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Ana Rita Rodrigues

RESUMOS DE PROCESSO EXECUTIVO


Prof. Doutor Miguel Teixeira de Sousa

ENQUADRAMENTO GERAL

Conceito de acção executiva


Art.º 10/4 CPC
Tem por finalidade a reparação efectiva de um direito violado. Na acção
executiva já não se trata de declarar um direito, mas sim de se providenciar ela
realização coactiva de uma prestação ao executado.
Na AE o exequente pede a realização coactiva de uma prestação ao executado.

LF = numa perspectiva normativa, é através da acção executiva que se passa da


declaração concreta da norma jurídica para a sua actuação prática, mediante o
desencadear dos mecanismos de garantia.

Importa notar que a definição do art.º 10º/4 não está completa.


Se olharmos para o artigo e para a definição ali presente perguntamo-nos se a acção
de execução específica do art.º 830º CC é uma verdadeira acção executiva.
Verdadeiramente não é uma verdadeira acção executiva pois na acção de
execução específica o juiz não pratica actos materiais quando se substitui ao
promitente faltoso.

Para ser uma verdadeira AE tem de haver a prática de actos materiais e no aso do art.º
830º CC não há.
O art.º 830º CC é antes uma acção constitutiva, não obstante ser uma acção específica
pelo facto de o autor pedir a emissão daquela declaração negocial em falta e não outra.
Contudo, quando o juiz se substitui ao promitente faltoso não está a praticar nenhum
acto material.

É a prática de actos materiais que torna a acção em AE.

A AE é aquela em que o autor requer como efeito jurídico as providencias adequadas à


realização de um direito/poder a uma prestação enunciado num título legalmente
suficiente.

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As acções de condenação consubstanciam o exercício de um direito subjectivo a uma


prestação.
Tanto se está na presença de um autónomo direito relativo, como se pode tratar
do exercício de pretensões reais ou pessoais fundadas em direitos subjectivos
absoltos, reais ou pessoais, consubstanciando poderes sem autonomia.
Daí que se possa entender que o reu de um procedimento condenatório será
sempre um devedor lato sensu de uma prestação.

Este direito ou poder subjectivo encerra um direito de interpelar, judicial ou


extrajudicialmente, a parte devedora para cumprir, e encerra o exercício de um poder
de execução forçada, ou seja, um poder de impor ao devedor o cumprimento contra a
sua vontade.

Arts.º 817º e ss CC = realização coactiva da prestação


Arts.º 827º e ss CC = casos em que ocorre execução específica.

TS: o direito de execução resulta da incorporação da pretensão num título executivo,


sendo este titulo constitutivo daquele direito de execução.
Um título é executivo porque atribui exequibilidade a uma pretensão pois antes dele
pode haver direito à pretensão, mas não há exequibilidade da mesma.

Sujeitos da execução

 Exequente
 Executado

Títulos executivos = art.º 703º (taxativo)


Por os títulos não se reconduzirem unicamente à sentença, tal demostra que a
necessidade da AE não se explica com a simples insuficiência processual da
acção declarativa para só por si dar uma tutela final.
A necessidade da acção de execução justifica-se sim com a natureza
prestacional do objecto da preensão, necessariamente bilateral, logo passível de
não ser cumprida.

Modalidades da execução
Consoante o objecto da execução, assim será a sua modalidade:
São três – art.º 10º/6

 Pagamento de quantia certa = arts.º 724º a 858º.


Apenas nesta há o conceito de penhora.

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 Entrega de coisa certa = arts.º 859º a 867º


Aqui não há apreensão do bem pelo que não existe o conceito de penhora.
 Prestação de um facto positivo ou negativo = arts.º 868º a 877º.

Para sabermos qual destas acções é que vamos propor temos de prestar atenção ao
título executivo que possuímos pois é o título que vai determinar o fim e os limites da
execução.

Forma do processo = art.º 546º


Execução comum: art.º 550º

 Processo sumário – aplicável unicamente à execução para pagamento de


quantia certa e, apenas os casos do art.º 550º/2.
O art.º 550º/2 contém um elenco taxativo de excepções!
Contudo há sempre que atender ao disposto no art.º 550/3 que vem excepcionar
o que está no /2.

 Processo ordinário – restantes casos que não cabem no /2 ou que, cabendo são
excepcionados pelo /3

Execução especial: arts.º 933º a 937º (execução por alimentos) e o procedimento


especial de despejo.

Aspectos estruturantes da AE
São vários os Aspectos que caracterizam a AE:

 Não há lugar à tramitação de processos declarativos incidentais.


Na AE já não se discute se existe ou não o direito, aqui o que se tenta é a
realização coactiva de uma prestação.

 O processo executivo baseia-se num título executivo que tem de existir para que
possa ocorrer a formalização da execução.

 A execução comporta dois órgãos – tribunal e agente de execução.


O processo de execução é um processo descentralizado pois não está tudo
concentrado no tribunal.

 Transparência patrimonial
É a possibilidade de conhecimento dos bens penhoráveis e, na consequente
obrigação do executado informar quais são os bens de que dispõe que possam
ser penhorados.

 Registo informático – art.º 717º

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Princípios processuais
Princípio do dispositivo: o processo executivo assenta na disponibilidade das partes
sobre a instância, cabendo ao credor (exequente) dar o impulso processual com o
requerimento executivo (art.º 724º).
Este principio traduz-se no ónus de incurso da execução.
Art.º 763º/1 – manifestação do princípio.
No entanto esta disponibilidade das partes é limitada pois elas não podem constituir
títulos executivos diferentes dos que constam da lei, bem como as penhoras também
têm limites, não se podendo renunciar a eles.
No entanto nada restringe os negócios entre as partes que restrinjam ou excluem a
execução, bem como é possível limitar-se a responsabilidade do devedor a
determinados bens.

Princípio da cooperação: art.º 7º


Este traduz-se num dever de litigância de boa-fé (art.º 8º), cuja violação pode levar a
responsabilidade civil por litigância de má-fé nos termos do art.º 542º
Manifesta-se nos deveres do executado (at.º 750º/1); impõe um dever de prevenção
(art.º 726º/4); impõe ao agente de execução o dever de informar sempre o exequente
sobre as diligencias realizadas (art.º 754º/1 a)); impõe o dever de apresentação da coisa
penhorada (art.º 767/2).

Princípio da gestão processual: não tem a mesma expressão que na acção declarativa
pois qualquer que seja o valor da acção os actos de execução terão de ser exactamente
os mesmos.

Princípio da igualdade das partes: art.º 4º


É uma igualdade meramente formal poi vigora com maio assertividade o princípio do
favor creditoris. Em sede de AE já temos uma presunção de que a pessoa deve. E
meramente formal, logo, materialmente a igualdade não existe entre as partes.

Princípio do favor creditoris


A AE estrutura-se de molde a beneficiar o credor, ou seja, é uma acção em favor e para
o credor de uma prestação.
TS e Manuel de Andrade = entende o favor creditoris como identitário da AE.
Relacionando este princípio com a igualdade das partes entendem que nunca haverá
igualdade material na AE precisamente pela força deste princípio que estrutura a acção
de forma a que prevaleça sempre a posição do credor.
LF: no mesmo sentido entende que o facto de o exequente actuar com a garantia de
um direito subjectivo pré-definido faz com que o executado não goze de paridade de
posição com o exequente.

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Exemplos da presença do favor creditoris na AE:

 Possibilidade de dispensa de citação prévia – 855º/3;


 Art.º 719º/4;
 Todas as questões de tratamento declarativo têm de ser colocadas fora da linha
procedimental executiva em processos apensados;
 Art.º 733/1;
 Arts.º 740/2 e 751º/6;
 Regime das revelias com efeito cominatório pleno- ex.: arts.º 741/2 in fine, 773/3,
791/4 e 792/3;
 Eventual restrição das intervenções de terceiros provocadas pelo executado ou
espontâneas do seu lado;
 Possibilidade de execução provisória em determinada situações

Decorre do postulado intrínseco da execução pois nesta acção o que se pretende é a


realização coactiva da prestação, pelo que a parte activa não pretende que lhe
reconheçam um direito, mas sim está a exercer esse direito que está demonstrado no
título executivo.
Contudo isto não significa que o executado não beneficie de nenhuma proteção uma
vez que tem mecanismos de “defesa” como a oposição à execução ou oposição à
penhora e as impenhorabilidades.

Princípio do contraditório
Não obstante a AE ser uma acção que favorecer maioritariamente o exequente, o
processo executivo é um processo que se desenvolve em comparticipação entre o
exequente e o executado.

Exemplos:

 Ao requerimento executivo feito pelo exequente pode o executado opor a sua


defesa mediante oposição à execução – art.º 728º.
O executado é citado para pagar ou para se opor – art.º 726/6.
Contudo a oposição à execução não vem dita se o direito à prestação existe ou
não, pelo que não tem a mesma função desempenhada pela contestação.
Apenas dita se pode ou não haver execução na perspectiva do executado.
Constitui um incidente declarativo que corre por apenso à execução, permitindo
assim existirem garantias de defesa.

 O executado pode opor-se ao acto de penhora levado a cabo pelo agente de


execução – arts. º 784º e 785º.
Deste acto de penhora também se pode defender um terceiro – art.º 342º, ou
ainda pode dar-se o caso do art.º 812º/1.

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Princípio da legalidade da decisão:


Vale tanto para os despachos do juiz (arts. º 726º e 734º) como para os actos do agente
de execução pois ambos têm de decidir segundo a lei.
Na sua fundamentação deverão indicar, interpretar e aplicar as normas jurídicas
correspondentes – art.º 607/3.

Princípio da publicidade: o processo civil é um processo público – art.º 163/1, sendo a


publicidade assegurada por ser um processo electrónico – art.º 712/1.

Princípio da prevalência funcional: cada acto só será admitido se se apresentar


justificado para a finalidade executiva – art.º 132º.
É este princípio que fundamenta que possa ocorrer a penhora antes da citação do
demandado e que possa ocorrer a forma sumária (arts.º 550/2 e 856/1)
Trata-se de um fenómeno e sumarização do processo. É uma restrição razoável e
proporcional às garantias processuais m favor da celeridade necessária à eficácia
concreta do processo.

Modelos de execução; modelo vigente em Portugal

Podem outros credores intervir na execução?


1º modelo: o credor que instaura a AE é o único que pode intervir, estando
vedada a intervenção na acção a qualquer outro credor do executado.
Inicia-se como acção singular e permanece singular até ao fim.

2º modelo: critério da par conditio creditori. Aqui todos os credores estão numa
posição de igualdade, podendo intervir na execução todos os credores do
executado.
Inicia-se como singular e pode terminar como acção plural. Vigora em França e
Itália.

3º modelo: neste modelo podem intervir outros credores do executado desde que
tenham garantias reais sobre os bens penhorados. Vigora desde 1961 em
Portugal.

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Responsabilidade do exequente
O exequente pode ser responsável por instaurar uma AE!

Temos dois tipos de responsabilidade:

 Responsabilidade objectiva: o exequente é objectivamente responsável por ter


proposto uma execução e, posteriormente essa execução se venha a mostrar
não justificada.
Aqui é relevante a situação da execução provisória.

 Responsabilidade por facto ilícito: esta é baseada na negligencia. Temos dois


artigos – art.º 858º integrado na forma sumária e o art.º 866º no âmbito da
execução para entrega de coisa certa.

Órgãos da execução
São dois:

 Tribunal (juiz) – exerce funções de:


o Tutela: art.º 723º/1 b);
o Controlo: arts.º 723º/1 a) e 726º;
o Resolve duvidas: art.º 723/1 d);
o Garantia de protecção de direitos fundamentais: arts.º 738/6, 749º/7,
757º, 764/4 e 767/1;
o Assegurar a realização dos fins da execução: arts.º 759º, 773º/6, 782º/2,
3 e 4, 814º/1, 820º/1 829º/1 e 2 e 833º/2.

 Agente de execução – cabe-lhe a promoção ds diligencias executivas,


Art.º 719º/1 e 720/6.
Embora sejam praticados pelo agente de execução, eles são exercidos em nome
do tribunal pelo que cabe reclamação destes actos ou eventuais omissões do
agente de execução para o tribunal – art.º 723º/1 c)

Temos uma repartição de competências por o juiz controla e decide e o agente de


execução actua e executa = Art.º 719º e 723º.

Agente de execução
A sua actividade tem duas vertentes:

 Relação interna: posição perante o executado;


 Relação externa: posição perante terceiros.

É um profissional liberal sendo designado pela secretaria do tribunal – art.º 720º

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Está sujeito a um duplo controlo deontológico e processual, sendo os actos por si


praticados controlados pelo juiz de execução – art.º 723º.

Art.º 719º/1: âmbito de competência funcional do agente e execução.

Aspectos da tramitação do processo executivo

Objecto na acção executiva


A tramitação inicia-se pela apresentação do título executivo através do requerimento
executivo (art.º 724º).

Renovação da instância: muito comum no processo executivo.


Ocorre em duas situações:

 Título ser de trato sucessivo, ou seja, respeite a prestações futuras – pode


renovar-se a instancia nos termos do art.º 850º/1.
 Se não existirem bens penhoráveis a execução extingue-se, contudo o art.º
850º/5 permite a renovação da instancia caso sejam encontrados bens
penhoráveis.

Pedido: art.º 724º/1 f) = corresponde ao efeito jurídico pretendido, logo, corresponde à


realização coactiva da prestação.

Objecto imediato = dada a instrumentalidade do processo corresponde à situação de


vantagem que aviria do cumprimento espontâneo do devedor.
Objecto mediato = objecto da prestação devida.

Pedido de realização coactiva é um pedido de cumprimento específico da prestação.

Espécies de pedidos da AE (pelo objecto mediato)


Os pedidos são arrumados de acordo com o objecto mediato, correspondendo este ao
fim da execução.

Art.º 10º/6: tipos de AE (esquema tripartido)

Execução para pagamento de quantia certa = arts.º 724º a 858º CPC


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Objecto mediato: entrega de uma quantia pecuniária em execução da obrigação


pecuniária que originou o título executivo.
Efeito pretendido: pagamento da quantia devida de forma a obter o mesmo efeito
que teria se lhe tivesse desde logo sido paga a quantia pedida.

Art.º 795º/1: modos de satisfação do interesse do credor no cumprimento da prestação.


Aplica-se directamente a norma legitimadora do art.º 817º CC.

Apresenta duas formas de processo:

 Forma ordinária;
 Forma sumária – arts.º 855º e ss
Aqui o requerimento é enviado ao agente de execução que o pode recusar (art.º
855º).
Se for aceite segue-se logo para a fase da penhora, pois nesta forma, a citação
é diferida.
Art.º 855º/3 remete para o art.º 749º relativamente a se encontrar bens
penhoráveis. Se ao forem encontrados no espaço de 3 meses o exequente é
notificado.
Art.º 856º/1: se forem encontrados bens há a citação do executado no acto da
penhora.
Se o título for uma sentença que deva ser executada nos próprios autos então a
citação é substituída por uma notificação pois o executado já foi citado como réu
na anterior acção declarativa.
Art.º 855º/5: situações em que a forma sumária deve ser seguida com algumas
especificidades aqui indicadas.

A acção inicia-se com a entrada do requerimento na secretaria do tribunal – art.º 259º/1.


Mesmo quando a execução tenha de seguir nos próprios autos (art.º 626º)
Art.º 724º/6 a): está puramente iniciado o processo no momento em que são pagos os
honorários ao agente e execução.

Art.º 725º: situações de recusa do requerimento.


/2: há possibilidade de reclamação para o juiz.

Despacho liminar pode ser de:

 Indeferimento: art.º 726º/2;


Possibilidade de recurso – art.º 853º/3.
 Remessa para o tribunal competente em caso de incompetência relativa do
tribunal: art.º 726º/4;
 Aperfeiçoamento: o juiz pede que se sane alguma falha no processo;
 Citação do executado.

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Regra: citação antecipada do executado – 726º/6 (citação prévia à penhora).

Citação diferida – o 727º permite a dispensa de citação prévia.

Citação-intimação: quando a citação foi dispensada. O executado fica citado para


penhora e é intimado a indicar bens ara a penhora.
Tem lugar quando não tenha havido citação prévia ou tendo havido não se tenha
encontrado bens penhoráveis.

Art.º 550º/3: casos em que, não obstante terem de seguir a forma sumária pelo 550º/2,
seguem a forma ordinária por estarem excepcionados por este artigo.

Tipo de citação:

 Pessoal;
 Edital
Da competência do agente de execução: art.º 719º

Oposição à execução = embargos de executado – art.º 728º.


O 734º contém uma cláusula salvatória.

Depois da fase inicial temos a penhora.


Efeito essencial: art.º 822º CC.
Hipóteses de início da actividade de penhora: art.º 748º/1.

Se o exequente indicar bens à penhora temos duas hipóteses: art.º 724º ou 751º/2.
Se não indicar bens à penhora cabe ao agente encontrar esses bens. Antes de os
encontrar tem de averiguar a situação do executado – art.º 748º/2.

Art.º 749º/1: diligências para se encontrarem bens.


Art.º 750º: diligencias caso não se encontrem bens.
Se nem o exequente nem o executado indicarem bens à penhora a execução extingue-
se por ser uma execução inútil, contudo, há possibilidade de renovação nos termos do
art.º 850º.

Art.º 748º/3: a pendencia de outra execução não impede a busca de outros bens.

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Arts.º 740º e 786º: citação do cônjuge do executado.


Arts.º 786º e 788º: citação de terceiros que tenham garantias reais sobre os bens do
executado.

Estando na fase da penhora o executado pode fazer oposição à penhora.

A seguir à penhora temos a fase da venda e depois com o produto da venda proceder-
se-á ao pagamento.

Execução para entrega de coisa certa = arts.º 859º a 867º

Execução para prestação de facto = arts.º 868º a 877º

Exequibilidade extrínseca
Art.º 10º/5: toda a execução tem de ter por base um título.
Se não tiver a secretaria (725º/1 d)) ou o agente de execução (855º/2 a))
recusam receber o requerimento quando não seja apresentado.
Art.º 726º/2 a): deve haver despacho liminar de indeferimento quando seja
manifesta a falta ou insuficiência do título.
Isto pode levar a uma extinção superveniente da execução – art.º 734º/1.
Art.º 729º a): a falta, insuficiência ou inexequibilidade do título são fundamento
de oposição à execução.
O título tem de demonstrar uma obrigação certa, liquida e exigível – art.º 713º

Anselmo de Castro = a exigência de título e de uma obrigação certa, liquida e exigível


são pressupostos processuais específicos.
Castro Mendes e LF = o título executivo é um pressuposto formal e a obrigação ser
certa, líquida e exigível é pressuposto material da AE.
TS = tem a mesma orientação que LF, entendendo que o título constitui a exequibilidade
extrínseca e a obrigação ser certa, liquida e exigível constitui a exequibilidade intrínseca.

A pretensão é intrinsecamente exequível quando em si reveste as características de


que depende a sua susceptibilidade de constituir o elemento substantivo do objecto da

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acção executiva, para o que basta ter como objecto uma pretensão que seja certa,
líquida e exigível.

O título, por sua vez, condiciona a exequibilidade extrínseca da prestação ao permitir,


de modo autónomo relativamente ao direito a que se refere, a execução da prestação
sem a verificação da ocorrência do facto constitutivo do direito.

O título executivo
Definição: documento pelo qual o requerente da realização coactiva da prestação
demonstra a aquisição de um direito a uma prestação.
O título integra e revela a obrigação exequenda.

Art.º 703º/1 b), c) e d): são documentos escritos, pelo que são um objecto representativo
duma declaração e, como tal, constitui meio de prova legal plena – arts.º 362º, 371º/1 e
376º/2 CC.
O título extrajudicial ou judicial improprio é um documento que constitui prova
legal para fins executivos, e a declaração nele representada tem por objecto o
facto constitutivo do direito de crédito.

O título é condição necessária da AE porque não há execução sem título, o qual tem
obrigatoriamente de acompanhar o requerimento inicial.

Funções do título:

 Função de certificação: certifica a aquisição do direito à prestação pelo


exequente. Contudo não tem uma função probatória em sentido próprio pois na
AE não há nada a apreciar no plano dos factos por parte do tribunal ou do agente
de execução.
TS: com a apresentação do documento que consubstancia o título executivo, a
obrigação exequenda considera-se provada.
O valor do título enquanto meio de prova determina que seja o executado a ter
de provar a falsidade ou a veracidade da respetiva letra ou assinatura.

O título demonstra a causa de pedir pois uma vez demonstrada pode ser
deduzido o pedido de realização coactiva da prestação autorizado pelo art.º 817º
CC.

 Função de delimitação: dada a instrumentalidade da execução perante o direito


subjectivo, a execução fica determinada tanto na sua causa de pedir como no
seu pedido pelo conteúdo do título.
Determina no plano objetivo o objecto da prestação e determina o quantum da
mesma e a medida da penhora ou da apreensão.
No plano subjectivo determina a legitimidade, dizendo quem pode ou não ser
parte a execução e quem são os terceiros (arts.º 53º e 54º/1).

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 Função constitutiva:
TS = o título cumpre uma função constitutiva pois atribui a exequibilidade a uma
pretensão, possibilitando que a correspondente prestação seja realizada através
de medidas coactivas impostas ao executado pelo tribunal. Ao demonstrar a
aquisição de um direito a uma prestação constitui o direito à execução.

Características do título

 Suficiência
 Autonomia

Classificação dos títulos executivos


Temos três critérios para classificar os títulos:
1. Natureza da entidade autora dos efeitos jurídicos:
o Títulos executivos públicos:
 Judiciais;
 Judiciais impróprios;
 Administrativos
o Títulos executivos privados:
 Autênticos;
 Particulares, autenticados e simples.

2. Tomando a sentença como referência:


o Judiciais próprios: são as sentenças condenatórias.
o Judiciais impróprios: enunciam um comando de actuação, são as
injunções. Enunciam um comando de cumprimento da obrigação pelo
devedor;
o Extrajudiciais: elaborados fora de um processo judicial.

3. Efeito material do título em face do direito à prestação:


o Constitutivos da aquisição do direito à prestação;
o Recognitivos da aquisição do direito à prestação.

Títulos possíveis admitidos por lei – art.º 703º (elenco taxativo)


Art.º 703º/1 a) – sentenças condenatórias
Exequibilidade da sentença condenatória: art.º 703/1 a) + 704º.
As sentenças de simples apreciação, as constitutivas e modificativas, por não
conterem um comando de cumprimento de uma prestação não são título
executivo.
Uma sentença constitutiva que contenha uma decisão de mérito favorável no é
susceptível de ser executada pois o efeito constitutivo da sentença produz-se
automaticamente, nada restando da sentença para ser executado. O que pode

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ser executado é uma decisão condenatórias, expressa ou implícita, que com esta
se pode cumular.
As sentenças de simples apreciação também não constituem título pois elas
apenas se limitam a declarar a existência de um direito ou facto jurídico, não
sendo o réu condenado a nada com esta decisão.
Das sentenças judiciais, apenas as sentenças de condenação são passíveis de
execução.
São equiparadas às sentenças condenatórias as decisões arbitrais – art.º 705º
e incluem-se as sentenças homologatórias.

Condenações implícitas
É um problema que se coloca face a sentenças de simples apreciação e a sentenças
constitutivas.
Cabe saber e discutir se estas sentenças com condenações implícitas valem ou não
como título executivo – gera divergências doutrinárias.

 Alguma doutrina: entende que se a sentença não condena, então o devedor não
está à espera da execução, não se podendo defender da mesma
convenientemente.
Segundo esta posição, o credor que tem na sua posse uma sentença com uma
condenação implícita tem de interpor uma acção declarativa ara reconhecer o
seu direito à prestação em causa.

 Rui Pinto: entende que é errado falar-se em condenações implícitas. Neste tipo
de sentenças o tribunal não exprimiu qualquer vontade sobre a questão em
apreciação pelo que o problema apenas se coloca face às obrigações
decorrentes directamente da lei.
Se a condenação implícita obriga o devedor a uma conduta que é obrigatória por
efeito da lei, então a execução pode ser admitida pois o devedor pode contar
com a mesma.
Se a condenação implícita pretende obter um efeito que não decorre
directamente da lei, então haverá uma restrição desnecessária do direito de
defesa do executado, não devendo a execução ser admitida. Nestes casos o
credor terá de recorrer a uma acção declarativa.

 TS: entende que é possível quando do texto da sentença se pode retirar uma
condenação implícita em termos não surpreendentes para o devedor.
Não fere o dispositivo pois há uma condenação implícita, ou seja, ainda que implícito há
um pedido. Consegue-se retirar um pedido da acção.
Não fere o contraditório pois a defesa do executado na acção executiva não seria
substancialmente diferente da sua defesa na acção declarativa.
Não vila a segurança jurídica pois o executado acaba por estar a espera da condenação
visto que se pode extrair a condenação da interpretação da sentença.

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Exequibilidade provisória: arts.º 703º/1 a) e 704º


Será título a sentença de condenação que tenha transitado em julgado – arts.º 615º e
616º.
Contudo há a possibilidade de execução provisória da sentença. São situações
em que, apesar de a decisão não estar transitada em julgado poder fundamentar
uma execução.
Regra geral: para uma sentença ser exequível tem de ter transitado em julgado, não
podendo ser susceptível de recurso ordinário ou de reclamação – art.º 628º.
Fora destes casos há possibilidade de exequibilidade provisória da sentença no
caso de ter sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo – art.º
704º/1, sendo possível executar a sentença na pendencia do recurso.
Se o recurso tiver efeito suspensivo não é título executivo e não pode haver lugar
a exequibilidade provisória.
Para que haja o recurso tem de ter efeito devolutivo

Tipos de recurso com efeito devolutivo: recurso de apelação (art.º 647º/1) e recurso de
revista (art.º 676º/1).

Art.º 704º/4 e 5: é possível pedir-se a suspensão da execução.

Ratio da exequibilidade provisória: ao permitirmos que o recurso não impeça a execução


estamos a proteger os interesses do credor, visando evitar-se que o devedor peça
recurso coma mera finalidade de adiar a execução.

Quando a causa vier a ser definitivamente julgada, a decisão de recurso terá dois efeitos
possíveis sobre a execução em curso – art.º 704º/2:

 Extinguir a execução se for totalmente revogatória da decisão exequenda,


absolvendo o réu, ou seja, se o tribunal superior revogar completamente a
decisão 1;
 Modificar a execução se apenas em parte a decisão de recurso revogar a
decisão exequenda. Mantém-se uma condenação parcial do réu – art.º 704º/2 1ª
parte, ou seja, a decisão 1 é parcialmente revogada.

Se a decisão do tribunal de recurso for sujeita a novo recurso para tribunal superior, a
execução também há lugar a execução provisória se o recurso não tiver efeito
suspensivo.
Neste caso, após a decisão final a execução:

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Ana Rita Rodrigues

 Suspender-se-á se a decisão da Relação for totalmente revogatória da decisão


1 e se o recurso interposto para o STJ tiver efeito devolutivo;
 Modificar-se-á se a decisão da Relação for parcialmente revogatória da decisão
1 e se o recurso interposto para o STJ tiver efeito devolutivo;
 Prossegue tal como foi instaurada se o novo recurso para o STJ tiver efeito
suspensivo, só podendo a execução ser extinta ou modificada com a decisão
definitiva do STJ.
A acção proposta na pendência do recurso também pode ser suspensa a pedido do
executado – art.º 704º/5 – desde que preste caução
A caução serve para garantir o dano que, no caso de confirmação da decisão
recorrida, o exequente sofra em consequência da demora da execução.

Art.º 704º/3: não havendo suspensão da execução e prosseguindo não se admite o


pagamento enquanto a sentença estiver pendente de recurso sem que haja lugar ao
pagamento de uma caução por parte do exequente.
Excepção ao favor creditoris sendo assim uma protecção do executado.
Isto porque a sentença está pendente de recurso e não se pode criar uma
situação irreversível.
Esta é a mesma lógica do 704º/4.

As cauções são prestadas nos termos gerais do art.º 623º CC.

Se, quando a decisão definitiva ocorrer antes da transmissão dos bens penhorados
temos o levantamento da penhora.

Se a decisão ocorrer já depois da transmissão dos bens penhorados, ou seja, os bens


já estão na esfera do terceiro adquirente e se já houve pagamento dos credores que
tiveram de prestar caução – art.º 704º/3:

 Ineficácia da venda (art.º 839º/1 a)) + devolução dos bens ao executado (art.º
839º/3);

Ou,
 Executado fica com a caução prestada pelos credores.

Art.º 703º/1 b) – documento exarado ou autenticado por notário


Estes são títulos extrajudiciais porque não se produzem em juízo. Emergem de um
negócio jurídico.

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Ana Rita Rodrigues

Por serem exarados por notário são documentos autênticos, incluindo-se aqui o
testamento e a escritura pública.

Testamento
Será título quando nele o testador assume uma dívida ou constitui uma dívida.
Para ser título tem de se verificar a aceitação da herança pelo sucessor, sendo
que a aceitação constitui condição de transmissão da dívida e, portanto,
fundamento da legitimidade passiva do sucessor para a execução.
Esta aceitação tem de ser alegada e provada pelo exequente = arts.º 54º/1 e
715/1.
Quanto ao que é título, ou seja, se o título é a aceitação ou se o título é o
testamento há uma divergência doutrinária.
LF: o título executivo é o testamento e nunca poderá ser a aceitação.
RP: entende que o título é a aceitação porque é ela que permite a
constituição válida do título. É a aceitação que confere legitimidade ao
sucessor.
Isto importa-nos por uma questão de legitimidade.
No entanto para que possa ser título executivo o testamento tem de ser válido
formal e materialmente. Se não for não é título executivo.
Contudo o reconhecimento de dívida nele imposto será sempre válido porque
para um reconhecimento apenas basta a forma escrita.
Nestes casos há que ver se não há nenhum título escondido como seja uma
garantia real. Contudo esta garantia tem de estar registada pois aqui o registo
tem efeito constitutivo. Isto porque, por exemplo, uma hipoteca será sempre feita
por escritura pública que constitui documento exarado por notário logo entra no
elenco do 703º/1 b).

Para fins de legitimidade, e no caso de o testamento ser válido, pelo 54º/1, os


legatários só respondem nos termos do seu legado.

O art.º 744º CPC concretiza o art.º 2098º CC – se um bem pertencer ao


património de um herdeiro, mas esse bem não advier da herança em causa, à
partida, este bem não vai responder pelas dívidas da herança.
Nestes casos o herdeiro tem de se opor à penhora – art.º 744 c)

Os documentos autênticos também constituem título executivo quando dele conste o


reconhecimento, pelo devedor, duma obrigação pré-existente.
O reconhecimento pode ser a confissão do acto que constitui a dita obrigação –
arts.º 352º, 358º/2 e 364º - ou através de reconhecimento de dívida – art.º 458º.

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Ana Rita Rodrigues

Documentos particulares elaborados antes da revisão de 2013


O Acórdão TC 408/2015 veio declarar, com força obrigatória geral, a
inconstitucionalidade da norma que aplica o artigo 703.º, aprovado em anexo à Lei n.º
41/2013, de 26 de junho, a documentos particulares emitidos em data anterior à sua
entrada em vigor, então exequíveis por força do artigo 46.º, n.º 1, alínea c), do Código
de Processo Civil de 1961.
Da redação do artigo 6.º, n.º 3, da Lei n.º 41/2013, de 26 de junho, é claro que o novo
CPC eliminou do elenco dos títulos executivos os documentos particulares, assinados
pelo devedor, que importem a constituição ou reconhecimento de obrigações
pecuniárias, cujo montante seja determinado ou determinável por simples cálculo
aritmético. A estes era conferida exequibilidade pelo art.º 46º/1 c) do anterior CPC.
O problema relativamente à revogação desta norma colocou-se face à supressão do
valo de título de documentos particulares que já possuíam esse valor à data da entrada
em vigor do novo CPC.
Daí que a questão da constitucionalidade tenha surgido do problema da sucessão de
leis no tempo.
Veio então TC com base na violação do princípio da protecção da confiança declarar a
inconstitucionalidade com força obrigatória geral do art.º 6º/3 que manda aplicar o 703º
aos documentos particulares anteriores à entrada em vigor do novo CPC.
Sendo assim, documentos particulares elaborados antes da entrada em vigor do CPC
de 2013 que se encaixem no art.º 46º/1 c) têm força executiva.

Exequibilidade de documentos autênticos ou autenticados em que se convencionem


prestações futuras – art.º 707º
Este artigo respeita à exequibilidade extrínseca das obrigações, pelo que se não for
junto o documento suplementar não existirá título executivo.

1ª parte: referente às obrigações futuras.


Aqui a relação negocial de onde emergem já se encontra constituída.
2ª parte: referente às obrigações virtuais.
Aqui a relação negocial de onde emergem ainda não se encontra constituída.

Geralmente tem aplicação nos contratos de abertura de crédito.


Estes contratos de abertura de crédito correspondem a uma promessa de mútuo
decorrendo daqui as seguintes obrigações:

 Banco (mutuário): obrigação de disponibilizar o crédito;


 Mutuante:

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Ana Rita Rodrigues

o Pagar as comissões devidas pela imobilização do montante


disponibilizado pelo banco. São indexadas à totalidade do valor
disponibilizado;
o Reembolsar o capital efectivamente mutuado. Esta é uma obrigação que
se constitui no momento da solicitação do crédito, contudo a obrigação
só se vence no final do prazo acordado;
o Pagar os juros remuneratórios que vão incidir sobre o capital
efectivamente mutuado.

Este contrato (caso conste de documento particular autenticado) é um título complexo,


sendo a sua exequibilidade apurada nos termos deste artigo 707º.
Vejamos, do título (contrato de abertura de crédito) apenas decorre a obrigação
de pagamento das comissões, uma vez que esta é a única obrigação que se
constitui no momento da celebração do contrato.
No que concerne às obrigações de reembolso e de pagamento de juros
remuneratórios, há que juntar um outro documento que prove que efectivamente
o montante foi requerido. O banco terá de prova que entregou a quantia pedida
pelo mutuário. É este documento que vai conferir exequibilidade extrínseca às
obrigações de reembolso e de pagamento dos juros remuneratórios.
Se este documento não for junto, o banco apenas pode pedir o pagamento das
comissões pelo capital imobilizado.

Podem também estar em causa contratos-promessa, contratos reais quoad


constituionem ou contratos-quadro (aqueles que instituem relações jurídicas duradouras
e cujo conteúdo vai ser definido pelo decorrer do tempo).
Temos três momentos no art.º 707º:

 Momento 1 – elaboração do título:


O documento aqui elaborado tem de ser um documento extrajudicial e, AINDA
NÃO HÁ TÍTULO pois ainda não está constituída a obrigação exequenda.
Aqui apenas é elaborado o documento que, em conjunto com o documento
elaborado no momento2 revestirá força executiva.
Deste documento deve constar:
o Convenção de prestações futuras (obrigações futuras) OU previsão de
constituição de obrigações futuras (obrigações virtuais);
o Identificação dos documentos elaborados no momento2 que podem
complementá-lo.

 Momento 2 – ocorrência de factos relevante para a obrigação exequenda:


É o momento da constituição da obrigação exequenda que deve poder provar-
se mediante o documento elaborado neste momento.
Deste documento deve resultar:
o Alguma prestação que tenha sido realizada para a conclusão do negócio,
ou seja, deve resultar que o exequente realizou a prestação respectiva;
OU,
o Alguma obrigação foi constituída na sequencia da previsão das partes.

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Ana Rita Rodrigues

Este documento pode ser judicial ou extrajudicial.

 Momento 3 – propositura da acção executiva/ prova dos factos relevantes:


O título será composto pelo documento elaborado no momento 1, juntamente
com o título elaborado no momento 2.
Salvas as hipóteses em que o documento elaborado no momento 2 reveste força
executiva.

Art.º 703º/1 c) – títulos de crédito


São o cheque, a letra e a livrança.
Quando se fala em títulos de crédito há que ter presente que neles coexistem duas
relações distintas:
- Relação cartular,
- Relação subjacente.
Elas coexistem, não se anulando. Quando a relação cartular está activa a subjacente
permanece inactiva e, quando a cartular se extingue a relação subjacente fica activa.
Nos títulos de crédito não há novação pois enquanto a relação cartular está activa, a
relação subjacente está adormecida.
Após a relação cartular prescrever o título de crédito continua a poder valer como título
executivo na sua forma de quirógrafo.
Ao se apresentar o título como quirógrafo, o que se está a executar é a relação
subjacente.
Se for apresentado como título de crédito o que se está a executar é a relação
cartular.
A relação subjacente prescreve ao fim de:
- 3 anos: caso seja uma relação extracontratual;
- 20 anos: caso seja uma relação contratual.
A prescrição tem de ser invocada na oposição à execução.
Quirógrafo: documento particular de reconhecimento de dívida. Neste está sempre em
causa a relação subjacente.

Quando dos títulos prescritos no conste a causa da obrigação há que distinguir


consoante a obrigação a que se reporta emerja ou não de um negócio jurídico formal.
- Emerge de um negócio formal: sendo a causa do negócio um elemento
essencial do mesmo, o documento não constitui título executivo – arts.º 221º/1 e
223º/1 CC.
- Se não emergir de um negócio formal, a autonomia do título em face da
obrigação exequenda e a consideração do regime de reconhecimento de dívida
leva a admiti-lo como título executivo, sem prejuízo de a causa da obrigação ser
invocada no requerimento executivo e poder ser impugnada pelo executado.

20
Ana Rita Rodrigues

Se o exequente não a invocar, ainda que a título subsidiário no requerimento


executivo, não pode fazê-lo posteriormente na pendencia do processo, após a
verificação da prescrição da obrigação cartular e sem a concordância do
executado – art.º 264º. Tal implicaria a alteração da causa de pedir.

Temos:

 Relações imediatas: entre o credor e o devedor originário.


 Relações mediatas: quando temos endosso.
O endosso, enquanto transmissão originária do título de crédito vai criar uma relação
imediata (originária) entre quem endossa e o endossado e uma relação mediata entre o
endossado e o credor originário.

Cheque:
Temos três sujeitos – banco (sacado), cliente (sacador) e o terceiro (beneficiário
do cheque).
Saque: ordem de pagamento dada pelo cliente ao Banco para que este pague
ao terceiro. Constitui a relação cartular e acontece quando o sacador assina o
cheque.
Não há aceite porque esse é dado aquando da emissão do cheque.
O beneficiário do cheque pode, posteriormente, endossar o cheque a outro.
Há que ter em atenção o prazo de 8 dias (art.º 29º/1 LUC) para apresentar o
cheque a pagamento. Ver ainda o prazo do art.º 52º/1 LUC. Se estes dois
passarem o cheque está definitivamente prescrito como título de crédito.
Quando o cheque é apresentado a pagamento após estes 8 dias temos de
verificar se foi ou não revogado.
Se foi revogado cessa a relação cambiária e passa a valer como quirógrafo.
Se não foi revogado e foi apresentado fora do prazo – art.º 32º LUC.
Paulo Olavo Cunha entende que continua a poder ser usado como título
executivo, contudo já não se pode deitar mão da relação cambiária.

Só pode valer como quirógrafo se reunir determinadas condições:

 Assinatura do devedor (requisito formal);


 Estarmos no domínio das relações imediatas (requisito material
subjectivo);
 O exequente ter alegado a relação material subjacente (causa do
cheque) que deve ser minimamente demonstrada para se evitar um
indeferimento liminar por falta de aparência mínima do facto constitutivo
do direito (requisito material objectivo 1)

21
Ana Rita Rodrigues

 A relação subjacente não exigir requisitos de forma mais solenes que o


cheque, sob pena deste servir para provar algo que apenas poderia ser
provado por documento com força probatória mais elevada

Exequibilidade intrínseca
O título deve demonstrar uma obrigação certa, liquida e exigível – arts.º 713º, 725º/1 c)
e 729º e) CPC.
Não são pressupostos processuais pois não respeitam à relação processual,
mas sim à obrigação.
Têm natureza jurídica de condição material da realização coactiva da prestação.

TS: a exigibilidade é uma condição relativa à justificação da execução. A certeza e a


liquidez são respeitantes à possibilidade da execução. Sem exigibilidade não se justifica
e sem as outras duas não é possível.

Exigibilidade
RP: à partida exigibilidade de uma obrigação seria sinonimo de incumprimento da
mesma pelo art.º 817º CC.
Seria justificada com o incumprimento porque a execução do património do
devedor, enquanto realização judicial da função de garantia do art.º 601º CC,
tem como condição aparente o incumprimento da obrigação.
Ora, RP não entende as coisas deste modo pois defende que o facto negativo
do incumprimento não chega a incorpora a causa de pedir pois o exequente não
em de provar que a obrigação não foi pontual e integralmente cumprida.

A exequibilidade constitui a qualidade substantiva da obrigação que deve ser cumprida


de modo imediato e incondicional após a interpelação do devedor.
É substantiva pois é a verificação do facto do qual depende o cumprimento, com o
decurso do prazo.
Obrigação exigível = obrigação actual (aquela que está em tempo de
cumprimento).

Pode ser:

 Simples: dispensa o credor da prova, competindo ao executado demonstrar uma


condição resolutiva ou uma excepção de não cumprimento;
 Complexa: se um facto constitutivo complementar.

22
Ana Rita Rodrigues

Uma obrigação é exigível quando, à data da propositura da execução, esteja vencida


ou se vença mediante a interpelação (ainda que judicial) do devedor. Não pode esta
obrigação estar dependente de contraprestação nem pode o devedor estar em mora.
Daí que não seja admissível uma execução in futurum (antes do vencimento de
uma obrigação com prazo).
A exigibilidade pode resultar de modo imediato, ou seja, do próprio título executivo
quando a obrigação esteja sujeita a prazo dele constante já vencido.

Não resultará de modo imediato se estivermos perante uma obrigação sujeita a


condição suspensiva, contraprestação do próprio credor ou facto atinente aos termos
do cumprimento.
Nestes casos, caberá ao credor, quando instaura a execução, demonstrar a
ocorrência do facto do art.º 715º.

Art.º 715º/6: se apenas uma das partes da obrigação for exigível, esta pode logo
executar-se.
Requer-se a execução imediata da parte exigível, enquanto o acertamento da
outra parte pode ser feita na pendencia da mesma execução – art.º 716/8 e,
sendo o caso, nos termos do art.º 716º/7.

Importa notar que a exigibilidade não coincide necessariamente com o vencimento da


mesma pois pode haver obrigação ainda não vencida, mas já ser exigível – caso das
obrigações puras. Pode ainda ocorrer o caso de uma obrigação estar vencida, mas
ainda não se exigível – caso das obrigações em que o credor está em mora, ou
dependentes de contraprestação do credor.

Obrigações com prazo


O prazo presume-se a favor o devedor – art.º 779º CC.
São exigíveis com o termo do prazo – art.º 805º/2 a) CC.
No entanto podem ser exigidas antes se ocorrer a perda do benefício do prazo
pelo devedor – art.º 780º CC.
Art.º 805º/1 a) CC = regra: a obrigação não está vencia enquanto o prazo não tiver
decorrido.
Prazo pode ser estipulado negocialmente – art.º 777º/3 CC – ou, pelo tribunal – art.º
777º/2 CC.
O credor tem de se apresentar no domicílio do devedor a pedir o cumprimento da
obrigação no termo do prazo, sob pena de incorrer em mora – arts.º 772º/1 e 813º in
fine CC.

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Ana Rita Rodrigues

Se do título se inferir que a obrigação ainda não está vencida, ou seja, se estivermos
perante uma condenação in futurum, não temos nenhum regime específico.
Contudo aplica-se analogicamente o art.º 715º/2, tendo de se provar que a suposta
obrigação vincenda já se encontra vencida.
Obrigações condicionais
Art.º 715º: aplica-se este regime quando a prestação da obrigação está dependente de
condição suspensiva ou de uma contraprestação simultânea.
Nestes casos o exequente tem de proceder segundo este regime.

O exequente tem de demonstrar o facto externo da exigibilidade da obrigação, tendo de


fazer a exposição dos factos no requerimento executivo – art.º 724º/1 h).

Estes casos incluem-se no regime do 550º/3 a) que excepciona o 550º/2.


Nestas situações será sempre seguido o processo ordinário, havendo, por isso luar a
um despacho liminar onde ser feita a apreciação da pretensão da prova.
Cabe ao juiz apreciar os factos expostos, conhecer sumariamente da prova e
decidir da ocorrência do facto alegado pelo exequente. Geralmente estas
diligências têm lugar antes da citação do devedor, se a sua audição; no entanto
o juiz pode decidir ouvir o executado, sendo que neste caso será citado para
contestar a verificação da condição ou prestação, cumulativamente com a
oposição à execução.

Obrigações puras
Art.º 610º/2 b)
Nestas obrigações, até à data da citação não existe mora do devedor, pelo que o direito
aos juros moratórios apenas se conta desde a data da citação – a citação do executado
vale como interpelação para o cumprimento – art.º 805º/1 CC. Caso ainda não esteja
vencida, vencer-se-á também com a citação do executado.
Aqui o exequente tem a vantagem de poder provar a citação prévia à execução
no caso de querer alegar que a mora já se iniciou e, deste modo, ter direito aos
juros moratórios desde esse momento.

Nestes casos a demonstração da prévia interpelação segue o regime o art.º 715º.

Regime do art.º 715º


Referente à exequibilidade intrínseca.
Temos três momentos:

 Momento 1 – elaboração do título:

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Ana Rita Rodrigues

O título executivo pode ser judicial ou extrajudicial.


Aqui JÁ HÁ TÍTULO EXECUTIVO pois já está constituída a obrigação
exequenda. Apenas não há exequibilidade intrínseca.
Aplicável aos casos em que neste momento de elaboração do título a obrigação
ainda não é certa nem exigível.

 Momento 2 – ocorrência de factos relevante para a obrigação exequenda:


Este é o momento em que a obrigação se torna certa e exigível, sendo que estes
factos que a tornam certa e exigível não têm de se provar documentalmente,
sendo admissível a prova testemunhal – art.º 715º/2.
Ex.: verificação da condição suspensiva, realização da prestação devida pelo
exequente num contrato sinalagmático, escolha extrajudicial da obrigação,
concentração e obrigações genéricas, cobrança frustrada no domicílio do
devedor.

 Momento 3 – propositura da acção executiva/ prova dos factos relevantes:


Quando sejam provados documentalmente estes factos constitutivos da
exequibilidade intrínseca, o exequente deve, neste momento apresentar tais
documentos ao agente de execução, mediante junção no requerimento
executivo.
Quando não possam ser provados por documento cabe ao juiz verificar se existe
exequibilidade intrínseca, havendo lugar a despacho liminar.
Esta produção de prova extradocumental pode ser contestada em sede de
oposição à execução.
Não é necessário apresentar prova complementar de factos ocorridos no
momento 2 se estes forem factos notórios ou de conhecimento oficioso.
É facto notório o vencimento de uma obrigação pois o decurso do prazo é uma
condição obrigatória e o prazo é de conhecimento oficioso.

Este refere-se a obrigações condicionais e a obrigações inseridas numa estrutura


sinalagmática.
Aplica-se analogicamente a todos os casos em que se verifiquem factos relevantes para
a certeza e exigibilidade da obrigação exequenda no período que intermedeia a
formação do título e a propositura da acção (momento 2).

Aqui os factos relevantes ocorrem ANTES da propositura da acção!

Aqui o título é constituído por um único documento!! Bem como são admitidos todos os
meios de prova – art.º 715º/2 e 3.
Prova documental – examinada pelo agente de execução: art.º 715º/2;
Restantes meios de prova – examinados pelo juiz: art.º 715º/3.

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Ana Rita Rodrigues

Certeza
Levantando problemas de certeza temos em especial as obrigações genéricas de
escolha (arts.º 539º e ss) e as obrigações alterativas (arts.º 543º e ss).
Nestas verifica-se uma indeterminação qualitativa, sendo, por isso necessário
um acto de especificação da qualidade da prestação.

Neste caso vale o regime do art.º 714º.

Obrigações genéricas de quantidade: aqui a indeterminação respeita ao exemplar


concreto. Falta concentrar a obrigação num objecto concreto, de molde a permitir a
inerente transmissão do direito de propriedade – art.º 408º/2 CC.
Na execução esta operação de individualização é levada a cabo pelo agente de
execução – art.º 861º/2.

Obrigação com faculdade alternativa pelo devedor: o credor deve promover a execução
do direito à obrigação primária, cabendo ao executado, no prazo da oposição à
execução, exercer a faculdade alternativa.
Caso não escolha sujeita-se à execução da obrigação principal.

Se a escolha couber ao credor, ele deverá escolher a prestação quando instaura a


acção executiva pois instaura-a de acordo com a sua escolha- art.º 724º/1 h) 2ª parte..

Art.º 714º/1: se a escolha couber ao devedor e não houver prazo convencionado para a
escolha ou, existindo ainda não tenha transcorrido, será o devedor citado para a
execução pelo agente de execução para se opor à execução e, ao mesmo tempo é
notificado para, no mesmo prazo da oposição, declarar por qual das prestações opta.
Na falta de escolha – art.º 714º/3 in fine + art.º 548º CC

Art.º 714º/2: caso a escolha pertença a um terceiro, deve este ser citado para escolher.

Se a escolha da prestação não ocorreu antes da propositura da acção e, por isso, temos
de recorrer ao 714º, então o processo seguirá sempre a forma ordinária pela excepção
ao 550º/2 do art.º 550º/3 a)

No art.º 714º os factos ocorrem depois da propositura da acção.

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Ana Rita Rodrigues

Liquidez
O acertamento da obrigação cujo objecto não esteja quantificado em face do título é um
dos pressupostos a execução – art.º 735º/3.
Trata-se de uma obrigação cuja quantidade ainda não está determinada.

A operação de liquidação deve ocorrer antes da execução por força do art.º 10º/1, dentro
dos limites fixados pelo título, não podendo ser um modo de extensa do âmbito do título.
Se o pedido de liquidação não estiver contido dentro dos limites do título, o
excesso apenas pode ser sancionado com a improcedência do pedido, havendo
absolvição total ou parcial do pedido.

Posto isto, está claro que o exequente não pode formular um pedido ilíquido sem
proceder à sua respectiva liquidação.

Qualquer obrigação tem de ser liquidada, excepto nestes três casos:


a) Juros vincendos – neste caso a liquidação é feita a final (art.º 716º/2) pelo agente
de execução, em face do título e dos documentos complementares ou taxas
legais de juros nos casos do art.º 703º/2.
Só poderia ser assim porque no decorrer da execução e até que o exequente
seja pago a obrigação continua a vencer juros.
Os juros de mora vencem-se conforme o art.º 806º/1 CC, ou seja, a partir do
momento em que o devedor entra em mora – ter em atenção neste caso se é
uma obrigação com prazo ou uma obrigação pura. Art.º 804º/2 CC. A mora
ocorre segundo o art.º 805º CC.
Art.º 806º/2 CC – taxa de juro aplicável: 4% para juros civis – Portaria 291/2003.
Letras e livranças: 6% - arts.º 48º/2 e 49º LULL.
Cheque: art.º 45º/2 LUC.
b) Sanção pecuniária compulsória – só será liquidada mensalmente e no momento
da cessação da sua aplicação, pelo agente de execução, notificando o
executado da liquidação: art.º 716º/3.
c) Art.º 716º/7 – caso a liquidez resulte de esta ter por objecto uma universalidade
e o autor não a puder concretizar, a liquidação só ocorre após a apreensão dos
bens.

Temos três hipóteses de liquidação:

 Liquidação antecipada – feita antes de ser instaurada a acção executiva.


Caso mais importante: art.º 704º/6 (sentença de condenação genérica).
Nestes casos só há título após a liquidação.
Constitui a regra geral.

 Liquidação liminar – possível no caso do 704º/6 quando a liquidação dependa


de simples cálculo aritmético, não sendo, por isso necessária a liquidação
antecipada.

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Ana Rita Rodrigues

Art.º 729º e)
Art.º 716º/4: executado é chamado para contestar a liquidação – trata-se de um
incidente de liquidação nos termos do art.º 360º.
Regime aplicável – art.º 716º/5.

 Liquidação diferida – art.º 716º/2: feitas pelo agente de execução no final da


execução nos casos supra mencionados.

Art.º 716º/8: quando só é liquidada uma parte da obrigação.

Liquidação por simples cálculo aritmético


Assenta em factos abrangido pela segurança do título ou em factos que podem ser
oficiosamente conhecidos pelo tribunal e agente de execução.
São os factos notórios ou de conhecimento oficioso – art.º 5º/2 e 412º.
Qualquer título pode ser alvo deste tipo de liquidação.

Deve ser feita pelo exequente no requerimento – art.º 724º/1 h)


Constituída por uma especificação dos valores que o exequente considera
compreendidos na prestação devida. Deve concluir o requerimento com o pedido
liquido – art.º 716º/1.
Este valor pode ser impugnado em sede de oposição à execução.

Liquidação não dependente de simples cálculo aritmético


Assenta e factos que, por não estarem abrangidos pela segurança do título executivo,
não são notórios nem de conhecimento oficioso.
Daí que careçam de um acertamento judicial que terá lugar num incidente de
liquidação (procedimento declarativo).
O credor tem o ónus de indicar o valor que lhe parece adequado e o devedor
tem o ónus de contestar quer os factos quer o valor concluído.

Por não estarem em causa factos notórios e de conhecimento oficioso há que haver
possibilidade de contraditório.

Art.º 556º/1: permite a dedução de pedidos genéricos, tendo o exequente de deduzir o


incidente de liquidação do pedido antes de começar a discussão da causa – art.º 358º/1.

São admitidos todos os meios de prova pois estamos em processo declarativo. Apenas
não se podem alterar os factos provados na sentença genérica.

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Ana Rita Rodrigues

Liquidação de uma sentença genérica


Neste caso o incidente de liquidação deve ser deduzido pelo autor em requerimento –
art.º 359º/1 – depois de proferida a sentença, renovando-se a instância declarativa
entretanto extinta – art.º 358º/2.
Este pedido não pode ultrapassar os limites do julgado na sentença a liquidar.
O objecto da prova está limitado à preclusão pois é vedado ao exequente fazer
aqui prova sobre factos cuja veracidade não conseguiu provar na acção
declarativa ou matéria que não alegou nesta última.

O réu é citado para contestar – art.º 293º/2.


Se o réu não contestar a liquidação, vale o regime do art.º 293º/3, ou seja, como se trata
de acção declarativa comum cai-se no regime da revelia – art.º 557º/1.
Se contestar ou houver revelia operante – art.º 360º/3.

Se estivermos perante a liquidação de uma indemnização em dinheiro, o valor desta


indemnização rege-se pelo art.º 566º/2 CC.
A data mais recente a ser atendida é a data do encerramento da discussão em
causa – art.º 611/1.
Se a liquidação já ocorrer na execução da sentença, então o momento é o do
encerramento da discussão no próprio incidente de liquidação na acção
executiva.

Liquidada a sentença, o réu devedor fica em mora desde a data da liquidação – art.º
805º/3 1ª parte CC.
Contudo se se tratar de responsabilidade por facto ilícito, dita a 2ª parte que o
devedor se constitui em mora desde a citação para a acção declarativa, mesmo
antes da liquidação.
STJ veio interpretar restritivamente este preceito e entendeu que sempre que se
trate de indemnização pecuniária por facto ilícito que tenha sido objecto de
cálculo actualizado nos termos do 566º/2 CC, ou seja, tenha sido objecto de
liquidação, vence juros d mora por efeito do disposto no art.º 805º/3 e 806º/1 CC,
a partir da decisão incidental e não da citação.

Executando-se a sentença condenatória genérica esta integra no âmbito objectivo do


caso julgado a ulterior concretização operada pela decisão do incidente de liquidação
de sentença.
A decisão do incidente tem valor de caso julgado e, precludido ou uma vez que
seja exercido o momento de defesa, a decisão não poderá ser impugnada, salvo
nos temos restritos do art.º 729º.

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Ana Rita Rodrigues

Liquidação em título diverso da sentença


Rege o art.º 716º/2 que dita que a liquidação deve ser deduzida no requerimento nos
mesmos termos que é deduzida a liquidação por simples cálculo.

Depois o executado é citado pelo agente de execução para contestar a liquidação do


exequente em oposição à execução – arts.º 716º/4 e 728/1.
O executado tem o ónus de cumular a contestação da liquidação com a oposição
à execução.

Se o executado não contestar a liquidação, vale um efeito cominatório pleno pelo que a
obrigação se considera fixada segundo os termos a liquidação feita pelo exequente no
requerimento, salvo nos casos de revelia inoperante – art.º 568º.
A verificação desta fixação é do juiz em sede de despacho liminar.

Se contestar a liquidação ou, sendo a revelia inoperante, o art.º 716º/4 manda aplicar o
art.º 360º/3 e 4.

Neste a decisão do incidente concretiza o objecto do título não judicial.


Contudo, esta não é uma decisão final pois vale suportada no e para o título.
Negado que seja o título ou, sendo apresentado outro título, caducará o
respectivo valor, não sendo oponível o que se decidiu.
A decisão apenas vale como caso julgado relativo à eficácia daquele título em
específico que se liquidou.
LF = Este caso julgado obsta a que em nova execução fundada nesse mesmo
título se volte a discutir a liquidação da mesma obrigação; no entanto, o valor
liquidado pode voltar a ser discutido se a execução dessa obrigação for fundada
noutro título.

Consequências da iliquidez
A dedução de pedido ilíquido é de conhecimento oficioso e é sanável.
O tribunal que conheça a iliquidez de um pedido deve proferir despacho liminar
de aperfeiçoamento do requerimento – art.º 726º4 – ou despacho superveniente
no caso do art.º 734º.
Na falta de correção o requerimento deve ser indeferido.

A iliquidez pode constituir fundamento de oposição à execução – art.º 729º e).


Com este fundamento pode implicar suspensão da execução – art.º 733º/1 c).

30
Ana Rita Rodrigues

Art.º 704º/6 – a sentença só constitui título executivo se for liquidada no processo


declarativo.
Ou seja, uma sentença de condenação genérica não constitui título executivo.
Falha a exequibilidade intrínseca do título.

Em síntese:

 Título judicial:
o Depende de simples cálculo  a liquidez é pressuposto de
exequibilidade intrínseca pois vem completar o título executivo – arts.º
716º/1, 2 e 3.
Art.º 703º/2 – factos notórios e de conhecimento oficioso.
Dá-se a liquidação na acção executiva pois já existe título, ou seja, já há
exequibilidade extrínseca.

o Não depende de simples cálculo  a liquidez é pressuposto de


exequibilidade extrínseca pois ainda no há título (sentença de
condenação genérica)
Sentenças: arts.º 704º/6, 556, 609º/2 e arts.º 565º e 569º CC.
Art.º 716º/5.
Tem de se abrir um incidente de liquidação na acção declarativa – arts.º
358º a 360º.

A liquidação deve ser feita antes da propositura do processo executivo,


ainda no processo declarativo.
O autor apresenta um requerimento no indica os valores que julga
compreendidos no seu crédito – art.º 359º.
Dá-se a renovação da instancia – art.º 358º/2.
Prazo de oposição – art.º 293º/2 (10 dias).
Falta de contestação/revelia operante – arts.º 293º/3 e 567/1 (efeito
cominatório pleno).
Contestação/revelia inoperante – art.º 360º/3.

 Títulos extrajudiciais:
o Depende de simples cálculo  a liquidez é pressuposto de
exequibilidade intrínseca pois complementa o título executivo.
Art.º 716º/1, 2 e 3
Art.º 703º/2 – factos notórios e de conhecimento oficioso.
Aqui a liquidação é feita na acção executiva pois já existe título. Apenas
falta exequibilidade intrínseca.

o Não depende de simples cálculo  continua a ser pressuposto de


exequibilidade intrínseca pois complementa o título.
Base legal: art.º 716º/4 – a liquidação ocorre na acção executiva pois já
existe título executivo.
Pode tornar-se num incidente de liquidação na acção executiva, correndo
junto do juiz de execução.
Contestação do executado/revelia inoperante – art.º 360º/3 e 4.

31
Ana Rita Rodrigues

O exequente apresenta requerimento, indicando os valores que julga


compreendidos no seu crédito – art.º 716º/1.
Prazo para contestar – 20 dias em oposição à execução (arts.º 716º/4,
728º/1 e 856º/1.
Falta de contestação e revelia operante – efeito cominatório pleno – art.º
716º/4.
Contestação e revelia inoperante – processo comum declarativo (arts.º
716º/5 e 360º/3 e 4).

Pressupostos processuais
Os pressupostos processuais condicionam a admissibilidade da realização coactiva da
prestação.
Art.º 726º/2: possibilidade de indeferimento liminar com base nos pressupostos
em falta.
Art.º 734º: até ao despacho que ordene a venda dos bens penhorados, é
possível conhecer-se da falta de qualquer pressuposto processual.

Do tribunal
Competência
Competência internacional
O princípio da territorialidade da execução condiciona esta competência.
Segundo este princípio, o tribunal do foro de um estado só tem competência para as
medidas a realizar no território desse mesmo estado.
Nenhuma media decretada no estrageiro pode ser reconhecida e executada em
Portugal.

O factor de conexão relevante para a aferição da competência executiva internacional


dos tribunais portugueses não pode deixar de ser a circunstancia de as medidas
necessárias à realização coactiva da prestação poderem ocorrer em território
português.
Os nossos tribunais não têm competência internacional para execuções sobre os bens
que não se situem em território português.

Competência nacional
Competência em razão da jurisdição:
Esta competência determina-se por um duplo critério:

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Ana Rita Rodrigues

- Critério da atribuição positiva: cabem na competência dos tribunais judiciais


todas as acções executivas baseadas na não realização de uma prestação
devida segundo as normas do direito privado.
- Critério de competência residual: os tribunais judiciais são competentes para
as acções executivas que não caibam no âmbito da competência atribuição
tribunais de outra ordem jurisdicional.
Arts.º 64º CPC; 40º/1 LOSJ, 211º e 212º CRP.

Competência em razão da hierarquia:


Apenas os tribunais de 1ª instancia têm competência para a acção executiva.
Arts.º 85º/1 e 86º CPC + arts.º 33º e 42º LOSJ.

Competência em razão do território: arts.º 85º a 90º CPC


Aqui cabe distinguir consoante o título em causa:

 Títulos judiciais (incluem-se as sentenças homologatórias): arts.º 85º a 88º e


90º;
 Titulo extrajudicial (incluem-se as injunções): art.º 89º

Em caso de cumulação de pedidos e coligação: arts.º 709º/2, 3 e 4 + 710º + 89º/5.

Competência em razão da matéria:


Cabe ver se:
A acção executiva deve correr perante um tribunal de competência
especializada? – art.º 129º/2 LOSJ.
São casos de competência especializada os arts.º 111º/2, 112º/1 e 2, 113º/2,
126º/1 m) e 128º/3 LOSJ.

Ou
Trata-se de uma execução por multas, custas ou indemnizações previstas na
lei processual? – arts.º 131º LOSJ e 87º.

Sim  a competência será do tribunal de competência especializada (art.º 129º/2


LOSJ) ou o tribunal que proferiu a decisão de condenação em multas, custas ou
indenizações (art.º 131º LOSJ)

33
Ana Rita Rodrigues

Não  ver se existem secções especializadas de execução na comarca em causa


(arts.º 129º/1 e 3 e 81º/3 ) LOSJ)

Existem?
Sim  é esta secção de execução que tem competência para a acção executiva.
Vemos se há secção pelos arts.º 66º a 102º ROFTJ.

Não  vamos ver qual é o valor da causa.


Superior a 50.000€ = competente o juízo central cível – art.º 117º/1 b) LOSJ;
Inferior a 50.000€ = competente o juízo local cível – arts.º 81º/1 e 3 a) e b) e
130º/2 c) LOSJ.

Incompetências do tribunal

 Incompetência absoluta – art.º 96º.


Pode ser arguida pelas partes, mas apesar disso deve ser conhecida
oficiosamente pelo tribunal – art.º 97º/1.
Só pode ser arguida e conhecida até ao despacho saneador ou, quando este
não ocorra até ao início da audiência final – art.º 97º/2.
Gera absolvição do executado da instancia – art.º 99º/1
É insanável – art.º 726º

 Incompetência relativa – art.º 102º.


Deve se arguida nos termos do art.º 103º ou pode ser conhecida oficiosamente
nos termos do art.º 104º.
Gera remessa para o tribunal competente nos termos do art.º 105º/3.
Quando entrem em confronto numa mesma situação os dois tipos de incompetências,
o vício mais gravoso aglutina o menos gravoso; ou seja, a incompetência absoluta
aglutina a relativa e o vício “final” será a incompetência absoluta.

Das partes
Personalidade e capacidade judiciárias
Personalidade: arts.º 11 e seguintes;
Capacidade: arts.º 15º e seguintes.

Consoante a forma do processo:

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Ana Rita Rodrigues

- Forma ordinária: caso haja falta de capacidade ou personalidade, haverá


lugar a despacho liminar onde o juiz deverá avaliar a questão (art.º 726º)
- Forma sumária: aqui caberá ao agente de execução, caso suspeite de alguma
coisa, suscitar a intervenção do juiz (art.º 855º/2 b))
Havendo despacho liminar o juiz deve indeferir liminarmente o requerimento se a falta
de personalidade não for suprível ao abrigo do art.º 726º/4.
Nos restantes casos deve ser proferido despacho de convite à sanação.
Art.º 14º, 27º e 28º ou 29º.
Se o vício não for sanado o juiz deverá proferir despacho de indeferimento liminar.
Art.º 734º: possibilidade do juiz, depois do momento inicial e, desde que ainda não
tenha pronunciado em termos concretos sobre determinado vicio, possa conhecer
oficiosamente destas questões de falta de personalidade e capacidade.

A falta de personalidade e capacidade configura excepções dilatórias que podem


servir de fundamento à oposição à execução – art.º 729º c).

Legitimidade processual
Legitimidade singular
Credor e devedor originários
Art.º 53º: apela à literalidade do título executivo.
Terá legitimidade quem figure no título como devedor e como credor.

Esta literalidade autoriza algumas situações excepcionais de indeterminação do credor


em face do título.
TS: legitimidade aberta.
É o que acontece quando estamos perante um título ao portador, em que a
acção deverá ser promovida pelo portador do título – art.º 53/2. Também ocorre
no contrato a favor de terceiro (443º/1 CC) e no contrato para pessoa a nomear
(352º/1 CC).
Nestes casos o credor não consta directamente do título, mas será
determinado posteriormente nos termos contratados; sendo que esta
determinação deve ser alegada e demonstrada no requerimento executivo.
No caso do contrato a favor de terceiro, se a clausula a favor de terceiro for
acordada verbalmente, esse terceiro não tem legitimidade pelo art.º 53º/1.
Podemos antes aplicar analogicamente o 54/1 e provar que houve sucessão no
direito de receber a coisa.

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Ana Rita Rodrigues

Devedores subsidiários
Fiança: aqui o devedor garante, com o seu património o pagamento da dívida alheia –
art.º 627º/1 CC. Sendo sua obrigação de pagamento perante o credor uma obrigação
acessória, mantendo-se enquanto não se extinguir a obrigação do devedor principal,
ainda que esta já não possa ser objecto de execução singular.
Na fiança civil é permitido ao fiador recorrer ao benefício da excussão prévia – art.º
638º CC.
Contudo o fiador pode posicionar-se como devedor principal e solidário (arts.º 638º e
640º a) CC) da integralidade da dívida (art.º 634º CC).
Forma da fiança – art.º 628º/1 CC.
Título executivo, no caso de se querer demandar o fiador, terá de ser o contrato de
fiança – art.º 703º/ b).

Aval: pelo art.º 32º/1 LULL o dador do aval é responsável da mesma maneira que o
afiançado, sendo que a obrigação se constitui formalmente pelo acto de assinatura do
dador do aval.
A assinatura é materialmente autónoma, mantendo-se ainda que seja nula a obrigação
garantida, desde que não seja um vício de forma, não gozando o avalista de beneficio
da excussão previa – art.º 47º/1 e 2 LULL.
Aqui o título executivo serão título de crédito – art.º 703º/1 c).

Sucessores singulares e universais


Art.º 54º/1 – esta sucessão na obrigação pode ser mortis causa ou pode ocorrer por
acto inter vivos nos termos do 577º CC e 595º CC.
Implica três momentos:
1º momento: momento da formação do título;
2º momento: fase da sucessão, ou seja, é o momento em que ocorre o facto
que origina a sucessão.
3º momento: momento da propositura da acção.
O 54º/1 reportar-se ao momento e que a pessoa morre ou em que ocorre o acto inter
vivos. Se ninguém aceitar a herança não há legitimidade nem activa nem passiva.
A ilegitimidade singular por falta desta sucessão pode ser alegada em oposição à
execução – art.º 729º c).

Regra geral, o facto sucessório será posterior à formação do título, mas anterior à
proposição do requerimento executivo.
Se o facto ocorrer na pendencia da acção executiva, o exequente deverá promover o
incidente de habilitação de herdeiro (arts.º 351º e ss) ou de adquirente ou cessionário
(art.º 356º).

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Ana Rita Rodrigues

A transmissão pode ocorrer já depois dos bens estarem penhorados.

Terceiros abrangidos por sentença


Art.º 55º: regra de legitimação passiva por extensão subjectiva imperativa do caso
julgado.
Apenas abrange a situação do art.º 263º/3.

Se a sentença vincula um terceiro chamado à causa para parte principal nos termos
do 316º este nunca será um terceiro porque foi citado para parte principal, estando
abrangido pela legitimidade do art.º 53º/1.
Os intervenientes como partes acessórias, por estarem sujeitos ao caso julgado da
parte principal (art.º 323º/4 e 332º) têm legitimidade pelo 53º/1.
LF: se estiver em causa a sua legitimidade passiva para efeitos do72º esta está
excluída pois eles são meros auxiliares da parte principal. Embora sejam
sujeitos ao caso julgado, eles não foram condenados.

Do lado passivo, nos termos do arts.º 552º e 635º/1 CC, tanto o co-devedor solidário
como o fiador não presentes em causa em que foi condenado o co-devedor ou o
devedor principal, não estão sujeitos à exequibilidade do comando condenatório pois
nestes casos só beneficiam da sentença se assim o quiserem.
O mesmo vale para o devedor principal não presente na causa que condenou o fiador
– art.º 635º/2.
Do lado activo, pelos arts.º 531º e 538º/2 os co-credores solidários de obrigação
indivisível podem beneficiar da sentença, contudo não terão legitimidade activa pelo
art.º 55º por este só se referir ao lado passivo do direito à prestação. Não se aplica por
analogia dada a excepcionalidade do art.º 55º, pis a condenação não acarreta o
reconhecimento do direito aos outros contitulares, mas a apenas a indiscutibilidade do
dever de prestar do réu.
TS é contra esta posição pois entende que o art.º 55º não é uma norma
excepcional, sendo antes uma expressão de um princípio geral.
Assim sendo, a extensão o caso julgado aos credores solidários não
demandantes ou aos credores demandantes de uma prestação indivisível
implica o reconhecimento da legitimidade executiva a estes credores.
RP entende que o princípio da extensão do caso julgado eventual é-o também
quanto à força executória.
Quando o 531º CC vem autorizar que possa ser oposto ao devedor ou o 538º/2
refere que o caso julgado favorável a um dos credores aproveita aos outros, o
que é oponível é a indiscutibilidade do dever de prestar do réu também perante
os demais credores.
Contudo, o contraditório dita que esta extensão seja restrita, na medida do que
for comum ao terceiro credor. O devedor permanece com o direito, não

37
Ana Rita Rodrigues

precludido, de invocar fundamentos de oposição pessoais ao credor terceiro que


não fora parte do processo.
Os credores solidários ou de prestação indivisível não demandantes têm
legitimidade executiva por força de um princípio que implica a interpretação
extensiva do art.º 55º. Mas, ao mesmo tempo o devedor terá, em sede do art.º
729º g) a possibilidade de invocar excepções perentórias que apenas ele teria
legitimidade para invocar perante o credor, caso este houvesse sido parte.

Terceiros à dívida – bens de terceiro vinculados a garantia do crédito


O crédito do exequente pode estar garantido por hipoteca ou outra garantia real sobre
bens de terceiro à dívida; contudo o garante não será devedor principal mas unicamente
garante do cumprimento da obrigação.
Admite-se pelos arts.º 686º/1 e 818º 1ª parte CC articulados com o art.º 735º/2
CPC.

O terceiro garante pode ser quem prestou a garantia inicialmente ou quem tenha
adquirido posteriormente a coisa onerada.

A execução por dívida provida de garantia real sobre bens de terceiro conhece as regras
do art.º 54º/2 e 3.
O 54/2 e 3 só se aplica aos casos de garantias reais.

O título é uma sentença = o terceiro garante deverá também nela ter sido condenado
pois por força da 635º/1 1ª parte (consignação de rendimentos ex vi 657º/2, penhor ex
vi 667º/2 e hipoteca ex vi 717º/2).
Se não tiver sido condenado, o caso julgado entre credor e devedor não é oponível ao
terceiro garante, salvo se os bens lhe forem transmitidos pelo devedor já onerados.

Vias possíveis de actuação do credor condicionadas pela natureza disponível das


garantias reais e pelo 697º a contrario CC:
 Se o exequente não pretender fazer valer a garantia colocará a acção contra o
devedor, legitimado pelos arts.º 53º, 54º/1 ou 55º CPC.
É possível ao credor prescindir da garantia se assim o entender, pois tem de se
atender à disponibilidade substantiva da garantia real.
O não usar a garantia pode ocorrer:
o Tacitamente: nem o credor nem o agente de execução indicam o bem
onerado à penhora;
o Expressamente: mediante declaração expressa por parte do credor de
não exercício da garantia que é feita em declaração para os autos ou,
mesmo, antes da execução.

A não invocação da garantia real não se confunde com a renúncia ou extinção


unilateral e voluntária da garantia pois esta só pode ter lugar segundo os modos
previstos na lei civil para a renúncia a direito real.
Uma válida renúncia ou é feita extrajudicialmente (antes da execução), ou será
feita no acto processual do próprio requerimento executivo apenas quando a
formal legal o consinta.

38
Ana Rita Rodrigues

Havendo renúncia, apenas o devedor conserva legitimidade passiva – art.º 53º,


sem prejuízo dos arts.º 54º/1 e 44º CPC.

 O exequente faz valer a garantia (indicando o bem sem declarações de


restrições quanto à garantia, seja aceitando que o agente individualize o bem de
modo irrestrito).
Como o devedor não tem direito a que a penhora incida sobre os bens alheios
(697º a contrario CC), cabe ao credor a escolha de acionar somente o terceiro,
ou de acionar o terceiro e o devedor em coligação inicial ou superveniente.
A legitimidade do terceiro justifica-se pelo art.º 735º/2 quando permite a penhora
de bens de terceiros.

O exequente também pode demandar unicamente o terceiro sem sequer demandar o


devedor – art.º 54º/2 1ª parte CC.
Isto permite que a dívida se extinga sem que o devedor chegue a ir ao processo.
Deve entender-se que o devedor que queira pagar voluntariamente deverá poder
fazê-lo – art.º 846º/1.

O 54º/2 é uma norma de legitimação passiva do terceiro e não uma previsão de


litisconsórcio necessário desse terceiro com o devedor.

Caso se reconheça a insuficiência dos bens onerados com a garantia real, o que só
pode ocorrer após a distribuição do produto da venda, pode o exequente requerer, no
mesmo processo, o prosseguimento da acção executiva contra o devedor, que será
demandado para a completa satisfação do crédito exequendo – art.º 54º/3.
Trata-se de uma intervenção principal compondo um litisconsórcio
superveniente.
Embora haja uma diferente posição dos executados perante a dívida (um é
devedor – deve cumprir – e o outro é garante real – deve responder pelo
incumprimento), a obrigação exequenda é a mesma. Não pode permanecer
extinta em face de um e não extinta em face do outro.

Querendo, o exequente poderá accionar em litisconsórcio voluntário o terceiro garante


e o devedor desde início – art.º 54º/2 2ª parte.
Aquilo que não é possível é demandar apenas o devedor e, ao mesmo tempo
executar a garantia.
Tal geraria ilegalidade subjectiva da penhora que seria impugnável em embargos
de terceiro e em acção de reivindicação.
O 54º/2 dá legitimidade ao terceiro, mas não a retira ao devedor.

Terceiros à dívida – bens de devedor onerados por direito de gozo de terceiro


Estamos no quadro da execução por dívida provida de garantia real sobre bens do
devedor pelo que importa separar entre os bens onerados com direito de terceiro e os
bens que não têm esse encargo.

No caso do bem com garantia real em que não incide direito de terceiro, apenas tem
legitimidade o devedor.

39
Ana Rita Rodrigues

Se o bem estiver na posse de terceiro aplica-se o 54º/4.

O devedor executado tem direito a que a penhora se inicie pelos bens sobre que incida
a garantia e só depois pode cair nos outros quando se reconheça a insuficiência deles
para conseguir o fim da execução – art.º 697º CC e art.º 752º/1 CPC.

Se sobre o bem com garantia real incidir um direito de terceiro, deve considerar-se o
art.º 54º/4 CPC.
Trata-se de um critério de legitimidade passiva plural.
Aqui o direito a penhorar é da titularidade do devedor, mas está onerado por direito
menor de terceiro que confere a posse a esse terceiro.

Deste modo, um usufrutuário tanto pode ser citado pelo 56º/2 quando o objecto da
garantia seja o usufruto, como pode ser citado pelo 54º/2 quando o objecto da garantia
seja um direito maior (ex.: propriedade) e haja o usufruto a onerá-lo.

Qual pode ser esse direito menor na titularidade do terceiro que confira a posse?
- A lei não distingue. Abrange todos os direitos que consintam a posse, logo será
um direito nos termos de um direito real de gozo.

- TS: os possuidores (os que obteriam vencimento em embargos de terceiro)


obteriam agora ganho na oposição à penhora, se fosse caso disso.
Os possuidores com direitos não oponíveis não obteriam vencimento na
oposição à penhora.

- RP: a chave é o conceito de “direito incompatível” para efeitos do art.º 351º/1


(embargos de terceiro).
Se o terceiro possuidor tiver uma posse incompatível (substantivamente
oponível) com a eminente ou já consumada penhora, para efeitos do 351º/1, mas
que deva caducar com a venda executiva (824º/2 CC), por ser posterior à
garantia do exequente, aquela caducidade tem como condição processual o
terceiro ter sido citado para a execução nesta sede do art.º 54º/4.

Se o credor quiser realizar a sua garantia real na integra, ou seja, abrangendo a


propriedade de raiz e incorporando o usufruto ou qualquer outro direito real onerador
posterior à garantia, deverá executar ab initio o terceiro ao abrigo da legitimação dada
pelo art.º 54º/4.

Se o terceiro não for citado ao abrigo do 54º/4, a penhora e a venda para serem
subjectivamente válidas, apenas poderão abranger a propriedade de raiz.

O art.º 54º/4 assegura a legalidade da extensão objectiva da penhora.

O 54º/4 é um caso de litisconsórcio voluntário conveniente uma vez que o fundamento


material para a presença do devedor e para a presença do terceiro não é o mesmo.

Uma vez citado como executado, o terceiro possuidor terá ao seu dispor a oposição à
penhora e a oposição à execução.
Ficará como depositário se for a sua casa de habitação efectiva – art.º 756º/1 a).

40
Ana Rita Rodrigues

Em síntese:
O exequente pode propor a acção executiva contra:
 Devedor + terceiro garante = art.º 54º/2 in fine e 54/4.
São demandados ao mesmo tempo, ou seja, estamos perante um litisconsórcio
voluntário inicial.
Para que seja possível o devedor e o terceiro devem constar do título executivo
apresentado.
Não é necessário titulo contra o terceiro possuidor dos bens onerados.
Aqui a penhora não tem de começar pelo bem onerado com a garantia real.

 Devedor (a título principal) e terceiro garante (a título subsidiário) = decorre das


regras gerais sobre legitimidade na acção executiva.
Litisconsórcio voluntário sucessivo, sendo que ambos devem constar do título
apresentado.
O facto de se demandar primeiro o devedor não constitui renúncia à garantia
real.
Os arts.º 752º/1 e o 697º CC não têm aplicação.
Por ser uma garantia real o terceiro não pode invocar o benefício da excussão
prévia.

 Terceiro garante e o devedor = art.º 54º/3.


Temos um litisconsórcio voluntário sucessivo, sendo que ambos devem constar
do título apresentado.
Por ser uma garantia real o terceiro não pode invocar o benefício da excussão
prévia.
Neste caso o chamamento do devedor pressupõe a insuficiência do bem
onerado com a garantia para pagar a dívida.

Ilegitimidade processual
É de conhecimento oficioso e não é sanável.

Forma ordinária: se suspeitar de excepções dilatórias, o agente de execução não tem


de fazer nada pois haverá sempre intervenção do juiz (art.º 726º).
Forma sumária cabe-lhe suscitar a intervenção do juiz nos termos do 855º/2 b).

Havendo despacho liminar o juiz deve indeferir liminarmente o requerimento se a falta


de personalidade não for suprível ao abrigo do art.º 726º/4.
Nos restantes casos deve ser proferido despacho de convite à sanação.
Art.º 14º, 27º e 28º ou 29º.
Se o vício não for sanado o juiz deverá proferir despacho de indeferimento liminar.

O tribunal que conheça da ilegitimidade deve proferir um despacho de indeferimento


liminar – 726º/2 b).
Se for conhecida mais tarde, ao abrigo do 734º, deverá absolver o executado da
instância e extinguir a execução.

41
Ana Rita Rodrigues

A ilegitimidade constitui uma excepção dilatória que pode ser fundamento de oposição
à execução pelo executado – 729º c) e ss.

Legitimidade plural
Litisconsórcio necessário
Art.º 33º/1: o litisconsórcio é necessário na acção executiva quando a realização
coactiva de um direito a uma prestação apenas por todos os credores ou contra todos
os devedores pode ter lugar, seja por lei, vontade das partes ou indivisibilidade material
da própria prestação.

Litisconsórcio necessário convencional: existe quando as partes convertem uma


obrigação parciária ou uma obrigação solidária numa obrigação unitária.
Ex.: A acorda com B e C que os 10.000€ que lhe mutua apenas poderá ser, em
tribunal, exigidos a ambos ao mesmo tempo.

Litisconsórcio necessário natural: exige uma indivisibilidade da própria prestação. A


prestação apenas pode ser materialmente realizada em face de todos os credores ou
por todos os devedores o que, atentos os limites subjectivos das medidas judiciais,
implica que todos tenham de estar na acção.
Este é dificilmente configurável na acção de execução para pagamento de
quantia certa porque o objecto da prestação é divisível.
Ex.: o automóvel está numa garagem que pertence a duas pessoas.

Litisconsórcio necessário legal


Há várias normas substantivas que impõe a presença de credores e devedores na acção
executiva, sob pena de ilegitimidade.

No plano obrigacional são exemplos os que estão nos arts.º 496º/2 e 500º/1, no art.º
535º/1, no art.º 608º.

Nos litígios reais temos os arts.º 1404º e 1405º/1 que impõe um litisconsórcio passivo.

Em matéria sucessória temos o art.º 2091º/1.

Em matéria conjugal temos o art.º 34º CPC.


O 34º/1 e 3 3ª parte aplicam-se apenas à execução para entrega de coisa certa.
Regulam a disponibilidade comum sobre bens, próprios ou comuns, tendo por
objecto os casos dos arts.º 1682º CC para os bens móveis e o 1682º-A para os
bens imóveis.

Na execução para prestação de facto não se põe o problema de perda de direitos


ou de bens, dado o objecto processual não ser dispositivo, nem onerador de
bens da respectiva prestação.

Na execução de prestação pecuniária o risco de perda ou oneração de bens


indisponíveis é maior. Aqui ambos são citados enquanto devedores, ou quando
somente um é executado vale o regime dos arts.º 740º e 786º/1 a) 2ª parte que

42
Ana Rita Rodrigues

é protetor dos bens comuns, eventualmente indisponíveis. Também pode valer


o regime do 786º/1 a) 1ª parte que é destinado às indisponibilidades sobre bens
próprios.

Litisconsórcio passivo entre cônjuges: ambos constam do título executivo. São


situações de dívidas contraídas por ambos, dívidas comunicáveis, ou dívida
sobre um bem que só pelos dois pode ser disposto.

Litisconsórcio activo: a acção tem de ser instaurada pelos dois? Se aplicarmos


estritamente o 34º/1 sim, contudo trata-se de integrar um bem no património
conjugal pelo que não parece ser necessário que tenha de ser instaurada por
ambos.

O que acontece se, na acção declarativa na qual se deveria ter verificado o litisconsórcio
necessário e esse não tiver sido respeitado? – isto no caso do título ser uma sentença.
Neste caso, se não estiveram todos os interessados não há nenhuma forma de se
alargar o título a quem não esteve na acção declarativa, em sede de acção executiva.
Funciona aqui uma situação de preclusão pois o título preclude a possibilidade de
qualquer outro participar no título.

Preterição de litisconsórcio necessário


A preterição de litisconsórcio necessário é causa de ilegitimidade – art.º 33º/1 CPC.
É de conhecimento oficioso e é sanável, constituindo uma excepção dilatória que pode
ser fundamento à oposição à execução pelo executado ao abrigo do 729º c).
O tribunal que a conheça deve proferir um despacho liminar ou superveniente de
aperfeiçoamento – 734º.
A sanação dá-se pela intervenção principal provocada pelo interessado faltoso – 316º/1.
A não sanação conduz ao indeferimento liminar ou ao indeferimento sucessivo
consoante os casos – art.º 726º/5.

No regime do 261º o exequente pode sanar o vício ainda em 30 dias sobre o trânsito
em julgado formal do despacho de indeferimento.
Deste modo o exequente consegue reabrir a instância, mantendo todos os
benefícios temporais da sua prévia propositura.

Litisconsórcio voluntário
Não havendo litisconsórcio necessário importa distinguir consoante estejamos perante
uma obrigação exequenda plural ou de situação real em contitularidade.
A natureza solidária (512º CC) ou parciária (512º a contrario e 533º CC) de uma
obrigação plural não obriga a que todos os credores e/ou devedores estejam como
partes na execução.

Todos têm legitimidade em face do 53º CPC.


Contudo decorre do regime comum do 32º CPC que sendo a obrigação parciária cabe
ao exequente optar entre exigir a prestação acompanhado e/ou contra todos os
devedores ou não.

43
Ana Rita Rodrigues

Se o credor se apresentar sozinho ou deduzir pretensão apenas contra um dos


devedores apenas pode executar a respectiva quota-parte, sob pena de excesso de
pedido sobre o título e indeferimento parcial do requerimento – art.º 726º/3.
A demanda plural de execução de obrigações parciárias configura-se como
sendo um litisconsórcio voluntário conveniente.

No caso das obrigações solidárias (512º/1 CC), também vale o 32º/2, bastando que um
dos credores e/ou devedores intervenha para assegurar a legitimidade.
Basta a intervenção de um deles para se poder executar a totalidade da
prestação.

O mesmo regime vale para a execução de obrigações indivisíveis com pluralidade de


credores (538º/1 CC).

Se houver um devedor principal e um devedor subsidiário, ambos estão legitimados pelo


53º/1. Neste caso o credor pode optar por demandar entre um deles ou ambos, já que
a eventual alegação do benefício da excussão prévia não respeita à legitimidade.
Art.º 745º CPC.

Litisconsórcio superveniente
TS = depois de restringir a intervenção acessória aos apensos declarativos, assume
uma posição aberta de admissibilidade de intervenção principal na execução.
Admite a intervenção principal provocada para sanar a preterição de litisconsórcio
necessário – 261º/1 CPC – e para fazer intervir um litisconsorte voluntário, maxime, o
executado provocar a intervenção de um seu condevedor solidário, no prazo da
oposição à execução.
Já o fiador, constante do título executivo juntamente com o devedor, não pode requerer
a intervenção principal deste por falta de interesse processual. O fiador deve é invocar
o benefício da excussão prévia como o permite o 747º. Inversamente, também o
devedor principal não pode provocar a intervenção do fiador, quanto não se esgotarem
os seus bens.
O Prof. admite a intervenção principal espontânea, tanto em composição de
litisconsórcio necessário, como por parte de litisconsorte voluntário.

Patrocínio judiciário = art.º 58º


Tem a particularidade de, mesmo quando obrigatório, em algumas situações pode ser
feito por advogado estagiário ou por solicitador.
Para tal há que atender ao valor da execução.

Falta de patrocínio = art.º 41º


Se o exequente não constituir advogado, o tribunal, oficiosamente (726º/4 e
734º) ou a requerimento da parte contrária, fá-la-á notificar para constituir dentro
do prazo, sob pena do executado ser absolvido da instância.

Se foi o executado quem não constitui advogado, o regime é igual salvo que os
actos do executado ficam sem efeito, se não houver suprimento.

Irregularidade do patrocínio: art.º 48º

44
Ana Rita Rodrigues

Ao objecto
Cumulação de pedidos
Na acção executiva o credor tem a faculdade de cumular execuções contra o mesmo
devedor ou contra vários devedores litisconsortes – art.º 709º/1.
O exequente pode deduzir no mesmo processo uma pluralidade de pedidos
executivos contra o devedor ou vários devedores, pretendendo que todos sejam
contemporaneamente procedentes.

Regime especial de cumulação simples de execuções.

Por ausência de referência legal à cumulação alternativa e à cumulação subsidiária dos


arts.º 553º e 554º apenas podemos ter uma coligação simples ou subsidiária.
Não é possível coligação alternativa.

A alternatividade é admitida no plano do objecto pelas obrigações alternativas – 714º


CPC, contudo uma mera alternativa processual, em que coubesse a escolha ao tribunal,
já seria ilegal.

A admissão no art.º 711º de cumulação sucessiva torna desnecessário qualquer regime


de cumulação subsidiária, ao permitir, enquanto uma execução não for julgada extinta,
que nesse mesmo processo se promova execução de outro título.

Coligação inicial: arts.º 709º e 710º


Coligação superveniente: art.º 711º.

Execução de títulos diferentes


Os pressupostos estão enunciados no art.º 709º/1 CPC e nos arts.º 186º/2 c) e 555º/1.
Regem qualquer que seja o tipo de título cumulado.

Na cumulação de execuções fundadas em títulos diferentes (judiciais, quase judiciais


ou extrajudiciais) constituem pressupostos à cumulação na acção executiva:
 Compatibilidade processual: tanto quanto à competência absoluta, como quanto
à forma de processo.
A compatibilidade quanto à competência absoluta é exigida no art.º 709º/1 a). O
tribunal competente quanto aos critérios de competência relativa será
determinado pelo 709º/2 a 4.
O 709º/1 c) exige a compatibilidade processual quanto à forma de processo. São
ressalvadas as situações do 37º/2 e 3.
O 709º/1 b) exige uma identidade funcional entre as execuções, pelo que elas
não podem ter fins diferentes. Deve existir uma identidade abstracta entre os
objectos das prestações realizadas coactivamente.

 Compatibilidade substantiva: quanto aos seus efeitos;


Decorre das regras gerais dos arts.º 186º/2 c) e 555º/1.
Não é admitida a cumulação de execuções com fins diversos pelo que nunca
poderia um pedido executivo esvaziar o efeito útil de outro pedido com ele
cumulado.

45
Ana Rita Rodrigues

Para além de que um pedido de execução para pagamento de quantia certa é


sempre compatível com outro da mesma finalidade.
A insuficiência do património para pagar mais do que uma dívida não é em si
uma incompatibilidade substantiva.

Situações de incompatibilidade substantiva entre execuções:


o Executar dois créditos de entrega de uma mesma coisa ou de coisas
diversas mas interdependentes
Ex.: entrega de um piano em comodato é incompatível com a entrega do
piano em propriedade (caso 1).
Entrega imediata de uma carrinha de mercadorias, comodatada, colide
com a obrigação de entrega de madeira cortada ao mesmo credor
usando a mesma carrinha.

o Executar um crédito de entrega incompatível com uma prestação de facto


Ex.: entrega de um piano dia 14 fevereiro em Lisboa é incompatível com
realizar um sarau com esse piano no Porto no mesmo dia e hora.

o Executar duas prestações de facto incompatíveis entre si


Ex.: prestação de realizar um sarau de violino no Porto é incompatível
com a prestação de tocar no mesmo dia e hora em Coimbra.

É irrelevante se o título executivo é um só ou se se trata da execução de vários


títulos.

 Identidade funcional entre as execuções: este é um pressuposto relativo à


cumulação da execução de decisão judicial.
Não pode ser cumulada a execução da decisão judicial que corra nos próprios
autos.
Compreende-se a restrição pois se a sentença é executada nos próprios autos
da acção declarativa tal levantaria dificuldades perante a execução dos demais
títulos que têm a sua autonomia procedimental.

Execução de sentença
Art.º 710º CPC – pretende-se, ao cumprir o princípio da economia processual, permitir
a execução cumulada de pedidos que, apesar de provirem da mesma sentença, não a
admitiriam em sede do art.º 709º CPC
Ex.: sentença de despejo – a execução da condenação na entrega do locado já
pode ser cumulada com a execução de condenação no pagamento de rendas
em mora, de despesas ou indemnizações.
Admite-se a cumulação de execuções com fins diversos e ainda que incompatíveis
processualmente.

O legislador presume a compatibilidade processual entre as decisões contidas na


mesma sentença.
Se isto não acontecer em concreto, o juiz terá de usar do princípio da adequação
formal – art.º 547º CPC. Tal já se garantia por meio da remissão para o 37º/2 e
3.

46
Ana Rita Rodrigues

Este princípio tanto pode permitir ao juiz compor um procedimento ad hoc, como
recusa a cumulação quando tal viole o princípio equitativo (afirmado
expressamente no 547º parte final).

Em qualquer circunstância não pode ser desconsiderada, mesmo nesta sede do 710º,
a necessidade de compatibilidade substantiva entre os efeitos das execuções.
Trata-se de um pressuposto genérico de qualquer objecto processual – arts.º
186º/2 c) e 555º/1.

Art.º 710º/5 – nas cumulações segue-se a forma ordinária.

Cumulação superveniente
Art.º 711º - permite a cumulação de pedidos superveniente.

Requisito específico: título diverso do inicial – “outro título”.


Deve ser uma dívida que conste de um título ainda não dado à execução.
Não pode o credor executar uma dívida que já estava originariamente constituída
ou reconhecida pelo título judicial.
Daí que o 711º não se possa aplicar à cumulação de pedidos julgados
procedentes em sentenças do 710º.

Não podem existir nenhuma das circunstâncias que impedem a cumulação, mas
dispensa-se a exigência de conexão funcional quando a execução iniciada com vista à
entrega de coisa certa ou de prestação de facto haja sido convertida em execução para
pagamento de quantia certa.

Arts.º 867º e 869º CPC.

Coligação
Há coligação quando à pluralidade de partes corresponde uma pluralidade de pedidos
executivos subjectivamente diferenciados.
Quando ocorre cumulação de pedidos com cumulação de partes,
correspondendo a cada parte um pedido.

Tal decorre da presença de uma pluralidade de situações jurídicas autónomas, mas


conexas entre si.

A coligação exige os requisitos da cumulação objectiva simples de pedidos do 709º e


os requisitos da conexão entre causas diversas.
Art.º 56º CPC = a coligação pode ser activa, passiva ou mista.
Todas exigem o que está aqui estabelecido.

Art.º 56º/1 – remete para o 709º.


Impõe-se a compatibilidade processual, quanto à forma de processo e quanto à
competência absoluta, a identidade funcional e, residualmente a compatibilidade
substantiva.

O 56º/1 e 2 acrescenta um pressuposto específico da conexão entre os vários objectos


processuais que justifique a junção numa mesma causa de litígios diferentes:

47
Ana Rita Rodrigues

 Coligação activa é sempre admissível, sejam credores comuns, sejam


privilegiados com garantias reais – als. a) e b);
 Coligação passiva – em geral é admissível se os devedores estiverem obrigados
no mesmo título (als. b) 2ª parte) e, ainda que não estejam, se forem titulares de
quinhões no mesmo património autónomo ou de direitos relativos ao mesmo bem
indiviso (al c)). Tem de haver coligação subjectiva pois todos os executados têm
de constar do mesmo título ou estar na situação da al c).
Só é admissível para pagamento de quantia certa se a obrigação for líquida ou
liquidável por simples cálculo

A exigência de unicidade do título é bastante importante.

Art.º 56º/3 remete para o 709º/2 a 5 no que respeita à extensão da competência


territorial.

Regime da pluralidade ilegal de execuções


A falta de compatibilidade processual quanto à competência absoluta – 709º/1 a) CPC
gera incompetência absoluta para o pedido respectivo e indeferimento parcial do
requerimento executivo.

A falta de compatibilidade quanto forma de processo também leva ao indeferimento


liminar parcial, por erro na forma de processo quanto ao pedido.

A incompatibilidade substantiva é motivo de ineptidão da PI nos termos do art.º 186º/2


c), e não é sanável.
Contudo, será de defender, por mais adequado ao princípio da prevalência funcional do
litígio sobre o processo, que se essa incompatibilidade substantiva for em sede de
cumulação sucessiva – 711º, então apenas se deverá indeferir o novo pedido executivo.

A falta de identidade funcional por força do 709º/1 b), assim como a ausência de algum
dos requisitos do 56º/1 (conexão adicional) deve levar o tribunal a notificar o exequente
para, ao abrigo do 38º, escolher a execução que pretende manter, sob pena de
indeferimento de todas.

O conhecimento dos vícios e as eventuais diligências de sanação devem ter lugar no


momento liminar em despacho, conforme o 726º/4, ou em momento superveniente nos
termos do 734º.

Constituem excepções dilatórias que podem ser fundamento à oposição à execução


pelo executado ao abrigo dos arts.º 729º c) e ss.

48
Ana Rita Rodrigues

Citação do executado
Após o despacho liminar do juiz há lugar à citação do executado.

Consoante a forma de processo em causa esta será prévia ou ocorrerá no momento da


penhora.

 Forma ordinária: citação prévia do executado para que este:


o Pague voluntariamente as custas da oposição e a dívida nos termos dos
arts. 846º a 849º;
o Deduzir oposição a execução no prazo de 20 das – art.º 728º/1
 Forma sumária: a citação do executado tem lugar no acto da penhora, sendo o
executado citado para, cumulativamente se opor à oposição e à penhora no
prazo de 20 dias – art.º 856º1.

Caso se oponha haverá lugar ao recebimento – art.º 732º/2 ou haverá lugar a


indeferimento – art.º 732º/1.

O facto de uma pessoa ser citada para poder deduzir oposição e optar por não o fazer
não faz com que o exequente entre em revelia pois não existe nenhum ónus de oposição
à execuçao

Oposição à execução

Oposição à execução: meio processual pelo qual o executado exerce o seu direito de
defesa ou de contradição perante o pedido do exequente.
São os embargos de executado.
É uma verdadeira acção declarativa, com todas as garantias daí advenientes.

Na acção executiva o direito de defesa corporiza-se numa PI do executado de extinção


da execução, tendo por fundamento a impugnação de factos ou a afirmação de factos,
seja sobre a instância, seja sobre a dívida.

Estruturalmente a defesa do executado não integra o procedimento de execução, sendo


autónomo no seu objecto e procedimento, correndo como acção declarativa incidental
(fisicamente corre por apenso) à execução.
No final a sentença ditará a procedência ou improcedência do pedido do autor-
executado.

A oposição à execução apresenta-se como uma acção declarativa funcionalmente


acessória da acção executiva porquanto justificada pela oposição de uma defesa à
dedução de uma pretensão executiva.
Sem execução nunca poderá haver oposição.
O próprio STJ fala de uma função instrumental da oposição à execução.

De um modo geral podemos dizer que os fundamentos são de três tipos:


 Inexequibilidade do título, ou seja, problemas de exequibilidade extrínseca;
 Exequibilidade intrínseca;
 Falta de pressupostos da acção executiva.

49
Ana Rita Rodrigues

A qualidade do título que se executa tem relevância para se saber quais são os
fundamentos para a oposição à execução.

Consequências da acessoriedade
No plano do objecto do processo, o autor apenas pode invocar as causas de pedir
específicas admitidas pela lei nos arts.º 729º e 731º CPC e no art.º 857º quanto à
injunção.
Em contrapartida, a função de defesa permite que na execução de título diverso de
sentença, além dos fundamentos de oposição do 729º CPC na parte em que sejam
aplicáveis, possam ser alegados quaisquer outros que seria lícito deduzir como defesa
no processo de declaração – art.º 731º.

A acessoriedade funcional justifica que o executado possa cumular com o pedido de


extinção da execução, um pedido de substituição da penhora por uma caução idónea
que garanta os fins da execução – art.º 751º/7 CPC.

Pedido
A oposição à execução visa a extinção da execução.
Não se trata de uma sentença de condenação, pelo que conduz se os embargos forem
julgados procedentes, à extinção da acção executiva.

O autor da oposição pretende o efeito extintivo da execução.


Para que consiga que este pedido proceda tem como fundamentos decisórios o
reconhecimento da inexistência actual do direito exequendo, ou da falta de um
pressuposto da acção executiva.
Daí que a jurisprudência tenda a defender que a oposição se trata de uma acção
se simples apreciação negativa da obrigação exequenda.
LF: é uma acção de acertamento negativo da obrigação exequenda na oposição
de mérito. Será este tipo de acção porque obsta ao prosseguimento da acção
executiva mediante a eliminação, por via indirecta, da eficácia do título executivo,
ilidindo a presunção nele estabelecida.

A extinção pode ser uma extinção por procedência de fundamento processual ou por
procedência de fundamento substantivo
Daí que a extinção da execução pode equivaler à absolvição da instância
executiva se o fundamento for processual ou à absolvição do pedido se o
fundamento for material.

Neste apenso o autor-executado deduz o mesmo pedido que deduziria numa


contestação, ou seja, deduz a sua própria absolvição na instância ou no pedido
executivo.

50
Ana Rita Rodrigues

Causa de pedir
A CP é heterogénea, mas será sempre um facto jurídico legalmente previsto pois é a lei
que determina o tipo de facto admissível e cuja demonstração conduz à extinção da
execução.

Os factos admissíveis dependem do título em que se funda a execução.


Podem ser invocados como causa de pedir os factos do art.º 729º CPC na parte em que
sejam aplicáveis e quaisquer outros que possam ser invocados como defesa no
processo de declaração – art.º 731º CPC.
Contudo esta invocação só é possível se estivermos perante um título diferente
de sentença pois se for uma sentença, apenas são invocáveis os fundamentos
previstos no art.º 729º.

Um sistema restritivo de fundamentos taxativos rege a execução de títulos públicos


judiciais e judiciais impróprios:
- Sentença: apenas são invocáveis os do art.º 729º a) a g);
- Sentença homologatória: apenas são invocáveis os do art.º 729º a) a h);
- Requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta fórmula executória

A ratio desta restrição de fundamentos é a tendencial imutabilidade do caso julgado ou


o princípio da preclusão no caso da injunção, que conduzem a não poder a oposição
servir para se discutir o que se tenha decidido no âmbito da acção judicial ou
procedimento anterior.

Fundamentos comuns
Excepções dilatórias
Relativamente à relação processual o oponente pode deduzir excepções dilatórias ao
abrigo do art.º 729º c) e, por remissão, dos arts.º 730º, 731º e 857º/1.

São:
- Incompetência absoluta e relativa do tribunal;
- A nulidade de todo o processo;
- Falta de personalidade ou capacidade judiciária;
- Falta de autorização ou deliberação que o autor devesse obter;
- Ilegitimidade de alguma das partes.
- A coligação indevida quando não exista a conexão exigida no 56º/1 CPC
- Falta de constituição de advogado quando imposto pelo 58º ou a falta,
insuficiência ou irregularidade de mandato judicial por parte do mandatário que
propôs a acção.
- Litispendência ou o caso julgado: arts.º 564º/1 c), 577º i), 580º, 581º e 582º/1 e
2.

Alguns destes vícios são sanáveis pelo que, ex vi art.º 6º/2, deve o juiz da oposição
promover oficiosamente a sua correcção por si próprio ou convidando o exequente ao
suprimento, consoante o regime do vício.

Inexistência, inexequibilidade ou invalidade formal do título


Relativamente ao título tanto pode ser arguida a sua inexistência (a não apresentação
de título ou inexistência de aparência mínima de título) como a sua inexequibilidade (a

51
Ana Rita Rodrigues

não verificação dos pressupostos dos arts.º 703º a 708º CPC ou de normas avulsas) e,
ainda a sua nulidade formal.

A alegação da inexistência ou de inexequibilidade do título, ao abrigo do art.º 729º a) e,


por remissão dos arts.º 730º, 731º e 857º/1, configura materialmente uma defesa por
impugnação, já que o executado nega o facto da existência do documento ou o seu
valor jurídico.

Relativamente à sentença esta não existe se o tribunal não tiver poder jurisdicional ou
se está despida da parte decisória exigida pelo art.º 607º/3.

Será inexequível a sentença que não contenha uma ordem de prestação ou


condenação; não esteja assinada pelo juiz; esteja pendente de recurso com efeito
suspensivo nos termos dos arts.º 704º/1 e 647º/2 a 4 CPC; tenha sido revogada em
recurso, ordinário ou extraordinário; sendo estrangeira não tenha sido revista e
confirmada pela Relação pelos arts.º 978º/1 e 979º CPC.

Podem ainda arguir-se indirectamente vícios formais e materiais (quanto à questão de


mérito) da sentença exequenda e, vícios originários que dizem respeito à instância
declarativa ou injuntória.
- Excepções dilatórias referentes ao caso julgado anterior à sentença que se executa:
art.º 729º f);
- Nulidades originais: a falta ou nulidade da citação para a acção declarativa quando o
réu não tenha intervindo no processo nos termos do art.º 729º d). a falsidade do
processo ou sentença declarativos do 729º b) 1ª parte;
Nulidade ou anulabilidade de confissão ou transacção na sentença homologatória do
729º h)

Estes são fundamentos taxativos pelo que não se pode invocar outros vícios da
sentença.

Relativamente às letras e livranças tem sido afirmado o seguinte:


 Nas relações imediatas, ou seja, nas relações entre subscritor, beneficiário e
quem assina no verso, no fundo, não tendo entrado em circulação, não valem
os princípios cambiários da literalidade e abstração. Aqui a letra é independente
da causa subjacente e, por isso.
o O executado pode:
 Opor excepções fundadas sobre relações pessoais como,
eventuais vícios (ex.: o aceite ter sido feito por procurador sem
poderes) ou inconsistência da relação causal (ex.: preenchimento
abusivo do título de crédito).
 Demonstração de que nada deve ao exequente, incluindo por
extinção por compensação;
 Excepção de não cumprimento do contrato;
 Alteração das circunstâncias quanto ao contrato subjacente.

o O avalista pode invocar contra o beneficiário de livrança em branco o


preenchimento abusivo do título de crédito ou a nulidade do aceite;
o O avalizado pode invocar a prova da intenção de prestar aval;

52
Ana Rita Rodrigues

o Pode ser invocado que a livrança foi subscrita e avalizada como caução
e garantia do bom pagamento duma fiança prestada pelo exequente aos
oponentes e que a fiança foi extinta e por isso o exequente nunca chegou
a desembolsar o que quer que fosse.

 Nas relações mediatas, ou seja, fora da relação subjacente, ou perante o


portador decorre do art.º 17º LULL que o executado não pode opor as excepções
fundadas sobre as relações pessoais dela com terceiros, com o subscritor
avalizado (ex.: violação do pacto de preenchimento) ou com os anteriores
portadores que não o próprio pagamento da dívida, a menos que o portador, ao
adquirir a letra, tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.

 O pagamento parcial de uma letra de câmbio não lhe retira validade como título
executivo, mesmo no caso de na letra não ter sido feita menção do pagamento
parcial;

 No caso de desconto de letras que não foram pagas nos seus vencimentos,
tendo ocorrido a sua devolução pura e simples pelo banco ao sacador
endossante, com a concomitante restituição, por parte deste ao banco, das
importâncias recebidas, se o sacador pretende dar à execução, de duas uma:
o Risco os endossos a favor da entidade bancária readquirindo a sua plena
legitimidade como portador dos títulos nos termos do art.º 16º LULL;
o Terá de alegar no requerimento executivo os factos justificativos da
detenção das letras, ou seja, de como sucedeu ao banco endossado na
qualidade de legítima

 No caso da cláusula “sem despesas” não é condição da execução dos direitos


do portador de livrança contra o avalista, tanto o protesto prévio por falta de
pagamento, como a apresentação a pagamento.

 Na pluralidade de avales, vale a presunção do 516º CC, de que os condevedores


solidários comparticipam em partes iguais na dívida. Esta é ilidível na oposição
à execução.

 Constando do teor da letra o lugar onde deve ser paga, não pode o título ser
dado a execução sem que o mesmo tenha sido aí apresentado;

 A assinatura no lugar do aceitante em letra sacada contra uma sociedade


presume-se do respectivo gerente em representação dela. Se não for ilidida esta
presunção a assinatura será considerada da sacada, mesmo que se não faça
referência expressa à representação.

 Prescrita a obrigação cambiária do aval, apenas permanece a obrigação do


subscritor da livrança.

Relativamente aos cheques tem-se afirmado o seguinte:


 Tratando-se de cheque de garantia competirá ao executado alegar e provar que
a relação fundamental que se pretendeu garantir não tem causa ou fundamento
ou, se extinguiu ou se modificou;

53
Ana Rita Rodrigues

 Cabe ao embargante subscritor do cheque exequendo, emitido com data em


branco e posteriormente completado pelo tomador ou a seu mando, o ónus da
prova da existência de acordo de preenchimento e da sua inobservância.

 No cheque de conta colectiva, cada titular será o único e exclusivo sacador nos
cheques que emitiu, obrigando-se cambiariamente com a aposição da sua
assinatura, enquanto os restantes titulares não passaram de ter a qualidade de
sacadores, nem se obrigaram cambiariamente.

Incerteza, inexigibilidade ou iliquidez da obrigação


Correlativamente ao art.º 713º CPC, a incerteza, inexigibilidade ou iliquidez da
obrigação exequenda são fundamento de oposição nos termos do art.º 729º e), por
remissão dos arts.º 730º, 731º e 857º, caso não tenham sido supridas na fase inicial da
execução.

A alegação da inexigibilidade da obrigação configura materialmente uma defesa por


excepção perentória impeditiva relativa à exigibilidade do crédito.

A alegação da incerteza ou da iliquidez é uma defesa por impugnação quanto ao quid


ou ao quantum do crédito.

Factos impeditivos, modificativos ou extintivos e impugnação do crédito


exequendo
Estas são excepções perentórias conforme o art.º 576º/3 CPC.

Sede específica: art.º 729º g) para onde remetem os arts.º 730º, 731º e 857º CPC.

Alguma jurisprudência defende que esses factos devem ter existência actual no
momento em que são invocados, não podendo estar dependentes de um evento futuro
e incerto, maxime, uma sentença transitada em julgado.

Os factos impeditivos consubstanciam a inexistência originária da obrigação, seja por


falta ou nulidade formal do seu título material, eventualmente coincidente com o título
executivo; nulidade não formal; falta de causa do aceite da letra ou livrança.

Os factos modificativos podem ser a modificação do contrato por alteração da


circunstância, tanto na oposição à execução de sentença, como em sede do art.º 731º
pois poderia ser deduzido na contestação; factos que consubstanciam a inexigibilidade
da obrigação, como a condição suspensiva e a excepção de não cumprimento; a
substituição do objecto da prestação ou do direito real; a alteração das garantias.

Os factos extintivos consubstanciam o que na jurisprudência se entende por


“inexistência da obrigação”, incluída no art.º 729º e).
Podem ser comuns, como é por exemplo a anulabilidade por incapacidade do devedor
em sede do art.º 731º CPC.

54
Ana Rita Rodrigues

Podem ser específicos.

Execução de sentença
Sendo uma sentença existem várias restrições à oposição de factos impeditivos,
modificativos e extintivos constantes do art.º 729º g).

São fundamentos:
 Vícios da acção declarativa;
 Falsidade do processo declarativo, por exemplo, situação em que alguém forjou
a decisão que constitui título executivo;
 Vício da acção declarativa anterior, por exemplo, situação em que há caso
julgado anterior à própria decisão que se executa. Uma segunda decisão
contraditória da anterior não pode ser executada e constitui fundamento de
oposição à execução.

Como 1ª restrição apenas se admite facto extintivo ou modificativo que seja posterior ao
encerramento da discussão na acção declarativa.
Apenas se estão a admitir factos objectivamente supervenientes.
Têm de ser posteriores ao encerramento da discussão no processo de
declaração onde a sentença foi proferida. Factos que em si mesmos sejam
posteriores a esse acto processual.
Por isso, não podem ser factos que, quanto à existência e conteúdo da obrigação
exequenda já tivessem sido definidos na sentença condenatória que serve de
título executivo ou, pudessem ter sido alegados e, como tal foram precludidos
pelo caso julgado, ou seja, factos velhos.

Há uma excepção a este regime de superveniência.


O devedor executado por credores solidários que não foram parte na acção declarativa
de condenação em prestação indivisível, legitimados ao abrigo do 55º CPC, conserva o
direito processual de invocar excepções perentórias pessoais contra aqueles já que não
o pudera fazer no processo declarativo.

E se o executado não alegou esses factos, seja porque não tinha conhecimento, sem
culpa, ou não dispunha do documento necessário para os provar?
Se forem factos anteriores mas subjectivamente supervenientes?
No plano literal, o STJ já enunciou que factos anteriores, mesmo quando o
executado deles não tinha conhecimento ou não dispunha do documento
necessário para os provar, não podem servir de fundamentos de oposição à
execução.

No plano funcional pode invocar-se ser incompreensível que na acção


declarativa se admita a superveniência subjectiva até ao encerramento da
discussão e não se admita o mesmo nesta nova instância.

TS admite estes factos desde que importem a situações que permitam recurso
de revisão de sentença – art.º 696º c) e laborando com a própria admissão de
oposição à execução superveniente no art.º 728º/2 CPC.

55
Ana Rita Rodrigues

Afinal, se a superveniência subjectiva de um facto que pode ser provado


documentalmente é relevante como fundamento de recurso de revisão, não faz
sentido que não o seja como fundamento de embargos de executado, dado que
a procedência daquele recurso implica a inexequibilidade do título executivo.
Sendo um fundamento possível de oposição à execução conforme o art.º 729º
a) CPC.

Foi opção do legislador não valorar o conhecimento superveniente salvo em


sede de recurso extraordinário de revisão.
Pretendeu-se que a oposição operasse como uma revisão mais restrita.
Art.º 839º/1 a)

Os factos objectivamente supervenientes incluem os factos de formação complexa


como a compensação ou a usucapião, mas dependentes de declaração de vontade para
a produção de efeitos jurídicos.
Nestes casos somente são supervenientes os factos que tenham concluído o seu iter
formativo depois do encerramento da discussão na 1ª instância, pois só então pode a
vontade negocial ser exigida.

Como segunda restrição, o facto que deve ser objectivamente superveniente deve ter a
qualidade de facto extintivo ou modificativo da obrigação.
A exclusão dos factos impeditivos decorre da sua natureza necessariamente não
superveniente.

Como terceira restrição temos o art.º 729º g) que dita que as excepções perentórias
supervenientes apenas poderão ser provadas por documento, ou seja, exige-se a prova
documental.
Esta exigência suscita algumas dúvidas. O que justifica esta restrição? Vale para todas
as situações?

TS: tem uma posição isolada porque entende que temos que fazer uma aplicação
bastante restritiva desta exigência.
Temos que ter presente que a lei dispensa esta exigência de prova documental face à
prescrição.
Também no art.º 860º, quanto às benfeitorias como fundamento da oposição também
não faz sentido que tenham de ser provadas por meio documental.
Conclui TS que esta exigência só faz sentido quando a lei a exige.

Esse tal facto superveniente tem de ser provado documentalmente.


TS: considera que esta limitação de defesa não se justifica, pois, a oposição à
execução é uma verdadeira acção declarativa. Ao exigir-se a prova documental
do facto superveniente será inconstitucional.
Defende ainda a possibilidade de se admitir uma superveniência subjectiva.

RP: é a favor da prova documental e considera que o 729º g) se equipara a um


pedido de revisão da sentença do art.º 696º c). Neste artigo as limitações
também existem e, portanto, esta limitação numa interpretação sistemática é
ainda adequada.

56
Ana Rita Rodrigues

No recurso de revisão também se exige prova documental de factos


supervenientes

Contra crédito sobre o exequente


Art.º 729º h) – quando se queira compensar o crédito.
Constitui um facto modificativo porque vem alterar a instância.

RP considera que se deve lidar com esta alínea da mesma forma que se lida com a
alínea g), ou seja, exige-se que o crédito seja superveniente e exige-se prova
documental.
Para efeitos de superveniência o que importa é o facto constitutivo do crédito.

Se o contra crédito se formou antes do encerramento da discussão na acção declarativa,


o executado já poderia ter emitido a declaração de compensação. Se não o fez, pelo
principio da preclusão também já não o pode fazer na oposição à execução.

Se se formou após o encerramento da discussão, o exequente nunca poderia ter emitido


a declaração de compensação na acção declarativa, logo pode fazê-lo em sede de
oposição à execução.

No caso de a compensabilidade apenas se verificar após o decurso do prazo para


oposição à execução, permite-se um novo prazo – art.º 728º/2.

Ónus da prova
O ónus cabe ao embargante.
Contudo temos duas restrições:
 Relativa à prova da verificação da condição suspensiva: aqui e com base no
regime do CC, o 715º/1 estabelece que tem de ser o exequente a provar essa
condição suspensiva;
 No caso de ser embargada a assinatura do título executivo, cabe ao
apresentante do título a prova da veracidade desse mesmo documento

Pressupostos processuais
Os embargos de executado são processo declarativo, logo são exigíveis todos os
pressupostos processuais exigidos em qualquer acção declarativa.

Art.º 732º: os embargos correm por apenso à execução.

Sendo uma nova relação processual exige-se que o executado assegure a presença
dos pressupostos processuais positivos e comuns a qualquer causa.
É competente o tribunal da execução para o apenso da oposição à execução por força
do art.º 91º/1 CPC.

Quanto às partes elas devem apresentar personalidade, capacidade e legitimidade,


sendo o executado (art.º 728º/1) e o exequente (art.º 732º/2) autor e réu da causa.

57
Ana Rita Rodrigues

Também o cônjuge goza de legitimidade activa nos termos do art.º 787º/1, apesar de
não ser executado.

Quanto ao valor da causa:


Se a execução estiver a correr no juízo central cível e se p valor dos embargos não
coincidir com o valor de 50.000€ não haverá alteração da competência do juízo central
cível.
Já na situação de a execução ter valor inferior a 50.000€ e os embargos, por qualquer
motivo terem valor superior, por força do art.º~117º/3, o juízo local cível não é
competente e os embargos devem ser enviados para o juízo central cível.

Regras próprias de procedimento: arts.º 728º, 732º e 733º.


No mais, por se trata de um incidente aplica-se os arts.º 293º e 294º ex vi 292º.

No caso de haver pluralidade de executados e/ou exequentes, TS entende que na


pluralidade de executados, ainda que em litisconsórcio necessário, qualquer deles tem
legitimidade singular para opor-se à execução, tal como sucederia com a legitimidade
para interpor recurso do art.º 634º/1 CPC.
O litisconsórcio necessário passivo não corresponde a um litisconsórcio necessário
activo em sede de oposição à execução.
Deduz isto do art.º 728º/3 que remete para o 569º. Contudo não é aplicável a faculdade
que se concede relativo ao prazo do art.º 569º/2. Cada prazo quanto a cada um dos
executados corre autonomamente, logo não tem de haver nenhum litisconsórcio
necessário.

Existindo pluralidade de exequentes há litisconsórcio necessário passivo se o


fundamento de oposição lhes for comum, independentemente de aquela ser voluntária
ou necessária.

Na oposição à execução não pode haver intervenção de terceiro pois esta intervenção
supõe uma extensão decisória da oposição que ultrapassa a respectiva função
acessória de estrita extinção a execução.
Tem de existir essencialmente quando tem de haver a participação do cônjuge para
entrega de coisa certa.

Quanto ao interesse processual temos de ter presente que a oposição à execução vale
nos fundamentos previstos na lei.

Art.º 58º/1 quanto ao patrocínio judiciário.

Prazo para dedução dos embargos:


A PI da oposição deve ser apresentado num prazo de 20 dias a contar da citação do
executado – art.º 728º/1 CPC.
Por força da aplicação analógica do art.º 569º/1 2ª parte, o prazo para dedução da
oposição, na sequência da revogação do despacho que indeferiu liminarmente o
requerimento executivo, conta-se da notificação ao executado do despacho que
ordenou o prosseguimento da execução e não da prévia citação.

58
Ana Rita Rodrigues

A PI da oposição constitui o momento oportuno para deduzir toda a defesa, regendo-se


pelo princípio da concentração da defesa nos termos do art.º 573º. Daí que o oponente
não pode deduzir facto posterior em outros embargos nos termos do art.º 728º/2 que
não seja superveniente.

A PI da oposição deve ser entregue na secretaria de execução ou na secretaria do


tribunal competente para a execução.
Há lugar a despacho liminar, que pode ser de indeferimento quando:
 Art.º 732º/1 a);
 Arts.º 729º a 731º e 857º;
 Art.º 732º/1 c);
 Art.º 590º/1.

Do art.º 733º/1 decorre que o recebimento dos embargos não suspende a marcha do
procedimento executivo.

As excepções ao efeito não suspensivo são as do art.º 733º/1 e se foi impugnada, no


âmbito da oposição deduzida, a exigibilidade ou a liquidação da obrigação exequenda
nos termos do 729º e)

Se a oposição não chegar sequer a ser recebida, sendo liminarmente rejeitada, não
pode haver suspensão da execução quando seria admissível.
Para se poder decretar a suspensão da execução é condição indispensável o prévio
recebimento dos embargos. Se não forem recebidos a instância fica extinta, não
havendo nada a suspender.

Suspensa a marcha do processo, mantêm a sua eficácia os actos processuais já


consumados, maxime a penhora, mas não se promove ou aceita mais algum acto
processual executivo, nomeadamente, a venda e pagamento.
Daí que, mesmo que o executado que tenha prestado caução nos termos do art.º 733º/1
a), não há lugar ao levantamento da penhora.
A caução para suspensão e penhora cumprem funções diversas que até podem ser
contemporâneas.
A da suspensão é exigida para garantir o pagamento da obrigação exequenda e cobrir
a mora do processo suspenso. A penhora prepara a venda executiva.

No 733º/2 determina-se uma restrição à suspensão, em bom cumprimento do princípio


da economia processual.

No 733º/5: permite-se a suspensão quando o bem penhorado seja a casa de habitação


efectiva.

Se a execução não for suspensa nenhum credor pode ser pago sem prestar caução,
enquanto estiver pendente a oposição à execução.

Prestação de caução
Tem natureza incidental nos termos dos arts.º 906º e ss CPC sendo processada por
apenso à causa pendente.

59
Ana Rita Rodrigues

Apenas o executado-embargante, na PI ou após o despacho de recebimento a pode


requerer para efeito de suspensão da execução e não está sujeita a qualquer prazo,
podendo ter lugar a todo o tempo.
É uma simples faculdade do executado e a execução só deverá ser suspensa depois e
se prestada a caução.

Não havendo ainda penhora a caução deve cobrir o pagamento da dívida, mais os juros
se estes tiverem sido pedidos.
Havendo penhora ou garantia real, a caução cobrirá apenas o eventual diferencial
estimado entre o valor garantido pela penhora e o estimado.

Pode ser prestada por terceiro.

Notificação pessoal
O exequente será notificado para contestar em 20 dias – art.º 732º/2.
A notificação deve ser feita pessoalmente nos termos dos arts.º 225º/2 ex vi art.º 250º.

Oposição superveniente
O 728º/2 aceita que possa haver oposição deduzida depois deste momento quando ela
se baseie em factos que ocorreram ou forma conhecidos depois daquele prazo inicial.
Estes novos factos terão de ser sempre os permitidos pelos arts.º 729º a 731º e 857º.

Na contestação à oposição o exequente pode impugnar as excepções peremptórias, as


excepções dilatórias negativas e as nulidades formais do título executivo; pode alegar
os factos contrários aos que consubstanciam as excepções dilatórias positivas,
inexistência ou de inexequibilidade do título executivo ou a incerteza ou iliquidez do
crédito.

Após a contestação não há mais articulados como impõe o art.º 732º/2.

Pelo 732º/3, à falta de contestação é aplicável o disposto no art.º 567º/1 e no 485º.


Consideram-se confessados os factos articulados pelo oponente, sem prejuízo dos
casos de revelia inoperante.
Contudo não se têm por confessados os factos que estiverem em oposição com os
expressamente alegados pelo exequente no requerimento.

Sentença
A sentença de oposição deve ser proferida no prazo máximo de 3 meses contados da
PI – art.º 723º/1 b).
Sendo vários oponentes, o prazo de 3 meses é contado singularmente e não a
partir da última citação de executado – arts.º 728º/3 e 569º/2.

Esta sentença é impugnável nos termos gerais.


Havendo absolvição da instância na oposição, pode o executado servir-se da faculdade
do art.º 279º/2, ou seja, intentar nova oposição à execução no prazo de 30 dias?
RP entende que sendo este um prazo processual ele deve ser interpretado e
aplicado potenciando a tutela e não reduzindo-a. Ora, deve o juiz in casu lançar
mão do princípio da adequação formal, plasmado no art.º 547º.

60
Ana Rita Rodrigues

A sentença pode determinar a absolvição do exequente da instância incidental quando


o tribunal anule todo o processo de oposição à execução ou se verifique uma excepção
relativamente à própria instância de oposição.
Aqui a instância executiva mantém-se.

Fará caso julgado formal nos termos do art.º 620º/1 CPC pois recai unicamente sobre a
relação processual.
Tem força obrigatória apenas dentro do processo.

A procedência a oposição dita vários efeitos processuais primários e secundários.


Efeito processual primário: art.º 732º/4 CPC. Sendo procedente o pedido de oposição
extingue-se a execução no todo ou em parte consoante seja total ou parcialmente
procedente.
Esta procedência deve ser definitiva

Efeitos secundários: a venda fica sem efeito salvo se, quando sendo parcial a
procedência, a subsistência da venda seja compatível com a decisão tomada – art.º
839º/1 a).
O exequente terá de pagar as custas da execução e do próprio incidente de oposição à
execução.
As penhoras pendentes serão levantadas embora por efeito da extinção da execução.

Havendo pluralidade de executados, ainda que em litisconsórcio necessário, qualquer


deles tem legitimidade activa para opor-se à execução, tal como sucederia com a
legitimidade para interpor recurso – art.º 634º/1.
Daí que o caso julgado formal ou material só vincule os concretos executados e
exequente(s) que foram partes na execução.

Quanto aos que não foram parte o ponto é controvertido.


TS: entende que se há litisconsórcio voluntário na acção executiva a decisão pode
aproveitar, por ser uma decisão favorável, aos demais nos termos do art.º 634º/2 CPC
por analogia. Isto caso o fundamento seja comum (ex.: inexequibilidade do título) e se
o executado não oponente for titular de interesse essencialmente dependente do
interesse do executado oponente (ex.: ser o 3º garante do art.º 54º/2 CPC) ou se o
executado não oponente for um devedor solidário, salvo se o fundamento for pessoal.
Havendo um litisconsórcio necessário na execução, a decisão favorável vai aproveitar
aos outros, apesar de não serem oponentes.

LF: critica a posição de TS pois entende que nem ocorre caso omisso nem analogia se
verifica.
Não há caso omisso, porquanto se o litisconsórcio necessário for legal então temos a
extensão do caso julgado ao ausente que decorre da natureza do litisconsórcio. O
mesmo sucede no caso de litisconsórcio necessário natural pois não revestiria utilidade
o prosseguimento da execução apenas contra o executado que não se opôs à
execução.
Se for um litisconsórcio necessário convencional é defensável que a não dedução de
oposição impede o executado de se prevalecer da situação integradora do litisconsórcio,

61
Ana Rita Rodrigues

nem mesmo por um mecanismo de adesão. Depende do credor a execução da


obrigação apenas contra o executado que não se opôs à execução.

Consequências da procedência da oposição


A natureza da sentença que julga procedente uma oposição à execução e a
possibilidade de se formar caso julgado material com essa sentença são controvertidas
na doutrina.

Castro Mendes: o fundamento da procedência é relativo a um facto extintivo da causa


de pedir da execução logo levaria à absolvição do pedido executivo. Dado isto resultaria
num caso julgado material.

LF: devido às restrições probatórias do art.º 732º, tem que ser feita uma ponderação
casuística.
Se o direito à prova tiver sido efectivamente limitado, a parte poderá provar em acção
autónoma que foi impedida de usar testemunhas que poderiam ter influenciado a
decisão final e com isso pedir a restituição do indevido.

RP: há que distinguir entre os fundamentos com e sem aptidão para alcançar o valor de
caso julgado material.
Considera que quando o fundamento diga respeito à existência ou exigibilidade da
dívida, a oposição surge como uma acção e revogação de um título e que a inexistência
não é apenas o fundamento da decisão, mas também o objecto da mesma e por isso,
quando esta sentença transita em julgado, ela adquire força de caso julgado material.
Este entendimento é consentâneo com o art.º 732º/5 que afirma que a decisão de mérito
proferida nos embargos à execução constitui caso julgado quanto à existência, validade
e exigibilidade da obrigação exequenda, impedindo assim que o exequente proponha
nova acção executiva sucessiva.

Síntese
O recebimento dos embargos, regra geral a oposição não suspende a execução.
Contudo pode acontecer que haja lugar à suspensão da execução – art.º 733º/1
e 5.
No caso de haver suspensão, a eficácia dos actos já praticados mantém-se, não
se levantando a penhora já realizada. Contudo não se aceita mais nenhum acto
processual executivo de venda ou pagamento.
A única restrição à suspensão prende-se com a possibilidade de realizar o
apenso de verificação e graduação de créditos quando, antes da suspensão,
tenha já havido citação dos credores – art.º 733º/2.

Ainda que não determine a suspensão da execução impede que os credores sejam
pagos não sua pendência sem que prestem caução – art.º 733º/4 – ou o caso de a
penhora incidir sobre a habitação efectiva do embargante – art.º 733º/5.

Após o recebimento da petição inicial de embargos de oposição à execução há lugar à


notificação do exequente – art.º 732º/2 que terá 20 dias para contestar, seguindo-se
sem mais articulados os termos do processo comum.
A notificação é feita pessoalmente – art.º 225º/2 ex vi 250º.

62
Ana Rita Rodrigues

A falta de contestação do exequente gera um efeito cominatório semipleno e não


se consideram como confessados os factos que estiverem em oposição com os
expressamente alegados pelo exequente – arts.º 567º/1, 568º e 732º/3.
Excepto nos casos de revelia inoperante.

Após isto haverá lugar ao proferimento da sentença no prazo de 3 meses a contar da


data da petição de oposição – art.º 723º/1 b) que pode declarar a oposição:
 Absolvição do exequente embargado da instancia incidental – improcedência da
oposição por verificação de uma excepção dilatória relativamente à oposição.
A ação executiva mantém-se.
Forma-se caso julgado formal.

 Absolvição do executado embargante da acção executiva – procedência do


pedido de oposição pelo que a acção executiva se extingue total ou parcialmente
(art.º 732º/4).

 Absolvição do exequente embargado do pedido de embargos – improcedência


do pedido de oposição pelo que a acção executiva prossegue.

Sanções ao exequente no caso de procedência da oposição – art.º 858º.

Art.º 732º/5 : faz caso julgado quanto à existência, validade e exigibilidade da obrigação
exequenda.

A reconvenção não é admissível em sede e oposição à execução pois trata-se de uma


acção acessória da acção executiva que tem como peido a extinção da execução.

A compensação é sempre invocável como excepção perentória extintiva pelo


executado, mesmo que o valor do contra crédito seja superior ao da obrigação
exequenda.
Pode haver compensação-excepção, mas não compensação-renovação.

A sentença da oposição à execução que seja procedente no reconhecimento da


existência de um crédito para compensar não serve de título executivo contra o
exequente embargado.
A condenação do embargado no pagamento da diferença entre os créditos terá
de ser obtida em sede de acção declarativa autónoma.

63
Ana Rita Rodrigues

Dívidas dos cônjuges

Aqui estamos sempre a falar em obrigações pecuniárias pois quanto à prestação de


facto não há especialidades a nível de responsabilidade e quanto à entrega de cosa
certa vigora o litisconsórcio necessário legal do art.º 34º/1.

Responsabilidade subjectiva: “quem responde pelas dívidas?”

A responsabilidade pode ser:


 De ambos os cônjuges – importa ter em conta os arts.º 1691º, 1692º b) 2ª parte,
1693º/2 e 1694º/1 CC:
o Dívidas comuns: têm por fonte um facto praticado por ambos os
cônjuges, ainda que antes do casamento.
A execução será fundada em sentença que condene os dois ou em título
extrajudicial de onde os dois constem.
 Art.º 1694º CC = sempre que a dívida onere um bem comum com
uma garantia real. Esta é uma situação que não se coloca se não
existirem bens comuns.
 Art.º 1691º/1 a) CC = sempre que a dívida seja constituída por
ambos ou por um com o consentimento do outro.
Neste caso, como ambos constam do título, haverá litisconsórcio
necessário – art.º 34º/3 1ª parte para RP e TS.
A preterição deste litisconsórcio redunda na ilegitimidade do executado
que poderá ser conhecida no despacho liminar, através do qual o juiz
convidará o exequente a suscitar a intervenção principal do outro cônjuge
– art.º 726º/4: chamamento à demanda e intervenção principal
provocada.
Se não for suprida, a excepção redunda na absolvição da instancia.
A ilegitimidade pode ser suscitada na oposição à execução.
Por ambos constarem do título não há lugar a um incidente de
comunicabilidade. No caso de ambos constarem do título a
comunicabilidade resulta do título
LF entende que só há litisconsórcio voluntário pois o preceito do art.º 34º
apenas se aplica à acção declarativa e, por força do favor creditoris, o
credor poderá escolhe quem quer demandar.

o Dívidas comunicáveis: têm por fonte um facto praticado por um dos


cônjuges sem o consentimento do outro, mas que implica uma
comunicação da responsabilidade, voluntária ou legal.
A comunicação voluntária resulta do consentimento dado para o acto
pelo cônjuge que não contraiu a dívida.
São dívidas próprias até que se prove a comunicabilidade da dívida.

Nestes casos não se pode logo por a acção contra os dois pois só um
consta do título. Há que suscitar o incidente de comunicabilidade da
dívida.

A comunicação legal consta dos arts:


 Art.º 1691º/1 b) a e) e 2;
 Art.º 1692º b) 2ª parte;
64
Ana Rita Rodrigues

 Art.º 1693º/2;
 Art.º 1694º/1

A comunicabilidade da dívida tem de ser provada, sob pena de a dívida


continuar a ser considerada própria.
Quando o título seja uma sentença a intervenção do cônjuge terá de ser
provocada pelo credor na acção declarativa condenatória ou pelo
cônjuge réu.
Assim, quando chegamos à acção executiva o título é contra os dois, logo
haverá litisconsórcio necessário porque o regime da responsabilidade
por dívidas dos cônjuges é um regime substantivo imperativo que não
pode ser afastado.

Quando o título seja diverso de sentença os arts.º 741º e 742º permitem


a intervenção provocada do cônjuge, a pedido do exequente ou do
executado para provocar a comunicação da dívida.
Nestes casos abre-se o incidente de comunicabilidade, o cônjuge pode
defender-se e, no fim o juiz decidirá se a dívida deve ser comunicada ou
não.
- Se for ocorre uma extensão executiva subjectiva do título
executivo, adquirindo o cônjuge o estatuto de executado.
- Se o cônjuge não se pronunciar há efeito cominatório semipleno,
considerando-se confessado que a dívida é comum.
Após passar a executado tem 20 dias para se pronunciar.

Pode haver dívidas comum nos casamentos em que o regime que vigora é o
da separação de bens.

 Apenas daquele que se obrigou – dívidas próprias:


o Regime regra, pois, se não houver subsunção num dos tipos de
comunhão de dívidas é esta a classificação que se atribui à dívida –
carácter residual = art.º 1692º a)

o Arts.º 1692º, 1693º/2 e 1694/2 CC


o Será uma execução com base num título judicial ou extrajudicial que
apenas obrigue um deles, sem que o credor ou o devedor hajam alegado
e feito a demonstração de que a dívida, embora contraída
individualmente, é comum.

Responsabilidade objectiva: “que bens respondem pelas dívidas?”


Aqui importa ter em conta o regime de bens do casal.
Este tipo de coisa afere-se no plano substantivo.
 Dívidas comuns:
o Regime de separação de bens: não há bens comuns a responder pelo
que responde os bens próprios os cônjuges – art.º 1695º/1. Cada cônjuge
responde 50% pelas dívidas, parciariamente e não de modo solidário –
art.º 1695º/2 in fine, podendo ser penhorados os bens próprios de cada
um deles até metade do valor da dívida;

65
Ana Rita Rodrigues

o Regime de comunhão de bens: respondem primeiro os bens comuns, e


na falta ou insuficiência deles, podem ser penhorados os bens próprios
de cada um dos cônjuges até ao valor total da dívida, solidariamente.

A penhora baseada num título comum contra o casal e regime de


comunhão há-de ser fita sempre na presunção de que o bem penhorado
é um bom comum. Daí que o credor não tenha de demonstrar que o bem
é comum, cabendo tal prova ao devedor

O incumprimento desta ordem pode ser fundamento de oposição à


penhora.

Respondem os bens comuns – art.º 1695º CC.

 Dívidas comunicáveis:
o Regime de separação de bens: cada um dos cônjuges responde por 50%
da dívida, podendo ser penhorados os bens próprios de cada um deles
até metade do valor da dívida;

o Regime de comunhão de bens: podem penhorar-se os bens comuns, e


na falta ou insuficiência deles, podem ser penhorados os bens próprios
de cada um dos cônjuges até ao valor total da dívida, solidariamente

O incumprimento desta ordem pode ser fundamento de oposição à


penhora.

 Dívidas próprias:
o Regime de separação de bens: não existem bens comuns, pelo que só
podem ser penhorados os bens próprios do cônjuge devedor – art.º
1696º/1 1ª parte
Se for penhorado um bem imóvel ou um estabelecimento comercial,
ainda que seja um bem próprio numa execução por dívida própria, o art.º
786º/1 a) obriga à citação do cônjuge.
A falta de bens determina a inaplicabilidade do art.º 82 pois o seu fim é a
tutela de bens comuns.

o Regime de comunhão de bens: respondem em primeiro lugar os bens


próprios do cônjuge devedor e, na insuficiência dos bens deste, responde
a sua meação sobre os bens comuns.

Se forem penhorados bens comuns aplica-se o art.º 740º/1 – o cônjuge


é citado para requerer a separação dos bens, suspendendo-se a venda
dos bens comuns penhorados.

66
Ana Rita Rodrigues

Juntando os dois esquemas


Há título contra os dois cônjuges – dívida comum
Quem responde? Ambos os cônjuges – art.º 1691/1 a) CC

Que bens respondem?


Comunhão de bens: os bens comuns do casal e, solidariamente os bens próprios
de cada um – art.º 1695º/1 CC.
RP e TS: há litisconsórcio necessário pelo que a acção tem de ser proposta
contra ambos – arts.º 34/3 2ª parte CPC + art.º 1695º/1 CC

Separação de bens: respondem os bens próprios dos executados


parciariamente pois esta não é uma responsabilidade solidária – art.º 1695º/2
CC
RP e TS: há litisconsórcio necessário

Só há título contra um dos cônjuges, mas a dívida é comunicável:


Quem responde? Ambos os cônjuges = arts.º 1691º, 1693º/2 e 1694º/1 CC

Que bens respondem? Art.º 1695º/1: em primeira linha os bens comuns e,


subsidiariamente os bens próprios de forma solidária.

Título judicial = a comunicabilidade tem de constar da sentença, não havendo


comunicabilidade da dívida na acção executiva – art.º 741º/1 a contrario.

Título extrajudicial = tanto o exequente como o executado podem alegar a


comunicabilidade da dívida na acção executiva – art.º 741º e 742º. O cônjuge
tem 20 dias para reagir.
Abrem-se várias hipóteses:
o Aceita: a dívida é considerada comum e o cônjuge do executado passa
também a executado.
Art.º 1695º/1: em primeira linha os bens comuns e, subsidiariamente os
bens próprios de forma solidária.

o Não se pronuncia: a dívida é considerada comum e age-se como se


tivesse aceitado a comunicabilidade.

o Não aceita a comunicabilidade e requer a separação de bens: a dívida é


considerada própria d executado e o seu cônjuge mantem o estatuto de
cônjuge do executado.
Respondem os bens próprios do cônjuge do executado e a sua meação
nos bens comuns, podendo a execução prosseguir sobre os bens
comuns já penhorados e que, em virtude da separação, devem integrar
a meação do cônjuge do executado.

o Não aceita a comunicabilidade e não requer a separação dos bens: a


dívida é considerada própria e mantém o estatuto de cônjuge do
executado.
Aqui respondem os bens próprios do executado e todos os bens comuns
porque não foram separados judicialmente.

67
Ana Rita Rodrigues

Separação de bens: o exequente apenas pode propor a acção contra o cônjuge


obrigado no título executivo e respondem os bens do executado – isto no caso
de título judicial.
Se for um título extrajudicial discute-se a aplicação analógica das normas
constantes do art.º 741º/2 a 6 quanto à utilização do mecanismo de
comunicabilidade da dívida.

Título executivo contra um dos cônjuges e a dívida é própria:


Quem responde? Apenas responde o cônjuge que contraiu a dívida = art.º 1692º
CC

Que bens respondem?


Comunhão de bens: os bens que compõe o património próprio do cônjuge
devedor e, subsidiariamente os bens que compõe a meação do cônjuge devedor
no património comum.
O exequente deve propor a acção contra o cônjuge devedor. O cônjuge do
executado é citado para requerer a separação de bens, de forma a proteger da
penhora a sua meação nos bens comuns – art.º 740º/1.

Separação de bens: respondem os bens próprios do executado, devendo a


acção ser proposta apenas contra este, nos termos gerais.
Não se justifica a aplicação do art.º 740º/1 atendendo à inexistência de bens
comuns.

Daqui retira-se que o cônjuge pode assumir quatro posições distintas:


 É totalmente alheio à execução;
 É citado porque foram penhorados, numa execução por dívida própria, bens
imóveis ou estabelecimentos comerciais do outro cônjuge pelo art.º 786º/1 a).
Fica com o estatuto de cônjuge do executado – art.º 787º;
 É citado porque foram penhorados bens comuns, numa execução por dívida
própria pelo art.º 740º/1 – neste caso só pode requerer a separação;
 O cônjuge é executado:
o Ab inition por dívida comum;
o Supervenientemente por dívida declarada comunicável.

AS DIVIDAS NÃO SE EXTINGEM COM A EXTINÇÃO DO CASAMENTO – a dívida


mantém a sua classificação de comum ou própria.
Contudo o regime de bens dura enquanto durar o casamento.
A responsabilidade subjectiva e objectiva afere-se na data da constituição da
dívida e não no momento da execução = art.º 1690º/2 CC

Importa sempre ter presente que bens comuns não se confundem com dívidas
comunicáveis!!
Se o cônjuge compra um bem e há comunhão de bens (geral ou de adquiridos) o bem
é comum, mas a dívida pode ser própria se não estiverem verificadas as situações de
comunicabilidade da dívida.

O incidente de comunicabilidade pode ser pedido pelo exequente e pelo executado.

68
Ana Rita Rodrigues

No regime da separação de bens não se lhe aplica o art.º 1695º/1 pois não há comunhão
de bens. Quanto muito há bens em compropriedade.
Apenas se encontram bem próprios no património de cada cônjuge pelo que não
há relações de subsidiariedade na responsabilidade por dívidas dos cônjuges.
Pelas dívidas de responsabilidade de ambos podem responder de imediato
todos os bens dos cônjuges, que respondem como devedores parciários e não
como solidários pois a sua responsabilidade não é solidária – art.º 1695º/2.
O credor apenas pode pedir a cada cônjuge a respectiva quota-parte na
prestação.

Nos regimes inominados fixados em convenção antenupcial – art.º 1698º CC – tudo se


rege pelas normas ali fixadas.
Se os esposados tiverem convencionado a comunicabilidade de certos bens
(dentro dos limites do art.º 1699º/1 d) e 2), valerá quanto a eles o regime da
separação de patrimónios e de responsabilidade subsidiária de que trata o
1695º.
Quanto aos demais bens vale o regime da separação.
O executado terá ao seu dispor o incidente de oposição à penhora para alegar que os
bens penhorados eram comuns nos termos do art.º 784º/1 b).
Contudo deve indicar no requerimento de dedução o disposto no art.º 784º/2.

O exequente pode reclamar do acto de penhora praticado pelo agente de execução –


art.º 723º/1 c).

O cônjuge do executado pode utilizar os embargos de terceiro para defender o seu


direito sobre os bens comuns – art.º 352º.
Tem a posição de terceiro??

Será terceiro sempre que a penhora dos bens comuns não tenha sido acompanhada da
sua citação imposta pelos arts.º 740º/1 e 735º/2, sem prejuízo do art.º 786º/6.
Aqui a procedência dos embargos dita o levantamento da penhora, mas o
exequente poderá requerer a penhora dos mesmos bens, agora citando o
cônjuge.

Não será terceiro para efeitos do art.º 343º, sendo os embargos de indeferir quando a
penhora dos bens comuns tiver sido acompanhada da sua citação, para promover a
separação dos bens.
A promoção da separação dos bens é um poder processual específico do
cônjuge do executado – art.º 787º.

Penhora
Após a fase de oposição à execução iniciam-se os actos preparatórios do pagamento
ao exequente – nomeadamente a penhora e a venda dos bens penhorados

Acto processual pelo qual o Estado retira ao executado os poderes de aproveitamento


e de disposição de um direito patrimonial na sua titularidade.
Traduz-se na apreensão judicial de bens do executado. É necessária para
permitir a venda.

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Ana Rita Rodrigues

É legitimada pelo art.º 817º CC: sendo o património do devedor a garantia geral
dos credores (art.º 601º) tudo o que integra o património é susceptível de ser
penhorado.
Art.º 735º CC: só em casos excepcionais estabelecidos na lei é que o património
de terceiro pode responder pela dívida, desde que sejam executados.
Efectivamente a penhora pode ser feita quando os bens d devedor estejam na
posse de terceiro – art.º 54º/4 e 747º/1, cabendo depois a esses terreiros
embargar de terceiro se entenderem que têm um direito legitimamente oponível
ao exequente.

No fundo será o acto de apreensão judicial de bens para ulterior venda executiva.

O acto de penhora não cumpre uma função sancionatória mas antes uma função
instrumental.
Visa acautelar o exercício do direito de execução sobre o património do devedor.
Desempenha uma função de garantia do cumprimento de obrigações.

O acto da penhora tem por objecto toda e qualquer situação jurídica activa disponível
de natureza patrimonial, integrante da esfera jurídica do executado, cuja titularidade
possa ser transmitida forçosamente nos termos da lei substantiva.

Objecto imediato: são sempre direitos patrimoniais os que são susceptíveis de serem
penhorados.

Objeto mediato: aquele que determina o procedimento da penhora.


São:
- Penhora de bens móveis;
- Penhora de bens imóveis;
- Penhora de direitos.

Em termos simples, numa execução são penhoráveis os bens do devedor que


respondendo substantivamente pela dívida, não estejam abrangidos por cláusulas
especiais de exclusão que, num plano global, componham uma penhora proporcional
na extensão e adequada na qualidade.

Princípios da penhora:
 Princípio da economia – art.º 751º/1: há aqui uma ideia de economia de meios.
E este princípio que justifica que haja preferência pela penhora de salário. Diz-
nos para irmos ao património do executado e ver o que é que lá existe que seja
de mais fácil penhora.
 Princípio da proporcionalidade – há um limite máximo e um limite mínimo para a
penhora (art.º 735º/3).
Não devem ser penhorados mais do que os bens necessários para satisfazer a
divida, contudo há uma excepção a isto no art.º 751º/3.
Há também ainda uma ideia delimite mínimo que nos diz que não podem ser
penhorados bens que não sejam suficientes para se pagar o crédito do
exequente.

70
Ana Rita Rodrigues

 Princípio da fungibilidade – art.º 753º/3: a penhora pode ser substituída por um


valor equivalente, um valor caucionado pelo próprio executado pois é indiferente
se está a ser penhorado um bem ou uma caução o valor desse bem.

Competência funcional: agente de execução – art.º 719º/1


Art.º 823º/1: convolação da penhora.

Âmbito subjectivo; bens em poder de terceiro


No plano subjectivo a regra, tanto do art.º 53º CPC como a do 817º CC é a de que
apenas os bens do devedor estão sujeitos à execução.

Art.º 735º/2: admite que nos casos especialmente previstos possam ser penhorados
bens de terceiro à dívida.
Condição: a execução tenha sido movida contra o terceiro.
Aqui é terceiro em relação à dívida, não podendo ser terceiro ao processo.
Por isso há-de ter legitimidade:
- Art.º 54º/2 CC: um sujeito que tenha dado em garantia real de uma
dívida alheia a um bem seu;
- Art.º 818º e 616º/1 CC: um terceiro contra quem tenha sido obtida com
sucesso sentença de impugnação pauliana.
Trata-se de uma extensão subjectiva do âmbito primário da penhora a quem não é
devedor, sendo antes terceiro à dívida.

Assim, o devedor subsidiário não está abrangido pelo que o fiador e o sócio de
sociedade de responsabilidade ilimitada estão sujeitos à penhora nos termos do art.º
735º/1.

Art.º 747º/1: os bens do executado são apreendidos ainda que, por qualquer título, se
encontrem em poder de terceiro, sem prejuízo dos direitos a que este seja lícito opor ao
exequente.

O agente de execução deve indagar se esse título é o penhor ou o direito de retenção.


Se assim suceder, fará constar do auto de penhora o domicílio do credor, para posterior
citação para a reclamação de créditos nos termos do art.º 786º/1 b) e 4 CPC.
Esta averiguação justifica-se, em sede de reclamação de créditos, por se ter
restringido a citação dos credores com garantia real, que não careça de ser
registada – art.º 786º/1 b).

Aqui o objecto da penhora não é o direito do terceiro, contudo ela irá restringir ou mesmo
suprimir direitos de terceiro que não sejam licitamente oponíveis ao exequente.

Devemos ainda ter presente que o que se penhora não é o bem mas sim o direito que
o executado tem sobre esse bem.
Daí que o direito de uso fruto seja penhorável, o direito de aquisição, o direito de
superfície.

Também podem ser penhorados direitos de crédito, nomeadamente os direitos de


crédito do devedor.

71
Ana Rita Rodrigues

As perspectivas de aquisição também são penhoráveis, os depósitos bancários, os


direitos e quotas de sociedades, estabelecimento comercial, salários, rendas e pensões.
No fundo é penhorável tudo o que tenha carácter patrimonial e que pertença ao devedor.

O objecto máximo potencial da penhora é a garantia das obrigações.

O objecto concreto tem 4 limites:


I. Limites substantivos: a lei estabelece limites quanto à responsabilidade pelas
dívidas e quanto à sua transmissibilidade.
II. Impenhorabilidades:

III. Princípio da proporcionalidade: mesmo que um certo bem responda para a


dívida, seja transmissível e possa ser penhorado, é preciso ter em atenção o
quantum pis a penhora só pode ter a extensão correspondente à dívida
exequenda e às dívidas acessórias.
Art.º 735º/3 – lida com uma dupla estimativa: valor dos bens e o valor das
despesas de justiça.
Este artigo vem impor ao agente de execução o dever legal de promover a
penhora apenas dos bens na medida necessária e suficiente para atingir os
limites estabelecidos naquela norma.
A violação do art.º 735º/3 é fundamento de oposição à penhora pelo executado
– art.º 863º-A/1 a) – ou de reclamação para o juiz pelo exequente – art.º 809º/1
c)

IV. Princípio da adequação: dentro dos bens que caibam no valor determinado
pelo princípio da proporcionalidade, devem ser penhorados os bens que melhor
se adequem ao interesse do credor, sendo mais facilmente transmissíveis e
resultando num melhor produto de venda.

Responsabilidade (limites substantivos)


A lei substantiva dita o alcance máximo do objecto da penhora.

Tanto para as pessoas singulares, como para as pessoas colectivas a regra é a da


responsabilidade universal e imediata do art.º 601º CC.
À partida responde todo o património do devedor de forma imediata e
incondicional enquanto garantia geral do credor.

O princípio da responsabilidade universal conhece várias excepções.


Podem existir limitações legais e convencionais de responsabilidade que
afastam a universalidade e a imediação da responsabilidade.

O 601º, na parte final ressalva a separação de patrimónios.

A segregação patrimonial pode ser plena – opera-se uma restrição à


universalidade da responsabilidade. O património só responde por certa
categoria de dívidas.

72
Ana Rita Rodrigues

Também pode ser condicional pois opera-se uma restrição à imediação da


responsabilidade. O património responde primariamente por certas dívidas e
condicionalmente por todas as restantes.

Limitações legais de responsabilidade:


- Arts.º 197º/3 e 271º CSC;
- Art.º 831º e art.º 833º 2ª parte;
- Art.º 1181º/1 desde que esteja sujeito a registo pelo 1184º;
- Art.º 2292º CC
- Art.º 127º/2 CC.

Limitações convencionais de responsabilidade:


Os arts.º 602º e 603º CC contêm regimes de limitação negocial de responsabilidade.
O 602º tem uma limitação positiva (limitar a responsabilidade do devedor a
alguns dos seus bens) e uma limitação negativa (determinados bens sejam
excluídos da execução).
Nada impede que essa limitação esteja sujeita a condições ou só opere para
certas dívidas que o devedor tenha perante o credor.

Art.º 603º: regula um caso especial de limitação de responsabilidade no caso de


doação ou em testamento.

Fica claro que as partes podem restringir o objecto da penhora, mas não podem esvaziar
o direito à execução pois este é um direito irrenunciável.

Limitações decorrentes da separação de patrimónios:


A separação pode ser:
 Absoluta: o executado tem no seu património uma certa massa de bem que está
destinada à dívida.
Havendo plena autonomia patrimonial certos bens só respondem por certas
dívidas e mais nenhumas.

Ex.: art.º 744º - regime da penhora em execução de dívidas de herança contra


herdeiros do art.º 744º.
Na execução contra o herdeiro só podem penhorar-se os bens recebidos do
autor da herança.
Se depositaram em dinheiro aquilo que para eles representa o valor
remanescente da herança que receberam, depois de pago o passivo, esse
depósito pode ser penhorado.

 Relativa: há uma massa que responde preferencialmente pel dívida e outra que
responde subsidiariamente.
Não havendo autonomia patrimonial temos um fenómeno de responsabilidade
subsidiária.

Art.º 745º CPC.

73
Ana Rita Rodrigues

Existem dois tipos de responsabilidade subsidiária:


o Objectiva: a subsidiariedade tem lugar no interior do património do
executado, em resultado da existência de separação de patrimónios.
Há uma parte constituída por bens que está delimitada, autonomizada do
restante património, na medida em que não responde de imediato por
qualquer dívida, mas apenas pelo pagamento de determinadas dívidas.
Aqui a condição de penhora dos bens do executado que respondem em
segunda linha é uma prognose fundamentada de falta ou insuficiência
dos bens do executado que poderiam ser primariamente executados.

Art.º 745º/5 completado pelos arts.º 740º a 742º e 786º/1 a) e do art.º


752º/1.

Situações de bens que beneficiam de um regime de responsabilidade


subsidiária objectiva:
- Bens comuns sendo a dívida própria (art.º 1695º CC) ou bens
próprios sendo a dívida comum (1696º);
- Bens onerados com garantia real a favor do credor (697º CC e
752º CPC)

Art.º 697º CC: o devedor que for dono da coisa hipotecada tem o direito
de se opor não só a que outros bens sejam penhorados na execução
enquanto não se reconhecer a insuficiência da garantia; e que,
relativamente aos bens onerados a execução se estenda além do
necessário à satisfação do direito do credor.
O agente de execução está vinculado a esta norma, pelo que não pode
deixar de promover primariamente a penhora dos bens sobre os quais
incida a garantia do exequente, salvo se o exequente tiver renunciado ou
expressamente não pretender exercer a garantia.
Só na sua falta irá penhorar outros bens do devedor, embora no caso do
54º/3 somente depois de ele estar na acção como executado.
Têm de se esgotar primeiro os bens do devedor sobre os quais incide a
garantia real devido ao benefício da excussão real do art.º 697º CC.

Se o executado entender que esta subsidiariedade não foi respeitada


poderá, invocando a violação do 752º/1 e do 697º CC, deduzir oposição
à penhora ao abrigo do 784º/1 b) CPC.

Se os bens onerados forem insuficientes, o agente pode autonomamente


fazer a penhora de outros bens ao abrigo do 751º/4 b).

Se a garantia incidir sobre os bens do devedor subsidiário, o benefício da


excussão prévia prevalece sobre a garantia real pelo que têm de primeiro
ir aos bens do devedor principal.
Se estes se mostrarem insuficientes ou não existirem, deve começar-se
por penhorar o bem onerado com a garantia real por força do benefício
da excussão real.

Caso a garantia incida sobre bens de terceiro, o benefício da excussão


prévia prevalece e o fiador pode recusar-se a pagar enquanto não for
executado o bem de terceiro sobre o qual incide a garantia real.

74
Ana Rita Rodrigues

Esta garantia tem de ser anterior à fiança.


Tecnicamente, nos termos do art.º 639º CC, o que acontece é que
o fiador adquire o benefício da excussão real.

o Subjectiva: a subsidiariedade é entre as dívidas de dois sujeitos (um


devedor principal e um devedor secundário) e, consequentemente, entre
os respectivos patrimónios.
Temos dois devedores, só que um deles só responde pela dívida na falta
ou insuficiência de bens do outro devido ao benefício da excussão prévia.

A condição de penhora dos bens do devedor subsidiário é a verificação


do esgotamento ou falta dos bens do património do devedor principal.
Este esgotamento só ocorre com um pagamento insuficiente resultante
da venda.

Regime: art.º 745º/5 e 7.

São os casos de fiança, do sócio da sociedade civil, do sócio de SNC e


do sócio comanditado de sociedade em comandita.

Fiador: na execução da obrigação afiançada é-lhe lícito recusar o


cumprimento enquanto o credor não tiver excutido todos os bens do
devedor sem obter a satisfação do seu crédito – 638º/1 CC.
Só não será assim na fiança mercantil do 101º CCom ou quando o fiador
tenha renunciado ao benefício da excussão prévia dos arts.º 640º e
641º/2 CC.
Se para a mesma dívida houver garantia real constituída por terceiro,
contemporânea da fiança ou anterior a ela, tem o fiador o direito de exigir
a execução prévia das coisas sobre que recair a garantia real, mesmo
que os bens do devedor principal se hajam esgotado – art. 639/1 CC.
Isto tem aplicação independentemente de ter ou não renunciado ao
benefício da excussão prévia.

Se essa garantia real incidir sobre os bens do devedor principal será


irrelevante enquanto tal para o fiador pois este reclamará a excussão
prévia dos bens do devedor principal, onerados ou não.

É apenas da estrita legitimidade do devedor principal a invocação, em


sede de oposição à penhora, o benefício da excussão real do art.º 697º

O devedor subsidiário que seja singularmente demandado tem a seu


favor a garantia de forma ordinária por força do art.º 550º/3 d), desde que
não haja renunciado ao benefício da excussão prévia.
No entanto, não deixa de estar sujeito à dispensa de citação prévia por
fundado receio de perda da garantia patrimonial nos termos do art.º 727º.

Em todas as demais situações, ou seja, situações de execução de


devedor subsidiário que seja singularmente demandado, mas com
renúncia ao benefício da excussão prévia e execução conjunta de

75
Ana Rita Rodrigues

devedor subsidiário, a execução seguirá a forma ordinária ou sumária


conforme o que decorra da aplicação do art.º 550º/1 a 3.

Ainda dentro da responsabilidade subsidiária subjectiva:


O art.º 745º vem estabelecer um regime mais simples através do qual possa o devedor
subsidiário fazer valer os seus direitos específicos.
Este regime vale seja qual for a forma de processo.
Foi movida apenas contra o devedor subsidiário, máxime, um fiador = art.º
745º/1.
Esta é uma opção que faz sentido se o credor souber que já não há mais nada
para excutir no património do devedor principal.
Será processo ordinário – art.º 550º/3 d).
Pode haver eventual litisconsórcio sucessivo com o devedor principal.
Para que a penhora não se inicie pelos seus bens este pode
- Alegar o benefício da excussão prévia (20 dias desde a citação) = art.º
745º/1.
Desde que não tenha renunciado expressamente a ele ou se, denso
apresentado título executivo judicial apenas contra o devedor subsidiário
e este na acção declarativa não tenha provocado a intervenção do
devedor principal na acção declarativa – renúncia tácia ao benefício da
excussão prévia – art.º 641º/2 CC.

- Suspender a execução contra os seus bens se indicar bens do devedor


principal que hajam sido adquiridos posteriormente à excussão dos bens
deste ou que não fossem conhecidos – art.º 745º/4.

Perante a alegação do benefício da excussão prévia o exequente ode requerer,


no próprio processo, a execução do devedor principal em litisconsórcio sucessivo
– art.º 745º/2.

A penhora imediata dos bens do devedor subsidiário só se verifica quando o


exequente junte, com o requerimento executivo, prova de que o devedor principal
não tem bens ou que o devedor subsidiário renunciou ao benefício de excussão
prévia – art.º 745º/5

Se a acção foi movida contra o devedor subsidiário fundada em título contra o


devedor principal, o devedor subsidiário é parte ilegítima, podendo opor-se à
execução – art.º 729º/1 c).
Já não o poderá fazer se o título também for contra si.

Se for movida contra o devedor subsidiário, singularmente ou com o devedor


principal, não podem penhorar-se os seus bens, enquanto não estiverem
excutidos todos os bens do devedor principal.
O devedor subsidiário tem o ónus de invocar o benefício da excussão prévia em
requerimento como objeção preventiva à penhora – art.º 745º/1 e 728º/1.
Pode suspender a execução contra os seus bens se indicar bens do devedor
principal que hajam sido adquiridos posteriormente à excussão dos bens deste
ou que não fossem conhecidos – art.º 745º/4.

76
Ana Rita Rodrigues

Sendo deferido o requerimento suspende-se a execução quanto ao devedor


subsidiário (art.º 745º/2) e se era execução do devedor subsidiário singularmente
pode o exequente requerer a execução contra o devedor, para o que será citado
para pagamento integral; se era execução contra o devedor subsidiário e o
devedor principal, prossegue apenas contra esta.

Importa notar que o devedor subsidiário pode renunciar ao benefício da


excussão prévia:
- Por cláusula de renúncia expressa no contrato;
- Por renúncia tácita, quando seja proposta acção condenatória contra o
fiador e este não tenha invocado o benefício da excussão na contestação.

Se for movida apenas contra o devedor principal – art.º 745º3, executam-se os


seus bens, mas se eles se revelarem insuficientes, pode o exequente requerer,
no mesmo processo, execução contra o devedor subsidiário, que será citado
para pagamento do remanescente.
À partida não serão penhorados bens do devedor subsidiário, por este ser
estranho à execução.
Sempre que o exequente tenha título contra o devedor subsidiário, é possível a
sua citação ulterior para a execução, em litisconsórcio sucessivo – art.º 745º/6

Impenhorabilidades

Não obstante a regra geral do art.º 735º/1 que sujeita todos os bens do devedor à
penhora para responderem pela dívida exequenda, existem certos bens que estão
sujeitos a impenhorabilidades legais.
Conjuga-se o art.º 735º1 CPC com o art.º 601º CC

Impenhorabilidades:
 Absolutas: aqui há uma isenção total da penhora!!
o Art.º 736º
o São absolutamente impenhoráveis pois estão aqui em causa garantias
constitucionais, devendo entender-se que a dimensão patrimonial da
esfera jurídica das pessoas é um meio para o desenvolvimento da sua
dimensão pessoal.
o A alínea a) conjuga com o art.º 280º CC que dita a nulidade do negócio
jurídico.
Não faria sentido preparar um objecto para a venda executiva que viria a
ser nula, tendo em conta a natureza do bem.
o Está aqui subjacente uma ideia de custo-benefício pois a penhora é
sempre oneradora da esfera do devedor e, portanto, só deve ser feita
quando o benefício que o credor retira dela seja muito superior.
o Daí que a alínea c) vede a penhorabilidade dos bens de valor diminuto
pois não aproveitariam ao exequente.
o Na alínea d) não se exige que o local de culto esteja aberto todo ano mas
somente que a frequência com que abre seja necessária apara a
formação do culto.
o Na alínea e) faz-se referencia aos túmulos.
77
Ana Rita Rodrigues

Há que ter em conta as situações em que estamos perante um jazigo


vazio.
Nestes casos há quem entenda que se pode penhorar pois não passa de
um bem que serve para depositar restos mortais. A diferença está em
não os ter pois túmulo pressupõe que existem restos mortais la dentro.
No entanto há jurisprudência que defende a impenhorabilidade ainda que
vazios pois devido à natureza do bem continua a ser atentatório dos
falecidos a penhora.
o Relativamente à nova alínea h) há que notar que independentemente do
valor que tenha o animal de companhia é sempre impenhorável. Contudo
os prémios que tenha ganho já o são.
o RP: estas impenhorabilidades são irrenunciáveis, não podendo o
devedor indicar estes bens à penhora.

 Relativas: a isenção de penhora só ocorre dentro de determinadas


circunstâncias.
o Art.º 737º
o O conceito de “economia doméstica” só se refere aos bens que estão na
casa de morada efectiva do executado e cuja penhora contunda com a
dignidade da pessoa humana. Atende-se às necessidades mínimas de
alimentação, descanso e higiene.
É um critério objectivo que tem de ser interpretado à luz do princípio da
proporcionalidade, podendo sofrer alguns desvios subjectivos a favor das
circunstâncias concretas do executado.
o Dentro destes bens há que incluir as televisões pois a jurisprudência tem
entendido que a televisão e imprescindível por uma questão de
companhia e de acesso à cultura, sendo hoje em dia um padrão normal
das famílias.

 Parciais: a isenção de penhora é apenas parcial.


o Art.º 738º
o Os direitos de crédito só podem ser penhorados até um certo limite
porque geralmente são destinados à garantia da subsistência do
executado.
 1/3 (33%) é o limite de penhorabilidade estabelecido legalmente.
 O executado tem sempre de ficar com o valor do salário mínimo
pelo que se for esse o seu vencimento não há lugar à penhora.
 O limite máximo da penhora são 3xsalário mínimo, não podendo
ser penhorado mais do que isso
o Art.º 739º - a protecção mencionado vale mesmo que estes créditos
sejam pagos através de conta bancaria. Neste caso o executado fica
obrigado a provar eu aquele depósito ou valor é proveniente de um
crédito parcialmente penhorável.
o Art.º 738º/4 – caso seja um crédito de alimentos estes limites
desaparecem pois entende-se que o direito à subsistência do exequente
prevalece sobre o do executado.

Art.º 1184º CC: caso de possível impenhorabilidade por indisponibilidade substantiva


objectiva.
Os bens adquiridos pelo mandatário ainda não transmitidos ao mandante, e que
sejam adquiridos ao abrigo de um contrato de mandato sem representação, não

78
Ana Rita Rodrigues

respondem pelas dívidas do mandatário, desde que o mandato conste de


documento anterior à penhora.

Procedimento de penhora

Antes de tudo tem sempre de haver a indicação dos bens:


 Pelo exequente – art.º 724/2;
 Pelo exequente e pelo executado no caso de não terem sido encontrados bens
– art.º 750º/1;
 Dispensa de indicação de bens – art.º 752º

A penhora tem várias fases


Actos preparatórios:
Quando começa a penhora??
A penhora começa desde logo a delinear-se no requerimento executivo porque
o art.º 724º permite que o exequente indique logo bens do executado
susceptíveis de penhora.
Igualmente pelo art.º 750º, o executado também se encontra obrigado a indicar
bens à penhora.

No entanto, verdadeiramente a penhora começa:


o Forma ordinária: os actos preparatórios só podem começar após a
notificação da secretaria ao agente de execução – art.º 748º/1;
o Forma sumária: art.º 855º/2 – inicia-se assim que o requerimento
executivo é aceite pelo agente de execução. Inicia-se antes da citação
do executado, não havendo intervenção da secretaria do tribunal.

Actos preparatórios:
o Se o exequente indicou bens do executado, o agente tem de respeitar a
indicação, ficando dispensado de procurar bens, salvo se as indicações
ofenderem norma legal imperativa, o princípio da proporcionalidade ou o
art.º 751º/1.
Não podem ser penhorados imediatamente determinados bens,
beneficiando de uma moratória temporal = art.º 751º/3.
Este preceito requer um juízo de prognose.

o Eventual pesquisa de bens na falta ou insuficiência de bens indicados


pelo executado – art.º 749º
o Art.º 748º/2 + 717º = consultar o registo informático de execuções.
o Art.º 754º/1 = o agente de execução informa o exequente de todas as
diligências

o Se o devedor chegar a acordo (art.º 806º) ou pagar a dívida (art.º 846º),


a penhora levanta-se e a execução extingue-se.
Se o exequente não prescindir da penhora, os bens penhorados
transformam-se em garantias reais (art.º 807º) e quando o executado

79
Ana Rita Rodrigues

não pague, a instância pode ser reaberta, sendo vendidos os bens


sobre que recaía a primeira penhora.

Acto de penhora stricto sensu


Quando aos actos a penhora está dividida em:
- Penhora de bens imóveis: arts.º 755º e ss
Art.º 755º: feita comunicação electrónica ao registo + art.º 757º: há que proceder
à entrega do imóvel a um depositário que deve tomar posse efectiva do mesmo.
Art.º 756º quem pode ser depositário.
Art.º 757º/3, 5 e 7: como e quando pode ser feita a entrada no domicílio do
executado.
É necessária autorização judicial – não se confunde com autorizar a
penhora, apenas é uma autorização de entrada no domicílio.
A entrada só pode ocorrer entre as 7h e as 21h.
Art.º 758º: extensão da penhora quando o seu objecto seja um imóvel:
Abrange as partes integrantes e não as acessórias, bem como abrange
os frutos que ainda não se tenham destacado.

- Penhora de bens móveis: arts.º 764º e ss


Art.º 772º - aplicação subsidiária da penhora de imóveis.
Aqui cabe distinguir:
- Móveis sujeitos a registo: art.º 768º
Aplica-se o art.º 755º porque tem de se seguir as regras do registo.~
Art.º 768º/2: possibilidade de imobilização;
Art.º 768º/3: após a penhora e imobilização há que apreende os
documentos do bem e proceder à sua remoção.

- Móveis não sujeitos a registo: art.º 764º - faz-se a apreensão/


apossamento da coisa, seguida da sua imediata remoção para depósito.
O depositário é o agente de execução.
Pode não haver remoção no caso do art.º 764/2.
A presunção do art.º 764/3 pode ser ilidida pelo executado ou terceiro
mediante prova documental do direito de terceiro sobre o bem.

- Penhora de direitos: arts.º 773º e ss


São direitos de crédito ou de gozo que não estejam em titularidade e posse
exclusiva.
Na penhora de créditos o executado é credor de terceiro que será, por sua vez,
devedor do executado.
Neste caso temos a penhora do crédito do executado sobre o terceiro devedor.

O facto de o crédito anda não estar vencido não é motivo pra que este crédito do
terceiro não possa ser penhorado, podendo ainda considerar-se créditos futuros
do executado sobre o terceiro.
Também o facto de existirem outros credores desse crédito sobre o terceiro não
é motivo de impedimento, contudo há que ter em conta o regime da
solidariedade.

80
Ana Rita Rodrigues

No caso do crédito ser um bem comum de ambos os cônjuges aplica-se o art.º


740º/1 e aplica-se o regime do art.º 741 e chama-se o outro cônjuge mediante
citação.

Se o terceiro devedor for o exequente, também é possível a penhora do crédito


pois será uma estratégia processual.
Regime comum:
Se se indicar o nome de um devedor do executado, o agente fará a notificação
do terceiro que passa a ter o direito de vir confirmar ou negar que é devedor no
prazo de 10 dias – arts.º 773º. É um ónus do terceiro devedor.
Se negar a existência o crédito, não se abre nenhum incidente
declarativo, sendo o crédito penhorado e vendido como crédito litigioso –
segue-se o regime do art.º 775º
Se reconhecer o crédito, quando este se vencer tem de o pagar a
execução.

No entanto o terceiro pode fazer uma confissão complexa, por exemplo,


dizer que o crédito existe, mas que só tem de o cumprir mediante
contraprestação – aqui vai-se ao art.º 776º/1

Regimes especiais:
Art.º 774º: para títulos de crédito – tem de haver apreensão.

Art.º 778º para direitos ou expectativas de aquisição – o executado não é o dono


da coisa, mas ainda há uma expectativa de aquisição da propriedade (reserva
de propriedade ou leasing) e por isso pode haver penhora da expectativa e
apreensão do bem.

Art.º 780º: para depósitos bancários;


Esta penhora tem duas fases:
- Fase de bloqueio da conta;
- Fase de penhora
Art.º 780º/1: como é feito o bloqueio.
O agente deve comunicar o saldo existente na conta ou qual a quota-parte do
executado e essa parte fica logo bloqueada desde a data da comunicação.
Art.º 739º: se um crédito for impenhorável, o montante correspondente a esse
crédito não conta também será impenhorável.
Art.º 738º/5: não pode ser bloqueado montante correspondente ao salário
mínimo.
Art.º 780º/7: estabelece uma ordem de venda.

Neste caso poe-se o problema da natureza do bloqueio pois até ele acontecer
não há penhora.
Entende que não é uma pré-penhora, não obstante pelo art.º 781º/4 o executado
perder qualquer forma de movimentar as quantias e, por ser uma
indisponibilidade semelhante às do art.º 720º CC quanto às penhoras de crédito.
Parece a TS que a circunstancia da penhora, quando se efetivar retroage ao
momento do bloqueio, contudo não será uma pré-penhora.
Concretamente a fase da penhora resulta do art.º 780º/9.

Art.º 781º: para direitos de compropriedade ou indivisos;

81
Ana Rita Rodrigues

Art.º 782º: para estabelecimento comercial


Notificação:
Art.º 853º
Os atos de penhora devem ser dados a conhecer ao executado através da
notificação da penhora;
Se o executado estiver presente no ato de penhora ele será notificado
por contacto pessoal nesse momento;
Se o executado estiver ausente no ato de penhora ele será notificado nos
5 dias posteriores a este;
Para tal é preciso que, previamente, o agente de execução lavre o auto de
penhora, declarando e comprovando a penhora que foi feita: é este auto que
vai servir de certidão de penhora e que vai ser enviada ao executado;
O exequente também tem, obviamente, de ser notificado, pois ele também
pode opor-se à penhora, impugnar a penhora ou pedir o seu reforço;
As notificações devem incluir a menção ao direito de defesa;

Não esquecer que na forma sumária, com esta notificação também ocorre a
citação para a execução, podendo o executado deduzir cumulativamente
oposição à execução e à penhora (856º);

Formas de defesa:
 Oposição à penhora por parte do executado;
 Embargos de terceiro;
 Oposição à penhora por simples requerimento.

Efeitos da penhora
Os efeitos da penhora podem ser arrumados em dois grupos:

 Subfunção de garantia (822º CC): a penhora permite ao exequente ser pago


antes de todos os outros que não tenham garantia real anterior à penhora ou ao
arresto dos bens penhorados, quando tenha havido arresto;
o O exequente quando consegue penhorar um bem adquire um direito de
garantia, ficando numa posição de prevalência sobre os outros credores;

RP considera que não se trata de uma garantia real porque não há


sequela, pois os bens já não saem da esfera do executado; além disso
há garantias que são meramente obrigacionais, como seria aqui o caso;

Lebre de Freitas considera que se trata de uma garantia real processual,


porque se pode opor a outras execuções;

o Se houver vários credores a concorrer aos mesmos bens, todos eles


aparecerão na reclamação de créditos e os seus direitos serão
graduados, não tendo o exequente que ficar em primeiro lugar: a
execução singular transforma-se em execução coletiva, e é por isso que
dá jeito a subfunção de garantia da penhora;

82
Ana Rita Rodrigues

o Art.º 822º/2 manda prestar atenção ao arresto porque se este existir


antes da penhora, ele converte-se em penhora e esta fica com essa data
anterior, porque o arresto tem os mesmos efeitos da penhora;

 Subfunção de conservação dos bens:


o Indisponibilidade material absoluta: existe para evitar que os bens
desapareçam ou pereçam;
 Corresponde à apreensão / desapossamento na penhora de
coisas móveis; quanto à penhora de direitos, como estes não
estão associados a uma posse, corresponde a uma inibição de
exercício dos poderes de gozo e aproveitamento sobre o bem,
poderes esses que ficam à ordem do tribunal;
 São duas as manifestações deste efeito:
 Quando o direito penhorado seja um direito de crédito
sobre terceiro, nos termos do art. 777º, há uma alteração
do regime de cumprimento, que é uma decorrência deste
efeito: o terceiro cumprirá perante o agente de execução
e já não perante o executado;
 A penhora de estabelecimento comercial faz-se por auto
?????, enumerando-se todos os direitos existentes,
continuando depois o estabelecimento a funcionar
normalmente, sob gestão do executado com fiscalização
nomeada pelo juiz, ou quando o exequente se opuser, sob
gestão de administrador nomeado pelo juiz (782º);
o Indisponibilidade jurídica relativa: existe para evitar que o executado
aliene os bens;
 É o efeito mais importante, por ser aquele que tem mais
consequências práticas;
 Atualmente a penhora implica que o bem penhorado não pode ser
vendido, porque a lei determina que todos os atos de oneração e
disposição dos bens penhorados são ineficazes;
 Oneração inclui o arrendamento;
 A sanção não é a invalidade / nulidade, mas sim a
ineficácia relativa:
o Os limites à ineficácia são:
 Temporal: só dura enquanto houver
penhora; se a penhora for levantada e o
bem não for vendido executivamente, o
efeito do ato onerador ou de disposição
produz-se retroativamente;
 Subjetivo: não se trata de uma ineficácia
erga omnes, mas sim direcional, na medida
em que o ato em causa apenas não é
oponível à execução (exequente, credores
reclamantes e terceiros adquirentes na
venda executiva);
 Objetivo: mesmo que sejam posteriores à
penhora, são eficazes os atos de oneração
83
Ana Rita Rodrigues

que sejam impostos por terceiro (princípio


da proporcionalidade);
 Penhora posterior à primeira
penhora;
 Hipoteca judicial;
 Contrato-promessa depois da
penhora já é mais discutível:
o Prof. considera que não,
porque o contrato-promessa
fixa um preço e isso
restringe a venda executiva;
 Pacto de preferência depois da
penhora:
o Prof. considera que sim,
porque não se estabelece
um preço, não se
restringindo a venda
executiva, sendo apenas
necessário mais um ato de
notificação do preferente;
 Os regimes de ineficácia são diferentes consoante os bens
penhorados:
 Se for penhora de direitos reais (819º CC): apenas não se
produz o efeito translativo, o efeito real;
 Se for penhora de direitos de crédito (820º CC): não se
produz o efeito extintivo, mas os efeitos modificativos
podem operar, exceto se prejudicarem a execução;
o Esta ineficácia também opera se for o terceiro a
extinguir a dívida, para evitar extinções
fraudulentas;
o Os contratos de longa duração levantam
problemas, porque o devedor do executado não
pode extinguir o contrato devido à ineficácia da
extinção do crédito;
 O prof. considera que quanto haja causa
não dependente da vontade do executado
a ineficácia não opera.

Oposição à penhora

Seja qual for o meio utilizado, o pedido é sempre o mesmo: levantamento da penhora -
extinção da penhora mediante a sua revogação.
Quanto aos meios temos:

 Se o impugnante for o executado:

84
Ana Rita Rodrigues

o Oposição à penhora: 784º e 785º + 856º, todos do CPC

É mais um incidente declarativo na ação executiva, para o qual só o


executado tem legitimidade ativa e cuja causa de pedir assenta na
ilegalidade objetiva da penhora (regras da responsabilidade subjetiva e
subsidiária, regras das impenhorabilidades, princípio da
proporcionalidade);

Há que distinguir se estamos:

 Na forma ordinária:
O prazo é de 10 dias a contar do ato de penhora
(785º/1 CPC);
Não tem efeito suspensivo, a menos que o
executado preste caução (785º/3 CPC), embora
nenhum credor possa ser pago, durante a
pendência do incidente, sem prestar caução
(785º/6 CPC);
Protege-se a casa de morada de família (733º/5,
ex vi 785º/4 CPC);
 Na forma sumária:
O incidente corre em termos cumulados com a
oposição à execução, sendo o executado citado e
notificado do ato de penhora no mesmo momento,
sendo o prazo de 20 dias a contar do ato de
penhora (856º/1);
A oposição à penhora não tem autonomia
procedimental, a menos que o executado apenas
deduza oposição à penhora;
Se forem deduzidas ambas as oposições de forma
cumulada, o efeito suspensivo da oposição à
execução estende-se à oposição à execução;

o Oposição por simples requerimento (744º):

Quando se execute uma dívida de herança, só podem ser penhorados


bens recebidos na herança, pelo que se foram penhorados outros bens,
o executado indicando outros bens da herança, pode requerer o
levantamento daquela;

o Reclamação por simples requerimento dos atos do agente de execução:

Qualquer outro vício, que não caiba nos outros dois meios de
impugnação, utiliza-se este meio;

Na opinião de Rui Pinto é o meio indicado para arguir a nulidade da


penhora, mas há doutrina que considera que esta arguição deve ser feita
à parte, nos termos gerais;

85
Ana Rita Rodrigues

A diferença radicará no prazo que o juiz tem para decidir do incidente;

 Se o impugnante for o exequente:


o Reclamação por simples requerimento dos atos de agente de execução;

 Se o impugnante for um terceiro, não for uma parte na execução:


o Embargos de terceiro:

É um incidente declarativo da execução, não podendo por isso existir


depois de extinta a execução, sendo regulado como um incidente de
intervenção de terceiros (342º CPC);

Há um prazo especial, previsto no art. 344º/2 CPC: 30 dias a contar do


ato da penhora ou do conhecimento desse ato, mas nunca depois dos
bens terem sido vendidos pois aí terá que seguir para ação de
reivindicação;

Atenção que este é um prazo material de caducidade e portanto é


contado nos termos do CC e não nos termos do CPC, sendo por isso um
prazo não contínuo e de conhecimento oficioso, cabendo à parte passiva
o ónus da prova de que a caducidade já se verificou;

 Têm duas fases:


 Introdutória:

Decorre entre o terceiro e o tribunal;

Tem natureza tipo cautelar;

Serve para o terceiro procurar demonstrar a aparência do


"bom direito", o fumus boni iuris (345º CPC);

Começa com a petição inicial, há despacho limiar, há prova e há


um segundo despacho do juiz de rejeição ou recebimento dos
embargos;

 Efeitos da rejeição - 346º CPC:


Não obsta a que se proponha outra
ação de reivindicação ou de
simples apreciação positiva, porque
o despacho não faz caso julgado
material;
 Efeitos da receção - 347º CPC:
Suspende o processo contra os
bens em causa;
 Restitui-se provisoriamente a posse
ao terceiro, embora a penhora se
mantenha, se o embargante a
pedir;

86
Ana Rita Rodrigues

o O terceiro fica como


depositário;
 Notificam-se as partes primitivas
para contestar (348º CPC);
 Contraditória:
o Decorre entre o terceiro, o tribunal e as parte
primitivas da ação executiva;
o Tem uma natureza tipo declarativo;
o Segue-se os termos do processo comum:
despacho saneador, audiência prévia, audiência
de julgamento e sentença;
o
 Têm uma causa de pedir complexa:
 É necessário que tenha ocorrido um ato concretamente
ofensivo de um direito ou da posse do terceiro;
o Este ato pode ser a penhora, um arresto, uma
restituição provisória da posse ou qualquer outro
ato, pois esta figura é um meio de oposição não só
aplicável à ação executiva;
o Há uma ofensa concreta quando:
 O direito é incompatível com o âmbito da
penhora: a penhora é mais vasta do que
devia ser e prejudica o terceiro pelo seu
registo;
 O direito é incompatível com o ato da
penhora: a penhora é mais vasta do que
devia ser e prejudica o terceiro pelo
desapossamento;
o Direitos ou posse incompatíveis são aqueles que
sejam materialmente oponíveis à execução:
 São, prima facie, os direitos reais de gozo
na titularidade do terceiro e a posse no seu
âmbito, porque estes são oponíveis erga
omnes + a locação (1057º CC);
 Os direitos reais de garantia também são
oponíveis à execução, bem como os
direitos reais de aquisição, mas não em
sede de embargos de terceiro, porque o
CPC define que estes credores devem
utilizar a reclamação de créditos ou esperar
que sejam citados, sob pena de nulidade
(786º/6 CPC);
 Isto só não é verdade se o terceiro
com garantia real ou promitente-
comprador forem terceiros perante
o próprio executado, porque nesse
caso eles nunca vão ser citados:
quando os direitos dos credores

87
Ana Rita Rodrigues

oneram os bens do terceiro e não


os bens do executado esta é a
única via para eles se defenderem;
 O possuidor em nome alheio (detentor) não
pode embargar de terceiro;

o Ação de reivindicação (1311º CC):


Pode ser colocada a todo o tempo, desde que não tenha havido
usucapião, mesmo depois da extinção da ação executiva e da
venda executiva;
Se a ação for procedente, a venda executiva é anulada;
Isto porque a ação de reivindicação é dirigida contra a
execução (Estado, exequente e executado, em
litisconsórcio passivo);
Atenção ao protesto por reivindicação (840º CPC):
Se o objeto da execução e da ação de reivindicação forem
coisas móveis, estas não podem ser entregues ao
comprador em venda executiva e o produto da venda não
é levantado sem que se preste caução;

o Oposição à penhora por simples requerimento (protesto do ato de


penhora, na opinião da regência):
Na penhora de bens móveis não sujeitos a registo, o agente de
execução não tem como se certificar de que os bens pertencem
ao executado, razão pela qual existe a presunção do 764º/3 CPC:
presume-se que são do executado os bens encontrados na sua
posse;
Na opinião de RP, o agente de execução deve fazer sempre a
penhora, não sendo admissível o protesto imediato nem por
impenhorabilidade objetivas, nem por impenhorabilidades
subjetivas;
Foi uma alteração da Reforma de 2003;
A presunção do 764º/3 CPC só pode, assim, ser ilidida
perante o juiz, por prova documental inequívoca, sendo
que quanto ao prazo podemos ter:
30 dias a contar do ato ou do conhecimento do ato
se o impugnante for terceiro à execução (aplicação
analógica do prazo de embargos de terceiro);
10 dias a contar do ato se o impugnante for parte
na execução (aplicação do prazo supletivo
estabelecido na lei para os atos processuais);
Há doutrina que considera, todavia, que a presunção só
serve para resolver casos duvidosos e por isso, quando
seja manifesto que o bem é de terceiro o agente de
execução, oficiosamente, já não fará a penhora;

Para este incidente têm legitimidade:


O terceiro proprietário do direito penhorado;

88
Ana Rita Rodrigues

O executado, por si próprio ou terceiro;

Uma vez feito o protesto o juiz tem que notificar as partes


primitivas para que estas deduzam o seu contraditório, ainda que
não estejamos aqui perante um verdadeiro incidente declarativo,
porque a sua decisão não faz caso julgado;
Se não houver oposição, a prova documental é
inequívoca;
Se houver oposição do exequente ou do executado,
porque a data do documento não é clara e por isso não se
sabe se o direito do terceiro é anterior ou posterior à
penhora ou porque o documento é falso, cabe ao juiz
decidir se foi ou não posta seriamente em causa a
veracidade do documento:
Se o terceiro perder neste incidente, não há caso
julgado, pelo que o terceiro pode recorrer aos
outros meios de oposição à penhora.

Citação do cônjuge

Consumada a penhora, determina o art.º 786º/1 e 2 e 5, que o agente de execução,


conforme a sua competência – art.º 719º/1 procede oficiosamente à citação das pessoas
mencionadas no art.º 786º/1, entre elas o cônjuge do executado e os credores que
sejam titulares de uma garantia real sobre os bens penhorados para reclamarem o
pagamento dos seus créditos.

A citação será promovida pelo agente de execução por via postal – art.º 228º e, no caso
de esta se frustar, será efectuada mediante contacto pessoal do agente com o
executado – arts.º 231º e 232º.

Art.º 786º/7: o cônjuge do executado tem de ser citado pessoalmente.

O cônjuge deve ser informado do seguinte:


 Art.º 227º/1 2ª parte;
 Art.º 227º/1;
 Art.º 227/2 – prazo para deduzir oposição à penhora.

O desrespeito pelas normas de procedimento e conteúdo da citação são causa de


nulidade da citação nos termos gerais – art.º 191º/1.
Pode ser invocada pelo cônjuge no prazo da oposição.

A pura e simples falta de citação do cônjuge do executado imposta pelo art.º 786º/2 tem
o mesmo efeito que a falta de citação do réu, o que implica que segue o regime geral
da nlidade primária da falta de citação.
Esta falta de citação fica sanada se ele intervier na execução sem logo arguir
esta falta de citação – art.º 189º/1.

Aqui há que distinguir:

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Ana Rita Rodrigues

 O credor tem título executivo contra ambos os cônjuges:


o Ambos são executados – não há estatuto de cônjuge do executado.
Não há lugar a citação do cônjuge.

 Tem título contra um relativamente a dívida comunicável:


o Se o título for judicial não pode haver comunicabilidade porque já houve
acção declarativa anterior e, a comunicabilidade deveria ter sido feita
nesta acção.
o A comunicabilidade é um incidente que permite alargar o título executivo
contra um dos cônjuges ao outro.
o Até que seja procedente a comunicabilidade da dívida o cônjuge terá o
estatuto de cônjuge do executado.
A partir do momento da procedência da comunicabilidade passa a ser
executado.
o A citação ocorre pelo art.º 786º/5 + 741º + 742º e transforma o cônjuge
do executado, passando o seu património também a responder pela
dívida.
À partida o cônjuge não aceitará a comunicabilidade e defender-
se-á dela para não adquirir este estatuto e proteger os seus bens.

 O credor tem título contra um relativamente a uma dívida própria:


o O outro cônjuge tem o estatuto de cônjuge do executado.
o Se o exequente colocar a acção contra os dois será procedente a
oposição à execução na qual se alegue a ilegitimidade da parte.

o A citação ocorre quando:


 Art.º 786º/1 a) 2ª parte + art.º 740º/1 = estão em causa bens
comuns do casal;
É citado para requerer a separação de bens, podendo deduzir
oposição à execução e/ou à penhora, porque estão a ser
executados bens seus por uma dívida pela qual não tem
responsabilidade;
 Art.º 786º/1 a) 1ª parte = estão em causa bens que, embora sejam
próprios, o executado não pode alienar sem o consentimento do
outro.
Só cabem aqui os bens imoveis e o estabelecimento comercial
que não possam ser alienados sem o consentimento do outro
cônjuge.
Relativamente aos restantes bens dos arts.º 1682º e 1682º-A, o
cônjuge já não tem de dar o consentimento. Isto sob pena de não
se conseguir penhorar nada, dando-se apenas a conhecer a
situação destes bens ao cônjuge, mediante a citação.

O estatuto de cônjuge do executado traz os direitos do art.º 787º.


Nomeadamente poder opor-se à penhora e requerer a separação dos bens.

É o agente de execução eu, quando penhorar os bens comuns que haja escolhido,
deverá citar o cônjuge do executado – art.º 740º/1 para este poder requerer a separação
dos bens.

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A citação é promovida oficiosamente pelo agente de execução – art.º 786º/1 a),


independentemente de o executado ter sido citado previamente à penhora ou só depois
desta.
Cabe a esse agente a realização das citações que devam ter lugar por causa da
penhora e aquando da penhora – art.º 786º/1 e 2.

A omissão da citação do cônjuge do executado tem o mesmo efeito que a falta de


citação do réu, podendo importar o disposto no art.º 786º/6.
Pelo mesmo artigo é conferido ao cônjuge o direito a uma indemnização segundo
a medida o enriquecimento sem causa do exequente oi de outro credor pago na
vez dele e, segundo a medida do dano provocado pela pessoa a quem seja
imputável a falta de citação.

Contudo a nulidade pode ser suprida por repetição do acto de citação do cônjuge
– art.º 202º CC.
Citado nos termos dos arts.º 740º/1 e 786º/1 a) 2ª parte, o cônjuge pode no prazo para
a posição (20 dias) – art.º 740º/1 – requerer a separação dos bens (art.º 825º/5) ou
juntar certidão de ação de separação pendente já requerida.
Fica suspensa a execução mas não o fica a penhora.

Citação dos credores reclamantes

Após a penhora ocorre, a par da citação do cônjuge, ocorre a citação dos credores
reclamantes.
Art.º 785º/ 1, 2 e 5.
São citados pelo agente de execução que tem competência para tal – art.º 719º/1.

Procede assim o agente de execução à citação oficiosa destes credores titulares de


garantias reais – art.º 786º/1 a).

Quanto aos direitos reais de garantia que não estejam registados, eles são conhecidos
no processo por alguma das vias especialmente criadas para o efeito:
 O exequente pode indicar credores que conheça no requerimento executivo;
 O executado tem o dever de indicação de direitos, ónus e encargos não
registáveis que recaiam sobre o bem penhorado, no prazo da oposição e sob
pena de condenação como litigante de má-fé = art.º 753º/3;
 Oficiosamente pelo agente de execução no acto de apreensão do bem = art.º
747º/2;
 O juiz pode conhecer oficiosamente da existência de uma garantia real

O credor que seja conhecido por alguma destas vias deve ser citado.
O credor desconhecido do processo pode reclamar espontaneamente o seu crédito –
art.º 788º/3.

A sua citação é feita nos termos gerais = arts.º 227º e ss.


A citação destes credores apenas pode ser pessoal.

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