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PONTO 12 – FARMACOLOGIA DOS ANESTÉSICOS VENOSOS

Barbitúricos
Mecanismo de ação
 Deprimem o sistema reticular ativador no tronco encefálico (SRAA: controla várias funções vitais, incluindo
a consciência)
 Atuam na sinapse nervosa, suprimindo a ação de neurotransmissores excitatórios (actilcolina) e aumentando a
ação de neurotransmissores inibitórios (GABA) por interferir com sua liberação (pré-sináptica) e sua
interação com receptores (pós-sináptica)

Relação da estrutura com a atividade


Propriedades gerais
 São derivados do ácido barbitúrico
 A substituição do carbono 5 determina atividade hipnótica e anticonvulsivante (cadeia + longa: + potente)
 Os sais de sódio usados nos barbitúricos são solúveis em água, mas muito alcalinos (tiopental tem pH de 10
em 2,5%) e instáveis (duração do mesmo tiopental é ~ 2 semanas)
 Concentrações acima das recomendáveis → Dor intensa à injeção e trombose venosa
 Têm pH alto (10-11): precipita com várias drogas anestésicas (uso separado) e é bactericida e bacteriostático

Propriedades específicas
 A substituição do O (oxibarbitúricos) no carbono 2 por S (tiobarbitúricos: tiopental, tiamilal) aumenta a
solubilidade lipídica
# Por isso, tiopental e tiaminal têm maior potência, início de ação mais rápido e duração mais curta
 A substituição do grupo metil em N1 no metoexital está relacionada à sua curta duração

Farmacocinética
Absorção
 Em geral usados EV, com exceção de crianças (tiopental e metoexital VR para indução) e pré-medicação
(secobarbital IM)

Distribuição
 A duração da ação dos barbitúricos muito lipossolúveis (tiopental, tiaminal, metoexital) é determinada pela
distribuição, não pelo metabolismo ou eliminação. Apesar de 80% do tiopental ligar-se a proteínas, sua alta
afinidade lipídica e alta fração não ionizada é responsável por captação cerebral máxima em 30seg
# Se o compartimento central está diminuído (choque), albumina está baixa (hepatopatia) ou fração não
ionizada elevada (acidose) → Maior concentração cerebral e cardíaca para a mesma dose
 Redistribuição (em especial muscular) reduz a concentração plasmática e cerebral para 10% em 20-30min
# Na anestesia com barbitúricos, os pacientes perdem consciência em 30seg e despertam e 20-30min
# Idosos → Menor dose de anestesia por redistribuição mais lenta (níveis plasmáticos mais altos)
 A eliminação do tiopental é lenta, variando 3-12h
 A administração repetitiva de barbitúricos irá saturar o compartimento periférico, impedindo a redução na
duração do seu efeito devida à redistribuição, tornando a duração da ação dependente da eliminação
Obs.: o tiaminal e metoexital têm distribuição semelhante ao tiopental, enquanto os barbitúricos menos solúveis em lipídios têm meia
vida de distribuição e duração de ação mais longas

Biotransformação
 Oxidação hepática → Metabólitos inativos solúveis em água
 Pela alta metabolização hepática, o metoexital é eliminado 3-4x mais rápido que o tiopental ou tiamilal
# Apesar da redistribuição ser responsável pelo despertar, a completa recuperação psicomotora é mais
rápida após o uso de metoexital, em virtude de seu maior metabolismo

Excreção
 Alta ligação com proteínas (pouca filtração glomerular) e alta solubilidade lipídica (mais reabsorção tubular
renal) → Excreção renal lenta e limitada aos produtos finais hidrossolúveis da metabolização hepática
 O metoexital é excretado nas fezes
Efeitos nos sistemas orgânicos
Cardiovascular
 ↓PA: por depressão do centro vasomotor medular → Vasodilatação periférica → ↓Retorno venoso
 ↓FC: por efeito vagolítico central
 DC mantido: por aumento da FC e contratilidade por reflexos barorreceptores compensatórios à ↓PA
# Se não há resposta barorreceptora adequada (p.ex. hipovolemia, ICC, bloqueio beta-adrenérgico) →
Gera represamento periférico não compensado e depressão miocárdica direta → Queda drástica de DC
e PA
Obs.: os efeitos cardiovasculares dos barbitúricos variam bastante com a hidratação, tônus autonômico basal e doença cardiovascular
preexistente. Injeção lenta e hidratação adequada pré-OP podem reduzir essas alterações

Respiratório
 ↓Resposta ventilatória a hipóxia e hipercapnia: por depressão do centro respiratório medular
 Não há depressão completa dos reflexos de vias aéreas:
# Possível broncoespasmo em asmático. Pode ser causado por estimulação colinérgica, (prevenível com
atropina), liberação de histamina ou estímulo direto da musculatura lisa do brônquio
# Laringoespasmo em pacientes superficializados (+ comum com metoexital que com tiopental)

Cerebral
 ↓fluxo sanguíneo cerebral e ↓PIC: por vasoconstrição cerebral
# A do ↓fluxo sanguíneo não é prejudicial, já que há redução ainda maior do consumo de O2
 ↑pressão de perfusão cerebral: porque a queda de PIC excede a queda de PA
 Progressão do EEG → Baixa dose: atividade rápida de baixa voltagem → Alta dose: atividade lenta de alta
voltagem
# Por isso, pode proporcionar proteção cerebral em isquemia parcial (p.ex. AVC), mas não em isquemia
global (p.ex. PCR)
# Doses de supressão de EEG → Despertar prolongado, extubação retardada, suporte inotrópico
 Bartibúricos têm efeito anti-analgésico por diminuir o limiar da dor (pequenas doses → agitação)
 Doses pequenas de tiopental (50-100mg EV) controlam a maioria das convulsões do tipo grande mal

Outros
 Renal → ↓fluxo sanguíneo renal e ↓taxa de filtração glomerular (proporcional à ↓PA)
 Hepático → Fluxo hepático diminuído. A indução de enzimas hepáticas aumenta a taxa de metabolismo de
algumas drogas (p.ex. digoxina); enquanto a ação no citocromo P-450 interfere na biotransformação de outras
(p.ex. ADT). Também, estimula a formação de porfirina (leva a porfiria aguda em suscetíveis)
 Imunológico → Tiobarbitúricos (com enxofre) liberam mais histamina em mastócitos (tiopental, tiamilal)

Interações medicamentosas
 Aumentam a biodisponibilidade da droga livre e potencializam os efeitos de determinada dose → Contrastes e
sulfonamidas e outros que ocupam os mesmos locais de ligação a proteínas
 Potencializam efeitos sedativos → Etanol, narcóticos, anti-histamínicos e outros depressores do SNC

Benzodiazepínicos
Mecanismo de ação
 Ativação de receptores específicos no SNC, principalmente no córtex cerebral → Aumenta o efeito de alguns
neurotransmissores. Por exemplo, facilita a ligação do GABA → Aumenta a condutância da membrana ao Cl
→ Alteração da polarização da membrana, que inibe a função neuronal normal

Relação da estrutura com a atividade


 Compostos de um anel benzeno e um diazepina (mudanças de posição afetam potência e biotransformação)
 O anel imidazol do Midazolam faz com que seja hidrossolúvel em pH baixo (anel aberto) e lipossolúvel em
pH fisiológico (anel fechado)
# A insolubilidade do diazepam e lorazepam em água requer propilenoglicol em suas preparações
parenterais, associado a irritação venosa)

Farmacocinética
Absorção
 VO → Diazepam e lorazepam são bem absorvidos no TGI, com pico plasmático de 1 e 2h respectivamente
 IM → Midazolan e lorazepam são bem absorvidos IM, com picos séricos em 30-90min
# Diazepam tem injeção IM dolorosa e absorção não confiável

Distribuição
 Solúveis em lipídios → Diazepam tem alta lipossolubilidade, penetrando rapidamente a barreira hemato-
encefálica. O midazolam, apesar de hidrossolúvel em pH baixo, é lipossolúvel em pH fisiológico. A
moderada solubilidade lipídica do lorazepam é responsável por seu início de ação mais lento
 A redistribuição é bastante rápida (meia vida de distribuição inicial = 3-10min) e é o responsável pelo
despertar (embora não tão rápida quanto o tiopental)
 Todos se ligam fortemente a proteínas (90-98%)

Biotransformação
 São biotransformados no fígado em glicuronídeos solúveis em água
# Diazepam → Seus metabólitos de fase I são farmacologicamente ativos. Tem meia vida de eliminação
longa (30h) por alto Vd e extração hepática lenta
# Lorazepam → Tem baixa extração hepática, mas menor solubilidade lipídica (limita Vd), resultando
em meia vida de eliminação mais curta (15h) que o diazepam. No entanto, a duração de ação é grande
pela alta afinidade com o receptor
# Midazolam → Compartilha o Vd do dizepam, mas tem alta extração hepática, tendo a menor meia
vida de eliminação de todos (2h)

Excreção
 Excretados na urina
# Diazepam → A circulação entero-hepática produz pico secundário após 6-12h da administração
# Midazolam → Insuficiência renal pode causar sedação prolongada (acúmulo de um metabólito
conjugado, o alfa-hidroximidazolam)

Efeitos nos sistemas orgânicos


Cardiovascular
 Efeitos mínimos (diminuem levemente DC, PA e resistência vascular; aumentam levemente a FC)
# Midazolam diminui mais PA e resistência vascular periférica que diazepam
# As variações de FC por benzodiazepínicos são por diminuição do tônus vagal (vagólise por drogas)

Respiratório
 Deprimem a resposta ventilatória para CO2 → Em geral insignificante se não for intra-venoso e não forem
associados a outras drogas depressoras respiratórias (no entanto podem resultar em parada respiratória)

Cerebral
 ↓consumo O2, ↓fluxo sanguíneo cerebral e ↓PIC (com menor efeito que os barbitúricos)
 Prevenção e controle de convulsões de grande mal
 Amnésia anterógrada (efeito útil para pré-medicação), sedação, ansiólise
 Leve atividade relaxante muscular mediada ao nível da medula (não da junção neuromuscular)
Obs.: Baixas doses: amnésia, sedação, ansiólise → Altas doses: estupor e inconsciência
Obs.: Sem propriedades analgésicas diretas

Interações medicamentosas
 Todos → Reduzem a CAM dos anestésicos voláteis em até 30%. Associações com etanol, barbitúricos e
outros depressores do SNC aumentam os efeitos sedativos (sub-unidades alfa do receptor GABA)
 Diazepam → Cimetidina liga-se ao citocromo P450 e reduz seu metabolismo. A heparina o desloca dos locais
de ligação a proteínas e aumenta a concentração de droga livre (↑200% após 1000U heparina). Combinado
com opiáceos, reduz a PA e resistência vascular periférica (especialmente em cardiopatas)
 Midazolam → Eritromicina inibe o metabolismo, prolonga 2-3x e intensifica seu efeito

Obs.: midazolam é 2-3x mais potente que diazepam

Opióides
Mecanismo de ação
 Receptores específicos → Inibe liberação pré-sináptica e resposta pós-sináptica de NT excitatórios
(acetilcolina, substância P) em neurônios nocioceptivos → Analgesia potente e sedação leve
# Bloqueio de impulsos de dor pode se dar ao nível medular com opióide intratecal ou epidural →
Ligação a receptores “mi” na substância gelatinosa da medula espinhal
# Modulação da via inibitória descendente da substância cinzenta periaquedutal pelo núcleo magno da
rafe até o corno posterior da medula também desempenha um papel importante na analgesia
 Agonistas e antagonistas ligam-se aos receptores, mas apenas os agonistas os ativam → Os efeitos do opióide
dependem de a qual receptor ele se liga, da afinidade de ligação e se ele ativa o receptor (agonistas-
antagonistas, como a nalbufina podem ter ações opostas em diferentes receptores)
 Opióides endógenos → Endorfinas, encefalinas, dinorfinas

Relação da estrutura com a atividade


 Isômeros levógiros geralmente são mais potentes que os dextrógiros

Farmacocinética
Absorção
 IM → Absorção rápida em injeções de morfina e meperidina (pico plasmático em 20-60min)
 VO → Citrato de fentanil (“pirulito”) tem início rápido (10min). Usado em crianças (15-20mcg/Kg)
 Transdérmica → Fentanil é usado transdérmico pelo seu baixo peso molecular e alta solubilidade lipídica.
Ocorre um reservatório da droga na camada superior da derme, fazendo com que as concentrações séricas
atinjam platô em 14-24h, mas permanecendo constantes por até 72h (uso limitado por muita náusea)

Distribuição
 As meias vidas de distribuição de todos os opióides são rápidas (5-20 minutos)
# Baixa lipossolubilidade da morfina → Início de ação mais lento e duração mais prolongada
# Alta lipossolubilidade do fentanil e sufentanil → Rápido início de ação e curta duração
Obs.: O alfentanil tem início de ação mais rápido e duração mais curta que o fentanil, mesmo sendo menos solúvel em lipídios. Isso
se deve à sua alta fração não ionizada e pequeno Vd, que aumenta a quantidade de droga disponível para ligação no cérebro
 Quantidades significativas de opióides lipossolúveis podem ser retidas no pulmão (captação de primeira
passagem) e difundir-se mais tarde de volta para a circulação sistêmica → Acúmulo pulmonar depende do
acúmulo prévio de outra droga (diminui), tabagismo (aumenta) e uso de anestésicos inalatórios (diminui)
 Redistribuição é responsável pelo término do efeito de pequenas doses, mas não de doses maiores

Características físicas dos opiáceos, que determinam a distribuição


Biotransformação
 Metabolismo no fígado → Altas taxas de extração hepática fazem seu clearance depender do fluxo hepático
# Alfentanil → Pequeno Vd é responsável por uma meia vida de eliminação curta (1h30min)
 Metabólitos:
# Morfina → É conjugada com o ácido glicurônico para formar morfina-3-glicuronida e morfina-6-
glicuronida
# Meperidina → N-desmetilada para normeperidina, um metabólito ativo com atividade convulsiva
# Fentanil, sufentanil, alfentanil → Metabólitos inativos
 Remifentanil → Sua estrutura éster faz com que tenha rápida hidrólise por esterases sanguíneas (similar ao
esmolol) → Meia vida de eliminação muito curta (menos de 10min)
# A duração da infusão do remifentanil tem pouco efeito no tempo de despertar. Sua meia vida efetiva é
de quase 3min, independente da duração da infusão
# Não é tóxico em hepatopatas (hidrólise extra-hepática)

Obs.: Tempo de meia vida contexto-sentitivo: observar: sufenanil < alfentanil até 8h de infusão (alto Vd)
Obs.: no remifentanil, essa meia vida não depende do tempo de infusão, enquanto cresce exponencialmente para o fentanil
Excreção
 Morfina → Produtos finais eliminados nos rins (excreção biliar <10%). Como 5-10% da morfina é excretada
inalterada e a morfina-6-glicuronida é um agonista mais potente e durador que a morfina, a insuficiência renal
prolonga sua duração de ação (o acúmulo de metabólitos da morfina nesses pacientes pode levar a narcose e
depressão respiratória durando vários dias)
 Meperidina → Excreção, efeitos de metabólitos e influência da insuficiência renal similar à morfina.
Também, a normeperidina acumulada pode causar mioclonias e convulsões não revertidas pelo naloxone
 Fentanil → Pico plasmático tardio após 4h da última dose (recirculação entero-hepática e droga sequestrada)
 Sufentanil → Metabólitos excretados na urina e na bile
 Remifentanil → Metabólitos com pouca atividade agonista eliminados no rim

Efeitos nos sistemas orgânicos


Cardiovascular
 Não alteram seriamente a função cardiovascular (Altas doses → bradicardia mediada pelo vago)
# Em geral há ↓PA por → Bradicardia, venodilatação e diminuição de reflexos simpáticos
 Meperidina causa taquicardia (estrutura similar à atropina) e deprime contratilidade (único)
 Meperidina e morfina liberam histamina em alguns indivíduos, o que pode levar à ↓PA ↓resistência vascular
sistêmica (minimizados com administração lenta e pré-tratamento com antagonistas H1 e H2)
 Combinação com outras drogas anestésicas pode resultar em depressão miocárdica significativa

Respiratório
 Todos → ↓FR, ↓resposta ao estímulo pelo CO2 e ↑PaCO2 de repouso → Desvio da curva de CO2 para baixo
e para a direita, resultando em limiar apneico mais elevado e resposta hipóxica diminuída
 Morfina e meperidina podem causar broncoespasmo pela liberação de histamina em suscetíveis
 Todos (em especial fenta, sufenta, alfenta) podem induzir rigidez torácica (mediada centralmente) após
grandes bolus, tratada com relaxantes musculares

Cerebral
 ↓consumo O2, ↓fluxo sanguíneo cerebral e ↓PIC (mas muito menos que barbitúricos e BDZ)
 Podem elevar a PPC pela queda de PA que proporcionam (pode ser significativa em pacientes com
complacência intracraniana anormal), embora o paciente superficialmente anestesiado aumente muito a PIC
 Efeito no EEG → A maioria é mínimo, mas altas doses estão associadas com atividade lenta de onda delta
 Estímulo da zona gatilho quimiorreceptora medular → Náusea e vômitos
 Não produzem amnésia confiável
 Meperidina EV (25mg) é considerada o opióide mais eficaz para diminuir calafrios

Gastrointestinal
 ↓peristalse → ↓velocidade de esvaziamento gástrico
 Cólica biliar pode resultar da contração do esfíncter de Oddi por opiáceos (espasmo biliar) revertida com
naloxone
 Terapia de longa duração causa tolerância à maioria dos efeitos, exceto constipação (↓motilidade TGI)

Endócrino
 Opióides bloqueiam secreção de hormônios usados para mensurar resposta ao estresse cirúrgico
(catecolaminas, ADH, cortisol) → Pacientes com doença cardíaca isquêmica têm bom benefício

Interações medicamentosas
 Opióides + iMAO → Hipertensão ou hipotensão, coma, hiper-reflexia e PCR
 Opióides + BDZ, barbitúricos e outros depressores do SNC → Sinergismo em efeitos cardiovasculares,
respiratórios e sedativos
 Biotransformação do alfentanil (mas não sufentanil) está comprometida com 7 dias de eritromicina, levando a
sedação prolongada e depressão respiratória
Cetamina
Mecanismo de ação
 Antagonista não-competitivo do receptor N-metil-D-aspartato (NMDA: subtipo de receptor de glutamato) →
Bloqueio de reflexos sinápticos na medula e inibição de NT excitatórios em áreas selecionadas do cérebro →
Dissocia funcionalmente o tálamo, envolvido na consciência e sensação, que transporta impulsos sensoriais
do sistema de ativação reticular para o córtex cerebral
 “Anestesia dissociativa” → Paciente parece consciente (olhos abertos, reflexo de deglutição, contratura
muscular), mas não processa ou responde a estímulos sensoriais

Relação da estrutura com a atividade


 Análoga à fenciclidina (derivado hidrossolúvel com 1/10 da potência da fenciclidina)
Obs.: isômero S → Maior analgesia e anestesia (300%), metabolismo mais rápido, menor delírio de emergência, recuperação mais
curta → Efeitos cardiovasculares e resposta hormonal semelhantes

Farmacocinética
 Absorção → Injeção IM com pico plasmático após 10-15min
 Distribuição → Rápida captação cerebral e redistribuição, com meia vida de distribuição 10-15min (causas:
mais solúvel em lipídios e se liga menos a proteína que o tiopental, aumenta o fluxo cerebral e DC)
 Biotransformação → Metabolizada no fígado. Alguns metabólitos (p.ex. norcetamina) têm atividades
anestésicas. Tem meia vida de eliminação curta (2h) pela extensa captação hepática. Ocorre tolerância com
múltiplas doses (por indução de enzimas hepáticas)
 Excreção → Renal

Efeitos nos sistemas orgânicos


Cardiovascular
 ↑PA, ↑FC, ↑DC (em contraste com outros anestésicos) → Ocorrem por estimulação central do SNS e
recaptação de norepinefrina
 Também ↑pressão pulmonar e ↑trabalho miocárdico → Evitada em pacientes com doença coronariana,
hipertensão descontrolada, ICC e aneurismas arteriais
 Os efeitos estimulatórios indiretos da cetamina são benéficos para paciente em choque hipovolêmico
Respiratório
 Afeta pouco a resposta ventilatória
 Broncodilatador potente, bom indutor para asmáticos
 Aumenta a salivação (efeito pode ser atenuado por pré-medicação com anticolinérgico)

Cerebral
 Induzem analgesia, amnésia e inconsciência
 ↑fluxo sanguíneo cerebral, ↑consumo cerebral de O2, ↑PIC → Não usar em paciente com lesões intra-
cranianas que ocupem espaço
 Atividade mioclônica → Por maior atividade elétrica subcortical
 Efeitos colaterais psicomiméticos (ilusões, delírio, pesadelo) são menores em crianças e uso de BDZ
Obs.: delírio de emergência: Antagonismo de receptores muscarínicos → Sintomas anti-colinérgicos (delírios de emergência,
broncodilatação, aumento do tônus do SNS). É dose-dependente. Podem ocorrer ilusões, delírios, cegueira cortical transitória, sonhos
e alucinações até 24h após o uso. FR: mulher, >15 anos, dose > 2mg/kg, AP de psicopatia. Não altera personalidade a longo prazo.
CD: BDZ, propofol, barbitúricos. Atropina e doperidol aumentam a incidência (glicopirrolato diminui salivação sem aumentar
incidência: não passa BHE)

Interações medicamentosas
 + relaxantes adepolarizantes → Potencializa o efeito de relaxamento muscular
 + teofilina → Predispõe convulsões
 + diazepam → Atenua efeitos cardio-estimulatórios da cetamina e aumenta sua meia vida de eliminação
 + propranolol, fenoxibenzamina e ouros antagonistas simpáticos → ↓efeito cardiovascular
 + anestésicos voláteis (especialmente halotano) → Depressão miocárdica
 + lítio → Prolonga duração de ação da cetamina

Etomidato
Mecanismo de ação
 Liga-se a subunidade do receptor de GABA, aumentando sua afinidade para o NT → Deprime o sistema de
ativação reticular e simula os efeitos inibitórios do GABA
 Pode ter efeitos desinibitórios nas partes do SNC que controlam a atividade motora extrapiramidal (incidência
de 30-60% de mioclonias) (atenuado com BDZ prévio) (não relacionado com convulsão)

Relação da estrutura com a atividade


 O anel imidazol dá alta hidrossolubilidade em soluções ácidas e solubilidade lipídica em pH fisiológico
 É dissolvido em propilenoglicol, que pode causar dor e irritação à injeção (reduzida com lidocaína prévia)

Farmacocinética
 Absorção → Em geral administrado EV
 Distribuição → Início de ação rápido graças à solubilidade lipídica e fração não ionizada em pH fisiológico
(apesar de ligar-se altamente a proteínas)
 Biotransformação → Hidrolizado por enzimas microssomais hepáticas e esterases plasmáticas →
Metabolismo rápido (mais rápido de todos os indutores: 5x > que o tiopental) e metabólito inativo
 Excreção → Urina

Efeitos nos sistemas orgânicos


Cardiovascular
 Discreta redução da resistência vascular periférica → discreta ↓PA
 DC e contratilidade inalterados
 Não libera histamina
 Diminui a função plaquetaria, aumentando o tempo de sangramento

Respiratório
 Doses de indução não resultam em apnéia, a menos que sejam associados a opióides
Cerebral
 ↓metabolismo cerebral, ↓fluxo sanguíneo, ↓PIC → Pressão de perfusão mantida (mínimos efeitos
cardiovasculares)
 Hipnótico, sem propriedades analgésicas

Endócrino
 Doses de indução inibem transitoriamente enzimas envolvidas na síntese de cortisol e aldosterona. Infusões
de longa duração podem levar a supressão adrenal

Interações medicamentosas
 + fentanil → Aumenta o nível plasmático e prolonga a meia-vida de eliminação do etomidato
 + opióides → Diminuem predisposição a mioclonia do etomidato

Propofol
Mecanismo de ação
 Facilitação da neurotransmissão inibitória mediada pelo GABA (Interação com sítios específicos do GABAr
→ Diminuição da dissociação GABA-GABAr → Aumento da duração da abertura dos canais de cloro pós-
sinápticos → Hiperpolarização da membrana pós-sináptica → Inibição funcional do neurônio pós-sináptico)

Relação da estrutura com a atividade


 Anel fenol preso a 2 grupos isopropil → Não solúvel em água → Usada emulsão com óleo de soja, glicerol e
lecitina do ovo (da gema, não albumina da clara)
# Pode resultar em dor à injeção (↓ com lidocaína prévia ou 2ml de lidocaína 1% + 18ml de propofol)
# Meio de cultura bacteriano. Apesar de conter agentes que ajudam a retardar o crescimento bacteriano,
administrar até 6h após aberta a ampola

Farmacocinética
 Absorção → Usado principalmente EV
 Distribuição → Início de ação tão rápido quanto tiopental (alta solubilidade lipídica: 30seg). O despertar é
rápido pela meia vida de distribuição muito curta (2-8min)
# Uma dose menor de indução está recomendada em idosos pelo menor Vd
 Biotransformação → Clearance excede o fluxo sanguíneo hepático (há metabolização extra-hepática),
levando a recuperação rápida após infusão contínua → Metabólitos inativos
# Farmacocinética não é afetada por cirrose moderada
# Infusão em longa duração → Dislipidemia, acidose metabólica, morte
 Excreção → Renal (insuficiência renal não altera seu clearance de eliminação)

Efeitos nos sistemas orgânicos


Cardiovascular
 ↓PA por: ↓resistência periférica (inibição da vasoconstrição simpática), ↓contratilidade, ↓pré-carga
# Em geral revertida pela estimulação que acompanha a laringoscopia e intubação
# Exacerbam a hipotensão → Altas doses, injeção rápida, idade avançada
 Prejudica a resposta barorreflexa arterial à hipotensão
 Alterações na FC e DC são transitórias e de pouca importância em pessoas saudáveis, mas podem ser
problemáticas em → Idosos, usuários de cronotrópicos negativos, pacientes com dano da função ventricular
 Desequilíbrio regional entre o suprimento e a demanda de O2 para o miocárdio → Produção de lactato
(apesar do consumo de O2 e o fluxo coronário diminuírem de maneira semelhante)

Respiratório
 Deprime a ventilação → Mesmo doses de sedação consciente inibem o esforço ventilatório hipóxico e
deprimem a resposta normal à hipercarbia
 Inibe reflexos da via aérea (mais que os barbitúricos)
 Pode liberar histamina, mas com menor risco que barbitúricos e etomidato, podendo ser usado na asma
Cerebral
 ↓fluxo cerebral e ↓PIC → Em pacientes com hipertensão intracraniana, pode causar redução crítica da PPC (a
menos que condutas para manter a PAM sejam tomadas)
 Proteção cerebral durante a isquemia frontal similar ao tiopental
 Na indução pode haver antagonismo subcortical à glicina → Contração muscular, soluços, opistótono
# Apesar de simular convulsões, o propofol na verdade tem propriedades anti-convulsivantes (↑GABA)
 Outros efeitos → Anti-pruriginoso, anti-hemético, ↓pressão intra-ocular

Interações medicamentosas
 Propofol aumenta as concentrações de fentanil e alfentanil

Droperidol
Mecanismo de ação
 Ações centrais → Antagoniza ativação dos receptores da dopamina (trigger zone: anti-hemético); interfere na
transmissão mediada pela serotonina, norepinefrina e GABA (sedação)
 Ação periférica → bloqueio alfa-adrenérgico

Relação da estrutura com a atividade


 O droperidol (ação neuroléptica) está quimicamente relacionado ao haloperidol (antipsicótico)

Farmacocinética
 Absorção → Em geral usado EV
 Distribuição → Rápida distribuição (meia vida de 10min), mas os efeitos sedativos são retardados pelo alto
peso molecular e grande ligação com proteínas, que dificultam a penetração na barreira hemato-encefálica →
Duração de ação prolongada (2-3h) pela forte ligação com receptores
 Biotransformação → Metabolizado no fígado rapidamente (como a cetamina e etomidato)
 Excreção → Renal

Efeitos nos sistemas orgânicos


Cardiovascular
 Bloqueio alfa-adrenérgico → Vasodilatação periférica → ↓PA (hipovolêmicos tem ↓PA exagerada). O
bloqueio alfa-adrenérgico também é responsável por propriedades antiarrítmicas
 Pode causar prolongamento de QT e torsades de pointes → ECG após o uso; não usar com QT > 440ms
 Contra-indicado em feocromocitoma, por indução de liberação de catecolaminas a partir da supra-renal

Respiratório
 Isoladamente não deprime significativamente a respiração (até estimula resposta ventilatória hipóxica)

Cerebral
 Vaso-constrição cerebral → ↓fluxo sanguíneo cerebral, ↓PIC
 Não reduz o consumo de O2 cerebral (ao contrário de barbitúricos, BDZ e etomidato)
 Altera pouco o EEG
 Potente anti-hemético → Despertar prolongado limita seu uso (0,05mg/kg até máximo de 2,5mg)
 Ação anti-dopaminérgica → Pode precipitar reações extra-piramidais (nistagmos, torcicolo, agitação), que
podem ser tratadas com difenidramina
# Contra-indicado em distúrbios de movimento mediados neurologicamente (p.ex. parkinson)
 Tranqüilizante → Não produz amnésia, analgesia ou inconsciência

Interações medicamentosas
 + levodopa e/ou doença de Parkinson → Droperidol pode precipitar parkinsonismo
 + dopamina → Droperidol antagoniza os efeitos renais da dopamina
 + clonidina → Droperidol pode antagonizar a ação alfa-adrenérgica central da clonidina e causar ↑PA rebote
 Droperidol atenua os efeitos cardiovasculares da cetamina
Usos e dosagens de alguns anestésicos (Morgan)

Comparação entre os efeitos anestésicos dos agentes não-voláteis

Obs.: _2= os efeitos da meperidina e morfina sobre a PAM e broncodilatação dependem da extensão da liberação de histamina

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