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LARANJEIRA, Pires. Cabo Verde: periodização. In: ______. Literaturas Africanas de


Expressão Portuguesa. Lisboa: Universidade aberta, 1995, p.180-185.

Por: Maria Vanessa de Sousa (UESPI)

O texto a seguir tem por objetivo mostrar como se deu a divisão periódica da literatura
cabo-verdiana, apresentada pelo autor Pires Laranjeira no capitulo Cabo-Verde: periodização
do livro Literatura Africana de Expressão Portuguesa (1991). Será observado, também, como
o autor tratou a forma que literatura se mistura com as lutas pela independência e mesmo com
lutas ideológicas do país.
Segundo Pires Laranjeira, esta hoje firmada, que a organização sistemática da
literatura angola existe há menos de um século e meio, porém esta literatura encontra uma
periodização um tanto extensa que tenta abranger os problemas enfrentados em sua origem.
Assim, pode se observar que o 1º período, que vai das origens a 1848, chamado de
Incipiência, considera que a literatura de Angola tenha se iniciado a partir da introdução da
maquina tipográfica de imprimir, com o livro de Maia Ferreira, em 1849. Contudo, esta não é
uma opinião unanime entre os críticos, já que alguns consideram certos escritos do século
XVII como documentos poéticos. Essas criações podem, no entanto, ser incluídas em um
período vago da Era colonial, em meio à literatura luso-angolana, mas não pode se pensar em
uma literatura minimamente sistematizada nesta época. Conforme afirma Laranjeira, essas
produções não foram tomadas como de grande importância, visto que podem ser encontrados
apenas alguns textos diversos desta literatura colonial.
O 2º período, como mostra Laranjeira, compreende a publicação dos poemas de
Espontaneidades da minha alma (1849), de José da Silva Ferreira, até 1902 Esse meio
tempo inclui a produção poética vinda ainda do Romantismo e com algumas tentativas de
realismo. Nesse intuito se destaca Nga mutúti (1882), uma noveleta de Alfredo Troni. Neste
interim, a imprensa livre, a partir de 1866, se destaca por sua importância cultural. Na virada
do século as atividades literárias se se lançam em temáticas liberais e autonomistas, sob o
símbolo da maçonaria.
O 3º período abrange a primeira metade do século XX de preludio ao ideário
nacionalismo intenso que viria com a segunda metade do século. Neste período, a literatura
colonial se estende aos europeus. As temáticas mais comuns são as que tratam de savanas,
colonização, selva, escravos e safaris. O negro aparece como figurante. Nesta fase, o romance
de Castro Soromenho ainda não se desprendeu da visão preconceituosa sob o negro. Ele ainda
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é visto como fato e fator de curiosidade e poucos livros da época incitam a atenção critica
como acontece hoje.
Já o 4º período, 1948-1960, compreendem a época decisiva para a consciência africana
e nacional, é também o momento crucial na formação e organização da literatura nacional
com base em movimentos como o MNIA (Movimento dos intelectuais de Angola) , o da
cultura e o da CEI. O termino da II Guerra Mundial acentua o desejo de emancipação e de
transformação do meio cultural africano. Essa etapa já apresenta uma atividade cultural em
desenvolvimento. Em 1951 foi lançada a revista a mensagem, pelo departamento cultural da
ANANGOLA. Esta mesma revista premiou em seu concurso literário do biênio com menção
honrosa o poema Eme, ngana, eme muene, de Mario Pinto de Andrade e com o 2º premio de
poesia, África, de Antonio Jacinto.
Na década de 50, o objetivo, pautado nas influencias neo-realistas e da Negritude, foi
conciliar a exaltação do povo, busca da identidade nacional e a integração. Para isto, a forma
mais usada foi a poesia. (poemas). Esta usou de conquistas do modernismo, como o verso
livre e temas inovadores. Assim, pode se tratar das três vertentes ideológicas: o povo, a classe
e a raça. O povo, porem, aparece sempre como sendo negro e em papeis estigmatizados, como
prostitutas, analfabetos, escravos e serviçais. A Negritude surge dando-lhes o sentimento de
exaltação de sua raça e o reconhecimento de suas raízes. Essa poesia busca a afirmação do
homem negro, das classes sociais, assim como, dos locais típicos das colônias.
O 5º período relaciona-se principalmente como o aumento da atividade editorial ligada
ao Nacionalismo declarado ou encapotado. Porém, ao menos em que surge a temática
guerrilheira, nos ghetos das colônias a temática continua a ser o sofrimento do colonizado, a
falta de liberdad4e e a vontade de manipular o próprio destino.
O inicio da luta armada de libertação nacional, em 1961, não impede a publicação de
varias obras poéticas. A atividade desse período torna possível o aparecimento da CEI, Poetas
angolanos, organizada por Alfredo Margarido que junto com a antologia de Mario de
Andrade, fornece um corpus razoável da poesia angolana. Porem, ainda nesta década com a
repressão de políticos e intelectuais ligados aos movimentos de libertação, muitas publicações
são encerradas e as CEI fechadas.
Apos recebimento do Grande Prêmio de Novelística a Luuanda, José Luandino Vieira,
tem grande destaque e repercussão inclusive me Portugal. Assim, Luandino se torna o autor
mais conhecido e responsável pela grande revolução.

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O 6º período, o da Independência, compreende dois períodos (1972-1974 e 1975-80).


Um deles marcado pela modernidade mostrada pelas grandes centro mundiais e outra pautada
pela intensa exaltação patriótica e apologia a politica do novo poder.
Nesse período surgem em Angola atividades literárias que incluem além dos
angolanos, portugueses residentes e europeus de passagem. Nesse contexto surgem produções
como Chão de ofertas (1972), de Ruy Duarte de Carvalho e Cronica do Gheto (1974), de
David Mestre, dentre outras.
Ainda antes da independência, em Luanda, jornais como o Diário de Luanda e A
província de Angola, já publicavam em sua paginas textos que acabavam por combater e
desconstruir os valores estéticos e ideológicos em vigor.
Após a independência, em 11 de Novembro de 1975, pode-se enfim veicular os
considerados impublicáveis, estando entre eles a Revista Ngoma. A fundação da União Dos
Escritores Angolanos (UEA) inaugurou uma nova era de perspectivas politica e literária,
inaugurando aí uma fase literária de intensa exaltação nacional.
O ultimo período desta literatura angolana (1981-1993), trata da renovação iniciada
com a Brigada Jovem de Literatura, que tinha como objetivo a preparação de jovens para o
trabalho literário. Em certo momento desta fase foi possível a publicação de textos
considerados incômodos do ponto de vista politico, assim como tendências estéticas e
ideológicas ganharam espaço.
Assim, o autor chega ao seu objetivo, expondo datas e fatos de grande importância
para a formação e desenvolvimento tanto da literatura quanto da ideologia do povo angolano.
Deste modo, pôde-se observar que Pires Laranjeira procurou ressaltar também, os autores que
fizeram parte de cada um dos períodos citados e sua importância nesse meio. No entanto,
pode ser observado que o texto não é de tão fácil entendimento, e espera-se que o leitor se
esforce para tornar sua leitura clara e objetiva.

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