Retinopatia diabética
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assim como a utilização da fotocoagu- ETDRS.15 A classificação internacional acompanhamento e tratamento da re-
lação a laser nesses pacientes. Buscan- proposta encontra-se exposta nos tinopatia diabética.16
do menor fragmentação e maior pa- Quadros 1 e 2. Segundo o parecer da SBRV, as
dronização na classificação da RD, um recomendações sobre o diagnóstico
grupo multidisciplinar, formado por da RD, classificadas de acordo com o
Diagnóstico,
oftalmologistas, endocrinologistas e acompanhamento grau de recomendação proposto pe-
epidemiologistas, propôs, durante o e tratamento las Diretrizes, encontram-se dispos-
International Congress of Ophthalmo- tas no Quadro 3.
logy (Sydney, 2002), uma classificação Em 2010, a Sociedade Brasileira de Re- Em pacientes diabéticos, o acom-
baseada na gravidade para a RD e o tina e Vítreo (SBRV) emitiu seu Parecer panhamento oftalmológico deve ser
edema macular, abrangendo os prin- Oficial sobre a Retinopatia Diabética, programado e rigorosamente cum-
cipais critérios definidos no DRS e com orientações sobre o diagnóstico, prido, afim de que a retinopatia seja
Fonte: Adaptado de Morales PH, Lavinsky D, Vianello S et al. Parecer da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo. Retinopatia Diabética, 2010.
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tratada de maneira correta e antes ferativas graves da doença e, para tan- rativa de alto risco, a perda de visão
que surjam sequelas irreversíveis. to, o intervalo não deve ser superior a grave (20/800 ou pior) é reduzida em
Frequentemente, mesmo pacientes um ano, reduzindo-se esse intervalo 50% dos casos (Quadro 5).
com RD proliferativa grave podem conforme a gravidade do caso (Quadro O estudo ETDRS demonstrou que
ser assintomáticos, sendo fundamen- 4). Nas grávidas com retinopatia pre- o tratamento do edema macular clini-
tal que sejam feitas avaliações oftal- sente, é descrito 77,5% de progressão camente significativo (EMCS) com laser
mológicas periódicas. da retinopatia, chegando a 22,5% a in- em grid ou focal/direto reduz o risco de
Nos portadores de DM1, a RD ge- dicação de fotocoagulação antes do baixa de visão em 50% comparado ao
ralmente inicia-se após 3,5 anos pós- parto, daí a necessidade de acompa- grupo-controle (24% para 12%).
-puberdade. No caso do DM2, em lo- nhamento trimestral. Diversos tratamentos farmacológi-
cais com bom acesso à assistência à O tratamento da RD com a fotoco- cos foram propostos para o EMCS, em
saúde, que proporcionem uma boa so- agulação permanece, em 2013, como o destaque o uso de drogas antiangiogêni-
brevida ao portador de diabetes, esti- padrão-ouro para o tratamento do cas (bevacizumabe, ranibizumabe e afli-
ma-se que 38% dos diabéticos já apre- edema macular e da retinopatia proli- bercepte) e corticoesteroides (triancino-
sentem algum grau de RD à época do ferativa. A fotocoagulação impede a lona acetonida), injetados diretamente
diagnóstico da doença sistêmica. perda de visão em 90% dos casos, na cavidade vítrea. O maior estudo clíni-
O consenso é de que se realize o quando iniciada nas fases não prolife- co randomizado utilizando a triancinolo-
acompanhamento de modo que os pa- rativa avançada ou proliferativa inicial. na e comparando-a ao tratamento com
cientes não alcancem as formas proli- Para pacientes com retinopatia prolife- fotocoagulação, utilizando o protocolo
Fonte: Adaptado de Morales PH, Lavinsky D, Vianello S et al. Parecer da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo. Retinopatia Diabética, 2010.
(continua)
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Quadro 5 Recomendações clínicas para intervenções primárias e secundárias na retinopatia diabética (continuação)
Grau de
Intervenção Recomendações clínicas
recomendação
Panfotocoagulação RD proliferativa inicial menos grave (neovasos planos na retina sem sinais de alto risco) e
RD não proliferativa grave podem ser observados de perto, porém a panfotocoagulação
B
é recomendada se houver dificuldade ou atraso no acompanhamento, sinais de
progressão ou fatores de risco, especialmente em pacientes com DM2
Tratamento com laser focal/grid recomendado em pacientes com edema de mácula
Fotocoagulação macular clinicamente significativo. Tratamento deve ser idealmente guiado pela
A
focal/grid angiofluoreceinografia e dificilmente será efetivo se houver isquemia macular
importante
Vitrectomia precoce (três meses) é recomendada em pacientes com DM1 com
hemorragia vítrea grave e RD proliferativa. Vitrectomia pode ser considerada em
Vitrectomia B
pacientes com RD proliferativa não responsiva à panfotocoagulação ou associada à
tração envolvendo a mácula
Vitrectomia pode ser vantajosa em casos selecionados de edema macular difuso não
B
responsivo a outras terapias, especialmente na presença de tração vitreomacular
(A) Estudos experimentais e observacionais de melhor consistência; (B) Estudos experimentais e observacionais de menor consistência; (C) Relatos de casos
– estudos não controlados; (D) Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consenso, estudos fisiológicos ou modelos animais.
Fonte: Adaptado de Morales PH, Lavinsky D, Vianello S et al. Parecer da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo. Retinopatia Diabética, 2010.
ETDRS modificado, não demonstrou mabe foi aprovado recentemente pela res, hemorragias vítreas persistentes,
maior eficácia dessa droga em relação ao Food and Drug Administration (FDA) e descolamentos tracionais de retina aco-
laser ao final de 3 anos de acompanha- pela Agência Nacional de Vigilância Sani- metendo a região macular, devem ser
mento, além de aumentar o risco de ca- tária (Anvisa) para o tratamento do ede- tratados cirurgicamente pela vitrecto-
tarata e glaucoma nesses pacientes.17 Por ma macular diabético. O aflibercepte en- mia. Considerando todos os casos cirúr-
outro lado, estudos controlados utilizan- contra-se aprovado para o tratamento gicos, a vitrectomia proporciona acuida-
do o ranibizumabe, evidenciaram, ao da degeneração macular relacionada à de visual melhor que 20/100 em cerca de
longo de 2 anos, melhores resultados vi- idade, e sua utilização para o edema dia- 80% dos casos. Os resultados funcionais
suais de sua utilização, isolada ou em as- bético encontra-se em tramitação, tanto dependem fundamentalmente da inte-
sociação à fotocoagulação a laser, quan- nos Estados Unidos quanto no Brasil. gridade pré-operatória da vasculatura
do comparado à fotocoagulação a laser Atualmente, os antiangiogênicos são uti- retiniana e da complexidade anatômica
isolada. Recentemente, o aflibercepte foi lizados, além do edema macular, na pre- do olho no pré-operatório. Um efeito im-
avaliado no tratamento do edema macu- paração pré-cirúrgica para a vitrectomia, portante da cirurgia vítrea é que mais de
lar diabético. Estudo com acompanha- diminuindo a atividade neovascular nos 90% dos casos se mantêm estáveis em
mento de 1 ano mostrou a superioridade casos de RD proliferativa. longo prazo, se a cirurgia for bem-sucedi-
de sua utilização em comparação à foto- Casos em que a fotocoagulação não da e não houver complicações nas pri-
coagulação a laser isolada.17-20 O ranibizu- é eficaz, como nas trações vitreomacula- meiras semanas de pós-operatório.21
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