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Processo Penal Casos Praticos
Processo Penal Casos Praticos
2012/2013
PARTE I
I
Questionário
1. Como se explica a distinção entre fases preliminares e julgamento em
processo penal?
2. O que é o inquérito?
Nos termos do art. 262º/1 consagra-se o âmbito e a finalidade do inquérito:
ÂMBITO DO INQUÉRITO: o inquérito é constituido por actos de investigação
para esclarecer a notícia do crime de recolha de prova dos factos apurados
pela investigação. Perante uma notícia da eventual prática de um crime,
cumpre averiguar se se confirmará e em que termos, quem foi o seu agente e
a sua responsabilidade e ainda recolher as provas que hão-de permitir
reconstruir os factos e fundamentar a decisão sobre a acusação ou o
arquivamento.
Em suma: o inquérito visa averiguar se existiu ou não a prática de um crime, sendo que
a recolha e/ou a produção de prova deverá ser realizada pelo MP, devendo este
descobrir quem foi o agente do crime.
3. A quem compete?
Nos termos do art. 270º/1, com a ressalva das disposições expressas na lei, parece que
o MP pode delegar tudo o que entender nos órgãos de polícia criminal para a prática
de diligências e investigações relativas ao inquérito. Contudo, tal pode colidir com os
seus poderes (leia-se do MP) reservados de dirigir o inquérito e donde pode resultar, na
prática, a policização integral da investigação pré acusatória. Mas assim o é: sem
prejuízo da direcção que lhe é reservada, o MP pode incumbir os órgãos de policia
criminal de praticarem todos os actos de inquérito, ou seja, o inquérito, enquanto
conjunto de diligências de investigação e recolha de provas, que por lei não sejam
reservados ao juíz ou ao MP.
A lei não indica quais os actos de inquérito que devem ser praticados na primeira fase
do processo, o que, aliás, seria impossivel, deixando ao MP a escolha de tais actos
necessários à realização da finalidade do inquérito. Contudo, é obrigatório o
interrogatório do arguido nos termos do art. 272º.
6. Como termina?
FORMAS DE TERMINAR O INQUÉRITO
i. DECISÃO DE ARQUIVAMENTO – ART. 277º Nº1 (não houve crime) e Nº2 (não há
provas suficientes): a decisão de arquivamento ocorre porque ou não há
crime, ou porque não é aquele o agente do crime, ou por causas processuais
ou, ainda, nos casos em que há crime mas não foi recolhida prova suficiente.
Nestes três casos existem indicios suficientes da prática do crime, mas há que fazer um
juízo de prognose: estes meios são suficientes, como meio de prevenção preventiva?
7. Quando o Ministério Público arquiva um inquérito, este fica sempre logo por ali?
O assistente poderá requerer a abertura da instrução nos termos do art. 287º,
nomeadamente no prazo consagrado no nº1 (20 dias a contar da notificação da
acusação ou do arquivamento), sendo que tal consubstancia uma fase de natureza
impugnatória e não uma fase de natureza oficiosa.
Nos termos do art. 278º, o assistente poderá ainda solicitar a intervenção do seu
superior hierarquico.
Contudo, a médio prazo podem surgir novos factos que invalidem o arquivamento do
processo: nesse caso poder-se-á requerer a reabertura nos termos do art. 279º, sendo
de salientar que tal só vale para os casos em que oa rquivamento tenha sido proferido
nos termos do art. 277º.
8. O que é a instrução?
Nos termos do art. 286º, a instrução visa impugnar a decisão proferida no fim do
inquérito, ou seja visa-se uma decisão diversa daquela que fora decidida pelo MP.
II
Houve um primeiro diplima que aprovou a figura da ASAE, diploma esse onde se
regulou as competências e atribuições desta autoridade. A questão colocou-se
aquando de um segundo diploma que veio expandir as competências da ASAE e
atribuir à mesma competência de polícia criminal. Será constitucional ou não
III
Notificado do despacho que designa dia para a audiência, o arguido Etelvino não
apresenta qualquer contestação (cfr. art. 315º do CPP). No início da audiência de
julgamento, o advogado do assistente (que também deduzira pedido de
indemnização) alega que, por aplicação do artigo 490º do Código de Processo Civil,
tanto para efeitos civis como para efeitos penais, se devem considerar os factos como
admitidos por acordo. Terá razão?
TEMA: INTEGRAÇÃO
1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
INTEGRAÇÃO: nos termos do art. 4º do CPP dispõem-se que (1) nos casos omissos (2)
quando as disposições do CPP não puderem aplicar-se por analogia (3) observam-
se as normas de Processo Civil que se harmonizam com o Processo Penal (é necessário
que exista analogia entre os casos (o caso omisso no processo penal e o caso previsto
no processo civil) e que as normas do processo civil se harmnizem com o processo
penal) (4) na falta destas, aplicam-se os princípios gerais do processo penal (~ art.
10º cc)
DUPLA FUNÇÃO DOS PRÍNCIPIOS GERAIS DO PROCESSO PENAL
i. ANALOGIA
2. RESOLUÇÃO DO CASO
No Processo Penal não existe qualquer ónus de impugnação especificada, sendo que
para proteger o arguido o facto não se dá por confessado. Mesmo que o arguido
tivesse confessado todos os factos na contestação, tal não teria valor, pois todos os
factos têm de ser provados em audiência de julgamento.
No caso não existe qualuqer lacuna: o arguido não tem de tomar posição sobre todos
os factos, tendo direito ao silêncio e não existindo auto incriminação.Não se poderiam
considerar provados os factos para o pedido de indemnização: é por isso que as
indemnizações civis são conhecidas no processo criminal, ou seja visa-se que não
existam contradições – PRINCÍPIO DA ADESÃO (art. 71º): existem duas acções, uma
penal e uma civil, sendo ambas julgadas no mesmo processo (o pedido de
indemnização civil fundado na prática de um crime é deduzido no processo penal
respectivo, só podendo ser deduzido em separado, perante o tribunal civil, nos casos
previstos na lei)
Por exemplo, no famoso caso americano O.J. Simpson, o arguido não foi condenado
por matar uma vez que tal se deu como não provado. Ele foi condenado a pagar
uma indemnização, porque se deu como provado que tinha morto a ex mulher.
IV
A situação no caso assenta em Duarte exigir que lhe seja aplicado um prazo extrea de
10 dias, como é feito no Processo Civil, quando se trata de recurso tendo como
objecto prova gravada. Este prazo de + 10 dias no Processo Civil justifica-se pelo
tempo que será gasto a transcrever-se a gravação. No CPP nada nos é dito quando a
esta situação.Quando exista uma lacuna, o que é diferente de uma situação de
silêncio da lei, só se poderá recorrer às normas de Processo Civil havendo uma
verdadeira lacuna. Não se pode aplicar subsidiariamente o Processo Civil.
Em 2007, no art. 411º/4 o prazo regra era de 30 dias (igual ao que sucedia em Processo
Civil) e retirou-se o acréscimo de 10 dias. Esta norma, actualmente, encontra-se
revogada.
1) O art. 92º, nº 1 do CPP passa a ter a seguinte redacção: «Nos actos processuais,
tanto escritos como orais, utiliza-se a língua portuguesa, sob pena de nulidade,
salvo se se tratar de processo contra cidadão britânico, caso em que se utiliza,
também sob pena de nulidade, a língua inglesa». Suponha que corre neste
momento um processo por crime de corrupção activa contra o cidadão
britânico, no qual David Brown foi acusado de corrupção activa. Que
consequências tem a nova lei nesse processo?
1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
PRINCÍPIOS GERAIS
REGRA GERAL: art. 12º do CC – a lei só dispõe para o futuro, ou seja para
depois da sua entrada em vigor, sendo que só ela que dispõe pelo que é de
aplicação imediata. A regra é a que a lei processual se aplica imediatamente
aos processos a instaurar e aos actos a praticar nos processos pendentes: não
se aplica nunca aos actos já praticados anteriormente, cuja valkidade deve
ser julgada de harmonia com a lei revogada.
EXCEPÇÃO: art. 5º/2 CPP (nº1 – corresponde à regra geral do art. 12º/1 CC).
NOTA: excepção da al. a) pode justificar-se por (1) aplicação do princípio jurídico
constitucional da legalidade em matéria penal – art. 29º/1 CRP; (2) aplicação do art.
32º/1 CRP quando da aplicação imediata da nova lei resultar, no caso concreto,
diminuição do direito de defesa do arguido, frustando as expectativas da defesa
relativamente à admissibilidade de certos actos de defesa que ficariam prejudicados
pela aplicação imediata da nova lei.
lhe. Em Processo Penal como se entende que as novas leis são mais perfeitas, devem-
se aplicar o mais rapidamente possível.
2. RESOLUÇÃO DO CASO
ii. NOVOS ACTOS: aos actos praticados desde a entrada da nova lei irá-se aplicar
a nova lei.
O art. 215º respeita a uma norma processual material? Tendo em consideração que as
normas de direito material têm d einterferir na qualificação de um facto como crime,
assim sendo o art. 215º não o é, sendo portanto uma norma processual, mas que
afecta direitos fundamentais. O critério entre normas processuais e normas materiais
assenta em saber se interferem na qualificação de um facto como crime.
No caso seria aplicável o art. 5º/1, ou seja aplica-se imediatamente a nova lei pelo
que Diogo Vaz deveria ser libertado hoje.
VI
Tal significou que os arguidos passaram a poder consultar o processo – art. 89º/1- ,
porque se aplicava a nova lei? Tendo em consideração a regra geral do art. 5º/1 –
Aplicação Imediata da Nova Lei – na situação em quase seria necessário atender à
excepção constante no art. 5º/2 al. b) e a nova lei não seria aplicada.
O problema não foi grande, porque como é exigido requerimento, nos termos do art.
89º/1, o MP pode deferir se o processo estará ou não sujeito a segredo de justiça.
O art. 7º/1 I parte consubstancia uma norma de Direito Penal Transitório, podendo o
MP escolher quando a norma entra em vigor. Tal difere do que sucede no Direito Penal
em que quando as novas leis são mais favoráveis ao arguido têm mesmo de se
aplicar.
Neste caso ocorre a aplicação da regra geral constante do art. 5º/1 e a nova lei é
aplicada imediatamente.
VII
Artigo 10.º
Note-se que nos termos do art. 6º/1 da Lei 59/98, de 25 de Agosto consagra-se que ‘’As
alterações ao Código de Processo Penal introduzidas pelo presente diploma são
aplicáveis aos processos pendentes na data da sua entrada em vigor.’’
No caso é nos dito que o inquérito foi instaurado a 5 de Setembro de 1998, sendo que
o interrogatório do arguido passa a ser obrigatório a partir de 15 de Setembro de 1998
nos termos da disposição transitória consagrada no art. 10º/2 (excepção ao nº1) da Lei
59/98, de 25 de Agosto.
Antes da entrada em vigor desta lei não era obrigatório proceder ao interrogatório do
arguido, possuindo o MP a faculdade de indicar se o considerava necessário ou não.
Com a entrada em vigor da nova lei, o interrogatório passa a ser obrigatório, quando
haja suspeita fundada, sob pena de nulidade nos termos do art. 120º/2 al. d).
Coloca-se a questão de saber se a nova lei é de aplicação imediata (princípio
constante do art. 5º/1) ou se se insere nalguma das excepções constantes no art. 5º/2.
Poder-se-ia equacionar a inserção desta questão na al. a) do art. 5º/2, ou seja o facto
de o interrogatório passar a ser obrigatório consubstancia ‘’um agravamento sensível
e ainda evitável da situação processual do arguido, nomeadamente uma limitação
do seu direito à defesa’’? Embora exista sempre o perigo de o arguido ‘’dizer mais do
que aquilo que deve’’ tal não é um risco jurídico. Quando exista uma suspeita
fundada chama-se o arguido a interrogatório com vista a assegurar uma ocasião de
defesa daquele, o que também se relaciona com a presunção de inocência de que
goza. Além disso, o arguido tem sempre o direito ao silêncio (art. 61º/1 al. d). Em termos
jurícos o interrogatório não consubstancia um agravamento, embora em termos
facticos possa acontecer o oposto. Deste modo, não se inserindo a obrigação de
interrogatório em nenhuma das excepções previstas no art. 5º/2 conclui-se pela
aplicação imediata da nova lei.
Atendendo ao art. 6º/2 da Lei 59/98, de 25 de Agosto tal consubstância uma norma
de direito transitório e determina que os processos em que tenha sido interposto
recurso continuam-se a reger pelas disposições anteriores à entrada em vigor desta
nova lei, pelo que não são aplicáveis ao julgamento de recuso as alterações
introduzidas por esta lei. A opção por esta solução relaciona-se com a harmonia e
unidade do sistema processual e, mesmo que não existisse esta norma de direito
transitório, estas alterações não seriam na mesma de aplicação imediata, uma vez
que tal situação enquadra-se na al. b) do art. 5º/2, excepção à regra geral de
aplicação imediata constante no art. 5º/1.
VIII
No caso não se poderia aplicar a regra geral da aplicação imediata da nova lei,
constante no art. 5º/1, uma vez que tal se insere na excepção prevista na al. b) do art.
5º/2: existe uma quebra da harmonia dos actos processuais, sendo que o arguido não
foi advertido no momento em que prestou as declarações que tais podiam ser usadas
como meio de prova no julgamento o que consubstancia igualmente um
agravamento (excepção da al. a) do art. 5º/2), na medida em que se deixa no
momento do julgamento as hipoteses de defesa condicionadas pela lei anterior.
Importa ainda referir que nos termos do art. 4º/2 da Lei 20/2013, de 21 de Fevereiro
consagra-se que ‘’Aos processos pendentes à data da entrada em vigor da presente
lei em que o arguido já tenha sido interrogado continua a aplicar-se o disposto no art.
357º do CPP’’.
O problema assenta no facto de que Carlos ainda não fora interrogado pelo que
ainda não foi constituido arguido e o art. 5º/2 al. a) refere-se expressamente a arguido.
Neste caso existe uma questão duvidosa no sentido de que o art. 5º parece
consubstanciar uma prioria do estatuto que ele já possui (arguido). Deste modo,
aplica-se mesmo assim a norma transitória constante no art. 4º e aplica-se a nova lei.
Note-se que o PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO admite que neste caso faz sentido aplicar
a norma transitório, uma vez que ele ainda não foi constituído arguido pelo que não se
poderia enquadrar na excepção constante no art. 5º/2 al. a).
3. Supondo que Carlos vem a ser absolvido pela 1.ª instância e condenado pela
Relação, na sequência de recurso interposto pelo M.P., a uma pena de 2 anos
de prisão, será este acórdão susceptível de recurso para o S.T.J., sabendo-se
que este recurso deixou de ser admissível em virtude das alterações
introduzidas ao art. 400.º do C.P.P. pela Lei n.º 20/2013, de 21 de Fevereiro?
(Acórdão do STJ nº 4/2009,D.R., I.ªSérie-A, de 19/03/2009)
Houve uma divergência entre a decisão do acórdão e a dos votos vencidos: para os
primeiros, as garantias de defesa do arguido fazem sentido quando a sentença é
proferida (é nesse momento que o arguido vai decidir se vai recorrer ou não); para os
segundos as garantias de defesa do arguido fazem sentido logo.
No caso, para a maioria, a lei nova não se aplicava porque já tinha proferida a
decisão final, já se teria constituído o direito ao recurso. Se o arguido está a ser julgado
hoje e já tendo a nova lei saído quando é proferida a sentença, para o STJ aplicar-se-
ia a nova lei porque não não se constitui na esfera do arguido o direito ao recurso. O
que conta é o momento em que a decisão de 1º instância é proferida. É verdade que
tal limita as garantias de defesa, mas não para o STJ. As garantias de defesa só surgem
com a sentença proferida em 1º Instância. É necessário interpretar o art. 5º/2.
PROF. HENRIQUE SALINAS: concorda com a posição minoritária, isto é, o que está em
causa é a situação processual do arguido. Tal deve ser apurado no seu todo. Há que
comparar qual oferece mais garantias, se de acordo com a nova lei, se de acordo
com a lei antiga. Portanto, de acordo com esta posição, aplicar-se-ia a lei antiga.
IX
De acordo com a lei antiga, aquele julgamento nunca se teria realizado sem a
presença do arguido: isto permitir-lhe-ia confessar e assim ter uma atenuação da
pena.
Deste modo, deveria ter sido aplicada a lei antiga. Tal consubstância uma nulidade
insável nos termos do art. 119º al. c).
Em determinado processo, que corre termos contra Fernando Oliveira, pela eventual
prática de um crime de emissão de cheque sem provisão, e se encontra em fase de
julgamento, o juiz profere o seguinte despacho:
(«Assento» n.º 4/99, D.R., I.ªSérie-A, de 30/03/99 e Acórdão do S.T.J. de 05/04/2001, C.J.,
2001, t. II, pp. 176 e segs.)
1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
ii. LEI NOVA ENCURTA O PRAZO: aplicar-se-á a lei nova, se o tempo que ainda
faltar decorrer para preencher o prazo da lei antiga for superior ao prazo da lei
nova; caso contrário continuará a aplicar-se a lei antiga.
PROF. GERMANO MARQUES DA SILVA: esta situação não se resolve pela simples
qualificação da queixa como condição de procedibilidade e natureza processual,
pois quando as leis processuais tenham efeitos substantivos é o regime destas leis que
se deve aplicar, no que favorece ao arguido. É necessário distinguir a fase em que o
processo se encontra:
2. RESOLUÇÃO DO CASO
No caso existe num processo que corre contra Fernando pela prática de um crime
que, de acordo com a lei antiga, era um crime público. Quando entrou em vigor a
nova lei, o procedimento criminal já tinha tido inicio, pelo que para continuar o
procedimento criminal não seria necessário uma queixa: era uma questão de
procedibilidade.
PROF. TAIPA DE CARVALHO: não se trata de uma questão de legitimidade, uma vez
que no momento em que o inquérito é instaurado o MP tinha legitimidade; trata-se,
sim, de uma questão de procedibilidade.
PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO: defende que se deve aplicar o art. 5º/1. Aplica-se
imediatamente a nova lei, mas os actos já praticados mantém-se (exemplo: lei
descriminalizadora: se já cumpriu pena tal não produz qualquer vantagem).
O tribunal de 1º Instância foi mais longe e afirmou que seria necessária queixa, apesar
de o procedimento já ter sido iniciado. A solução não é compatível com o art. 5º
porque os efeitos da nova lei só se produzem para o futuro. Do ponto de vista formal,a
instância tem alguma razão, porque se é aplicável retroactivamente, então, tem de
ser necessária a apresentação de queixa.
PARTE II
XI
Em vez de ter alterado a CRP, deu-se outro nome ao inquerito para se furtar à
declaração de inconstitucionalidade. A solução correcta é a que hoje temos, mas
dever-se-ia ter alterado a CRP segundo o PROF. GERMANO MARQUES DA SILVA.
O que mais nos interessa é aferir qual o conteúdo útil que podemos retirar do art. 32º/4.
Este artigo tambem tem influencia nao apenas na fase de instruçao, mas tambem na
fase de inquerito, pois ha determinados actos que mesmo no inquerito tem
necessariamente de ser praticados pelo juiz, nomeadamente os actos que colocam
em causa direitos fundamentais. Se mesmo na fase de instruçao, os actos que possam
afectar os direitos fundamentais tem de ser praticados pelo juiz, então, por maioria de
razão, numa fase que não é dirigida ao juiz esses actos instrutorios tambem terão de
ser praticados por ele. O art. 32º/4 pretendia abranger tanto a instrução como o
inquérito.
XII
2010-01-19
CLARA VASCONCELOS
Tudo isto é demasiado sério para ficar nas mãos de um único juiz. António
Martins, da ASJP, defende que "os tribunais não devem ter como característica
a perspectiva de órgão unipessoal". No seu entender, o que os cidadãos
procuram nos tribunais "é que haja aliatoriedade na distribuição do serviço"
("escolhe-se o médico, não se escolhe o juiz"). Não é positivo que saiba, à
partida, "que é este, com esta maneira de ser e esta maneira de interpretar a
jurisprudência". Para além da "manipulação" que este conhecimento prévio
possa estimular, como diz Mata-Mouros (ver entrevista), é a própria
jurisprudência que, existindo uma única perspectiva, "sai empobrecida", diz
Martins.
Fátima Mata-Mouros, que ocupou o cargo desde o seu início até 2004, sempre
defendeu, em relatórios enviados ao CSM, o alargamento do quadro. Tal nunca
sucedeu. Porque o legislador, a quem compete a elaboração da Lei da
Organização dos Tribunais, não o quis. Ao CSM, resta nomear juízes auxiliares,
mas só a pedido do juiz titular.
E não só. Também se torna muito conhecido das polícias e dos arguidos. E isso
pode dar azo a manipulações. É fácil defender que um crime ocorreu em dois
distritos para que seja decidido no TCIC. Ou o contrário. É fácil perceber qual o
estilo do juiz, como decidiu em casos semelhantes,etc, e agir em
conformidade. Se não se soubesse à partida a que juiz calharia o processo,
essa manipulação seria mais dificultada. Essa é mais uma razão a justificar um
quadro de mais juízes.
Torna-se alvo das atenções e isso nunca é bom nem para a segurança, nem
para a tranquilidade decisória.
É lamentável ser necessário existir uma ameaça para que um juiz tenha direito
a segurança.»
(http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1473146 )
1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Nos termos do art art. 32º/9 CRP nenhuma causa pode ser subtraída ao tribunal cuja
competência esteja fixada em lei anterior: PRINCÍPIO DO JUÍZ NATURAL OU LEGAL. Visa-
se evitar a designação arbitrária de um juiz ou tribunal para resolver um caso
determinado.
É necessário conjugar o art. 32º/9 com o art. 209º/4 que proíbe a existência de tribunais
com competência exclusiva para julgar certas categorias de crimes, com excepção
feita para os tribunais militares durante a vigência do estado de guerra – art. 213º.
A orgem histórica do princípio do juiz natural parece ser a lei francesa de Agosto de
1790 sobre a organização judiciária, que teve como finalidade impedir a ingerência
do rei nos assusntos judicias, garantindo aos cidadãos tribunais imparciais, e na sua
formulação mais morderna a Constituição italiana de 1947 e a alemã de 1949. O
princípio foi também acolhido na Carta Constitucional de 1826 e em textos
internacionais sobre direitos fundamentais (DUDH, Convenção Europeia dos Direitos do
Homem e Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – necessidade de tribunal
independente, imparcial e competente, estabelecido por lei).
É necessário atender à doutrina italiana quanto à interpretação que esta faz sobre juíz
pré constituído por lei: a doutrina e jurisprudência italianas começaram por interpretar
a norma da sua constituição como querendo garantir, para além da proibição de
tribunais extraordinários, a determinação do tribunal competente com relação ao
facto abstracto realizável no futuro e não a posteriori, ou seja, uma competência
fixada imediatemnte e exclusivamente por lei, excluindo a possibilidade de uma
alternativa entre um juiz e outro, prevista pela lei, mas resolúvel a posteriori mediante
um procedimento singular. Esta orientação consagrava uma reserva absoluta da lei
em matéria de competência jurisdicional.
Numa corrente doutrinal mais recente, o princípio do juíz natural pré constituido por lei
vem a ser interpretado como sendo aquele que é racionalmente idóneo para garantir
a objectividade e imaparcialidade do julgamento a ratio do art. 25º/1 da Constituição
italiana seria então a de garantir a imparcialidade do juiz.
2. RESOLUÇÃO DO CASO
Uma solução a esta situação poderia passar pela criar de um tribunal para crimes
económicos e financeiros, mas o art. 209º/4 não permite tal: existe a proibição de
criação de tribunais especificos, a fim de evitar que se criem tribunais para crimes
políticos, como no Estado Novo.
No Processo Casa Pia provou-se que houve manipulação quanto à escolha do juiz de
instrução. A importância de um juíz de instrução assenta no facto de ele proceder ao
primeiro interrogatório do arguido e de poder aplicar medidas cautelares,
nomeadamente a prisão colectiva.
XIII
Não distinguindo a lei, parece dever entender-se que os diferentes nºs e alíneas dos
arts. 11º a 17º delimitam simultaneamente a competência material e funcional dos
respectivos tribunais.
O tribunal pode vir a julgar que a circunstância invocada não se verificou e que então
deveria ser julgado incompetente por excesso de competência. Porém, há a regra de
que quem pode o mais pode o menos e por isso, se o tribunal colectivo podia aplicar
pena de prisão superior a 5 anos pode também aplicar pena inferior. Presume-se que
quanto mais solene é o tribunal maiores são as garantias de defesa, donde que não
haveria dano para o arguido por ser julgado por tribunal mais solene.
Há circunstâncias que fazem parte do tipo de crime (art. 72º/2 CP) e essas, sejam
agravantes ou atenuantes, são já consideradas na fixação legal da penalidade. O
que importa considerar para efeito de interpretação do art.15º, são as circunstâncias
que não fazendo parte do tipo do crime alteram a pena aplicável.
Nos termos do art. 15º só devem ser consideradas para efeitos de determinação da
pena aplicável as circunstâncias modificativas agravantes comuns.
A lei não prevê circunstâncias que tenham por efeito a agravação judicial da pena
para além dos limites da pena aplicável ao tipo de crime, mas prevê circunstâncias
atenuantes que têm por efeito a atenuação judicial especial da pena e estas ficam
excluídas porque dependem da apreciação concreta do tribunal (o MP pode sempre
ter em conta as circunstâncias atenuantes, usando da faculdade que lhe é
concedida pelo art.16º/3).
Assim, as normas dos arts. 301º, 312º, 322º, 345º, 372º/1, 372º/2 respeitam à
competência funcional dos juízes e jurados que compõem o tribunal. A competência
é primariamente do tribunal, mas tratando-se de órgão de composição plural importa
também a competência de cada um dos membros do tribunal.
1. Não devendo ser julgados pelo tribunal do júri, respeitarem a crimes contra a
paz e a humanidade (arts. 239º a 246º CP) e contra a segurança do Estado
(arts. 308º a 346º CP)
O requerimento para intervenção do tribunal do júri é irretratável (art. 13º/5) e deve ter
lugar no prazo para a dedução da acusação, quando for do MP ou do assistente, e
no prazo para requerimento da instrução, quando for do arguido. Havendo instrução,
o requerimento do assistente que não tenha deduzido acusação e do arguido devem
ter lugar no prazo de 8 dias a contar da notificação da pronúncia (art. 13º/3).
A ressalva do art. 13º/2 – não devendo ser julgados pelo tribunal singular – respeita à
possibilidade que o art. 16º/3 confere ao MP de atribuir competência ao tribunal
singular relativamente a alguns crimes que, atendendo à pena aplicável em
abstracto, seriam da competência do tribunal colectivo e aos crimes previstos na
alínea a) do nº 2 do art. 16º, mesmo que puníveis com pena máxima superior a 5 anos
(art. 141º LOFTJ e art. 207º/1 CRP).
Parece, porém, que uma norma que foi inicialmente pensada como simples regra de
fixação da competência pelo método da determinação concreta ditada por razões
de mera simplificação processual, acaba naquela interpretação, por ter um conteúdo
que ultrapassa em muito a mera fixação precária da competência, para além disso e
por via indirecta, limitar os poderes do tribunal de determinação da medida da pena
no caso.
O art. 16º/3 tem sido objecto de larga polémica, quer no que respeita à sua
interpretação, quer quanto à sua constitucionalidade, mas a jurisprudência constante
do TC tem sido no sentido da sua conformidade com a CRP. No entanto, tem-se
argumentado que esta norma viola os princípios do juiz natural, da jurisdição, da
legalidade e da igualdade.
1) O juiz de instrução agiu bem ao condenar Eduardo? O que pode ou deve fazer
o arguido para impugnar a decisão proferida?
A instrução, sendo uma fase facultativa, tem apenas lugar se for requerida pelo
arguido ou pelo assistente.
Qualidade do Arguido
Note-se que a expressão ‘’nulidades insanáveis’’ não é correcta, uma vez que elas
sanam-se com o trânsito em julgado da sentença. No caso, o processo irá seguir para
julgamento.
i. Critério Quantitativo – no caso, pelo art. 16º/2 al. b) será competente o tribunal
singular;
ii. Critério Qualitativo – no caso, pelo art. 14º/2 al. a) será competente o tribunal
colectivo
Em suma: a instrução, nos termos do art. 286º e 287º/1 al. a) e b), tem de ser requerida;
se não o for vai-se directamente a julgamento. Na prática a instrução carece de
utilidade prática: a taxa de pronúncia é gigante face ao despacho de não
pronúncia. Há certos tipos de arguidos que, independentemente das escolhas
estratégicas, preferem sempre requer a instrução.
No caso estamos face a um crime que se encontra previsto no art. 134º CP em que do
seu elemento objectivo faz parte a morte e do elemento subjectivo é doloso ou
agravado pelo resultado.
Nos termos do art. 134º o crime é punido até três anos, pelo que de acordo com o
critério quantitativo a competência seria do tribunal singular (art. 16º/2 al. b)) e pelo
critério qualitativo a competência seria do tribunal colectivo (art. 14º/2 al. a)).
PASSOS A REALIZAR
No caso, a detenção em flagrante delito não cabia no art. 14º/1 nem no art. 13º/1, tal
como também não cabia nas excepções do art. 381º/2. Deste modo aplica-se o
processo sumário e o caso é julgado em tribunal singular.
XIV
Encerrado o inquérito que correu termos contra António, pela prática de um crime de
furto qualificado (art. 204.º, n.º 2, al. a), do Código Penal, o Ministério Público deduziu
acusação. Porém, considerando a modesta condição social e económica do arguido,
a juventude do mesmo, a confissão, ainda que parcial, dos factos, logo propôs,
naquela acusação, que a pena a aplicar, em concreto, não fosse superior a cinco
anos de prisão, e, do mesmo passo, e invocando o disposto no art. 16.º, n.º 3, do
Código de Processo Penal, requereu ainda que o mesmo fosse julgado em tribunal
singular. Recebidos os autos no tribunal de julgamento, o juiz proferiu despacho pelo
qual julgou inconstitucionais as normas do art. 16.º, n.º 3 e n.º 4, do Código de Processo
Penal, por violação dos princípios constitucionais da independência do tribunal, da
reserva da junção jurisdicional, do juiz natural e da igualdade. Em consequência,
considerou-se incompetente para o conhecimento do processo, ordenando a remessa
dos autos ao tribunal colectivo. Quid Iuris?
Procede-se a uma análise do art. 16º/3 numa perspestiva material devido ao Princípio
do Juiz Natural, da Reserva de Jurisdição, de Independência e Obediência à Lei. Não
é inconstitucional porque se encontrava em jogo a determinação concreta da pena
e tal está regulado no CP.
XV
COMPETÊNCIA TERRITORIAL
i. REGRAS GERAIS
Nos termos do art. 19º/2 tratando-se de crime que compreende como elemento do
tipo a morte de uma pessoa, é competente o tribunal em cuja área o agente actuou
ou, em caso de omissão, deveria ter actuado.
Não chega a consumar-se o crime quando, sendo punível a forma de tentativa, foram
praticados actos de execução do crime; neste caso, para a determinação da
competência territorial atende-se ao último acto de execução.
Se nem foram praticados actos de execução, mas actos preparatórios puníveis (art.
21º CP), o tribunal territorialmente competente é o da área onde o último preparatório
foi praticado.
O Princípio Geral assenta a que a cada crime corresponde um processo para o qual é
competente o tribunal definido em função das regras da competência material,
funcional e territorial.
A lei permite, porém, que se organize um só processo para uma pluralidade de crimes,
desde que entre eles existe uma ligação que torne conveniente para a melhor
realização da justiça que todos sejam apreciados conjuntamente. A esta ligação
entre os crimes, que determina excepções à regra de que a cada crime corresponde
um processo e às regras da competência material funcional e territorial, a lei chama
conexão.
processo até para mais fácil e melhor aplicação da punição do concurso de crimes
(art. 77º CP).
CASOS DE CONEXÃO
Art. 24º/1, a) e b) – casos em que o mesmo agente tenha cometido vários crimes e se
verifique alguma das seguintes condições:
Também quando os crimes estão numa relação de causa e efeito ou se destinem uns
a ocultar os outros a especial ligação entre eles justifica que todos sejam conhecidos
conjuntamente. Para além da melhor apreensão da prova, podem verificar-se
situações de mero concurso de normas que a apreciação conjunta de todos os factos
melhor permite esclarecer.
Art.25º – hipótese de o mesmo agente ter cometido vários crimes cujo conhecimento
seja da competência de tribunais com sede na mesma comarca.O art. 25º prevê a
hipótese de concurso de crimes perpetrados pelo mesmo agente e se todos os crimes
forem da competência de tribunais com sede na mesma comarca. Neste caso
devem ser todos conhecidos pelo mesmo processo. A razão é a economia processual
e a vantagem de o agente ser julgado conjuntamente pelos vários crimespara efeitos
de aplicação de pena única em razão do concurso de crimes (art. 77º CP).
II - CONCURSO DE CRIMES
Nos termos do art. 77º CP manda-se condenar numa única pena o agente que tiver
praticado vários crimes antes de transitar em julgado a condenação por qualquer
deles (ver art. 78º CP). A lei penal não impõe que todos os crimes sejam julgados no
mesmo processo, nem considera tratar-se de caso de conexão de processos, mas
impõe que a final seja proferida numa única sentença condenatória.
PROF. CAVALEIRO FERREIRA: o art. 78º CP deve interpretar-se no sentido, não de que é
anulada a sentença transitada em julgado, para proferir uma nova sentença, mas de
que, no julgamento de novo crime, o tribunal, tomando em conta a pena aplicada na
sentença transitada em julgado, procederá à formação da pena total nos termos do
art. 77º CP.
O mero concurso de crimes não determina a conexão e, por isso, as regras sobre
competência não se alteram em função do concurso. É necessário é que a final seja
proferida uma única sentença, que poderá ser uma nova. O tribunal a julgar o último
crime, se tiver competência material para fazer o cúmulo, fá-lo-á, se não tiver proferirá
a sentença pelo crime que julgou e remeterá o processo ao tribunal materialmente
competente da mesma comarca.
i. LIMITES À CONEXÃO
Mesmo que preenchidos os pressupostos dos arts. 24º/1 e 25º, a conexão não opera
entre processos que sejam e processos que não sejam da competência de tribunais
menores (art. 26º). Existem também na legislação extravagante outros casos em que a
conexão não opera. A conexão também só opera relativamente aos processos que se
encontrem simultaneamente na fase de inquérito, de instrução ou de julgamento, art.
24º/2, por razões de celeridade processual.
Pode ainda ter lugar a separação dos processos conexos quando algum ou alguns
dos arguidos tiverem requerido a intervenção do tribunal de júri, desde que a
separação seja requerida por outro ou outros arguidos nos 8 dias posteriores à
notificação do despacho que tiver admitido a intervenção do tribunal de júri (art.
30º/2 e 3).
Nos termos do art. 27º dispõe-se que se os processos conexos devessem ser da
competência de tribunais de diferente hierarquia ou espécie, é competente para
todos, o tribunal de hierarquia ou espécie mais elevada.
Se as regras sobre competência por conexão estabelecidas no art. 27º não forem
suficientes para determinar a competência de tribunais com jurisdição em diferentes
áreas ou com sede na mesma comarca, é competente para conhecer de todos os
processos:
PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Está em causa mais do que um crime. No processo penal a regra é a de que em cada
processo deve ser conhecido apenas um crime. Contudo, sucede que, por razões de
economia e conveniência processual, muitas vezes, é justificavel o conhecimento de
vários crimes no mesmo processo.
Tal não é uma matéria que o legislador deixe ao livre arbitrio do interprete. A lei tenta
limitar as conexões que levam ao agrupamento de vários crimes no mesmo processo,
com medo que se formem processos monstruosos que levam muito tempo a serem
julgados. Quais as ligações relevantes que podem determinar o conhecimento de
vários crimes no processo? É necessário atender ao art. 24º e 25º.
São casos em que o processo tem um objecto complexo e isso implica especificidades
quanto à competência, porque tem de haver regras que determinem o tribunal
competente para ambos os crimes: competência por conexão.
Como na hipotese nada nos era dito quanto à existencia de qualquer uma destas
conexões, não podemos julgar todos os crimes no mesmo processo. Sendo dois furtos
simples, os tribunais competentes seriam os juizes criminais (de média instancia) de
Portimão e Lisboa. Cada crime terá de ser conhecido no seu processo.
NOTA:
Neste caso haveria tambem conexão subjectiva, mas aplicava-se antes o art. 25º,
pelo que os crimes poderiam ser julgados pelo mesmo tribunal no mesmo processo,
sendo o tribunal competente o juizo criminal de Lisboa. São conhecidos em conjunto.
Existindo dois crimes de furto qualificado – art. 204º CP – a soma do limite máximo da
pena em abstracto é de 10 anos e, nesse caso, de acordo com o art. 14º/2 al. b) será
competente o tribunal colectivo. Assim sendo, para efeitos de determinação
abstracta da competência temos em conta o limite máximo das penas aplicáveis,
mas nestes casos o MP pode utilizar da faculdade do art. 16º/3.
Existindo dois crimes de furto simples – tendo em atenção cada crime em separado –
a competência é do tribunal singular (pena inferior a 3anos).
Na pior das hipoteses (art. 77º CP) ser-lhe-á aplicada uma pena de 6 anos: a pena é
unica e o limite minimo é de 3 anos e o maximo é de 6anos. Mas a competencia do
tribunal singular é até 5anos. Contudo, considerando a pena em abstracto e, mesmo
já agora em concreto, ultrapassa-se esse limite (art. 14º/2 al. b)): soma-se o limite
máximo das penas aplicadas para determinar a competência. seria competente o
tribunal colectivo de lisboa (LOFTJ – varas criminais de Lisboa): usa-se o metodo de
calculo da pena concreta.
XVI
João envolve-se numa discussão com Luís, em Sintra, acabando por atingi-lo com dois
tiros, que lhe provocam morte imediata. Durante o inquérito João, que se encontra em
prisão preventiva, pede a Manuel, segurança de uma empresa contratada, a prestar
serviço nas instalações da Polícia Judiciária em Lisboa, que destrua as provas do
crime, o que este faz, dentro das referidas instalações (art. 367.º do Código Penal).
No presente caso temos dois crimes: crime de homicidio cometido por João e o crime
de favorecimento pessoal cometido por Manuel. Poderiamos levantar a questão de
saber se este segundo crime tambem poderia ser imputado a João, na medida em
que este pede ao Manuel para destruir as provas e, nesse sentido, o João tambem
seria instigador, mas a lei afasta a punibilidade da conduta de João, nos termos do
art. 367º/5 al. a), uma vez que ninguém pode ser obrigado a contribuir para a sua
propria incriminação.
Tudo isto é relevante para dizer que existem dois crimes praticados por duas pessoas
diferentes, pelo que já não temos um caso de conexão subjectiva, mas sim um caso
de conexão objectiva, uma vez que há uma ligação entre os objectos do processo.
A conexão objectiva tem relevancia por motivos de economia processual, mas
tambem para se evitarem decisões contraditorias. Os casos de conexão objectiva
(que levam a que dois crimes sejam conhecidos no mesmo processo) encontram-se
previstos no art. 24º na al. d) e e). Quando à al. d) deverá ser interpretada no sentido
em que já conexão objectiva quando os diversos crimes tiverem sido cometidos por
vários agentes (comparticipação; na mesma ocasião ou lugar; sendo uns causa e
efeitos dos outros; destinando-se uns a continuar ou ocutar os outros alternativas).
O caso em análise enquadrasse no art. 24º al. d) na parte em que se refere ao facto
de os crimes, cometidos por vários agentes, ser um destinado a continuar por outro.
Assim sendo, nos termos do art. 29º/2 irá ocorrer apensação dos processos, salvo se os
crimes estiverem em fases processuais diferentes – art. 24º/2. Como no caso nada é
quanto à fase processual em que cada processo se encontra vamos presumir que
estão na mesma fase e que, poprtanto, pode operar a conexão objectiva e a
consequente apensação dos processos. Temos de ver qual o tribunal competente
Para conhecer dos dois crimes no mesmo processo nos termos do art. 27º
(competência material) e do art. 28º (competência territorial) será da competência
do tribunal colectivo de sintra – juizo de grande instancia criminal.
Ñeste caso pode haver separação de processos, nos termos do art. 30º/1 al. d). O
processo regra ao tribunal normalmente competente ou permanece no mesmo?
Imaginando que o arguido contumaz é o Manuel. É julgado o João. Se Manuel volta
cessa a declaração de contumácia. Em que tribunal será julgado? Em principio seria
competente para julgar o tirbunal singular de Lisboa. Com a conexão passou a ser
competente o tribunal colectivo de sintra. A soluçao prevista no art. 31º al b) é a de
que é competente o tribunal colectivo de sintra, apesar da sepração de processo –
há uma prorrogação da competência.
PARTE III
XVII
TEMA: LEGITIMIDADE DO MP
Deste modo, nos termos do art. 48º o MP tem legitimidade para promover o processo
penal, uma vez que não se trata de um procedimento dependente de queixa ou de
acusação particular (art. 49º a 52º).
Quando no tipo legal de crime nada se diz cai-se na regra geral do art. 48º, sendo o
crime público. Não se pode aplicar analogicamente o art. 203º/3, uma vez que a
dependência de queixa é uma excepção ao princípio geral constante no art. 48º.
Neste caso já estamos face a um caso de furto simples, pelo que nos termos do art.
203º/3 é um crime semi público e depende de queixa! Nos termos do art. 49º o MP não
tem legitimidade para dar inicio ao processo sem ter uma queixa (declaração de
ciência e declaração de vontade). Nos termos do art. 113º/5 CP é ao ofendido a
quem cabe a legitimidade para apresentar queixa, sendo no crime de furto, o
ofendido o proprietário.
XVIII
Nos termos do art. 113º/5 consagra-se ainda a possibilidade de o MP poder dar inicio
ao procedimento, apesar de o crime ter natureza semi pública, desde que o faça no
prazo de 6 meses a contar da data em que tiver tido conhecimento do facto e dos
seus autores, exista interesse do ofendido e o ofendido seja menor.
PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO: deve-se fazer uma interpretação literal do art. 113º/5; o
MP pode iniciar o processo, mas o crime não se transforma em público. Os familiares
tem possibilidade de desistência da queixa. Não há forma de saber que o juizo do MP
é melhor que os pais, familiares próximos. Trata-se do melhro juizo sobre o interesse do
menor. Note-se que Beatriz quando fizesse 16 anos podia desistir da queixa: art. 116º/3.
Devido ao disposto no art. 116º/4 coloca-se a questão de saber se esta disposição não
serve para demonstrar que não é aos pais que cabe desistir da queixa, ‘’andando’’ o
processo até que o menor faça 16 anos. O facto de existir o art. 116º parece
demonstrar que não cabe aos pais o direito de desistir da queixa.
XIX
António profere várias frases insultuosas dirigidas a Bento, na sua presença (art. 180.º
do Código Penal).
a) O que deve fazer Bento para que António venha a ser julgado pelos factos que
praticou?
(Acórdãos do S.T.J. n.º 1/2011)
No presente caso não estamos face a um crime de difamação (art. 180º), mas sim de
injúria nos termos do art. 181º, sendo este um crime particular. Nos termos do art. 188º
CP o procedimento criminal depende de acusação particular: a legitimidade do MP
está condicionada pela apresentenção de acusação particular do ofendido, neste
caso, por parte de Bento – art. 50º/1: pressupostos de admissibilidade do processo que
constituem limitações ao princípio da promoção oficiosa do processo penal:
Atenta a especial natureza dos valores em causa, uma vez que certos crimes
atingem valores em relação aos quais se impoe especial discrição (crimes
sexuais), a promoção processual, sem ou contra a vontade do ofendido
poderia ser inconveniente para interesses seus, dignos de protecção legal.
Note-se que nos crimes semi públicos, ao contrário do que sucede nos crimes
particulares, segue-se o regime dos crimes públicos, portanto o MP ou arquiva ou
acusa. Tem total liberdade, sem contar com a possibilidade de desistência da queixa
(o que retiraria legitimidade ao MP: pode haver desistência até à primeira sentença
da 1º instância)
Note-se que os crimes de furto nos supermercados de valor inferior a 102 euros são
agora crimes particulares e já não semi públicos: nestes é preciso que o assistente
esteja no processo e isto acarreta certos custos (a taxa de justiça é superior a 102
euros) o que consubstancia um obstaculo para que o processo não chegue a tribunal.
O queixoso pode ter atenção de ao fazer passar o prazo de 10 dias apresentar nova
queixa, contudo segundo o STJ tal não é possível. Se o queixoso não se constitui
assistente e o MP arquivou então terminou.
Nos termos do art. 146º nada se diz sobre a natureza do crime. Contudo é necessário
atender às suas alineas e ver a remissão das suas normas. O art. 146º al. a) remete para
o art. 143º que nos termos do nº2 é um crime dependente de queixa; o art. 146º al. b)
remete para o art. 144º sendo que este nada diz pelo que o crime é público.
Deste modo se estivermos face a uma situação em que o art. 146º al. b) em que se
remete para o art. 144º nos termos do art. 48º CPP o MP tinha legitimidade para
instaurar o inquérito; se se tratar do caso do art. 146º al. a) que remete para o art. 143º
sendo o crime semi público nos termos do art. 49º a legitimidade do MP encontrava-se
condicionada pela apresentação de queixa por parte de Bento. Note-se que neste
último caso e nos termos do art. 113º CP a queixa teria de ser apresentada por Bento
que é o ofendido, não o podendo ser por Carlos.
XX
Por exemplo, numa sociedade quem é que pode apresentar queixa? Quem tem o
interesse mediato, reflexo e indirecto? A propria sociedade atraves dos seus orgaos de
gestao e administração.
PARTE IV
XXI
Atendendo ao art. 58º/1 al. a) exige-se que exista fundada suspeita para que o
individuo possa ser constituido como arguido. Ora no caso não foram realizadas
quaisuqe diligências de prova, pelo que não existe fundada suspeita da prática do
crime, não podendo Bento ser constituido arguido.
Na redacção anterior do CPP o denunciado (aquele que ainda não foi constituido
arguido), com ou sem suspeita, devia ser logo constituido como arguido. Nao havia a
exigencia de fundada suspeita: para ser ouvido tinha logo que ser constituido arguido
com termo de identidade e residência, podendo mesmo não existir provas contra si no
processo. Bastava ser denunciado.
O legislador, em 2007, foi sensivel a esta situaçao passando agora a ser necessário que
haja fundada suspeita para se ser constituido como arguido. É preciso fazer uma
distinção entre denunciados, com ou sem suspeita, para se saber como se vai ser
ouvido.
3. O agente da P.S.P. devia ter comunicado a Bento os factos que lhe são
imputados na queixa? Com que grau de concretização?
(Acórdão do TC n.º 416/2003)
XXII
XXIII
A Câmara Municipal de Vila Nova das Beiras apresenta denúncia contra Eduardo pela
prática de um crime de desobediência, em virtude de não ter acatado um embargo
municipal de uma obra que estava em construção. Concluído o inquérito o Ministério
Público profere despacho de arquivamento. Pode o Município constituir-se assistente
no processo, para posteriormente requerer a abertura da instrução?
(Ac. da Rel. de Évora, de 25/01/05, C.J., t. 1, pp. 263 e segs. Acórdão do S.T.J. n.º
2/2005)
Acórdão de 2003: este acórdão refere-se à legitimidade para se ser constituido como
assistente em particular nos crimes em que o interesse a ser tutelado é supra estadual.
Em regra, um particular não se pode constituir como assistente. Contudo é necessário
atender ao critério que este acórdão prevé tendo sido posteriormente reproduzido nos
acórdãos 8/2006 e no 10/2010: saber se a norma, ao memso nivel que preve a tutela
de bens colectivos tambem visa a tutela de bens jurdicos particulares.
Acórdão 8/2006: estava em causa o art. 365º CP, sendo o crime contra a justiça. Tal
refere-se a interesses colectivos e ao interesse particular que assenta no bom nome da
pessoa caluniada (interesse ao mesmo nível). A pessa caluniada pode-se constituir
como assistente.
XXIV
O caso respeita ao crime de emissão de cheques sem provisão. Antes, quando não
havia outros meios de pagamento era obrigatório aceitar cheques. Hoje já não é
assim.
No caso Luís é o ofendido, pelo que estando em causa o crime de cheques sem
provisão tal consubstancia um crime semi público, peloq ue ele poderá apresentar
queixa e declarar que se quer constituir como assistente. Neste caso não seria
necessário a constituição de Luís como assistente uma vez que o MP defenderá os seus
interesses e se ele se constituisse ainda teria de pagar as custas e constituir-se como
mandatário. Nos crimes particulares, ao contrário do que sucede nos crimes semi
públicos, é obrigatória a constituição do ofendido como assistente. No caso, tratando-
se de um crime semi público só lhe convem constituir-se como assistente se o MP optar
por arquivar o processo.
Para se saber qual é o prazo para Luís pedir a indemnização civil é necessário atender
ao art. 77º/2, sendo desde já salientar que no nº1 da referida norma deve-se atender
ao prazo em que a acusação deverá ser formulada, ou seja 10 dias nos termos do art.
284º, no nº2 respeita a situações em que o lesado não se constituiu como assistente,
sendo o prazo de 20 dias a contar do despacho de acusação para requerer
indemnizaçãoe constituir-se como assistente.
No caso iremos aplicar o art. 77º/2 uma vez que Luis nao se constituiu como assistente
e, porque, ao longo do processo foi informado de acordo com o art. 75º e pediu
indemnização civil.
Se Luís não pedisse indemnização civil caducava o direito? Aqui o prazo passa a ser de
20 dias da notificação do despacho de acusação ao arguido. Ao abrigo do art. 75º,
quando se é notificado, deve-se dizer logo que se pretende pedir indemnização, para
não deixar passar o prazo. Tal deve-se ao facto de se não o fizer a lei presume que não
se tem interesse em faze-lo.
Não havendo notificação porque não se sabe quem é o dono do pc furtado como se
resolve a questão? Nos EUA decorre em separado, ou seja existe autonomia. Em
Portugal trata-se numa só acção: evitam-se contradiçções de julgamento e economia
processual. No caso em que não se sabe quem é o dono do pc não se perde o direito
podendo ser deduzido em separado o que consubstancia uma excepção ao princípio
da adesão – art. 7º/1 I parte.
Sendo notificado e já sendo assistente nos termos do art. 284º e 285º o prazo é de 10
dias.
2. Suponha que Manuel, notificado do pedido cível deduzido por Luís, não
apresenta contestação. Qual a consequência?
Nos termos do art. 78º/3 só se dão como provados os factos provados em audiência
de julgamento, não fazendo sentido que se tenham como provados factos para uma
coisa e não para outra.
4. Neste último caso, pode o tribunal remeter as partes para os tribunais civis, nos
termos do art. 82.º, n.º 3, do C.P.P.?
(Ac. Rel. Porto de 27/1/2004, C.J., t. 1, pp. 203 e segs.)
No Assento consagra-se que se em processo penal for deduzido pedido civil, tendo o
mesmo por fundamento um facto ilicito criminal, verificando-se o caso previsto no art.
377º/1, ou seja a absolvição do arguido, este só poderá ser condenado em
indemnização civil se o pedido se fundar em responsabilidade extra contratual ou
aquiliana, com exlusão da responsabilidade contratual.
6. Se Luís não deduzir pedido cível pode o tribunal, em qualquer caso, condenar
Manuel a reparar os prejuízos que lhe causou?
Nos termos do art. 82º-A só se pode nos casos em que haja particulares exigências de
protecção da vítima. No CPP anterior – arbitramento oficioso da indemnização –
apercebendo-se o tribunal de que a vitima tinha sofrido prejuizos decorrentes do
crime, condenava logo ao pagamento desta a indemnização civil.
PARTE V
XXV
1 – Pode fazê-lo? O que deve fazer para o efeito?Pode o M.P. evitar que o defensor de
António consulte o processo? De que modo e com que fundamentos?
Em termos gerais, o arguido pode consultar o processo se este for público. Em princípio
é publico. Mas se houver perigo para a protecçao do bem nome do arguido ou para
a produçao de prova pode existir segredo de justiça. Quem decide se existe ou não
segredo de justiça é o MP: é ele que dirige o inquérito e é ele que conhece as
investigações. Mas esta decisão não é só dele, mas tambem do juiz de instrução o que
pode levantar certas questões: por um lado, estamos na fase de inquerito (a direcção
é do MP) e por outro pode estar em causa um direito fundamental.
Por exemplo, em caso de busca que possa ser posta em causa pelo arguido não há
qualquer problema que o assistente consulte o processo, mas o magistrado do MP tem
de fazer uma apreciação global: não pode permitir a consulta ao assistente e logo a
seguir proibir a mesma ao arguido.
Nos termos do art. 86º/4, se não houver mais justificação para se manter o segredo de
justiça ele deverá ser levantado.
O acórdão procede à analise do art. 89º/6, sendo que o tribunal considera que se
deve adoptar um prazo objectivo, ou seja tem de ser um prazo concreto e
determinável. Assumindo que o primeiro prazo indicado na norma em análise é um
adiamento e o segundo uma prorrogação ter-se-ia de analisar qual o tempo
objectivamente necessário.
PROF. GERMANO MARQUES DA SILVA E PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO: o segredo dever-
se-ia limitar à fase de inquérito, não devendo existir prazos alargados sendo
fundamental para as garantias de defesa do arguido.
XXVI
1 - Este despacho sofre de algum vício? Como deve ser invocado? Qual a
consequência?
O despacho não é fundamentado quando o deveria ser nos termos do art. 97º/3. A
fundamentação visa conferir uma maior confiança na justiça, para auto fiscalização
da justiça e para efeitos de recurso (o requerente precisa desta fundamentação para
fundamentar o seu recurso).
O art. 97º/3 não estabelece as consequencias da sua violação, pelo que não
havendo nenhuma regra geral é necessário recorrer ao regime geral das invalidades.
Uma vez que não se encontra previsto a consequência da nulidade para esta
situação a regra geral nos termos do art. 118º é a irregularidade, sendo necessário
ainda atender ao art. 123º. Note-se que o regime da irregularidade é o regime regra
das invalidades uma vez que é o regime mais restritivo quanto à sua invocação (art.
123º/1) e permite o aproveitamento dos actos.
Neste caso é necessário atender ao art. 374º/2: não se encontra verificado o requisito
do exame crítico das provas, pelo que nos termos do art. 379º/2 tal consubstância uma
nulidade que deverá ser arguida ou então conhecida em recurso (normalmente são
invocadas face a um juíz de primeira instância).
Note-se que o regime da sentença é um regime especial, uma vez que esta
consubstancia um momento muito importante na fase declarativa do processo, pelo
que a lei acha de maior gravida a falta de fundamentação da sentença do que
outros actos considerados irregulares.
XXVII
Maria, finalista de Direito, ficou deveras surpreendida ao ter ido assistir a uma
audiência de julgamento e ter verificado que, depois dos cumprimentos entre
magistrados e advogados, a Juiz iniciou directamente a audiência pelas declarações
do Arguido...
Regressa a casa perguntando aos Pais, ambos advogados, como é possível que o que
está claramente estabelecido na lei seja sobranceiramente ignorado e se esta
omissão pode ter por consequência a anulação do julgamento.
XXVIII
Posteriormente sugiu o art. 272º/1 que consagra como (único) acto obrigatório do
inquérito o primeiro interrogatório do arguido. A doutrina divergia neste ponto:
Outra parte da doutrina defendia que quando o art. 120º/2 al. d) se referia à
insuficiência do inquérito e da instrução, não fazendo qualquer referência aos
actos legalmente obrigatórios, só tais actos poderia, gerar a sua insuficiência –
o PROF. GERMANO MARQUES DA SILVA já considerava que só os actos
legalmente obrigatórios é que poderiam gerar a insuficiência de tais. Em
princípio nos termos do art. 267º cabia ao MP indicar quais os actos que eram
obrigatórios. O STJ acabou por dar razão ao professor e consagrou que só
existiria a insuficiência na falta de realização dos actos legalmente obrigatórios.
Acórdão do STJ: ‘’a falta de interrogatório como arguido no inquérito (…) constitui a
nulidade prevista no art. 120º/2 al. d)’’
No caso estamos face a uma situação em que existe um furto simples o que
consubstância um crime semi público. O assistente deduziu acusação e
posteriormente o MP aderiu. Tal é possível? Não: a acusação teria de ser deduzida
pelo MP nos termos do art. 283º, sendo que somente depois desta é que o assistente
poderia deduzir acusação nos termos do art. 284º ou então requerer a abertura da
instrução nos termos do art. 287º.
No caso, o MP adere à acusação do assistente, sendo que caindo esta por falta de
legitimidade (crime semi público) a adesão do MP também iria cair. Se em vez do MP
ter consagrado que aderia tivesse deduzido uma acusação cópia do assistente
aplicar-se-ia a teoria do acórdão (aplica-se a casos de adesão).
Mas há actos que não podem ser delegados, nomeadamente os que constam do art.
270º/2.
Perícia financeira: art. 270º/2 al. b) e art. 154º este acto não podia pelo MP
ser delegado, pelo que tinha de ser por ele realizado. Se o caso desse indícios
nesse sentido poder-se-ia pensar na aplicabilidade do art. 270º/3
Constituição de arguido: art. 58º/3. Nota: o art. 270º/2 al. e) (não é uma
enumeração taxativa, sendo que a lei fala em quaisquer outros actos
cuidado que da lei pode resultar que a competência é do MP ou da
autoridade judiciaria e nesse caso também não pode ser delegável, porque é
a lei que diz a quem compete tal acto. Autoridade judiciaria: art. 1º al. b). A
validação da constituição de arguido é um acto indelegável.
Nos termos do art. 53º/2 al. b) compete ao MP dirigir o inquérito, não sendo tal uma
competência delegável pois tal poderia colocar em causa o disposto no art. 219º CRP.
Formalmente, nos termos do art. 270º/2 al. e) fala-se em actos indelegáveis, sendo-o
por constituírem os momentos fundamentais de prática de actos que competem
constitucionalmente ao MP. O que é que o art. 53º e o art. 219º impõe como mínimo à
intervenção do MP? Direcção do inquérito, nomeadamente a abertura do inquérito e
a decisão final. Da competência para a acção penal na própria CRP derivada como
primeiro momento o facto de ter de ser o MP a decidir a abertura do inquérito.
Suponha que apesar de o arguido ter invocado que actuou em legítima defesa, o juiz,
na sentença, não se pronuncia sobre os factos respectivos invocados na contestação.
Por outro lado, limita-se a fundamentar a decisão sobre matéria de facto afirmando
que: ‘’os factos acima indicados resultaram respectivamente provados e não
provados com base no depoimento das três testemunhas ouvidas em audiência’’
Existe uma cláusula geral de obrigação de pronúncia que nos termos gerais leva a
que caso não se verifique à nulidade da sentença nos termos do art. 379º/1 al. a) que
remete para o art. 374º/2: o juiz omitiu os factos de que resultaram a legítima defesa e
o exame crítico da prova.
O juiz deveria ter elencado quais os factos provados e não provados e num deles
incluir a legítima defesa (o facto pode estar provado ou não, mas em qualquer das
situações tem de constar da sentença). De seguida, o juiz deveria ter sinteticamente
indicado o que foi afirmado pelas testemunhas e fundamentado a sua decisão.
Todas as decisões do processo penal têm de ser fundamentadas: art. 97º. Só será uma
nulidade se tal estiver previsto na lei. Uma vez que a lei nada diz quanto a esta
situação seria uma irregularidade.
4. Suponha agora que se pode ler na sentença ‘’Ao alegar estes factos na sua
contestação invocou o arguido uma factualidade que a provar-se poderia
constituir legítima defesa ou pelo menos uma circunstância de determinação
de atenuação especial da pena’’. No entanto, não logrou trazer ao processo
qualquer meio de prova que pudesse demonstrar tal circunstancialismo, pelo
que não pode o mesmo dar-se como demonstrado. Assim, pese embora o
alegado pelo arguido consideramos que se lhe terá de imputar a
responsabilidade pela prática dos factos ilicitos em causa na acusação.
Em principio o juiz não se podia colocar nesta situação passiva, mas pode suceder
que no caso concreto não existissem mais meios de prova. Note-se que do facto do
juiz ir contra o princípio da investigação e não ordenar a produção dos meios de
prova pode fazer daqui derivar o vício da nulidade nos termos do art. 120º/2 al. d) II
parte. Só há uma violação deste poder dever se existissem outros meios de prova.
Neste caso, existe uma postura erronea (ele não pode adoptar uma posição passiva),
mas tal só consubstancia uma nulidade se existissem mais meios de prova. Do caso
quase que resulta um ónus de prova subjectivo ‘’ele não logrou trazer ao processo’’.
XXIX
1 - Pode o tribunal não considerar os factos confessados como provados, por suspeitar
da veracidade da confissão e, em consequência, ordenar a produção de toda a
restante prova?
(Acórdão do S.T.J., de 9/10/91, B.M.J., n.º 410, p. 591 e segs. )
A confissão encontra-se consagrada no art. 344º, sendo necessário atender ao nº3 al.
b) e ao nº4. Ou seja, o tribunal nunca está inteiramente vinculado, podendo sempre,
em sua livre convicção, duvidar da veracidade dos factos e não os dar como
provado. Esta disposição não tras consigo uma excepção à livre apreciação da
prova, não estando o juiz vinculado à confissão, podendo dispensar ou não a ulterior
produção de prova. O art. 344º tem como função util permitir que em caso de
confissão do arguido o juiz possa decidir conforme se encontra consagrado no seu nº4,
ou seja se e em que medida vai ser necessária a produção de prova.
2 - Suponha agora que Eduardo não está presente na audiência de julgamento e que
o juiz decide que a sua presença não é essencial para a descoberta da verdade
material, pelo que determina que o julgamento se inicie na sua ausência (art. 333.º, n.º
1, do C.P.P.). O M.P. requer que se proceda à leitura das declarações prestadas pelo
arguido em inquérito perante o J.I.C. Como deve decidir o juiz? Se for possível a leitura,
qual o valor probatório destas declarações?
É necessário atender ao art. 357º/1 al. b) que determinaa que a reprodução ou leitura
de declarações anteriormente feitas pelo arguido só é permitida quando realizada
perante autoridade judiciária com assistência de defensor e o arguido tenha sido
informado nos termos do art. 141º/4 al. b).
Nos termos do art. 141º/4 al. b) quando se proceder ao interrogatório do arguido, o juiz
irá informá-lo de que não exercendo o direito ao silêncio as declarações que prestar
poderão ser utilizadas no processo, mesmo que seja julgado na ausência (…), estando
sujeitas à livre apreciação da prova.
Deste modo, não estando Eduardo presente na audiência de julgamento mas tendo
prestado as suas declarações perante o JIC, tais poderão ser reproduzidas e
encontram-se sujeitas à livre apreciação de prova por parte do juíz.
XXX
Luís, assistente num processo que corre contra Manuel, pela eventual prática de um
crime de abuso de confiança, pretende juntar aos autos uma escritura pública de
compra e venda, da qual consta que Manuel declarou perante o notário ter recebido
o preço que lhe foi entregue pelo comprador, na qualidade de procurador de Luís,
para que fique provado no processo crime que Manuel recebeu efectivamente a
quantia respectiva. Tem razão?
Conjugando o art. 165º/1 com o art. 169º, Luís tem razão: prova-se a autentecidade do
documento e a sua veracidade.
CONJUGAÇÃO DO ART. 169º COM O ART. 127º QUE CONSAGRA A LIVRE APRECIAÇÃO
DA PROVA: não se trata de dispensar outros meios de prova, mas enquanto o juíz não
tiver fundamentos que contrariem tal os factos são dados como provados. Basta que
a veracidade do conteúdo seja fundadamente colocada em causa para os factos
não sejam ou deixem de ser dados como provados.
XXXI
só porque não foi arguida em tempo, mas também porque foi sanada com a
apreensão posterior, ordenada pelo juiz. Quem tem razão?
O primeiro problema que o caso suscita é que primeiro foi realizada a apreensão e só
depois é que o juíz ordenou tal, o que nos termos do art. 179º/1 consubstância uma
nulidade.
No caso não estamos face a uma medida cautelar, uma vez que a questão não se
insere no âmbito do art. 252º: a actuação descrita no caso não seria lícita nem pelas
regras normas quanto à corresponência nem pelas medidas cautelares que exigissem
urgência.
XXXII
XXXIII
Gonçalo e Hugo, agentes da P.J., detêm João, pela prática, em flagrante delito, de um
crime de furto qualificado. João mostra-se colaborante com aqueles agentes da P.J.,
dizendo-lhes que tinha combinado, para o mesmo dia, uma aquisição de notas falsas
a Luís, nas bombas de gasolina junto ao estádio do S.C.P. Combinaram então que
todos se dirigiam, como acordado entre João e Luís, para aquele local. Aí chegados, o
Luís dirige-se ao João e, quando se encontrava a poucos metros de distância deste, é
detido pelos agentes da P.S.P. Realizada uma revista a Luís, foram encontradas na sua
posse 500 notas falsas de € 50.
Atendendo ao art. 174º/5 al. c) a revista era legal. Além desta norma, poder-se-ia
ainda atender ao art. 251º al. a) que nem exigia que a detenção fosse realizada em
flagrante delito.
A questao esta em saber se esta diferença face ao caso anterior é ou não relevante?
No caso os agentes não tiveram qualquer influência na decisão, pelo que a prova
poderá ser utilizada.
No acordao havia uma nuance: ele mostrava-se colaborante e disse ‘’nos temos
combinado uma entrega mas ainda não fixamos o dia e a hora’’ e o policia é que
disse para marcar. Mesmo assim o STJ disse que já estava decidida a entrega, pelo
que o negocio estava mais do que decidido. Tal interferencia não se tornou uma
provocaçao. De facto na pratica as vezes não é facil.
XXXIV
(Acórdãos do T.C. n.º 121/97 e 416/03, Ac. Tribunal Relação Porto, de 24/01/2001)
As perguntas tem de ser feitas de forma clara e inequivoca. O art. 194º remete para o
art. 141º/4. Quanto a factos a lei estabeleceu um dever de informação geral (factos
concretos para que um arguido inocente possa defender-se), mas quanto ao direito à
informação em relação a elementos de prova só se tal não colocar em causa meios
de prova. Uma solução paralela é dada em matéria de consulta dos autos
relativamente à aplicação de medidas de coacção. Nos termos do art. 194º/6 e ss
existe a limitação quanto à conveniência: o tribunal pode não mostrar ao arguido,
não o deixar consultar, os elementos de prova desde que haja perigo para a
investigação.
O PROF. JOSÉ LOBO MOUTINHO acha isto inconstitucional: nos acórdãos o argumento
é preservar o direito de recurso ao arguido; enquanto vigorou um certo entendimento
marxilista do segredo de justiça (até 97’) o tribunal constitucional disse que se não se
deixar o arguido ir aos autos ver os meios de prova qual é a sua base de recurso?
Por exemplo, para prisão preventiva além dos requisitos constantes no art. 204º e 202º é
ainda necessários fortes indicios da prática de crime doloso: se não se tiver acesso aos
autos o que se discute no recurso? Deste modo, no caso para existir esta restrição de
acesso tal teria de ser devidamente fundamentado. Quando ao acórdão da Relação
consagra-se neste que tem de existir um acesso ainda que limitado aos autos. Caso
contrário, impedindo-se o completo acesso aos autos esta-se a esvaziar o direito ao
recurso.
2 - Concorda com este despacho? O que pode fazer o arguido para o impugnar?
Não, uma vez que não se pode presumir a existencia de perigo de fuga: é necessário
averiguar/demonstrar em concreto os factos e os elementos que apontam para estes
factos o perigo de fuga. Tal está sujeito à presunção de inocência.
Ele poderá recorrer nos termos do art. 219º/1. A partir do momento em que lhe foi
aplicada uma medida coactiva ele já não está detido, mas sim preso. Quando ao
harbeas corpus inicialmente tinha uma configuração diferente da que tem
actualmente: só se podia recorrer ao harbeas corpus quando não podia existir recurso.
Na interpretação sucessiva da jurisprudencia, o harbeas corpus transformou-se numa
providencia rapida para casos escandalosos. Desde que se verifiquem os pressupostos
do harbeas corpus, mesmo que haja possibilidade de recurso, pode-se usar o harbeas
corpus.
3 – Se o M.P. requerer que o arguido preste uma caução, pode o J.I.C. determinar que
fique em prisão preventiva?
Não pode haver prisão preventiva, nem proibição nem imposição de condutas, nem
obrigação de permanência na habituação. A lei exige, além dos perigos da
liberdade, que haja fortes indicios da pratica de crime doloso nos termos do art. 201º e
202º.
PARTE VI
XXXV
António foi acusado por um crime de furto simples (art. 203º do Código Penal) pelo
Ministério Público. O assistente, Bento, não se conforma com esta acusação, por da
mesma não constar que o valor do objecto furtado é superior a € 8.000,00, pelo que
requer a abertura da instrução, concluindo que o arguido deve ser pronunciado pelo
crime p.p. no art. 204º, nº 1, al. a), do Código Penal.
O princípio geral é o da recorribilidade, nos termos do art 399º CPP. O art. 310/1º CPP é
uma norma excepcional que afasta a aplicação do art. 399º CPP. Só se aplica nos
casos expressamente previstos neste art. Distinguem-se decisões instrutórias que são
irrecorríveis e decisões que são recorríveis - a questão só se coloca quanto a
despachos de pronúncia! Os despachos de não pronúncia são sempre susceptíveis de
recurso. Quando é que os despachos de pronúncia são susceptíveis de recurso?
Quando se trata de acusação particular, a não ser que o Ministério Público tenha
aderido à acusação do assistente. Nestas situações, o assistente e o Ministério Público
estão de acordo quanto aos mesmos factos. Nestes casos não se justifica recurso para
a Relação. Isto só se justifica quanto aos factos constantes da acusação do assistente
– Princípio da economia processual. Isto não viola os direitos de garantia do arguido?
O TC já se pronunciou quanto a isto: há uma razão objectiva para que seja assim, pois
o juiz e o Ministério Público são dois órgãos imparciais e estão de acordo quanto à
indiciação do arguido. (Tc 610/96).
No caso, não há acordo com o Ministério Público: a concordância tem de ser pelos
mesmos factos. Ex: tem de ser furto simples/furto simples. O recuso não é obrigatório,
mas o arguido tem a possibilidade de recorrer ou não.
Art.310º/1/parte final CPP. Art.308º CPP Atendendo ao art. 310º/1 in fine e ao art. 308º -
indiciação dos factos diferente das questões prévias -nº3.
O PROF. HENRIQUE SALINAS defende que se devia poder resolver estas questões antes
do julgamento, porque se depois há algum problema, o processo tem de ser anulado
e volta para a fase de instrução. Assim não se garante a economia processual!
XXXVI
António foi acusado por um crime de furto simples (art. 203º do Código Penal), tendo o
assistente, Bento, deduzido também acusação, mas acrescentado que o arguido fazia
do furto modo de vida (art. 204º, nº 1, al. e), do Código Penal). Não tendo havido
instrução, o presidente, depois de compulsados os autos, pretende:
1 - Rejeitar ambas as acusações, em virtude de entender que não resultam dos autos
indícios suficientes da prática de qualquer crime pelo arguido. Pode fazê-lo?
Se houver despacho de não pronúncia pode voltar a ser acusado pelos mesmos
factos?
Nos termos do art. 311º/2 al. a) não havendo instrução, pois esta é a fase própria para
recolha de indícios (se o juiz de instrução diz que há indícios não pode ser o juiz a dizer
que não. O despacho de pronúncia tem força de caso julgado.), o juiz pode rejeitar
por considerar que não há indícios suficientes.
Assento 4/93 - foi afastado porque violava o princípio do acusatório. A nova redacção
da lei já está conforme este.
O art. 311º/3 CPP densifica o conceito de “acusação infundada”, mas daqui não
consta a falta de indícios – a acusação sem prova seria impossível, pois o arguido seria
sempre absolvido. Neste número encontram-se os requisitos formais de acusação. É
afastada a jurisprudência fixada no assento nº 4/93. É necessário atender ao art.
283º/3.
O assistente acusa por furto qualificado e o Ministério Público por furto simples. A
acusar por furto qualificado o que estaria o assistente a fazer da acusação do
Ministério Público? A introduzir alteração substancial. Pode? Tem de ter a confirmação
do juiz de instrução, nos termos do art. 284º/1CPP. Neste caso, havendo duas
acusações, este processo será enviado para julgamento e no saneamento (art.311º) o
juiz detectará isto e terá de rejeitar!
XXXVII
António foi acusado por um crime de furto simples (art. 203º do Código Penal).
Realizada a audiência de julgamento suscitam-se as seguintes questões:
1 - Poderá António ser condenado, com base nos mesmos factos, por um crime de
burla (art. 217º). Em que termos?
(Assento do STJ n.º 2/93, Acórdão do TC n.º 445/97, e Assento do STJ n.º 3/2000)
Trata-se de alteração da qualificação jurídica, porque se diz “com base nos mesmos
factos”. Nos termos do art. 303º e 358º e 359º CPP o objecto do processo é o mesmo.
Art. 303º e 309º CPP - se for alteração do objecto na instrução. Se for no julgamento –
art. 358º e 359º CPP.
Art. 358º/3 CPP- manda aplicar o seu nº 1- alteração não substancial dos factos. O
tribunal pode alterar a qualificação desde que comunique ao arguido e lhe dê tempo
para preparar a sua defesa.
No início não estava estabelecido nenhum regime. Discutia-se se devia ficar sujeito ao
regime da alteração dos factos.
O PROF. GERMANO MARQUES DA SILVA defendia que devia ficar sujeita ao mesmo
regime da alteração dos factos, que pode ser substancial ou não, se não for alteração
da pena ou imputação de crime diferente.
O TC vem dizer que são duas coisas diferentes e por isso têm de seguir regimes
diferentes. O STJ dizia que o arguido se defende de factos e não de qualificações.
Hoje não se pode dizer que a qualificação seja inferente para a defesa.
2 - Todas as testemunhas afirmam que o objecto furtado tem valor elevado. Pode o
tribunal dar como provado este facto e, em consequência, condenar António por furto
qualificado (art. 204.º, n.º 1, al. a))? Em qualquer caso, o que deve fazer o juiz?
Antes desta redacção a posição majoritária defendia que o tribunal não pode
conhecer dos novos factos, mas que valem como denúncia para o Ministério Público
proceder como factos novos de que toma conhecimento. Na fase de julgamento - o
processo era remetido para a fase de inquérito para que o Ministério Público voltasse a
investigar e deduzisse nova acusação. Descobria-se a verdade material, mas tinha
muitos inconvenientes.
Nova posição: a lei só permite isto se estes factos forem autonomizáveis quanto ao
processo, ou seja, o processo não regressa ao passado, os novos factos é que serão
alvo de inquérito por parte do Ministério Público. Foi esta a solução que se quis
consagrar na redacção actual do CPP. O processo continua. A comunicação dos
factos novos só é feita se estes forem autonomizáveis.
Se não houver acordo do arguido e outros sujeitos processuais o que poderá fazer o
juiz na sentença final?
O tribunal apenas poderá condenar por furto simples se os factos forem dados como
provados. Não pode colocar o valor da coisa na sentença, senão é nula, nos termos
do 279º CPP.
Os factos são autonomizáveis? Não, porque o valor não é crime. Não pode ser
investigado no âmbito do processo penal. Nem em abstracto nem concretamente
são subsumíveis a um determinado tipo de crime.
4 - Algumas testemunhas, vizinhos de António, afirmam que este, para além do furto do
objecto que lhe foi imputado na acusação, duas horas depois, quando estava a
chegar a casa e depois de ter ido almoçar com uns amigos, se apropriou de um
telemóvel de Duarte, que estava no interior da sua viatura. Pode o tribunal dar como
provado este facto e, em consequência, condenar António por furto qualificado (art.
204.º, n.º 1, al. b)), para além do furto simples? Em qualquer caso, o que deve fazer o
juiz?