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2
Módulo I
Palmas - Tocantins/2006
3
Autores
Ficha Catalográfica
CDU:374(81)
4
Apresentação
Esse projeto serviu como embrião de uma proposta maior, o Projeto Ressocialização
Educativa no Sistema Prisional do Estado do Tocantins, que conta com parceria do Ministério
da Educação (MEC) e Ministério da Justiça (MJ).
5
6
A guisa de uma apresentação
“Regenerado? Bem vamos ver.”– responde o interno. “Para mim é uma palavra
inventada... Uma palavra dos políticos para que jovens como você possam vestir
terno e gravata e, ter um emprego.”
“Não há um único dia em que não me arrependa. Não é porque estou aqui ou porque
você acha que eu deveria. Ao recordar do passado, vejo um jovem... um rapaz idiota
que cometeu um crime horrível. Tento falar com ele. Tento passar um pouco de juízo
para ele... Ensinar como são as coisas... Mas não posso. Aquele garoto não existe
mais. O que sobrou foi esse velho aqui. Tenho de continuar a conviver com isso.”
Desde cedo, a sociedade exerce sua força em determinar que ações são as melhores
e como essas devem ocorrer. Essas demandas nos são impostas através das leis, em sentido
amplo e, em sentido mais estrito, pelo próprio ato de educar. Nesse sentido, Èmile Durkheim,
sociólogo com grande influência na educação, em sua obra Educação e Sociologia afirmou
sobre a educação:
7
política no seu conjunto e, pelo meio social que a criança
particularmente se destina” (1975:45).
Toda criança, desde cedo na vida, passa por esse processo de inclusão na
sociedade, que chamamos de socialização. É quase natural, obviamente, se não fosse devido
à resistência que alguns indivíduos manifestam. É aí que encontramos alguns “e se....” .
Michel Foucault em seu livro Vigiar e Punir: história da violência nas prisões (1987)
contribui com nossa percepção por indicar-nos que a sociedade passará a inicial um processo
de “docilização” e “adestramento” visando à naturalização dos atos diários. Em outras
palavras: a sociedade sairá em defesa de sua sobrevivência, usando todos os elementos –
discursivos e coercitivos – disponíveis.
O que queremos dizer com isso? Podemos pensar na educação assumindo essa
postura? É a educação dentro do regime fechado de uma prisão, simplesmente o ato de
tornarmos dócil o “animal irracional” que se encontra fora do convívio social? Existe uma
“fisionomia’, na visão foucaultiana, de cidadão exemplar que temos de “ensinar” ao privado de
liberdade no cárcere do sistema prisional?
Talvez sua resposta seja, a priori, sim. Talvez você pense que, em face das recentes
ações violentas contra a Sociedade deflagradas em alguns estados do Brasil, por parte do
crime organizado, devemos usar a coerção ao extremo, visando docilizarmos esses
“irracionais” que perturbam a ordem estabelecida. Mas, e se...? Se a chave para a conquista
não for à coerção, as prisões, os regimes? E se a chave estiver na conquista das
mentalidades, através da educação?
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É importante ressaltar que existe uma historicidade1 construída em torno dessa visão:
ela não é casuísta, devido ao momento que nos encontramos. Ela é fruto de uma vivência,
diariamente sentida pelos professores e professoras, bem como dos agentes prisionais na
Casa de Custódia de Palmas, que ora agregamos como experiência para todo o Estado do
Tocantins. Ela foi gestada em “noites de angústia” pelos diversos atores envolvidos nesse
processo, ao longo de 2 anos de atividade. Foi toda essa maiêutica ou parto de idéias,
pensamentos e espíritos, para lembrar Sócrates, que vivenciamos nas “manhãs e tardes”
desse processo.
Gilson Pôrto Jr
Coordenador do Projeto Ressocialização Educativa
no Sistema Prisional do Estado do Tocantins
1
Não podemos deixar de lembrar da ação em prol da realização desse projeto audacioso por parte dos
Secretários Estaduais Maria Auxiliadora Seabra Rezende (Educação), Télio Leão Aires (Justiça e
Cidadania), Júlio Resplandes (Segurança Pública) e do atual Secretário de Segurança Pública Herbert
Brito Barros, da professora Iolanda Filipe de Oliveira (então Gerente de Educação de Jovens e
Adultos – SEDUC-TO) que junto ao professores Gilson Pôrto Jr. (GEB-DRE-Palmas), Francisco Silva
e Laudinéia Rocha Monteiro da Silva, coordenou a elaboração do Projeto Ressocialização Educativa
na Casa de Custódia de Palmas em 2004/2005, da Dra. Dulce Furlan (Coordenadoria de Direitos
Humanos), das competentes Supervisoras Pedagógica Adriana Ferreira da Silva e da EJA Vanilda
Pacini (ambas, na época na GEB-DRE-Palmas), das Diretoras Regionais de Ensino de Palmas,
professoras Jucilene Maria de Castro Santos Borba Dias (hoje, Diretora de Políticas Educacionais –
SEDUC-TO) e Noraney de Fátima Fernandes de Castro, dos professores Djanice Aires de Sena,
Francisca Pereira de Sousa, Joilda Reis Mascarenhas, Omar Ribeiro Rocha, Valcelir Borges da
Silva e Valdelisce Ramos de Araújo envolvidos no projeto desde o seu início e dos que se juntaram a
nós, professoras Ana Nery Silva, Selma Soares da Silva Fernandes e Solange Maria da Silva
Araújo. Também dos agentes prisionais envolvidos no processo, dos quais destacamos o agente
Antonio Vicente Fernandes da Silva.
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Sumário
Unidade 1
Unidade 2
Unidade 3
Pedagogia de projetos 31
Unidade 4
Metodologia da problematização 40
Unidade 5
Unidade 6
Unidade 7
Unidade 8
Unidade 9
Unidade 10
Objetivos
Introdução
[...] Uma época determinada não ensina uma qualquer coisa, [...] Ensina,
sim, aquilo que sabe e que pode e deve ensinar. Aquilo que deve ensinar
e, portanto, se sabe ensinar, nasce com as relações reais dos indivíduos. E
uma nova época tem como tarefa sua ensinar aos indivíduos que eles não
podem existir de uma qualquer maneira social, [...], mas de uma maneira
social, isto é, de um modo determinado. (FIGUEIRA, s.d, p.14)
11
dimensão pedagógica, ou seja, seu modo de pensamento. Das idéias às
práticas, os modelos descrevem o vínculo e o sentido previstos entre
ensinar e aprender.
Tendências pedagógicas
12
Ensina-se (MORANDI, 2002) os clássicos, os textos antigos, os valores, as lições do passado,
etc.
Em relação à metodologia os alunos são considerados na perspectiva da
homogeneidade, leva-se em consideração a aprendizagem por meio de aulas expositivas,
horários rígidos, realização de exercícios de fixação, que se repetem aleatoriamente como o
caso de cópias sem um objetivo e leituras repetidas. Nesta perspectiva o grande e talvez
único responsável pela sua aprendizagem é o próprio aluno (posição empirista). A elaboração
do conhecimento ocorre sem muitas exigências, pois a preocupação é com a transmissão dos
conteúdos e não com a construção dos saberes.
A avaliação enfatiza a metodologia adotada, uma vez, que a exigência é que o
educando no momento da “prova” (instrumento valorizado para o momento da avaliação)
reproduza o conhecimento transmitido, supervalorizando a capacidade de memória, pois o
aluno é obrigado a responder exatamente o que se respondeu anteriormente durante as
aulas, utilização de questionários para o exercício de fixação.
Nesta concepção a disciplina e a ordem é garantida freqüentemente por meio do
castigo corporal, carteiras enfileiradas, lista de freqüência, horários rígidos, prêmios e
punição, vigilância total.
Conforme Aranha (s.d.) vários teóricos, dentre eles, Erasmo, Rabelais e Montaigne
(Renascimento) se preocuparam com a questão metodológica. Neste sentido, temos João
Amós Comênio (1592-1670) que acreditava que a aprendizagem devia ocorrer a partir do
conhecido; valorizar as experiências, uma aprendizagem que se faz pela ação e voltada para
a ação.
O desenvolvimento das ciências e o avanço da industrialização trouxeram
preocupações específicas à escola tradicional. O acentuado dualismo (uma escola para a elite
e outra para a classe popular) e a necessidade de oferecer aos educandos não só
conhecimentos pautados nas humanidades, mas sim, na formação do espírito científico,
exige, por volta do século XX, mudança.
O modelo tradicional (o novo não supera totalmente os resquícios do velho) não deixa
de existir, mas as idéias escolanovistas passam a fazer parte do contexto histórico, social e
econômico do século XX.
Segundo Aranha (s.d., p.167) a escola nova surge no final do século XIX na tentativa
de propor novos caminhos à educação diante da “impossibilidade de se continuar pensando
em modelos num mundo marcado por transformações sociais, políticas e econômicas que
atingem com rapidez nunca antes experimentada [...]”.
Como a sociedade é dinâmica o homem precisa então passar a se preparar para esta
realidade, para tanto, precisava “aprender a aprender”, assim há uma preocupação maior pela
forma de ensinar e por conseqüência maior interesse no processo de aquisição de
conhecimento do que no produto desse conhecimento propriamente dito.
Enquanto na escola tradicional o professor é o centro do processo na escola nova o
aluno é se torna o centro do processo, cabendo ao professor grande esforço para despertar a
atenção e a curiosidade dos educandos, mantendo a espontaneidade. O professor é
caracterizado apenas como um facilitador da aprendizagem.
13
Quanto à aprendizagem do conteúdo deve resultar da própria experiência do aluno,
Sobre a Escola
Nova, os significa dizer, que as noções gerais não seriam transmitidas pelo professor. O maior avanço
principais que temos na escola nova é o fato de o conteúdo objeto da aprendizagem precisar aqui ser
autores são
Anísio Teixeira, compreendido e não decorado.
Fernando de
A educação nova ou escola nova adota por princípio metodológico o “aprender
Azevedo e
Lourenço Filho. fazendo”. A escola passa a valorizar não só o intelecto, mas também o corpo, por meio de
Mais
informações: atividades de educação física, motricidade. Passa a valorizar também os sentimentos, a
www.revistadepeda emoção, a ação e não apenas a razão.
gogia.com
Existe na escola nova a preocupação de trabalhos individuais, mas não descarta a
possibilidade de realização de trabalhos em grupo, responsáveis pela atividade de
socialização do conhecimento.
Sugestão de A avaliação deixa de ter o caráter punitivo e reprodutivo dos conhecimentos
Leitura: transmitidos e passa a representar apenas uma das etapas de aprendizagem, como um
Sobre Anísio processo válido para o aluno, não para o professor. Valoriza também as atitudes e a aquisição
Teixeira: de habilidades e a competição é substituída pela cooperação e pela solidariedade.
PORTO Jr, Em relação à disciplina existe a necessidade de desenvolver a autonomia e por isso,
Gilson (Org).
Anísio Teixeira
o afrouxamento das normas rígidas com o objetivo de estimular a responsabilidade e a
e a Escola disciplina voluntária.
Pública.
Pelotas, RS: No Brasil o debate sobre a escola nova surge no século XX, na década de 20. Suas
Ed. UFPel, idéias foram expressas em 1932, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova
2000.
(demonstrava defasagem existente entre educação e as exigências do desenvolvimento), cujo
PORTO Jr, Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho foram os principais representantes.
Gilson (Org).
Anísio Teixeira Embora a tentativa da escola nova fosse oportunizar que os filhos de operários
e o Ensino
deixassem de ser proletários, o que ocorreu foi o afastamento ainda maior dessa clientela da
Superior.
Brasília, DF: escola, devido aos altos índices de evasão e repetência. “Contraditoriamente, o ideário da
Ed. Bárbara
Bela, 2002.
escola nova contribuiu para uma maior elitização do ensino, sobretudo no Brasil.” (ARANHA,
s.d, p.171)
Sugestão de
Leitura: 3. Escola Tecnicista ou pedagogia de domínio
Sobre
Fernando de Na convicção que a escola somente se tornaria eficaz a partir do modelo empresarial,
Azevedo: por volta da década de 60 do século XX, surgem propostas de objetivos tecnicistas, baseado
PORTO Jr, na especialização de funções (perspectiva taylorista). A principal mudança nessa escola é a
Gilson (Org). separação entre o setor de planejamento e de execução do trabalho.
Raízes da
Modernidade: Com a necessidade de adequar a educação às exigências da sociedade industrial e
o pensamento
tecnológica a escola tecnicista foi estruturada a partir do modelo empresarial com ênfase à
de Fernando
de Azevedo. mão-de-obra qualificada para a indústria.
Brasília, DF:
Ativa Editora, Na escola tecnicista o conteúdo é transmitido de forma sintetizada, com o objetivo
2004. claro de apropriação do saber científico, exigido pela exacerbação tecnológica, por isso a
preocupação é com a adaptação do indivíduo ao trabalho.
Em relação ao método utilizado para a transmissão dos conteúdos, supõe a divisão
de tarefas. Ao especialista em educação cabe o planejamento racional do trabalho
educacional e ao professor cabe a execução do que foi projetado. Os objetivos são
14
minuciosamente pensados para às mudanças comportamentais esperadas e com metas a
serem cumpridas e organizadas seqüencialmente (buscam-se evitar objetivos vagos).
A avaliação já é projetada no momento em que se organizam os objetivos e durante
a mesma é levado em consideração o cumprimento ou não dos objetivos propostos, com
destaque para o modelo de avaliação “objetiva”.
Os meios didáticos mais utilizados na escola tecnicista são os slides, módulos de
ensino, computadores, ensino a distância, etc. A relação entre professor e aluno não está
voltada para a abertura de debates e argumentações, pelo contrário exige certo
distanciamento afetivo.
A tendência tecnicista, que enfatiza o cientificismo, busca no behaviorismo (base
positivista) a forma adequada para o condicionamento de comportamentos. Por isso a
preocupação com a avaliação objetiva (mensurável) e também com o planejamento com
vistas à economia de tempo, custo e esforços.
A investigação de pequenas partes da realidade passou a ser feita a partir da
fragmentação do saber e da exagerada valorização de especialistas responsáveis por indicar
caminhos de ação. Segundo Aranha,
4. Teorias antiautoritárias
15
democratizar o ensino, conseguia mesmo era reproduzir as diferenças sociais, discriminando
e excluindo do espaço escolar.
Os principais pesquisadores dessa vertente teórica foram Bourdieu, Passeron e
Althusser, os quais escreveram o que veio a ser a teoria da violência simbólica e da escola
como aparelho ideológico do Estado. Pela primeira vez inicia uma discussão em torno da
escola não como uma ilha separada de um contexto social, mas sim levando em
consideração que o sistema social marca os indivíduos em sua formação.
O que é violência simbólica? É a violência exercida por meio da doutrinação política,
da comunicação cultural, da doutrinação religiosa, das práticas esportivas e que impõe as
idéias transmitidas.
Para Passeron e Bourdieu, a escola reproduz as diferenças sociais já existentes,
beneficiando os já socialmente favorecidos e por isso se constitui em um instrumento de
violência simbólica. A institucionalização, burocratizada com práticas escamoteadas
promovem a exclusão e, os alunos que são excluídos reconhecem a si mesmos como
incapazes.
A escola como aparelho ideológico de Estado, discutida por Althusser, ou seja, ao
mesmo tempo que a escola ensina um saber prático, qualificado para o trabalho, a escola
reproduz a ideologia dominante.
Para Althusser (ARANHA, s.d) existem dois tipos aparelhos ideológicos que
favorecem a imposição da ideologia. Aparelho repressivo de Estado que funciona pela
“violência”, pela coerção, punição, isto é, o indivíduo que não cumpre as normas é submetido
a uma punição, desde multa até prisão, sendo compreendidos por Governo, o Exército, a
Administração, os Tribunais, a Polícia, as prisões, os advogados, etc. E os aparelhos
ideológicos de Estado – funcionam não pela repressão, mas pela ideologia. Althusser os
classifica como: Aparelhos Ideológicos de Estado: religioso; escolar; familiar; jurídico; político;
sindical; de informação (rádio, televisão, etc.); cultural (música, esporte, etc.).
A crítica desta corrente teórica insistia que, se a escola continuasse a ser mera
Construtivismo reprodutora das desigualdades sociais, não seria possível exercer a ação pedagógica, que
ou
superasse o modelo de sociedade até então existente.
interacionismo;
Sócio-
construtivismo
ou sócio-
interacionismo, 5. Teorias construtivistas e sócio-interacionistas
ou sócio-critico;
ou sócio- A complexidade do processo de aprendizagem exige da educação novos caminhos.
histórico
significam a Nesse sentido, existem outras possibilidades como, por exemplo, as teorias construtivistas e
mesma coisa. sócio-construtivistas. Nessas teorias prevalece a orientação histórico-social, pela qual o ser
humano se desenvolve pela interação social, pela relação com os outros homens, pela sua
ação sobre o mundo. Os principais representantes dessas teorias são: Vygotsky (1896-1934)
– sócio-interacionista e Jean Piaget (1896-1980) – interacionista.
Para Vygotsky (2003) o desenvolvimento e a aprendizagem acontecem pela
mediação com a cultura, história, ou seja, objetos e/ou signos lingüísticos.
A escola é um espaço para a sistematização do conhecimento produzido
historicamente pela humanidade, o ensino possibilita o desenvolvimento do psíquico humano.
16
O aluno é ativo, que transforma e modifica a sua história, o professor e o colega de
sala, mais velhos, são os mediadores que auxiliam no desenvolvimento dos conceitos
cotidianos para os conceitos científicos (Zona de Desenvolvimento Proximal.)
A relação entre educação e sociedade deve ser pensada no interior do processo de
produção e reprodução do capital; a educação é socialmente determinada de forma dialética e
contraditória; a educação escolar constitui-se em uma instância fundamental para
socialização de conhecimento historicamente acumulado. A educação como atividade
mediadora que se insere de forma contraditória na organização social.
A compreensão do fracasso escolar não como um problema do aluno, mas como um
processo produzido nas condições sociais; nas histórias escolares; nas práticas pedagógicas;
nos mecanismos institucionais; nas relações que se constroem cotidianamente nas escolas.
Repensar e problematizar suas práticas e daí buscar elementos teóricos para transformações
necessárias.
Para Jean Piaget o desenvolvimento humano ocorre a partir de um processo de
equilibrações sucessivas que surge antes da aprendizagem, denominado por ele de estágios
ou fases. Na perspectiva construtivista ou interacionista, a escola é mais aberta sem horários
ou disciplinas rígidas, o ensino é um processo que deve acontecer de forma espontânea.
O aluno aprende a partir da maturação biológica e o professor é um
facilitador/mediador da aprendizagem, mas não deve deixar o ensino à vontade, deve sim,
planejar e avaliar as atividades realizadas. Nesse sentido, Piaget investigou o processo de
aprendizagem tendo por base a criança para compreender o desenvolvimento humano.
Por isso o educador deve estar sempre atento para corrigir as falhas e os erros que
seus alunos apresentam, procurando aproveitar esses erros para compreender o seu modo
de pensar.
Piaget sempre enfatizou a contribuição do educando na construção do seu próprio
pensamento, ou seja, o indivíduo como agente de seu próprio desenvolvimento. Essa maneira
de entender aprendizagem tem implicações marcantes na relação entre o educador e
educando, trazendo assim, contribuições para reformular a prática pedagógica.
17
Científico-Racional = antiga Sócio-crítica = nova
- Cartesiana; - Holística;
- positivista; - crítica;
- tradicional; - sócio-interacionista;
18
- Ordem; - Participação;
- passividade; - aprendizagem transformada;
- cumprimento de normas; - articulador;
- assimilação e reprodução; - pensamento crítico;
- quietude pontualidade; - sistematização;
- atendimento de atividades - construção permanente;
burocráticas; - autonomia, liberdade;
- cumprimento de modelos. - mudança.
Atividade
19
Î Vamos nos organizar em grupos de professores e agentes prisionais que trabalham no
mesmo segmento da EJA.
Î Vamos nos organizar confortavelmente para assistir ao filme “Escola da vida”.
Î Cada grupo fará as anotações necessárias quanto aos modelos de ensino explícitos no
filme, a característica de cada professor, a organização entre os professores, o
comportamento dos alunos frente às atitudes dos professores e as possibilidades de
mudança.
Î Cada grupo sistematizará as observações em forma de um pequeno texto.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, s.d.
FIGUEIRA, Pedro de Alcântara. A educação de um ponto de vista histórico. In:
INTERMEIO: Revista do Mestrado de Educação. Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul, 2002, p.11-16.
MORANDI, Franc. Modelos e métodos em Pedagogia. Tradução de Maria Leonor Loureiro.
Bauru, S.P: EDUSC, 2002.
NETO, Antonio da Costa. Paradigmas em educação no novo milênio. 2. ed. Goiânia:
Kelps, 2003.
20
Unidade 2
Educar pela pesquisa
Objetivos
Introdução
21
Quando nos reportamos a tais indagações, retomamos uma velha (cronologicamente)
discussão, mas atual (pelas implicações) preocupação, pois precisamos ressignificar nossa
prática pedagógica, uma vez que necessitamos oferecer um ensino aos educandos em
questão que possibilite a utilização de seus conhecimentos para além “das quatro paredes”,
mas sim para a vida; e a pesquisa é um dos caminhos para essa prática.
“... o que há de Conforme nos mostra Andery et. al. (1988) o homem é um ser natural que relaciona-
pesquisador no
professor não é se com a natureza para perpetuar sua sobrevivência (processo de construção do sujeito
uma qualidade histórico). Por isso, a ação do homem vai além da determinação biológica, ou seja, sua ação
ou uma forma incorpora experiências e conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração.
de ser ou de
atuar que se A educação e a cultura permitem ao homem a ampliação das experiências e
acrescente à de conhecimentos e assim o homem altera o meio em que vive e altera a si mesmo.
ensinar. Faz
parte da
natureza da As idéias são a expressão das relações e atividades reais do homem,
prática docente estabelecidas no processo de produção de sua existência. Elas são a
a indagação, a
busca, a representação daquilo que o homem faz, da sua maneira de viver, da
pesquisa. O de forma como se relaciona com outros homens, do mundo que circunda e
que se precisa
das suas próprias necessidades. (ANDERY, et. al., 1988, p. 14)
é que, em sua
formação
permanente, o O homem, ao satisfazer suas necessidades materiais (ANDERY et. al., 1988), cria
professor se
perceba e se novas necessidades de forma cíclica. Portanto, educar pela pesquisa é importante uma vez
assuma, que esta atividade se constitui em um recurso para a produção do conhecimento e, porque
porque
não, da ciência. A partir da realização de pesquisas (ANDERY, et. al., 1988) podemos
professor,
como perceber a mudança das concepções que permeiam a realidade, e assim, a atuação para
pesquisador.” obter o conhecimento transformado; um conhecimento que muda, portanto, a forma de
FREIRE, P.
1999, p. 32. interferir na realidade.
Para que seja possível construir o conhecimento tendo a pesquisa como base, se faz
necessário a organização do processo de aprendizagem. Para tanto precisamos nos
instrumentar quanto às possibilidades de realização de um trabalho tendo a pesquisa como
“Não haveria
criatividade processo.
sem a Educar pela pesquisa significa constituir o conhecimento no princípio científico e
curiosidade
que nos educativo. De acordo com Demo (1997, p. 128) “Pesquisa significa diálogo crítico e criativo
move e que com a realidade, culminando na elaboração própria e na capacidade de intervenção.”
nos põe
Ao assumir a pesquisa (DEMO, 1997) como princípio educativo oferecemos aos
pacientement
e impacientes novos educandos a possibilidade de questionar e construir alternativas, hipóteses de
diante do conhecimento e neste sentido o trabalho do educador exige profunda competência e
mundo que
não fizemos, renovação incessante.
acrescentand A proposta do aprender pela pesquisa evita que a aprendizagem seja simples repasse
o a ele algo
de conhecimento, cópia. Demo (1997, p. 128) sugere que “quem pesquisa, tem o que
que
fazemos”. ensinar”; deve, pois, ensinar, porque “ensina” a produzir, não a copiar. Quem não pesquisa,
FREIRE, P. nada tem a ensinar, pois apenas ensina a copiar.
1999, p. 35
22
É fundamental o ensino e a aprendizagem a partir da pesquisa, uma vez que esta
aponta para a direção correta da aprendizagem, que deve acontecer pelo princípio da
“autonomia para aprender”.
Ensinar a pesquisar sugere a superação da mera aprendizagem do repasse para abrir
caminhos ao pesquisador capaz de projetos próprios.
Não tem sentido pedagógico o mero repasse copiado, por mais que
coloque um professor na frente de um conjunto de alunos. [...] Contato
pedagógico próprio [...] é aquele mediado pela produção/reconstrução de
conhecimento (DEMO, 1997, p. 130)
23
apenas de uma árvore que se destaca pelas qualidades que apresenta. Significa, que
precisamos ter na nossa prática a constante ação da interdisciplinaridade de nossas ações.
A aula conduzida pelo princípio da pesquisa indica a construção do conhecimento por
meio do questionamento reconstrutivo, possibilitando compreender o conhecimento como
processo de construção do sujeito histórico.
Segundo Demo (1997) para que aconteça uma educação emancipatória é
fundamental que a educação ocorra através da pesquisa. Neste sentido afirma que o trajeto –
primeiro pressuposto – coincidente tanto para a educação – quanto para a pesquisa é:
a) se postar contra a ignorância;
b) valorizar o questionamento;
c) se dedicar ao processo reconstrutivo;
d) incluir a relação entre teoria e prática;
e) se opor à condição de objeto;
f) se opor aos procedimentos manipulativos;
g) condenar a cópia.
24
c) oportunizar aos educandos o exercício da formulação própria, do bom uso da
lógica, da argumentação, da crítica e da autocrítica;
d) instrumentalizar os estudantes da EJA para a realização da interpretação coerente
de autores, pesquisadores, criadores, professores, procedimento esse que favorece a ação
criativa que indica a capacidade de questionar e reconstruir; não para imitar, mas para
desenvolver a capacidade de síntese, de elaboração textual;
e) tornar o questionamento reconstrutivo atitude cotidiana na escola, no qual a leitura
constante e a elaboração textual sejam algo normal, assim como a feitura de trabalho
próprio, o esforço de equipe bem organizado e produtivo.
Nesta perspectiva o educador precisa atentar-se para algumas qualidades
significativas em sua prática cotidiana, qualidades estas que oferecerão aos estudantes de
EJA um ensino mais profícuo:
A
Por isso, uma das atividades imprescindível na formação no nosso aluno de EJA do compreensão
do texto a ser
sistema prisional é a aprendizagem através da pesquisa. Aprender pesquisando significa,
alcançada por
dentre outras aprendizagens, saber fazer uma boa leitura, aprender a ler o texto não apenas sua leitura
levando em consideração às partes, mas sim, pela correlação que essas partes mantêm entre crítica implica
a percepção
si. das relações
entre o texto e
o contexto.
“Isso nos leva à conclusão de que, para entender qualquer passagem de
um texto, é necessário confrontá-la com as demais partes que o compõem
sob pena de dar-lhe um significado oposto ao que ela de fato tem (FIORIN
& SAVIOLI, 2002, p.12)
Para fazer uma boa leitura, precisa-se sempre considerar o contexto em que a
mensagem, ou a idéia, a ser lida está inserida. O ato de ler e ler bem, nos auxilia nas várias
interpretações a cerca de um material pesquisado, pois uma leitura rudimentar dificulta a
25
elaboração do pensamento crítico e de uma atuação mais fluente frente à construção do
conhecimento.
26
A idéia básica não está localizada em um ponto perfeitamente identificável do texto,
não se constitui em uma ou duas frases do texto. A idéia básica anima o texto inteiro,
podendo transparecer mais claramente em certas frases do que em outras. Tendo em vista
essas considerações, podemos tentar apontar algumas regras para a realização dessa leitura
com o objetivo da aprendizagem por meio da pesquisa.
1ª regra: ler inicialmente o texto inteiro, para obter uma visão de conjunto do todo:
nesta leitura, deve-se procurar prestar atenção apenas para as idéias mais importantes,
deixando-se de lado os detalhes (repetições, exemplos, etc.); em seguida é importante
realizar mentalmente ou por escrito, um apanhado geral das idéias que formam um conjunto,
sem consultar o texto novamente.
2ª regra: na segunda leitura, tentar identificar as partes do texto que contêm as idéias
secundárias, bem como o modo como estão relacionadas. Nesta leitura é interessante se ater
exatamente nos itens sugeridos a serem deixados de ler durante a primeira leitura.
Para Bruni (s.d), a idéia básica de um texto destacada na primeira regra, a estrutura
do texto identificada na segunda regra e os conceitos descritos na terceira regra, podem ser
chamados de níveis do texto. A leitura correta é aquela que consegue apreender os níveis do
texto sem confundir um com o outro. Claro que existem outros níveis, mas para nós o mais
interessante neste módulo é podermos realizar uma leitura mais fluente para facilitar nosso
processo de pesquisa e por conseqüência de aprendizagem.
Um fragmento
Quais são os elementos estruturais de um texto? que trata de
diversos
Quando realizamos uma pesquisa é interessante que consigamos identificar esses assuntos não
pode ser um
elementos, uma vez que os mesmos nos direciona à compreensão do texto pesquisado. Um
texto. Da
texto (MEDEIROS, 2003) se estrutura pelo saber partilhado – aquela informação antiga, que mesma forma,
é de conhecimento da maioria e geralmente aparece na introdução; a informação nova – se lhe falta
coerência, se
característica para a existência de um texto, pois sem uma idéia nova não existe a as idéias são
necessidade de um texto ou pesquisa. Um texto ou uma pesquisa só se configura como tal contraditórias,
também não
quando veicula uma informação que não era de conhecimento do leitor; a informação nova
constituirá um
serve para desenvolver o texto, expandi-lo. texto.
(MEDEIROS,
Em síntese, quando do momento da realização da leitura para a sistematização da 2003, p. 137)
pesquisa é necessário que os alunos em ressocialização identifiquem: o assunto do texto; o
objetivo do texto; a articulação das idéias; as conclusões do autor do texto. Claro que
depois do processo de leitura, quando nossos alunos forem sistematizar suas idéias,
precisamos orientá-los para que redijam com linguagem objetiva; que evitem repetição de
frases inteiras do texto original; que respeitem a ordem em que as idéias ou fatos são
apresentados; que a redação da pesquisa seja compreensível ao ponto de dispensar a
consulta ao original.
27
Tipos de pesquisa
28
respeito ao processo de sala de aula (agentes prisionais e educandos); a terceira dimensão
abrange a história de cada sujeito manifesta no cotidiano.
Enfim, aprender pela pesquisa significa, estudar os conteúdos escolares em sua
singularidade, sem desvinculá-los das suas determinações sociais, e isso vai exigir, do ponto
de vista teórico, o manejo da cultura, da sociedade como um todo. É aprender de forma
crítica, criativa e reflexiva.
Atividade
Professores, professoras e agentes prisionais vamos mais uma vez colocar em prática
o que estudamos!
Referências
ANDERY, Maria Amália. et.al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica.
4.ed. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988.
BRUNI, José Carlos. Como ler. Maringá: Universidade Estadual de Maringá. Departamento
de Letras, s.d. (MIMEO)
DEMO, Pedro. O desafio de educar pela pesquisa na Educação Básica. In: Educar pela
pesquisa. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.
DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. 11. ed. Petrópolis, R.J.: Vozes, 2001.
FAZENDA, Ivani. Metodologia da pesquisa educacional. 8.ed. São Paulo: Cortez, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 42.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. 16. ed. Para entender o texto: leitura e
redação. São Paulo: ática, 2002.
29
PRETI, Oreste. A aventura de ser estudante: um guia metodológico – Os caminhos da
pesquisa. Cuiabá: Universidade Federal do Mato Grosso, NEAD, 2000.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas.
5.ed. São Paulo: Atlas, 2003.
SANFELICE, José Luiz. Educação, trabalho e ética. In: LOMBARDI, José Claudinei et.all.
(Org). Ética e Educação: Reflexões filosóficas e históricas. Campinas, SP: Autores
Associados, 2005.
30
Unidade 3
Pedagogia de Projetos
Objetivos
• Compreender o que é um projeto e suas etapas de elaboração;
• Aplicar os conhecimentos construídos na elaboração de projetos com os
conteúdos da proposta curricular da EJA.
Introdução
Considerando que o projeto é elaborado antes da realização das ações que nos
levam a alcançar determinados objetivos, pode-se afirmar que ele se constitui em algo irreal,
ou seja, “como esboço, desenho, guia de imaginação ou semente de ação, um projeto
significa sempre uma antecipação, uma referência ao futuro” (MACHADO, 2000, p.63). Ele
começa a se tornar em algo real e concreto no momento em que as ações começam a
acontecer efetivamente e podemos avaliar se estamos alcançando ou não os objetivos a que
nos propomos no momento do planejamento. Planejar um projeto que não será colocado em
prática é um desperdício do valioso tempo que temos!
31
Esse conceito amplo de projeto refere-se a sua realização em qualquer âmbito da
nossa vida, seja ela pessoal, profissional ou acadêmica. Ao relacionarmos seu foco no
desenvolvimento das propostas curriculares na educação formal, veremos que é possível
trabalhar com projetos em qualquer etapa escolar, independente da idade dos alunos. Nesse
contexto, os projetos
Nesse sentido, considerando que o trabalho com projetos tem sustentação nos
fundamentos do sócio-interacionismo e do construtivismo, e que podemos agregar a ele os
princípios da educação crítico-emancipatória, sua presença é indispensável no trabalho da
EJA no sistema prisional, pois esses alunos possuem características que lhe são peculiares,
as quais são atendidas através dos procedimentos metodológicos desenvolvidos. As
características desse trabalho reforçam esses argumentos:
32
- um projeto envolve complexidade e resolução de problemas: o objetivo
central do projeto constitui um problema ou uma fonte geradora de
problemas que exige uma atividade para sua resolução;
- um projeto percorre várias fases: escolha do objetivo central, formulação
dos problemas, planejamento, execução, avaliação, e divulgação dos
trabalhos. (ABRANTES apud GIROTTO, 2005, p. 92)
Etapas de um projeto
2ª Etapa: Planejamento.
33
da sistematização. Entretanto esse é outro equívoco que precisa ser esclarecido, pois, se o
professor planejar sozinho o projeto e levá-lo pronto para seus alunos, perderá a oportunidade
de proporcionar a construção de significativas aprendizagens.
Um projeto que busca proporcionar aos alunos a construção de conhecimentos, da
autonomia e da criticidade, precisa desafiá-los o tempo todo, inclusive no momento do
planejamento, pois
O professor assume um papel de suma importância nessa etapa do projeto, pois tanto
melhor será o planejamento dos alunos quanto mais eles forem questionados. Esses
questionamentos podem seguir roteiros diversos e os alunos poderão apresentar os mais
variados tipos de respostas, dependendo da faixa etária com a qual trabalhamos.
Considerando o trabalho com alunos jovens e adultos do sistema prisional, os quais já
possuem uma história de vida com uma bagagem significativa de conhecimentos teóricos e
práticos, a elaboração do planejamento do projeto poderá ser problematizada pelo professor a
fim de aproveitar ao máximo seu potencial.
A seguir apresentamos uma seqüência de questionamentos, reorganizados a partir da
proposta de Nogueira (2003), os quais se constituem em um roteiro para esse momento de
trabalho com os alunos, não uma receita pronta e inquestionável.
34
O que precisamos?
Considerando que nosso trabalho direciona-se para alunos jovens e adultos, podemos
fazer um trabalho gradativo de aprendizagem da construção de projetos em virtude da sua
maturidade e da necessidade da sua inserção no mundo do trabalho com melhores condições
de concorrer às poucas vagas existentes na constituição da sociedade globalizada e
neoliberal em que estamos inseridos. Se tivermos presente esse objetivo, a etapa do
planejamento do projeto assume uma relevância social significativa no processo educativo
que desenvolvemos.
Para isso, podemos realizar nosso trabalho da seguinte maneira:
¾ inicialmente os alunos são desafiados, em grupos, a responderem aos
questionamentos da segunda coluna, constituindo as partes do projeto com os títulos
da primeira (o que, o que já sabemos, por quê, para que, como, quando, quem,
recursos);
¾ posteriormente, assim que o professor percebe uma maior compreensão dos alunos
sobre as partes que compõem o projeto, os títulos podem ser substituídos pelos
sugeridos na terceira coluna (tema, fundamentação teórica, justificativa, objetivos,
metodologia, cronograma, atribuições e recursos), os quais indicam um avanço na
sua aprendizagem.
Em ambas as situações, após a elaboração do trabalho em grupos, é necessário
haver uma plenária de socialização para a construção coletiva do projeto da turma. Cada
grupo apresenta as respostas que elaborou para cada questionamento e a turma, num
processo de diálogo e argumentação, decide sobre a permanência ou não das idéias,
construindo um projeto coletivo. Esse momento se constitui em um importante momento de
aprendizagem, pois proporciona a defesa de idéias, a tomada de decisões coletivas, a
cooperação etc., colaborando para a vivência de um processo participativo e democrático, tão
necessário na construção da consciência crítica (FREIRE, 2005) sobre o mundo em que
vivemos.
35
que pode auxiliar na disponibilização dos recursos, materiais e humanos, necessários à
montagem, bem como neste momento deve exercer seu papel de membro ativo e participante
do grupo” (NOGUEIRA, 2003, p.101). Além disso, ele assume também o papel de mediador
em relação às dúvidas que surgirem no desenvolvimento das ações planejadas, orientando e
reorientando sempre que for necessário.
O tempo de realização do projeto vai depender da etapa anterior, ou seja, das
decisões do grupo no momento do planejamento. Há projetos de curta, média e longa
duração. Cabe ao professor analisar seu planejamento em relação ao conjunto de assuntos
da proposta curricular a serem estudados no decorrer do período letivo, para orientar também
a questão do tempo de execução e realização.
4ª Etapa: Depuração.
A etapa da depuração é abordada por outros autores como a avaliação, a qual deve
acontecer durante e após a realização do projeto. Nogueira (2003, p.102) destaca esse
momento como a “possibilidade de estarmos ‘provocando’ a melhoria da qualidade e da
aprendizagem dos projetos [...] quando solicitamos a análise e reflexão de tudo que já foi
elaborado na fase de execução”.
Nesse sentido a depuração acontece no decorrer da etapa anterior, ou seja, durante a
realização das ações planejadas promovem-se momentos de parada para refletir sobre as
aprendizagens construídas, as produções já elaboradas, as ações que precisam ser
aprimoradas etc. Enfim, é o momento de auto-avaliar-se e avaliar o grupo, replanejando,
reelaborando e mudando os percursos se for necessário.
Novamente o papel do professor é importante em virtude dos questionamentos que
proporciona, provocando a autocrítica e a auto-avaliação. Nogueira (2003, p.103) apresenta
algumas sugestões para esse momento:
36
Além disso, esse momento se caracteriza como mais um desafio, pois os alunos
precisam se preparar bem para explicar aos outros com clareza e criatividade. Com isso, seu
esforço e dedicação são valorizados, pois outras pessoas, que não estavam envolvidas no
processo, têm a oportunidade de ser ensinadas por eles.
Para o professor a etapa da apresentação e exposição é também um momento de
avaliar as aprendizagens construídas por cada um dos alunos, pois “no processo de
apresentação o aluno expõe tudo aquilo que aprendeu/descobriu a respeito da temática em
questão” (idem, p.105).
37
Isto sem contar que contribui para elevar a auto-estima, possibilitando que
os projetos pessoais de vida se descortinem com mais objetividade.
Atividade
Leituras Complementares
38
AMARAL, Ana Lúcia. Conflito conteúdo/forma em pedagogias inovadoras: a pedagogia
de projetos na implantação da escola plural. Disponível em:
<http://www.anped.org.br/23/textos/0403t.PDF>. Acesso em: 25 jul. 2006.
GIROTTO, Cynthia Graziella Guizelim Simões. A (re)significação do ensinar-e-aprender: a
pedagogia de projetos em contexto. Disponível em:
<http://www.unesp.br/prograd/nucleo2005/index.php>. Acesso em: 25 jul. 2006.
Referências
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 6 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 42.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GARCIA, Olgair Gomes. Porque trabalhar com projetos no Ensino Médio. Revista de
Educação AEC, Brasília, DF, n. 113, p. 35-48, 1999.
GIROTTO, Cynthia Graziella Guizelim Simões. A (re)significação do ensinar-e-aprender: a
pedagogia de projetos em contexto. In: NÚCLEOS DE ENSINO DA UNIVERSIDADE
ESTADUAL PAULISTA. São Paulo: Editora Unesp, 2005. Disponível em:
<http://www.unesp.br/prograd/nucleo2005/index.php>. Acesso em: 25 jul. 2006.
HERNÁNDEZ, Fernando, VENTURA, Monteserrat. A organização do currículo por projetos
de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
MACHADO, Nilson José. Educação: projetos e valores. 3ª ed. São Paulo: Escrituras, 2000.
NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos Projetos: uma jornada interdisciplinar rumo ao
desenvolvimento das múltiplas inteligências. 4ª ed. São Paulo: Érica, 2003.
PAGANINI, Elizabete Lyra. Contribuições da pedagogia de projetos no Ensino Médio de
jovens e adultos. [S.d.]. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/not08.pdf>.
Acesso em: 25 jul. 2006.
39
Unidade 4
Metodologia da Problematização
Objetivos
Introdução
40
coisas quando defendemos que, uma das maneiras de trabalhar os conhecimentos do
currículo, é abordá-los através da problematização.
Existem vários motivos que nos levam a trazer essa temática para o estudo nesse
contexto. Um deles já abordamos na introdução: uma aprendizagem com significado para a
vida dos alunos. Quando assumimos um trabalho na perspectiva da construção dos
conhecimentos, essa significação caracteriza-se como algo importante, pois aprendemos
realmente aquilo que tem algum tipo de relação com o que já sabemos, a partir das nossas
vivências, conforme veremos na apresentação dos procedimentos metodológicos dessa
proposta.
Outro motivo é a relação direta que essa metodologia assume com a realidade social.
O ponto de partida e o ponto de chegada da Metodologia da Problematização é a realidade
social dos alunos. Essa perspectiva é importante pela necessidade que temos de trabalhar
com uma educação crítica que amplie o olhar das pessoas sobre o contexto em que vivem,
atuando sobre ele para promover melhorias na qualidade de vida.
Um terceiro motivo que podemos destacar são os procedimentos metodológicos
vivenciados pelos alunos, pois levam estes a pensar, analisar, criticar, levantar hipóteses,
buscar soluções, pesquisar etc. Enfim, os alunos são provocados a saírem da posição
cômoda de receber tudo pronto do professor para serem os protagonistas do processo de
aprendizagem. Apesar disso, eles não agem sozinhos, decidindo aleatoriamente o que
desejam fazer. O professor, tendo clareza dos objetivos que deseja alcançar, media, orienta,
questiona e acompanha os grupos de trabalho.
Além dos três motivos apresentados, os quais constituem os principais, existem
outros, que serão discutidos no decorrer da apresentação das etapas de realização da
metodologia.
41
A Metodologia da Problematização acontece a partir de uma seqüência de cinco
etapas, as quais estão intimamente relacionadas entre si. Hengemühle (2004, p. 103) fez uma
adaptação do Arco de Charles Maguerez, apresentando a seqüência da seguinte maneira:
PASSO 3: Teorização.
Assim como Hengemühle (2004) fez uma adaptação do Arco de Maguerez, também
apresentamos uma pequena modificação na transcrição da figura. O quadro que representa o
ponto de partida e de chegada é apresentado vazio por Hengemühle, e explicado no decorrer
do seu texto. Tendo em vista a necessidade de explicitarmos com clareza nossas
intencionalidades, consideramos importante completá-lo com a idéia que precisa ser
comunicada ao leitor: o ponto de partida e de chegada é a realidade, o contexto social dos
alunos.
Apresentadas as devidas ressalvas, vamos agora às explicações de cada etapa da
Metodologia da Problematização.
42
Convém destacar que, “nesse momento o foco é a situação-problema, o conteúdo não
deve ser nem abordado” (idem, 2004, p.104). Essa metodologia muda radicalmente a maneira
como estamos acostumados a começar o trabalho com a maioria dos conteúdos do currículo.
Normalmente chegamos numa aula em que vamos começar um conteúdo novo e já
“entregamos o peixe”, ou seja, falamos o que será estudado e imediatamente iniciamos as
explicações.
A Metodologia da Problematização nos desafia a mudarmos a seqüência das nossas
aulas. Seria como “virar do avesso” aquilo que estamos rotineiramente acostumados a fazer
na nossa profissão de professores. Seu questionamento e sua preocupação nesse momento
deve ser: mas então nessa metodologia o conteúdo não será explicado aos alunos? O
conteúdo deixou de ser importante? Essa é uma conclusão precipitada. Esse momento da
aula acontece e continua tendo a mesma importância, porém o que muda é o seu “lugar” na
seqüência dos procedimentos desenvolvidos com os alunos.
Com essa proposta vamos “ensinar o aluno a pescar”, ao invés de “entregar do
peixe”. O fato de não dizer o conteúdo que será trabalhado e não explicá-lo logo no início,
provoca nos alunos a necessidade de uma busca por respostas aos problemas levantados,
provoca o desejo de aprender. Esse processo fundamenta-se em Piaget, quando este
pesquisador defende que a aprendizagem, independente da faixa etária, acontece por
processos sucessivos de equilíbrio – desequilíbrio – equilíbrio. O conflito cognitivo (PIAGET
apud TAFNER, 1999) é um momento importante para que a aprendizagem se concretize.
Através dele as pessoas são motivadas a buscar respostas, pois são desequilibradas nos
conhecimentos até então aprendidos sobre um determinado assunto. A busca desse novo
equilíbrio é o que move a Metodologia da Problematização para os próximos passos.
43
[...] em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos
que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente,
memorizam e repetem. Eis aí a concepção “bancária” da educação, em
que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de
receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los.
ZONA DE
DESENVOLVIMENTO
PROXIMAL
Nível de Nível de
Desenvolvimento Desenvolvimento
Real Potencial
44
hipóteses para os problemas identificados na realidade, estamos resgatando essas
aprendizagens já construídas anteriormente e provocando o estabelecimento dessas
relações.
É possível ainda encontrarmos fundamentação para essa etapa em Meirieu (1998),
quando ele defende a necessidade de estabelecermos pontos de apoio entre aquilo que
desejamos ensinar ao aluno e aquilo que desperta seu interesse, sua curiosidade, seu desejo
de aprender. Para saber quais são os pontos de apoio dos seus alunos, é necessário que o
professor conheça seus alunos, aproxime-se da sua história de vida. Caso contrário, não
conseguirá “articular um aporte, onde instalar um mecanismo para ajudar o sujeito a crescer”
(MEIRIEU, 1998, p. 40).
A diferença entre os organizadores prévios (AUSUBEL apud MOREIRA, 1999) e os
pontos de apoio (idem, 1998) encontra-se no fato de que o primeiro centra seu olhar em
aspectos cognitivos, ou seja, tanto em estruturas mentais quanto em conhecimentos já
construídos pelos alunos. Já o segundo inclui, além desses aspectos, questões de ordem
afetiva, motora, social etc., ampliando as possibilidades e olhando o aluno na sua totalidade.
Para concluirmos essa parte, convém destacarmos um aspecto importante que o
professor deve considerar. Os alunos devem ser orientados para o registro de todas as suas
hipóteses, pois serão o material de referência para os procedimentos do 4° Passo da
metodologia. Além disso, o professor precisa se controlar para não dar as respostas corretas.
Nesse momento todas as respostas são válidas, inclusive aquelas que assumirem um
caminho totalmente equivocado e que levarão a resultados impossíveis para o problema
observado.
3° Passo: Teorização
45
Com isso, o conteúdo passa a ter um significado muito maior do que se fosse
simplesmente apresentado e explicado pelo professor para que depois os alunos fizessem os
exercícios. Há uma aplicação do assunto estudado, uma relação direta com a vida, com a
realidade, o que muda significativamente a importância de estudá-lo.
Nesse momento os alunos voltam nos registros das hipóteses que levantaram
no 2° passo e analisam criticamente as respostas e explicações que apresentaram, validando-
as, negando-as ou substituindo-as. Por esse motivo é imprescindível que os alunos registrem
suas hipóteses naquele momento, pois se ficar somente no plano da oralidade, o 4° passo
fica prejudicado. Se acontecer de algum aluno não conseguir compreender os equívocos que
porventura registrou nas hipóteses antes da teorização, o professor precisa mediar e
questionar seu processo de construção, pois isso indica que ele está apresentando
dificuldades na compreensão do conteúdo trabalhado.
46
Nesse momento chegamos novamente no ponto de partida. O aluno é desafiado a
voltar para a realidade, porém agora com um novo olhar, tendo condições de analisá-la com
mais propriedade, percebendo a complexidade das relações que se estabelecem com os
problemas estudados. Nessa volta à realidade é importante que, sempre que possível, seja
realizada uma intervenção na perspectiva de melhorias.
Atividade
48
Nesse momento vamos “colocar as mãos na massa”! É hora de colocar em prática o que
aprendemos!
Referências
49
Unidade 5
Estudos da sociedade e da natureza
Objetivos
• Compreender a importância da contextualização dos conteúdos de História e
Geografia;
• Construir planejamentos com as estratégias metodológicas estudadas,
contextualizando os conteúdos.
Introdução
50
O ensino de história no sistema prisional deverá possibilitar o professor e o agente
prisional fazer uma síntese dialética entre o saber científico e o saber popular, como já
discutido no módulo de metodologia de ensino de ciências.
Neste sentido, a prática metodológica do ensino de história deve superar o modelo
que prevê um programa estruturado, assim como qualquer tipo de exercícios mecânicos para
verificação da aprendizagem. O relacionamento professor, agente prisional e preso deve
acontecer na horizontalidade onde juntos se posicionam como sujeitos do ato do
conhecimento.
51
Portanto, a consciência histórica tem uma ‘função prática’ de dar
identidade aos sujeitos e fornecer à realidade em que eles vivem
uma dimensão temporal, uma orientação que pode guiar a ação,
intencionalmente, por meio da mediação da memória histórica.
(SCHIMIDT & GARCIA, 2005, p.301).
Os arquivos familiares (documentos, fotos e outros) são objetos que podem ser
analisados e interpretados permitindo a relação entre a história por eles vivenciada e outras
histórias narradas. Essa se constitui na mais difícil tarefa do ensino de história, ou seja, a
dificuldade em relacionar a história vivida e a história percebida, porque o conhecimento
veiculado em materiais escolares (manuais, livros didáticos) aponta um conhecimento
anônimo, impessoal e desvinculado da prática social.
O ensino de história vai além das comemorações cívicas, tem de formar a consciência
histórica crítico-genética (SCHIMIDT & GARCIA, 2005): crítica porque permite formular pontos
de vista históricos, por negação de outras posições e genética porque permite considerar
diferentes pontos de vista que podem ser aceitos por se articular em uma perspectiva mais
ampla de mudança temporal.
A elaboração da consciência histórica exige o desenvolvimento argumentativo,
rompendo com a linearidade de determinadas narrativas históricas.
Atualmente (SIMAN, 2005) é necessário que o ensino de história possibilite a
compreensão do Brasil e do mundo como resultante de múltiplas memórias originárias da
diversidade das experiências humanas, diferentemente da memória de um passado linear e
homogêneo de uma elite. Possibilitando assim, o estabelecimento de relações entre
representações sociais e memória coletiva e ao sistema de normas ao qual este se refere.
52
De acordo com Siman (2005) a política curricular atual de ensino de história deve
formar o indivíduo capaz de compreender a história do país e do mundo resultante de
múltiplas memórias originária das diversas identidades e experiências.
O processo de elaboração de identidade e experiências se desenrola na relação entre
o sujeito e o social, mediado pelas representações sociais, ou seja, o homem se modifica em
sua relação com o mundo à medida que ele recria a realidade social.
53
As reflexões espaciais (MATIAS, 2006) são essências aos indivíduos em nossa
sociedade atual. Neste sentido, o conhecimento geográfico deve estar presente no contexto
social como forma de emancipação, permitindo que o aluno não só conheça o espaço
geográfico, mas também as relações do homem com a natureza, o desenvolvimento social, a
produção agrícola e industrial, o progresso científico, questões que fazem parte tanto da vida
privada, quanto da vida pública. Significa desenvolver “uma consciência espacial das coisas,
dos fenomênos, das relações sociais que travam o mundo.” (Lima & Vlach, 2002)
Significa que somos responsáveis em oportunizar nossos alunos a construírem os
conceitos básicos da geografia que são: o orientar, o localizar e o apresentar; habilidades
desenvolvidas amplamente com a utilização da cartografia no ensino de Geografia. “Não
basta o mapa ser um instrumento, é necessário antes saber decodificá-lo, pois estamos
tratando de um meio de comunicação, de informação e não de ilustração pura e simples”.
(MATIAS, 2006, p.251)
Imagens são importantes ferramentas para os educadores em sala de aula, quando o
assunto é interpretação de espaços geográficos, daí a utilização de mapas, gráficos, etc.,
elementos essenciais para a aprendizagem da geografia.
O processo de escolarização nesta perspectiva deve reforçar as características
cognitivas dos alunos, seus espaços de vivência, suas percepções e para isso, a mediação
pedagógica deve acontecer na perspectiva histórico-cultural, no sentido de uma
aprendizagem mais significativa e duradoura, ou seja, na perspectiva da construção e não da
simples transmissão.
Coutinho e Moreira (apud MATIAS, 2006, p. 259) sugerem que para que a mediação
pedagógica no ensino de Geografia aconteça de forma satisfatória é essencial:
Procedimentos didático-pedagógicos, como os de estimular comparações,
criar contradições e a partir de questões polêmicas, os de proporcionar o
desenvolvimento da linguagem oral e escrita, bem como do uso de
conceitos científicos em substituição ou elaboração dos conceitos
espontâneos [...].
Segundo Pontuschka (2000) talvez a tarefa do professor (ou agente prisional) consista
em educar um jovem ou um adulto para não se deixar enganar pela televisão, rádio, jornais,
cinema. O trabalho pedagógico deve contribuir para tornar nossos estudantes menos
ingênuos diante daquilo que chamamos de sociedade e de realidade.
A todo momento quando organizamos o planejamento em geografia e também em
outras disciplinas precisamos questionar que caminhos podemos seguir para que o nosso
trabalho em sala de aula permita ao aluno compreender o espaço geográfico, dialogar com
ele e assim ampliar a sua visão de mundo; conhecer o seu papel na sociedade em uma
economia mundializada e de vida globalizada?
Além disso, conforme afirma Pontuschka (2000, p.146) é necessário indagações
como:
para que ensinar Geografia? O que ensinar em Geografia? Como ensinar
Geografia? Que recursos didáticos selecionar e como utilizá-los? Como
nos relacionar com as demais disciplinas do currículo, considerando que
todas elas têm papel significativo na formação de um cidadão? Como fazer
com que o trabalho pedagógico com a Geografia contribua para a vida do
54
estudante em suas múltiplas dimensões? São questões permanentes que
nós professores nos fazemos constantemente e que está difícil para o
professor de Geografia responder para si próprio, para seus companheiros
de escola e para os seus estudantes.
55
Estratégias metodológicas para os estudos da sociedade e da natureza
1. Vídeo
Conforme sugere Moran (1995) o vídeo auxilia o professor ou agente prisional, atrai
os alunos, mas não resolve imediatamente o problema crônico do ensino e da aprendizagem.
Possibilita a aproximação entre a sala de aula e o cotidiano vivido, a linguagem, a cultura, os
hábitos, os costumes. O vídeo proporciona experiências concretas, do visível, do imediato.
Podemos experimentar o mundo.
56
Como conteúdo é quando utilizamos o vídeo sobre um determinado assunto direta
ou indiretamente, respectivamente quando informa sobre um tema especificamente e quando
permite abordagens múltiplas e interdisciplinares.
Vídeo como expressão quando entregamos a câmera nas mãos dos alunos e lhes
permitimos que organizem seus documentários. Os alunos podem ser orientados a
produzirem dentro de uma determinada matéria ou disciplina.
O vídeo espelho oportuniza a análise do grupo e para acompanhar o comportamento
de cada um. Além disso, possibilita ao professor perceber sua forma de trabalhar, sua
comunicação, suas qualidades e dificuldades.
2. Dramatização.
Segundo Silveira (2000) são as dinâmicas grupais: jogos, técnicas didáticas,
vivências, exercícios que dinamizam o grupo para a realização de seus objetivos.
57
A dramatização (ANDRADE, 2000) vem se revelando uma estratégia eficiente para o
desenvolvimento da criatividade e da espontaneidade no grupo de alunos e professores em
sala de aula. Neste sentido, as possibilidades do teatro como estratégias pedagógicas,
consiste em trazer para a sala de aula as técnicas do teatro e aplicá-las na comunicação do
conhecimento. O teatro conforme sugere Cobra (2003) é um poderoso meio para gravar na
memória do aluno um determinado conhecimento ou tema ou para levá-lo a refletir sobre os
valores morais.
[...] Aqui a escolha dos temas e dos protagonistas requererá maior cautela
e cuidado, devido às tensões geralmente presentes. [...] a quem conhece
viciados em drogas, ou que pode enumerar variedades de drogas, dar o
papel de um assistente social, ou de um personagem que procura salvar
viciados, ou ainda o papel dramático de um viciado que deseja recuperar-
se [...]. (COBRA, 2003, p.1)
58
Enfim, o teatro como ferramenta pedagógica possibilita a superação do preconceito, o
medo do ridículo, o medo da exposição, a irresponsabilidade, a indisciplina, a
desorganização, o desperdício de tempo, de falar e não ser aceito, a impaciência, a
anciedade, o processo de criação a autocrítica, dentre outros.
A construção do conhecimento exige o exercício do pensar, por isso, cada vez mais
necessitamos de estratégias de ensino mais diversificadas,neste sentido a utilização de jogos
em disciplinas de história e geografia se constitui em um desafio, que de acordo com
Fermiano (2002) possibilita a coordenação de pontos de vista e de ações, a problematização
de situações, garantindo a construção do sentido no espaço escolar a partir de processo
históricos, estabelecendo o diálogo entre os tempos passado e presente.
No ensino de história e de geografia destaca-se a necessidade da problematização,
da construção de conceitos, da contextualização espaço-temporal e assim, entende-se que o
jogo oportuniza suprir estas necessidades.
Embora seja comum a utilização de jogos na disciplina de matemática, o jogo é uma
ferramenta de ensino que impõe regras, desafio, dúvida ao jogar e por isso mesmo constitui-
se em instrumento possibilitador de articular o pensar e o refletir, proporcionando um ensino
de história e de geografia mais significativo e consciente. “Podemos dizer que a utilização do
jogo no ensino de história [e de geografia] possa ser considerada uma nova ‘linguagem’”.
(FERMIANO, 2002, p.4)
Significa dizer conforme Raths apud Fermiano (2002) que o jogo precisa ser utilizado
como alternativa pedagógica para propor ações intelectuais que proporcionem a seriação, a
classificação, comparação, criação, imaginação, observação, análise, elaboração de
hipóteses, planejamento, discussão, busca de dados, ou seja, atividades que ensinem a
pensar, requisito necessário para um indivíduo reflexivo e atuante no meio em que vive,
sendo assim agente de sua história, da sua identidade e não apenas passivo a ela.
Tudo isso é exercício de pensamento, que exige o estabelecimento de relações entre
a história individual e a história passada ou a que se processa no presente. A utilização do
jogo para a construção desses raciocínios não significa esvaziar a aula de conteúdos, mas
utilizá-lo como princípio de ação do pensamento e para a compreensão dos aspectos
abstratos, ampliando a compreensão do que está a sua volta.
4. Cartografia
Para Freire (2005) a leitura do mundo precede a leitura da palavra, por isso parte-se
do pressuposto que a leitura do mundo é requisito fundamental para que todos nós, que
vivemos em sociedade. Neste sentido, segundo Callai (2005, p.6) uma “forma de fazer a
leitura do mundo é por meio da leitura do espaço, o qual traz em si todas as marcas da vida
dos homens”.
Para ler o espaço (CALLAI, 2005; SANTOS, et.al., 2005; ALMEIDA & ZACHARIAS,
2004), torna-se necessário um outro processo de leitura, parece-nos claro que a leitura do
mundo através da cartografia é base para a aprendizagem da geografia, pois a cartografia
possibilita o aluno a ler as representações gráficas do mundo. Por isso é necessário tanto que
59
ele saiba fazer a leitura do espaço real/concreto como que ele seja capaz de fazer a leitura de
sua representação, o mapa, a carta, a planta, o croqui, o desenho, a maquete.
Portanto é preciso ensinar a ler o mapa e a representá-lo, como exercício para
desenvolver estas habilidades o professor ou o agente prisional pode propor aos alunos o
desenho de trajetos, percursos, plantas da sala de aula, dentre outros ambientes. Esse
exercício permitirá ao aluno além da aprendizagem de geografia à construção do
conhecimento para ale da realidade.
Para saber ler o mapa, são necessárias determinadas habilidades, tais como
reconhecer escalas, saber decodificar as legendas, ter senso de orientação. Aprender a
observar, descrever, comparar, estabelecer relações e correlações, tirar conclusões, fazer
sínteses; habilidades necessárias para a vida cotidiana.
Atividade
Referências
ALMEIDA, Simone Pereira de; ZACHARIAS, Andréa Aparecida. A leitura da nova proposta
do relevo brasileiro através da construção de maquete: o aluno do ensino fundamental e suas
dificuldades. In: Revista Estudos Geográficos. 2(1), p.53-73. Rio Claro, 2004. Disponível
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espontaneidade dramática na prática da sala de aula em um grupo de professores. In:
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2004. Disponível em: <http://www.ufmg.br/congrext/Educa/Educa
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fundamental. In: Caderno CEDES, v.25, n.66. Campinas, S.P.: 2005. Disponível em:<
60
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
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teórico-metodológica. Rio de Janeiro: UERJ, p.1, 2002. Disponível
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ensino/aprendizagem na Geografia escolar. In: Revista Caminhos de Geografia. 16(17), p.
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TENÒRIO, Robinson Moreira. Construtivismo, sociedade e história no ensino da
matemática. Sitientibus. Feira de Santana. n.17, p.117-127, 1997.
61
Unidade 6
Metodologia do ensino de ciências naturais
Objetivos
Introdução
62
excessiva que se dá ao conhecimento científico em detrimento do popular. É importante
conscientizar nossos alunos jovens e adultos que o conhecimento que eles já têm sobre os
assuntos da proposta curricular são tão significativos quanto a sistematização que foi
construída sobre os mesmos com seu aprofundamento por pesquisadores das diversas áreas
do conhecimento.
A diferença fundamental entre os dois é que, enquanto o primeiro (saber popular ou
senso comum) limita-se a apreender a realidade de forma intuitiva, num misto de ingenuidade
com veracidade, o segundo (científico) não se contenta com as primeiras impressões; apesar
de partir delas, busca a compreensão dos fenômenos que podem ser analisados, explicados
e validadas ou não suas hipóteses.
Esse processo de conscientização da valorização dos dois tipos de conhecimento
humano sobre o mundo em que vivemos, perpassa pela escolha de estratégias
metodológicas que tenham como ponto de partida os saberes que os alunos já construíram,
levando-os a perceberem a necessidade de ampliar sua visão sobre determinado assunto.
Essa perspectiva de conhecer mais sobre aquilo que já sabemos um pouco se
fundamenta no princípio educativo de que somos seres inacabados e que estamos em
constante busca, pois podemos saber melhor o que já sabemos e conhecer o que ainda não
sabemos (FREIRE, 2005). Esse princípio também explicita a questão da complexidade dos
conhecimentos e do processo de aprendizagem (MORIN, 2005), característica marcante da
sociedade globalizada e neoliberal em que vivemos.
1. Experimentação
63
Quando falamos no ensino de Ciências Naturais normalmente pensamos na
realização de aulas em laboratórios equipados para a realização de experiências que
contemplam os conteúdos que estão sendo trabalhados. O uso da experimentação é uma
estratégia metodológica utilizada já em obras didáticas bastante antigas (MOREIRA & AXT,
1991) e que continua atual em virtude das suas contribuições para o processo de
aprendizagem dos alunos, principalmente a partir dos pressupostos teóricos do sócio-
interacionismo e do construtivismo.
Apesar da limitação que muitas vezes temos em relação à existência de um
laboratório equipado para a aplicação dos conteúdos em experimentações, é importante
buscarmos formas alternativas que possibilitem sua realização, pois “trabalhar com material
concreto consiste, basicamente, em trabalhar com o material didático que se tem nos
laboratórios e com as improvisações que o complementam” (idem, p.81). Se não temos o
espaço físico do laboratório, “o professor poderá escolher a sala de aula como o espaço para
o desenvolvimento das atividades experimentais” (WEISSMANN, 1998, p.232). E se não
temos todos os materiais de laboratório necessários, podemos utilizar, sempre que possível,
materiais alternativos de fácil acesso, como as sucatas.
Outro aspecto a considerar é a importância de que as experiências sejam realizadas
efetivamente pelos alunos, não sendo meros expectadores e observadores da prática do
professor. Para atender a esse princípio no contexto da limitação dos materiais que
normalmente temos, podemos organizar a turma em grupos, conforme a quantidade
disponível, orientando-os para que todos participem efetivamente dos procedimentos a serem
realizados.
Em relação à aprendizagem, convém destacar que
2. Relatório
Após a realização da experimentação em sala de aula ou no laboratório, é importante
orientar os alunos em relação à sistematização dessa vivência. Essa é uma prática muito
comum no trabalho de vários professores da área de Ciências Naturais, que pode ser utilizada
também em outras áreas do conhecimento a partir das devidas adequações. Segue uma
sugestão (não uma receita!) de alguns itens que podem compor um relatório de uma atividade
de experimentação:
• data da aula;
64
• nome da experimentação realizada;
• materiais utilizados;
• hipóteses sobre os possíveis resultados antes da realização da experiência;
• seqüência de procedimentos desenvolvidos;
• resultados alcançados com a realização da experiência;
• conclusões do grupo em relação aos conteúdos que estão sendo estudados;
• aplicabilidade das conclusões no cotidiano.
3. Pesquisas de campo
Outra estratégia metodológica bastante utilizada em aulas de Ciências Naturais é a
organização de pesquisas de campo que acontecem antes, durante ou após o estudo teórico
de determinado conteúdo. Essas vivências enriquecem significativamente a aprendizagem e
motivam os alunos a buscarem aprender mais sobre o assunto, uma vez que se estabelece
uma relação direta entre o cotidiano e o conteúdo estudado, ampliando seus conhecimentos
prévios.
Dependendo da realidade da turma com a qual trabalhamos no sistema prisional a
pesquisa de campo se limitará somente a esse espaço físico. Em outra situação, talvez seja
possível que a realização da coleta de dados aconteça de duas maneiras: internamente com
aqueles que não podem sair da Casa de Custódia, e externamente com aqueles que podem
realizá-la em outros ambientes. Se utilizarmos essa estratégia teremos duas fontes de coleta
de dados, enriquecendo o estudo através da comparação entre ambas, identificando as
semelhanças e diferenças, analisando o porquê da existência dessa diferenciação e
concluindo sobre o assunto.
A vivência desse processo oportuniza aos alunos a construção de certas habilidades
de pensamento importantes para a resolução de situações-problema, tanto nas aulas quanto
na vida.
4. Situações-problema
65
É importante que o professor apresente problemas relacionados ao cotidiano dos
alunos, questões instigadoras que os levem à curiosidade e à motivação para aprender mais
sobre o assunto proposto. Os procedimentos desse tipo de trabalho auxiliam os alunos a
desenvolverem o pensamento crítico, o qual possibilita o avanço do senso comum e a
ampliação da sua visão de mundo. O pensamento crítico acontece quando, ao nos
depararmos com uma determinada situação, identificamos o problema, analisamos,
refletimos, levantamos hipóteses e tomamos decisões que organizam e mobilizam nossas
ações em busca de soluções para o mesmo.
6. Atividades permanentes
66
nova informação para socializar com a turma. Os alunos podem ser desafiados a criar algo
diferente para esse momento, ao invés de somente fazer os comentários.
A criação desse momento seja nas aulas de Ciências Naturais ou de outra disciplina,
desperta no aluno a curiosidade, motiva a leitura e a coleta de informações, amplia o
conhecimento da turma sobre a sociedade em que vivemos e cria expectativas de uma aula
para a outra.
7. Iniciação científica
67
transformação e que precisamos buscar a constante atualização para que possamos nos
inserir nos grupos sociais de convívio com mais possibilidades de interação.
Atividade
Leituras Complementares
Referências
68
Unidade 7
Metodologia do ensino de artes
Objetivos
Introdução
Todos apreciam uma boa música, um belo quadro, um desenho ou mesmo uma boa
composição poética. Mas como podemos trabalhar os conceitos artísticos em sala de aula?
Como podemos agregar valor a nossas aulas, dentro do sistema prisional com o uso da arte?
Convidamos você a pensar conosco essa temática.
69
Muito se tem falado e escrito sobre a necessidade da inclusão da arte na escola de
forma mais efetiva. Desde 1971, pela Lei 5692, a disciplina Educação Artística tornou-se
parte dos currículos escolares.
Portanto, para que haja qualquer alteração na forma de pensar e de praticar o ensino
de artes precisamos acreditar que este ensino é um recurso para operar a mudança do grupo
de alunos do sistema prisional em questão. Por isso, professores e agentes prisionais devem
estar preparados para entender a arte como ramo do conhecimento em mesmo pé de
igualdade que as outras disciplinas dos currículos escolares. Reconhecendo não só a
necessidade da arte, mas a sua capacidade transformadora.
A sala de aula para o trabalho com artes deve ser organizada como se fosse um
atelier de um artista ou um laboratório de pesquisa. A pesquisa (DEMO, 2001) e a construção
do conhecimento é um valor tanto para o educador quanto para o educando, rompendo com
a relação sujeito/objeto do ensino tradicional.
A possibilidade de experimentação em artes, como em atelier ou como um
laboratório de pesquisa rompe barreiras de exclusão, visto que a prática educativa está
embasada não no dom, mas na capacidade de experimentar que cada aluno apresenta.
Neste sentido, o professor ou o agente prisional pode estimular a população carcerária a se
arriscar a desenhar, a dançar, a tocar, a representar, a escrever. Uma proposta de artes que
parta deste princípio traz para as suas atividades um grande número de interessados e a arte
fará parte de suas vidas passando a ter um sentido, deixando de ser distante de sua
realidade.
Entender e estimular o ensino da arte na perspectiva da experiência constante
tornará a sala de aula no sistema carcerário um espaço vivo, produtor de um conhecimento
novo, que aponta para a mudança.
É na ação da arte-educação que podemos tornar o ensino da arte uma prática
significante para a população carcerária que dela participa.
Como o ensino da arte envolve o fazer e o pensar, não poderia deixar de interagir
com outras áreas do conhecimento. Dessa forma, o trabalho de produção e ensino da arte a
ser desenvolvido pelo sistema prisional poderá configurar-se numa concepção onde arte e
educação sejam práticas que se relacionam com novas práticas na arte e na vida.
A consciência da importância dos fatores sócio-culturais na construção do
conhecimento configura um panorama bastante interessante para o ensino em Arte hoje, pois
a arte-educação é potencialmente conectada ao contexto social e cultural.
As concepções atuais de arte (HERNÁNDEZ, 2000), segundo as correntes do
pensamento sobre a cultura e a sociedade estabelecem que a finalidade de uma arte na
educação, numa cultura em mudança, seria aprender o que é significado, crítico e plural.
Hernández (2000) explica que os arte-educadores hoje estão mais atentos à relação entre
arte e cultura.
A arte-educação (AZEVEDO, 2003) nesta perspectiva, pode ser dialética,
emancipatória e inclusiva, partindo de uma prática restauradora, transgressora, intercultural e
crítica, como um poderoso instrumento para reafirmar a singularidade na diversidade.
Podemos pensar o ensino da arte no sistema prisional como um meio de
resgatar a identidade, a diversidade e as singularidades culturais, uma vez que, nesta
realidade cada indivíduo carrega uma história particular.
70
Estratégias metodológicas para o ensino de arte
Dança educativa
De acordo com Scarpato (2001) o aluno imóvel nem sempre está aprendendo o que
ocorre na sala de aula, pode estar internamente querendo se movimentar. O uso da dança
na sala de aula, não visa apenas proporcionar a vivência do corpo e diminuir tensões
decorrentes de esforços intelectuais excessivos. Na medida em que favorece a criatividade,
pode trazer muitas contribuições ao processo de aprendizagem, quando integrada com
outras disciplinas.
Neste sentido, além da dança proporcionar o relaxamento do corpo, pode contribuir
com o processo de aprendizagem. Neste sentido, a dança como estratégia de aprendizagem
na escola não deve priorizar a execução de movimentos corretos e perfeitos dentro de um
padrão técnico imposto aos alunos. Deve partir do pressuposto de que
A atividade de dança deve ser para o aluno tão importante quanto falar, contar ou
aprender história, português. O aprendizado da dança deve integrar o conhecimento
intelectual e criatividade do aluno.
Laban e Freinet (apud SCARPATO, 2001) sugerem que os avanços da tecnologia
interferem na vida dos seres humanos, pois geram a imobilidade, o sedentarismo, prejudicial
ao desenvolvimento. As propostas de Laban e Freinet segundo Scarpato (2001) podem
integrar-se numa proposta de ensino de Dança Educativa nas escolas, por contribuírem para
o desenvolvimento do educando em aspectos como: a aprendizagem; o compromisso; a
cidadania; a responsabilidade; o interesse; o senso-crítico; a criatividade; o envolvimento; a
socialização; a comunicação; a livre expressão; o respeito; a autonomia e a cooperação.
A dança pode ser utilizada como estratégia de ensino para a Educação Artística, pois
traz contribuições para a formação integral, crítica, cooperativa e participativa do aluno.
Segundo Strazzacappa (apud SCARPATO, 2001, p.2) “o indivíduo age no mundo
através de seu corpo, mais especificamente através do movimento. É o movimento corporal
que possibilita às pessoas se comunicarem, trabalharem, aprenderem, sentirem o mundo e
serem sentidos”.
Os cursos de Educação Artística, tendem a priorizar os trabalhos em artes plásticas
(desenho, pintura e algumas vezes escultura), atividades onde o aluno acaba tendo de
permanecer sentado.
Embora a LDB 9394/96 garanta o ensino de Arte como componente curricular
obrigatório da Educação Básica representado por várias linguagens – música, dança, teatro e
artes visuais –, raramente a dança, a expressão corporal, a mímica, a música e o teatro são
abordados.
71
Neste sentido, a dança na escola deve ser utilizada com o objetivo de ultrapassar a
idéia de ser voltada apenas à criança e ao adolescente, deve sim, ser utilizada com grupos
de jovens e adultos. No nosso caso, um grupo bastante específico de jovens e adultos, que
não deixaram de ter suas peculiaridades por estarem no sistema prisional.
Artes plásticas
Música
72
Enfim a música oportuniza o trabalho com a interpretação e comunicação; criação e
experimentação; percepção sonora e musical; cultura musical nos contextos.
Atividade
Referências
AZEVEDO, Fernando. A.G. Arte e Inclusão: construindo uma pedagogia crítica. In: Anais do
Xiv Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil – 2003. UFG, Goiânia. abr de
2003. p 132-134.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ministério da Educação e do Desporto,
Secretaria do Ensino Fundamental, Distrito Federal: MEC/SEF,1996.
DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. 11. ed. Petrópolis, R.J.: Vozes, 2001.
FREINET, C. Pedagogia do bom senso. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projetos de trabalho.
Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
SCARPATO, Marta Thiago. Dança educativa: um fato em escolas de São Paulo. In:
Cadernos CEDES, v.21 n.53 Campinas abr. 2001. Disponível
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0101-32622001000100004>. Acesso em: 13 ago. 2006.
Bibliografias complementares
73
Unidade 8
Metodologia do ensino de educação física
Objetivos
Introdução
Esse é o desafio que se coloca ao professor que trabalha essa área do conhecimento
no contexto atual. Sua prática pedagógica precisa estar pautada principalmente em dois
princípios (BRASIL, 2002):
- princípio da inclusão, que supera a exclusão da maioria e a seleção dos “melhores”,
possibilitando a todos as condições de participarem ativamente das diversas
propostas de trabalho;
75
- princípio da diversidade, que busca a valorização dos conhecimentos prévios dos
alunos jovens e adultos e a sua aproximação dos conhecimentos construídos pela
cultura corporal do movimento ao longo da história.
Podemos complementar esses princípios com quatro aspectos da experiência
corporal, a qual, do ponto de vista pedagógico, precisa ser trabalhada da seguinte maneira:
1. Jogos
Nesse momento vamos abordar o jogo sem relação com a questão dos esportes,
assunto sobre o qual trabalharemos mais adiante. Assim como abordamos em outras áreas
do conhecimento no decorrer desse material, a ludicidade faz parte da vida das pessoas,
independente da sua faixa etária. Ao trabalhar com os alunos da EJA não podemos deixar de
trabalhar com aspectos como esse, sendo necessário, porém, fazer as devidas adaptações
para não infantilizá-los.
É importante que o professor de Educação Física resgate a questão do brincar e do
divertir-se, pois, na sociedade globalizada e neoliberal, por influências da ideologia capitalista,
prima-se pela vida produtiva do adulto, o que implica uma postura padronizada nas relações
interpessoais. Apesar da contradição inerente a essa mesma ideologia, a qual destaca a
importância do lazer, intencionalmente pautado pelo incentivo ao consumismo, muitos adultos
só conseguem brincar se estiverem sob a influência de bebidas alcoólicas ou drogas.
Nesse sentido, o professor precisa compreender que, para os adultos, brincar
76
Com isso, considerando a necessidade de confrontar com essa cultura hegemônica,
temos um movimento que defende a realização dos jogos cooperativos (BROTTO, 2002),
como uma resposta à necessidade de resgate dos valores de convivência que são
constantemente bombardeados pela ideologia dominante.
Os jogos cooperativos podem ser utilizados com pessoas de todas as faixas etárias.
Vários deles são a ressignificação de jogos já existentes em que se invertem os princípios da
competição para a cooperação, do individualismo para o coletivo, de um único vencedor para
a vitória do grupo, da desconfiança pela confiança no outro, da exclusão para a inclusão. Um
exemplo é a tradicional brincadeira da Dança das Cadeiras:
Essa é um das alternativas que temos para fazer um trabalho diferenciado que tanto,
trabalha a construção da consciência corporal (GONÇALVES, 2004), quanto a vivência dos
princípios de convivência necessários aos jovens e adultos do sistema prisional no seu
processo de ressocialização e reinserção na sociedade.
2. Esporte
Assim como diversos enfoques da educação passam por transformações constantes
em virtude das mudanças que ocorrem na sociedade atual, também o trabalho com o esporte
passa por esse processo. O novo conceito do esporte (TUBINO, 2000), que avançou da
perspectiva reducionista do rendimento para a aceitação de que a prática esportiva é um
direito de todos, passou a contar com as seguintes manifestações:
77
Nesse sentido, é importante que o professor faça certas transformações na sua
prática educativa para que aconteça a reconstrução do trabalho com o esporte, o qual
continua sendo uma das marcas do trabalho da Educação Física, porém já não o único e o
mais importante. Conforme Kunz (2001), essas transformações devem contemplar os
seguintes aspectos:
- ao trabalhar as modalidades esportivas, é importante que o aluno identifique o
significado central do se-movimentar, compreendendo as semelhanças e diferenças
presentes nas diferentes modalidades. Por exemplo, “o significado do se-movimentar numa
corrida de velocidade no atletismo é justamente o correr à toda velocidade” (idem, 2001,
p.126);
- é preciso superar a visão de perfeição nos resultados que os alunos têm condições
de apresentar ao praticar os esportes que estão sendo estudados. Considerando que os
jovens e adultos situam-se em momentos diferentes do seu desenvolvimento corporal, o
professor precisa trabalhar a questão das limitações, pois “não é tarefa da escola treinar o
aluno, mas ensinar-lhe o esporte, de forma atrativa” (idem, p.126). Além disso, “o aluno
enquanto sujeito dos movimentos intencionados na aprendizagem, e não a modalidade
esportiva, devem estar no centro de atenções do ensino” (idem, p.127);
- é importante que todos os alunos tenham a oportunidade de vivenciar as
experiências do se-movimentar de cada modalidade esportiva. Para isso, em alguns
momentos é necessário fazer alguns “arranjos materiais’ para facilitar e compensar
deficiências na execução de movimentos mais complexos e que necessitam força e
velocidade” (idem, p.127). Essa é uma questão que merece atenção especial no trabalho com
a EJA, principalmente com os alunos que já se encontram na terceira idade;
- é preciso que o professor filtre os significados centrais de cada modalidade
esportiva, os quais possibilitam ao aluno jovem e adulto ampliar sua visão de mundo. “Deve
ser oportunizada a reflexão e o diálogo sobre essas práticas para conduzir a uma verdadeira
superação do ensino tradicional pelas destrezas técnicas” (idem, p.129). A partir desse “filtro”
de informações, o professor possibilita aos seus alunos da EJA que compreendam também
sobre esportes que não lhe são tão familiares. Passam a conhecer os movimentos e as regras
principais de outras modalidades esportivas que não simplesmente o futebol, esporte
considerado a marca oficial do nosso país. Esses conhecimentos possibilitam sua presença e
participação no convívio com grupos sociais diferenciados, além do seu cotidiano.
É importante que esses cuidados que o professor precisa ter ao trabalhar com o
esporte contribuam para que os alunos jovens e adulto do sistema prisional possam ter
melhorias na sua qualidade de vida, seja na Casa de Custódia ou fora dela. O esporte tem
uma participação especial nesse contexto em virtude de contribuir para que aconteçam
momentos agradáveis de interação e convívio, os quais, conseqüentemente, colaboram para
melhorar a sua saúde, uma vez que os tiram da ociosidade e do sedentarismo.
Nesse sentido, o trabalho com o esporte ajuda a
78
3. Dança
A dança é abordada duplamente no decorrer do nosso material: como forma de
expressão artística e cultural, que contribui para a aprendizagem dos alunos, no texto
“Estratégias metodológicas para o ensino de Artes”; e nesse momento como compreensão
dos significados e da subjetividade expressa através dos movimentos que a compõem. Essa
dupla abordagem explicita a possibilidade da interdisciplinaridade através de um trabalho
entre essas e outras áreas do conhecimento. Para que essa prática educativa se concretize,
os professores precisam dialogar, trocar idéias e planejar em conjunto pelo menos no período
em que estiverem trabalhando com essa mesma abordagem metodológica e de conteúdos
em ambos os componentes curriculares.
A dança no contexto da Educação Física complementa a visão trabalhada na
disciplina de Artes, sendo importante que o professor tenha o cuidado de trabalhar o confronto
que há entre o seu caráter expressivo e a formalidade técnica da sua execução (SOARES
et.al., 2000). Essa questão é relevante, pois, se não for trabalhada, pode gerar a exclusão e a
discriminação.
Nesse sentido, a proposta de trabalho com a dança nas aulas de Educação Física
atende a dois eixos de atuação:
- o resgate do ensino da dança na escola: nesse eixo busca-se o “entendimento do
conteúdo dança, como uma das instâncias do saber e fazer humanos que tem sido
negligenciada na escola, porque, no conjunto das práticas culturais hegemônicas, ela
não faz parte do saber a ser desenvolvido (FIAMONCINI & SARAIVA, 2003, p.95);
- aulas co-educativas: esse eixo busca o resgate da participação igualitária de ambos
os sexos na aprendizagem e na vivência da dança,
79
desenvolvimento dos jovens e adultos com mais humanização, emoção e afetividade (KUNZ,
2001), aspectos esses que têm sido sufocados pelos princípios da sociedade atual e que
precisam ser trabalhados com as pessoas que convivem nesse local.
4. Aulas abertas
O planejamento de aulas abertas é outra possibilidade que temos de trabalhar a
Educação Física na perspectiva dos desafios da atual sociedade e do trabalho educativo no
sistema prisional.
5. Xadrez
Assim como a abordagem da dança, o xadrez também é trabalhado em dois
momentos no nosso material, como estratégia metodológica de Matemática e Educação
Física, desafiando-nos a mais uma possibilidade interdisciplinar.
80
Nesse momento ampliamos nossa abordagem, destacando a importância desse
trabalho no contexto do sistema prisional, uma vez que apresenta uma contribuição
significativa no “apoio a deficientes físicos, reclusos e carentes, visando a terapia ocupacional
a reinserção familiar e social de crianças, adolescentes e adultos” (KLEIN, 2003, p.105).
Sendo considerado como um esporte e como um lazer, o xadrez tem ampliado seu
espaço nos ambientes educativos, passando a ser trabalhado também pelos professores de
Educação Física. As possibilidades de interdisciplinaridade através do trabalho com o xadrez
ampliam-se com a sua conceituação:
O autor aponta várias vantagens no trabalho com o xadrez nos ambientes educativos,
pois, ao jogar a pessoa precisa:
A partir dos itens pontuados pelo autor visualizamos ainda mais a importância de
implementar o trabalho com os jovens e adultos no sistema prisional através da prática do
xadrez, seja ela assumida pelo professor de Educação Física ou de outro componente
curricular. Mais importante do que qual é o professor que toma a frente desse trabalho são as
vantagens para os jovens e adultos que, trabalhados nessa perspectiva, são desafiados a
construírem habilidades mentais necessárias a uma visão crítica e transformadora do meio
em que vivem.
Atividade
Leituras Complementares
81
Livros disponíveis na Biblioteca da EJA:
BRUHNS, Heloisa Turini. Conversando sobre o corpo. Campinas, SP: Papirus, 2001.
MARQUES, Isabel Azevedo. Ensino e dança hoje: textos e contextos. 2ª ed. São Paulo:
Cortez, 2001.
MAURO, Betti. A Janela de vidro: televisão e educação física. Campinas, SP: Papirus, 1998.
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SP: Autores Associados, 2001.
SOARES, Carmen Lúcia et.al. Metodologia do ensino de Educação Física. 6ª reimp. São
Paulo: Cortez, 2000.
TUBINO, Manoel José Gomes. Uma visão paradigmática das perspectivas do esporte para o
início do século XXI. In: MOREIRA, Wagner Wey. Educação Física e esportes: Perspectivas
para o século XXI. 5ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2000.
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Unidade 9
Metodologia do ensino de língua portuguesa
Objetivos
Introdução
A incapacidade de leitura para além dos códigos lingüísticos dos alunos, sejam eles
de escolas públicas ou privadas, tem sido objeto de reflexão dos educadores brasileiros para
identificar as causas e encontrar caminhos para alteração desta realidade. Não são poucos os
especialistas que apontam as fragilidades do sistema educacional do país, tais como:
superficialidade, excesso de conteúdo e pouco cuidado com a linguagem.
Por isso, vamos discutir neste texto a necessidade de trabalhar paralelamente a idéia
de alfabetização e letramento, assim como a importância de se discutir a aprendizagem da
leitura e da escrita relacionando-as com a realidade do grupo de alunos em questão. Para que
a população carcerária possa utilizar os conhecimentos construídos em suas vidas,
diminuindo a distância existente entre a sua realidade e a palavra lida e ou escrita.
O trabalho com a Língua Portuguesa nesta perspectiva oferece a oportunidade de
uma interpretação da sociedade de forma mais contextualizada e com maior significado, pois
a leitura e a escrita do texto (FIORIN & SAVIOLI, 2002) com contexto oferece uma
experiência dinâmica em relação ao contato com o mundo.
De acordo com Mello (2000) para que a aprendizagem escolar seja uma experiência
intelectualmente estimulante e socialmente relevante, é indispensável à mediação de
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professores e de agentes carcerários com boa cultura geral e domínio dos conhecimentos que
devem ensinar e dos meios para fazê-lo com eficácia.
Ensinar é também uma atividade altamente determinada por fatores que escapam ao
controle de quem ensina. Ensinar, portanto, exige aprender a inquietar-se e a indignar-se com
o fracasso sem deixar destruir-se por ele.
Esse perfil de profissional, que se inquieta, que se indigna, é denominado de reflexivo
cuja atuação é inteligente e flexível, situada e reativa, o resultado é um profissional com a
formação pautada no saber-fazer sólido, teórico e prático, criativo a ponto de “permitir ao
profissional decidir em contextos instáveis, indeterminados e complexos, com zonas de
indefinição, o que torna cada situação uma novidade que exige reflexão e diálogo com a
realidade”. (MELLO, 2000) Um educador ou um agente prisional que apresenta uma prática
reflexiva é capaz de entender a própria ação.
O educador nesta perspectiva é capaz de mobilizar conhecimentos e valores em face
da diversidade cultural e étnica brasileira, das necessidades especiais de aprendizagem, das
diferenças entre homens e mulheres, capaz de perceber as diferenças, e de utilizá-las para
enriquecer as situações de ensino e aprendizagem em sala de aula.
Por isso, o professor ou o agente prisional em sala de aula precisa: preparar-se para
lecionar a partir do domínio dos objetos de ensino da língua portuguesa; promovendo a
integração permanente e contínua entre teoria e prática; oportunizando a orientação para a
pesquisa em ação ou pesquisa aplicada; dando ênfase na prática interdisciplinar; promovendo
a integração entre os diversos campos de ciências humanas e sociais com o objetivo de
compreender e aplicar conhecimentos sobre a realidade nacional brasileira; a partir da
aplicação de situações escolares reais, simuladas ou mediadas com os conhecimentos que
forem adquiridos.
Neste sentido, o que temos a dizer a você educador (professor e agente prisional) é
que o ensino de Língua Portuguesa, assim como de outras disciplinas deve instrumentar a
população carcerária para além do simples conteudismo, ou seja, para o entendimento do
meio em que vive, para assim aplicar sua vivência na construção da sua ressocialização.
Por isso, a necessidade de mostrar à população carcerária a importância de
alfabetizar-se e de aprender e compreender a importância da leitura e da escrita para sua
vida.
A alfabetização, a leitura e a produção textual têm sido alvo de grandes discussões, já
que há muitos anos se observam algumas dificuldades de aprendizagem e altos índices de
reprovação e evasão escolar.
Muitas das abordagens escolares derivam de concepções de ensino e aprendizagem
da palavra escrita que reduzem o processo da alfabetização e de leitura a simples
decodificação dos símbolos lingüísticos. De acordo com Cagliari (2005), a escola transmite a
concepção de que a escrita é a transcrição da oralidade. Assim o aprendiz deve unicamente
conhecer a estrutura da escrita, sua organização em unidades e seus princípios
fundamentais, que incluiriam basicamente algumas das noções sobre a relação entre escrita e
oralidade, para que possua os pré-requisitos, aprenda e desenvolva as atividades de leitura e
de produção da escrita.
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conhecimento dessas unidades, o aluno estaria apto a ler e a escrever. Já na atualidade, a
leitura e a escrita é muito mais que a simples decodificação de símbolos lingüísticos, mas sim
a capacidade de ler a realidade, de ler o mundo ao seu entorno. Processo esse de construção
de significado e atribuição de sentidos. Processo histórico da humanização, pois, ler e
escrever não significa ter autonomia no mundo em que vive, pessoa alfabetizada é aquela
que interpreta sua realidade, que sabe argumentar, que sabe pensar para alterar a realidade
da qual pertence.
Adotar esse ponto de vista requer mudança de postura, pois a diferença lingüística
não é mais vista como deficiência. O trabalho com a leitura e a escrita adquire o caráter
sócio-histórico.
Adivinha quem é
Montagem de nomes
São colocadas duas tiras de cartolina com o nome na carteira do aluno. Na frente
deles corta-se uma das tiras, dividindo o nome em partes. No início mantém-se o modelo na
mesa e a criança é solicitada a montar apenas o seu nome. Num próximo passo, o aluno
trocará de lugar e montará também os nomes dos colegas. Após a montagem dos nomes, os
alunos colam, numa folha de papel.
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posterior, antes da entrega das folhas, aproveita-se para estimular os alunos a fazerem o
reconhecimento e identificação dos nomes dos colegas. Esta atividade permite muitas
variações, como usar pistas de adivinhação, etc.... Nessa fase de aprendizado, utiliza-se
jogos mais elaborados e estruturados, como por exemplo: jogo da forca; descobrir quais letras
faltam no nome dos amigos; perceber entre dois nomes selecionados suas semelhanças ou
os critérios que foram utilizados para a seleção (quantidade de letras, letras semelhantes
iniciais ou finais); bingo de nomes; letras misturadas para formar os nomes, etc.
Álbum de Fotos
Solicitam-se fotos de todos alunos (caso não tenham, utilizar figuras humanas de
revistas para a atividade) e profissionais que atendem à classe, tira-se xerox das mesmas (se
necessário), de modo que cada um tenha a sua cópia. Com as fotos trabalham-se os nomes e
também estruturas frasais simples, do tipo: "Este é meu amigo Luiz". As estruturas são
escritas junto com alunos em folhas de papel, para montar um pequeno livro, de modo que
cada um tenha sua cópia. Pode-se montar o livro também em um caderno de desenho.
Caixa de Fósforos
Registros
Supermercado
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ajudam a arrumar o supermercado, separando as sessões. No supermercado, alguns alunos
são os “compradores”, outros os “caixas” e “empacotadores” para dar início a uma
dramatização, em que os papéis são rodiziados. Os compradores levam as compras "para
casa", dramatizam o uso do produto e tornam a guardá-los, classificando-os pelo uso. Nestes
momentos os alunos são incentivados a localizar no rótulo da embalagem os nomes dos
produtos e, muitas vezes, espontaneamente, localizam também as letras de seu nome e dos
colegas. Depois de bastante explorados, os materiais podem ser utilizados nas atividades de
"artes".
Música
O trabalho com músicas traz muito prazer para os alunos. Eles gostam de “cantá-las”. Depois
de dramatizadas e muito cantadas, as músicas são escritas na lousa ou em folhas de
cartolina e exploradas conforme a necessidade (gramática, concordância, vocabulário, etc).
Qual seria, então, o papel da escola na formação do leitor? O hábito da leitura pode
ser melhorado com a inserção da mídia na escola? Leitura crítica da mídia se aprende na sala
de aula? O que é necessário para o exercício da leitura do mundo.
Segundo Caldas (2006) o movimento pela inserção do jornal e da revista na sala de
aula, como prática pedagógica, ganhou força no início da década de 1990 e ainda hoje
continua conquistando novos adeptos, como é o caso da revista Carta Capital, que lançou em
outubro de 2005 sua versão pedagógica.
A formação reflexiva, crítica e criativa, atributo da escola, passa hoje obrigatoriamente
pela habilitação do indivíduo para ler os meios de comunicação, sabendo desvelar
informações implícitas que a edição esconde; reconhecendo os posicionamentos ideológicos
trazidos em cada comunicado. Para isso é preciso incentivar a leitura de jornais; incentivar
outras leituras; ensinar o aluno como é o jornal; promover o debate sobre o papel da
imprensa; capacitar o aluno a ler criticamente o jornal; promover o respeito à opinião
divergente; aproximar a escola das questões do cotidiano.
A utilização de jornais em sala de aula possibilita aprender “sobre o mundo editado
pela mídia, a ler além das aparências, a compreender a polifonia presente nos enunciados da
narrativa jornalística, não é tarefa fácil, mas desejável para uma leitura crítica da mídia”.
(CALDAS, 2006, p.3)
Certamente, não se trata, apenas, de ensinar os alunos "lerem" os jornais, mas,
sobretudo de possibilitar a eles, num primeiro momento, uma leitura do mundo para melhor
compreenderem, eles próprios, o poder da mídia, conseqüentemente, ensinar os alunos a
pensarem, refletirem sobre os conteúdos noticiosos e, então, desenvolverem formas
autônomas de pensar o mundo.
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operadores argumentativos e do dito e do não-dito; saber reconhecer que
dizer não é sinônimo de afirmar, enfatizar ou garantir; compreender quando
se utiliza ainda, já, mas ou só; entender o porquê do processo de edição da
notícia e como este se opera. (CALDAS, 2006, p.4)
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É importante discutir e compartilhar as reflexões produzidas durante a leitura:
discordar, concordar, fazer ressalvas, pois quem escreve e quem lê nem sempre
compartilham as mesmas crenças e valores. Outra atividade interessante para incentivar o
aluno a ler é ensinar os alunos da EJA a apreciar a leitura em voz alta de romances, poemas,
histórias de ficção realizadas pelo professor ou pelo agente prisional.
Para que os alunos leiam com fluência, é importante que leiam muito, que conversem
sobre o que leram, que interpretem o que leram durante o processo de leitura.
Tendo em vista a necessidade do desenvolvimento da leitura e da escrita como
ensinar os alunos da EJA no sistema prisional a produzirem textos a partir de outros textos? É
interessante dizer que muitos textos (Medeiros, 2003) são estruturados a partir da escuta ou
da leitura de outros textos, manifestando-se em produções textuais como: a paráfrase: que é
a reformulação de um texto ou um trecho de modo a produzir o conteúdo em linguagem
própria; o resumo: o qual se reformula um texto com o objetivo de sintetizá-lo, mantendo as
idéias mais relevantes; o comentário: o qual se explica o conteúdo temático de um texto. Mas
nada impede que o professor também solicite aos alunos a elaboração de textos de caráter
literário.
Enfim, conforme Mello (2000) a linguagem escrita foi o signo impresso que nos
permitiu avançar para além do uso da memória como forma de conservação do conhecimento
produzido.
Não nos resta dúvida da necessidade de formar leitores capazes de ler e
compreender criticamente o que se lê. É preciso ficar atento que não importa o que se lê, mas
o como se lê e o quanto a leitura e a escrita influenciam e determinam a condução da vida de
cada um. Neste sentido, o curso de Língua Portuguesa para alunos da EJA deve reduzir a
distância entre estudante e a a leitura e a escrita da palavra.
Atividade
Leituras Complementares
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Referências
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & lingüística. 10. ed. São Paulo: Scipione, 2005.
Caldas, Caldas. Mídia, escola e leitura crítica do mundo. In: Revista Educação e
Sociedade. v.27, n.94. Campinas, 2006. Disponível em:<
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-73302006000100006&script=sci_
arttext>. Acesso em: 13 de ago. 2006.
DEMO, Pedro. O desafio de educar pela pesquisa na Educação Básica. In: Educar pela
pesquisa. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. 16. ed. Para entender o texto: leitura e
redação. São Paulo: ática, 2002.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas.
5.ed. São Paulo: Atlas, 2000.
MELLO, Guiomar Namo. Formação inicial de professores para a educação básica: uma
(re)visão radical. In: Perspectiva. São Paulo, v.14 n.1, 2000. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?
pid=S0101-10.1590/S0102-88392000000100012&script=sci_arttext>. Acesso em: 13 de ago.
2006.
PRETI, Oreste. A aventura de ser estudante: um guia metodológico – Os caminhos da
pesquisa. Cuiabá: Universidade Federal do Mato Grosso, NEAD, 2000.
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Unidade 10
Metodologia do ensino de matemática
Objetivos
Introdução
uma ciência viva, quer no cotidiano dos cidadãos quer nos centros de
pesquisas, nos quais se elaboram novos conhecimentos que têm sido
instrumentos úteis para solucionar problemas científicos e tecnológicos em
diferentes áreas do conhecimento. (BRASIL, 2002, p.12)
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Nesse sentido, busca-se romper com o paradigma de que a Matemática é uma
ciência inquestionável, que todas as questões possuem apenas uma única resposta e que ela
é o componente curricular mais complicado de aprender. Durante muito tempo essa foi a
visão limitada que tínhamos dessa área, sendo vista ainda com superioridade em relação às
demais.
Esse é um desafio a ser trabalhado pelos professores que trabalham com a EJA, pois
grande parte dos alunos dessa modalidade já teve algum tipo de contato anterior com a
disciplina da Matemática na educação formal e carrega consigo vivências que reforçam essas
questões. Para conseguir avançar e superar esse olhar, é necessário que os professores que
trabalham com essa área do conhecimento se esforcem para ressignificá-la com seus alunos
jovens e adultos. Fonseca (2001) aponta como uma alternativa metodológica para essa
situação o resgate intencional das reminiscências da vivência escolar anterior como ponto de
partida nesse processo de mudança. Nesse sentido,
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sociais e culturais (etnos) os mais diversos. Desenvolveu,
simultaneamente, os instrumentos teóricos associados a essas técnicas e
habilidades. Daí chamarmos o exposto acima de Programa
Etnomatemática.
Essa concepção busca resgatar o saber dos diferentes grupos sociais, valorizando a
importância dos seus saberes e fazeres no processo de compreensão e atuação na
sociedade. Considerando essas reflexões, visualizamos uma relação direta com o trabalho da
EJA. É imprescindível que nós professores consideremos os alunos com os quais
trabalhamos na EJA como “sujeitos que chegam na escola carregando saberes, vivências,
culturas, valores, visões de mundo e de trabalho”, que [...] “estão ali também como sujeitos
da construção desse espaço que tem suas características próprias e uma identidade
construída coletivamente entre educandos e educadores” (ARROYO, 2003, p.7), caso
contrário estaremos ignorando, menosprezando, rejeitando, reprimindo e, certamente,
diminuindo sua identidade cultural.
Essas questões assumem uma relevância ainda mais importante no contexto do
sistema prisional, em que o papel da educação formal está longe de centrar-se na
transmissão de conhecimentos. Os professores que trabalham nesse contexto precisam
assumir sua contribuição no processo de reabilitação desse grupo socialmente excluído
(VALAMIEL, 1991), que terá que ter condições de lutar contra o preconceito e a
discriminação.
1. Resolução de problemas
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9 tornar as aulas mais interessantes e desafiadoras;
9 equipar o aluno com estratégias para resolver problemas;
9 dar uma boa base matemática às pessoas.
No trabalho com a resolução de problemas matemáticos é importante que o professor
oriente o processo de aprendizagem dos alunos a partir de algumas etapas que norteiam a
construção da solução. Convém destacar que essas etapas não são rígidas e fixas, pois os
alunos desenvolvem esquemas mentais diferenciados e, muitas vezes, imprevisíveis.
Conforme Polya (apud DANTE, 2002), os caminhos da busca pelas possíveis
soluções para um problema são facilitados quando seguimos alguns procedimentos que
organizam nossos pensamentos. O professor, ao assumir seu papel de mediador, pode
auxiliar os alunos levantando alguns questionamentos no decorrer desse processo.
Î Compreender o problema.
a) O que se pede no problema?
b) Quais são os dados e as condições do problema?
c) É possível fazer uma figura, um esquema ou um diagrama?
d) É possível estimar a resposta?
Î Elaborar um plano.
a) Qual é o seu plano para resolver o problema?
b) Que estratégia você tentará desenvolver?
c) Você se lembra de um problema semelhante que pode ajudá-lo a resolver
este?
d) Tente organizar os dados em tabelas e gráficos.
e) Tente resolver o problema por partes.
Î Executar o plano.
a) Execute o plano elaborado, verificando-o passo a passo.
b) Efetue os cálculos indicados no plano.
c) Execute todas as estratégias pensadas, obtendo várias maneiras de
resolver o mesmo problema.
Î Fazer o retrospecto ou verificação.
a) Examine se a solução obtida está correta.
b) Existe outra maneira de resolver o problema?
c) É possível usar o método empregado para resolver problemas
semelhantes?
Complementando esses procedimentos, Dante (2002) apresenta algumas
características que considera indispensáveis em um bom problema matemático:
9 Ser desafiador para o aluno;
9 Ser real para o aluno;
9 Ser interessante para o aluno;
9 Ser o elemento desconhecido de um problema realmente
desconhecido;
9 Não consistir na aplicação evidente e direta de uma ou mais
operações aritméticas;
9 Ter um nível adequado de dificuldade.
Com esse conjunto de informações podemos proporcionar aos nossos alunos jovens
e adultos do sistema prisional a construção de esquemas mentais que os auxiliarão a resolver
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problemas e desafios cotidianos, tanto relacionados a questões matemáticas quanto em
outras esferas da sua vida. A contribuição maior é a relevância social que essa estratégia
metodológica assume ao desafiar os alunos no seu processo de construção como sujeitos da
sua história.
2. Jogos matemáticos
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com seu processo de aprendizagem e, inclusive, superando certas dificuldades que possam
estar acontecendo.
Além disso, destaca-se também a contribuição dessa estratégia metodológica para a
EJA no sistema prisional em virtude do seu enfoque formativo no processo de
ressocialização. Considerando a necessidade da construção e do respeito a regras e
procedimentos, os resultados que podem ser de vitória ou frustração e os princípios do
trabalho coletivo que as pessoas de cada grupo vivenciam, a utilização de jogos matemáticos
alia a aprendizagem dos conhecimentos dessa área com a construção e reconstrução de
habilidades inter e intrapessoais, importantes no relacionamento com os outros.
Exemplos:
Î Torre de Hanói: A idéia é transferir-se os oito discos (ou mais) que formam a torre para
um dos dois bastões vazios. Para tanto se deve movimentar um único disco por vez, e não se
pode colocar um disco maior sobre um menor. Esse material é utilizado para trabalhar o
raciocínio lógico na resolução de problemas;
Î Xadrez: Tentativas de transformar o ensino da Matemática mais lúdico e prazeroso levam
vários pesquisadores a investigarem sobre as vantagens do trabalho com o jogo de xadrez.
Dentre elas, Bezerra & Zanella (2006, p.1) destacam que
através deste jogo, podemos proporcionar aos alunos o desenvolvimento
de maior concentração, o desenvolvimento do raciocínio lógico e a
capacidade de abstração dos conteúdos, além disso, podemos explorar
diferentes conteúdos matemáticos como: relação, par ordenado, função,
equivalência, dentre outros.
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aluno o seu modo de abstrair, mas seria necessário, para isso, que o aluno
reiniciasse o