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DEONTOLOGIA E

DIREITO MÉDICO

CASO IV
GRUPO 4.PD2

Duarte Cai-Água – a41012


Joana Costa – a41284
Lola Madeira – a41002
Margarida Ornelas – a41901
Margarida Martins – a41493
APRESENTAÇÃO DO CASO
APRESENTAÇÃO DO CASO

OCORRÊNCIA • Sem se importarem com as suas queixas, a equipa que


realizou a intervenção prosseguiu, entre risos e pequenas
18 horas
• frases proferidas em língua estrangeira - francês.
Início do procedimento cirúrgico, realizado por MM, PG, CM e AP.

• Durante o procedimento, um instrumento caiu no chão,


• No bloco operatório, a Participante questionou um cirurgião sobre o
perdendo as condições de assepsia, tendo sido usado no olho
sucedido com o procedimento de preparação mas este desvalorizou a
da utente apesar disso, devido à falta de material para o
situação.
substituir.

• Quando lhe foram colocadas mais gotas no olho direito, MR queixou-se


• A anestesia não foi bem realizada, tendo a utente sentido o
dolorosamente de que havia alguma coisa de errado mas não foram
instrumento a raspar no seu olho, ouvindo ainda alguém dizer
respeitados o desconforto e a dor enaltecidos pela utente.
que estava em estado de choque e precisava de se acalmar.
APRESENTAÇÃO DO CASO

OCORRÊNCIA
• O estado da utente piorou, pelo, por indicação telefónica, deslocou-se
às urgências, acabando por ser encaminhada de ambulância para o
• MR foi levada para um quarto, queixando-se que não se sentia
Hospital 1, tendo, inevitavelmente, acabado internada e sujeita a
bem a uma enfermeira que desvalorizou a queixa e afirmou que
medicação.
o médico que a operou naquele dia já tinha operado 43 pessoas
(~10h).
• Foi necessário administrar antibiótico no seu olho devido à infeção
e, como sentia fortes dores, foi administrada anestesia geral para se
• Em casa, retirou a venda e verificou que não via corretamente,
proceder à injeção.
mas, apesar das dores, conseguiu adormecer.

• Quando acordou, MR foi informada pelo médico Dr. TM que o seu


• Quando colocou as gotas no olho direito na manhã seguinte,
olho direito estava gravemente infetado e que teria de ser retirado
constatou que tinha a visão muito turva, bem como fortes dores
rapidamente, visto que estava em risco de perder o outro olho e o
de cabeça, e dores na zona do nariz e maxilar.
cérebro, correndo perigo de vida.
CÓDIGO DEONTOLÓGICO

ARTIGO 4º ARTIGO 5º
Princípios Gerais de Conduta Qualidade de Cuidados Médicos

O médico que aceite o encargo ou tenha o dever de atender um


doente obriga -se à prestação dos melhores cuidados ao seu
1. O médico deve exercer a sua profissão de acordo com as leges
alcance, agindo sempre com correção e delicadeza, no intuito de
artis com o maior respeito pelo direito à saúde das pessoas e da
promover ou restituir a saúde, conservar a vida e a sua qualidade,
comunidade.
suavizar os sofrimentos, nomeadamente nos doentes sem esperança
de cura ou em fase terminal, no pleno respeito pela dignidade do ser
humano.

ARTIGO 14º
Dever de Respeito

O médico tem o dever de respeitar a pessoa do doente.


CÓDIGO
CÓDIGODEONTOLÓGICO
DEONTOLÓGICO

ARTIGO 8º ARTIGO 9º
Condições de Exercício Responsabilidade

1. O médico deve exercer a sua profissão em condições que não 1. O médico é responsável pelos seus atos e pelos praticados por
prejudiquem a qualidade dos seus serviços e a especificidade da sua profissionais sob a sua orientação, desde que estes não se afastem
ação, não aceitando situações de interferência externa que lhe das suas instruções, nem excedam os limites da sua competência.
cerceiem a liberdade de fazer juízos clínicos e éticos e de atuar em 2. Nas equipas multidisciplinares, a responsabilidade de cada
conformidade com as leges artis. medico deve ser apreciada individualmente.

ARTIGO 128º
Encobrimento do Exercício Ilegal da
Medicina

1. O médico não pode encobrir, ainda que indiretamente,


qualquer forma de exercício ilegal da Medicina.
RESPONSABILIDADE
DISCIPLINAR
QUEM ESTÁ SUJEITO AO PODER DISCIPLINAR DA ORDEM?
ARTIGO 2.º DAS REGRAS DISCIPLINARES
ARTIGO 2.º DO REGULAMENTO DISCIPLINAR

1. Os membros da Ordem estão sujeitos ao poder disciplinar dos seus órgãos nos termos previstos no Estatuto, no presente anexo e no
regulamento disciplinar.

 Os médicos cirurgiões e o anestesista, membros da Ordem dos Médicos, estão, portanto, sujeitos ao poder disciplinar da Ordem.

ARTIGO 3º EOM

1. São atribuições da ordem:


a) Regular o acesso e o exercício da profissão de médico;
b) Contribuir para a defesa da saúde dos cidadãos e dos direitos dos doentes;
c) Representar e defender os interesses gerais da profissão;
(...)
g) Exercer o poder disciplinar sobre os médicos, nos termos do presente Estatuto;
(...)
RESPONSABILIDADE
DISCIPLINAR

ARTIGO 26º - FORMAS DO PROCESSO

Processo de averiguação – aplicável quando não seja possível identificar claramente a existência de uma infração disciplinar ou o respetivo
infrator, impondo-se a realização de diligência sumárias para o esclarecimento ou a concretização dos factos em causa.
Processo disciplinar – aplicável sempre que existam indícios de que determinado membro da Ordem praticou factos devidamente
concretizados, suscetíveis de constituir infração disciplinar.

No caso em estudo, deve ser aberto um Processo Disciplinar pela Ordem dos Médicos.
Antes do Processo Disciplinar poderia ser conduzido um Processo de Averiguação para concluir acerca de quais os elementos da equipa
médica envolvidos na infração disciplinar.
RESPONSABILIDADE
DISCIPLINAR
REGRAS DISCIPLINARES
ARTIGO 1º- INFRAÇÃO DISCIPLINAR

Infração disciplinar – toda a ação ou omissão que consista em violação por qualquer membro da Ordem, dos deveres consignados no Estatuto
da Ordem, no presente anexos e nos respetivos regulamentos:
•Leve – arguido viola de forma negligente os deveres profissionais;
•Grave – arguido viola com dolo ou culpa grave os deveres profissionais;
•Muito grave – o arguido viola os deveres profissionais, afetado de forma grave a dignidade e prestígio da profissão.

A ocorrência em estudo pode tratar-se de uma infração disciplinar grave ou muito grave.
RESPONSABILIDADE
DISCIPLINAR
ARTIGO 13º - SANÇÕES

Suspensão até ao máximo de 10 anos – é aplicável aos casos de Expulsão – é aplicável:


infrações graves, praticadas com negligência grosseira ou dolo a) Quando tenha sido cometida infração disciplinar com culpa
eventual e consiste no afastamento total dos exercícios da medicina grave que também constituía crime punível com pena de prisão
durante o período de aplicação da sanção, constituindo, entre outros, superior a três anos;
causada de suspensão, as seguintes infrações: b) Quando se verifique incompetência profissionais notária, com
a) Desobediência a determinações da Ordem, quando estas perigo grave para a integridade física e psíquica ou vida dos
correspondam ao exercício de poderes vinculados conferido por pacientes ou da comunidade;
leis; c) Quando ocorra encobrimento ou participação na violação
b) Violação de quaisquer deveres consagrados na lei ou no dos direitos da personalidade dos doentes;
Estatuto e regulamentos da Ordem e que visem a proteção da d) Quando tenha sido cometida infração disciplinar que afete
vida, da saúde, do bem-estar ou da dignidade das pessoas, gravemente a dignidade e o prestígio profissional, retirando
quando não lhe deva corresponder sanção superior; idoneidade ao médico para o exercício da profissão.
c) Encobrimento do exercício ilegal da medicina.
d) Prática de infração disciplinar que também constituía crime
punível com pena de prisão superior a um ano. - como vamos
ver mais à frente, no artigo 150º do Código Penal, o ocorrente neste
caso pode ser punido com pena de prisão até 2 anos.
Pode ser aplicada a sanção de
suspensão ou expulsão.
RESPONSABILIDADE
DISCIPLINAR

ARTIGO 18º APLICAÇÃO DAS SANÇÕES DE SUSPENSÃO E EXPULSÃO

1. O procedimento para aplicação das sanções de suspensão superior a dois anos ou de expulsão pode ser sujeito a audiência pública, nos
termos previstos no regulamento disciplinar.
2. As sanções de suspensão por período superior a dois anos ou de expulsão só podem ser aplicadas por deliberação que reúna a maioria
qualificada de dois terços dos membros do órgão disciplinarmente competente.
RESPONSABILIDADE
PENAL
ARTIGO 150º DO CÓDIGO PENAL

1. As intervenções e os tratamentos que, segundo o estado dos conhecimentos e da experiência da medicina, se mostrarem indicados e forem levados a
cabo, de acordo com as leges artis, por um médico ou por outra pessoa legalmente autorizada, com intenção de prevenir, diagnosticar, debelar ou
minorar doença, sofrimento, lesão ou fadiga corporal, ou perturbação mental, não se consideram ofensa à integridade física.
A atipicidade das intervenções médico-cirúrgicas depende da verificação de 4 requisitos cumulativos:
A) qualificação do agente;
B) intenção terapêutica (diagnóstico e prevenção);
No caso em estudo, deveria ser também
C) indicação médica;
aberto um Processo Penal.
D) realização de acordo com as leis da arte.

2. As pessoas indicadas no número anterior que, em vista das finalidades nele apontadas, realizarem intervenções ou tratamentos violando as
leges artis e criarem, desse modo, um perigo para a vida ou perigo de grave ofensa para o corpo ou para a saúde são punidas com pena de
prisão até dois anos ou com pena até 240 dias, se pena mais grave lhes não couber por força de outra disposição legal.
RESPONSABILIDADE
CIVIL
ARTIGO 483º - PRINCÍPIO GERAL

1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses
alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação.

DL 67/2007, de 31 de Dezembro – Medicina no SNS

Responsabilidade extracontratual do hospital – dano por violação de direitos absolutos e é o lesado que tem de provar que o lesante agiu
com culpa.
Se a responsabilidade for indireta – necessário individualizar o ato do agente-culposo Se o caso ocorreu no SNS, a
responsabilidade é extracontratual,
•Pressuposto de culpa funcional do agente
aplicando-se a responsabilidade
•Responsabilidade solidária do hospital com o médico em caso de dolo/culpa grave solidária do hospital com o médico
porque foi um delito com
•Responsabilidade exclusiva do hospital em caso de mera culpa
dolo/negligência grosseira e não só
DIREITO DE REGRESSO - em casos de dolo e culpa grave do médico; tem natureza vinculativa; mera culpa.
Se a responsabilidade for direta – o hospital responde sem essa mediação.
REFLEXÃO FINAL

O QUE PODERIA TER SIDO FEITO


PA R A E V I TA R A D E N Ú N C I A ?

• A preparação pré-cirúrgica e a anestesia deveriam ter sido bem • Deveriam ter sido dados a importância e o respeito no que à
efetuadas por parte da enfermeira e do anestesista, respetivamente, utente e às suas queixas diz respeito.
sendo estes procedimentos facilitados por um protocolo hospitalar
obrigatório, a cumprir pelos profissionais, e por formações no sentido • Algum dos membros da equipa médica deveria ter alertado os
de os responsabilizar pelo cumprimento do mesmo. restantes para as práticas incorretas da Medicina.

• A existência de protocolo obrigatório de assepsia no Centro Hospitalar • O cirurgião não deveria. ter realizado tantas horas de trabalho
poderia diminuir a incidência destes erros. Também se deve assegurar a naquele dia,. Tal acumulação poderá levar ao burnout e a uma
existência de material suficiente, possibilitando a substituição dos maior incidência de erros na prática médica.
instrumentos mitigando o seu uso indevido.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1. Decreto Lei 117/2015, de 31 de agosto; alterações de 21 de julho de 2016. Código
Deontológico da Ordem dos Médicos. Diário da república, 2ª série

2. Decreto-Lei nº 282/77, de 5 de julho. Estatuto da Ordem dos Médicos. Diário da


República, 1ª série.

3. Decreto-Lei n.º 47344, de 25 de Novembro de 1966 ; atualizado até à Lei n°


117/2019, de 13/09. Código Civil. Diário do Governo n.º 274/1966, Série I.

4. Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de Março de 1995, atualizado até à Lei n°58/2020,


de 31/08. Código Penal. Diário da República n.º 63/1995, Série I-A.

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