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br Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FARMACOLOGIA

FARMACOLOGIA 2016
Arlindo Ugulino Netto.

DROGAS QUE AGEM NO TRATO GASTROINTESTINAL

As drogas que agem em nível do trato gastrointestinal (TGI) são aquelas capazes de interferir nas principais
funções deste sistema visceral. Tais funções são extremamente importantes do ponto de vista farmacológico, e seguem:
 Secreção gástrica;
 Controle do reflexo do vômito (êmese);
 Motilidade intestinal e eliminação das fezes;
 Formação e eliminação da bile.

Além de sua função primordial de digestão e absorção de alimentos, o TGI é um dos principais sistemas
endócrinos do corpo e tem sua própria rede neuronal integradora (o sistema nervoso entérico). Admite-se que os
medicamentos relacionados ao tratamento dos distúrbios gastrintestinais compreendem cerca de 8% de todas as
prescrições no meio médico, daí a importância do estudo deste grupo farmacêutico.

CONTROLE NEURONAL DO TGI


Há dois plexos nervosos principais que comandam as ações do TGI: o plexo mioentérico (plexo de Auerbach)
entre as camadas musculares longitudinal (mais externa) e a circular (média), e o plexo submucoso (plexo de
Meissner) no lado luminal da camada muscular circular, ambos representantes pós-ganglionares do sistema nervoso
autonômico parassimpático.
Estes plexos recebem fibras parassimpáticas pré-ganglionares do nervo vago (X par de nervos cranianos),
principalmente. Tais fibras são, em sua maioria, colinérgicas e excitatórias (embora algumas sejam inibitórias). As fibras
simpáticas que chegam ao TGI são, em sua maior parte, pós-ganglionares, e estas, além de inervar os vasos
sanguíneos, músculo liso e algumas células glandulares diretamente, podem terminar nestes plexos, onde inibem a
secreção de acetilcolina.
Os neurônios no interior dos plexos constituem o sistema nervoso entérico e secretam acetilcolina,
noradrenalina, serotonina (5-hidroxitriptamina), purinas, óxido nítrico e vários outros peptídeos farmacologicamente
ativos.

CONTROLE HORMONAL DO TGI


Os hormônios do TGI incluem secreções endócrinas e parácrinas. As secreções endócrinas (substâncias
liberadas na corrente sanguínea) são, principalmente, de natureza peptídica e sintetizadas por células endócrinas da
mucosa (como a gastrina e a colecistocinina). As secreções parácrinas incluem peptídeos reguladores liberados de
células especiais encontradas em toda a parede do trato (como a histamina).

SECREÇÕES GÁSTRICAS
O estômago secreta cerca de 2,5 litros de suco gástrico por dia. As principais secreções exócrinas deste órgão
são pró-enzimas, como o pepsinogênio (elaborado pelas células principais ou peptídicas) e o ácido clorídrico (HCl,
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produzido pelas células parietais ou oxínticas; e que também produzem HCO3 , o qual ganha a corrente sanguínea por
antiporte). As células secretoras de muco são abundantes entre as células superficiais da mucosa gástrica. Íons
bicarbonato também são secretados e ficam retidos no muco, criando uma barreira protetora, como um gel alcalino,
que mantém a superfície da mucosa gástrica em uma faixa de pH que varia entre 6 e 7, em face de um ambiente muito
mais ácido (pH 1 a 2) em sua luz.
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OBS : Enquanto que substâncias nocivas (como o álcool e a bile) possam romper esta camada alcalina produzida pelo
muco, há substâncias endógenas que estimulam a secreção de muco e bicarbonados como prostaglandinas.

REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE ÁCIDO PELAS CÉLULAS PARIETAIS


A regulação da secreção de ácido pelas células parietais é especialmente importante na patogênese da úlcera
peptídica e constitui um alvo em particular para a ação de fármacos.
A secreção das células parietais é uma solução isotônica de HCl com pH abaixo de 1, sendo a concentração de
-
íons hidrogênio cerca de um milhão de vezes mais alta que a do plasma. O íon cloreto (Cl ) é transportado ativamente
-
para canalículos parietais que se comunicam com a luz das glândulas gástricas em troca de HCO 3 (que é lançado no
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sangue, ver OBS ) por meio de uma proteína de antiporte. A secreção de HCl para a luz do estômago é acompanhada

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+ + + +
por K (simporte) que foi trocado, previamente, por um H (por meio de uma bomba de prótons K /H ) produzido na
dissociação da ácido carbônico sintetizado previamente pela anidrase carbônica intracelularmente.
A anidrase carbônica é a enzima responsável por catalisar a combinação do dióxido de carbono e água, gerando
+
ácido carbônico (H2CO3) que rapidamente se dissocia nos íons H (lançado, como vimos, para a luz do estômago por
+ + -
meio da bomba K /H ) e bicarbonato (HCO3 , que, como vimos, será trocado através da membrana basal da célula
-
parietal por Cl ).
Os principais estímulos que atuam sobre as células parietais são:
 Gastrina: hormônio peptídico estimulador
sintetizado em células endócrinas do antro
gástrico e duodeno e secretada no sangue
do sistema porta. Sua principal ação se
baseia na estimulação da secreção de
ácido pelas células parietais. A gastrina
também aumenta, indiretamente, a
secreção de pepsinogênio, estimula o fluxo
sanguíneo e aumenta a motilidade gástrica.
Ao ganhar a circulação, a gastrina age no
corpo do estômago (estimulando a
produção de HCl) e em células
diferenciadas do fundo do estômago
(histaminócitos ou células enterocromafins,
secretoras de histamina).
 Acetilcolina: é liberada por neurônios
colinérgicos (vagais) e estimula receptores
muscarínicos específicos (M3) na superfície
das células parietais e na superfície de
células contendo histamina.
 Histamina: a histamina é um neuropeptídeo produzido por células mastocitárias e algumas não-mastocitárias.
Dentro do estômago, mastócitos e células não-mastocitárias situadas perto de células parietais fazem uma
liberação basal constante de histamina (que ainda é alimentada pela gastrina e a acetilcolina). O hormônio atua
sobre os receptores H2 (H2R) das células parietais, que são responsivas às concentrações de histamina que
estejam abaixo do limiar para ativação do receptor H 2 vascular.
 Prostaglandinas E2 e I2: hormônios locais que inibem a secreção de ácido.
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OBS : Aminoácidos, pequenos peptídeos e alimentos ricos em cálcio (como o leite) estimulam diretamente as células secretoras de
gastrina, assim como leite e soluções de sais de cálcio – o que explica porque é inadequado usar sais de cálcio como antiácidos para
tratar a gastrite.
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OBS : A “maré alcalina” produzida pelo aumento da secreção gástrica (induzida pela presença de alimento, por exemplo) é explicada
- -
pelo antiporte que o Cl (que irá compor o HCl) faz com o bicarbonato (HCO3 ). Este, que é lançado na corrente sanguínea, altera o pH
fisiológico ótimo para ação de algumas enzimas importantes para o metabolismo basal do organismo (principalmente àquelas
localizadas no chamado centro do sono, no SNC). Isto explica a sonolência pós-prandial que geralmente induz ao sono.

Observe o esquema ao lado para melhor


entendimento do papel coordenado da acetilcolina,
histamina e gastrina na regulação da secreção de ácido,
e dos fármacos que interferem nesta fisiologia. A própria
célula parietal apresenta receptores H2 para histamina,
receptores muscarínicos M2 para acetilcolina e
receptores para gastrina (GR). A secreção de ácido vem
depois da estimulação sinérgica dos receptores H 2 (que
aumentam o AMPc) e dos receptores M2 e de gastrina
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(que aumentam o Ca citosólico).
A gastrina produzida no antro gástrico, via
corrente sanguínea, ativa receptores de gastrina (“GR”)
tanto na célula secretora de histamina (“CM”) quanto no
GR da própria célula parietal do corpo do estômago. Em
ambos os casos, ocorre estimulação de vias de
transdução de sinal por aumento da concentração de
cálcio citosólico, o qual aumenta a atividade da bomba
de prótons (“P”), produzindo mais HCl. A produção de
gastrina pelas células do antro é estimulada por
proteínas, aminoácidos e alimentos ricos em cálcio (ver
OBS²).
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A acetilcolina (“ACh”), via neurônios ganglionares colinérgicos, ativa tanto receptores M3 (“MR”) presentes nas
células secretoras de histamina (CM) quanto MR nas células parietais. Além de estimular o plexo mioentérico (que por
sua vez, comanda o aumento da contratilidade do trato e das secreções do mesmo), ao estimular as células do corpo
(células parietais), estimula a produção de HCl. Além disso, ao agir sobre as células do fundo gástrico, estimula as CM a
produzir histamina (que por sua vez, estimula receptores H 2 nas células parietais que, via AMPc, produz mais gastrina).
A atropina (bloqueador muscarínico) é capaz de evitar a ação da ACh em ambas as células (tanto os histaminócitos
quanto as parietais).
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OBS : Vale lembrar que todos os receptores colinérgicos pós-ganglionares presentes nas células gástricas são do tipo M3. Já os
receptores colinérgicos pré-sinapticos (na membrana pré-sinaptica) são do tipo M1 pré-sinaptico. Se este receptor for estimulado, o
seu neurônio é estimulado, por meio de feedback positivo, a secretar mais Ach na fenda, aumentando ainda mais a produção de HCl
no estômago. Por este motivo, um aumento da atividade colinérgica nervosa pode desencadear um aumento excessivo na secreção
de HCl, podendo gerar as chamadas gastrites nervosas.

A histamina, produzida pos histaminócitos do fundo do estômago, se liga nos receptores H 2 (H2R) presentes nas
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células parietais. Semelhantemente ao que foi exposto na OBS , quando o receptor H2 é ativado, ele ativa uma via de
transdução de sinal que aumenta a concentração de AMPc nestas células. Este AMPc aumenta as concetrações da PKA
que, por sua vez, fosforila e intensifica a ação da bomba de próton-potássio, axiliando na produção de HCl.
Em conclusão, observe que a acetilcolina, a histamina e a gastrina, mesmo ativando vias de transdução de sinal
diferentes, desencadeiam o aumento da produção de ácido clorídrico pelas células parietais.
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OBS : A PGE2, por sua vez, ao estimular seu receptor (“PGR”), induz a inativação dessas vias, inibindo assim a produção de HCl por
estas células parietais. Daí, lembramos o que já foi visto em propósito do estudo dos AINEs: o principal efeito colateral dos anti-
inflamatórios não-esteroidais é a irritação gástrica, gastrites e úlceras, uma vez que, inibindo a produção de PGE 2 (por inibição da
COX), além de diminuir a produção do muco protetor da mucosa gástrica, incapacitamos esta prostaglandina de inibir a via de
transdução do sinal responsável pela produção de HCl. O Misoprostol (Cytotec®), versão sintética de prostanoides (capaz de ativar os
mesmos receptores das prostaglandinas), é uma droga utilizada para tratamento da ulcera gástrica. Ela é responsável por aumentar a
produção de muco protetor da mucosa gástrica e intensificar a vascularização do órgão (estimulando uma maior produção de
bicarbonato). É totalmente contraindicada para gestantes por estimular contrações uterinas que podem causar aborto.
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OBS : Inibidores da bomba de prótons (como o Omeprazol e o Pantoprazol) agem de forma direta na secreção gástrica, inibindo a
produção de HCl ao inibir as proteínas transportadoras destes íons. Por esta razão, são considerados muito efetivos.

VÔMITO
O ato de vomitar nada mais é que um reflexo
desencadeado por um estímulo físico-químico que resulta na
evacuação forçada do conteúdo gástrico através da boca. Costuma
ser precedido por náuseas (sensação de “contração dolorosa” ou
sensação iminente de vômito) ou ânsia de vômito (contrações
repetitivas dos músculos abdominais, com ou sem efetiva expulsão
de vômito).
Os vômitos podem ser uma resposta fisiológica valiosa à
ingestão de uma substância tóxica, mas também são um efeito
colateral e indesejado de muitos fármacos clinicamente úteis,
notadamente os usados para quimioterapia (no câncer), bem como
os opioides e anestésicos gerais.

MECANISMO REFLEXO DO VÔMITO


Os vômitos são regulados centralmente pelo centro do
vômito e pela zona de gatilho quimiorreceptiva (núcleo do tracto
solitário), ambos situados no bulbo. A zona de gatilho, além de
receber fibras aferentes viscerais gerais via nervo vago (oriundas
de visceroceptores na mucosa gástrica), é sensível a estímulos
químicos além de ser o principal ponto de ação de muitos fármacos
eméticos e antieméticos. A barreira hematoencefálica nas
vizinhanças da zona de gatilho é relativamente permeável,
permitindo que mediadores circulantes atuem diretamente sobre
este centro. Esta zona de gatilho envia, então, neurônios eferentes
que ativam o centro do vômito. Deste centro, partem os
componentes efetores para todos os eventos responsáveis pelo
reflexo do vômito (fechamento do piloro, abertura da cárdia,
aumento da mobilidade gástrica, contração do diafragma e de
músculos da parede abdominal e a protrusão de língua).
Os principais neurotransmissores envolvidos no
mecanismo do vômito são: acetilcolina, histamina, 5-
hidroxitripitamina e dopamina, e os receptores para estes
transmissores: M1, H1, 5-HT3 e D2.

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PRINCIPAIS REPRESENTANTES DE FÁRMACOS QUE AGEM NO TGI


Os principais fármacos abordados neste capítulo se resumem às seguintes classes:
 Antagonistas do receptor H2 da histamina
 Inibidores da bomba de prótons
 Antiácidos
 Protetores da mucosa gástrica
 Fármacos antieméticos
 Purgativos
 Antiespasmódicos

ANTAGONISTAS DO RECEPTOR H2 DA HISTAMINA


Os antagosnitas do receptor H2 da histamina inibem, competitivamente, as ações da histamina em todos os
receptores H2, mas seu principal uso clínico é como inibidores da secreção de ácido gástrico. Podem inibir a secreção de
HCl estimulada pela histamina, pela gastrina e pela acetilcolina; a secreção de pepsina também cai com a redução do
volume do suco gástrico.
Os fármacos representantes deste grupo são: Cimetidina, Ranitidina (algumas vezes combinada a Bismuto),
Nizatidina e Famotidina.
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OBS : Um experimento interessante foi feito ao se administrar Cimetidina
via oral em um paciente (representado pela linha vermelha) e placebo em
outro (represetando pela linha preta). Dias depois, ambos foram suspensos
e foi realizada uma injeção subcutânea de betazol (droga análaoga à
histamina, que funciona como um agonista dos receptores H 2, estimulando
a secreção de ácido gástrico) nos dois pacientes. Observou-se, ao final, o
grande efeito que a histamina representa na inibição da secreção do HCl:
bloqueando os receptores H2 (linha vermelha), mesmo com o uso de
betazol, não houve alteração na produção de HCl, mostrando a ação
prolongada destas drogas na secreção gástrica. Já os pacientes que
fizeram uso de placebo (linha preta) e que não apresentam seus
receptores H2 bloqueados, ao serem submetidos à administração de
betazol, passaram por picos de produção de HCl logo em seguida.

INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS


Os inibidores da bomba de prótons (IBP) – Omeprazol, Pantoprazol, Lansoprazol, Rabeprazol, Esomeprazol
e Tenatoprazol – suprimem a secreção de ácido gástrico por meio de inibição específica da enzima H+/K+-ATPase (a
“bomba de prótons”) na superfície secretora da célula parietal gástrica. Embora haja diferenças farmacocinéticas, todos
os representantes dessa classe são similares entre si, reduzindo em até 95% a produção diária de ácido gástrico.
O primeiro inibidor da bomba de prótons foi o benzimidazol, substituído pelo Omeprazol, que inibe
+ +
irreversivelmente a H /K -ATPase (a bomba de prótons), a etapa terminal na via secretora de ácido. O fármaco é uma
base fraca e se acumula no ambiente ácido dos canalículos da célula parietal, onde é ativado.
Os IBPs devem ser ingeridos (via oral) preferencialmente em jejum, cerca de uma hora antes de cada refeição.
São administrados na forma de precursores inativos, que no meio ácido dos canalículos da mucosa gástrica, são
ativados e onde se concentram. Sofrem metabolização hepática. O seu potencial de efeitos máximos só é atingido após
cerca de 4 dias.
De forma aguda, essa classe de drogas pode ser utilizada como prova terapêutica para o diagnóstico (e
tratamento) de uma gastrite clinicamente suspeitada. Há situações crônicas que justificam o uso contínuo de IBP, tais
como: doença do refluxo gastresofágico (DRGE), esôfago de Barret, úlceras induzidas por AINE, etc.
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OBS : Os IBP são bem tolerados e, na maioria dos casos em que surgem efeitos adversos, estes são moderados e
passageiros. Os mais comuns (observados em aproximadamente 10% dos pacientes) são: cefaleia, diarreia, distúrbios
gastrintestinais, constipação e flatulência. Efeitos adversos raros, porém importantes, incluem nefrite aguda intersticial,
hiponatremia, hipopotassemia, hipomagnesemia, pancreatite, etc. Porém, alguns estudos levantam questões sobre a
segurança do uso contínuo de IBP no manejo de doença péptica relacionada à acidez gástrica. A maior preocupação é
com os efeitos de longo prazo. Um deles é o desenvolvimento de úlcera e câncer de estômago que surgem quando há
condição de hipocloridria gástrica, isto é, quando o pH do estômago está elevado.

ANTIÁCIDOS
Consistem na mais simples de todas as terapias para tratar os sintomas de secreção excessiva de ácido
gástrico. Neutralizam diretamente o ácido por meio de uma reação química simples entre ácido e base, formando sal e
água, elevando assim, o pH gástrico; isto também tem efeito de inibir a atividade das enzimas pépticas, que
praticamente cessa em pH 5.

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A maioria dos antiácidos em uso comum são os sais de magnésio e alumínio. O hidróxido de magnésio é um
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pó insolúvel que forma cloreto de magnésio do estômago e não produz alcalose sistêmica, uma vez que o Mg é pouco
absorvido no intestino. Outro sal, o trissilicato de magnésio, é um pó insolúvel que reage lentamente com o suco
gástrico, formando cloreto de magnésio e sílica coloidal. Outros antiácidos bastante utilizados são o hidróxido de
alumínio e o leite de magnésia.
Alginatos ou simeticona algumas vezes são combinados aos antiácidos. Acredita-se que os primeiros
aumentam a viscosidade e a aderência do muco à mucosa esofágica, formando uma barreira protetora; enquanto que a
segunda é um composto ativo sobre a tensão superficial que, impedindo a “formação de espuma”, pode aliviar a
distensão abdominal e a flatulência.
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OBS : O bicarbonato de sódio atua rapidamente e afirma-se que ele eleva o pH do suco gástrico para cerca de 7,4. Da
reação, dióxido de carbono é liberado, e isso causa eructação. A água produzida na reação pode causar diarreia. O
dióxido de carbono estimula ainda a secreção de gastrina e pode resultar
em elevação secundária da secreção do ácido. Como uma parte do
bicarbonato de sódio é absorvida no intestino, grande doses ou
administração frequente deste antiácido podem causar alcalose, cujo início
pode ser insidioso (ou seja, assintomático). Para evitar esta possibilidade,
não deve ser prescrito bicarbonato de sódio para tratamento a longo prazo,
nem deve ser dado a pacientes que estejam numa dieta hipossódica.
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OBS : Os antiácidos mais utilizados são aqueles sais de magnésio e de alumínio. Deve-se ter cuidado antes de
administrar antiácidos com base de sais de cálcio, íon este responsável por estimular as células produtoras de gastrina .

FÁRMACOS QUE PROTEGEM A MUCOSA GÁSTRICA


Afirma-se que alguns agentes, denominados citoprotetores, aumentam os mecanismos endógenos de proteção
de mucosa ou proporcionam uma barreira física sobre a superfície da úlcera. Os principais são:
 Misoprostol: por ser um análogo estável da prostaglandina E1, exerce uma ação protetora gástrica no TGI.
Pode ser adminsitrado por via oral e utilizado para promover a cicatrização de úlceras ou para prevenir lesão
gástrica que pode ocorrer com o uso crônico de AINEs. Exerce uma ação direta sobre a célula parietal, inibindo
a secreção basal de ácido gástrico em resposta a alimentos, histamina e cafeína. Os efeitos indesejáveis
incluem diarreia, cólicas abdominais, contrações uterinas (por este motivo, não deve ser administrado durante a
gravidez).
 Quelato de bismuto: é usado em esquemas combinados para tratar Helicobacter pylori. Os efeitos indesejáveis
incluem náuseas e vômitos, escurecimento da língua e das fezes.
 Sucralfato: é um complexo de hidróxido de alumínio e sacarose sulfatada que libera alumínio em presença de
ácido. Ele reduz a absorção de uma série de outros fármacos, incluindo antibióticos como fluoroquinolonas,
tetraciclina e digoxina. Os efeitos indesejáveis são poucos, sendo o mais comum a constipação.

FÁRMACOS ANTIEMÉTICOS
Existem vários agentes antieméticos, e estes, em geral, são usados para condições específicas, embora possa
haver uma certa sobreposição. Ao usar fármacos para as náuseas matinais durante a gravidez, por exemplo, o problema
é a potencial lesão ao feto que deve se ter em mente (boa parte dos fármacos deve ser evitada durante os três primeiros
meses de gestação). Os principais sítios de ação para estes fármacos são os próprios receptores dos
neurotransmissores envolvidos com o mecanismo do vômito (M1, H1, 5-HT3 e D2).
Muitos antagonistas dos receptores H1, muscarínicos (M1) e 5-HT3 exibem atividade antiemética clinicamente útil.
Os efeitos indesejáveis como cefaleia e desconforto gastrointestinal são relativamente incomuns.
 Antagonistas H1: Prometazina (Phenergan®), Cinarizina (Antigeron®; Cinarix®), Ciclizina, Meclizina (Meclin®)
e Dimenidrinato (Dramin®). Seu uso apresenta efeitos colaterais como: sonolência (grande ação sedativa),
diminuição da coodenação, disartria.
 Antagonistas muscarínicos: Escopolamina/Hioscina (Buscopan®). Efeitos colaterais: boca seca, sonolência e
visão embaçada são os efeitos indesejáveis mais comuns.
 Antagonistas seletivos dos receptores 5-HT3: Ondansetron (Nausedron®), Granistron, Tropisetron e
Dolasetron (Anzemet®). Os fármacos utilizados na quimioterapia do tratamento do câncer são capazes de
ativar os receptores 5-HT3 do centro do vômito, desencadeando o reflexo do vômito. Daí a importância do uso de
Ondasetrona neste tipo de tratamento.
 Antagonistas D2 (antipsicóticos): Metoclopramida (Plasil®), Clorpromazina (Amplictil®), Perfenazina,
Haloperidol (Haldol®; Loperidol®), Levomepromazina, Domperidona (Dom®). A Metoclopramida apresenta
ainda a capacidade de se ligar aos receptores H1 e M1, provocando um bloqueio mais intenso da êmese

PURGATIVOS
O trânsito de alimentos através do intestino pode ser agilizado por diferentes tipos de fármacos, inclusive os
laxativos, emolientes fecais e purgativos estimulantes, agindo diretamente sobre a função de motilidade do TGI. Estes
agentes podem ser utilizados para aliviar a constipação ou evacuar o intestino antes de cirurgia ou exame.
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 Laxativos formadores de bolo fecal (aumentam o bolo fecal em volume, o que provoca uma distensão da parede
do TGI, estimulando a peristalse): Metilcelulose
 Laxativos osmóticos (aumentam a retenção de água): Sulfato de magnésio e Hidróxido de alumínio
 Emolientes Fecais (atuam como detergentes amolecendo o bolo fecal): Docusato de sódio, Supositório de
glicerina, etc.
 Laxativos estimulantes (ativam o plexo mioentérico): Bisacodil (Lactopurga®)

ANTIESPASMÓDICOS
Os agentes antiespasmódicos disponíveis incluem a Atropina, Sulfato de atropina (Atroveran® e Elixir
paregórico®), Escopolamina/Hioscina (Buscopan®), Propantelina e Dicloverina. Estes fármacos antagonizam os
receptores M3, reduzindo espasmos intestinais por inibir a atividade parassimpática e, consequentemente, amenizam a
dor do tipo cólica (como se sabe, tradicionalmente, a cólica é um tipo de dor causada por contração de uma víscera oca).
Desta modalidade de fármacos, a mais utilizada é a Escopolamina, sem sombra de dúvidas. Trata-se de uma
opção válida para dores abdominais, dismenorreias, cólicas menstruais, etc. Embora tenha pouco efeito na musculatura
lisa das vias urinárias, é largamente prescrita em casos de cólica nefrética.
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OBS : Como sabemos, a cólica uterina é mediada pela PGF 2α. A Escopolamina, por si só, não é capaz de deter a cólica
completamente, uma vez que bloquearia apenas os receptores muscarínicos uterinos, mas não debeleria a produção da
PGF2α. É necessário então utilizá-la associada a algum outro analgésico para potencializar seu efeito: enquanto a
escopolamina bloqueia os receptores muscarínicos do útero, o analgésico inativaria a COX, que produz a PGF2α. A
associação da Escopolamina a algum analgésico é, portanto, uma excelente associação a ser utilizado em casos de dor
abdominal tipo cólica, seja uterina ou intestinal. Desta forma, vale ressaltar o seguinte:
 Buscopan® Composto: escopolamina/hioscina + dipirona sódica (disponível em formulações orais e injetáveis
venosas).
 Buscopan® Plus e Buscopan® DUO: escopolamina/hioscina + paracetamol (administrado, exclusivamente, por
via oral), sendo uma boa opção para pacientes alérgicos à dipirona.
 Buscopan® Simples: apenas Escopolamina/Hioscina.
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OBS : Embora a prescrição de antiespasmódicos para pacientes com diarreia infecciosa seja difundida, esta conduta
deve ser desestimulada pois, como vimos, tais fármacos lentificam a peristalse intestinal para aliviar a dor, mas que pode
predispor a translocação de bactérias patogênicas da luz intestinal para a corrente sanguínea, podendo desencadear
uma infeccção generalizada. Nestes casos, prefere-se utlizar apenas analgésicos isolados.

CORRELAÇÕES CLÍNICAS
Gastrite: é uma inflamação do epitélio gástrico. Nas endoscopias, o epitélio inflamado torna-se bem
característico por apresentar uma coloração esbranquiçada com relação à mucosa circunjacente. O paciente
pode apresentar epigastralgia, pirose, náuseas e vômito, fraquezas (por deficiência da vitamina B12), etc. Se
não for tratada, pode evoluir para um quadro de úlcera. Conduta: se não houver sinais de alarme (disfagia,
anemia, perda de peso, etc.), pode-se optar por uma prova terapêutica com IBP por 6 a 12 semanas; se não
houver melhora, pode-se considerar em dobrar a dose do IBP ou encaminhar o paciente para uma endoscopia
digestiva alta.

Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): caracterizada um refluxo significativo e patológico de conteúdo


gástrico para o esôfago, de forma exuberante e persistente. Isso geralmente ocorre quando o indivíduo perde um
ou mais de um dos mecanismos antirreflexo: hipotonia do esfíncter esofágico inferior e/ou alteração na junção
esofagogástrica alterada (hérnia de hiato, obesidade, etc.). O tratamento pode ser clínico (IBP + Antieméticos)
ou cirúrgico (em caso de alteração anatômica).

Esofagite de refluxo: consiste na inflamação da mucosa que recobre o interior do esôfago geralmente causada
por uma irritação crônica da mucosa esofágica pelo HCl oriundo do estômago. Pode vir acompanhada de um
estreitamento no interior do conduto (estenose esofágica). Trata-se esta patologia ao tratar o refluxo e diminuir
as concentrações de HCl.

Infecção por Helicobacter pylori: a H. pylori é uma bactéria gram-negativa flagelada bastante associada à
gastrite (80-95% dos casos de úlcera duodenal e 70-80% dos casos de úlcera gástrica). Ela tem a capacidade de induzir
a produção de HCl pelas células gástricas além de diminuir a camada protetora de muco desta víscera. A
infecção por H. pylori também está envolvida com a formação de câncer de estômago. Em úlcera péptica de
pacientes onde a infecção é descoberta, o procedimento normal é a erradicação da H. pylori para permitir a cura
da úlcera. O tratamento de primeira linha consiste em uma terapia tripla, incluindo o uso de IBP com
antibióticos.

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Erradicação da H. pylori
Esquema no Brasil Esquema Internacional (Harrison)
IBP IBP
Claritromicina por 7 dias Claritromicina por 14 dias
Amoxicilina Metronidazol

Síndrome de Zollinger-Ellinson: é uma síndrome cuja etiologia tem


como base um gastrinoma, neoplasia hipersecretora de gastrina
geralmente localizada no pâncreas ou no antro gástrico (que acomete,
justamente, as células produtoras de gastrina), o que aumenta, em larga
escala, a secreção de ácido clorídrico. Raramente encontra-se ligada à
fisiopatologia da úlcera péptica, uma vez que está mais intimamente
relacionada à infecção por H. pylori e o uso de AINES. O tratamento é
feito por meio de inibidores da bomba de prótons (como omeprazol e
lansoprazol) ou antagonistas do receptor H2 da histamina (como a
cimetidina ou a ranitidina) são usados para diminuir a secreção ácida. Se
possível, os tumores devem ser removidos cirurgicamente ou tratados
com quimioterapia.

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