Você está na página 1de 104

OS MÉTODOS DO SERVIÇO SOCIAL

As especificidades do método em Serviço Social


 Em Serviço Social o conceito de método torna-se, com
demasiada frequência, ambíguo. Isto acontece devido à comum
utilização de duas aceções distintas do método: por um lado,
entendendo-o como um procedimento sistemático, organizado e
científico, remetendo para as questões do estatuto do Serviço
Social, no âmbito das ciências sociais, e, por outro lado,
percebendo-o enquanto estratégia de abordagem das situações
sociais, aceção que foi, muitas vezes acusada, de refletir uma
“confusão entre método e sujeito (os denominados métodos de
caso, grupo ou comunidade)” (Caparrós e outros 1997: 18)
 Todavia, longe de serem antagónicas estas aceções são,
como defende Kisnerman, complementares:
 “O método em trabalho social é como um caminho
analítico-sintético em direção ao objeto de intervenção,
para conhecer e transformar, num processo permanente
de investigação, que realimenta a intervenção
transformadora, na medida em que verifica alternativas de
Acão, que permitem a modificação das condições em que
se produzem os problemas sociais (kisnerman 1998: 13).
 Nesta medida, o método é importante não apenas como
garantia de uma prática ordenada e sistemática, que
responda de forma mais adequada aos problemas
sociais, mas como caminho para a investigação sobre
essa prática, permitindo a (re)definição de um corpo
teórico próprio.
 Ao afirmar este desígnio, o Serviço Social reforça a sua
dimensão de prática-teórica, no sentido em que
apresenta um verdadeiro propósito de combinar o estudo
e a investigação, para criar uma base de conhecimentos
utilizável e acessível na intervenção profissional
(Viscarret 2007).
OS MÉTODOS DO SERVIÇO SOCIAL

Os métodos clássicos
 Nesta última perspetiva, relativa às estratégias clássicas
de abordagem das situações sociais, distinguem-se três
tipos de métodos:
 Serviço Social de casos;

 Serviço Social de grupos; e

 Serviço Social de comunidades

que se diferenciavam, em primeiro lugar, em função dos


clientes dessa intervenção.
 Estes três métodos clássicos do Serviço Social têm um
objetivo comum de promoção da capacidade (individual,
grupal e comunitária) de desenvolvimento.
 Na prossecução deste grande objetivo propõem-se:
 identificar áreas de conflito com o meio e promover a
mudança para evitar esse conflito;

 estimular e promover as potencialidades de todos; e

 ajudar à resolução de problemas, desequilíbrios e


obstáculos à realização.
 Considerando uma classificação binária dos problemas
sociais, fundada nas teorizações de Wright Mills e
proposta por Barbero Garcia (2004), é possível distinguir
duas grandes tipologias de problemas sociais: os
problemas pessoais e de conjuntura e os coletivos e de
estrutura social.
 Todavia, a realidade, na sua complexidade, torna difícil a
exata delimitação de uns e outros, pelo que resulta
preferível pensar a intervenção social como um
continuum, que parte da intervenção individual e chega à
intervenção comunitária, tornando clara a partilha e
comunhão de objetivos e propostas entre as três
estratégias clássicas de abordagem das situações
sociais.
 Problemas Sociais de Intervenção (Garcia 2004)
Problemas pessoais e de Problemas coletivos e
conjuntura próxima de estrutura social

A sua resolução depende


A sua resolução é
do indivíduo e da
sociopolítica
envolvente próxima

Indivíduo Família Grupo Comunidade Sociedade

Serviço Social de
Serviço Social de Casos Serviço Social de Grupos
Comunidades
 Segundo Lima (1989), na década de 1950, o Serviço
Social atingira já o desenvolvimento pleno do método de
casos, ao mesmo tempo que assistia ao processo de
fundamentação teórica e de adequação do método de
grupos e ao incremento do método de organização
comunitária, este último, privilegiado nas intervenções
ligadas ao desenvolvimento rural e de áreas social e
economicamente mais desfavorecidas.
 Este processo evolutivo coloca em evidência a
existência, no Serviço Social, de dois enfoques
fundamentais na sua abordagem da realidade social – o
enfoque psicológico e o enfoque comunitário (Caparrós
1997).
O primeiro destes enfoques concentra-se nos problemas de
satisfação das necessidades dos indivíduos e nos problemas
de relação entre os indivíduos e os diferentes grupos sociais.
De início, consubstanciou-se numa abordagem
eminentemente psicológica mas, pouco e pouco, foi
integrando elementos e fatores de ordem social que
conduziram a que se começasse a falar num enfoque
psicossocial. Quanto ao enfoque comunitário concentra-se,
sobretudo, nas relações intergrupais e nas necessidades
 Se do ponto de vista das práticas de interpretação, a
evolução foi mais precoce, a produção teórica relativa à
metodologia do Serviço Social só conheceu um
verdadeiro incremento na década de 1990, refletindo a
admissão da centralidade do esquema prática-teoria-
prática, no processo científico em Serviço Social.
 Como produtos de reflexão acerca da prática profissional, emergem dois
elementos fundamentais:

 em primeiro lugar, uma tentativa de substituição terminológica e


conceptual que, em lugar de método, prefere falar de níveis e atuação.

 em segundo, a afirmação da necessidade de superar a própria divisão


tradicional, definida pelos níveis de atuação, no reconhecimento e
epistemológica do Serviço Social, legitima uma multiplicidade de
alternativas de intervenções com casos, grupos ou comunidades, e
apela à afirmação de um novo referencial metodológico, integrado e
consubstanciando em métodos de intervenção (Viscarret 2007).
OS MÉTODOS DO SERVIÇO SOCIAL

Serviço Social de casos


 Sendo até hoje um dos pilares da intervenção social, o
Serviço Social de casos constitui grande estratégia de
abordagem dos problemas sociais dos primórdios do
Serviço Social, na tradição das práticas ancestrais de
ajuda, herdadas da história da assistência social.
 Esta evidencia leva a que Vicarret defenda que “as
raízes do Serviço Social de casos são as próprias raízes
do Serviço Social”
A evolução do Serviço Social de casos, no que
significou de progressiva adoção de novos
conhecimentos e práticas, conduz a dificuldades, no
momento de apresentar uma conceptualização que
traduza a essência própria deste método de trabalho
social.
 Pese embora o reconhecimento desta dificuldade, Moix
propõe a seguinte definição de Serviço Social de casos:
É um método de ajuda baseado num corpo de
conhecimentos, na compreensão do cliente e dos seus
problemas e na utilização de técnicas específicas, que
procura ajudar os indivíduos a ajudarem-se. É cientifico,
na medida em que os seus conhecimentos deveriam da
ciência e é artístico, na medida em que o seu exercício
deve constituir uma verdadeira arte (Moix 1991: 313).
A designação casework terá sido utilizada, originalmente
por Charles Loch, na década de 1880, que, com ela,
pretendia ilustrar o processo de individualização do caso
e de promoção de ajuda individual.
 Todavia, esta designação não parece, de início, ter sido
consensual entre os pioneiros do trabalho social, que
nela viam uma evidente conotação paternalista, pelo que
só com Mary Richmond se reabilita o conceito de
 De facto, e com claras influências da psiquiatria, foi
Richmond, e com a publicação da sua obra Diagnóstico
Social, que o Serviço Social de casos conheceu o
grande desenvolvimento, enquanto método de
intervenção composto por três grandes etapas: o estudo,
o diagnóstico e o tratamento.
 Considerava Richmond que o estudo permite o
apuramento de factos e dados da vida do cliente,
suscetíveis de condicionar as suas dificuldades pessoais
e sociais. Quanto ao diagnóstico, consiste na
interpretação dos elementos previamente apurados.
Finalmente, o tratamento, sempre fundado no estudo e
no diagnóstico precedentes, traduz-se na eliminação das
dificuldades identificadas.
 Nas teorizações e na prática profissional pioneiras do
Serviço Social, a abordagem individualizada passou a
traduzir a verdadeira essência da prática de ajuda, em
muito por influência da medicina e da abordagem
terapêutica, evidente na própria terminologia utilizada
para designar as dimensões do processo de intervenção.
 Desde a sua génese que o Serviço Social de casos
assumiu como grande objetivo conhecer e melhorar
 Para o conseguir defendia uma intervenção casuística
(situação a situação) e personalista (centrada no
indivíduo), orientadas ambas quer para as relações que
o indivíduo estabelece com a sociedade quer para os
trações da sua personalidade individual.
 Ao concentrar atenções nessa ralação indivíduo/meio, o
Serviço Social pôs em evidencia a questão da origem
social dos problemas, ao mesmo tempo que destacou a
importância da rede social formal (instituições sociais,
trabalhando em coordenação) e informal (interações
sociais diversas, família. Amigos, vizinhança…) na
superação dos problemas.
 Por outro lado, ao assumir a orientação personalista da
sua intervenção, o Serviço Social apresentou o cliente
como agente central da relação de ajuda, motivando-o e
apoiando-o no desenvolvimento e mobilização dos seus
próprios recursos internos para ultrapassar as suas
dificuldades e para consolidar o processo de mudança.
A consolidação desta orientação personalista, fundada
no sentido do absoluto respeito pela dignidade e valor do
cliente, terá sido determinante para a passagem de uma
influência cativa do trabalhador social sobre o seu cliente
a uma atitude de colaboração com o cliente, para que
este resolva os seus problemas da forma por si mesmo
escolhida (Moix 1991: 311 – 312).
 Se com Mary Richmond o enfoque individual completava
uma forte atenção relativamente ao contexto e ao meio
social, enquanto elementos centrais para o diagnóstico e
tratamento das situações, as evoluções posteriores da
abordagem de casos, por serem marcadamente
influenciadas pelos desenvolvimentos ao nível da
Psicologia e, mais especificamente, ao nível da psicanálise,
foram no sentido da crescente centralidade dos problemas
psicológicos e emocionais do cliente (Friedlander 1989).
 Numa nova fases da abordagem de casos, comummente
designada por psicodinâmica, o Serviço Social reorienta-se para a
compreensão das necessidades psicológicas do indivíduo, como
ponto de partida para a compreensão das suas necessidades
sociais.
 Nesta reorientação, o Serviço Social assumiu-se como o
instrumento capaz de desencadear um processo de relação e
comunicação positivas que, recorrendo a técnicas e conhecimento
adequados, facilitaria a mobilização dos indivíduos e dos seus
recursos, no enfrentamento dos problemas e dificuldades.
OS MÉTODOS DO SERVIÇO SOCIAL

Serviço Social de grupos


 Se o Serviço Social de casos fundamenta a sua
intervenção no contacto pessoal entre o profissional e o
utente, como forma de promoção da mudança e de
resolução dos problemas, o Serviço Social de grupos
assenta a sua ação na vivência de grupo, enquanto meio
de promoção de desenvolvimento dos indivíduos e do
próprio grupo, em prol do interesse social global
(Viscarret 2007).
É nesta linha que sublinhamos o conceito de Serviço
Social de grupos proposto por Gisela Konopka que o
define como:
 Um método de Serviço Social que ajuda os indivíduos a
melhorar o seu desempenho social, através de
experiências construtivas em grupo, e a enfrentar, de
forma eficaz, os problemas pessoais, de grupo ou de
comunidade (Konopka 1989).
 Embora as teorizações acerca do trabalho social com
grupos só tenham conhecido o desenvolvimento a partir
de meados da década de 1930, mais uma vez a prática
precedeu a teoria, dado que, como sublinha Moix, os
fundamentos do trabalho social com grupos já estavam
presentes em muitas iniciativas de índole social na
Inglaterra vitoriana, nomeadamente, nos Settlements
(Moix 2007).
 Na sua prática quotidiana, os trabalhadores sociais
foram, gradualmente, tomando consciência da
importância dos grupos para ajudar os indivíduos a
participar nas suas comunidades, para dar sentido à vida
das pessoas ou para servir como apoio. Começaram,
igualmente, a observar que os grupos podiam ajudar os
indivíduos a adquirir competências sociais, ao mesmo
tempo que constituíam um instrumento útil para a
resolução de problemas (Viscarret 2007).
As primeiras reformulações teóricas de relevo,
acerca do Serviço Social de grupos, segundo
Moix (1991) apresentadas por Grace Coyle em
1939. Nestas formulações dominavam as análises
ao próprio processo e dinâmica grupais, cuja força
era definida como marcadamente favorável à ação
social construtiva.
O grupo afirma-se, assim, como um instrumento
que permite a prossecução de um duplo objetivo,
promovendo, em simultâneo, o desenvolvimento
pessoal de cada um dos seus membros e o
desenvolvimento social do próprio grupo.
 Ao considerar o grupo como um meio estratégico no qual se
aprendem ou modificam as relações que o indivíduo estabelece
com a sua envolvente social (Barbero Garcia 2004), o Serviço
Social de grupos proporciona um contexto de ajuda mútua, pelo
que pode ser considerado uma metodologia de intervenção
simultaneamente individual e coletiva.
 No seu processo evolutivo, o Serviço Social de grupos foi
objeto de influências teórico-científicas distintas e adotou
modelos de prática profissional, igualmente diferenciados.
 Em todo o caso, nesta evolução resulta claro que o centro de
interesse das metodologias conhecidas como Serviço Social
de grupos radica nos grupos socioterapêuticos e
socioeducativos (Barbero Garcia 2004).
 As metodologias socioterapêuticas e socioeducativas têm
objetivos específicos, sendo possível destacar, nas primeiras,
o combate ao isolamento e à exclusão, o enfrentamento de
crises ou a reabilitação e, nas segundas, a aprendizagem, a
orientação comportamental ou a informação.
No que respeita à prática da intervenção com
grupos, Friedlander (1989) identifica numa
sucessão de etapas, em tudo semelhante ao
Serviço Social de casos, designadamente, o
estudo social do grupo, o diagnóstico social e o
tratamento.
 No entanto, numa proposta que se pretende em maior
conformidade com prática atual do trabalho social com grupos,
muito ligada à revitalização deste método de intervenção
durante a década de 1990, Garvin (citado por Viscarret 2007)
prefere falar de uma prática composta por quatro etapas:
 1) fase pré-grupal (preparatória)
 2) a fase de formação do grupo
 3) a fase de ação com vista a objetivos
 4) a fase de avaliação.
 No trabalho com grupos, o trabalhador social deve
desempenhar algumas funções específicas, como sejam, a de
interlocutor para os diferentes membros do grupo; a de
facilitador das interações entre os membros do grupo; a de
estimular e apoiar na prossecução de objetivos individuais e
grupais; a de interpretar as dinâmicas do grupo e os seus
significados; a de planificar, preparar e calendarizar as
atividades do grupo; a de orientar essas tarefas; a de
estabelecer limites e regras; e, finalmente, a de avaliar o
 Para realizarem estas diferentes funções, diremos que
os grandes desafios do trabalho social com grupos se
relacionam com a eficácia na constituição dos grupos, ao
nível da seleção e motivação dos membros do grupo,
com a elaboração dos diagnósticos, e com a condução
das sessões grupais, ao nível das dinâmicas de
funcionamento e da realização de atividades.
 Do ponto de vista dos objetivos do Serviço Social de
grupos, Hartford (citada por Moix 1991) identifica dois
grandes tipos:
 os objetivos relacionados com os membros do grupo,
como, por exemplo, a reabilitação ou o desenvolvimento
individual; e

 os objetivos relacionados com a mudança social, que se


relacionam com o grupo enquanto agente dessa mudança.
OS MÉTODOS DO SERVIÇO SOCIAL

Serviço Social de comunidades


O Serviço Social de comunidade ou intervenção
comunitária, enquanto método de Serviço Social têm, na
sua raiz mais remota, uma vontade de resposta a um
conjunto de problemas concretos gerados pela
industrialização e pela urbanização.
 Moix (1991) marca como o momento do nascimento do
Serviço Social de comunidades a apresentação, ao
Congresso norte-americano de Serviço Social de 1939,
 Neste Relatório afirmava-se, explicitamente, a tentativa
de sistematização e de fundamentação do método da
organização comunitária e da sua afirmação como
metodologia de intervenção social, cujo objetivo seria
criar e manter uma articulação eficaz entre as
necessidades sociais e os recursos disponíveis.
A crescente relevância da organização comunitária nos
EUA causou também impacto na Europa, o que, em
larga medida, terá estado relacionado com as
preocupações com o desenvolvimento económico e
social dos territórios em processo de descolonização, e
terá conduzido ao desenvolvimento e implementação de
metodologias de intervenção comunitária,
particularmente orientadas para estes países.
A intervenção comunitária foi, igualmente, reforçada
pelas iniciativas da ONU na década de 1940, e dirigidas
à promoção da melhoria das condições de vida nos
países subdesenvolvidos. A associação entre a
intervenção comunitária e o progresso económico social
participado, fica consagrado nas várias resoluções
aprovadas durante essa década pela Organização das
Nações Unidas.
 Apesar do desenvolvimento concomitante de intervenção
comunitária nos EUA e na Europa, alguns dos autores como De
Robertis (1994) consideram necessário estabelecer algumas
distinções.
 Assim, enquanto nos EUA a organização comunitária se afirma
desde a origem como uma metodologia próprio do Serviço
Social, nascida no âmbito próprio do Serviço Social, na Europa, o
desenvolvimento comunitário nasce fora do âmbito do Serviço
Social, sendo objeto de apropriação posterior, no âmbito do que
veio a designar-se por Serviço Social de comunidades.
A legitimação do Serviço Social de comunidades, como
método próprio do Serviço Social, orientado para a
solução de problemas ao nível comunitário, ocorre a
partir da segunda metade do século XX, sendo objeto de
aprofundada teorização por vários autores.
 Friedlander, que inclui a organização comunitária nos
métodos clássicos do Serviço Social, define-a como:

O processo próprio do Serviço Social destinado a


estabelecer um ajustamento cada vez mais eficaz entre as
necessidades de bem-estar social e os recursos da
comunidade, dentro de uma dada área geográfica
(Friedlander 1989).
 Para além do que resulta estabelecido no conceito
proposto por Friedlander, surge como consensual entre
os vários autores a necessidade de sublinhar o processo
de participação da comunidade, numa dinâmica da ação
coletiva, nesse ajustamento entre necessidades e
recursos. Assim, a intervenção comunitária é,
simultaneamente, um processo educativo – para a
mudança – e organizativo – da ação coletiva.
 Ao Serviço Social cabe o papel de ajuda a essa participação e o
papel de mediação entre as comunidades locais e as
autoridades, para prossecução dos objetivos de incremento do
bem-estar social.
 De igual modo, e porque a comunidade é um sistema social
onde interagem indivíduos e grupos, importa ter presente que
o âmbito comunitário é, simultaneamente, o âmbito individual
e, sobretudo, grupal, sendo a intervenção comunitária
realizada, fundamentalmente, através do trabalho com os
A prática da intervenção comunitária regeu-se, ao longo
da sua evolução, por duas grandes orientações,
identificadas por Twelvetrees (1985):

Em primeiro lugar, uma orientação técnica, assente no


reconhecimento de um espaço profissional próprio do
Serviço Social comunitário, dominado por valores de
técnica e eficiência e consubstanciando em funções de
gestão e organização de recursos.
 Em segundo lugar, uma orientação marxista que perspetiva a intervenção
comunitária como uma forma de despertar e dinamizar identidades e
organizações de classes, consubstanciada em funções de consciencialização e
mobilização.
 Resulta deste modo clara uma dimensão sociopolítica subjacente à
intervenção comunitária e que foi reforçada, em grande medida, pela
teorização e prática do Serviço Social latino-americano e pelo movimento de
reconceptualização do Serviço Social da década de 1970. Neste sentido, no
processo de abordagem a problemas e situações de caráter coletivo, o
Serviço Social de comunidades deve promover a organização e a ação
associativa.
 Desta forma, não apenas se lograrão mudanças efetivas no
meio, como também se apoiará a comunidade, como um todo,
na aquisição e no desenvolvimento de competências e
estratégias, orientadas para a melhoria das suas condições de
existência.
A metodologia da intervenção comunitária assenta em quatro
dimensões fundamentais: o conhecimento da comunidade (suas
caraterísticas, problemas e potencialidades); a programação
das ações; a ação social; e, finalmente, a avaliação da
 Nesta metodologia de intervenção comunitária,
constituem funções do trabalhador social:
 Contatar com indivíduos e verificar as suas necessidades.

 Reunir os indivíduos promovendo a discussão acerca das


necessidades e motivando-os para a ação.

 Apoiar na definição de objetivos gerais para a


comunidade.
 Dinamizar a criação e manutenção de uma organização
coletiva, orientada para a prossecução dos objetivos
definidos.

 Apoiar na definição de estratégias de ação.

 Apoiar na divisão de tarefas e na sua realização.

 Promover a comunicação no conjunto da comunidade


(Twelvetrees 1985).
 Assim, para realizar intervenção comunitária, os grandes
desafios técnicos que se colocam aos trabalhadores sociais
predem-se com o desenvolvimento de algumas competências
básicas, como sejam: a capacidade de diagnosticar
necessidades e potencialidades no todo comunitário,
definido e clarificando objetivos e prioridades; a capacidade
de mobilizar e manter a ação coletiva, organizando essa ação
e repartindo tarefas; ou, ainda, a capacidade de gerir as
relações interpessoais e os eventuais conflitos.
 Considerando as grandes áreas de aplicação atual deste
tipo de intervenção nos países europeus, elas situam-se
nas iniciativas de promoção das comunidades locais,
designadamente, no âmbito dos Programas Comunit´rios
de Apoio.
 Ao promover o desenvolvimento das comunidades locais
mais periféricas ou excluídas, a intervenção comunitária
contribui para atenuar as injustiças geradas pela
globalização, abrindo vias, social e democraticamente
válidas, de equilíbrio entre o global e o local (Viscarret
2007).
O MÉTODO INTEGRADO DE INTERVENÇÃO
Na análise aos designados métodos tradicionais do Serviço
Social verifica-se que esses métodos se distinguiram, em
primeiro lugar, pelo utente, ou utentes, com quem se
realizava o trabalho social.

A gradual evolução dos métodos tradicionais, a par com a


crescente complexificação teórica e epistemológica, a partir
de finais da década de 1960, determinaram a procura de um
método de intervenção único.
 Pretendia-se que este método fosse integrador dos
objetivos e propostas dos três modelos clássicos e que
pudesse resultar mais flexível e capaz de dar resposta à
natural interdependência entre situações individuais,
grupais e comunitárias. O método de intervenção permite,
justamente, esta abordagem integradora e holística.
 Tratava-se, ainda, de procurar um enfoque que, centrando-
se no conceito de intervenção, fosse capaz de evidenciar o
conjunto de ações e estratégias desencadeadas pelo
trabalhador social para modificar a situação do(s) seu(s)
utente(s), em função das situações e problemas concretos,
independentemente de se tratar de um indivíduo isolado,
um grupo ou uma comunidade.
O conceito de intervenção revela-se, com efeito, muito mais
adequado às práticas de Serviço Social com grupos e com
comunidades, comparativamente às referencias concetuais
que o antecederam.
Como consequência deste novo enfoque, a mudança
converte-se num elemento central do método de
intervenção, o que não obsta a que, no próprio Serviço
Social, se tenham afirmado profundas divergências no que
toca à dimensão e implicações dessa mudança. Assim,
enquanto para a perspetiva conservadora do Serviço Social, a
mudança significa reforma em áreas determinadas da
organização social, para a perspetiva radical, a mudança
significa a transformação total dessa organização social.
O método de intervenção afirmou-se, claramente, numa
lógica de oposição à influencia ainda vigente do método
clínico que marcava a prática do Serviço Social, já desde a
sua génese.

Na verdade, é o próprio conceito de intervenção que começa


a adquirir uma utilização mais comum no Serviço Social, em
larga medida, como forma de demarcação relativamente ao
conceito de tratamento, comummente utilizado desde os
primórdios do Serviço Social.
Nesta lógica contestava-se a própria orientação partilhada
pelos métodos tradicionais que, influenciada pela referencia
clínica se concentrava nas dimensões patológicas e
disfuncionais, defendendo, em alternativa, que o Serviço
Social se deve orientar para os elementos positivos e
dinâmicos e constituir-se como agente de mudança,
realçando, dessa forma, as suas funções autonomizadoras e
promotoras de desenvolvimento individual e social.
O método de intervenção utiliza-se tanto no trabalho com
indivíduos, famílias ou grupos pequenos, ou seja, numa
dimensão microssocial, como no trabalho de comunidades
locais ou em grandes categorias sociais, isto é, numa
dimensão macrossocial (De Robertis 2003).
O método de intervenção incorpora, por si só, toda a
atividade do trabalho social enquanto agente promotor de
mudança. Neste sentido, compõe-se duas dimensões
complementares que respeitam, simultaneamente, ao “que
fazer” – no sentido dos conhecimentos e competências do
trabalhador social – e ao “como fazer” no sentido dos
valores ideológicos que orientam o trabalhador social na
ação com os utentes (Caparrós 1998).
OS MODELOS DE INTERVENÇÃO
À evolução no sentido da procura do método integrado de
intervenção, está associado o desenvolvimento do conceito
de modelos de intervenção em Serviço Social.
 Com efeito, o conceito de modelo, já amplamente
explorado no âmbito cientifico, só na década de 1070 foi
objeto de apropriação pelo Serviço Social, justamente
como correlato dos desenvolvimentos teóricos em torno do
método integrado (Howe 1999).
A obra de Werner Lutz, Emerging Models of Social
Casework Pratice, publicada em 1070, apresenta a primeira
explicitação concetual dos modelos de intervenção em
Serviço Social. nesta conceptualização, Lutz afirma que o
modelo inclui as dimensões teórica, metodológica,
filosófica e funcional que subjazem a uma prática
profissional determinada, que, desse modo, deixa de ser
definida, exclusivamente, em função do(s) utente(s), como
acontecia com os métodos clássicos do Serviço Social (Hill
1986).
A definição do modelo de intervenção é, então, determinada
por um conjunto de elementos, como sejam, o tipo de
fenómenos a que se dirige essa intervenção; os fundamentos
teórico-conceptuais que a suportam; os objetivos a que se
propõe; os valores e princípios que a orientam; e, ainda, os
métodos e as técnicas que utiliza.
A partir da concetualização inicial de Lutz, o tema dos
modelos de intervenção tornou-se objeto de intensa
produção teórica, gerando uma proliferação de propostas
classificatórias dos modelos, capazes de abarcar todos os
conceitos, princípios e estratégias utilizados na prática do
Serviço Social, o que ilustra bem o reconhecimento da sua
utilidade, enquanto unificadores e organizadores das ações
adotadas na pratica profissional quotidiana.
 Esta utilidade fica, aliás muito clara na formulação de
Payne (2002) quando afirma que os modelos, pela sua
aplicabilidade a uma serie de situações, fornecem um
conjunto de princípios e linhas de ação que conferem
coerência e uniformidade à prática.
 Os modelos em Serviço Social enquadram os princípios de
ação a implementar, definido os objetivos a atingir e o
métodos e técnicas a utilizar, sempre em relação com as
condições especificas do meio em que se vai realizar a
intervenção.
 Os modelos de intervenção registaram uma importante
evolução, ligada, naturalmente, a elementos de natureza
teórica, ideológica e funcional mais vastos, do Serviço
Social.
A generalidade dos autores identifica como principais
modelos de intervenção social, correspondentes a outras
tantas influencias teóricas, ideológicas e epistemológicas,
o Modelo Psicossocial; o Modelo de Modificação de
Conduta; o Modelo Sistémico e o Modelo de Intervenção em
Crise.
MODELO PSICOSSOCIAL
O modelo psicossocial tem origem nos trabalhos de Mary
Richmond e de Gordon Hamilton e, do ponto de vista teórico,
apresenta-se como síntese de um conjunto de conceitos dos
domínios da Psiquiatria, da Psicologia, da Psicologia Social e da
Sociologia, adaptadas à experiencia empírica do Serviço Social de
casos.

Este modelo adota como principio, a importância da relação entre


o individuo e o meio social envolvente. Assumindo a natureza
biopsicossocial do ser humano, defende que o problema e o
tratamento devem ser abordados, pelo Serviço Social, como
O processo de intervenção fundado no modelo psicossocial
implica a consideração de todos os elementos de ordem
social, económica, física, psicológica e emocional, implicados
no caso social.

A consideração de todos estes elementos projeta, como


conceito central do modelo, o da “pessoa na situação”,
considerando que o individuo (e as suas forças internas)
constitui um dos vértices do triangulo, correspondendo os
restantes, respetivamente, à situação (forças externas ao
meio), e à relação entre ambas.
Daqui decorre um dos grandes postulados deste modelo, e
simultaneamente do pensamento de Hamilton, que é o da
rejeição das análises lineares, simplistas e unívocas dos
problemas sociais.

A partir destes elementos centrais constitui objetivo da


intervenção psicossocial a resolução dos problemas
resultantes dos desequilíbrios na relação entre o individuo e
o meio, promovendo adaptações positivas entre as forças
envolvidas.
 Do ponto de vista metodológico, os momentos centrais da
intervenção psicossocial são: o diagnostico; o tratamento
e a avaliação.
 Diagnostico: identificação do problema/ analise comum do
problema/definição de plano de ação
 Tratamento: duas dimensões: social – com o meio;
psicológico – no plano interno
 Avaliação: resolução do problema/ satisfação da
necessidade/ fim da relação
 Na fase de diagnóstico procura-se, num primeiro momento,
descrever a situação psicossocial do(s) utente(s) e o problema que o
afeta. De seguida, procura-se realizar uma análise causal,
verificando possíveis nexos de causa-efeito com relevância para a
situação/problema. Finalmente, avaliam-se os recursos individuais,
familiares e sociais que podem ser mobilizados para a intervenção.
Todos estes elementos pressupõem que, no quadro da relação de
ajuda, estas analises sejam partilhados por trabalhador social e
utente. Só depois desta análise comum do problema se estabelece o
plano de ação, em que são delineadas as estratégias de intervenção,
e que representa o momento prévio do tratamento.
O processo de tratamento pressupõem procedimentos de
Serviço Social direto – realizado diretamente com o utente
para modificar elementos de pressão interna – e Serviço
Social indireto – realizado junto do meio envolvente para
modificar elementos de pressão externa que afetam o
utente.
A fase de avaliação consiste na avaliação dos resultados
conseguidos à luz dos objetivos inicialmente definidos e
implica frequentemente o fim da relação de ajuda. É por
isso importante que, ao longo da relação, se trabalhe a
inevitabilidade desse fim e o seu significado de conquista
de interdependência e autonomia por parte do utente.
MODELO DE MODIFICAÇÃO DE CONDUTA
O modelo de modificação de conduta funda-se nos
princípios do behaviorismo e da teoria da aprendizagem e
no Serviço Social foi desenvolvido, do ponto de vista
teórico, por Edwin Thomas. A grande finalidade deste
modelo relaciona-se com a modificação dos
comportamentos-problema dos utentes.
Neste modelo, o trabalhador social concentra-se nas
situações especificas relacionadas com o comportamento-
problema, bem como com os processos de aprendizagem e
socialização geradores desses comportamentos. Assim,
seguindo os princípios básicos da teoria da aprendizagem,
este modelo de intervenção funda-se no pressuposto de que
todo o comportamento aprendido é suscetível de ser mudado
através dum processo de modificação dos
estímulos/respostas.
Constituem objetivos gerais deste modelo: a aquisição de
novas condutas, o fortalecimento dos comportamentos
positivos e a supressão dos comportamentos negativos.

No plano metodológico, uma vez identificadas, numa análise


comum com o utente, as causas dos comportamentos-
problema e os objetivos de mudança a prosseguir, é essencial
o estabelecimento de um contrato de ajuda entre o
trabalhador social e o utente, favorecedor da participação e
da responsabilização deste último, na prossecução dos
objetivos negociados.
Depois de firmado este contrato, passa-se à fase de
tratamento, assente em técnicas de controlo das respostas
(aprendizagem comportamental) ou de controlo de estímulos
(intervenção sobre o meio), cuja implementação pode
decorrer em situação de entrevista ou em “situação de
entrevista ou em “situação natural” da vida do utente, ligada
à manifestação desses comportamento.
As técnicas de controlo das respostas e de controlo dos
estímulos são orientadas para a finalidades distintas, sendo
que enquanto na primeira se trata da modificação das
respostas comportamentais do utente relativamente ao meio,
ou seja, da adaptação do individuo ao meio, na segunda,
trata-se de modificar os fatores do meio que são
desencandadores de comportamentos-problema, isto é, a
modificação das condições materiais e/ou sociais que
subjazem a esses comportamentos.
MODELO SISTÉMICO
O modelo sistémico representa, relativamente aos
modelos anteriores, uma significativa mudança de
perspetiva, na medida em deixa de encarar os
fenómenos numa dimensão individual e de
causalidade linear, propondo um paradigma de
análise totalizador e de causalidade circular, onde os
fenómenos só ganham significado a partir das
interações entre os indivíduos num dado contexto.
O modelo sistémico afirmou-se, sobretudo, a partir
da década de 1960, com o desenvolvimento da teoria
dos sistemas, da teoria da comunicação e teoria de
jogos. Com estas influencias teóricas o grande
postulado deste modelo de intervenção consiste na
afirmação da importância de todos os fatores, sejam
sociais, materiais, culturais ou relacionais, na analise
dos problemas e posterior intervenção.
O modelo sistémico só existe um verdadeiro processo de
ajuda, quando o problema deixa de ser percebido, e
afrontado, como fruto de um conflito do individuo (conflito
interno ou com o meio) e passa a ser entendido como conflito
de uma relação.

Se todos os indivíduos estão envolvidos num sistema de


relações de interdependência, a mudança num dos
elementos do sistema repercute, necessariamente, em
mudanças. Quer nos outros elementos, quer no sistema como
um todo.
Sob este ponto de vista é, justamente, para o todo
que deve ser dirigida a intervenção, orientando-se
paras as interações e deficiências de comunicação,
geradoras do problema. Para conseguir, é condição
essencial compreender a totalidade do sistema e
identificar as interações patológicas entre os
elementos.
 Do ponto de vista metodológico, o modelo sistémico
centra-se na entrevista sistémica, assente em dois
princípios fundamentais que são:
1. A neutralidade do trabalhador social face a todos os
elementos, ou seja, a perceção pelos utentes, que o
trabalhador social não está “do lado” do todo, e,
2. A circularidade das análises, permanentemente alimentada
pelas respostas de todos os elementos.
 A partir deste processo de analise circular, o trabalhador
social formula hipótese de análise, com objetivo de
promoves uma nova visão dos problemas e induzir à
mudança.
MODELO DE INTERVENÇÃO EM CRISE
O modelo de intervenção em crise tem fortes raízes na
Psicologia e na Psiquiatria e, concretamente, nos trabalhos
pioneiros acerca dos processos psicológicos na sequência de
grandes catástrofes, que foram realizados, entre outros, por
Erich Lindemann, Gerald Caplan e Otto Rank.

A aplicação e desenvolvimento do modelo de intervenção em


crise no Serviço Social deveram-se, sobretudo, a Lydia
Rapoport, na década de 1960, Naomi Golan, na década de
1970 e mais recentemente, nas décadas de 1080/1990, a
Kieran O’Hagan.
A crise consiste numa reação subjetiva à tensão
desencadeada por determinado acontecimento, que
afeta a estabilidade e o desempenho social dos
indivíduos.

As situações precipitantes de crise são de ordem


vária e podem ligar-se a acontecimentos sociais, a
ruturas afetivas, a perdas materiais ou a ocorrências
graves e súbitas, como acidentes, catástrofes ou
Independentemente dos fatores precipitantes, as crises
caraterizam-se sempre por estados emocionais ambivalentes
e desorganizados. Caraterizam-se, também, pela sua duração
limitada, de aproximadamente 6 a 8 semanas, em que o
período inicial é marcado pela desorganização que,
gradualmente, deve ir cedendo lugar a um reajustamento dos
comportamentos individuais à nova situação.
 Do ponto de vista metodológico, o elemento central do
modelo de intervenção em crise é o apoio, ou seja, a ação
desenvolvida pelo trabalhador social no sentido de fazer o
cliente sentir-se melhor e mais resistente aos
acontecimentos adversos. Neste processo de apoio,
identificam-se quatro dimensões fundamentais que são, a
proteção, a aceitação, a valorização e a
educação/promoção (Nelson 1980).
 As caraterísticas da intervenção em crise são as seguintes:
 A intervenção é imediata à crise

 Tem uma duração breve (enquanto intervenção de crise)

 É uma intervenção fortemente estruturada e dirigida a


objetivos muito concretos

 É uma intervenção intensiva (fundada em contatos muito


frequentes entre o trabalhador social e o utente) e muito
diretiva (por parte do trabalhador social).

Você também pode gostar