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Faculdade de Ciências de Saúde

Curso de Licenciatura em
Farmácia
Cadeira de Toxicologia
4º Ano, 7o Semestre
Conferência 8 e 9
Duração: 100 minutos
TOXICOLOGIA DE
MEDICAMENTOS

Carbamazepina
Barbitúricos
Objectivos de Aprendizagem
Ao final desta aula os estudantes devem ser capazes
de:
 Caracterizar os medicamentos e explicar o seu
comportamento toxicologico;
 Descrever a toxicocinética, toxicodinamica e a
fase clínica dos medicamentos;
 Eleger um tratamento adequado para uma
situação clínica especifica.

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Carbamazepina
Introdução
 A carbamazepina é um antiepilético de uso via oral
com estrutura química semelhante aos
antidepressivos tricíclicos.

 Além do seu efeito no tratamento das crises


convulsivas, também pode ser utilizado no
tratamento de neuralgia do trigémeo e nas
desordens bipolares afectivas.

 Medicamento considerado de primeira linha para o


tratamento da epilepsia, É também utilizado nas
síndromes dolorosas crônicas e distúrbios
psiquiátricos.
Introdução (cont.)
 É um medicamento frequentemente envolvido em
tentativas de suicídio, provavelmente pelo fato de
ser um medicamento amplamente distribuído, e
de forma gratuita, em postos de saúde e hospitais
públicos.

 As intoxicações geralmente são de leves a


moderadas, mas os óbitos são comuns quando
existe associação, principalmente com
medicamentos depressores do sistema nervoso
central ou álcool.
Dose tóxica
 Doses > 10 mg/Kg já podem resultar em nível
sérico acima do terapêutico (4-12 mg/L);

 Menores doses já relatadas em ingestões fatais:


3,2 g (adultos); 1,6g (crianças);

 Níveis séricos de carbamazepina acima de 40


mcg/mL estão geralmente associados a
intoxicações mais graves.
Farmacocinética
 Absorção
◦ Comprimidos: 3 a 12 h; Suspensão oral: 1,5 hora;
◦ Pico de concentração plasmática: 6 a 24 horas.
 Distribuição
✓ Vd: 0,8 a 2 L/Kg;
✓ Ligação Protéica: 76%.
 Metabolismo
◦ Hepático, pelo sistema enzimático do citocromo P450.
 Eliminação
◦ Via renal: 72%; via fecal: 28%;
◦ Meia-vida: Uso inicial: 25 a 65 horas; Uso crônico: 12 a
17 horas.
Toxicodinâmica
 Inativa canais de sódio, inibindo a descarga
neuronal repetitiva no SNC;
 As manifestações tóxicas estão relacionadas
principalmente ao efeito depressor no SNC;

 Semelhante aos antidepressivos tricíclicos, pelo


que possui efeitos anticolinérgicos que podem
reduzir a motilidade intestinal e retardar sua
absorção e, na intoxicação, pode provocar
convulsões e distúrbios do ritmo cardíaco.
Manifestações Clínicas
 O quadro clínico geralmente é prolongado, com duração
média de 48 h.

 Intoxicação leve a moderada:


◦ Náuseas, vômitos, nistagmo, ataxia, hiperreflexia,
distonias, depressão do SNC, taquicardia sinusal e
efeitos anticolinérgicos leves (midríase, delírios)

 Intoxicação grave:
◦ Convulsões, coma, depressão respiratória,
efeitos cardiotóxicos (diminuição da contratilidade
miocárdica, edema pulmonar, hipotensão e arritmias).
Tratamento
 O tratamento é semelhante ao realizado no caso de
intoxicações por antidepressivos tricíclicos, com ênfase
nas medidas gerais e de suporte incluindo a de associação
com outros medicamentos, com indicação de diálise.

 Descontaminação
◦ Lavagem gástrica + carvão ativado devem ser realizados
precocemente, até 2 horas após a exposição. Em
ingestões de pequenas ou moderadas quantidades,
realizar apenas carvão ativado.
Barbitúricos
Introdução
 Os barbitúricos constituem o grupo de drogas com
maior morbi-mortalidade, em comparação com outros
medicamentos, porém, o seu uso como sedativo-
hipnótico diminuiu muito devido à falta de especificidade
de efeitos no sistema nervoso central, ao seu baixo índice
terapêutico, quando comparado aos benzodiazepínicos, e
ao grande número de iterações medicamentosas.

 Mesmo assim, as indicações terapêuticas para o


medicamento restam importantes devido às suas
propriedades anticonvulsivantes e sedativo-hipnóticas.
Fármaco Meia-vida de Duração de Dose hipnótica Nível
eliminação terminal efeito usual usual, adultos tóxico
usual (h) (h) (mg) mínimo
(mg/L)
Ação ultrarrápida
Metoexital 3-5 <0,5 50-120 >5
Tiopental 8-10 <0,5 50-75 >5
Ação rápida
Pentobarbital 15-50 >3-4 50-200 >10
Secobarbital 15-40 >3-4 100-200 >10
Ação intermediária
Amobarbital 10-40 >4-6 65-200 >10
Aprobarbital 14-34 >4-6 40-160 >10
Butabarbital 35-50 >4-6 100-200 >10
Butalbital 35 100-200 >7
Ação longa
Fenobarbital 80-120 >6-12 100-320 >30
Mefobarbital 10-70 >6-12 50-100 >30
Toxicocinética
 A absorção por via oral é completa, porém lenta ao nível
intestinal.

 Eles têm grande afinidade por tecidos com alto teor


lipídico e a ligação com as proteínas é muito variável.

 O metabolismo é hepático, através do sistema


enzimático microssomal, e produz metabólitos inactivos.

 A excreção é renal, e 25% do fenobarbital é eliminado de


forma inalterada na urina. Por esta razão, sua excreção
renal pode ser significativamente aumentada por diurese
osmótica e/ou alcalinização urinária.
Toxicodinâmica (cont.)
 Os barbitúricos deprimem a actividade de todos os
tecidos excitáveis de maneira reversível e o sistema
nervoso central é particularmente sensível à sua acção.

 No sistema nervoso central, em doses terapêuticas, eles


potencializam a acção inibitória sináptica mediada
pelo GABA, principalmente no nível dos canais de cloro.
Doses mais altas podem ser consideradas GABA-
miméticas.

 No sistema nervoso periférico, eles actuam por


depressão selectiva ganglionar e pela diminuição da
excitação nicotínica produzida pelos ésteres da
colinesterase.
Toxicodinâmica (cont.)
 No sistema respiratório, deprimem o impulso
respiratório e os mecanismos responsáveis pelo ritmo da
respiração, com pouco efeito sobre os reflexos
protectores.

 No sistema cardiovascular, doses hipnóticas modificam


pouco a frequência cardíaca e a pressão arterial, porém
doses mais elevadas diminuem a contractilidade
miocárdica e deprimem a musculatura lisa dos vasos.

 No sistema digestivo, os barbitúricos diminuem o tônus


da musculatura de todo o trato gastrintestinal retardando
assim o tempo de esvaziamento gástrico e a velocidade
do transito intestinal.
Manifestações Clínicas
Intoxicação Leve
 Tem como características clínicas o aparecimento de
depressão do nível de consciência, com sonolência e
confusão mental, alterações na marcha, aparecimento de
ataxia e de alterações do equilíbrio;

 A linguagem pode ser incompreensível e alterações


visuais subjectivas podem aparecer.
 O paciente reage quando solicitado, mas de maneira
pouco intensa.
 Os reflexos podem estar diminuídos e observam-se
alterações pupilares ou respiratórias.
Manifestações Clínicas (2)

Intoxicação Moderada
 Cria uma maior depressão do nível de consciência do
paciente, com sono profundo ou torpor;
 Pouca resposta aos estímulos dolorosos, sem resposta
aos comandos verbais;
 Reflexos diminuídos e distúrbios respiratórios leves.
Manifestações Clínicas (3)
Intoxicação Grave
 O paciente apresenta-se em coma geralmente profundo,
podendo ocorrer alterações pupilares de tipo midríase
ou miose, ou alternância desses estados, pupilas fixas ou
fotorreagentes.

 O paciente não reage à dor, seus reflexos tendinosos


diminuem, não há deglutição e graus variados de
depressão respiratória podem ser encontrados.

 Esse estado pode evoluir para uma midríase bilateral sem
reação à luz, parada respiratória, secreção brônquica
excessiva evoluindo com broncopneumonia, hipóxia e
hipercapnia, hipotensão e choque e óbito.
Tratamento (1)
Quando o paciente está em coma, as medidas de suporte
para manter as funções vitais tornam-se
importantíssimas:

▪ Devem ser aspiradas as secreções das vias aéreas, pois


muitos pacientes podem apresentar complicações tipo
pneumonia por aspiração, insuficiência respiratória por
rolha de secreção, etc.
▪ Em alguns casos, há necessidade de entubação e
ventilação mecânica.
▪ A correcção dos desequilíbrios hidro-eletrolíticos é
sempre necessária.
Tratamento (2)
 A hipotensão e o choque podem ser corrigidos com
administração de fluidos endovenosos ou, se for
necessário, aminas vasoativas.
 As medidas físicas dão bons resultados no caso de
alterações de temperatura corporal.
 É necessário identificar infecções secundárias,
principalmente do aparelho respiratório.

 A lavagem gástrica pode ser indicada, no entanto, deve-se


recordar que na intoxicação barbitúrica há,
frequentemente, uma diminuição da velocidade de
esvaziamento gástrico assim como do trânsito intestinal,
o que justifica realizar este procedimento mesmo pode
ser feita mesmo além das primeiras 24 horas após a
ingestão.
Tratamento (3)
 A lavagem gástrica pode ser indicada, no entanto, deve-se
recordar que na intoxicação barbitúrica há,
frequentemente, uma diminuição da velocidade de
esvaziamento gástrico assim como do trânsito intestinal,
o que justifica realizar este procedimento mesmo pode
ser feita mesmo além das primeiras 24 horas após a
ingestão.
 O uso do carvão activado é um procedimento
importante, inclusive com uso de doses múltiplas, visto
que os barbitúricos apresentam ciclo entero-hepatico. As
doses podem ser dadas até de 4 em 4 horas, por um
período de 2 dias.
 O uso de catárticos salinos é útil concomitante ao uso do
carvão activado em doses repetidas.
Tratamento (4)

 O aumento da diurese com alcalinização da urina, através


da administração de bicarbonato de sódio, deve ser
estimulado, pois aumenta sobremaneira a excreção do
fenobarbital.

 O potássio sérico deve ser mantido acima de 4.0mEq/L,


pois a alcalinização não é efectiva na hipocalemia. Desta
forma, é comum o uso de KCl, na solução de glicose a
5% e bicarbonato, durante o procedimento de
alcalinização.
Tratamento (5)
 Pode-se aplicar outros métodos de eliminação forçada: o
aumento da diurese com diuréticos de alça deve ser
utilizado com a alcalinização para evitar complicações,
principalmente nos pacientes que têm as funções renais e
cardiovasculares preservadas.

 Em pacientes com insuficiência renal ou com intoxicação


grave e risco de vida, pode-se indicar a hemodiálise e a
hemoperfusão.
FIM

Prox:. Benzodiazepinas

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