencionalmente,


formulou uma pergunta que não admitia nenhuma resposta correta, uma vez
que todas as opções apresentadas estavam incorretas, conforme apurou-se
posteriormente. Diante da inviabilidade lógica de uma resposta correta, a candidata
optou por não responder à indagação para salvaguardar a premiação já acumulada.
Entrou, todavia, com ação de indenização contra a empresa promotora do
concurso com o argumento de que, se a pergunta tivesse sido formulada
corretamente, teria conquistado o prêmio global. Acolhido o pedido nas instâncias
inferiores (indenização de R$ 500.000,00), o caso chegou ao Superior Tribunal de
Justiça (REsp 788.459-BA, Rel. Min. Fernando Gonçalves), que lhe deu correta
solução com a aplicação da teoria da perda de uma chance (oportunidade).
Colhe-se do erudito voto do relator a motivação que segue:

“Na espécie dos autos, não há, dentro de um juízo de probabilidade, como se
afirmar categoricamente – ainda que a recorrida tenha, até o momento em que
surpreendida com uma pergunta no dizer do acórdão sem resposta, obtido
desempenho brilhante no decorrer do concurso – que, caso fosse o questionamento
final do programa formulado dentro de parâmetros regulares, considerando o curso
normal dos eventos, seria razoável esperar que ela lograsse responder
corretamente à ‘pergunta do milhão’.

Isto porque há uma série de outros fatores em jogo, dentre os quais merecem
destaque a dificuldade progressiva do programa (refletida no fato notório que houve
diversos participantes os quais erraram a derradeira pergunta ou deixaram de
respondê-la) e a enorme carga emocional que inevitavelmente pesa ante as
circunstâncias da indagação final (há de se lembrar que, caso o participante optasse
por respondê-la, receberia, na hipótese de erro, apenas R$ 300,00 (trezentos reais).

Destarte, não há como concluir, mesmo na esfera da probabilidade, que o


normal andamento dos fatos conduziria ao acerto da questão. Falta, assim,
pressuposto essencial à condenação da recorrente no pagamento da integralidade
do valor que ganharia a recorrida caso obtivesse êxito na pergunta final, qual seja, a
certeza – ou a probabilidade objetiva – do acréscimo patrimonial apto a qualificar o
lucro cessante.

Não obstante, é de se ter em conta que a recorrida, ao se deparar com


questão mal formulada, que não comportava resposta efetivamente correta,
justamente no momento em que poderia sagrar-se milionária, foi alvo de conduta
ensejadora de evidente dano.

Resta, em consequência, evidente a perda de oportunidade pela


recorrida, seja ao cotejo da resposta apontada pela recorrente como correta com
aquela ministrada pela Constituição Federal que não aponta qualquer percentual de
terras reservadas aos indígenas, seja porque o eventual avanço na descoberta das
verdadeiras condições do programa e sua regulamentação reclama investigação
probatória e análise de cláusulas regulamentares, hipóteses vedadas pelas Súmulas
5 e 7 do Superior Tribunal de Justiça.
Quanto ao valor do ressarcimento, a exemplo do que sucede nas
indenizações por dano moral, tenho que ao Tribunal é permitido analisar com
desenvoltura e liberdade o tema, adequando-o aos parâmetros jurídicos utilizados,
para não permitir o enriquecimento sem causa de uma parte ou o dano exagerado
de outra.

A quantia sugerida pela recorrente R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil


reais) – equivalente a um quarto do valor em comento, por ser uma
‘probabilidade matemática’ de acerto de uma questão de múltipla escolha com
quatro itens – reflete as reais possibilidades de êxito da recorrida.

Ante o exposto, conheço do recurso especial e lhe dou parcial provimento


para reduzir a indenização a R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais).”

⇒ DANO MORAL

- Lesão a um interesse existencial concretamente merecedor de tutela.

Livro: Dano moral seria aquele que não tem caráter patrimonial, ou seja, todo
dano não material. Segundo Savatier, dano moral é qualquer sofrimento que não é
causado por uma perda pecuniária. Para os que preferem um conceito positivo,
dano moral é dor, vexame, sofrimento, desconforto, humilhação – enfim, dor da
alma.

→ Natureza imaterial

- Dano moral

● perspectiva subjetiva: dor, sofrimento, frustração, humilhação.

● perspectiva objetiva: lesão ao bem jurídico extrapatrimonial tutelado.

→ Enunciado 445, CJF: O dano moral indenizável não pressupõe necessariamente


a verificação de sentimentos humanos desagradáveis como dor ou sofrimento.

→ O dano moral é compensado

Livro: Com efeito, o ressarcimento do dano moral não tende à restitutio in


integrum da ofensa causada, tendo mais uma genérica função satisfatória, com a
qual se procura um bem que recompense, de certo modo, a ofensa moral sofrida
pelo ofendido. Substitui-se o conceito de equivalência, próprio do dano material,
pelo de compensação, que se obtém atenuando, de maneira indireta, as
consequências da ofensa moral. Em suma, a composição do dano moral realiza-se
através desse conceito – compensação –, que, além de diverso do de
ressarcimento, baseia-se naquilo que Ripert chamava “substituição do prazer, que
desaparece, por um novo”. Por outro lado, não se pode ignorar a necessidade de se
impor uma sanção ao causador do dano moral, para não passar impune a infração
e, assim, estimular novas agressões. A indenização funcionará também como uma
espécie de pena privada em benefício da vítima.

→ Nem sempre as duas perspectivas precisam estar presentes

Livro: Desde então, tornou-se indiscutível a cumulabilidade do dano moral


com o material, o que acabou por ser reconhecido pelo colendo Superior Tribunal de
Justiça, tão logo criado, ao formular uma de suas primeiras súmulas – Súmula 37 –
que diz: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral, oriundos
do mesmo fato.”

O Código Civil refere-se expressamente ao dano moral em seu art. 186.

⇒ DANO MORAL IN RE IPSA

- Deriva do próprio ato ofendido

- Basta provar a ofensa ao bem juridicamente tutelado

● Prova-se o fato, prova-se o dano moral

● Não precisa comprovar na perspectiva subjetiva.

Livro: Como se prova a existência do dano? Ora, se dano é lesão de um bem


ou interesse juridicamente tutelado (e aí está a importância dos conceitos), prova-se
o dano provando-se a ocorrência do fato lesivo (v. g., o acidente, a morte do ente
familiar, o fato do produto ou do serviço, o fato ofensivo à honra etc.) por qualquer
meio de prova em juízo admitido – documental, testemunhal, pericial etc. Tanto o
dano patrimonial como o dano extrapatrimonial exigem a prova do fato lesivo. Por
isso se diz que dano certo é aquele cuja existência acha-se provada, de tal modo
que não pairam dúvidas quanto à sua ocorrência.

Não basta, portanto, simplesmente alegar a existência de um fato lesivo sem


fazer prova de sua efetiva ocorrência, mesmo porque não cabe à contraparte fazer
prova de fato negativo. Sem prova efetiva do fato lesivo e da responsabilidade do
agente, repita-se, a ação indenizatória estará irremediavelmente prejudicada, mas,
demonstrada a existência do fato danoso, resta ao prejudicado o direito à
indenização. Provado o fato lesivo a bem patrimonial ou moral, o dano estará ínsito
na própria ofensa, decorrerá da gravidade do ilícito em si. O que ficará pendente de
apuração será o valor da indenização, o quantum debeatur.

Esse é o sentido do entendimento da doutrina e da jurisprudência no que


respeita à existência do dano moral in re ipsa. Se a ofensa é grave e de
repercussão, por si só justifica a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária
ao lesado. Compreende-se que assim seja porque a lesão ou gravame no plano
moral não se materializa no mundo físico, por essa razão prescindindo de provas.
Mas o fato gravoso e os reflexos que a sua potencialidade ofensiva irradia
terão que ser comprovados.

Em outras palavras, só se justifica a concessão de uma satisfação de ordem


pecuniária ao lesado quando há efetiva ocorrência de fato grave e ofensivo. O dano
moral nesse caso existirá in re ipsa, decorrerá inexoravelmente do próprio fato
ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto estará demonstrado o dano
moral à guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti que
decorre das regras da experiência comum. Assim, por exemplo, provada a perda de
um filho, do cônjuge, ou de outro ente querido, não há que se exigir a prova do
sofrimento, porque isso decorre do próprio fato de acordo com as regras de
experiência comum; provado que a vítima teve o seu nome aviltado, ou a sua
imagem vilipendiada, nada mais ser-lhe-á exigido provar, por isso que o dano moral
está in re ipsa; decorre inexoravelmente da gravidade do próprio fato ofensivo, de
sorte que, provado o fato, provado está o dano moral.

No AgRg no Ag 106288, Relator o Min. Sidnei Beneti, a Terceira Turma do


STJ deu correta aplicação a esta questão: “Quanto ao dano moral, em si mesmo,
não há falar em prova; o que se deve provar é o fato que gerou a dor, o sofrimento.
Provado o fato, impõe-se o dano in re ipsa”. No mesmo sentido decidiu novamente a
Terceira Turma no REsp 1059663, Relatora a Min. Nancy Andrighi: “Nos casos de
protesto de título ou inscrição irregular em cadastros de inadimplentes, o dano moral
se configura in re ipsa, isto é, prescinde de prova, ainda que a prejudicada seja
pessoa jurídica.” Por último, a Quarta Turma: “Inscrição indevida em órgãos de
restrição ao crédito. Dano moral presumido. Desnecessidade de comprovação.
Obrigação de indenizar.”

Depreende-se dessa síntese doutrinária e jurisprudencial que o dano moral,


embora prescinda de prova, o que se convencionou chamar de dano in re ipsa, deve
ser aferido em face do caso concreto e não em tese. Será sempre indispensável a
efetiva ocorrência de fato realmente ofensivo a bens e valores da personalidade
para se admitir a existência do dano in re ipsa.

⇒ OUTROS CASOS DE DANO

a) INADIMPLEMENTO CONTRATUAL:
- Para o STJ: Por si só, não gera dano moral

Outra conclusão que se tira desse novo enfoque constitucional é a de que


mero inadimplemento contratual, mora ou prejuízo econômico não
configuram, por si sós, dano moral, porque não agridem a dignidade humana. Os
aborrecimentos deles decorrentes ficam subsumidos pelo dano material, salvo se os
efeitos do inadimplemento contratual, por sua natureza ou gravidade, exorbitarem o
aborrecimento normalmente decorrente de uma perda patrimonial e também
repercutirem na esfera da dignidade da vítima, quando, então, configurarão o dano
moral.

Lembro-me de ter sido relator de uma apelação, envolvendo dano moral, que
bem exemplifica o que estamos tentando colocar. Ilustre advogado do Rio de
Janeiro, ao comemorar os 12 anos de sua filha, contratou os serviços de um hotel
cinco estrelas. Mas aquilo que se esperava ser uma grande festa transformou-se
num grande e constrangedor fiasco. Faltou bebida, faltou comida, faltou garçom,
faltou tudo, deixando o dono da festa em situação desconfortável e constrangedora
perante seus ilustres convidados.

Típico caso de inadimplemento ou mau cumprimento do contrato que


extrapola a mera perda patrimonial, pois ninguém pode negar, segundo as regras da
experiência comum, que transformar uma festa de aniversário em um grande
vexame, por falta de comida, bebida e de garçons, configura humilhação dolorosa e
frustração profunda do dono da festa e seus familiares em face dos seus
convidados, a merecer reparação pelo dano moral.28 (TJRJ, 2ª C., Ap. Cível
800/95).

O Superior Tribunal de Justiça também formou entendimento nesse sentido:

- Conquanto a jurisprudência do STJ seja no sentido de que mero


inadimplemento contratual não ocasiona danos morais, tal
entendimento, todavia, deve ser excepcionado nas hipóteses em que
da própria descrição das circunstâncias que perfazem o ilícito material
é possível extrair consequências bastante sérias de cunho psicológico,
que são resultado direto do inadimplemento culposo.

–No presente processo, o pedido de compensação por danos


morais declinado pela recorrente não tem como causa o simples
inadimplemento contratual, mas também o fato de a recorrida ter
fechado suas instalações no local da contratação (Estado do Rio
de Janeiro) sem lhe dar quaisquer explicações a respeito de seu
novo endereço e/ou da não construção do imóvel.
–Essa particularidade é relevante, pois, após a recorrente ter frustrado
o seu direito de moradia, pelo inadimplemento do contrato de compra
e venda de casa pré-moldada, o descaso da recorrida agravou a
situação de angústia da recorrente.

–A conduta da recorrida violou, portanto, o princípio da dignidade da


pessoa humana, pois o direito de moradia, entre outros direitos
sociais, visa à promoção de cada um dos componentes do Estado,
com o insigne propósito instrumental de torná-los aptos de realizar os
atributos de sua personalidade e afirmar a sua dignidade como pessoa
humana.

–Diante dessas circunstâncias que envolveram o inadimplemento


contratual, é de se reconhecer, excepcionalmente, a ocorrência de
danos morais.29

Como se vê, a síntese do entendimento doutrinário e jurisprudencial é a de


que o inadimplemento contratual só enseja dano moral quando os seus efeitos
se irradiam para a esfera da pessoa, ofendendo de maneira relevante a sua
personalidade, razão pela qual não o configuram meros dissabores de um
negócio frustrado a quebra de expectativa de lucros esperados, o dissabor
pela não obtenção de vantagem hipotética e assim por diante.

b) MORAL PUNITIVO:

- Artigo 944, CC. Não é aceito na jurisprudência

Livro: Entretanto, parte da doutrina e da jurisprudência diverge por entender


não ser possível, à luz do ordenamento jurídico brasileiro, atribuir função punitiva ao
dano moral tal como o sistema norte-americano atribui aos chamados punitive
damages. Na responsabilidade civil não haveria espaço para a pena privada, vez
que a punição é monopólio do Estado, não cabendo ao particular impor a outrem
uma sanção em benefício próprio. Argumenta-se, também, que entre nós a
indenização por dano moral apresenta nítido caráter compensatório, mesmo nos
casos em que o arbitramento do seu valor leva em consideração a maior gravidade
do dano e a intencionalidade do agente. Ademais, os punitive damages, também
conhecidos como exemplary damages ou vindicte damages, baseiam-se na “teoria
do valor do desestímulo”, vale dizer, ao arbitrar a indenização pelo dano moral, deve
o juiz estabelecer um valor não só suficiente à reparação do dano, mas também
capaz de dissuadir práticas semelhantes, punindo o ofensor de forma proporcional à
sua culpa e com o fim de desestimular a reiteração de condutas ou práticas
semelhantes.
Aduz-se, ainda, não termos regra escrita que preveja expressamente essa
espécie de sanção; pelo contrário, as que existem sinalizam no sentido oposto, daí
não ser recomendável a importação do instituto dos punitive damages para justificar
o chamado dano moral punitivo. Paulo de Tarso Sanseverino pondera: “deve-se ter
cuidado com a invocação dos punitive damages, em face da incompatibilidade
desse instituto com o nosso sistema jurídico, sendo a sua utilização, mesmo como
simples argumento, particularmente inadequada nos casos de responsabilidade
objetiva, pois, por sua própria natureza, não envolvem discussão de culpa, não se
compatibilizando com a imposição de pena privada. Assim, no contexto do atual
direito brasileiro, não há espaço para o acolhimento dos punitive damages,
carecendo de regulamentação legal expressa por refugir o instituto da nossa
tradição jurídica.

c) MORAL DA PJ:

- Sim. Súmula 227, STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

d) ESTÉTICO:

- Súmula 387, STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano


estético e dano moral.

- Pode ser cumulado com dano moral? Sim, Súm. 387, STJ.

● Ex: Acidente e lesões e por conta das lesões tem deformidade


permanente

- Moral, material e estético: Sim.

Livro: Inicialmente ligado às deformidades físicas que provocam aleijão e


repugnância, aos poucos passou-se a admitir o dano estético também nos casos de
marcas e outros defeitos físicos que causem à vítima desgosto ou complexo de
inferioridade – como, por exemplo, cicatriz no rosto da atriz, manequim ou ator.

Entretanto, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que inicialmente


firmara-se nesse sentido,60 evoluiu na direção oposta, passando a admitir a
acumulação do dano estético com o dano moral: “Nos termos em que veio a
orientar-se a jurisprudência das Turmas que integram a Seção de Direito Privado
deste Tribunal, as indenizações pelos danos moral e estético podem ser cumuladas,
se inconfundíveis suas causas e passíveis de apuração em separado.”61
Prevaleceu na Corte Superior de Justiça o entendimento de que o dano estético é
algo distinto do dano moral, correspondendo o primeiro a uma alteração morfológica
de formação corporal que agride à visão, causando desagrado e repulsa; e o
segundo, ao sofrimento mental – dor da alma, aflição e angústia a que a vítima é
submetida. Um é de ordem puramente psíquica, pertencente ao foro íntimo; outro é
visível, porque concretizado na deformidade.

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