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Química e Física dos Materiais II

Ano lectivo 2011/2012

Óleos, gorduras e ceras

Departamento de Química e Bioquímica


Os óleos e as gorduras são materiais de origem animal ou vegetal,
ou, mais recentemente, de origem mineral, usados nos museus para
o tratamento de peças muito diversa, com o objectivo de as proteger
da humidade e outros agentes agressivos.

Estes materiais também surgem em algumas estações arqueológicas


pois foram usados ao longo do tempo para iluminação e como
lubrificantes.

Um caso particular da utilização de um certo tipo de óleos vegetais é


a pintura a óleo, em que este material orgânico é usado como
veículo dos pigmentos
Óleos e gorduras

Óleos e gorduras são quimicamente idênticos: são ésteres do glicerol e de


ácidos gordos.
Glicerol: é um propanotriol, ou seja tem um esqueleto de carbono formado por 3
átomos de carbono e um grupo hidroxilo (OH ) ligado a cada um dos átomos de
carbono(tem portanto 3 grupos hidroxilo).

Ácido gordo: Um ácido gordo é um ácido carboxílico cuja cadeia carbonada é


formada por 4 a 36 átomos de carbono
R-COOH
A cadeia pode estar totalmente saturada ou pode conter insaturações. Em geral as
duplas ligações presentes têm uma geometria cis.

R-(CH2)m-CH=CH-(CH2)n-COOH m,n0

Nos ácidos gordos de origem natural, em geral, sempre que esteja presente mais do
que uma dupla ligação, essas duplas ligações estão separadas por um grupo
metileno.
R-(CH2)m-CH=CH-CH2-CH=CH-(CH2)n-COOH m,n0
metileno
Estrutura do glicerol , dos ácidos esteárico e oleico e de um triglicérido
HO OH
glicerol
OH

ácido esteárico
HO

HO
ácido oleico
O
O

triglicérido O

O O

O
Os ácidos gordos fazem parte de uma
grande classe de compostos químicos
chamada de lípidos. Segundo uma
definição antiga, mas que ainda é
utilizada, lípidos são substâncias
apolares que se dissolvem em Óleos e das gorduras são lípidos
solventes apolares simples. Não existe diferença do ponto
de vista químico entre óleos e gorduras.
A diferença é um pouco arbitrária uma
vez que se chamam óleos às substâncias
líquidas à temperatura ambiente e
A maior parte dos óleos vegetais são gorduras às substâncias sólidas a essa
líquidos à temperatura ambiente e a mesma temperatura
maior parte das gorduras animais são
sólidas. Há contudo excepções como a
manteiga de cacau de origem vegetal
que é sólida à temperatura ambiente e o
óleo de fígado de bacalhau que, como o
nome indica, é líquido. A temperatura
de fusão de óleos e gorduras é uma
consequência das temperaturas de
fusão dos ácidos gordos que entram na
sua constituição
Nomes correntes e sistemáticos dos ácidos gordos mais comuns
Fórmula Nome sistemático Nome corrente

C8H16 O2 Ácido octanóico Ácido caprílico

C10H20 O2 Ácido decanóico Ácido cáprico

C12H24 O2 Ácido dodecanóico Ácido láurico

C14H28 O2 Ácido tetradecanóico Ácido mirístico

C16H32 O2 Ácidohexadecanóico Ácido palmítico

C16H30 O2 Ácido 9-hexadecenóico Ácido palmitoleico

C18H36 O2 Ácido octadecanóico Ácido esteárico

C18H34 O2 Ácido 9-octadecenóico Ácido oleico

C18H32 O2 Ácido 9,12 octadecadienóico Ácido linoleico

C18H30 O2 Ácido 9,12,15-octadecatrienóico Ácido linolénico

C18H30 O2 Ácido cis,trans,trans-9,11,13- Ácido -elaeoesteárico

octadecatrienóico

C18H34 O3 Ácido 12-hidroxi-9-octadecenóico Ácido ricinoleico

C20H32 O2 Ácido 5, 8, 11, 14-eicosatetraenóico Ácido araquidónico


Nº de
átomos p.f
Fór mula Nome Carbon .
o
Ácico 6 -3
HO2C
capróico
Ácico 8 17
HO2C
caprílico
Ácico 10 31
HO2C
cáprico
Ácico 12 44

Estrutura e p.f. de
HO2C
laurico
Ácico 14 58

alguns ácidos gordos HO C2


mirístico
Ácico 16 63
mais comuns HO C
2
palm ític
o
Ácico 18 70
HO2C
esteáric
o
Ácico 18 4
HO2C
oleico

Ácico 18 -
HO2C
linoleico 12

Ácico 18 -
HO2C
linolénic 11
o
Óleos e arte

A utilização de certos óleos vegetais como veículo de pigmentos remonta à


Antiguidade clássica. No entanto o grande incremento na utilização deste tipo de
material foi dado pelo pintor flamengo Jan van Eyck (1390-1441) que aperfeiçoou a
forma de utilizar os materiais que já eram conhecidos. Os óleos utilizados na
pintura “a óleo”, para além de serem o veículo dos pigmentos a aplicar, possuem a
característica de se transformarem num relativamente curto espaço de tempo,
passando de um líquido inicial a um fino filme sólido que fixa o pigmento.

Os óleos mais apropriados são formados por triglicéridos resultantes da


esterificação de ácido gordos poli-insaturados. O processo de secagem de um óleo
envolve numerosas reacções químicas sendo iniciado pela oxidação de uma posição
alílica de um ácido gordo pelo oxigénio do ar, dando origem a um radical peróxido
que rearranja noutras estruturas mais complexas.
Embora outros óleos, como os de noz e o de papoila, tenham sido ao longo dos
tempos utilizados pelos artistas o mais corrente é o óleo de linhaça, que é
extraído das sementes do linho. Este óleo é particularmente rico em ácido
linolénico que, por possuir 3 insaturações possui também várias posições
alílicas susceptíveis de sofrer oxidação e consequentemente é capaz de formar
ligações cruzadas mais facilmente
Nº de
átomos p.f
Fór mula Nome Carbon .
o

HO2C
Ácico
capróico
6 -3
Ácido oleico
Ácico 8 17
HO2C
capr ílico
Ácico 10 31
HO2C
cáprico
Ácico 12 44
HO2C
laur ico
Ácico 14 58
HO2C
mirístico
Ácico 16 63
HO2C
palm ític
o
Ácico 18 70
Ácido linoleico
HO2C
esteár ic
o
Ácico 18 4
HO2C
oleico

Ácico 18 -
HO2C
linoleico 12

HO2C
Ácico
linolénic
18 -
11 Ácido linolénico
o
Composição em ácidos gordos dos óleos mais utilizados
em pintura

Óleo Ácidos gordos (%)

palmítico esteárico oleico linoleico linolénico

Linhaça 4-10 2-8 10-24 12-19 48-60

Papoila 9-11 1-2 11-18 69-77 3-5

Noz 3-8 0.5-3 9-30 57-76 2-16


O filme sólido final resulta de várias ligações cruzadas entre as cadeias acilo dos
triglicéridos, formando no final uma rede complexa que dá resistência mecânica
ao filme assim formado.

A B
Representação esquemática das alterações sofridas por um óleo ao
longo do tempo:
A - Inicialmente as moléculas do óleo encontram-se separadas umas
das outras;
B - Ao fim de um certo tempo surgem as primeiras ligações entre as
moléculas de triglicéridos;
Reacções dos ácidos gordos e dos seus ésteres
A saponificação

A reacção que dá origem à produção de sabões é, por ventura, uma das mais
antigas que utiliza óleos e gorduras como matéria-prima. Baseia-se no facto
de que os triglicéridos que formam os óleos e as gorduras reagem com a água
para darem origem ao glicerol e aos ácidos gordos que os constituem.

A reacção pode sofrer catálise ( ou seja a sua velocidade ser aumentada)


por ácidos ou por bases. Quando a reacção é catalisada por bases,
nomeadamente hidróxido de sódio (soda cáustica) ou potássio, toma o
nome de saponificação pois é este o processo utilizado na produção do
sabão..

O sabão comercial é a mistura de sais de sódio (ou de potássio) de ácidos gordos, e


é obtido quando de faz a hidrólise básica de gorduras, em geral de origem animal
Representação esquemática das alterações sofridas pelo filme
de óleo resultantes da reacção de hidrólise dos triglicéridos a
ácidos gordos livres
Ceras
Os ácidos gordos, na forma de ésteres, são os constituintes principais
das ceras naturais .

As substâncias são altamente insolúveis em meio aquoso e à


temperatura ambiente apresentam-se sólidas.

Nos animais pode ser encontrada na superfície do corpo, pele, e


penas.
Nos vegetais as ceras cobrem a epiderme de frutos, folhas e caules e,
juntamente com a suberina, evitam a perca de água por evaporação.
Composição

As ceras são misturas bastante complexas formadas por ésteres de


ácidos gordos com um comprimento da cadeia carbonada variável
e alcoóis também de cadeia comprida, conforme a origem.

Nas ceras os ácidos estão esterificados com alcoóis de cadeia carbonada


comprida, por exemplo o alcool cetílico (C16H13OH).

Em geral também se encontram presentes hidrocarbonetos de cadeia


longa lineares ou ramificados.
Na lanolina estão também presentes ésteres do colesterol e do lanosterol
(ambos esteróides)
Ceras mais utilizadas

De origem animal:

cera de abelhas (obtida dos favos


de mel)

lanolina (material gorduroso


que acompanha a lã dos carneiros)
De origem vegetal:

Carnaúba , também chamada de cera


do Brasil ou de palma , é extraída das
folhas da palmeira Copernicia
prunifera, uma planta nativa do
nordeste brasileiroe que cresce apenas
nesta zona
Candelila, obtida das folhas de um
pequeno arbusto originário do México e
do sudoeste dos Estados Unidos
(Euphorbia cerifera e Euphorbia
antisyphilitica)
De origem mineral:
A parafina é um derivado do petróleo de alta
pureza, excelente brilho e cheiro reduzido,
Possui propriedades termoplásticas e de
repelência à água e é usada para a proteção de
embalagens de papelão, na indústria alimentar e
em revestimento de qeijos e frutas. Por ser
combustível, é autilisada no fabrico de velas.
Funde entre 58°C e 62°C.

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