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TEORIA DEMOCRÁTICA II

AULA 10

A LIBERDADE ANTES DO LIBERALISMO


TEXTOS: A LIBERDADE ANTES DO LIBERALISMO (QUENTIN SKINNER)

Semestre: 2023.1
Aulas: Terças e quintas, 09h30-11h10
Professor: Diogo Cunha
E-mail: diogo.accunha@ufpe.br
Introdução
 Esboço da ascensão e queda da teoria neorromana da liberdade civil

 Desaparecimento ⇒ Ao longo do século XIX, com a ascensão da ideia liberal de liberdade.

 Método de Skinner ⇒ Contextos intelectuais e políticos da formulação da teoria neorromana da


liberdade; Exame das suas estruturas e pressupostos;

 Objetivo ⇒ Meios de pensar novamente as reivindicações da teoria neorromana da liberdade no


tempo presente.

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Teoria nerromana dos Estados livres

 Conflitos ideológicos no momento da Guerra Civil inglesa. Quatro “correntes”:

a. Soberania deve permanecer nas duas Câmaras do Parlamento (Henry Parker);

b. Rei como único portador da soberania (Monarquistas);

c. Soberania devia residir no corpo do Rei-Parlamento (os “mais cautelosos”);

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Teoria nerromana dos Estados livres

d. Nova voz ⇒ Thomas Hobbes ⇒ Estado é o nome de uma pessoa artificial “levada” ou representada por
aqueles que detêm poder soberano, e que seus atos de representação são tornados legítimos pelo fato de
serem autorizados por seus próprios súditos”.

 Liberdade para Hobbes ⇒ Ausência de liberdade é um impedimento físico

 Teoria rival de Hobbes ⇒ Teoria do Estado livre ⇒ Adotada pelos defensores do Parlamento.

 Teoria neorromana do Estado Livre usada pelo novo governo em sua defesa ⇒ Marchamont Nedham,
John Milton, James Harrington (ponto alto em torno da década de 1650).

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Teoria nerromana dos Estados livres
 Teóricos neorromanos ⇒ Preocupação com a relação entre liberdade dos súditos e poderes do Estado ⇒
Questão central: como harmonizar autonomia civil e obrigação política?

 Originalidade dos teóricos nerromanos ingleses:

a. Deslocamento com relação às autoridades antigas e ao Renascimento italiano ⇒ Linguagem do direito e do


contrato.

b. Forte componente da teoria política radical da Reforma ⇒ Estado de autonomia é a condição natural da
humanidade. Linguagem do contrato social e do estado de natureza (Deus deu esses direitos e liberdades naturais)

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Teoria nerromana dos Estados livres

 Duas suposições básicas defendidas pelos autores neorromanos ingleses:

1. Qualquer compreensão do que significa para um cidadão individual possuir ou perder sua
liberdade deve estar incluída no interior de uma explicação do que significa para uma
associação civil ser livre. “Governo livre” precede a liberdade dos indivíduos.

 Pista para a compreensão da “liberdade das comunidades” ⇒ Metáfora do corpo político ⇒


Estados livres, como pessoas livres, são assim definidos por sua capacidade de autogoverno.

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Teoria nerromana dos Estados livres
 Implicações constitucionais:

a. Leis que o governam devem ser decretadas com o consentimento de todos os seus cidadãos.

b. Deve possibilitar a cada cidadão individual exercer um direito igual de participação na elaboração de
leis.

2. O significado de perder a liberdade no caso de um corpo político é o mesmo de perder no corpo individual ⇒
Cai-se numa condição de escravidão.

 Fonte dos teóricos neorromanos ⇒ Moralistas e historiadores romanos ⇒ Em que sentido o escravo é não
livre? Um escravo é um exemplo de alguém cuja ausência de liberdade deriva do fato de estar “sujeito à
jurisdição de alguém mais” e estar consequentemente “dentro do poder” de uma outra pessoa.

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Teoria nerromana dos Estados livres
 Duas vias distintas para a servidão pública segundo os autores neorromanos:

a. Corpo político é desprovido de liberdade quando é impedido de agir segundo sua vontade ⇒ Tirania

b. Um Estado ou nação pode ser privado de sua liberdade se for simplesmente sujeito ou propenso a ter suas ações
determinadas pela vontade de alguém que não os representantes do corpo político como um todo.

 Há duas maneiras distintas pelas quais esta segunda forma de servidão pública pode emergir:

a. Quando um corpo político se encontra sujeito à vontade de um outro Estado

b. Quando a constituição interna de um Estado permite o exercício de quaisquer poderes discricionários ou privilegiados
da parte daqueles que o governam.

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Teoria nerromana dos Estados livres

 A monarquia é compatível com a liberdade pública? Autores respondem de duas maneiras contrastantes:

a. Sim ⇒ É essencial que a cabeça esteja sujeita a quaisquer que sejam as leis aceitas de comum acordo e
decretadas pelo corpo como um todo. É possível, ao menos em princípio, que um monarca seja o
governante de um Estado livre.

b. Não ⇒ Nenhuma comunidade vivendo sob um rei pode ser vista como um Estado livre ⇒ Uma forma de
republicanismo autogovernante deve ser o único tipo de constituição sob a qual a liberdade pública pode
ser adequadamente preservada.

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Estados livres e liberdade individual
 Crítica à teoria neorromana dos Estados livres ⇒ Não levam em conta a “liberdade de homens particulares”, mas apenas
as “liberdades da Comunidade”. Argumento de Skinner ⇒ Ideia de Estados livres é um ponto de partida para o
desenvolvimento de “liberdade individual” ⇒Só é possível ser livre num Estado livre.

 Antes dos neorromanos ingleses ⇒ Liberdade individual não era a principal razão para se viver num Estado livre: benefício
mais importante era a obtenção da glória e da grandeza.

 Neorromanos ingleses ⇒ Desconfiança da ética da glória e da busca de uma grandeza cívica

 Desconfiança com relação a Cromwell levou os teóricos neorromanos ingleses a repensar os méritos especiais do regime
republicano ⇒ Estados livres não mais buscariam glória e grandeza, mas assegurariam as liberdades dos seus próprios cidadãos

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James Harrington

O valor especial destas comunidades deriva do fato de que


suas leis são “modeladas por todo homem privado” para
“proteger a liberdade de todo homem privado, a qual deste
modo vem a ser a liberdade de comunidade”.

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Marchamont Nedham

A razão por que o povo da Inglaterra decidiu a favor a favor


da República está em seu reconhecimento de que esta “pode
melhor assegurar as autonomias e liberdades do povo”.

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John Milton

Ao lado da nossa liberdade religiosa, “a outra parte de nossa


liberdade consiste dos direitos e progressos civis de toda pessoa”, e
está além de dúvida que “o desfrute disto nunca é mais certo, e o
acesso a isto nunca mais aberto, do que uma Comunidade livre”.

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Estados livres e liberdade individual

 Argumentos neorromanos > (1) Pode-se perder a liberdade quando o Estado/tirano ameaça
interferir em sua vida ou (2) quando se cai numa condição de sujeição ou dependência política,
deixando-se, portanto, exposto ao perigo de ser privado, por seu governo, mediante força ou
coerção, de sua vida, liberdade ou propriedades.

 Skinner: o que separa a compreensão da liberdade neorromana da liberal?

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