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2012/2013
I - Fontes das Relações Jurídicas Familiares
1. Parentesco
Parentesco (art. 1578º): vínculo que une duas pessoas, pelo facto de uma descender
da outra ou de ambas procederem de um progenitor comum. Trata-se de um vínculo
de raiz biológica que une duas pessoas do mesmo sangue. Na base do conceito
jurídico de parentesco esta o fenómeno biológico de procriação, não importando
que a procriação esteja ou não ligada ao casamento (ex: o pai e a mãe são parentes
do filho, quer estivessem ou não casados ao tempo da concepção ou do
nascimento). O direito moderno restringiu assim a noção de parentesco ao vínculo de
sangue, não compreendendo este o vínculo matrimonial – marido e mulher não são,
em face do conceito actual de parentesco, parentes um do outro.
Como parentes não são os afins – a afinidade é o vínculo que une, não as
pessoas do mesmo sangue, mas um dos esposos aos parentes do outro.
Tecnicamente é um erro falar em parentesco por afinidade.
Espécies:
Linha Materna e Linha Paterna (art. 1952º/3): se, na linha recta ascendente,
tomarmos como ponto de partida o pai, todos os parentes ligados por essa via
ao descendente são seus parentes na linha paterna, sendo os do outro ramo
da bifurcação parentes na linha materna.
Parentesco em Linha Recta: número de pessoas que formam essa linha, entre
os dois parentes, excluindo-se o progenitor (art. 1581º). Ex: pai e filho –
parentesco, linha recta, 1º Grau; avô e neto – parentesco, linha recta, 2º Grau;
bisavô e bisneto – parentesco, linha recta – 3º Grau.
▲ Direito Canónico seguia, antes do actual CC, critério diferente, contando o grau de
parentesco pelo número de gerações que ligam um dos parentes ao outro – tomava-
se em conta apenas um dos lados da árvore genealógica; se um dos ramos fosse mais
extenso do que o outro só esse interessava, por ser esse o que reflectia o número de
gerações que separam (ou unem) os dois parentes em relação ao tronco comum.
Prestação de Alimentos (art. 2003º): tem direito a alimentos a pessoa que, por
si, não pode prover integralmente ao seu sustento, incluindo no sustento tudo o
que for necessário, não apenas à alimentação, mas também ao vestuário e
habitação do necessitado e, sendo este menor, à sua instrução e educação –
art. 2009º (familiares do carenciado).
2. Afinidade
Afinidade (art. 1584º): vínculo jurídico existente entre cada um dos cônjuges e os
parentes do outro, mas não os parentes de um cônjuge e os parentes do outro; não o
cônjuge e os afins do outro cônjuge; não o cônjuge de um parente com o cônjuge de
outro parente. Deste modo, há afinidade entre cada um dos cônjuges e os pais do
outro (entre o genro/nora e cada um dos sogros), os cunhados (marido/mulher e os
irmãos – parentes em linha colateral – do outro cônjuge), entre o padrasto/madrasta e
o enteado. Os afins não são parentes entre si, uma vez que não se encontram ligados
pelo vínculo de sangue, próprio do parentesco – o parentesco, que esta na raiz da
afinidade, não liga aos afins, mas um deles ao cônjuge do outro incorrecto o termo
parentesco por afinidade. O parentesco que serve de vínculo à afinidade é o que se
funda nos laços de sangue (parentesco cognalicio), por ser o parentesco (art. 1578º) a
que o art. 1584º se refere.
▲Afinidade da União
Se A (mulher), com uma filha (B) casa com C (homem), B passa a ser enteada de C.
Prof. Sousa Machado: considera que este impedimento deveria ser transformado em
impedimento dirimente susceptível de dispensa.
≠ União de Facto
Eficácia jurídica da afinidade, nos termos do art. 1582º, não vai, em principio, alem do
sexto grau na linha colateral.
Efeitos:
Parentesco Afinidade
Efeitos mais profundos – o vínculo de Efeitos mais ‘’acanhados’’ em
sangue desperta sentimentos de ordem comparação com os gerados pelo
biológica e eugénico. parentesco – sendo só criada pelo
casamento, cria laços mais tardios e mais
superficiais de afeiçoes, baseando-se em
considerações de ordem puramente
moral e social.
Duração: nos termos do art. 1585º a afinidade não cessa pela dissolução do
casamento por morte.
3. Adopção
II - Relações Parafamiliares
1. União de Facto
Não se estabelece qualquer relação de família entre os esposados (pessoas que estão
para casar), mas a relação entre esposados já é tomada em conta pela lei.
Art. 2º/1: vivem em economia comum as pessoas ‘’que vivam em comunhão de mesa
e habitação já mais de dois anos e tenham estabelecido uma vivencia em comum de
entreajuda ou partilha de recursos’’.
Art. 3º al. a) e b): por falta de uma vivencia em comum de entreajuda ou partilha de
recursos não há vida em economia comum.
Esta lei não contem mais que uma regulamentação sumaria da matéria – a lei não diz
como se constitui a relação e que requisitos são necessários para que se verifique uma
efetiva situação de entreajuda, se há um dever de contribuir para as despesas da
casa e em que termos, como se regulam a responsabilidade por dívidas, a
propriedade de bens adquiridos a título oneroso durante a vida em economia comum
e a partilha dos mesmos bens quando a relação se extinguir.
A Vida em Economia Comum é distinta da União de Facto, mas nos termos do art.
1º/3, a coabitação em união de facto não impede a aplicação dos preceitos desta lei
quem vive em união de facto vive em economia comum, mas o mesmo já não
sucede ao contrário. As pessoas que vivem em economia comum podem viver ou
não em união de facto, a qual, além da comunhão de mesa e habitação supõe a
comunhão de leito (heterossexual ou homossexual), ou seja que os sujeitos
mantenham relações de sexo. Se as pessoas que vivem em economia comum
coabitam em união de facto são ambas as leis aplicáveis (a da União de Facto e a da
Vida em Economia Comum), desde que não se verifique qualquer das situações do
Art. 3º al. e), f), g) da Lei da União de Facto: benefícios não se aplicam ao caso de
vida em economia comum.
A proteção da casa de morada comum é mais fraca uma vez, que no caso de
separação, não se aplicam os art. 1105º e 1793º do CC.
Ex:
O facto de uma pessoa estar ao cuidado ou a cargo de outra cria entre ambas uma
relação que, não sendo propriamente uma relação de família, tem importância em
relação aos efeitos no seio do Direito da Família
Art. 5º/1 al. b) do Decreto Lei nº 466/99: permite-se que seja estabelecido em benefício
da pessoa que tenha criado e sustentado o falecido a pensão de preço de sangue,
valendo regime idêntico quanto à pensão por serviços excecionais e relevantes
prestados ao país (art. 6º).
art. 36º/1 da CRP: a todos se garante a faculdade de fundar família e de instituir uma
sociedade familiar em condições de plena igualdade.
Duas vias se abrem ao intérprete para a fixação do sentido que razoavelmente deve
ser atribuído à proclamação retórica feita no art. 36º/1 CRP, do direito natural do
homem à constituição de família:
Direito à identidade pessoal (art. 26º/1): abrange o direito ao nome, que é um elo
importantíssimo de ligação da pessoa àquelas que a conceberam e constitui, ao
mesmo tempo, um instrumento de identificação fundamental do individuo dentro da
comunidade política a que pertence. A ligação da pessoa aos seus progenitores
assenta:
Aspecto negativo – titular do nome tem o poder de ser opor a que outrem use
ilegitimamente, não apenas o seu nome, mas também os seus apelidos de
família, quer para identificar outra pessoa, quer para designar um produto, um
animal ou até uma personagem literária (fictício).
Competência da lei (civil) para a fixação do regime do casamento: nos termos do art.
36º, encontra-se o princípio que atribui competência à lei civil para regular os requisitos
(bem como os efeitos da dissolução, por morte ou divorcio) do casamento,
independentemente da forma da sua celebração.
Fortes razões apoiam a tese que considera salvaguardada pelo novo princípio
constitucional a jurisprudência dos tribunais eclesiásticos reconhecida na lei
civil.
Direito Primário da Família na Educação dos Filhos (art. 36º/5 + art. 67º/2 al. c) + art.
68º/1): é aos pais que, por direito próprio, compete definir e executar as linhas da
formação intelectual, espiritual, moral e profissional dos filhos, enquanto ao Estado (e à
sociedade – grupos ou organizações sociais especialmente dedicadas aos problemas
da infância e da juventude) cabe apenas colaborar ou cooperar na execução dessa
tarefa prioritária da família. A protecção especial consagrada no art. 69º, promete aos
órfãos e abandonados, na feição programática e no estilo descritivo próprio de muitos
trechos do diploma constitucional, não é mais que um corolário da função supletiva
que os art. 36º/5 e 67º/2 al) c) atribuem ao Estado (e também, o art. 68º/1 à
sociedade) na educação das crianças em geral. Como corolário, já não do restrito
direito dos pais à educação (art. 36º/5 – direito dever), mas do poder paternal em
geral (situação jurídica cujas raízes mergulham no direito natural), deve-se ainda
considerar o art. 36º/6 – só quando os pais, ou alguns deles, não cumpram os deveres
essenciais do poder paternal (ex: cuidar do sustento, higiene ou da educação dos
filhos menores) e a falta seja concretamente apurada pelos tribunais, os filhos podem
ser retirados aos pais. E, mesmo neste caso, a separação terá de ser determinada, não
pela autoridade administrativa, mas por decisão judicial. Como corolário do direito
natural dos pais à educação dos filhos, tirado do plano da legislação ordinária e já
não plano do direito constitucional, deve-se ainda considerar o poder de os pais
decidirem sobre a educação religiosa dos filhos menores de 16anos (art. 1886º) –
espécie de maioridade legal antecipada em matéria de liberdade religiosa. Em
Princípio da Igual Capacidade Civil dos Cônjuges: nos termos do art. 36º/3, 1ªparte,
encontra-se proclamado o princípio da igualdade de direitos e deveres dos cônjuges
quanto à sua capacidade civil e política. Toda a discriminação entre direitos e
deveres do marido e da mulher, que pressuponha a incapacidade desta, passou a
ficar ferida de inconstitucionalidade, sucedendo o mesmo quanto a todas as
discriminações ou limitações que assentem no preconceito da incapacidade politica
da mulher casada. A disposição inconstitucional completou, com esta eliminação a
ideia da incapacidade da mulher casada, o pensamento legislativo iniciado no art.
13º com a reacção contra a mulher em geral, ao condenar as descriminações de
tratamento jurídico ditadas apenas em função do sexo. Contudo, a igual capacidade
dos cônjuges, prudente e justificadamente proclamada no texto constitucional,
aparece convertida no CC, na igualdade plena de direitos e deveres dos cônjuges
dentro do casamento, que o art. 1671º consagra.
Igualdade Jurídica dos pais na manutenção e educação dos filhos: o Código de 66’
atribuía ao marido o poder de decidir nos assuntos de interesse comum, em que
houvesse divergência de critérios entre os cônjuges e distribuía cuidadosamente entre
marido e mulher as competências especiais contidas no poder paternal. Com a CRP
de 76’ estas disposições tornaram-se manifestamente inconstitucionais, vindo a ser
substituídas pelas novas regras a que a reforma de 77’ submeteu o exercício do poder
paternal. O custo principal deste princípio foi o recurso necessário aos tribunais para a
resolução dos assuntos de interesse dos filhos em que haja divergência insanável de
critérios entre pai e mãe (pode suceder logo na escolha do nome do filho, embora
não estejamos perante um caso de manutenção ou educação dos filhos). Outro custo
relevante foi a necessidade de contabilizar, como uma espécie de prestação
pecuniária, o trabalho realizado pela mulher/marido dentro do lar (art. 1676º. Este
princípio deve valer, pelo seu espirito quer: (1) para os pais fora do casamento (≈ art.
1911º); (2) para os pais adoptivos (adopção plural ou integradora).
art. 1883º: não basta, em todo o caso, esta medida cautelar para tornar justificada,
aos olhos da família centrada sobre o matrimónio, a política igualitária prescrita na
CRP, contra as realidades da vida. Qual a prole ilegítima seja tratada como se legitima
fosse, quando não haja de facto descendência legitima, nada repugna aceitar e essa
era a linha de orientação já adoptada na legislação anterior à data de entrada em
vigor da nova CRP. Havendo porem, concorrência entre filhos nascidos dentro do
casamento e filhos nascidos fora do casamento, custa mais justificar que estes
compartilhem em pleno pé de igualdade com os primeiros na divisão de um
património que é, por via de regra, fruto da colaboração do pai com o cônjuge e os
filhos de ambos, sem a colaboração do filho nascido fora do casamento. O
chamamento dos filhos ilegítimos em pleno pé de igualdade com os filhos legítimos
reflecte de certo modo um sentimento, bastante divulgado na sociedade
contemporânea, de desvalorização social do casamento e de maior tolerância e
compreensão pelas relações de concubinato, mesmo que adulterinas.
2. Consentimento
Consideram-se incapazes de contrair matrimonio por não por não poderem prestar
consentimento válido todos os que:
Carecem de suficiente uso da razão, o qual se presume a partir dos sete anos
O casamento contraído sob condição de um facto futuro não é valido, mas permite-
se que se contraia o casamento sob condição de um facto passado ou presente com
autorização escrita do Ordinário do lugar, sendo o casamento válido ou não, em tal
hipótese, conforme exista ou não o objeto da condição.
▲ basta que uma das partes tenha tal vontade – o direito canónico dá relevância à
reserva mental, ao contrario do que acontece no Direito Civil. Dá ainda relevo à
simulação parcial, permitindo que o casamento seja declarado nulo se uma u ambas
as partes excluírem alguma das suas propriedades essenciais.
Vícios do Consentimento:
Erro:
Dolo: quem contrai matrimonio enganado por dolo, perpetrado para obter o
consentimento, acerca de uma qualidade da outra parte que, por sua
natureza, possa perturbar gravemente a comunhão de vida conjugal, contrai-
o invalidamente (Alteração do Código de 83’ em relação ao anterior)
3. Capacidade
E qualificam-se:
Dirimentes
Voto simples
Diversidade de confissão
Processo Preliminar do Casamento Católico corre, como e nos mesmos termos que o
processo preliminar do casamento civil, na Conservatória do Registo Civil. Há contudo
duas coisas novas:
A declaração para casamento pode ser prestada neste caso, sob a forma de
requerimento por si assinado, pelo pároco competente para a organização
do processo canónico, perante o qual se presume naturalmente que os
nubentes já manifestaram a sua vontade de casar – art. 135º/2 CRCivil.
O casamento católico não pode ser celebrado sem que perante o respetivo
pároco seja exibido certificado passado pelo conservador e em que este
declare que os nubentes podem contrair casamento (art. 146º e 151º). O
A obrigação de remessa do duplicado só não existe nos casos do art. 170º do CRCivil.
Art. 175º: a transcrição recusada com base em impedimento dirimente deve ser
efetuada oficiosamente, ou por iniciativa de qualquer interessado ou do MP, logo que
cesse o impedimento que deu causa à recusa.
Art. 1601º al. c): o casamento católico já tem efeitos na ordem jurídica
civil anteriormente à transcrição.
Tal pode acontecer nos casos do art. 1599º/1 como em alguma rara hipótese
em que não se verificando qualquer desses casos, o pároco celebre o
casamento contra o disposto do art. 151º/1 CRCivil, embora incorrendo nas
sanções previstas no art. 296º/1 al. a).
art. 151º/1: casamento católico pode ser celebrado sem que perante o pároco seja
exibido o certificado, quando se trate de casamentos in articulo mortis, na iminência
Prof. Antunes Varela: esta norma pretendeu por termo à convicção errónea,
que depois da Concordata começou a generalizar-se nos meios eclesiásticos,
de que nos casamentos in articulo mortis, na iminência de parto ou cuja
celebração imediata fosse autorizada pelo ordinário próprio por grave motivo
de ordem moral, ao Estado apenas interessava a observância dos dois
impedimentos da lei civil que fundamentavam, a esse tempo, a recusa da
transcrição (interdição ou inabilitação por anomalia psíquica e casamento civil
anterior não dissolvido). Não era o caso, a lei permitia que em determinada
circunstancias dada a urgência do casamento, este pudesse celebrar-se
independentemente de processo preliminar de publicações e de passagem do
certificado, mas isso sem quebra do princípio fundamental de que o
casamento católico só pode ser celebrado por quem tiver capacidade
matrimonial exigida na lei civil – art. 1596º.
Neste caso, a transcrição não tem de ser feita no prazo do art. 172º/1, salvo se já tiver
corrido o processo preliminar, se não for este o caso é preciso que corra o processo
substituindo-se a declaração dos nubentes pelo duplicado ou pela certidão do
assento canónico – art. 173º. Só depois é que a transcrição se faz, nos dois dias
seguintes, ao despacho final do conservador (art. 172º/2). A transcrição deve ser
recusada nos casos do art. 174º/1 al. e).
Art. 170º al. a): obrigação que incumbe ao pároco de remeter à conservatória do
registo civil o duplicado do assento paroquial não é aplicável aos casamentos de
consciência, cujos assentos só podem ser transcritos perante certidão de copia
integral e mediante denuncia feita pelo ordinário, por sua iniciativa ou a requerimento
dos interessados apenas no caso de o ordinário os denunciar é que há obrigação
de remessa do duplicado, no prazo fixado do art. 169º.
Art. 1720º/1 al. a): os casamento católicos celebrados sem precedência do processo
preliminar consideram-se sempre contraídos no regime de separação.
Art. 16º/2 al. a): o tribunal da Relação deve verificar se as sentenças são autenticas, ou
seja deve assegurar-se de que a sentença que se pretende ver reconhecida provem
de um tribunal da Igreja Católica e esta confirmada pelo Supremo Tribunal da
Assinatura Apostólica.
Art. 16º/2 al. c): o processo eclesiástico em que for declarada a nulidade do
casamento devera respeitar os princípios do contraditório e da igualdade art. 1096º
al. e) do CPCivil – para que a sentença seja confirmada é necessário que o reu tenha
sido regularmente citado para a ação nos leis termos da lei do país do tribunal de
origem, e que no processo hajam sido observados os princípios do contraditório e da
igualdade das partes.
Segundo o Prof. Moura Ramos: distingue entre ordem pública interna e ordem pública
internacional.
Entende-se por Ordem pública interna o conjunto das regras imperativas, constituindo
pois um limite à autonomia privada. Mas se um estado pode impor certos limites no
interior do seu sistema de direito, não pode pretender fazê-los respeitar igualmente
quando se trata da aplicação de regras estrangeiras. A tolerância em relação às
regras de um sistema de direito estrangeiro deve ir muito mais longe; a proteção das
conceções do foro deve ser limitada aos casos em que os valores essenciais do Estado
ou os seus interesses de primeiro grau são postos em causa. Ex: matéria dos
impedimentos matrimoniais é de ordem pública, e o sistema de impedimentos do
direito português é diferente do direito canónico mas não será o facto de o
casamento católico ser declarado nulo com fundamento em um impedimento que
▲ Não se sabe como a Jurisprudência dos Tribunais da Relação se irá orientar, mas
talvez as maiores dificuldades passem pelo consentimento em que são notórias as
divergências entre o nosso direito civil e o direito canónico no qual designadamente o
casamento é invalido se tiver sido celebrado com reserva mental ou simulação
parcial.
Direito Matrimonial
I – O Casamento
Casamento (art. 1577º): acto jurídico fundamental do direito da família, pois através
do vínculo matrimonial constitui-se o cerna da sociedade familiar.
Se depois de casado uma vez, vier a casar (por entretanto ter enviuvado ou se
ter divorciado) uma ou mais vezes, terá constituído duas ou mais famílias
sucessivas poderá havê-las no caso de bigamia, enquanto a anulação do
segundo casamento não produzir os seus efeitos: note-se que relativamente à
destruição do vínculo, a declaração de nulidade, ou a anulação do
casamento, opera sempre com eficácia retroactiva.
Deste modo, explica-se que alguns CC’s (francês, alemão, brasileiro e italiano) se
tenham intencionalmente abstraído de formular um conceito legal de casamento.
Fins do casamento – embora se saiba que um dos fins mais importantes da união
matrimonial, para a generalidade dos nubentes, é a criação e a educação dos filhos,
a lei não o incluiu na definição do instituto. Pode haver casos de casamento valido,
com a certeza antecipada de que os nubentes não vão procriar.
Impotência não constitui, para o direito civil, ao contrário do que sucede no direito
canónico, impedimento matrimonial. Só pode relevar, nesse aspecto, o erro de um dos
cônjuges acerca da impotência do outro.
Seria nula a cláusula pela qual os nubentes convencionassem não ter filhos ou
abster-se de relações sexuais, não apenas por ser contrária à moral social mas
também por ser a negação do objecto essencial do casamento. Ex: na falta
de propósito sério de fundar uma família, o Acórdão do Tribunal de Nimes
declarou inexistentes os casamentos realizados por um administrador da Guiné
Francesa com duas jovens autóctones, com observância dos ritos locais. Os
nubentes, de acordo com a prova feita, não teriam querido propriamente
constituir uma família, mas assegurar apenas a concessão de certas vantagens
e garantir, em termos relativamente duradouros, certa protecção pessoal.
Prof. Antunes Varela: a intervenção do Estado não tira que o casamento seja
um acto puro acto dos nubentes, tal como a intervenção obrigatória do
notário na realização da escritura pública ou na aprovação do testamento
cerrado não priva os actos documentados o seu mero caracter negocial. A
intervenção do Estado não reveste natureza constitutiva, como sucede na
concessão da adopção. O Estado Limita-se a testemunhar que nenhum
impedimento veio ao seu conhecimento e a declarar os nubentes casados, em
virtude do mútuo consentimento. A causa do vínculo matrimonial está na
permuta das declarações de vontade emitidas pelos nubentes, não na
declaração proferida pelo oficial público. art. 155º/2 Código do Registo Civil,
relativo à celebração solene do casamento civil: O Estado não é parte no acto
matrimonial, sendo puramente testemunhal e proclamatória a intervenção do
oficial público na sua realização. A confirmação de que as únicas partes no
casamento são os nubentes esta na relevância que a lei atribui não só ao erro
ou à coacção de que um dos contraentes tenha sido vítima, mas também à
simulação em que ambos tenham sido coniventes (art. 1635º), sem
necessidade para tal de que o oficial público tenha participado no acordo
simulatório a lei reconhece a anulação do casamento por simulação (art.
1635º al. d)), solução que não se justificaria caso o Estado fosse parte no acto.
O Direito Canónico inclui como fim natural, e não como essencial, do casamento, a
procriação e a educação dos filhos.
Houve ainda legislações que só aceitavam a validade do casamento civil nos precisos
termos em que o direito canónico o reconhece casamento civil subsidiário –
subsidiário porque o casamento civil só era aceite subsidiariamente quando o próprio
direito canónico o admitia como relevante. Tal sofreu uma alteração depois da Lei da
Liberdade Religiosa (sistema Espanhol já possui um sistema de casamento civil
facultativo).
Casamento Civil Facultativo, e não Casamento Civil Subsidiário, pois todas as pessoas
(baptizadas ou não; convertidas ou não ao catolicismo) podem optar livremente pelo
casamento civil (não apenas para aquelas que o direito canónico considera legítimo
tal casamento).
▲ art. 1648º/2: Tribunais Civis a quem compete determinar os efeitos civis da nulidade
decretada pelas autoridades judiciais eclesiásticas, determinando inclusivamente a
boa ou má fé dos cônjuges na sua celebração.
Entre os efeitos civis do casamento católico, regulados pelo direito civil, figuram os
termos em que a relação matrimonial pode ser modificada, seja por simples
separação judicial de bens, seja por separação judicial de pessoas e bens.
Art. 1600º: têm capacidade matrimonial os nubentes que não forem atingidos por
qualquer impedimento matrimonial.
1. Falta da Idade Nupcial, art. 1601º al. a) (inferior a 16anos – limite mínimo de
idade, sendo que também se poderia designar como maioridade matrimonial,
sob reserva de autorização – art. 1612º): quem não tiver atingido a idade de
16anos sofre de uma verdadeira incapacidade de gozo para a realização do
casamento, visto a vontade de contrair casamento ser estritamente pessoal
em relação a cada um dos nubentes – art. 1619º. Quem tiver atingido a idade
nupcial, mas não for ainda maior não sofre de qualquer impedimento
dirimente de natureza absoluta, necessitando apenas de autorização dos pais
ou do tutor, ou do respectivo suprimento judicial, requisito cuja falta constitui
mero impedimento impediente (art. 1612º e 1604º al. a)
Por outro lado, envolvendo o casamento a contracção de obrigações tao graves (art.
1671º e ss) não se compreendia que, a pretexto da união sexual dos nubentes, se
facultasse a realização do matrimonio a quem não possua a maturidade psíquica
indispensável à plena compreensão do seu alcance jurídico social.
Decreto Lei de 77’: importa vedar o casamento a quem ainda não atingiu a
maturidade psíquica exigida para um acto de tal gravidade + a igualdade da
idade nupcial para homens e mulheres visa obstar a que, por um casamento
Nem a lei civil, nem o direito canónico fixam um limite máximo da idade para casar –
tal não estranha em relação à lei civil, que não considera a impotência como
impedimento matrimonial, mas já pode causar estranheza ao direito canónico que o
considera como impedimento do casamento razões que explicam a posição do
direito canónico:
Não é fácil fixar uma idade média a partir da qual cesse normalmente a
capacidade das pessoas para a prática do coito;
Além da justificada repugnância da Igreja pelos exames médicos que
ofendem o pudor das pessoas e a intimidade da vida individual, não se pode
esquecer a compreensão que merecem os casamentos de pessoas idosas
com o mero intuito de regularizar situações pretéritas
.
2. Demência e a interdição ou inabilitação por anomalia psíquica, art. 1601º al.
b):
Questões Complexas:
CC, art. 1601º al. c), in fine: desde que o casamento foi celebrado e ainda
não se encontra dissolvido, apesar de omisso no registo português,
nenhuma razão há, para que se permita a realização do segundo
casamento. Se o novo casamento se chegar a realizar, dar-se-á
prevalência ao vínculo que primeiro se constituiu, decretando-se a
nulidade do segundo.
Admita-se porem que por se ignorar a existência desse vínculo ou por qualquer outra
razão, o segundo casamento se realiza:
Ex: A, casado com B, embora o casamento sofra de qualquer vício insanável, vem a
desposar mais tarde C, sem o primeiro vínculo ter sido declarado extinto.
Se um dos nubentes tiver casado anteriormente e sobre o seu cônjuge tiver recaído a
declaração de morte presumida haverá que se aplicar o art. 116º.
Em suma:
1. Parentesco na Linha Recta, art. 1602º al. a): proíbe-se o casamente entre pai e
filha, entre mãe e filho, etc. Justificação: depois dos sentimentos intuitivos e
religiosos mais profundos, razoes de ordem moral. Repugnam profundamente à
sensibilidade das pessoas de bem as relações sexuais entre pais e filhos + razoes
de ordem social reforçam o imperativo caracter ético. A simples perspectiva
de um casamento possível entre parentes tao próximos poderia suscitar os
sentimentos mais inadequados (de ciúme, ódio) dentro do lar, entre os
membros da mesma família + razões de ordem eugénica – o livre cruzamento
de pessoas do mesmo sangue pode contribuir poderosamente para o
agravamento das taras familiares e de males hereditários, em nada
favorecendo o revigoramento da espécie. O impedimento abrange: o
parentesco natural, assente nos laços de sangue – art. 1578º + parentesco
criado pelo vínculo da adopção plena.
3. Afinidade na Linha Recta, art. 1602º al. c): sabendo que a afinidade consiste no
vínculo estabelecido entre cada um dos cônjuges e os parentes do outro,
conclui-se que tal impedimento obsta ao casamento de sogro/a com
nora/genro; padrasto/madrasta com enteada/o; etc quando o casamento
que gera a afinidade se tenha dissolvido por morte do outro cônjuge. A
afinidade só gera impedimento na linha recta, e não na linha colateral – nada
obsta ao casamento entre cunhados.
A nora (viúva ou divorciada) não se pode casar com o sogro, quer este
seja pai legítimo, quer pai ilegítimo do seu antigo marido.
Sendo o casamento que serve de base à afinidade, declarado nulo ou anulado não
haverá obstáculos ao casamento de qualquer dos cônjuges com o seu antigo
sogro/a, se ambos os cônjuges ou um deles tiver contraído casamento de má fé +
nenhum obstáculo existe ao casamento do ex-marido com a filha que a ex-mulher
venha a ter de casamento celebrado apos o divorcio, visto não haver vinculo de
afinidade entre eles, mas já não será legalmente permitido o casamento do ex-marido
com a filha que a ex-mulher tenha tido dum anterior matrimonio: esta filha tornou-se
afim do novo marido de sua mãe e o vinculo persiste, mesmo depois da dissolução
(morte ou divórcio) do segundo casamento da progenitora.
Essencial: condenação!
Art. 1604º al. f): para evitar que os interessados tentem realizar o casamento, em casos
desta natureza, enquanto o processo crime não finda e a condenação não é
proferida e transita em julgado considera-se como impedimento a simples pronúncia
pela autoria ou cumplicidade do crime, cuja eficácia se matem, enquanto não
houver despronúncia ou absolvição por decisão passada em julgado.
Os nubentes com mais de 16anos (art. 1601º al. a)), mas com menos de 18anos (art.
122º) podem casar, na medida em que já atingiram a puberdade legal, contudo
precisam da autorização dos pais ou do tutor, consoante se encontrem sujeitos ao
poder paternal ou a tutela (art. 1921º/1). A falta de tal autorização reveste o caracter
de impedimento impediente. Se o menor casar sem a necessária autorização ou, na
sua falta, sem o respectivo suprimento judicial, duas sanções são aplicáveis à violação
cometida:
Nota: para que haja lugar ao suprimento não é necessário que a recusa dos pais (ou
de um deles) ou do tutor constitua um acto (objectivamente) ilícito. Basta que as
razoes favoráveis prevaleçam sobre as contrarias, numa judiciosa apreciação da
situação – o suprimento impor-se-á especialmente quando a recusa dos pais se inspirar
em motivos egoístas, nos quais pesem mais as conveniências do recusante do que os
legítimos interesses do menor. Ex: mãe que não quer privar-se da colaboração da filha
no serviço doméstico; pai que pretende manter em seu proveito o rendimento do
trabalho do filho. ▲ Alemanha: em que termos pode a recusa dos pais fundar-se
justificadamente na diferença de religião dos nubentes.
Razão de ser:
Ou seja, não se permite à mulher voltar a casar, sem passarem 300dias sobre a data
da dissolução, anulação ou declaração de nulidade do casamento anterior, para
evitar dúvidas acerca da paternidade do filho que ela tenha dentro de tal período.
Art. 1826º e art. 1829º: o filho nascido dentro dos 300dias presume-se que tem por pai o
antigo marido da mãe. Contudo, se ela tivesse casado de novo, passado um ou dois
meses sobre a data da dissolução ou anulação do casamento anterior, o filho que
nascesse apos os 180 dias posteriores ao novo casamento teria como pai o segundo
marido - art. 1826º e 1828º.
Prevendo a hipótese de a mulher não ter respeitado o prazo Internupcial e ter dado à
luz, em termos de haver uma dupla presunção de paternidade, o art. 1834º resolve o
conflito a favor do segundo marido.
▲ O impedimento não tem cabimento se, depois de extinto o casamento por divórcio
ou anulação, os cônjuges pretenderem voltar a consorciar-se um com o outro. Embora
não haja absoluta certeza de que o filho nascido dentro dos 180 dias posteriores à
celebração do novo casamento seja fruto das relações entre os cônjuges, certo é que
a margem possível de erro esta contida dentro das presunções de legitimidade.
Casos em que não faria sentido a exigência do prazo Internupcial apos a dissolução
do casamento, por já ter cessado anteriormente a coabitação entre os cônjuges – art.
1605º/4 e 5:
Art. 1605º/2: O prazo de 300 dias em relação à mulher, pode ser reduzido para a
duração mínima de 180 dias, imposta pelas conveniências sociais, nos casos em que
seja possível afastar o conflito de presunções de paternidade – a mulher pode contrair
novas núpcias passados 180 dias sobre a dissolução do casamento anterior, se obtiver
e juntar a declaração judicial de não estar gravida (art. 1446 do CPC) ou se tiver
entretanto outro filho deixa de ter cabimento em relação ao primeiro marido a
presunção de paternidade quanto a qualquer filho que a mulher venha a conceber
posteriormente + casamento se dissolver por morte do marido, estando os cônjuges
separados judicialmente de pessoas e bens, podendo a mulher celebrar novo
casamento passados 180 dias sobre o transito em julgado da sentença de separação,
se obtiver declaração judicial de não estar gravida ou se tiver tido algum filho depois
do transito da sentença ▲ a mulher pode casar-se passados 180 dias neste caso
embora ainda não tenha decorrido o prazo nupcial sobre a data da morte do marido.
Problema: esta possibilidade de novas núpcias, antes de decorridos os 180 dias sobre a
data da morte do marido colide com uma das razoes justificativas do impedimento
(decoro social), uma vez que a separação de pessoas e bens não extingue o vinculo
matrimonial entre os cônjuges.
Casando os nubentes, sem ter decorrido o prazo Internupcial, o casamento nada sofre
na sua validade uma vez que nada aproveitaria às finalidades da lei a anulação do
matrimonio. Contudo, o nubente infractor sujeita-se a uma sanção de caracter
3. Parentesco no 3º Grau da Linha Colateral, art. 1604º al. c):não podem casar tio
com sobrinha, por exemplo. É um impedimento impediente susceptível de
dispensa – art. 1609º os interessados podem requerer dispensa do
impedimento, devendo o tribunal concede-la ‘’quando haja motivos sérios que
justifiquem a celebração do casamento’’.
Única sanção contra o casamento dos parentes de 3ºGrau na Linha Colateral, sem
obtenção de dispensa judicial, consiste na impossibilidade/inabilidade de o tio/a
receber do seu consorte qualquer benefício por doação ou dispensa testamentária.
4. Vínculo de Tutela (art. 1921º e 143º), Curatela (art. 153º e 154º) ou Administração
Legal dos Bens (art. 1922º e 1967º), art. 1604º al. d):
O incapaz não pode casar com o seu tutor, curador ou administrador legal de bens,
nem com os parentes ou afins na linha recta, irmãos, cunhados ou sobrinhos de
qualquer deles enquanto não tiver decorrido um ano sobre o termo da incapacidade
e não estiverem aprovadas as respectivas contas, se a elas houver lugar.
Todas estas proibições se devem a razões de ordem moral e social que servem de
fundamento aos graves impedimentos previstos nas 3primeiras al. do art. 1602º, mas
que no caso da adopção procedem com uma menor força do que nos casos de
parentesco e de afinidade.nn
E qualificam-se:
Dirimentes
Impedientes
Voto simples
Diversidade de confissão
Para o comum dos contratos vale a regra do art. 219º que assenta na Liberdade de
Forma, contudo o casamento é um contrato formal e é ainda um contrato a que,
com inteira propriedade, se pode chamar de contrato solene.
Prova do Acto, cuja assento é lavrado ou transcrito nos livros do registo oficial
Passo 1: funcionário que preside ao acto começa por ler a declaração inicial e o
despacho final do processo de publicações.
O casamento difere dos restantes contratos uma vez que ambos os nubentes
exprimem a sua vontade no mesmo momento e no mesmo local, não havendo
proposta e aceitação subsequente.
Este processo de publicações a posteriori deve ser organizado, sempre que, por
qualquer razão, não tenha havido processo preliminar – a sua falta obsta à
homologação do acto. A homologação só prescindirá do processo de publicações se
tiver corrido ainda o processo preliminar e a urgência, traduzida praticamente na
celebração do casamento, sem a presença oficial do registo, tiver sido motivada por
circunstancia posterior à conclusão do processo preliminar.
Este regime, consagrado nos art. 1635º e ss. ≠ art. 246º e 257º para o
comum dos negócios jurídicos a relevância da falta de vontade, no
casamento não depende do seu conhecimento pela outra parte, nem
da sua notoriedade. A falta de consciência do acto matrimonial releva
tanto quando proceda de incapacidade acidental como quando
provenha de outra causa.
Erro acerca da identidade física do outro nubente, art. 1635º al. b): constitui
uma das modalidades possíveis de erro na declaração.
Ex: A declara querer casar com B, julgando que se trata de C casamento de cegos
ou casamento com dois irmãos gémeos; casamento por procuração, quando A,
querendo casar com determinada pessoa, passa procuração para o casamento com
uma outra.
Extorsão do consentimento por coacção física, art. 1635º al. c): a pessoa é
arrastada pela violência para a realização do acto matrimonial só é
concebível nas hipóteses de casamento urgente.
Nota: prazo de anulação – art. 1644º; os cônjuges não podem provar por testemunhas
– art. 394º/2 – ou por presunções – art. 351º - o acordo simulatório. Art. 394º/3: os
terceiros que pretendam anular o casamento podem recorrer à prova testemunhal.
Art. 243º: a simulação não pode ser oposta a terceiros de boa fé que tenham
acreditado na validade do casamento.
Declarações Não Sérias: ex. casamento realizado por actores para um filme: não há
casamento: (1) não há intervenção da autoridade competente – art. 1628º al. a); (2)
falta de declarações de vontade dos nubentes.
2. Vícios do Consentimento
Erro – Vício
No erro-vício a pessoa declara o que quer, mas não o teria aceite o que realmente
quis e declarou querer, se não fosse o erro que sofreu.
Requisitos:
Objecto do Erro: recai sobre a pessoa do outro contraente (pessoa com quem
se realiza o casamento) e refere-se a qualidades essenciais dela (qualidades
físicas, qualidades jurídicas, morais ou de caracter
Irrelevante: (1) erro sobre o objecto do contrato (ex: alguém, que só conheça o
casamento religioso, considerar o casamento civil como uma promessa de
casamento tendo respondido afirmativamente à pergunta sacramental do
oficial público, o seu erro seria sempre um erro-vício, e um erro vício irrelevante
– art. 1636º) ou os efeitos que dele decorrem (ex: suposição infundada, por
parte do noivo, de que adquiria o direito de administrar todos os bens do casal
Coacção Moral
Requisitos:
O mal com que o declarante é ameaçado, para haver coacção pode respeitar:
pessoa, como à honra ou património, seja do declarante seja de terceiro essencial
é que seja determinante.
≠ do caso de a ameaça traduzir um exercício anormal, abusivo (pelo fim visado) dum
direito do agente. Ex: pretendente ao matrimónio, que sendo credor da requestada,
ameaça requerer falência se ela não casar; ameaça de participação dum crime
cometido pelo noivo que nenhuma relação tem com a pessoa noiva.
▲ estes requisitos são exigidos também quanto aos negócios jurídicos em geral, mas só
quando a coacção provenha de terceiro (e não do declaratário). Já no caso do acto
matrimonial, ambos os requisitos são essenciais, quer a coacção provenha de terceiro,
quer do outro nubente razão de estabilidade do casamento.
Anulabilidade por erro ou coacção: art. 1631º al. b) – consentimento prestado por erro
ou coacção, e se verifiquem as respectivas condições de relevância, o casamento é
anulável. + art. 1645º. Anulação Sanável – art. 288º, podendo a confirmação ser
expressa ou tácita.
Contratos Nulos: não podem ser aproveitados como negócios jurídicos, quanto
aos efeitos principais a que tendiam, mas podem sê-lo como factos jurídicos,
na produção de quaisquer efeitos secundários ou acessórios.
A doutrina acabou por afirmar que em tais casos não havia casamento, porque tal
era inexistente, não havendo consequentemente necessidade de proclamar a
nulidade em qualquer texto legal.
Funcionário de Facto: o indivíduo que, sem ter competência funcional para o acto,
exerça publicamente as funções que para tal o creditaram no plano oficial – art.
1629º.
Procuração falsa, por não ter sido passada por quem nela figura como
constituinte (a despeito da possível aparência em contrario, falta o
suporte factual indispensável à consumação do contrato).
O casamento inexistente não produz efeitos, nem como negócio jurídico, nem
como facto jurídico, não lhe aproveitando sequer os efeitos do casamento
putativo, qualquer que tenha sido o estado psicológico em que os nubentes o
tenham contraído.
Carácter Genérico
Carácter Específico
Legitimidade:
Legitimidade: (1) cônjuges (inc. o cônjuge que tenha agido de má fé, como o
bígamo no caso do impedimento dirimente gerador da anulabilidade ser o da
existência de casamento anterior não dissolvido); (2) herdeiros ou adoptantes
dos cônjuges; (3)parentes em linha recta ou até ao 4º Grau na Linha Colateral
(na defesa do interesse moral da família) e o MP (salvaguarda do interesse
público) – art. 1639º/1 ▲ art. 1639º/2: primeiro cônjuge do bígamo – interesse
particular.
Casos em que está em jogo o interesse público (ex: falta das testemunhas
exigidas por lei, para garantia da genuinidade e publicidade do acto – art.
1631º al. c) e art. 1616º al. c).
Casamento Putativo
Os actos que tivesse praticado como administrador dos bens do outro cônjuge
ou como administrador dos bens comuns, perderiam a sua validade em
prejuízo dos terceiros com quem tivessem contrato.
Entende-se que devem ser respeitados os efeitos produzidos pelo casamento ate ao
reconhecimento judicial da sua nulidade, se ambos os cônjuges agiram de boa fé, ou
que devem ser salvaguardados os efeitos produzidos em favor de um deles, se só esse
tiver actuado de boa fé.
O conceito de boa fé em que radica o casamento putativo não assenta, hoje, tanto
numa raiz psicológica (convicção da validade do acto), como de sentido
essencialmente ético-jurídico (celebração do acto em termos não merecedores de
censura, mas perfeitamente justificáveis ou compreensíveis pelo menos) – ex: o
cônjuge coacto não deixa de agir de boa fé mesmo conhecendo o vício de que
enferma o casamento por ele celebrado.
Requisitos:
Existência de boa fé, por parte de ambos os cônjuges (art. 1647º/1) ou por
parte de um deles pelo menos (art. 1647º/2), no momento da celebração do
casamento.
Eficácia Geral:
Tendo um dos cônjuges contraído qualquer dívida para ocorrer a encargos normais
da vida familiar ou em proveito comum do casal, dentro dos limites dos seus poderes
de administração, a dívida considerar-se-á válida e o credor poderá exigir o seu
cumprimento de qualquer dos cônjuges, e não apenas daquele que a contraiu,
alegando tratar-se de dívida comunicável.
Os filhos que houverem um do outro serão havidos como filhos nascidos dentro do
casamento.
Quanto às doações que hajam feito um ao outro, ou que terceiros tenham efectuados
a favor de um deles ou de ambos eles, será necessário distinguir consoante o
momento da produção dos efeitos da liberalidade.
Doações entre vivos, que tenham produzido os seus efeitos antes da data da
anulação ou da declaração de nulidade do casamento – eficácia mantém-
se, tratando-se de efeitos produzidos cuja manutenção a boa fé dos cônjuges
legitima. O donatário não terá que restituir os bens doados nem os seus
rendimentos.
Decreto 25 de Dezembro de 1910: critério que distinguia entre efeitos favoráveis (do
casamento) e efeitos desfavoráveis ao cônjuge de boa fé.
CC de 66’’:
Art. 1652º: registo do casamento tem o nome de assento, lavrado por inscrição ou
transcrição.
Inscrição (art. 52º CRCivil): assento do acto directamente lavrado nos livros do
registo público – o acto matrimonial é inscrito no registo, para significar que se
transita directamente da cerimonia do casamento para o assento lavrado no
livro do registo civil.
Transcrição: o assento tem como base um outro documento escrito (título) que
pode ser uma decisão judicial, um documento estrangeiro, um assento
paroquial ou documento equivalente, ou o despacho de homologação
(casamentos civis urgentes)
E se houver perda do registo ou se não se tiver chegado, por qualquer razão, a lavrar
o assento?
Assento que deve ser lavrado por inscrição: terá de se recorrer à acção judicial
de justificação da perda ou omissão do registo, no qual todos os meios de
prova são admitidos. Simplesmente, não é a sentença proferida em tal acção
que passa a servir de instrumento de prova do casamento. A sentença serve
apenas de meio para a realização do assento, sendo o assento lavrado pelo
oficial do registo civil de acordo com os elementos fixados pelo juiz na decisão.
A prova resultante do registo civil não pode ser ilidida por nenhuma outra, a
não ser nas acções de estado ou nas acções de registo (art. 3º/1 CRCivil) –
limitação dos meios de impugnação do registo.
Os factos comprovados pelo registo civil não podem ser impugnados em juízo
(mesmo em acção de estado), sem que seja pedido o cancelamento ou
rectificação dos assentos e averbamentos que lhes correspondem (art. 3º/2
CRCivil) – homenagem ao Princípio da Veracidade ou Fidelidade do Registo e
em obediência ao Principio da Concomitância do Facto e do Registo.
A sua falta ou omissão, bem como a sua perda, não constituem causa de nulidade ou
anulabilidade do casamento, mas apenas fundamento para as acções de registo ou
as providencias administrativas destinadas a suprimir a omissão – não determinam a
necessidade de repetição do acto. Deste modo, compreende-se que o registo uma
vez realizado goze de eficácia retroactiva – art. 1670º/1.
Caso (verdadeiro – anterior ao CC), que evidencia o alcance do art. 1670º/2: tratava-
se de um inventário judicial, no qual os irmãos de um dos cônjuges foram chamados
como herdeiros, com integral preterição do cônjuge sobrevivo, porque o inventário foi
aberto antes de ter sido transcrito em Portugal o assento do casamento que o finado
realizada anos antes no Brasil – o acórdão ressalvou os direitos dos irmãos do de cuiús
(terceiros, neste caso) manteve-se a mesma doutrina com o CC de 66’.
1. Introdução
Versão Primitiva do art. 1678º/2 al. b): reconhecia à mulher o direito de reservar
para si a administração desses e outros bens na convenção antenupcial.
Sobre cada um dos cônjuges recai o dever de colaborar com o outro nas
tarefas a cargo deste, se tal for necessário e razoavelmente exigível ao abrigo
do dever de cooperação (art. 1674º), mesmo que nenhum lucro lhe advenha
do facto.
Bens Próprios cuja Administração compete ao cônjuge que não é seu titular: pode
ocorrer com os bens móveis, próprios de um dos cônjuges, mas exclusivamente
utilizados pelo outro como instrumento de trabalho (art. 1678º/2 al. e); generalidade
dos bens próprios de qualquer um dos cônjuges, quer móveis quer imoveis, sempre
que o respetivo titular se encontre ausente ou impossibilitado de os administrar ou com
os bens cuja administração tenha sido atribuída, por mandato do seu titular, ao outro
cônjuge (art. 1678º/2 al. f) g))
▲’’Instrumento de Trabalho’’ (art. 1678º/2 al. e)): consiste em facultar ao conjugue que
tem de servir-se de determinados bens, como elemento imprescindível da sua
atividade profissional, a liberdade necessária de movimentos na sua conservação e
utilização, bem como impor-lhe o encargo correspondente. O poder de
administração não constitui, neste caso, apenas uma faculdade, mas também m
encargo, ou seja um dever jurídico que persiste, enquanto não cessar a utilização da
coisa por um dos cônjuges como seu instrumento exclusivo de trabalho.
Proventos do Trabalho (art. 1678º/2 al. a): proventos que cada cônjuge aufere
do seu trabalho, que não deixam, em princípio, de ser considerados bens
comuns nos regimes de comunhão (art. 1724º, 1732º e 1733º).
Direitos de Autor (art. 1678º/2 al. b): a administração dos direitos de autor
compete exclusivamente ao cônjuge que for o seu titular, mesmo que os
respetivos proventos constituam bens comuns.
Ao cônjuge autor incube decidir livremente sobre os termos da edição
da obra, da sua representação em teatro, etc.
Bens Comuns, levados por um dos cônjuges para o casal ou por ele
adquiridos, a título gratuito, depois do casamento (art. 1678º/2 al. c)): embora
se tratem de bens comuns, só ao Cônjuge que levou esses bens para o casal
ou que os adquiriu, já na constância do casamento, a título gratuito, é
atribuído legalmente poderes de administração sobre eles. O poder de
administração do cônjuge estende-se aos bens sub-rogados, tanto no lugar
dos levados para o casamento, como no lugar dos adquiridos a titulo gratuito
na vigência do casamento, valendo para a subrogação o disposto no art.
1723º.
Atos destinados a prover à conservação dos bens (pintar a casa ou reparar o cano
roto) ou a promover a sua frutificação normal (apanha da azeitona, poda das arvores)
atos de administração ordinária.
Atos que visem promover a frutificação anormal do prédio (conversão de uma vinha
em pomar) ou a realização de benfeitorias ou melhorias nos bens (instalação de
aquecimento ou ar condicionado no apartamento) atos de administração
extraordinária
Por outro lado, admite-se a possibilidade a qualquer dos cônjuges de, num raio muito
vasto de ação, realizar atos vinculativos não só para si, mas também para o outro
cônjuge, que nenhuma intervenção teve no ato, constituindo uma franca derrogação
do Princípio da Autonomia Privada em relação a este.
Trata-se de uma faculdade que se refere aos bens próprios do cônjuge ausente ou
impossibilitado, e não de um dever jurídico, sem prejuízo do dever de cooperação (art.
1674º).
O ato praticado pelo cônjuge não administrador será nulo (e não anulável), no caso
de não se verificar algum dos pressupostos que legitimam a sua intervenção.
Cônjuge que administra bens comuns ou bens próprios do outro cônjuge estatuto
especial:
Móveis Comuns, cuja administração caiba aos dois cônjuges, a sua alienação
ou oneração depende do consentimento de ambos os cônjuges (art. 1682º/1),
a não ser que se trate de atos de administração ordinária.
Móveis Próprios ou Comuns, cuja administração lhe caiba, nos termos do art.
1678º/2 al. a) a f), o cônjuge administrador tem legitimidade para os alienar ou
onerar por ato entre vivos, sem necessidade de consentimento do seu cônjuge.
Ex: ações ou títulos de crédito que um dos cônjuges tenha levado para o casal
ou haja adquirido a título gratuito na constância do casamento, mesmo sendo
bens comuns esta legitimidade apresenta uma limitação e uma restrição:
Cada um dos cônjuges tem a liberdade de dispor, depois da morte, quer dos bens
próprios, quer da sua meação nos bens comuns, desde que tal não ofenda os direitos
dos seus herdeiros legitimários, se os tiver (art. 1685º/1).
Na medida em que nenhum dos cônjuges sabe na vigência do casamento quais são
os bens que concretamente vão preencher a sua meação, as disposições mortis
causa que faça não podem recair sobre bens comuns determinados, nem sequer
sobre uma fração ideal de bens certos e determinados.
Nos termos do art. 1685º/3, existem três casos em que se admite que tal seja feito em
espécie:
No caso de, por qualquer título legítimo, os bens abrangidos pela disposição se
terem tornando bens próprios do cônjuge disponente, ate ao momento da sua
morte;
No caso de o outro cônjuge ter autorizado a disposição nos termos em que ela
foi efetuada, sendo a autorização dada por forma autêntica ou no próprio
testamento do disponente;
O terceiro, com que o cônjuge contrata, nos casos em que basta o consentimento
verbal, o referido além da informação verbal desse cônjuge pode exigir a intervenção
direta do outro cônjuge ou a documentação escrita da sua concordância.
Pode ser requerida pelo cônjuge que não deu o consentimento ou por
herdeiros, dentro dos 6 meses subsequentes à data em que o requerente veio
ao conhecimento do ato, desde que não tenham decorrido 3anos da pratica
do ato (art. 1687º/1 e 2)
Art. 1690º: tanto o marido como a mulher têm legitimidade para contrair dívidas, sem a
necessidade do consentimento do outro cônjuge plena validade das obrigações
isoladamente contraídas por qualquer deles.
Data da Dívida facto (contrato, ato ilícito, subscrição do titulo, etc.) que lhe serve
de fonte – art. 1690º/2.
Dívidas que responsabilizam apenas um dos cônjuges (art. 1692º, 1693º, 1694º/1,
1ªparte).
Todas as obrigações contraídas por ambos os cônjuges (=) dívidas contraídas por um
dos cônjuges com o consentimento do outro
Não se alude às dívidas contraídas por um dos cônjuges, com suprimento judicial do
consentimento do outro, por não ter cabimento este suprimento devido ao princípio
consagrado no art. 1690º/1 e à doutrina expressa no art. 1691º/1 al. b) e c)
Serão em regra contraídas por cada um dos cônjuges dentro dos poderes de
administração que lhe competem no governo da casa, e mesmo que contraídas pelo
cônjuge que não tem o pelouro correspondente gozam do mesmo efeito.
Essencial: não só pela sua natureza como também pelo seu valor as dívidas caibam
entre os encargos normais da vida familiar, tendo em conta o padrão da vida familiar.
Art. 1691º/1 al. d): inclui na categoria de dívidas que responsabilizam ambos os
cônjuges as contraídas por qualquer um deles no exercício do comércio, desde que
entre os cônjuges não vigore o regime de separação absoluta.
VII) Dívidas que Onerem Bens Comuns (art. 1694º/1) ou tenham por Causa a Perceção
de Rendimentos Comuns (art. 1694º/2)
Ressalva: uma vez que o facto de os bens serem próprios não impede,
nos regimes de comunhão, que sejam comuns os respetivos
rendimentos, sempre que a dívida, onerando embora bens próprios,
tenha por causa, a perceção dos respetivos rendimentos e estes sejam
comuns, ela responsabilizara ambos os cônjuges.
Desde que não representem um encargo normal da vida familiar e não tenham sido
contraídas pelo cônjuge administrador, dentro do limite dos seus poderes, em proveito
comum do casal – art. 1692º al. a)
Em suma: ressalva consagrada no art. 1692º al. b), in fine dívidas provenientes do
risco, e não da culpa do agente.
Dívidas que onerem bens próprios (juros devidos em função dum imóvel pertencente a
um dos cônjuges) pelo critério geral do art. 1694º exclusiva responsabilidade do
titular dos bens, salvo as dívidas cuja causa resida na perceção dos rendimentos dos
bens próprios, quando tais rendimentos sejam comuns (art. 1694º/2, in fine)
IV) Dívidas que Onerem Liberalidades em Exclusivo Proveito de um dos Cônjuges (art.
1693º/1)
Dívida respeita a bens que foram doados ou deixados a um dos cônjuges e não se
comunicaram ao outro responsabiliza-se apenas o aceitante (art. 1694º)
Compensação é devida: (1) no caso de não funcionar a moratória legal, por causa
da natureza da dúvida; (2) caso dos bens comuns terem respondido ao mesmo tempo
que os bens próprios do cônjuge devedor – art. 1696º/2
▲ Antes da Reforma de 77’ havia ainda o regime dotal (art. 1738º a 1752º) Reforma
de 77’ proibiu tal Regime (ressalvando os dotes constituídos em relação a casamentos
anteriores), com a alegação de que a sua estrutura era incompatível com o princípio
(constitucional) da igualdade dos cônjuges e omitindo que, para tal, se sacrificou o
princípio basilar da liberdade contratual, em geral, e da liberdade das convenções
antinupciais, em especial. O Regime Dotal assentava num complexo de bens
pertencentes à mulher, mas entregues à administração do marido, sujeitos a um
regime especial de inalterabilidade e imprescritibilidade, para proteção dos interesses
da sua titular.
↳ não se admite que o regime de bens seja fixado pro meio de simples remissão
genérica para uma lei estrangeira, para um preceito revogado ou para usos e
costumes locais – art. 1718º. Tal visa impedir que algum dos nubentes, por não
conhecer, com precisão, seja a lei estrangeira, seja o direito o revogado, sejam os
costumes locais, acabe por ser vítima para o resto da vida, da ignorância própria ou
da má fé de outrem.
Regime Imperativo: existem casos, em que a título excecional, a lei impõe aos
nubentes determinado regime ao lado de outros em que a lei não impõe um regime,
mas não permite que certo regime de bens seja escolhido por eles.
Em todos os casos de casamento com regime de separação, imposto por lei, proíbem-
se as doações entre casados, a fim de evitar que a lei seja defraudada – art. 1762º.
Contudo, os nubentes podem fazer doações entre si, na convenção antinupcial,
tendo em vista a realização do futuro casamento – art. 1720º/2.
Fora dos casos excecionais do art. 1720º, os nubentes têm plena liberdade de escolher
o regime de bens que mais lhes convier. Tal escolha assenta na Convenção
Antenupcial (art. 1698º).
Não pode ser convencionado o Regime Dotal e não pode ser adotado o
regime da comunhão geral (nem estipulada a comunicabilidade dos bens
considerados como próprios no regime da comunhão de adquiridos) pelo
nubente que tiver já filhos, mesmo que maiores ou emancipados – art. 1699º/2.
Não existia perigo de a alteração do regime ter sio extorquida por um dos
cônjuges aproveitando o ascendente psicológico adquirido sobre o outro na
constância do matrimónio.
Prazo de um ano, dentro do qual a anulação pode ser requerida (pelo incapa,
herdeiros ou representantes – art. 1709º) conta-se a partir da celebração do
casamento (e não da cessação da causa que serve de fundamento à
anulabilidade do acto).
Código Civil de 1966: substitui a comunhão geral como regime supletivo pelo
regime da comunhão de adquiridos. Diversas razões foram consideradas:
Uma vez que o casamento não une os nubentes desde a data do seu
nascimento, é justo que se considerem como comuns, não todos os
bens de que os cônjuges sejam ou venham a ser titulares, mas apenas
os bens adquiridos na vigência do casamento, como produto da
Aplica-se:
Propriedade Colectiva: existe contitularidade de duas (ou mais) pessoas num único
direito, tal como na compropriedade (art. 1403º), mas alem de conter um único direito,
na propriedade colectiva, existe ainda um direito uno, enquanto na compropriedade
há um aglomerado de quotas dos vários comproprietários. Propriedade colectiva
enquanto comunhão una, indivisível, sem quotas.
A autonomia dos bens comuns não é completa. Há casos em que alguns bens
comuns respondem imediatamente por dividas da exclusiva responsabilidade de um
dos cônjuges (art. 1696º/2 e 3).
Comunhão de Adquiridos:
Bens Próprios: todos os bens (coisas ou direitos) cujo título de aquisição seja anterior ao
casamento (art. 1722º/1 al. a), os bens advindos isoladamente a qualquer dos
cônjuges, por sucessão ou doação na vigência do casamento (art. 1722º/1 al. b) e os
bens adquiridos, na constância do matrimónio por virtude de direito próprio e anterior
(art. 1722º/1 al. c)
Bens adquiridos por virtude de direito próprio anterior: por exemplo, os bens
adquiridos através de herança indivisa, aberta antes do casamento, mas
partilhada só depois (art. 2199º - solução que se harmoniza com a eficácia
retroactiva da partilha); bens adquiridos por meio de usucapião, baseada na
posse que tenha tido o seu inicio antes do casamento; os bens comprados por
qualquer dos cônjuges, antes do casamento, com reserva de propriedade por
parte do alienante; bens adquiridos no exercício de qualquer direito de
preferência fundado em situação jurídica (compropriedade, arrendamento
para habitação periódica, comercio ou industria, etc); obtidos através de
contrato aleatório realizado antes do casamento (premio da lotaria ou
totobola, quando o bilhete tenha sido comprado ou o boletim entregue antes
do casamento, mas o sorteio haja sido de data posterior) ou mediante
contrato condicional, anterior ao casamento, anterior ao matrimonio, mas em
que a condição se tenha verificado depois dele tais circunstância podem
envolver a obrigação para o cônjuge adquirente, de compensar o património
comum. Ex: quando alguma das prestações da coisa comprada com reserva
de propriedade tiver sido paga em dinheiro comum, ou quando o direito de
preferência tiver sido exercido com dinheiro comum (art. 1722º/2)
Bens adquiridos por virtude da titularidade de bens próprios que não sejam
frutos dele. Ex: acessões, prémios de amortização de títulos de credito ou outros
valores mobiliários próprios de um dos cônjuges
Bens moveis presumem-se como bens comuns, quando haja dúvidas sobre a
sua comunicabilidade.
▲ Apesar do Regime da Comunhão Geral ter deixado de ser o Regime Supletivo com
o Cód. Civil de 66’, este só vigora depois da sua entrada em vigor quando for
expressamente convencionado pelos nubentes. Contudo, nos termos da Lei de
Introdução ao CC no seu art. 15º, os casamentos celebrados até 31 de Maio de 67’,
segundo a legislação então vigente, encontram-se ainda hoje celebrados ao regime
da comunhão geral.
Nos termos do art. 1732º, os bens comuns constituem a regra, e os bens próprios a
excepção.
Ao lado dos bens incomunicáveis expressamente previstos na lei, existe ainda os casos
em que a incomunicabilidade é convencionada pelas partes.
Existe uma completa autonomia dos bens que cada um dos cônjuges leva para o
casamento ou adquire na constância do matrimónio. Existe uma completa
separação, quer do domínio, quer da fruição dos bens adquiridos por cada cônjuge,
podendo o titular dispor deles livremente (art. 1735º).
É certo que o casamento pode ser dissolvido em vida dos cônjuges por meio de
divórcio (art.1788º). mas nem por isso os nubentes podem casar a termo e muito
menos sob condição. O divorcio constitui, por natureza uma causa anormal de
extinção da relação matrimonial.
Extinção da Relação Matrimonial: quando cessa o vínculo conjugal que unia os seus
sujeitos.
São casos em que não há extinção do vínculo matrimonial, mas em que a sociedade
conjugal sofre alteração no seu conteúdo.
Remete-se para o estudo do livro da Prof. Rita Lobo Xavier Recentes Alterações ao
Regime Jurídico do Divórcio e das Responsabilidades Parentais