Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
exercício no CC
A menoridade, a interdição, a inabilitação e incapacidade natural
acidental
A incapacidade dos menores (menoridade)
1. Amplitude
Abrange, em princípio, quaisquer negócios de natureza pessoal ou patrimonial.
É uma incapacidade geral, com a resalva feita no próprio art. 134.º, que
permite ao menor, nos termos do art.º 135º praticar alguns atos. Assim, os
menores podem praticar actos de administração ou disposição dos bens que o
menor haja adquirido por seu trabalho (art. 135.°, al. b)); são válidos os
negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor, que, estando ao alcance
da sua capacidade natural, só impliquem despesas, ou disposições de bens, de
pequena importância (art. 135.°, al. a)); são válidos os negócios relativos à
profissão, arte ou ofício que o menor tenha sido autorizado a exercer, ou os
praticados no exercício dessa profissão, arte ou ofício (art. 127.°, al. c) e d));
podem contrair validamente casamento, desde que tenham idade superior a 16
anos (art. 1563.°, 1564.º al. a)), sendo certo, todavia, que a oposição dos pais
ou do tutor constitui um impedimento impediente (1567.º), e como tal, não
implicando a nulidade do acto, dá lugar à aplicação de sanções especiais; podem
fazer testamento se emancipados (2114.º al. a)); podem perfilhar quando
tiverem mais de 16 anos (cfr. art. 1775.°, especialmente o n.° 2).
2. Duração
A incapacidade termina quando o menor atingir a idade de 18 anos ou for
emancipado (arts. 133.º, 138.°, 139.° e 142.º), salvo se, na primeira hipótese,
estiver pendente contra o menor, ao atingir a maioridade, acção de interdição
ou inabilitação (art. 140º). Já houve tempos em que a menoridade era atingida
aos 21 anos.
A antecipação da maioridade para os 18 anos, à semelhança do que acontece
em muitos outros países (Portugal, França, Alemanhã, Italia, Inglaterra, Suécia,
Dinamarca, etc ), funda-se em várias razões, nomeadamente numa mais rápida
maturação e maior independência dos jovens do nosso tempo, em virtude de
uma escolaridade obrigatória mais prolongada, do desenvolvimento dos mass
media, etc., e na equiparação da maioridade civil à «maioridade eleitoral»
activa e passiva (entre nós também de 18 anos, pelo que não fazia sentido
poder-se ser, por exemplo, deputado com 18 anos e continuar, até aos 21 anos,
a ser incapaz para reger a própria pessoa e dispor dos próprios bens).
3. Efeitos
Os negócios jurídicos praticados pelo menor contrariamente à proibição em que
se cifra a incapacidade estão feridos de anulabilidade (art. 136.º).
O direito de invocar a anulabilidade é precludido pelo comportamento malicioso
(«mulata supleat aclarem») do menor, no caso de este ter usado de dolo ou má fé,
a fim de se fazer passar por maior ou emancipado (art. 136.º, nº3). Entendemos
que, nesta hipótese do artigo 136.º, ficam inibidos de invocar a anulabilidade não
só o menor mas também os herdeiros ou o representante. O especial merecimento
da tutela da contraparte, que está na base da preclusão do direito de anular,
implica que todos os legitimados sejam inibidos de exercer o direito de anulação.
Não nos parece coerente com a ratio do preceito, nem dotada de justificação
aceitável, a solução que pretende só se aplicar ao menor — e não já ao seu
representante — a preclusão estabelecida no artigo 136.° No caso de o menor ter
usado do dolo para se fazer passar por maior, a lei considera não existir — ou estar
atenuado — o ónus geral de diligência do contratante que está em face do menor,
donde resulta não ser invocável a anulabilidade, seja por quem for.
Por outro lado, não basta que o menor declare ou inculque ser maior. São
necessários artifícios, manobras ou sugestões de carácter fraudulento (253.º, nº1)
4. Suprimento da incapacidade
A incapacidade do menor é suprida pelo instituto da representação. Os meios de
suprimento da incapacidade dos menores, através da representação, são, em
primeira linha o poder paternal e, subsidiariamente, a tutela (art. 137:);
eventualmente pode haver lugar à instituição, com os mesmos fins, do regime de
administração de bens (art. 1869.°). Quanto ao casamento, os menores ou estão
feridos de uma incapacidade de gozo de direitos (menores de 16 anos), como tal
insuprível, ou têm capacidade de gozo e capacidade de exercício, por a falta de
consentimento dos pais não ser causa de anulabilidade, mas apenas de sanções
especiais.
É claro que só é suprível a incapacidade dos menores na medida em que seja
uma mera incapacidade de exercício. Quando se tratar de uma incapacidade de
gozo (casamento, testamento, perfilhação), esta é insuprível. Nos domínios em
que é reconhecida ao menor capacidade de exercício, este é admitido a agir por
si mesmo.
5. O Poder Paternal
O conteúdo do poder paternal está hoje regulado no artigo 1815.°, n.° 1. O
poder paternal pertence, pois, aos pais, não distinguindo a lei poderes especiais
do pai ou da mãe em virtude do princípio da igualdade (cfr. art. 1818.°, nº1 e
5).
A lei distingue o exercício do «poder paternal relativamente à pessoa dos filhos
(1819º e ss) e poder paternal relativamente aos bens dos filhos (1828º e ss).
No domínio do poder paternal relativamente à pessoa dos filhos, salientam-se: o
poder de educar os filhos (arts. 1821.°, 1822.° e 1823.º); o poder de custódia,
ou seja, de guardar os filhos na sua própria casa ou lugar à sua escolha, podendo
os pais, se os filhos abandonarem o lar, reclamá-los — ius in personanz (art.
1819.° e 1820º); e o poder de autoridade ou de comando a que os filhos devem
obediência (1810º).
No domínio do poder paternal relativamente aos bens dos filhos, salientam-se: o
poder de administração dos bens (arts. 1828º.°e 1829.°) e o recíproco dever de
alimentos (art.1941º, nº 1, al.c), 1826.º, nº 2). Comuns ao poder paternal
(pessoal e patrimonial) são o poder de representação (arts. 1825.°) e o poder de
autoridade ou de comando a que os filhos devem obediência (art. 1810.°).
Estão excluídos da administração dos pais certos bens mencionados no artigo
1828.° O artigo seguinte (1829.°) enumera actos cuja validade depende de
autorização do tribunal: trata-se de actos mais graves, relativamente aos quais se
entendeu conveniente controlar a actuação dos pais. Outra limitação resulta do
artigo 1832.°. mera concretização da proibição genérica do negócio consigo mesmo
(art. 261.°).
As infracções aos artigos 1829.° e 1832.° geram a anulabilidade dos respectivos
actos, nos termos do artigo 1833.°
6. Tutela
A tutela é o meio normal de suprimento do poder paternal. Deve ser instaurada
sempre que se verifique alguma das situações previstas no artigo 1868.° Estão nela
integrados o tutor, o protutor, o conselho de família e, como órgão de controlo e
vigilância, o tribunal de menores.
O tutor — órgão executivo da tutela — tem poderes de representação
abrangendo, em principio, tal como os do pai, a generalidade da esfera jurídica
do menor. O poder tutelar é, todavia, menos amplo que o poder paternal.
As suas limitações resultam, fundamentalmente, dos artigos 1884.° e 1885.º. As
sanções para a infracção das proibições impostas ao tutor constam dos artigos
1886.° e 1887.° e variam conforme os casos, sendo predominantemente
invalidacles de tipo misto e não puras nulidades ou anulabilidades.
7. Administração de bens.
A instituição da administração de bens, como meio de suprimento da
incapacidade do menor, terá lugar, coexistindo com a tutela ou com o poder
paternal, nos termos do artigo 1869.°
A designação do administrador de bens é regulada nos artigos 1872.º e 1911.°O
administrador é o representante legal do menor nos actos relativos aos bens
cuja administração lhe pertença e os seus poderes são idênticos aos do tutor
(art. 1915.°).
A incapacidade dos interditos