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O PLANO DIRETOR E A MOBILIDADE

URBANA: o caso de Florianópolis


Arquiteto e Urbanista Ângelo Marcos Arruda
IAB SC e SASC
“As cidades são um imenso laboratório de tentativa e
erro, fracasso e sucesso, em termos de construção e
desenho urbano. É nesse laboratório que o
planejamento urbano deveria aprender, elaborar e
testar suas teorias”.

Jane Jacobs, 1959.


O Ranking 2018 Smart Cities da Urban Systems, publicado
recentemente, colocou Florianópolis, no cômputo geral, em 5º. lugar
no país (ano anterior ocupava a 6. posição). Na frente dela estão as
cidades de Curitiba, São Paulo, Vitória e Campinas.

Esse ranking é formado por 70 indicadores divididos em 11 setores de


pesquisa, assim descriminados: Mobilidade, Urbanismo, Meio
Ambiente, Energia, Tecnologia e Inovação, Educação, Saúde, Segurança,
Empreendedorismo, Economia e Governança.

De todos esses setores de pesquisa, Florianópolis merece destaque


para o 2. Lugar em Tecnologia e Inovação; 4. Lugar em Saúde; 2. Lugar
em Educação; 4. Lugar em Empreendedorismo; 4. Lugar em Energia.
Pois bem.

Apesar dessa honrosa posição, o item Mobilidade, nos coloca numa


situação preocupante. E é sobre isso que vamos debater: o Plano
Diretor e a mobilidade urbana, um caso a ser compreendido.
O CAOS DA MOBILIDADE URBANA
O CAOS
DOS
VAZIOS
URBANOS
E DUAS
PONTES
Viagens que chegam Viagens Internas

Fonte: IPUF
Alguns Dados

População 2019 - menos de 500 mil


População 2035 – 800 mil habitantes

Fonte: Estudo Sinais Vitais UDESC 2016


DENSIDADE DOS
EMPREGOS e os
VAZIOS URBANOS

Fonte: IPUF
No caso de Florianópolis, tudo contribui para esse processo
que temos hoje. A malha urbana dividida em distritos – em
realidade 12 distritos (grandes bairros consolidados -, locais de
moradia e pouco emprego (exceto o Centro), estão muito distantes
de todos os polos da vida urbana: o emprego e os serviços
essenciais sociais dentre outros. O que faz com que os
deslocamentos sejam imensos ainda mais com a condição do
sistema viário – quantidade de vias que podem ajudar a
movimentação de veículos e pessoas -, poucas vias disponíveis.

O espraiamento da ilha é a sua agonia.


Adensar, compactar e verticalizar sm perda da paisagem e com
manutenção das características culturais e ambientais é o desafio.
Descentralizar e fortalecer os distritos, é imperioso.
DENSIDADE
DEMOGRÁFICA

Fonte: IPUF
Quais são os principais problemas que colocam a
cidade em situação de péssima mobilidade?

1) O excesso de veículos circulando?


2) A localização dos empregos?
3) O não uso do mar para o transporte público?
4) A condição espacial da região metropolitana?
5) A sua forma urbana, a ilha, os bairros
distantes?
6) O emprego no centro ou nas cidades da região
metropolitana?
7) A irregularidade fundiária?
8) O plano diretor que não aborda essa questão?
Quais enfim?
A DISCUSSÃO QUE TRAGO:
TERRITÓRIO E DENSIDADE URBANA

O PLANO DIRETOR e o DIREITO À


CIDADE.
A densidade, em um conceito geral, é definida como a
relação entre o número de habitantes de um determinado
lugar e a área onde eles vivem.

Características do desenho urbano que influenciam na densidade.

Fonte: Aciolly e Davdson, 1998.


Fonte: Aciolly e Davydson, 1998.
Problemas com aumento da densidade urbana. Fonte: Mascaró, 1989.

Densidades para cada tipologia de habitação. Fonte: Mascaró, 1989.


Características da ocupação
Densidade
Classificação Efeitos
(hab/hectare)

- serviços públicos extremamente caros;


Menor que - transporte público ineficiente;
Antieconômica
45 - ruas desertas;
- equipamentos comunitários subutilizados.
- serviços públicos caros;
- transporte público ineficiente;
Economicamente - boa quantidade de vida em zonas exclusivas de habitação unifamiliar;
De 45 a 100
aceitável - privacidade nas áreas verdes, praças, parques, etc.
- espaços públicos subutilizados;
- pouca miscigenação de usos nas zonas residências.
- serviços públicos econômicos;
- transporte público eficiente;
- espaços públicos otimizados;
Economicamente
De 100 a 150 - utilização de parques e equipamentos por maior número de pessoas;
desejável
- miscigenação na tipologia residencial;
- miscigenação de usos.

- serviços públicos econômicos;


- transporte público eficiente;
Economicamente
De 150 a 200 - desapropriações para alargamento do sistema viário;
aceitável
- redução de circulação de carros particulares;
- perda de privacidade nos equipamentos comunitários.
- congestionamento da infraestrutura;
- congestionamento da circulação urbana;
Mais que
Antieconômica - má qualidade de vida;
200
- investimentos de porte em infraestrutura, circulação e transporte de
Relatório de atividades de densidade urbana. Fonte:
massa. Sec. De Planej. de Porto Alegre, 1995.
Atualmente a densidade bruta de
Florianópolis não chega a 7 habitantes por
hectare o que, convenhamos, é uma
densidade muito baixa, explicável pela sua
condição de ilha.
Entretanto, o que isso acarreta em termos
de mobilidade urbana é inimaginável. As
distâncias entre os pontos de adensamento
(Ingleses x Centro) ou (Centro x Ribeirão) que
de fato exercem polarização urbana,
merecem ser melhor estudados.
Simulação de diferentes formas de ocupação.
Fonte: Vargas, 2003.
ADENSAR SIGNIFICA:

Planejar para sair dos 7 habitantes por hectares para 75,


sem prejuízos para a cidade e a sociedade e o meio ambiente.
Isso é possível com estratégias.
QUAIS?

1. Uma ação enérgica de REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA em


toda a ilha;
2. Descentralizar a administração pública e os empregos. Cada
um dos 12 distritos tem de serem empoderados com
estrutura e políticas claras, inclusive um CONSELHO
DISTRITAL;
3. Estimular as centralidades com usos mais flexíveis,
aprovação de projetos e licenciamentos em 24 horas;
4. Organizar o território com todos os parceiros públicos
( SPU, CASAN, CELESC, DNIT, DEINFRA, MPF, MPE, todos
enfim);
5. Incentivar atividades culturais, de lazer, de turismo, etc em
cada um dos 12 distritos;
6. Uma política de habitação social e parcelamento que dê
melhores condições para moradia no território.
Jane Jacobs discutiu que grandes concentrações de pessoas
são uma das condições necessárias para o florescimento da
diversidade urbana.

Sem número suficiente de pessoas essa diversidade não


existe.

Alta densidade urbana não é superpopulação.

Alta densidade significa quantidade de pessoas por hectare.

Superpopulação é excessiva quantidade de pessoas por


domicílio.

Densidades urbanas adequadas são uma questão de


funcionalidade. A densidade deve promover a adequada utilização
dos recursos disponíveis e promover a diversidade do bairro. Em
suma, o meio é o melhor. Nem alta – acima de 1000 nem baixa,
abaixo de 80 hab/ha. A diversidade funcional deve abarcar a
diversidade das edificações. Nada de padronização da construção,
escala de prédios típicos da alta construção standartizada.
Esquematização de diferentes formas de planejamento.
Fonte: Rogers, 2000.
Fonte: IPUF
PLAMUS 2015
O Plano Diretor, que deveria usar o conceito de cidade
contemporânea, com altas densidades e proximidades, não o
faz. Há poucos dispositivos na Lei 482 que estimulam ou criam
situações que possam contribuir com essa discussão.

O adensamento desejável de 75hab/ha não existe em


nenhum lugar da cidade. Pelo contrário. Temos adensamentos
médios de 10% desse valor. O que implica em custos altos de
infraestrutura urbana, mais e maiores deslocamentos e com
certeza uma péssima qualidade do sistema de mobilidade.
ALGUNS DISPOSITIVO NO PLANO DIRETOR – LEI 482

Art. 12. Implementar o ordenamento territorial, propondo um novo


modelo de cidade, adotando as seguintes medidas:
I – os padrões atualizados de qualidade de vida para cada um dos
bairros, distritos e setores da cidade, incluindo a noção de
centralidade, o reforço das relações de vizinhança e o incremento da
complementaridade de usos e funções urbanas;
II – a consolidação da urbanização polinuclear nas áreas onde já
ocorre essa estrutura, bem como a sua implantação em áreas
atualmente pouco urbanizadas suscetíveis de serem desenvolvidas de
acordo com esse modelo de organização do território.
III – a consideração da paisagem natural e cultural como parâmetro do
desenvolvimento urbano equilibrado;
IV – a função da cidade para o convívio humano como um dos
objetivos precípuos do desenvolvimento urbano;
V – o aproveitamento sustentável do mar, rios, lagoas e aquíferos do
Município, e a garantia de livre e franco acesso à orla marítima e ao
uso público das margens e das águas do mar e dos espaços hídricos
interiores
Política de Fortalecimento da Multicentralidade

Art. 15. A Política de Fortalecimento da Multicentralidade,


consiste em consolidar um modelo de uso e ocupação polinuclear,
fortalecendo as centralidades já existentes, e estabelecendo
novas centralidades, com a correlata criação de áreas de
preservação e lazer, prevendo melhoria nos equipamentos sociais,
prestação de serviços, geração de empregos e acessibilidade de
transporte.
Da Estratégia e das Políticas de Mobilidade e Acessibilidade

Art. 21. Visando a mudança dos paradigmas atuais, a estratégia de


mobilidade e acessibilidade complementada pela política de
fortalecimento da multicentralidade, conterá a previsão da
instalação de corredores de transporte de passageiros, de linhas
circulares e intra-bairros para o transporte coletivo, bem como a
diversificação dos modais de conexão entre as diversas localidades
do Município e entre a Ilha e o Continente e também com a região
metropolitana.

Art. 22. Para alcançar os resultados desta estratégia, o Município


implementará as seguintes políticas: I - de transporte hidroviário; II -
de desenvolvimento do transporte de massa; III - de reestruturação
da malha viária, incluindo as ações de melhoria de fluxos; e IV - de
incremento da mobilidade com base na autopropulsão de pedestres
e ciclistas.
PLANO DE AÇÃO FLORIANÓPOLIS SUSTENTÁVEL 2015 –ICES/BID/PMF

Cenário Tendencial ( atual)

Mantém o crescimento linear e fragmentado pela costa e pelos eixos de


transporte e crescimento fragmentado por áreas no interior da ilha em locais
planos e fundos de vale.
A densidade líquida continuará baixa, a infraestrutura cara e de difícil execução.
A mancha urbana sai de 8.735 hectares para 17.700 em 2050, ampliando-a em
203%

O que aconteceria de mais grave?

Crescimento linear pelas rodovias e linha de costa aumentando o caos em Jurerê,


Ingleses, Canasvieiras e Campeche;

Surgimento de novos solos urbanos no interior da ilha, fragmentados, ligados a


oportunidades baratas de investimentos com tipologia de 2 pavimentos.
Cenário Ótimo (desejável)

Uma posição intervencionista, que propõe um modelo direcionado de


ordenamento consciente do território, buscando o máximo de adensamento
urbano capaz de diminuir a necessidade de extensão fragmentada da mancha
urbana.
Absorver toda a população projetada para o futuro dentro dos limites atuais.
As áreas ambientais frágeis receberiam instrumentos de uso e ocupação para
restringir as novas ocupações.
Aumentar a fiscalização dessas áreas.
Reassentar a população em áreas de risco (em torno de 10 mil pessoas)
Reverter o quadro de espraiamento e crescimento espontâneo da mancha urbana
aumentando a densidade liquida para 75 habitantes por hectare.
Ainda: ocupar edifícios ociosos, os vazios urbanos.

Em 2050: 1,5 milhão de habitantes em 21 mil hectares

Estimular o adensamento do CENTRO – pronto em termos de infraestrutura


Campeche como Polo Urbano
A mancha urbana amplia em apenas 10% da atual otimizando a ocupação
Opção de 5 andares para toda a cidade com usos no térreo
Cenário Intermediário (nem um nem outro)

Desenvolvimento Sustentável
Busca de terrenos aptos para novos contingentes populacionais
Reestruturando e qualificando a mancha urbana atual
Melhoria da dinâmica urbana

Considerado um cenário mais realista ou razoável da mancha com expansão de


27% em Florianópolis

Ampliar as densidades já existentes, buscando áreas em consolidação, vazios


urbanos e domicílios vagos
O Centro também é estratégico na ocupação
Campeche um subcentro urbano, planejado com controle total dos ecossistemas
Previsão de 60 habitantes por hectare
Edifícios de 5 andares como tipologia com uso misto no térreo.
“A mobilidade não se resolve da noite para o dia, num estalar de dedos. Um passe
de mágica. Ela precisa de planejamento, persistência, políticas públicas corretas e
duradouras, engajamento e participação social e acima de tudo, recursos: humanos
e financeiros.
Os projetos para resolver os problemas da mobilidade urbana não são executados
com rapidez e com a velocidade desejada pela população. Eles precisam ser bem
feitos, embasados em teorias que se sustentem, em muito planejamento. E isso leva
tempo.
Esse tempo a população não tem mais. Ela está de saco cheio de perder horas e
horas numa fila para ir e voltar do seu trabalho. Esse tempo precisa ser bem gasto.
Para isso, o planejamento nos ensina a se acalmar, parar para refletir e combinar
com os políticos a dosagem certa das medidas. Se elas acertam, todos ganham; se
elas erram, os técnicos é que perdem. Pois é deles a palavra final. “

Ângelo Marcos Arruda, arquiteto e urbanista


MUITO OBRIGADO!

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067.99221.8522
Um agradecimento especial ao IPUF (Laboratório de Simulação e Geo) pela
cessão de alguns slides da apresentação.

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