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Farmacologia dos Anestésicos

Endovenosos
Bruno Maia
Interno de Formação Específica de Anestesiologia - CHP
Anestésicos Intravenosos
Porque? Limitações
Simples  Irritante para o tecido

Início de ação rápido celular subcutâneo


 Dor à injecção
Indução agradável
 Injecção intra-arterial
Não irritante para as acidental
vias aéreas  [] plasmática depende da
Recobro geralmente redistribuição/eliminação
suave  Ação cumulativa
 Tempo de circulação braço-
cérebro variável
Anestésicos Intravenosos
Classificação Química

Barbitúricos Tiopental
Imidazóis Etomidato
Alquifenóis Propofol
Feniciclohexaminas Ketamina
Benzodiazepinas Diazepam
Midazolam
Opióides Fentanil
Alfentanil
Sufentanil
Anestésicos Intravenosos
Farmacocinética
Relação entre Absorção
- Dose administrada Distribuição
- Concentração tecidular Biotransformação
atingida Excreção
- Duração de ação
Anestésicos Intravenosos
Farmacocinética
Distribuição
- Ligação às prot. Plasmáticas
- Caraterísticas dos tecidos
- Perfusão tecidular(compartimentos farmacocinéticos)
- Características de ionização
- Coeficiente de partilha do fármaco (lipossolubidade)
Anestésicos Intravenosos
Farmacocinética
• Redistribuição: transferência do compartimento
central para o periférico.

1- Semi-vida alfa (distribuição)

2- Semi-vida beta (eliminação)


1

2
Anestésicos Intravenosos
Farmacocinética

Volume de distribuição: volume teórico do


compartimento em que o fármaco estaria distribuido se
a sua distribuição fosse uniforme

Vd=dose/concentração
Anestésicos Intravenosos
Farmacocinética

Biotransformação
- Reacções de fase I (degradação por enzimas)
- Reacções de fase II (conjugação)

Metabolitos inactivos, ionizados, hidrossolúveis


Anestésicos Intravenosos
Farmacocinética

Índice de extração hepática

- 0,7-1: depuração dependente do fluxo hepático


- < 0,4: depuração dependente dos sistemas enzimáticos
hepáticos
Anestésicos Intravenosos
Farmacocinética

Excreção
- Renal:
baixo peso molecular
ionizado
hidrossolúvel
- Biliar
elevado peso molecular
recirculação entero-hepática
Anestésicos Intravenosos
Farmacocinética

Eliminação: conjunto de todos os processos de


remoção de um fármaco do organismo
(biotransformação e excreção)

Depuração ou clearance: fração do Vd completamente


depurada de um fármaco por unidade de tempo
- hepática (biotransf. hepática + excreção biliar)
- renal
Anestésicos Intravenosos
Propriedades do Fármaco Ideal
 Parcialmente não ionizado  Depressão miocárdica mínima
e lipossolúvel a pH 7,4  Não vasodilatador
 Estável em solução  Depressão respiratória
 Administração não mínima
 Ausência de reações de
dolorosa
 Não irritante para tec.
hipersensibilidade
 Metabolitos inativos
celular subcutâneo
 Não associado a NVPO
 Baixa incidência de
 Sem efeitos excitatórios
tromboflebite
 Acordar calmo
 Pequeno volume de
 Sem supressão SR
solução para indução
 Barato
 Indução rápida
Anestésicos Intravenosos
Características Farmacocinéticas

Vdss Sol. Duração T ⅟₂ α T ⅟₂ β (h) Extração


(l/kg) lipídica ação (min) Hepática
(bolús)
Propofol 2-10 Muito 3-8 2-4 1-6 >0,9
Alta
Tiopental 2,5 Alta 5-10 2-4 10-12 0,2
Etomidato 2,5-4,5 Alta 3-8 2-4 2-5 0,9
Ketamina 3 Muito 5-10 11-16 2-3 >0,9
Alta
Anestésicos Intravenosos
Farmacodinâmica

Estuda os efeitos de um fármaco no organismo,


incluindo a sua toxicidade, ou seja, a relação entre
concentração do fármaco e as respostas do organismo
Propofol
Propriedades:
- Emulsão de aspeto leitoso
- Contém óleo de soja, glicerol e lecitina (ovo)
- Risco de alergia
- Manipulação asséptica e uso até 6h após aberto
- pH 7
- Estável à temp. ambiente
- Não fotossensível
- Concentrações de 1 ou 2%
Propofol
Farmacocinética
- Elevada lipossolubilidade: indução rápida
- Ligação às prot. Plasáticas de 98%
- Metabolização hepática (e tb extra-hepática)→ Metabolitos
inactivos hidrossolúveis excretados rim
- ↑ clearance (recobro rápido, mesmo quando usado em
perfusão)
- Depuração mantida em caso de dça hepática ou renal
Propofol
Farmacocinética
Propofol
Farmacodinâmica

 SNC
- Mecanismo de ação através da potenciação do efeito
inibitório do GABA
- 1-2,5 mg/kg
- Hipnose rápida (efeito max. Em 90 a 100 seg)
- Propriedades anti-eméticas
- Bem estar
- Anti-convulsivante
- ↓ FSC e PIC e PIO
- Proteção cerebral (↓ CMRO2)
Propofol
Farmacodinâmica

Efeitos respiratórios
- Depressão respiratória → apneia
- Inibição resposta ventilatória à hipóxia e hipercápnia
- Depressão dos reflexos da VA: boas condições de
intubação
- Libertação de histamina
Propofol
Farmacodinâmica

Efeitos CV
- hTA (↓ RVP, depressão miocárdica, ↓ pré-carga): mais
marcada com ↑doses, idade, velocidade de
administração, hipovolémia)
Propofol
Farmacodinâmica

Outros efeitos
- Dor à injeção
- Sem relação com hipertermia maligna
- Sem supressão da SR
- Não interfere com função hepática
Propofol
Farmacodinâmica

Pediatria
- FDA: a partir dos 3 anos
- Dose única em qualquer idade
- UCI (perfusões longas): Propofol Infusion Syndrome
Tiopental

Características
- Sal barbitúrico de sódio
- Concentração 2,5%
- Solução estável durante duas semanas
- Precipita com relaxantes musculares
- Dor severa e lesão tecidular se injetada em artéria ou
tecido peri venoso
- LD50/ED50: 4!!
Tiopental
Farmacocinética

Ligação à Albumina de 80%


Metabolização hepática→ Metabolitos inactivos
excretados rim e bile
Aumenta a produção de porfirinas: não administrar a
doentes com Porfiria Aguda Intermitente
Em dose única: acordar rápido (redistribuição)
Tiopental
Farmacodinâmica

SNC
- Mecanismo de ação através da potenciação do efeito
inibitório do GABA
- Não analgésico
- ↓ FSC e PIC e PIO
- Proteção cerebral (↓ CMRO2)
- Doses 3-5 mg/kg (aumentar nas crianças- até 8mg/kg)
Tiopental
Farmacodinâmica

Efeitos respiratórios
- Depressão respiratória → apneia
- Inibição resposta ventilatória à hipóxia e hipercápnia
- Depressão incompleta dos reflexos da VA: risco de
espasmo laríngeo ou brônquico durante intubação
- Anti- convulsivante
Tiopental
Farmacodinâmica

Efeitos CV
- Efeitos semelhantes ao Propofol mas menor
diminuição da TA e das RVP
- Pode haver taquicardia reflexa
- Efeitos mais marcados com ↑doses, idade, velocidade
de administração, hipovolémia
Tiopental
Farmacodinâmica

Efeitos Renais
- ↓ FSR e TFG

Efeitos Hepáticos
- ↓ FS Hepático
- Indução enzimática
Etomidato
Propriedades
- Preparado em propilenoglicol a 35%: dor à injeção
- Concentração de 2 mg/ml
- Dose de indução 0,2-0,4 mg/kg
- Não precipita como Tiopental
Etomidato
Farmacocinética

Elevada ligação às prot. Plasmáticas: 77%


Início rápido
Hidrólise rápida pelas enzimas hepáticas e esterases
plasmáticas
Eliminação renal (85%) e biliar (15%)
Eliminação prolongada na cirrose hepática
Etomidato
Farmacodinâmica

SNC
- Mecanismo de ação através da potenciação do efeito
inibitório do GABA
- ↓ metabolismo cerebral
- ↓FSC e PIC (mas PPC mantidas pela estabilidade CV)
- Alterações EEG semelhantes ao Tiopental
- NVPO mais comuns
- Mioclonias em 30-60% doentes
Etomidato
Farmacodinâmica

Efeitos Respiratórios
- Depressão respiratória mínima

Efeitos CV
- Estabilidade CV: ligeira diminuição das RVP
Etomidato
Farmacodinâmica

Efeitos Endócrinos
- Inibição da síntese de cortisol e aldosterona (mesmo
em dose única): não usar em perfusão
Ketamina
Propriedades
- Mecanismo de ação por inibição de NT excitatórios,
antagonismo NMDA
- Dissocia tálamo do cortex límbico
- Ocupa recetores opióides no SNC
Ketamina
Farmacocinética

Elevada solubilidade lipídica: início rápido


Biotransformação hepática: Nor-Ketamina (30% ação
anestésica)
Eliminação renal
Baixa ligação às proteínas plasmáticas
Ação prolongada na IRenal
Ketamina
Farmacocinética

Doses e vias de administração


Indução
- IV: 1-2 mg/kg
- IM: 4-10 mg/kg
- PO/Nasal (pediatria): 6-10 mg/kg
Sedação/Analgesia
- IV 0,2-0,8 mg/kg
- IM: 2-4 mg/kg
Ketamina
Farmacodinâmica
SNC
- Inconsciência e analgesia
- Anestesia dissociativa (analgesia profunda, olhos abertos,
reflexos mantidos, amnésia)
- Anticonvulsivante
- Midríase
- ↑ PIO, nistagmo
- ↑ PIC, FSC, CMRO2 (CI em TCE)
- Efeitos psicomiméticos: alucinações, sonhos, experiências
extra-corporais
- Mantém resposta ao CO2
Ketamina
Farmacodinâmica

Efeitos Respiratórios
- Resposta à hipercapnia mantida
- Broncodilatador
- Hipersalivação
- Reflexos da VA mantidos
Ketamina
Farmacodinâmica

Efeitos CV
- Estimulação por via indirecta (libertação de
catecolaminas e inibição da recaptação da NA):
↑ TA, FC, DC, PAP
↑ trabalho cardíaco e consumo metabólico de
O2
- Depressor miocárdico por estimulação directa
Ketamina
Farmacodinâmica

Indicações
- Anestesia geral: patologia respiratória (asma),
patologia CV (exceto DCI e ICC), choque
hipovolémico/séptico, tamponamento cardíaco
- Sedação/Analgesia: locais remotos, suplementação de
ALR, analgesia pós-op
- Outros: broncodilatador, dor crónica
Ketamina
Farmacodinâmica

Contra-indicações (relativas)
- LOE/HTIC
- Perfuração ocular
- Cardiopatia isquémica
- HTA não controlada
- ICC
- Aneurismas arteriais
- Psicose
Farmacologia dos Anestésicos
Inalatórios
Anestésicos Inalatórios
Introdução
- Eter, cloroformio e protóxido de azoto foram os
primeiros anestésicos universalmente aceites
- Protóxido foi o primeiro a ser usado e a sua utilização
ainda persiste
- VA é única forma de administração
- Entrada pela circulação pulmonar: aparecimento mais
rápido na circulação arterial
- Úteis na indução em pediatria
Anestésicos Inalatórios
Evolução
Anestésicos Inalatórios
Conceitos

MAC: Concentração alveolar mínima


1 MAC: Concentração alveolar mínima à qual 50%
dos indivíduos não reage (movimento) ao estímulo
cirúrgico (incisão)
Potência anestésica é medida em MAC´s
AGENT MAC POTENCY
Methoxy-flurane 0.16% Most potent

Halothane 0.74%

Isoflurane 1.17%

Enflurane 1.7%

sevoflurane 2.05%

desflurane 6.0%

Nitrous oxide 104% Least potent


Anestésicos Inalatórios
Conceitos

2 características importantes dos anestésicos


inalatórios são:
- Solubilidade lipídica (coeficiente de solubilidade
gordura:sangue)
- Solubilidade no sangue (coeficiente de solubilidade
sangue:gas)
Potencia anestésica correlaciona-se com a solubilidade
lipídica (regra Meyer-Overton)
Anestésicos Inalatórios
Farmacocinética

A profundidade anestésica é determinada pela


concentração de anestésico no SNC

A velocidade a que é atingida determinada


concentração no SNC depende da Solubilidade, Fi (%)
do Anestésico, Frequência respiratória, Fluxo
sanguíneo pulmonar, Fluxo sanguíneo cerebral
Anestésicos Inalatórios
Farmacocinética
Coeficientes de solubilidade

Cérebro: Músculo: Gordura:


Sangue:Gás
Sangue Sangue Sangue

N2O 0,47 1,1 1,2 2,3

Sevoflurano 0,68 1,7 3,6 55

Isoflurano 1,4 1,6 3,4 52

Desflurano 0,42 1,3 2,3 30


Anestésicos Inalatórios
Farmacodinâmica

Parece não haver 1 local único de atuação no SNC que


seja partilhado por todos os A. Inalatórios
Inibição da transmissão dos impulsos em várias áreas
do SNC
Halogenados conferem algum grau de relaxamento
muscular, tendo efeito poupador de RM
Protóxido de Azoto
Inodoro e incolor
Não explosivo nem inflamável mas alimenta
combustão
Gás à temperatura ambiente
MAC 105%
Efeitos CV mínimos
Elevação de catecolaminas (estimulação simpática)
Vasoconstrição pulmonar
Protóxido de Azoto
Aumento da frequência respiratória e diminuição do
volume corrente (mantém volume/minuto)
Aumento do FSC, PIC e do CMRO2
Interferência com metabolismo da Vit. B12: risco de
anemia macrocítica e alterações neurológicas
Teratogénico ?
Elevada difusibilidade: CI embolia gasosa,
pneumotórax, pneumocéfalo, laparoscopia, cirurgia
ocular com uso de gás. Vigiar a P cuff
Protóxido de Azoto
Efeito 2º gás: aumenta a velocidade de
indução/eliminação dos Halogenados.
Isoflurano
Anestésico volátil não inflamável com cheiro
desagradável
MAC 1,15%
CV:
- depressão cardíaca mínima e elevação da FC.
- Diminuição das RVP
- Fenómeno de roubo coronário
Isoflurano
Respiratório:
- Semelhante aos outros inalatórios mas menos
taquipneia.
- Irritação das VA superiores
SNC:
- ↑ FSC e PIC se > 1 MAC
Renal: ↓ FSR e TFG
Hepático: ↓ Fluxo sanguíneo hepático
Isoflurano
Praticamente sem contraindicações, sendo controverso
o seu uso em doentes coronários
Sevoflurano
Anestésico volátil não inflamável
Baixa solubilidade: > velocidade de indução e recobro
MAC 2%
Líquido à temperatura ambiente
Sem cheiro desagradável
Reacção com alguns absorventes de CO2 (cal sodada
ou baritada) resultando no Composto A (toxicidade
renal em animais mas não foi comprovado o seu
malefício nos humanos)
Sevoflurano
Efeitos CV:
- Depressão CV: inotrópico negativo e vasodilatação periférica
dose-dependente
- Não estimula SN Simpático
- Boa tolerância na cardiopatia isquémica
- Parece ter efeito cardioprotetor: precondicionamento
cardíaco
Efeitos respiratórios:
- Bem tolerado e não irritante para as VA
- Depressão da resposta ventilatória ao CO2
Sevoflurano
Junção neuromuscular
- Potencia os relaxantes musculares
- Risco de hipertermia maligna

Sem influencia no fluxo sanguíneo hepático e renal


Desflurano
Ponto de ebulição de 20⁰C: necessita de um
vaporizador especial
Baixo coeficiente de partilha sangue/gás: variação das
concentrações cerebrais muito rápida
MAC 6%
Desflurano
Efeitos CV:
- Semelhante ao Iso (diminuição das TA por diminuição
das RVP dose-dependente)
- Aumento rápido da concentração associado a
libertação de catecolaminas
- Não condiciona roubo coronário
Desflurano
Efeitos respiratórios:
- Diminuição do volume corrente e aumento da frequência
respiratória
- Diminuição da resposta ao CO2
- Irritação das VA: tosse, laringoespasmo, salivação (não dá
para indução inalatória)

SNC
- ↑ FSC e PIC. Diminui CMRO2
Desflurano
Junção Neuromuscular
- Prolonga o efeito dos relaxantes musculares
- Relaxamento da musculatura lisa uterina

Sem evidência de alterações a nível renal e hepático

Toxicidade: possibilidade de formação de CO por


reação com cal sodada (cuidado com absorvente de
CO2)
?
FIM

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