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Dayana Debossan Coelho

Lucas Abranches
É doutorada em História da Arte pela Universidade Nova de Lisboa (2001) e pela
Universidade de São Paulo (2005);

É professora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve e


investigadora integrada do CHAM – Centro de Humanidades, da Universidade Nova de
Lisboa;

Integra o corpo docente do Programa de Doutoramento em Patrimônios de Influência Portuguesa do Instituto de


Investigação Interdisciplinar e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra;

Tem desenvolvido pesquisa, sobretudo, nas áreas da história do urbanismo, em especial no âmbito da expansão
portuguesa, história da cartografia e estudos de patrimônio.
“Instituições de memória” = Arquivo Histórico Ultramarino; Biblioteca Nacional
de Lisboa – Cartas Régias, fontes iconográficas.
Tratado de Urbanização da Amazônia Conjunta de
Madri (1750) e do Mato Grosso demarcações de
limites entre as coroas
de Portugal e Espanha

Expansão lusitana a oeste da América do Sul.

Criar governos autônomos nas capitanias através da fundação de vilas;

Cabeça do governo – controle da coroa portuguesa.


 Promoveram uma ampla modernização nas instituições sociais, políticas e
culturais;

 Abertura de caminhos unindo regiões;

 Expulsão dos jesuítas;

 Criação de Companhias (de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, de


Comércio no rio Guaporé);

 Resgate dos índios;

Uma nova política urbanizadora


Transformação das fazendas jesuíticas em aldeias de índios.

Estratégia de controle da população.


 Para além das preocupações de ordem militar: abordagem feita ao território a partir de uma visão jurídica;

 Providência política: incorporar o território ao controle fiscal da Coroa – criação da Vila de Cuiabá;

 Instituição da vila: legitimava o poder administrativo sobre o espaço e regulava a própria vivência.

Submetida hierarquicamente ao centro


de poder (São Paulo), a Vila de Cuiabá

Sem esta, as
autoridades
argumentavam que
a vila tenderia aos
“caos”.
Transformava o Mato Grosso numa
área reconhecida, mas periférica.
Nova vila: papel
de capital da
nascente região
administrativa
Posse do espaço =
defesa da região
O processo de incorporação progressiva do
território no Mato Grosso sustentou-se no
estabelecimento de um suporte político-
Vinculado ao institucional: papel fundamental da vila.
Vila de Mato centro de poder
Grosso = da coroa
ocupação
política do
território Em 1751, Rolim de Moura deu início ao
governo autônomo de Mato Grosso.
Adentrando o território: fazendas e aldeamentos
Desde o século
XVII, Belém
reivindicava Aldeamentos = áreas de ação da soberania portuguesa;
capitalidade natural
sobre a bacia Objetivo: converter os nativos a fé cristã;
amazônica
 Reservas de mão-de-obra;

 Sob a tutela dos missionários: impor a civilização.


“Capital da fluviocracia”

Belém representava uma Mato/ Cidade/


Aldeamento
efetiva centralidade em Não Urbano
relação à bacia: privilegiada urbano
situação geográfica.
Providências portuguesas: fundar através de
colonos açorianos a nova povoação e fortaleza de
Macapá.

Chefiou equipes
técnicas das
demarcação de
Tratado de Utrech (1713): colocava a área na posse
limites na
portuguesa. Porém, o perigo continuava a existir;
Amazônia
Casos de
Coroa requisita medidas a Mendonça Bragança e
Furtado (capitão-geral e governador de Ourém
Belém).
Em 1751 (ano fundação de Macapá),
Rolim de Moura instalava no Mato Grosso
a Vila da Santíssima Trindade, nova
capital da capitania.

“[...] começou
precisamente pela praça, quadrada,
orientada segundo os eixos cardeais, e dos
seus ângulos fez partirem as ruas. Na
praça elegeu um lado para a construção
da residência do governador, outro para a
igreja, outro para a câmara, e outro
ainda para os quartéis. A recomendação
seguinte da carta régia, que insistia
para que se mantivesse o alinhamento das
ruas, foi especialmente considerada”
(ARAÚJO, 2012, p. 47).
Determinações geopolíticas: instalar a Vila Bella do Mato Grosso no rio Guaporé;

Limite entre os domínios português e castellhano = território a leste do rio da Coroa de Portugal e os a oeste
para a Espanha.

A simetria das fachadas: não foi possível num primeiro momento (pobreza dos moradores). Mas com o tempo,
o governador almejava alcançar o “ideal de beleza” (casas todas iguais por fora);

Abertura do Guaporé para navegação: conflitos entre os jesuítas e a coroa portuguesa;

Discutida na metrópole e na colônia – receio de contrabando e do desvio do ouro e receio de serem divulgadas
os segredos da navegação interior da Amazônia. Risco a alfandega do Rio de Janeiro (podendo perder parte de
suas receitas, já que as mercadorias seriam introduzidas pelos sertões).

Controle geoestratégico do território


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Extra!! Abertura do
Extra!! caminho de
A Amazônia entra comunicação
finalmente na rota fluvial entre Pará
comercial
e Mato Grosso

Interrupção da utilização da mão-de-obra indígena e investimentos em


escravos africanos à crédito (ganhos para a Cia).
Processo de ocupação do
território

Mato Espaço dos índios


Cidade

Impossibilitado de abolir as diferenças entre


Espaço dos colonizadores aldeamento e vila, Mendonça opta por abolir o
primeiro.
Aldeamentos: domínio dividido do território entre
coroa e as missões

Urbanidade como elemento civilizacional (ideário


Governador = ação no sentido de unificar o
iluminista: transformar o mato e dominá-lo);
espaço – urbanização do mato
Incorporação do seu território e do seu povo ao
ordenamento urbano;
Medidas pombalinas para a Amazônia

Aldeamentos que
tivesse população
suficiente = elevação à
vila;

Administrador, o
diretor, em cada vila;

Atuação do diretor:
civilizar os índios para
os colonos;

Escala ampla:
urbanizar os sertões
para efetivamente os
incorporar.
Deixa de ser besta!
Não está vendo que
O Pai, obrigado pelas esta medida está a
reformas pombalinas serviço do
para libertar os índios mercantismo?
Que liberdade é
dos Missionários...
essa que proibiu
o uso da língua
Liberdade
materna?
aos índios!
Tipos de intervenções nos aldeamentos

Manutenção da infraestrutura já Projetos específicos para a nova vila


existente – feita pelos
missionários
Filipe Sturm

Desenho para as vilas Serpa e Silves = base de planejamento militar


através de um hexágono regular

Vila na forma de fortaleza – defesa do território

Iluminismo: controle do espaço e da natureza – divisão de lotes em


traçados retilíneos; ruas largas e perpedinculares e uniformização
das fachadas

Ocupação racional do espaço

Geometria – cidade em acrópole (domínio e


controle da paisagem.
 São José do Macapá: grande
empreendimento urbano de Mendonça
Furtado;

 Criação da vila = projeto econômico


(agricultura e pecuária; fomento à
indústria – fabricação de algodão e bichos-
da-seda).

 Engenheiro responsável: Tomas


Rodrigues da Costa

Igreja, câmara e o modelo das casas dos


moradores. Instituiu o Código de Posturas
= reforçar a beleza da regularidade das
fachadas;

Discurso da civilidade – forma regular e bela


vida.
Seguiu critérios de
homenagem: As novas vilas na “selva” receberam os mesmos nomes de vilas e cidades de
grafando o poderio da Portugal;
coroa no espaço;

Praças e ruas –
nomeadas em Duplicação toponímica = reafimar a dominação destas vilas a um espaço que se
atribuição aos queria inquestionável: o português.
homens de poder;

Classificadas por A conversão toponímica: visava eliminar os nomes indígenas dos antigos
tamanho ou aldeamentos.
importância
geográfica.
Mazagão = nome evocativo das conquistas portuguesas do Norte da África.

Praça por mais tempo guardada, melhor fortificada – símbolo da apropriação


material da coroa portuguesa entre 1514 e 1769;

Hostilidade crescente das tribos + ataques: decide o destino dos


povoadores do deserto
Nova ocupação na costa setentrional da Amazônia

Vila de Mazagão
Vila Vistoza Macapá

Mendonça Furtado

Nova Povoação para os mazaganistas no rio Mutuacá;

Engenheiro Domingos Sambucetti: “terreno místico ao lugar


de Santa Ana no rio Mutuacá” – desenhou a vila sobre
povoado já existente (sítio escolhido = ótimo lugar para os
currais);

Origem de Santa Ana: descimento de índios em 1753. A


localização no rio Mutuacá era terceira da povoação,
instalada inicialmente na Ilha de Santana próximo a Macapá
e depois transferida pra as margens do rio Anapecuru.
Macapá Nova Vila de Mazagão Fecha um ciclo na reforma urbana da Amazônia

A própria manutenção do topônimo da praça África denota a memória das conquistas – insiste na linha de homenagem
ao poder régio.

Projeto da nova Vila de Mazagão: acervo documental (desenhos preparatórios sobre a área geográfica, malha,
áreas alagadiças, tipologia das casas) – a grandeza do investimento não coadunava com a humilde povoação
dos índios.

O lugar de Santa Ana Resistências:


foi desprezado pelo insalubridade do clima,
engenheiro, que seus méritos guerreiros
desenhou a malha da não compatibilizava com
vila desconsiderando a o papel de agricultores
povoação indígena
Dialogando com Aroldo Azevedo
(1956)
Obrigada pela atenção!

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