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Subunidade 1.

1 — Ficha de avaliação

NOME: N.º: TURMA: DATA: ________

GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia com atenção o poema «Sou um evadido», de Fernando Pessoa.

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

5 Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me


10 Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu não é ser.
15 Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

Fernando Pessoa,
Poesias inéditas (1930-1935),
Lisboa, Ática, 1955.

1. Explique a metáfora presente no primeiro verso, relacionando-a com o sentido


global do poema.
2. Indique o valor expressivo da interrogação retórica que constitui a segunda estrofe.
3. Considerando os versos «Ser um é cadeia, / Ser eu é não ser.» (vv. 13-14), explicite
o modo como o sujeito poético concebe a sua existência.

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B
Leia seguinte excerto d’Os Maias, de Eça de Queirós. Consulte as notas apresentadas.

Esta existência [de Afonso da Maia] nem sempre assim correra com a
tranquilidade larga e clara dum belo rio de verão. O antepassado, cujos olhos se
enchiam agora duma luz de ternura diante das suas rosas, e que ao canto do lume
relia com gosto o seu Guisot, fora, na opinião de seu pai, algum tempo, o mais feroz
5 jacobino1 de Portugal! E todavia, o furor revolucionário do pobre moço consistira em
ler Rousseau, Volney, Helvetius2, e a Enciclopédia; em atirar foguetes de lágrimas à
Constituição; e ir, de chapéu à liberal e alta gravata azul, recitando pelas lojas
maçónicas odes abomináveis ao Supremo Arquiteto do Universo3. Isto, porém,
bastara para indignar o pai. Caetano da Maia era um português antigo e fiel que se
10 benzia ao nome de Robespierre, e que, na sua apatia de fidalgo beato e doente, tinha
só um sentimento vivo — o horror, o ódio ao jacobino, a quem atribuía todos os
males, os da pátria e os seus, desde a perda das colónias até às crises da sua gota.
Para extirpar da nação o jacobino, dera ele o seu amor ao senhor infante D. Miguel,
messias forte e restaurador providencial... E ter justamente por filho um jacobino
15 parecia-lhe uma provação comparável só às de Job!
Ao princípio, na esperança de que o menino se emendasse, contentou-se em lhe
mostrar um carão severo e chamar-lhe com sarcasmo — cidadão! Mas quando soube
que seu filho, o seu herdeiro, se misturara à turba que, numa noite de festa cívica e
de luminárias, tinha apedrejado as vidraças apagadas do senhor legado de Áustria,
20 enviado da Santa Aliança — considerou o rapaz um Marat e toda a sua cólera
rompeu. A gota cruel, cravando-o na poltrona, não lhe deixou espancar o mação, com
a sua bengala da Índia, à lei de bom pai português: mas decidiu expulsá-lo de sua
casa, sem mesada e sem bênção, renegado como um bastardo! Que aquele pedreiro
livre não podia ser do seu sangue!
25 As lágrimas da mamã amoleceram-no; sobretudo as razões de uma cunhada de
sua mulher, que vivia com eles em Benfica, senhora irlandesa de alta instrução,
Minerva respeitada e tutelar, que ensinara inglês ao menino e o adorava como um
bebé. Caetano da Maia limitou-se a desterrar o filho para a Quinta de Santa Olávia;
mas não cessou de chorar no seio dos padres, que vinham a Benfica, a desgraça da
30 sua casa. E esses santos lá o consolavam, afirmando-lhe que Deus, o velho Deus de
Ourique, não permitiria jamais que um Maia pactuasse com Belzebu e com a
Revolução! E, à falta de Deus-Padre, lá estava Nossa Senhora da Soledade, padroeira
da casa e madrinha do menino, para fazer o bom milagre.
E o milagre fez-se. Meses depois, o jacobino, o Marat, voltava de Santa Olávia um
35 pouco contrito, enfastiado sobretudo daquela solidão, onde os chás do brigadeiro
Sena eram ainda mais tristes que o terço das primas Cunhas. Vinha pedir ao pai a
bênção, e alguns mil cruzados, para ir a Inglaterra, esse país de vivos prados e de
cabelos de ouro de que lhe falara tanto a tia Fanny. O pai beijou-o, todo em lágrimas,
acedeu a tudo fervorosamente, vendo ali a evidente, a gloriosa intercessão de Nossa
40 Senhora da Soledade!
Eça de Queirós, Os Maias — Episódios da vida romântica,
Porto, Porto Editora, 2002.

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(1) jacobino: membro do Clube dos Jacobinos, associação política revolucionária.
(2) Rousseau, Volney e Helvetius: autores associados às ideias e conceções que deram origem à
Revolução Francesa (1789).
(3) Supremo Arquiteto do Universo: perífrase de Deus.

4. Explicite o modo como o narrador introduz um tom humorístico na descrição dos


ímpetos revolucionários de Afonso da Maia.
5. Demonstre que Caetano da Maia é uma personagem cuja caracterização aponta
para traços coletivos e para uma posição ideológica associada a um período da
História de Portugal.

GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
Leia o excerto que se segue, do Diário de Miguel Toga.

Vila Nova, 7 de novembro de 1934 — Acabou hoje tudo. Como sempre, fiquei
derrotado. Quando já não era possível ter ilusões, agarrava-me a uma ilusão ainda
maior e... esperava. É coisa que nunca pude destruir em mim: a ideia de que um ser,
desde que nasce, fica logo com direito (e obrigação) de viver os sessenta anos da
5 média. Pelo menos os sessenta anos da média. Muitas vezes me aconteceu ir a férias e
assistir a uma sementeira de meu Pai. Depois, ver o milhão ou o linho a despontar. E,
embora sabendo que aquelas vidas eram efémeras, voltar à leira nas férias seguintes e
ficar desolado ao ver lá, em vez de linho ou milhão, um batatal espesso. E dizer a meu
Pai: «— Então o linho que havia aqui? — Colheu-se em agosto, filho.» Em agosto,
10 realmente, o linho amadurece. Nos curtos meses que a natureza determina, tira ao sol
o mais calor que pode e enche-se dele. Depois dá sinais de cansaço, e morre.
Mas este pequenito ainda não tinha bebido nenhum sol. Ainda estava na
primeira semana. Nem o caule sobriamente fibroso, nem a flor azul e delicada, nem a
semente parda e madura. E foi por tudo isto que, ao chegar ao quarto, tive a sensação
15 mais dolorosa da minha vida. Ali estava, ainda não substituído por cevada ou centeio,
mas prestes. A mãe lavada em pranto. E ele, muito branco, muito discreto, voltado
para a parede, a renegar de costas os remédios inúteis espalhados pela mesa-de-
-cabeceira.
Um médico nem sequer pode chorar. Só pode pegar no bracito magro e morno,
20 apertar a artéria inerte e ficar uns segundos a trincar os dentes. Depois sair sem dizer
nada.
Quem saberá por aí uma palavra para estes momentos? Uma palavra para um
médico dizer a esta mãe, que entregou à vida um filho vivo e recebeu da vida um filho
morto.
Miguel Torga, Diário, vols. I-VIII (1941-1959),
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1995.

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1. Além da presença da data, outras características do género diarístico evidenciadas
no texto apresentado são
(A) o relato de um acontecimento do quotidiano e a existência de marcas de
subjetividade nessa narrativa.
(B) a descrição sucinta de um objeto e a presença de um comentário crítico acerca
do mesmo.
(C) o relato de um acontecimento do quotidiano e a preocupação de omitir juízos
de valor.
(D) a explicitação de um ponto de vista e a apresentação de argumentos e
exemplos.
2. Com a referência à «sementeira» (l. 6), é narrado um acontecimento anterior. O
propósito da introdução do relato deste acontecimento é
(A) mostrar a importância da figura paterna na vida do narrador.
(B) fazer uma referência ao tema da transitoriedade da vida.
(C) comprovar o fascínio do narrador pela Natureza.
(D) demonstrar a austeridade do pai do narrador.
3. Encontramos um exemplo de dêixis temporal na frase
(A) «Acabou hoje tudo.» (l. 1).
(B) «Em agosto, realmente, o linho amadurece.» (ll. 9-10).
(C) «Um médico nem sequer pode chorar.» (l. 19).
(D) «A mãe lavada em pranto.» (l. 16).
4. O constituinte «um batatal espesso» (l. 8) tem a função sintática de
(A) modificador apositivo do nome.
(B) vocativo.
(C) complemento direto.
(D) complemento do adjetivo.
5. O segmento textual em que palavra «que» introduz uma oração subordinada
substantiva completiva é
(A) «É coisa que nunca pude destruir em mim» (l. 3).
(B) «embora sabendo que aquelas vidas eram efémeras» (l. 7).
(C) «Nos curtos meses que a natureza determina, tira ao sol o mais calor que pode e
enche-se dele» (ll. 10-11).
(D) «Então o linho que havia aqui?» (l. 9).
6. A repetição do vocábulo «palavra» (l. 22) assegura a coesão
(A) lexical. (C) referencial.
(B) interfrásica. (D) frásica.

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7. Na frase «E foi por tudo isto que, ao chegar ao quarto, tive a sensação mais dolorosa
da minha vida.» (ll. 14-15), encontramos
(A) um oximoro.
(B) uma hipálage.
(C) uma hipérbole.
(D) um hipérbato.
8. Identifique o antecedente da expressão anafórica «lá» (l. 8).
9. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «a esta mãe» (l. 23).
10. Indique o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente nas linhas 23-24.

GRUPO III
«Viverei fugindo / Mas vivo a valer»
Fernando Pessoa

Escreva um texto de opinião em que se refira à importância da autonomia na formação


da identidade de cada pessoa. Para comprovar o seu ponto de vista, apresente dois
argumentos que comprovem a validade da sua perspetiva e ilustre-os com exemplos.
Construa um texto bem estruturado (com introdução, desenvolvimento e conclusão),
com um mínimo de duzentas (200) e um máximo de trezentas (300) palavras.
Planifique o texto antes de o redigir e reveja-o no fim.

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em
branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /opôs-se-lhe/). Qualquer número
conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2016/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados — entre duzentas e trezentas palavras —
há que atender ao seguinte:
— um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do
texto produzido;
— um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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