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INTRODUÇÃO À

FILOSOFIA
SEMANA 11 – A VIRADA LINGUÍSTICA NA VERSÃO PROPOSTA POR
WITTGENSTEIN
Transição para o problema da linguagem
Como a filosofia do século XX se tornou, prioritariamente, filosofia da linguagem.
Associação entre duas tradições

Tradição
Tradição
lógica
crítica
(linguística)
A TRADIÇÃO CRÍTICA
Tese central defendida por Kant: o
conhecimento é fruto da unidade
entre o entendimento e o dado
sensível.
“Pensamentos sem conteúdo são
vazios, intuições sem conceitos são
cegas” (Immanuel Kant: AA III, 75).
• Podemos explicar boa parte da teoria do
conhecimento de Kant analisando o título
do livro “Crítica da Razão Pura”;

• Crítica não significa invectiva, mas sim


análise, exame, distinção (krino): a CRP é
a tentativa de divisar o conhecimento da
pura especulação (verdade não
demonstrável);

• Genitivo objetivo e genitivo subjetivo:


Tribunal da Razão.
• Razão pura: conhecimento a priori,
independente da experiência
Aparato cognitivo
Razão: faculdade
Entendimento:
de organizar os
faculdade de
Sensibilidade: conhecimentos
organizar as
faculdade da do
intuições por
intuição entendimento e
meio de
agir segundo
conceitos
princípios
Significado do título: comprovação das
possibilidades de conhecimento sem aplicação
da experiência e limitação do conhecimento ao
que é acessível a ele. Em outras palavras: quais
são as condições de possibilidade do
conhecimento.
Juízos sintéticos a priori

Matemática Ciência
Metafísica
pura natural pura
1. Alma;
• Fenômeno vs.
Númeno (coisas em si 2. Mundo;
mesmas): tendência a
buscarmos os 3. Deus
incondicionais.
A HISTÓRIA DE UM HOMEM CHAMADO LUDWIG
WITTGENSTEIN
 Ludwig Joseph Johann
Wittgenstein (Viena, 26 de
Abril de 1889 — Cambridge, 29 de
Abril de 1951);

 Nasce em uma das famílias mais


importantes do Império Austro-Húngaro;

 Estudou engenharia antes de ir a


Cambridge estudar filosofia com Russel e
Moore;

 Abandonou a filosofia, lutou na WWI,


virou jardineiro, deu aula em escola
primária, voltou à filosofia
O 1º WITTGENSTEIN – TRACTATUS LOGICO-
PHILOSOPHICUS
I – TEMA DO LIVRO

• Aquilo que pode ser dito pode ser dito de


forma simples;

• Sobre aquilo que não se pode dizer deve-se


calar.

• O Tractatus fala da relação entre


pensamento, linguagem e mundo.
VISÃO TRADICIONAL

• O mundo é composto por coisas: as principais delas são as


substâncias;

• Substâncias têm propriedade, agem, são objeto de ação,


entram em relações, etc.

• Pensamentos e proposições são verdadeiros quando ele


correspondem ao mundo exterior.
II – O MUNDO É TUDO AQUILO QUE É O CASO

• Para Wittgenstein, o mundo consiste de


fatos e não de coisas;

• O mundo é a totalidade dos fatos, não das


coisas;
• O mundo é determinado pelos fatos;
III – AQUILO QUE É O CASO – UM FATO – É A
EXISTÊNCIA DE UM ESTADO DE COISAS
• Um Estado de coisas é uma combinação
proposicional de objetos. A configuração
dos objetos produz estado de coisas;

• Objetos são simples. Proposições sobre


complexos podem ser traduzidas em
proposições sobre coisas simples (princípio
da analiticidade).
1. Está pressuposta, aqui, uma visão designativa da linguagem: a
linguagem serve para afirmar coisas sobre o mundo;

2. Discurso proposicional ou enunciativo: aquele que enuncia o que as


coisas são e não são. É a esse discurso que convêm estritamente os
predicados de verdadeiro e falso.
IV – A TEORIA DA FIGURAÇÃO

• Nós figuramos fatos para nós mesmos;


• Uma figura é um modelo da realidade;
• Numa figura, os elementos da figura representam objetos;
• Numa figura, os objetos são representados por elementos que a
eles correspondem.
IV – A TEORIA DA FIGURAÇÃO

• Uma figura tem uma forma lógico-figurativa que é comum àquilo


que ela figura;

• Uma proposição é uma figura da realidade;

• Uma proposição é verdadeira se, e somente se, ela possui


correspondências com a realidade.
V – PENSAMENTOS, FATOS E PROPOSIÇÕES

• Uma figuração lógica de um fato é um pensamento;

• Um pensamento é uma proposição com um sentido (um


significado linguisticamente apreciável).

• Mas a linguagem também pode mascarar o pensamento, porque


a forma da linguagem pode ser usada de diversas formas.
VI – FILOSOFIA
• A filosofia serve para clarificar os
pensamentos;

• A filosofia não é um corpo doutrinal, mas


antes uma atividade;

• A filosofia serva para colocar limites àquilo


que pode ser pensado;

• A filosofia dá significado ao que não pode


ser dito clarificando o que pode ser dito.
VI – CLAREZA
• Tudo o que pode ser pensado por ser
pensado de maneira clara;

• Tudo o que pode ser dito em palavras pode


ser dito com clareza;
VII – UMA PROPOSIÇÃO É UMA FUNÇÃO DE VERDADE
DE PROPOSIÇÕES ELEMENTARES

• E, ou, não, algum, todo (conectivos e


quantificadores)...

• E tudo aquilo que puder ser construído a


partir deles.
VIII – LIMITES

• Os limites da minha linguagem são os


limites do mundo;

• A lógica irriga o mundo: os limites do


mundo são também seus limites.
O Wittgenstein das Investigações Filosóficas
Uma virada linguístico-pragmática
Há quatro anos tive a ocasião de ler novamente meu primeiro
livro (o “Tractatus Logico-Philosophicus”), e explicar seus
pensamentos. Pareceu-me, de repente, que deveria publicar
aqueles antigos pensamentos junto com os novos: pois estes só
poderiam receber sua iluminação correta pelo contraste e sob o
pano de fundo do meu antigo modo de pensar. 
“Foi por ter radicalizado no Tractatus tal posição que Wittgenstein se deixou guiar
pelo ideal de uma linguagem perfeita, capaz de reproduzir com absoluta exatidão
a estrutura ontológica do mundo. A linguagem deveria ser uma imagem fiel do
real, e como a linguagem comum se manifesta cheia de imprecisões,
indeterminações, etc., tratava-se, então, de construir uma linguagem ideal, que
seria a medida de qualquer linguagem. Essa linguagem ideal seria uma linguagem
artificial e seria construída segundo o modelo de um cálculo lógico.”
1 – UMA RUPTURA COM O TRACTATUS?

• Outra concepção da linguagem


e de seu papel
Ruptura • Virada pragmática;
• Impossibilidade de um sistema.

• Papel da filosofia: terapêutica


da linguagem;
Continuidade • Combate à metafísica;
309. Qual é seu objetivo com a
filosofia? —Mostrar à mosca a
saída do vidro.
2 – A VIRADA PRAGMÁTICA

• Pragmática: o estudo do uso dos vocabulário.


• Visão segundo a qual considerações acerca de significados
dependem de considerações acerca de propriedades que
governam seu uso.
• Centralidade das práticas discursivas;
• Quais são as habilidade cujo exercício é necessário para
expressar um significado?
O uso da linguagem e, portanto, o sentido dependem de um pano de fundo
compartilhado de práticas. A linguagem é uma atividade como qualquer outra e
depende de comportamentos validados intersubjetivamente.
ESSA É UMA PERSPECTIVA ANTI-REDUCIONISTA: ELE NÃO REDUZ A
LINGUAGEM À FUNÇÃO ENUNCIATIVA E NÃO ACREDITA QUE A
LINGUAGEM LÓGICA SERVE DE MODELO PARA TODOS OS USOS
LINGUÍSTICOS
3 – TRÊS CRÍTICAS AO CONCEITO DE
LINGUAGEM

Críticas
As palavras
Linguagem
representam algo Leis lógicas são a
privada:
independente da base do
linguagem como
linguagem significado das
representação de
(significado como palavras
estados mentais
representação)
VISÃO TRADICIONAL CRITICADA POR
WII.

Comunicação
• Externamente se
manifestam atos
corpóreos (sons,
traços);
• Esses atos refletem o
Emissor Linguagem Receptor
que estava,
originalmente, na
mente.
• Compreender é como
Compreensão “ter-em-mente”, um
ato espiritual, já que
tem a ver com o
sentido.
3 – TRÊS CRÍTICAS AO CONCEITO DE
LINGUAGEM

Argumentos
Temos que É impossível
adentrar a encontrar um
linguagem para critério último, A linguagem é
compreender as porque todos uma forma de
regras de uso que critérios estão vida
produzem sujeitos à
significados intepretação
4 – JOGOS DE LINGUAGEM
• Diferentes vocabulários e práticas
discursivas são regulados por
diferentes regras;
• Linguagens são atividades
humanas (jogos);
• Os participantes da interação
devem estar jogando o mesmo
jogo.
O SIGNIFICADO NÃO É DETERMINADO PELA ASSOCIAÇÃO ENTRE TERMOS E OBJETOS, MAS PELOS USOS DOS PRATICANTES DE UM
DETERMINADO VOCABULÁRIO.

OS CONCEITOS SÃO, ENTÃO, ABERTOS PARA O FUTURO, ISTO É, PARA NOVOS USOS.
4 – FORMA DE VIDA
• Usar uma linguagem é tomar
parte em uma forma de vida, em
uma atividade;
• Há um consenso de fundo entre
os participantes;
• Condições de felicidade de um
determinado vocabulário.
5 – LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO
• A linguagem não é uma figura do
real;
• A linguagem é um instrumento,
um conjunto de técnicas de usar
signos num determinado
contexto.
POR QUE PODERÍAMOS DIZER QUE A FILOSOFIA DO
SEGUNDO WITTGENSTEIN É ANTI-ESSENCIALISTA?
6 – O PAPEL DA FILOSOFIA

• Não é fundamentar;
• Não é julgar os usos;
• É descrever os diferentes usos da
linguagem;

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