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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO EMPRESARIAL

Atualizado em 04/05/2018: novos julgados e questões de concurso.

1. CLÁUSULA DE NÃO CONCORRÊNCIA


1.1. Validade da cláusula de não concorrência, desde que limitada espacial e
temporalmente – (Info 561)

É válida a cláusula contratual de não concorrência, desde que limitada espacial e


temporalmente. Isso porque esse tipo de cláusula protege a concorrência e os
efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de clientela, sendo esses valores
jurídicos reconhecidos constitucionalmente.
Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial,
a cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade
empresária concorrente pode sim irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde
que por um prazo certo e em determinado lugar específico (limitada temporária e
espacialmente).
Ex: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões
pré-pagos etc. Para isso, ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX” por
meio da qual ele somente iria vender os produtos e serviços dessa operadora e, em
troca, ela ofereceria a ele preços diferenciados, consultoria e treinamento para abrir
a loja. No contrato assinado com a operadora, havia uma cláusula dizendo que João
estava proibido, por 6 meses após a extinção do contrato, de contratar com qualquer
empresa concorrente naquela cidade. Essa cláusula de não concorrência é válida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.203.109-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
6/5/2015 (Info 561).

2. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS
2.1. DISSOLUÇÃO PARCIAL DA SOCIEDADE: Momento em que se considera
dissolvida a sociedade empresária para fins de apuração de haveres – (Info 595)

Na hipótese em que o sócio de sociedade limitada constituída por tempo


indeterminado exerce o direito de retirada por meio de inequívoca e incontroversa
notificação aos demais sócios, a data-base para apuração de haveres é o termo final
do prazo de 60 dias, estabelecido pelo art. 1.029 do CC/02.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.240-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 6/12/16 (Info
595).

2.2. Impossibilidade de nomeação de liquidante em dissolução parcial de


sociedade empresária – (Info 580)

A nomeação de liquidante somente se faz necessária nos casos de dissolução total


da sociedade, considerando que suas atribuições estão relacionadas com a gestão
do patrimônio social de modo a regularizar a sociedade que se pretende dissolver.
Na dissolução parcial, em que se pretende apurar exclusivamente os haveres do
sócio falecido ou retirante, com a preservação da atividade da sociedade, basta que
seja nomeado um perito técnico habilitado para realizar uma perícia contábil a fim
de determinar o valor da quota-parte devida ao ex-sócio ou aos seus herdeiros.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.557.989-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
17/3/2016 (Info 580).
OBS:
Dissolução de uma sociedade: A dissolução de uma sociedade pode ser:
 Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é
preservada.
 Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade: Ocorre quando um ou alguns sócios se desligam da


sociedade, mas ela continua existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação
parcial da sociedade”. Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o
direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio
por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.
Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio
social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Morte de um dos sócios: Quando um dos sócios morre, haverá também, pelo menos a
princípio, a dissolução parcial da sociedade. Isso porque pode acontecer de os demais
sócios quererem continuar a sociedade. Veja o que estabelece a regra do art. 1.028 do
CC, válida para as sociedades simples, mas que pode ser aplicada supletivamente às
sociedades limitadas (art. 1.053):

Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota,


salvo:
I — se o contrato dispuser diferentemente;
II — se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da
sociedade; (obs.: aqui se está falando da dissolução total)
III — se, por acordo com os herdeiros, regular-se a
substituição do sócio falecido.

Apuração de haveres: O sócio que deixa uma sociedade tem direito de receber a sua
parte no patrimônio da sociedade. O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a
sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de apuração de haveres,
que está previsto no art. 1.031 do CC e no art. 599 do CPC 2015. Da mesma forma, se
um dos sócios morre, haverá, como vimos, a dissolução parcial da sociedade, e os
herdeiros do sócio falecido terão direito de receber a parte que ele tinha na sociedade.
Isso é feito por meio da apuração de haveres.

Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em


relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo
montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo
disposição contratual em contrário, com base na situação
patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em
balanço especialmente levantado.
§ 1º O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se
os demais sócios suprirem o valor da quota.
§ 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de
noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou
estipulação contratual em contrário.
...
Art. 599. A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter
por objeto:
I — a resolução da sociedade empresária contratual ou
simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu
o direito de retirada ou recesso; e
II — a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que
exerceu o direito de retirada ou recesso; ou
III — somente a resolução ou a apuração de haveres.

No art. 600 do CPC 2015 estão listadas as pessoas que têm legitimidade para ingressar
com a ação de dissolução parcial de sociedade.

Dissolução total da sociedade e processo de liquidação: Ocorrendo a dissolução total


da sociedade, exceto nos casos de fusão, incorporação e cisão, a sociedade deve entrar
em processo de liquidação. A liquidação é o processo por meio do qual se irá calcular
o quanto a sociedade possui de ativo, vender os seus bens para, em seguida, pagar as
dívidas que existam (passivo) e, se sobrar algum valor, dividi-lo entre os sócios
(partilha).

"Nessa fase, a sociedade ainda existe, ainda mantém a


personalidade jurídica, mas apenas para finalizar as
negociações pendentes e realizar os negócios necessários à
realização da liquidação, tanto que deve operar com o nome
seguido da cláusula em liquidação, para que terceiros não se
envolvam em novos negócios com a sociedade."
(TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. 5ª ed.,
São Paulo: Atlas, 2013, p. 389).

Liquidante da sociedade: Como vimos, na dissolução total é necessária a fase de


liquidação. Para realizar este processo, deverá ser designada uma pessoa que irá
exercer o papel de liquidante. O liquidante é como se fosse um "administrador" da
sociedade que foi dissolvida e será o responsável pelas últimas providências
necessárias ao encerramento da sociedade. Dentre as atribuições do liquidante,
compete a ele representar a sociedade e praticar todos os atos necessários à sua
liquidação, inclusive alienar bens móveis ou imóveis, transigir, receber e dar quitação
(art. 1.105 do CC).

Na liquidação PARCIAL da sociedade, também existe a figura do liquidante? NÃO.

2.3. Prazo decadencial para desconstituir deliberação societária excludente de sócio


minoritário. Formação de quórum deliberativo necessário à exclusão de sócio
minoritário de sociedade limitada (Info 575)

É de 3 anos o prazo decadencial para que o sócio minoritário de sociedade limitada


de administração coletiva exerça o direito à anulação da deliberação societária que
o tenha excluído da sociedade, ainda que o contrato social preveja a regência
supletiva pelas normas da sociedade anônima. Esse prazo está previsto no art. 48
do Código Civil.
Para a fixação do quórum deliberativo assemblear necessário à aprovação da
exclusão de sócio minoritário de sociedade limitada, não se pode computar a
participação deste no capital social, devendo a apuração da deliberação se lastrear
em 100% do capital restante, ou seja, tão somente no capital social daqueles
legitimados a votar.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.459.190-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/12/2015 (Info 575).

2.4. Certidões negativas que podem ser exigidas na transformação de sociedade


simples em empresarial – (Info 574)

Para efetuar o registro e o arquivamento de alteração contratual, a fim de promover


a transformação de sociedade civil em empresária, não é exigível a apresentação de
certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União, exigindo-se, contudo,
certidão negativa de débito com o INSS.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.393.724-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/10/2015 (Info 574).

3. TRESPASSE
3.1. A cláusula de não concorrência fixada por prazo indeterminado é abusiva –
(Info 554) – IMPORTANTE!!!

Nos contratos de trespasse (alienação do estabelecimento comercial) existe, de


forma implícita, por força de lei, uma cláusula de não concorrência (cláusula de não
restabelecimento).
Isso significa que, em regra, o alienante não pode fazer concorrência ao adquirente.
Segundo o art. 1.147, o prazo da cláusula de não concorrência é de 5 anos.
As partes não podem prever que a cláusula de “não restabelecimento” será por
prazo indeterminado. O ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não
aceita que cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo
indeterminado. Logo, a cláusula de não restabelecimento fixada por prazo
indeterminado é considerada abusiva.
STJ. 4ª Turma. REsp 680.815-PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 20/3/14 (Info 554).

4. SOCIEDADES
4.1. Ação de regresso proposta pela empresa cindida contra a empresa resultante
da cisão – (Info 619)

Cabe ação de regresso para ressarcimento de condenação relativa a obrigações


tipicamente societárias suportada exclusivamente por empresa cindida contra
empresa resultante da cisão parcial, observando-se a proporção do patrimônio
recebido.
Ex: a Tele Sudeste surgiu a partir da cisão parcial da Telebrás (a Tele Sudeste é
2,42% do patrimônio original da Telebrás); determinado banco propôs ação contra
a Telebrás e a Tele Sudeste cobrando uma quantia decorrente de uma obrigação de
debênture (obrigação societária) anterior à cisão; ambas foram condenadas a pagar
o valor total de R$ 5 milhões; a Telebrás cumpriu o julgado e quitou integralmente
a dívida; em seguida, a Telebrás ajuizou ação regressiva contra a Tele Sudeste
cobrando 2,42% do valor pago pela condenação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1642118-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min.
Marco Aurélio Bellizze, j. 12/9/17 (Info 619).
OBS: Em outras palavras, a Tele Sudeste deverá também ser condenada a ressarcir
2,42% do valor que a Telebrás pagou a título de condenação judicial. Ex: 2,42% de R$
5 milhões (mais os juros, correção monetárias, honorários etc.).

Obrigações decorrentes da cisão: A responsabilidade por obrigações decorrentes da


cisão envolve duas classes de obrigações:
a) obrigações tipicamente societárias (decorrentes do vínculo
societário que agrega os acionistas); e
b) obrigações cíveis lato sensu (advindas da apuração do
patrimônio líquido da sociedade cindida).

No tocante à primeira classe, nos termos do art. 229, § 1º, da Lei das Sociedades
Anônimas (LSA), verifica-se que haverá indiscutível sucessão de direitos e obrigações
relacionados no protocolo de cisão:
Lei n. 6.404/76, Art. 229. A cisão é a operação pela qual a
companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou
mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes,
extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de
todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial
a versão.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que
absorver parcela do patrimônio da companhia cindida sucede
a esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão;
no caso de cisão com extinção, as sociedades que absorverem
parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a
esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos
direitos e obrigações não relacionados.

Com efeito, com a cisão ocorrerá o aumento de capital da empresa destinatária, que
absorverá a parcela do patrimônio líquido cindido a título de integralização das
ações subscritas em benefício dos sócios da empresa cindida. Assim, há um
completo entrelaçamento do quadro societário das empresas em negociação. A
atribuição de participação societária na empresa receptora aos sócios da empresa
cindida, na medida em que configura elemento essencial do instituto jurídico, não
pode ser afastada por mera disposição contratual, sob pena de absoluto
desvirtuamento do instituto jurídico.

No caso analisado, tem-se que a natureza da obrigação debatida é


inquestionavelmente de direito societário. Por via de consequência, é devida a ação
de regresso para ressarcimento pela empresa resultante da cisão, observando-se a
proporção do patrimônio cindido recebido.

4.2. Quórum para exclusão judicial do sócio majoritário não inclui as suas quotas
– (Info 616) – Atenção! Juiz de Direito!
A exclusão judicial do sócio majoritário nas sociedades limitadas é disciplinada
pelo art. 1.030 do Código Civil:
Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio
ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por
falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade
superveniente.
O que significa essa expressão “mediante iniciativa da maioria dos demais sócios”
prevista no art. 1.030 do CC? No cálculo dessa maioria deve-se incluir as quotas do
sócio “acusado”?
Não. A lei é explícita ao falar em maioria dos demais sócios. Consideram-se apenas
as quotas dos demais sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se
pretende excluir. Isso porque o art. 1.030 é a oportunidade que a legislação confere
aos sócios minoritários de excluírem o sócio majoritário.
Assim, o quórum deliberativo para exclusão judicial do sócio majoritário por falta
grave no cumprimento de suas obrigações deve levar em conta a maioria do capital
social de sociedade limitada, excluindo-se do cálculo o sócio que se pretende
jubilar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1653421-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/10/17
(Info 616).

4.3. Se o indivíduo não é mais acionista no momento do ato de declaração do


dividendo, não terá direito de receber os lucros da companhia – (Info 610)

Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição
durante o exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da
empresa, por alienação de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do
benefício.
Fundamento jurídico: art. 205 da Lei nº 6.404/76.
Ex: o indivíduo possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade anônima. Em fev/2015,
ele vendeu suas ações. Em abril/2015, a S.A. realizou Assembleia Geral Ordinária e
deliberou pagar aos acionistas da companhia os dividendos apurados no ano
anterior (2014). Este indivíduo não terá direito ao pagamento porque na data do ato
de declaração do dividendo (data da Assembleia), ele já não mais fazia parte do
quadro de acionistas da Companhia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/8/17 (Info 610).
OBS:
Art. 205. A companhia pagará o dividendo de ações
nominativas à pessoa que, na data do ato de declaração do
dividendo, estiver inscrita como proprietária ou usufrutuária
da ação.

O autor vendeu suas ações em fevereiro de 2015. O ato de declaração do dividendo


ocorreu em abril de 2015 (data em que foi realizada a Assembleia Geral Ordinária).
Neste momento, o autor já não mais fazia parte do quadro de acionistas da
Companhia. Logo, ele realmente não tinha mais direito aos dividendos.
O simples fato de o autor possuir as ações no período do exercício a que correspondem
os dividendos, não faz com que ele tenha direito aos dividendos considerando que
existe regra expressa no art. 205 exigindo que a pessoa esteja inscrita como proprietária
ou usufrutuária na data do ato de declaração do dividendo.
4.4. Se parte das quotas do sócio retirante estão empenhadas (penhor), a apuração
dos haveres ficará limitada às quotas livres do ônus real – (Info 608)

A dissolução parcial de sociedade limitada por perda da affectio societatis pode ser
requerida pelo sócio retirante, limitada a apuração de haveres às suas quotas livres
de ônus reais.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.766-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 1/6/17 (Info 608).

5. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO


5.1. Aplicação do art. 1.034 do CC para a sua dissolução judicial – (Info 554)

Como ocorre a dissolução da sociedade em conta de participação? Qual é o


fundamento legal? Não existe regra específica para disciplinar a dissolução da
sociedade em conta de participação. Diante disso, o STJ decidiu que deverá ser
aplicada, subsidiariamente, a regra do art. 1.034 do CC, que define, de forma
taxativa, as hipóteses pelas quais se admite a dissolução judicial das sociedades.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.230.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/12/14 (Info
554).

6. SOCIEDADE LIMITADA
6.1. O herdeiro necessário não possui legitimidade para ação de dissolução parcial
de sociedade, salvo se for em defesa de interesse do espólio – (Info 611)

O herdeiro necessário não possui legitimidade ativa para propositura de ação de


dissolução parcial de sociedade em que se busca o pagamento de quotas sociais
integrantes do acervo hereditário quando não for em defesa de interesse do espólio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.672-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 22/8/17 (Info
611).
OBS: A jurisprudência do STJ até admite que, enquanto não for realizada a partilha,
o herdeiro necessário ingresse em juízo pedindo a dissolução parcial da sociedade
empresária e a apuração de haveres. No entanto, isso somente é admitido se o pedido
for feito na defesa do interesse do espólio. Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp
1.505.428-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 27/6/2016.

No caso concreto, contudo, o herdeiro necessário não estava tutelando os interesses


do espólio, mas sim seus interesses individuais.

A liquidação da quota social em virtude da decisão do herdeiro de não prosseguir o


exercício empresarial, depende de uma manifestação do espólio, ou seja, do conjunto
de herdeiros, e não de um único herdeiro. Assim, a realização da apuração de haveres
antes da partilha apenas deverá ocorrer quando houver consenso quanto à
inexistência de interesse na sucessão do falecido na sociedade empresária. O intuito
precípuo da legislação é o de preservação da sociedade empresária e isso pode acabar
sendo inviabilizado ou, ao menos dificultado, se houver a liquidação da quota social.

6.2. Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante de sociedade por quotas
de responsabilidade limitada – (Info 558)
Ocorre a dissolução parcial da sociedade limitada quando um ou alguns dos sócios
saem da sociedade, mas ela é preservada e continua suas atividades.
Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito
de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria.
Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.
Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no
patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.
O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um
procedimento denominado de APURAÇÃO DE HAVERES.
Qual é o critério adotado para se fazer a apuração de haveres do sócio retirante?

SEGUNDO O ENTENDIMENTO DO STJ:


 O contrato social pode prever o critério para a apuração dos haveres do sócio
retirante no caso de dissolução parcial de sociedade limitada;
 No entanto, o critério previsto no contrato social somente prevalecerá se
houver consenso entre as partes quanto ao resultado alcançado;
 Caso não haja concordância entre as partes, deve-se aplicar o “balanço de
determinação”, que é o critério que melhor reflete o valor patrimonial da
empresa;
 O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor
revela a situação econômica e a capacidade de geração de riqueza de uma
empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de determinação na
apuração de haveres do sócio dissidente.

SEGUNDO O CPC 2015:


 A primeira opção no caso de apuração dos haveres é adotar o critério
previsto no contrato social (art. 604, II).
 Somente se o contrato social for omisso, ou seja, apenas se ele não previr
um critério de apuração de haveres, é que será adotado o “balanço de
determinação” (art. 606).

Enquanto o novo CPC não entra em vigor, fique com o entendimento do STJ. Após
março de 2016, o mais seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606,
que irá ser bastante cobrado nas provas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.619-SP, Rel. originária e voto vencedor Min. Nancy
Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, j. 3/3/15 (Info 558).

7. SOCIEDADE ANÔNIMA
7.1. Inventariante não pode votar em assembleia da sociedade anônima alterando
o controle da companhia e alienando bens do acervo patrimonial – (Info 612)

O inventariante, representando o espólio, não pode votar em assembleia de


sociedade anônima da qual o falecido era sócio com a pretensão de alterar o
controle da companhia e vender bens do acervo patrimonial.
Os poderes de administração do inventariante são aqueles relativos à conservação
dos bens inventariados para a futura partilha, dentre os quais se pode citar o
pagamento de tributos e aluguéis, a realização de reparos e a aplicação de recursos,
atendendo o interesse dos herdeiros.
A atuação do inventariante, alienando bens sociais e buscando modificar a natureza
das ações e a própria estrutura de poder da sociedade anônima, está fora dos limites
dos poderes de administração e conservação do patrimônio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.627.286-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 20/6/17
(Info 612).
OBS:
No momento da sucessão (morte do autor da herança), o patrimônio do falecido se
constitui numa universalidade de bens, que sofrerá divisão com o término da partilha.
Enquanto perdura o processo de divisão do patrimônio, é preciso que alguém
administre o espólio, zelando pelos bens que o integram. Essa pessoa é o
inventariante.
De acordo com o art. 618, II, do CPC/2015:
Art. 618. Incumbe ao inventariante:
(...)
II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma
diligência que teria se seus fossem;

Segundo o art. 619, I, do CPC, o inventariante somente poderá fazer a alienação de


bens de qualquer espécie se ouvir previamente os interessados e desde que haja
autorização judicial.
O inventariante, ao participar da assembleia geral, tinha o objetivo de alterar o estatuto
social da companhia para permitir a conversão de ações preferenciais em ordinárias,
atendendo seu interesse pessoal e de alguns outros herdeiros. Com a alteração
realizada, os herdeiros detentores de ações preferenciais, que não têm direito a voto,
passariam a ter esse direito, o que poderia modificar o controle acionário da
companhia. Trata-se, portanto, de ato que extrapola a simples administração.
Nesse contexto, não há como entender que o voto do inventariante para modificar a
natureza das ações e a própria estrutura de poder da sociedade anônima esteja
dentro dos limites estabelecidos pelo art. 618, II, do CPC.

7.2. Fechamento em branco ou indireto de capital – (Info 612)

Não configura o fechamento em branco ou indireto de capital a hipótese de


incorporação de ações de sociedade controlada para fins de transformação em
subsidiária integral (art. 252 da Lei das S/A), realizada entre sociedades de capital
aberto, desde que se mantenha a liquidez e a possibilidade de os acionistas
alienarem as suas ações.
Assim, é desnecessária a oferta pública de ações em favor dos acionistas
preferenciais da companhia que teve suas ações incorporadas, mas que continuam
com plena liquidez no mercado de capitais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.327-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por
unanimidade, j. 19/9/2017 (Info 612).

7.3. Definição do “valor justo de mercado” como critério a ser utilizado para o
cálculo do valor de reembolso das ações do acionista dissidente retirante – (Info 611)

A definição do valor justo de mercado como critério a ser utilizado para o cálculo
do valor de reembolso das ações do acionista dissidente retirante, por ocasião da
incorporação da companhia controlada, não infringe o disposto no art. 45, § 1º, da
Lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações).
A utilização do valor justo de mercado como parâmetro para indenizar as ações de
acionista retirante em caso de incorporação de companhias não fere a Lei das
Sociedades Anônimas, e é possível nos casos em que o valor do patrimônio líquido
contábil da empresa incorporada não reflita fielmente o valor daquelas ações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.572.648-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 12/9/17
(Info 611).

7.4. Dissolução parcial da sociedade anônima que não está gerando lucros – (Info
595)

É possível que sociedade anônima de capital fechado, ainda que não formada por
grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito de não atingir
seu fim – consubstanciado no auferimento de lucros e na distribuição de
dividendos aos acionistas –, restar configurada a viabilidade da continuação dos
negócios da companhia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 6/12/16 (Info 595).
(TRF4-2013): Segundo a jurisprudência prevalente, é possível a dissolução parcial
de sociedade anônima com a retirada dos sócios dissidentes, após a apuração de
seus haveres.

(MPRO-2010-CESPE): É possível a dissolução parcial da sociedade anônima


familiar fechada quando houver quebra da affectio societatis, ainda que tal requisito
não esteja necessariamente conjugado com a perda de lucratividade e a ausência
de distribuição de dividendos.

7.5. Legitimidade ativa para ação social – (Info 563)

Acionistas e companhia podem litigar em litisconsórcio facultativo ativo em ação


de responsabilidade civil contra o administrador pelos prejuízos causados ao
patrimônio da sociedade anônima (art. 159 da Lei 6.404/1976), quando não proposta
a ação pela companhia no prazo de três meses após a deliberação da assembleia-
geral (§ 3º).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.515.710-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
12/5/2015 (Info 563).

1. APURAÇÃO DE HAVERES
1.1. Competência para julgar dissolução parcial de sociedade limitada com
apuração de haveres – (Info 566)

João era sócio em mais de 20 sociedades limitadas de grande porte. Determinado


dia, João morre. Foi instaurado um processo judicial de inventário e partilha dos
bens de João, sendo nomeada como inventariante a sua mulher sobrevivente. A
inventariante deseja ingressar com "ação de dissolução parcial da sociedade com
apuração dos haveres" a fim de que seja calculado o valor que seu marido falecido
tinha direito em relação a cada uma das empresas.
O advogado da inventariante ficou, no entanto, com uma dúvida: o juízo
competente para julgar essa ação será a vara cível ou a vara de sucessões (onde já
tramita o inventário do sócio falecido)?
Compete ao juízo cível - e não ao juízo de sucessões no qual tramita o inventário -
julgar, com consequente apuração de haveres do de cujus, dissolução parcial de
sociedade limitada que demande extensa dilação probatória. No caso concreto, o
juízo competente será a vara cível porque eram muitas sociedades, exigindo ampla
dilação probatória, o que é inviável no juízo do inventário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.459.192-CE, Rel. originário Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para
acórdão João Otávio de Noronha, julgado em 23/6/2015 (Info 566).

1. COOPERATIVAS
1.1. Alteração no CNPJ por transformação de sociedade cooperativa – (Info 568)

As cooperativas possuem natureza jurídica de "sociedades simples", conforme


determina o art. 982, parágrafo único do CC.
Se uma cooperativa quiser se transformar em uma sociedade empresária ela não
precisará primeiro ser dissolvida e liquidada para depois ser constituída uma nova
pessoa jurídica (sociedade empresária). Isso pode ser feito direto, ou seja, ao
mesmo tempo que a cooperativa deixa de existir, ela passa a ser uma sociedade
empresária, permitindo-se que ela mantenha o mesmo número do CNPJ.
Enfim, a alteração no CNPJ da razão social de sociedade cooperativa que modificou
sua forma jurídica não exige o prévio cancelamento de sua autorização para
funcionar e de seu registro.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.528.304-RS, Rel. Min. Humberto Martins, j. 20/8/15 (Info 568).

1. CONTRATO DE FRANQUIA
1.1. Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser
observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96 – (Info 591) – IMPORTANTE!!!

A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim,
é um contrato de adesão.
Segundo o art. 4º, § 2º da Lei 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula
compromissória só terá eficácia se o aderente:
 tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou
 concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento
anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de
consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º,
da Lei 9.307/96.
Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de
franquia, desde que observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).
OBS:
CONTRATO DE FRANQUIA: A franquia é um contrato por meio do qual uma
empresa (franqueador) transfere a outra (franqueado) o direito de usar a sua marca
ou patente e de comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, haver a
transferência de conhecimentos do franqueador para o franqueado. O contrato de
franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que conceitua esse pacto nos seguintes
termos:
Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um
franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou
patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou
semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente,
também ao direito de uso de tecnologia de implantação e
administração de negócio ou sistema operacional
desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante
remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique
caracterizado vínculo empregatício.

O contrato firmado entre o franqueado e o franqueador é regido pelo Código de Defesa


do Consumidor? O franqueado poderá invocar o CDC para discutir seus direitos em
relação ao franqueador? NÃO.

O contrato de franquia é um contrato de adesão? SIM. O contrato de franquia é um


contrato de adesão.
"Caracterizam-se os contratos de adesão pela desigualdade
entre as partes contratantes: basicamente, uma das partes, o
policitante, impõe à outra – o oblato – as condições e cláusulas
que previamente redigiu. Não existe discussão a respeito do
teor do contrato e suas cláusulas, de modo que o oblato cinge-
se a anuir à proposta do policitante. Tais contratos supõem,
antes de mais nada, a superioridade econômica de um dos
contratantes, que fixa unilateralmente as cláusulas
contratuais; o contratante economicamente mais fraco
manifesta seu consentimento aceitando, pura e simplesmente,
as condições gerais impostas pelo outro contratante; a
proposta é, de regra, aberta a quem se interessar pela
contratação; e a oferta é predeterminada, uniforme e rígida."
(CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um
comentário à Lei nº 9.307/96. São Paulo: Atlas, 3ª ed., 2009, p.
106)

Mas o contrato de franquia não é um contrato de consumo... Não importa. Essa


confusão é um erro comum em muitos estudantes. Nem todo contrato de adesão é um
contrato de consumo e nem todo contrato de consumo é de adesão. São conceitos
diferentes. Portanto, o contrato de franquia não é um contrato de consumo, mas,
mesmo assim, é um contrato de adesão.

CLÁUSULA ARBITRAL NO CONTRATO DE FRANQUIA


Em que consiste a arbitragem? Arbitragem representa uma técnica de solução de
conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja
decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Vale ressaltar que a arbitragem é
uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é
resolvido por um terceiro.

Regulamentação: A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei 9.307/96, havendo


também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema.

Em que consiste a chamada cláusula compromissória? A cláusula compromissória,


também chamada de cláusula arbitral, é...
- uma cláusula prevista no contrato,
- de forma prévia e abstrata,
- por meio da qual as partes estipulam que
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal).

Exemplo:
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura
surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão
resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96
e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma
apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da
Câmara de Arbitragem)."

A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei 9.307/96:


Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da
qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à
arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a
tal contrato.

A cláusula compromissória é válida?

REGRA: a cláusula compromissória é VÁLIDA.


Peculiaridade 1: Peculiaridade 2: Peculiaridade 3:
contratos de ADESÃO contratos de CONSUMO Dissídios individuais de
TRABALHO
É válida, desde que o Não é válida. O CDC Não é válida arbitragem
aderente: estipula que é nula de nos dissídios individuais
• tenha tomado a pleno direito a cláusula de trabalho, conforme
iniciativa de instituir a que determina a utilização entendimento pacífico do
arbitragem; ou compulsória de TST.
• concorde, arbitragem (art. 51, VII).
expressamente, com a sua Vale ressaltar, no entanto, Obs: é permitida a
instituição, por escrito, em que é possível arbitragem no caso de
documento anexo ou em compromisso arbitral nas dissídios coletivos de
negrito, com a assinatura relações de consumo trabalho (art. 114, § 1º da
ou visto especialmente (REsp 1.169.841-RJ). CF/88).
para essa cláusula (art. 4º,
§ 2º, da Lei 9.307/96).

É possível a previsão de cláusula compromissória em contratos de franquia? O


contrato de franquia é uma espécie de contrato de adesão.
Assim, só será válida cláusula compromissória em contrato de franquia se o aderente
(franqueado):
 tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou
 concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento
anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula.
Desse modo, aplica-se ao contrato de franquia a regra prevista no § 2º do art. 4º da Lei
9.307/96:
§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só
terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a
arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua
instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em
negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula.

Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de


consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º,
da Lei nº 9.307/96.

1.2. Validade de notificação por e-mail para o exercício de direito de preferência


(Info 570)

Em um contrato de franquia, havia uma cláusula segundo a qual a franqueadora


teria direito de preferência caso a fraqueada decidisse vender o estabelecimento
comercial. Para isso, quando a franqueada recebesse alguma proposta pelo imóvel,
deveria notificar a franqueadora para que esta decidisse se desejaria pagar o mesmo
valor e, assim, ficar com o bem.
A franqueada recebeu uma proposta para vender o estabelecimento comercial e
notificou a franqueadora, por e-mail, para que esta exercesse seu direito de
preferência.
O STJ entendeu que essa notificação por e-mail é válida.
No caso concreto, o Tribunal entendeu que a notificação realizada foi idônea
porque: o contrato não previa forma específica para a notificação; o correio
eletrônico era o meio usual de comunicação entre franqueadora e franqueado;
houve ciência inequívoca da franqueadora quanto à data do envio e do recebimento
da mensagem; havia segurança da franqueadora quanto à legitimidade do
remetente já que ela sempre recebia e-mails do franqueado; e quanto ao conteúdo,
foram respeitados os requisitos estabelecidos na cláusula contratual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.545.965-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
22/9/2015 (Info 570).

2. FACTORING
2.1. Empresa de factoring que recebeu cessão dos créditos de contrato tem
legitimidade para figurar no polo passivo da ação que pede a revisão do pacto – (Info
608)

A empresa de factoring, que figura como cessionária dos direitos e obrigações


estabelecidos em contrato de compra e venda em prestações, de cuja cessão foi
regularmente cientificado o devedor, tem legitimidade para figurar no polo passivo
de demandas que visem à revisão das condições contratuais.
Ex: Pedro comprou da loja uma moto parcelada. No mesmo instrumento contratual,
a loja cedeu esse crédito para uma factoring. Assim, no próprio contrato de compra
e venda havia uma cláusula dizendo que a loja estava cedendo o crédito para a
factoring, a quem o devedor deveria pagar as parcelas e que, em caso de
inadimplemento, a factoring iria pleitear a restituição do bem vendido. Se Pedro
desejar propor ação pedindo a revisão deste contrato, poderá ajuizá-la diretamente
contra a factoring.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.343.313-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão
Min. Antônio Carlos Ferreira, j. 1/6/17 (Info 608).

2.2. Factoring e desnecessidade de notificação de emitente de título de crédito –


(Info 573)

É desnecessária a notificação de emitente de cheque com cláusula "à ordem", para


que o faturizador que tenha recebido a cártula por meio de endosso possa cobrar o
crédito decorrente de operação de factoring.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.236.701-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/11/15 (Info
573).

2.3. Faturizada responde caso o título cedido à faturizadora seja inexistente – (Info
535)

A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada que, por contrato de


factoring vinculado a nota promissória, tenha cedido duplicatas sem causa
subjacente.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.289.995-PE, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em
20/2/2014 (Info 535).

2.4. As empresas de factoring não são instituições financeiras (não há relação de


consumo no contrato entre uma sociedade empresária e a factoring)

As empresas de factoring NÃO são instituições financeiras, visto que suas


atividades regulares de fomento mercantil não se amoldam ao conceito legal,
tampouco efetuam operação de mútuo ou captação de recursos de terceiros.
Uma sociedade empresária que contrata os serviços de uma factoring não pode ser
considerada consumidora porque não é destinatária final do serviço e, tampouco se
insere em situação de vulnerabilidade, já que não se apresenta como sujeito mais
fraco, com necessidade de proteção estatal.
Logo, não há relação de consumo no contrato entre uma sociedade empresária e a
factoring.
STJ. 4ª Turma. REsp 938.979-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
19/6/2012.

3. TÍTULOS DE CRÉDITO
3.1. Não é necessária prévia autorização do cônjuge para que a pessoa preste aval
em títulos de créditos típicos – (Info 604) – NOVIDADE!!!

O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu que uma pessoa casada somente
pode prestar aval se houver autorização do seu cônjuge (exceção: se o regime de
bens for da separação absoluta).
Essa norma exige uma interpretação razoável e restritiva, sob pena de
descaracterizar o aval como instituto cambiário.
Diante disso, o STJ afirmou que esse art. 1.647, III, do CC somente é aplicado para
os títulos de créditos inominados, considerando que eles são regidos pelo Código
Civil.
Por outro lado, os títulos de créditos nominados (típicos), que são regidos por leis
especiais, não precisam obedecer essa regra do art. 1.647, III, do CC.
Em suma, o aval dado aos títulos de créditos nominados (típicos) prescinde de
outorga uxória ou marital.
Exemplos de títulos de créditos nominados: letra de câmbio, nota promissória,
cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.526.560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 16/3/17
(Info 604).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.633.399-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/11/2016.
OBS:
No que tange aos títulos de crédito nominados, o Código Civil tem uma aplicação
apenas subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico da
regulamentação dos títulos de crédito, no Código Civil, foi apenas o de permitir a
criação dos denominados títulos atípicos ou inominados.

Assim, não deve ser aplicado art. 1.647, III, do CC aos títulos nominados porque esta
regra é incompatível com as características dos títulos de crédito típicos.

A exigência de autorização do cônjuge do avalista enfraquece a garantia dos títulos de


crédito, gerando intranquilidade e insegurança.

O aval consiste em uma declaração unilateral de vontade inserida no próprio título


por meio da qual o avalista declara garantir o pagamento do valor inscrito no título.
É, portanto, um instituto comercial muito mais ágil e informal do que a fiança, que é
feita por intermédio de contrato.

A outorga uxória ou marital é compatível com o contrato de fiança, mas não com o
aval que, como dito, é uma declaração unilateral. O portador do título de crédito, em
regra, não tem contato algum com o avalista e, menos ainda, com algum documento
de identificação deste por meio do qual possa descobrir seu estado civil.

3.2. Ação de locupletamento do art. 48 do Decreto 2.044/1908 envolvendo notas


promissórias – (Info 580)

A simples apresentação de nota promissória prescrita é suficiente para embasar a


ação de locupletamento pautada no art. 48 do Dec. 2.044/08, não sendo necessário
comprovar a relação jurídica subjacente.
A pretensão de ressarcimento veiculada em ação de locupletamento pautada no art.
48 do Dec. 2044/08 prescreve em 3 anos, contados do dia em que se consumar a
prescrição da ação executiva.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.323.468-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
17/3/2016 (Info 580).
OBS:
Conceito: A nota promissória é...
- um título de crédito
- no qual o emitente, por escrito, se compromete a pagar (promessa de
pagamento)
- uma certa quantia em dinheiro
- a uma outra pessoa (tomador ou beneficiário).

Título executivo extrajudicial: A nota promissória é um título executivo extrajudicial


(art. 585, I, do CPC). Assim, se não for paga, poderá ser ajuizada ação de execução
cobrando o valor.

Qual é o prazo prescricional para a execução da nota promissória contra o emitente


e o avalista? Esse prazo é de 3 anos (art. 70 da Lei Uniforme de Genebra - Decreto nº
57.663/66).

Mesmo que tenha transcorrido esse prazo e a nota promissória tenha perdido sua
força executiva (esteja prescrita), ainda assim será possível a sua cobrança? SIM. O
beneficiário terá duas opções para cobrar o valor contido na nota promissória:

1) Poderá ajuizar ação monitória.


Súmula 504-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória
em face do emitente de nota promissória sem força executiva
é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do
título.
2) Poderá propor ação de locupletamento, com base no art. 48
do Decreto nº 2.044/1908:
Art. 48. Sem embargo da desoneração da responsabilidade
cambial, o sacador ou o aceitante fica obrigado a restituir ao
portador, com os juros legais, a soma com a qual se locupletou
à custa deste.

Dica: pelo fato de o art. 48 do Dec. 2044/08 prever uma ação específica para cobrar o
valor do título, não deve o autor ingressar com ação de enriquecimento sem causa
baseada no art. 884 do Código Civil. Isso porque a ação de enriquecimento sem causa
amparada no Código Civil não tem cabimento caso a lei já preveja outro meio
especificamente estabelecido para o ressarcimento do prejuízo. Veja a redação do art.
884: "Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros
meios para se ressarcir do prejuízo sofrido".

O autor da ação de locupletamento deverá provar a causa debendi, ou seja, a causa


que deu origem a emissão do título? Ex: a nota promissória foi emitida por João pelo
fato de ele ter comprado um celular de Pedro. Esse negócio jurídico que deu origem à
emissão da nota promissória precisa ser provado pelo autor da ação de
locupletamento? NÃO. Apesar de existir controvérsia na doutrina acerca da natureza
dessa ação de locupletamento do art. 48, prevalece que se trata de uma "ação de
natureza cambiária" (ação cambial), na medida em que amparada no título de crédito
que perdeu sua força executiva (e não na relação jurídica que deu origem à sua
emissão), além de estar prevista na legislação de regência de tais títulos. Desse modo,
nas ações cambiais não é necessário comprovar a causa debendi. Repare também que
o aludido art. 48 fala que a ação de locupletamento pode ser proposta pelo "portador"
do título de crédito. Ora, se o referido Decreto (que tem força de lei) faculta essa
possibilidade ao portador, significa dizer que ele não se importa com a relação jurídica
que deu causa a este título, uma vez que, se pensarmos na hipótese de título que tenha
circulado, o portador não teria como fazer prova da relação jurídica subjacente. Dessa
maneira, a posse, pelo portador, da nota promissória não paga e prescrita gera a
presunção juris tantum de veracidade do locupletamento ilícito havido pelo não
pagamento (em contrapartida ao empobrecimento do portador do título), nada
obstante seja assegurada a amplitude de defesa ao réu.

Qual é o prazo prescricional de que dispõe o autor para ajuizar essa ação de
locupletamento da nota promissória prescrita? 3 anos, contados do dia em que se
consumar a prescrição da ação executiva.

Como o Dec. 2044/08 não prevê prazo prescricional específico para o exercício dessa
pretensão, utiliza-se o prazo previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC, de acordo com o qual
prescreve em "três anos" "a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa".
Cuidado:
 Ação de locupletamento envolvendo NOTA PROMISSÓRIA (art. 48 do
Decreto nº 2.044/1908): prazo prescricional de 3 anos.
 Ação de locupletamento envolvendo CHEQUE (art. 62 da Lei n.º 7.357/85):
prazo prescricional de 2 anos.

3.3. Sustação de protesto e prestação de contracautela – (Info 571) –


IMPORTANTE!!!

A legislação de regência estabelece que o documento hábil a protesto extrajudicial


é aquele que caracteriza prova escrita de obrigação pecuniária líquida, certa e
exigível. Portanto, a sustação de protesto de título, por representar restrição a
direito do credor, exige prévio oferecimento de contracautela, a ser fixada conforme
o prudente arbítrio do magistrado.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.340.236-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info 571)

3.4. Oposição de exceções pessoais à empresa de factoring – (Info 564)

A pessoa que está obrigada a pagar o título de crédito poderá invocar exceções
pessoais que tenha contra o beneficiário original para evitar o pagamento mesmo
que este título tenha circulado e já se encontre nas mãos de terceiro? A pessoa, para
não pagar, pode alegar que o negócio subjacente não aconteceu?
• Regra: NÃO. Se o título circulou e se encontra nas mãos de terceiro de boa-fé, este
poderá cobrar o valor do devedor. O devedor, por seu turno, não poderá invocar
contra o portador exceções pessoais que tenha e que estejam relacionadas com o
beneficiário original.
• Exceção: Factoring. Se o título tiver sido cedido para uma empresa de factoring:
SIM. Na operação de factoring, há verdadeira cessão de crédito, e não mero
endosso, razão pela qual fica autorizada a discussão da causa debendi, conforme
prevê o art. 294 do CC. A faturizadora (factoring) não pode ser equiparada a um
terceiro de boa-fé porque ela tem uma relação mais profunda com a faturizada,
devendo fazer uma análise do crédito que lhe está sendo transferido.
O sacado pode opor à faturizadora a qual pretende lhe cobrar duplicata recebida
em operação de factoring exceções pessoais que seriam passíveis de contraposição
ao sacador, ainda que o sacado tenha eventualmente aceitado o título de crédito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.439.749-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
2/6/2015 (Info 564).
3.5. Responsabilidade pela baixa após o pagamento – (Info 548)

Após o pagamento do título protestado, o credor que foi pago tem a responsabilidade
de retirar o protesto lavrado?
NÃO. Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR, providenciar o
cancelamento do protesto, salvo se foi combinado o contrário entre ele e o credor.
No regime próprio da Lei 9.492/1997, legitimamente protestado o título de crédito
ou outro documento de dívida, salvo inequívoca pactuação em sentido contrário,
incumbe ao devedor, após a quitação da dívida, providenciar o cancelamento do
protesto.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.339.436-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
10/9/2014 (recurso repetitivo) (Info 548).

4. PROTESTO
4.1. Não cabem danos morais se houve protesto de cheque prescrito, mas cuja
dívida ainda poderia ser cobrada por outros meios – (Info 616) – Atenção! Juiz de
Direito!

O protesto irregular de cheque prescrito não caracteriza abalo de crédito apto a


ensejar danos morais ao devedor, se ainda remanescer ao credor vias alternativas
para a cobrança da dívida consubstanciada no título.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.772-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/11/17 (Info 616).
OBS:
O que é o cheque? O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista
- que é dada pelo emitente do cheque
- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador)
- ordem essa que deve ser cumprida por um banco
- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula
- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela
instituição financeira.

“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que


seu criador não promete efetuar pessoalmente o pagamento,
mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento. Esse
terceiro deverá ser um banco, no qual o criador do cheque
deverá ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco
efetuará o pagamento das ordens que lhe forem sendo
apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará exigível sempre
no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento
sempre à vista).” (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito
Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).

Personagens:
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;

b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);


c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem
de pagamento, ou seja, aquele que tem o direito de receber o
valor escrito no cheque.

Título executivo: O cheque é título executivo extrajudicial (art. 784, I, do CPC 2015).
Assim, se não for pago, o portador do cheque poderá ajuizar ação de execução contra
o emitente e eventuais codevedores (endossantes, avalistas). Essa ação de execução é
conhecida como “ação cambial”.

O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”? É o prazo de que dispõe o


portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de receber o valor
determinado na cártula. Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O
prazo de apresentação é o tempo que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e
receber o valor. O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do
cheque.

De quanto é o prazo de apresentação?


30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do Se o cheque for de praça diferente
pagamento (município onde foi (município onde foi assinado é
assinado é o município da agência diferente do município da agência
pagadora). pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da O prazo será de 60 dias se o local da
emissão do cheque (preenchido pelo emissão do cheque (preenchido pelo
emitente) for o mesmo lugar do emitente) for diferente do lugar do
pagamento (local da agência pagadora pagamento (local da agência pagadora
impressa no cheque). Nesse caso, diz-se impressa no cheque). Nesse caso, diz-se
que o cheque é da mesma praça (mesmo que o cheque é de outra praça.
município). Ex: em um cheque de uma agência de
Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o emitente datou e
São Paulo (SP), o emitente datou e assinou Manaus (AM) como local da
assinou São Paulo (SP) como local da emissão.
emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá


pagamento? SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser
apresentado para pagamento ao sacado, desde que não esteja prescrito.

Então para que serve esse prazo de apresentação? A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da
execução do cheque.

2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para


pagamento dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário
perde o direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente
do cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus
avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no
prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a
recusa de pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha
fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de
fato que não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n. 7.357/85).

Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque? 6 meses, contados do fim do


prazo de apresentação do cheque. Atente-se que o prazo prescricional somente se
inicia quando termina o prazo de apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao
banco sacado. Logo, os seis meses iniciam-se com o fim do prazo de 30 dias (mesma
praça) ou com o término do prazo de 60 dias (se de praças diferentes).

Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim será possível a sua cobrança? SIM.
Com o fim do prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque.
Diz-se que o cheque perdeu sua força executiva. No entanto, mesmo assim o
beneficiário poderá cobrar o valor desse cheque por outros meios, quais sejam:
1) Ação de enriquecimento sem causa (“ação de locupletamento”): prevista no art.
61 da Lei do Cheque (Lei 7.357/85). Essa ação tem o prazo de 2 anos, contados do dia
em que se consumar a prescrição da ação executiva.

2) Ação de cobrança (ação causal): prevista no art. 62 da Lei do Cheque. O prazo é de


5 anos, nos termos do art. 206, § 5º, I, CC.

3) Ação monitória.

Desse modo, estando o cheque prescrito (sem força executiva), ele poderá ser cobrado
do emitente por meio de ação monitória? SIM. O beneficiário do cheque poderá
ajuizar uma ação monitória para cobrar do emitente o valor consignado na cártula.
Existe até uma súmula que menciona isso: Súmula 299-STJ: É admissível a ação
monitória fundada em cheque prescrito.

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João emitiu um


cheque em favor da empresa “ABC”. A empresa tentou efetuar o saque da quantia,
mas não havia fundos disponíveis. 1 ano depois, ou seja, quando o cheque já estava
prescrito, a empresa “ABC” levou este título para protesto. João ingressou, então, com
ação declaratória de nulidade de protesto de título c/c pedido de indenização por
danos morais contra a empresa “ABC” alegando que ela levou a protesto um cheque
prescrito.

O que é um protesto de título? É o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião,
com a finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação
constante de título de crédito ou de outros documentos de dívida.

É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo
de apresentação? SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente
depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional
relativo à ação cambial de execução.

Mas o art. 48 da Lei 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o
prazo de apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior
devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da
expiração do prazo de apresentação.” E agora? O STJ afirma que a exigência imposta
no art. 48 de que o protesto ocorra antes de expirado o prazo de apresentação do
cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito contra os coobrigados,
para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título. Em
outras palavras, o art. 48 da Lei 7.357/85 trata apenas da possibilidade de cobrança
dos eventuais devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor principal
(emitente). O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de
apresentação, desde que o cheque ainda não esteja prescrito.

Relembrando:
 Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do
pagamento ou 60 dias, se for de praça diferente.
 Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do
momento em que termina o prazo de apresentação do cheque.

O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o


exercício do direito de regresso deve ocorrer antes de expirado
o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do
chamado protesto necessário.
O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer
mesmo depois do prazo de apresentação, desde que não
escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de
Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

O STJ fixou a seguinte tese sob a sistemática de recurso repetitivo:


Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o
protesto cambiário de cheque com a indicação do emitente
como devedor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, j. 27/4/2016 (recurso repetitivo) (Info 584).

Voltando ao nosso exemplo, o juiz deverá determinar o cancelamento do protesto?


SIM. Em nosso exemplo, o protesto foi indevido considerando que realizado com a
indicação do emitente como devedor, mas feito após o prazo prescricional do cheque.

E quanto aos danos morais? João (devedor) deverá ser indenizado por danos morais?
NÃO. Isso porque o cheque, apesar de estar prescrito, ainda poderia ser cobrado por
outros meios. No âmbito do protesto irregular de título de crédito, o reconhecimento
do dano moral está diretamente relacionado com a ideia do abalo de crédito causado
pela publicidade do ato notarial que, naturalmente, faz associar ao devedor a pecha
de “mau pagador” perante a praça. Se houve um protesto irregular (porque o cheque
está prescrito), mas existem ainda outras vias alternativas para a cobrança da dívida,
entende-se que esse protesto indevido não gerou um abalo no crédito do devedor,
considerando que o emitente do título permanece na condição de devedor, estando,
de fato, impontual no pagamento. Com efeito, aquele que, efetivamente, insere-se na
condição de devedor, estando em atraso no pagamento de dívida regularmente por si
assumida, passível de cobrança por meios outros que não a execução, não pode se
sentir moralmente ofendido pelo protesto, mesmo sendo ele extemporâneo. No caso
concreto, mesmo estando o cheque prescrito, a empresa ainda tinha, à sua
disposição, três ações judiciais possíveis. Assim, embora indevido o protesto, João
permanecia na condição de devedor inadimplente, razão pela qual não está
caracterizado abalo de crédito apto a ensejar a caracterização de dano moral
indenizável.

4.2. Intimação por edital e necessidade de esgotamento dos meios de localização


do devedor – (Info 579)

O tabelião, antes de intimar o devedor por edital, deve esgotar os meios de


localização, notadamente por meio do envio de intimação por via postal, no
endereço fornecido por aquele que procedeu ao apontamento do protesto.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para
acórdão Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016 (recurso
repetitivo) (Info 579).
OBS:
O que é um protesto de título? É o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião,
com a finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação
constante de título de crédito ou de outros documentos de dívida. O protesto é
regulado pela Lei 9492/97.

Quem é o responsável pelo protesto? O tabelião de protesto.

"O particular não pratica o protesto, mas solicita ao Tabelião


que o pratique. Este pode, depois de analisar os requisitos
formais do documento, negar-se a tal lavratura, caso encontre
vício que justifique a negativa.
(...)
O protesto é, pois, ato do tabelião de Protesto, que o pratica
por provocação do interessado, depois de respeitado o
procedimento legal." (BUENO, Sérgio Luiz. O protesto de
títulos e outros documentos de dívida. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris, 2011, p. 20 e 21)

Quais são as vantagens do credor realizar o protesto? Existem inúmeros efeitos que
decorrem do protesto; no entanto, as duas principais vantagens para o credor são as
seguintes:
a) serve como meio de provar que o devedor está inadimplente;
b) funciona como uma forma de coerção para que o devedor cumpra sua obrigação
sem que seja necessária uma ação judicial (como o protesto lavrado gera um abalo no
crédito do devedor, que é inscrito nos cadastros de inadimplentes, a doutrina afirma
que o receio de ter um título protestado serve como um meio de cobrança extrajudicial
do débito; ao ser intimado do protesto, o devedor encontra uma forma de quitar seu
débito).

Procedimento até ser registrado o protesto do título:


1) o credor leva o título até o tabelionato de protesto e faz a apresentação, pedindo que
se proceda ao protesto e informando os dados e endereço do devedor;
2) o tabelião de protesto examina os caracteres formais do título;
3) se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto
devedor no endereço apresentado pelo credor (art. 14 da Lei nº 9.492/97);
4) a intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ou
providencie a sustação do protesto antes de ele ser lavrado;
Após a intimação, poderão ocorrer quatro situações:
4.1) o devedor pagar (art. 19);
4.2) o apresentante desistir do protesto e retirar o título (art. 16);
4.3) o protesto ser sustado judicialmente (art. 17);
4.4) o devedor ficar inerte ou não conseguir sustar o protesto.

5) se ocorrer as situações 4.1, 4.2 ou 4.3: o título não será protestado;


6) se ocorrer a situação 4.4: o título será protestado (será lavrado e registrado o
protesto).

Intimação: Como vimos acima, o tabelião irá determinar a intimação do devedor para
que, no prazo de 3 dias, pague ou providencie a sustação do protesto antes de ele ser
lavrado. As regras da intimação estão previstas nos arts. 14 e 15 da Lei nº 9.492/97.

Regras sobre a intimação:


 Depois que o apresentante protocoliza no cartório o título ou documento de
dívida, o Tabelião de Protesto expedirá uma intimação ao devedor.
 O tabelião pode ir entregar pessoalmente a intimação, pode mandar por um
funcionário seu ou remeter pelos Correios (o mais comum).
 A intimação deverá ser entregue no endereço fornecido pelo apresentante do
título ou documento. Assim, quando uma pessoa vai pedir para que um título
seja protestado, ela já tem que levar o endereço do devedor.
 Para que seja válida, é necessário que fique comprovado que uma pessoa maior
e capaz recebeu a intimação no endereço do devedor. Para isso, é indispensável
que a pessoa que recebeu assine um protocolo, aviso de recepção (AR) ou outro
documento equivalente.
 Vale ressaltar, mais uma vez, que, para que a intimação seja válida, basta que
ela tenha sido entregue para alguém no endereço fornecido pelo apresentante
do título ou documento como sendo do devedor. A lei não exige que o próprio
devedor receba a intimação, bastando que ela seja entregue em seu endereço.
 A intimação deverá conter nome e endereço do devedor, elementos de
identificação do título ou documento de dívida, e prazo limite para
cumprimento da obrigação no Tabelionato, bem como número do protocolo e
valor a ser pago.

Formas de intimação: Há duas formas de intimação:


a) mediante remessa pelo tabelião e entrega no endereço do devedor;
b) por edital (art. 15).

Hipóteses de intimação por edital: A intimação será feita por edital se a pessoa
indicada para aceitar ou pagar (devedor) for:
a) desconhecida;
b) tiver sua localização incerta ou ignorada;
c) for residente ou domiciliada fora da competência territorial do Tabelionato; ou
d) caso ninguém se disponha a receber a intimação no endereço fornecido.

Esgotar todos os meios: Segundo a jurisprudência do STJ, a intimação do protesto por


edital somente pode ser considerada meio hábil para a caracterização da mora se
tiverem sido esgotadas todas as possibilidades de se localizar o devedor. Assim, se o
apresentante tiver fornecido algum endereço do devedor, o tabelião só poderá intimá-
lo por edital se primeiro tentar enviar a intimação para este endereço e não conseguir
que ninguém o receba.

Como será a publicidade do edital: O edital será:


 afixado no quadro de avisos do cartório do Tabelionato de Protesto; e
 publicado pela imprensa local onde houver jornal de circulação diária.

Má-fé do apresentante: Se o apresentante fornecer endereço incorreto, agindo de má-


fé, responderá por perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções civis,
administrativas ou penais (art. 15, § 2º).

4.3. Local onde deverá ser realizado o protesto de cédula de crédito bancário
garantida por alienação fiduciária – (Info 579)

É possível, à escolha do credor, o protesto de cédula de crédito bancário garantida


por alienação fiduciária, no tabelionato em que se situa a praça de pagamento
indicada no título ou no domicílio do devedor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.398.356-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para
acórdão Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 24/2/2016 (recurso
repetitivo) (Info 579).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João recebeu mútuo bancário de R$ 100 mil e
emitiu em favor da instituição financeira uma Cédula de Crédito Bancário (CCB).
Além disso, como garantia, ele fez a cessão fiduciária para o banco de um caminhão.
Em outras palavras, João cedeu fiduciariamente o veículo para o banco. Se ele pagasse
o empréstimo, o banco "devolveria" o bem; caso se tornasse inadimplente, o banco se
tornaria, em definitivo, proprietário do caminhão.

Cédula de Crédito Bancário (CCB) com garantia: É um título de crédito extremamente


comum na atividade empresarial, estando disciplinada nos arts. 26 a 45 da Lei nº
10.931/2004. Quando uma pessoa física ou jurídica adquire um empréstimo bancário,
a instituição financeira exige que este mutuário emita, em favor do banco, uma cédula
de crédito bancário, que é um papel no qual o emitente se compromete a pagar para o
beneficiário determinada quantia ali prevista. Este papel (CCB) fica em poder do
credor. Caso o emitente não cumpra a sua promessa e não pague a dívida no prazo, o
credor poderá executar a CCB, que é um título de crédito e, portanto, título executivo
extrajudicial. A CCB poderá ser emitida com ou sem garantia (art. 27 da Lei nº
10.931/2004). Em caso de empréstimo de pequenos valores, os bancos normalmente
não exigem garantia, bastando a CCB, que é, como vimos, título executivo. No entanto,
se a quantia for grande, as instituições exigem que o mutuário, além de emitir a cédula,
forneça uma garantia (ex: hipoteca de um bem imóvel, cessão fiduciária de bens
móveis etc.). Em nosso exemplo, o banco exigiu a garantia.

Voltando ao exemplo: João deixou de pagar as prestações do empréstimo e tornou-se


inadimplente. Diante disso, o banco levou o título para ser protestado pelo
Tabelionato de Protesto. Vale ressaltar que João morava em Campinas, o banco se
situava em São Bernardo e, no título, estava indicado São Paulo (capital) como praça
(local) de pagamento do título.
Diante desta diversidade de locais, indaga-se: onde deverá ser lavrado este protesto?
Em São Paulo (capital) ou em Campinas. Foi a tese fixada pelo STJ em recurso
repetitivo.

A determinação para que o protesto seja feito no local indicado pelo título como praça
de pagamento está prevista no art. 28, parágrafo único, do Decreto 2.044/1908:

Art. 28. A letra que houver de ser protestada por falta de aceite
ou de pagamento deve ser entregue ao oficial competente, no
primeiro dia útil que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do
vencimento, e o respectivo protesto, tirado dentro de três dias
úteis.
Parágrafo único. O protesto deve ser tirado do lugar indicado
na letra para o aceite ou para o pagamento. Sacada ou aceita a
letra para ser paga em outro domicílio que não o do sacado,
naquele domicílio deve ser tirado o protesto.

Também pode ser admitido que o protesto ocorra no domicílio do devedor porque
isso se mostra mais vantajoso para ele, de forma que não poderá invocar qualquer
nulidade no ato.

4.4. Não cancelamento do protesto pela prescrição do título cambial – (Info 562)

João não pagou uma nota promissória que emitiu em favor da empresa “XX”.
Diante disso, a empresa levou a nota promissória a protesto no Tabelionato de
Protesto. Quatro anos depois, a empresa ajuizou execução de título extrajudicial
contra João cobrando o valor estampado na nota promissória. A execução, contudo,
foi extinta porque o juiz constatou que houve prescrição da ação executiva. João
ajuizou ação de cancelamento do protesto, alegando que, como houve a prescrição
da execução, deveria automaticamente ocorrer o cancelamento do protesto
realizado. A tese de João está correta?
NÃO. A prescrição da pretensão executória de título cambial não enseja o
cancelamento automático de anterior protesto regularmente lavrado e registrado. A
validade do protesto não está diretamente relacionada com a exequibilidade do
título ou de outro documento de dívida, mas sim com a inadimplência e o
descumprimento da obrigação representada nestes papéis.
A inadimplência e o descumprimento não desaparecem com a mera prescrição do
título executivo não quitado. Em outras palavras, o devedor continua sendo
inadimplente, apesar de o título não poder mais ser cobrado mediante execução.
Então, não pode o protesto ser cancelado simplesmente pelo fato de ele não poder
ser mais executado.
Vale lembrar que, mesmo havendo a prescrição da ação executiva, o credor ainda
poderá cobrar o valor da nota promissória por meio da ação monitória.
STJ. 4ª Turma. REsp 813.381-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/11/2014 (Info
562).

4.5. Simples apontamento do título, sem o efetivo registro do protesto, ainda que
de forma indevida, não gera dano moral
O simples apontamento do título, sem o efetivo registro do protesto, ainda que de
forma indevida, é incapaz de gerar dano moral a quem quer que seja.
O dano moral somente ocorrerá se o protesto indevido for efetivado, ou seja, se,
após 3 dias da intimação, não houver pagamento ou sustação, ocasião em que o
protesto será lavrado.
Apenas com a efetivação do protesto, este é registrado e se torna público, trazendo
efeitos negativos à pessoa protestada, que será, inclusive, incluída nos cadastros
negativos de crédito.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.005.752-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/6/2012.

5. CHEQUE
5.1. Termo inicial de correção monetária e de juros de mora em cobrança de cheque
– (Info 587)

Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a correção


monetária incide a partir da data de emissão estampada na cártula, e os juros de
mora a contar da primeira apresentação à instituição financeira sacada ou câmara
de compensação.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.556.834-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/6/16 (recurso
repetitivo) (Info 587).
OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE O CHEQUE
Conceito: O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista
- que é dada pelo emitente do cheque
- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador)
- ordem essa que deve ser cumprida por um banco
- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula
- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela
instituição financeira.

“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que


seu criador não promete efetuar pessoalmente o pagamento,
mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento. Esse
terceiro deverá ser um banco, no qual o criador do cheque
deverá ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco
efetuará o pagamento das ordens que lhe forem sendo
apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará exigível sempre
no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento
sempre à vista).” (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito
Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).

Personagens
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja,
aquele que tem o direito de receber o valor escrito no cheque.

Natureza jurídica: Para a doutrina majoritária, trata-se de um título de crédito.


Legislação aplicável: O cheque é regido atualmente pela Lei 7.357/85.

O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”? É o prazo de que dispõe o


portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de receber o valor
determinado na cártula. Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O
prazo de apresentação é o tempo que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e
receber o valor. O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do
cheque.

De quanto é o prazo de apresentação?


30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do Se o cheque for de praça diferente
pagamento (município onde foi (município onde foi assinado é
assinado é o município da agência diferente do município da agência
pagadora). pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da O prazo será de 60 dias se o local da
emissão do cheque (preenchido pelo emissão do cheque (preenchido pelo
emitente) for o mesmo lugar do emitente) for diferente do lugar do
pagamento (local da agência pagadora pagamento (local da agência pagadora
impressa no cheque). Nesse caso, diz-se impressa no cheque). Nesse caso, diz-se
que o cheque é da mesma praça (mesmo que o cheque é de outra praça.
município). Ex: em um cheque de uma agência de
Ex: em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o emitente datou e
São Paulo (SP), o emitente datou e assinou Manaus (AM) como local da
assinou São Paulo (SP) como local da emissão.
emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá


pagamento? SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser
apresentado para pagamento ao sacado, desde que não esteja prescrito.

Então para que serve esse prazo de apresentação? A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução
do cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para
pagamento dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário
perde o direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente
do cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus
avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no
prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.

3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa
de pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos
disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei 7.357/85).

Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque? 6 meses, contados do fim do


prazo de apresentação do cheque. O prazo prescricional somente se inicia quando
termina o prazo de apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco sacado.
Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim será possível a sua cobrança? SIM.
Com o fim do prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque.
Diz-se que o cheque perdeu sua força executiva. No entanto, mesmo assim, o
beneficiário poderá cobrar o valor desse cheque por outros meios, quais sejam:
 Ação de enriquecimento sem causa (“ação de locupletamento”): prevista no
art. 61 da Lei do Cheque (Lei 7.357/85). Essa ação tem o prazo de 2 anos,
contados do dia em que se consumar a prescrição da ação executiva.
 Ação de cobrança (ação causal): prevista no art. 62 da Lei do Cheque. O prazo
é de 5 anos, nos termos do art. 206, § 5º, I, CC.
 Ação monitória (Súmula 503-STJ): O prazo para ajuizamento de ação
monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a
contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula).

JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA NA COBRANÇA DE CHEQUE


Se o devedor não paga na data prevista o valor que estava previsto no cheque como
sendo de sua obrigação, o credor poderá cobrá-lo e terá direito de receber a quantia
acrescida de juros moratórios e correção monetária por conta do atraso.

A dúvida que existia dizia respeito ao termo inicial desses juros e correção monetária.

A partir de quando eles deveriam ser contados e calculados: a partir da data de


emissão, da data de apresentação ou do dia da citação?

Vejamos o seguinte exemplo: Em 15/01/2012, João emitiu um cheque de R$ 5 mil em


favor de Pedro. Em 02/02/2012, Pedro foi até o banco descontar o cheque, mas este
não tinha fundos. Em 2016, Pedro ajuíza ação monitória contra João, que é citado no
dia 04/04/2016. O juiz julgou procedente o pedido, condenando o réu a pagar o valor
cobrado. Na sentença, o magistrado consignou que os juros moratórios e a correção
monetária deveriam ser contados desde a data da citação inicial do réu (04/04/2016),
nos termos do art. 405 do CC e art. 240 do CPC/2015:

Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo


incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e
constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts.
397 e 398 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Civil).

O juiz acertou no momento da fixação do termo inicial dos juros de mora e da


correção monetária? NÃO.

Qual é o termo inicial da CORREÇÃO MONETÁRIA na cobrança de cheque? A data


de emissão estampada na cártula.

A possibilidade de o credor cobrar correção monetária está disciplinada na Lei do


Cheque (Lei 7.357/85), que prevê que o portador pode exigir a compensação pela
perda do valor aquisitivo da moeda. Veja:

Art. 52. O portador pode exigir do demandado:


I - a importância do cheque não pago;
(...)
IV - a compensação pela perda do valor aquisitivo da moeda,
até o embolso das importâncias mencionadas nos itens
antecedentes.

A correção monetária não representa acréscimo ao valor devido, mas mera


recomposição inflacionária. Assim, ela deve ser exigida desde a data de emissão do
cheque a fim de recompor inteiramente o valor que seria devido ao beneficiário da
cártula.

Qual é o termo inicial dos JUROS na cobrança de cheque? A data da primeira


apresentação. Os juros de mora sobre a importância de cheque não pago são contados
da primeira apresentação pelo portador ao banco, e não da citação do sacador. Logo,
em nosso exemplo, os juros deveriam ser contados desde 02/02/12. Os juros de mora
decorrem do inadimplemento da obrigação pelo devedor, ou seja, os juros de mora
são consequência da mora do devedor da obrigação (art. 395, CC). Dessa forma, nada
mais lógico que a sua contagem se inicie exatamente a partir do momento em que
surge a mora. Além disso, a Lei do Cheque (Lei 7.357/85) possui regra expressa que
disciplina os juros relacionados com a cobrança de crédito estampado em cheque.
Segundo a referida Lei, os juros de mora devem ser contados desde a data da primeira
apresentação do cheque pelo portador à instituição financeira, conforme previsto no
art. 52, II:

Art. 52. O portador pode exigir do demandado:


(...)
II - os juros legais desde o dia da apresentação;

Não se aplica, portanto, a regra do art. 405 do CC, que conta os juros a partir da citação
inicial.

Obs: a Lei do Cheque veda a cobrança de juros compensatórios (art. 10). Nesse sentido:

"Juros moratórios e correção monetária.


Fixe-se, porém, que os juros vedados nesse artigo não se
confundem com os juros moratórios previstos nos arts. 45 e 46
da Lei Uniforme (arts. 52 e 53 da Lei Interna), que independem
de inserção, aliás, cláusula igualmente proibida no cheque.
O art. 10 da Lei Interna sufraga o princípio proibitório de
vencimento de juros compensatórios (e não de juros
moratórios), por incompatibilidade absoluta entre a fruição de
rendimento de capital aplicado a crédito com o cheque,
representativo de ordem de pagamento à vista. Qualquer
cláusula infringente é considerada não escrita, isto é, recebe
sanção de inexistência, e por isso há de ser ignorada pelo
banco sacado.
Os juros moratórios são devidos na ação de cobrança que se
seguir em qualquer dívida inadimplida; e, quanto ao cheque,
desde a frustração do pagamento, que se caracteriza, por isso,
diz o art. 52, II, "desde o dia da apresentação"; além da
correção monetária (art. 53, IV), que é simples recomposição
do patrimônio corroído pelo decurso do tempo, até o efetivo
recebimento." (RESTIFFE NETO, Paulo; RESTIFFE, Paulo
Sérgio. Lei do cheque e novas medidas de proteção aos
usuários. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 138)

No exemplo dado acima, o credor ajuizou ação monitória. Haveria diferença do termo
inicial caso ele tivesse proposto uma ação de locupletamento ou uma ação de
cobrança? NÃO. Não haveria diferença. O termo inicial continuaria sendo o mesmo.
Isso porque a data de início da fluência da correção monetária e dos juros de mora está
relacionada com a relação de direito material (e não com o instrumento processual
utilizado para cobrança). O que importa é a natureza da obrigação inadimplida, e não
o tipo da ação proposta.

Termo inicial na cobrança de cheque (não importa qual seja a ação)


Correção monetária: data de EMISSÃO Juros moratórios: primeira
APRESENTAÇÃO

5.2. Possibilidade de protesto de cheque após o prazo de apresentação com a


indicação apenas do emitente no apontamento – (Info 584)

Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de


cheque com a indicação do emitente como devedor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/4/16 (recurso
repetitivo) (Info 584).
OBS:
O que é um protesto de título? É o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião,
com a finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação
constante de título de crédito ou de outros documentos de dívida.

É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo
de apresentação? SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente
depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional relativo
à ação cambial de execução.

Mas o art. 48 da Lei 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o
prazo de apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior
devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da
expiração do prazo de apresentação.” E agora? O STJ afirma que a exigência imposta
no art. 48 de que o protesto ocorra antes de expirado o prazo de apresentação do
cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito contra os coobrigados,
para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título.

Em outras palavras, o art. 48 da Lei nº 7.357/85 trata apenas da possibilidade de


cobrança dos eventuais devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor
principal (emitente).

O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de apresentação,
desde que o cheque ainda não esteja prescrito.
Relembrando:
 Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do
pagamento ou 60 dias, se for de praça diferente.
 Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do
momento em que termina o prazo de apresentação do cheque.

Resumindo:
O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o
exercício do direito de regresso deve ocorrer antes de expirado
o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do
chamado protesto necessário.
O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer
mesmo depois do prazo de apresentação, desde que não
escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de
Noronha, j. 24/2/15 (Info 556).

O STJ reafirmou este entendimento, agora sob a sistemática de recurso repetitivo.

5.3. Cheque pré-datado e o seu prazo de apresentação para pagamento – (Info 584)
– IMPORTANTE!!! – VIDE INFO 528 DO STJ!

O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Em suma, no caso de cheque


pós-datado (pré-datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação?
1) Pós-datação regular (efetivada no campo referente à data de emissão): SIM.
A pactuação da pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de
apresentação à instituição financeira sacada, deve espelhar a data de emissão
estampada no campo específico da cártula. O ordenamento jurídico confere
segurança e eficácia à pós-datação regular (efetivada no campo referente à data de
emissão).
Ex: no dia 20/05, João emitiu (preencheu) um cheque e o entregou para Pedro
(beneficiário). No entanto, no campo reservado para a data de emissão, ele, em vez
de colocar 20/05, escreveu 20/07 (data que ficou combinada para que Pedro sacasse
o cheque). O termo inicial do prazo de apresentação do cheque é o dia 20/07.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/4/16 (recurso
repetitivo) (Info 584).

2) Pós-datação extracartular (feita em campo diverso do campo específico): NÃO.


A pós-datação extracartular do cheque não modifica o prazo de apresentação nem
o prazo de prescrição do título. A pós-datação extracartular tem existência jurídica,
mas apenas com natureza obrigacional entre as partes (Súmula 370). Esta pactuação
extracartular, contudo, é ineficaz em relação à contagem do prazo de apresentação
e, por conseguinte, não tem o condão de operar o efeito de ampliar o prazo de
apresentação do cheque.
Ex: João emitiu o cheque no dia 20/05 e o entregou a Pedro. No campo reservado
para a data de emissão, ele colocou 20/05 (dia atual). No entanto, no verso do cheque
escreveu o seguinte: “bom para o dia 20/07” (que foi a data combinada para que
Pedro sacasse o dinheiro). O termo inicial do prazo de apresentação do cheque
continua sendo o dia 20/05.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/6/13 (Info
528).
OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE O CHEQUE
Conceito: O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista
- que é dada pelo emitente do cheque
- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador)
- ordem essa que deve ser cumprida por um banco
- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula
- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela
instituição financeira.

“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que


seu criador não promete efetuar pessoalmente o pagamento,
mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento. Esse
terceiro deverá ser um banco, no qual o criador do cheque
deverá ter fundos disponíveis. À luz desses fundos, o banco
efetuará o pagamento das ordens que lhe forem sendo
apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará exigível sempre
no momento em que for apresentado ao sacado (vencimento
sempre à vista).” (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito
Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).

Personagens
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja,
aquele que tem o direito de receber o valor escrito no cheque.

Natureza jurídica: Para a doutrina majoritária, trata-se de um título de crédito.

Legislação aplicável: O cheque é regido atualmente pela Lei 7.357/85.

O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”? É o prazo de que dispõe o


portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de receber o valor
determinado na cártula. Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O
prazo de apresentação é o tempo que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e
receber o valor. O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do
cheque.

De quanto é o prazo de apresentação?


30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do Se o cheque for de praça diferente
pagamento (município onde foi (município onde foi assinado é
assinado é o município da agência diferente do município da agência
pagadora). pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da O prazo será de 60 dias se o local da
emissão do cheque (preenchido pelo emissão do cheque (preenchido pelo
emitente) for o mesmo lugar do emitente) for diferente do lugar do
pagamento (local da agência pagadora pagamento (local da agência pagadora
impressa no cheque). Nesse caso, diz-se impressa no cheque). Nesse caso, diz-se
que o cheque é de outra praça.
que o cheque é da mesma praça (mesmo Ex: em um cheque de uma agência de
município). São Paulo (SP), o emitente datou e
Ex: em um cheque de uma agência de assinou Manaus (AM) como local da
São Paulo (SP), o emitente datou e emissão.
assinou São Paulo (SP) como local da
emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá


pagamento? SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser
apresentado para pagamento ao sacado, desde que não esteja prescrito.

Então para que serve esse prazo de apresentação? A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução
do cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para
pagamento dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário
perde o direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente
do cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus
avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no
prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.

3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa
de pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos
disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei 7.357/85).

Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque? 6 meses, contados do fim do


prazo de apresentação do cheque. O prazo prescricional somente se inicia quando
termina o prazo de apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco sacado.

CHEQUE "PRÉ-DATADO"
Cheque “pré-datado” (ou “pós-datado”): Vimos que o cheque é uma ordem de
pagamento à vista. Isso está previsto na própria Lei do Cheque (Lei 7357/85):
Art. 32. O cheque é pagável à vista. Considera-se não-escrita
qualquer menção em contrário.

Ocorre que há anos, adotou-se outra prática, qual seja, a de se colocar uma data futura
no cheque, com o objetivo de proporcionar que o emitente tenha um prazo maior para
pagamento. Ex: no dia 16/05, Maria queria fazer uma escova no salão de cabeleireiro.
Ocorre que ainda não havia recebido seu salário. Por isso, combinou com a dona do
salão de “passar” um cheque com data de 04/06, momento no qual a sua remuneração
já teria sido depositada.

Essa prática ganhou o nome de cheque “pré-datado”. A maioria da doutrina, contudo,


prefere utilizar a nomenclatura cheque “pós-datado”. Pode-se utilizar as expressões
indistintamente.

O cheque “pós-datado” pode ser conceituado como um cheque no qual emitente e


beneficiário combinaram que seria colocado um dia futuro na cártula, a fim de que a
apresentação do título somente ocorresse a partir daquela data.
Existem duas formas de se emitir um cheque pós-datado (pré-datado):
1) Pós-datação regular 2) Pós-datação extracartular
(efetivada no campo referente à data de (feita em campo diverso do campo
emissão) específico)
Ocorre quando o emitente, no campo Ocorre quando o emitente, no campo
reservado para o dia de emissão, escreve reservado para o dia de emissão, escreve
uma data futura que foi combinada entre a data atual, ou seja, o dia da emissão
as partes. realmente. No entanto, no verso da
cártula, ele escreve um aviso de que o
cheque somente deverá ser descontado
em uma data futura.
Ex: no dia 20/05, João emitiu Ex: João emitiu o cheque no dia 20/05 e
(preencheu) um cheque e o entregou o entregou a Pedro. No campo reservado
para Pedro (beneficiário). No entanto, no para a data de emissão, ele colocou
campo reservado para a data de 20/05 (dia atual). No entanto, no verso
emissão, ele, em vez de colocar 20/05, do cheque escreveu o seguinte: “bom
escreveu 20/07 (data combinada para para o dia 20/07” (que foi a data
que Pedro sacasse o cheque). combinada para que Pedro sacasse o
dinheiro). Vale ressaltar que, mesmo
este aviso estando consignado no
próprio cheque, tal combinação é
considerada extracartular porque a Lei
não prevê que isso possa ser escrito na
cártula, não havendo campo com este
objetivo.

O cheque pós-datado continua sendo uma ordem de pagamento à vista? Se o


beneficiário apresentar o cheque pré-datado antes da data nele escrita, o banco deverá
pagá-lo? SIM. O cheque pré-datado é um acordo entre o emitente e o beneficiário. No
entanto, esse ajuste só vale entre as partes, não produzindo efeitos perante a
instituição financeira. Logo, o cheque (mesmo sendo pré-datado) será pago no dia em
que for apresentado ao banco, mesmo que antes da data combinada.
Isso ocorre porque a data futura no cheque é considerada pelo caput do art. 32 da Lei
do Cheque como não-escrita (inexistente). Assim, é comum os doutrinadores dizerem
que, para efeitos de direito cambiário, a pós-datação não existe (não altera as
características e efeitos do cheque).

O parágrafo único do art. 32 da Lei do Cheque determina que, mesmo se o campo da


data de emissão estiver indicando um dia futuro, mas o portador do cheque apresentá-
lo antes dessa data, o banco deverá pagar imediatamente. Ex: Maria emitiu o cheque
no dia 16/05, mas preencheu o cheque com a data de 04/06. Se, em 01/06, o portador
for até o banco e apresentar o cheque, a instituição financeira deverá pagá-lo mesmo
havendo uma data de emissão escrita para um dia futuro. Veja:
Art. 32 (...) Parágrafo único. O cheque apresentado para
pagamento antes do dia indicado como data de emissão é
pagável no dia da apresentação.

Se o banco pagar um cheque pós-datado antes da data prevista na cártula, pratica


algum ato ilícito? NÃO. Como o cheque é, por força de lei, uma ordem de pagamento
à vista, o banco é obrigado, em regra, a pagá-lo.
O beneficiário que apresenta no banco o cheque pós-datado antes da data nele
prevista pratica algum ato ilícito? SIM. O cheque pós-datado é um ajuste de
vontades, um acordo entre emitente e tomador. Logo, o beneficiário, ao descumprir
esse pacto, pratica um ilícito contratual, podendo, portanto, ser condenado a indenizar
o sacador por danos morais e materiais. Esse é o entendimento do STJ:
Súmula 370-STJ: Caracteriza dano moral a apresentação
antecipada do cheque pré-datado.

O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Em suma, no caso de cheque


pós-datado (pré-datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação?
Depende:

1) Pós-datação regular: SIM 2) Pós-datação extracartular: NÃO


A pactuação da pós-datação de cheque, A pós-datação extracartular do cheque
para que seja hábil a ampliar o prazo de não modifica o prazo de apresentação
apresentação à instituição financeira nem o prazo de prescrição do título.
sacada, deve espelhar a data de emissão A pós-datação extracartular tem
estampada no campo específico da existência jurídica, mas apenas com
cártula. natureza obrigacional entre as partes
O ordenamento jurídico confere (Súmula 370). Esta pactuação
segurança e eficácia à pós-datação extracartular, contudo, é ineficaz em
regular (efetivada no campo referente à relação à contagem do prazo de
data de emissão). apresentação e, por conseguinte, não
STJ. 2ª Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. tem o condão de operar o efeito de
Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/4/16 ampliar o prazo de apresentação do
(recurso repetitivo) (Info 584). cheque.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/6/13
(Info 528).

Em suma, somente a pós-datação regular, efetuada no campo da data de emissão do


cheque, é hábil a ampliar o prazo de apresentação da cártula a que se refere o art. 33,
caput, da Lei do Cheque.

5.4. Devolução de cheque sem provisão de fundos e responsabilidade civil de


instituição bancária – (Info 574) – IMPORTANTE!!!

O banco sacado não é parte legítima para figurar no polo passivo de ação ajuizada
com o objetivo de reparar os prejuízos decorrentes da devolução de cheque sem
provisão de fundos emitido por correntista.
Ex: João emitiu um cheque em favor de Paulo. Este foi até o banco tentar sacar a
quantia, mas o cheque foi recusado por falta de fundos. Paulo ajuizou ação de
indenização contra o banco alegando que houve má prestação do serviço bancário.
Isso porque a instituição financeira deveria ser mais cautelosa e diligente ao
fornecer talonário de cheques aos seus clientes, verificando se são bons pagadores,
se possuem renda suficiente, se já têm conta há muito tempo etc. Tal pedido não
encontra amparo na jurisprudência do STJ.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.509.178-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
20/10/2015 (Info 574).
Resumindo...
Não há defeito na prestação do serviço bancário quando ocorre devolução de cheque
desprovido de fundos, sendo o emitente do cheque o único responsável pelo
pagamento da dívida.

5.5. Ausência de responsabilidade do banco por cheque cancelado que não é pago
– (Info 564)

Durante assalto ocorrido em um banco, os ladrões roubaram 50 talonários de


cheques. Tais talonários estavam impressos com nomes de clientes e seriam ainda
entregues aos correntistas para que iniciassem seu uso. Diante desse fato, o banco
efetuou o cancelamento dos referidos cheques. Cerca de um mês depois do assalto,
um dos ladrões foi até o supermercado e comprou diversos produtos. A conta foi
paga com o cheque roubado. O funcionário do banco foi tentar descontar o cheque,
mas ele foi devolvido, tendo a bancária informado que aquele cheque não poderia
ser pago porque havia sido cancelado pela instituição financeira, com base no
motivo 25 da Resolução 1.631/1989, do Banco Central.
O banco deverá responder pelo prejuízo do supermercado?
NÃO. A instituição financeira não deve responder pelos prejuízos suportados por
sociedade empresária que, no exercício de sua atividade empresarial, recebera
como pagamento cheque que havia sido roubado durante o envio ao correntista e
que não pode ser descontado em razão do prévio cancelamento do talonário
(motivo 25 da Resolução 1.631/1989 do Bacen).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.324.125-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
21/5/2015 (Info 564).

5.6. Ação monitória fundada em cheque prescrito e dispensabilidade da menção ao


negócio jurídico subjacente à emissão da cártula – (Info 562)

Súmula 531-STJ: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra


o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da
cártula.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.

5.7. Protesto do cheque após o prazo de apresentação – (Info 556)

O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício do


direito de regresso deve ocorrer antes de expirado o prazo de apresentação
(art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do chamado protesto necessário.
 O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo
depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo
prescricional. Esse é o protesto facultativo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, julgado em
24/2/2015 (Info 556).

5.8. Ampliação do prazo de apresentação do cheque pós-datado – (Info 528)


O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Ex: o cheque foi emitido dia
01/07, mas ficou combinado que ele só seria apresentado dia 01/09. Em suma, no
caso de cheque pós-datado (pré-datado), a partir de quando é contado o prazo de
apresentação?
NÃO. A pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo
de prescrição do título.
Assim, mesmo em caso de cheque pós-datado, o prazo para apresentação deve ser
contado a partir da data da emissão, não importando o dia futuro combinado com
o beneficiário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
18/6/2013 (Info 528).

5.9. Cheque e o cabimento de indenização por danos morais

É cabível a indenização por danos morais pela instituição financeira quando o


cheque apresentado fora do prazo legal e já prescrito é devolvido sob o argumento
de insuficiência de fundos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.353-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 16/10/2012.

6. DUPLICATA
6.1. Emissão de duplicata com base em mais de uma nota fiscal – (Info 581)

Uma só duplicata pode corresponder à soma de diversas notas fiscais parciais.


Em outras palavras, uma única duplicata poderá abranger mais de uma nota fiscal.
Não há proibição legal para que se somem vendas parceladas procedidas no curso
de um determinado período (ex: um mês), e do montante se formule uma fatura
única ao seu final.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.541-MG, Rel. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
5/4/2016 (Info 581).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "AA" comprou da loja "BB" 3
produtos. A loja extraiu uma fatura dos produtos e emitiu uma duplicata mercantil
dando uma ordem à empresa compradora para que ela pague o preço das
mercadorias.
A loja poderia ter emitido uma única nota fiscal dos 3 produtos. É o mais comum.
Porém, por inexperiência do gerente, foram emitidas 3 notas fiscais, uma para cada
produto. Apesar de terem sido emitidas 3 notas fiscais, foi extraída uma única fatura
e uma só duplicata. A empresa "AA" acabou não pagando a duplicata e, em seguida,
ajuizou ação ordinária contra a loja buscando a declaração de inexigibilidade e de
nulidade da duplicata alegando que a soma das notas fiscais em uma única fatura e a
emissão da duplicata correspondente foi um procedimento irregular. O argumento da
empresa é o de que a emissão de duplicata deve se referir a apenas uma nota fiscal.

A tese da empresa foi acolhida pelo STJ? Houve irregularidade no fato de a duplicata
se referir a mais de uma nota fiscal? NÃO.

O que é uma nota fiscal? É um "Documento fiscal a ser obrigatoriamente emitido por
comerciantes e industriais, sempre que promoverem a saída de mercadorias ou a
transmissão de sua propriedade." (LOPES DE SÁ, Antônio; LOPES DE SÁ, Ana Maria.
Dicionário de Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1994). A nota fiscal prova que houve a
realização de um negócio jurídico sujeito à fiscalização tributária. Faz prova da
entrada e saída de mercadorias de estabelecimentos empresariais, acompanhando a
sua entrega aos destinatários.

O que é a fatura? É um documento emitido pelo vendedor ou prestador de serviços


no qual são discriminadas as mercadorias que foram vendidas ou os serviços
prestados. Na fatura constam a descrição e os preços dos produtos vendidos ou do
serviço prestado. Todas as vezes que for celebrado um contrato de compra e venda
mercantil entre partes domiciliadas no Brasil, com prazo não inferior a 30 dias,
contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor é obrigado a
extrair uma fatura para apresentar ao comprador (art. 1º, da Lei nº 5.474/68). No caso
de prestação de serviços (qualquer prazo) ou de compra e venda inferior a 30 dias, a
emissão de fatura é facultativa.

Duplicata e fatura são documentos diferentes: A fatura não é título de crédito. O título
é a duplicata, que é emitida a partir de uma fatura. A fatura apenas prova a existência
do contrato.

Fatura pode abranger mais de uma nota: A duplicata só poder espelhar uma fatura,
ou seja, para cada fatura, uma duplicata. No entanto, a fatura pode corresponder à
soma de diversas notas parciais. A nota parcial é o documento representativo de uma
venda parcial ou de venda realizada dentro do lapso de um mês, que poderá ser
agrupada a outras vendas efetivadas nesse período pelo mesmo comprador. Não há
proibição legal para que se somem vendas parceladas procedidas no curso de um
determinado período (ex: um mês), e do montante se formule uma fatura única ao seu
final.

6.2. Na duplicata mercantil o aceite não pode ser lançado em separado – (Info 580)
– IMPORTANTE!!!

O aceite lançado em separado da duplicata mercantil não imprime eficácia


cambiária ao título.
O aceite é ato formal e deve se aperfeiçoar na própria cártula (assinatura do sacado
no próprio título), incidindo o princípio da literalidade (art. 25 da LUG). Não pode,
portanto, ser dado verbalmente ou em documento em separado.
O aceite lançado em separado à duplicata não possui nenhuma eficácia cambiária,
mas o documento que o contém poderá servir como prova da existência do vínculo
contratual subjacente ao título, amparando eventual ação monitória ou ordinária.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.334.464-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
15/3/2016 (Info 580).
OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE A DUPLICATA
Conceito de duplicata: Duplicata é...
 um título de crédito
 que consiste em uma ordem de pagamento emitida pelo próprio credor
 por conta de mercadorias que ele vendeu ou de serviços que prestou
 e que estão representados em uma fatura
 devendo ser paga pelo comprador das mercadorias ou pelo tomador dos serviços.
Título de crédito genuinamente brasileiro: A duplicata foi criada pelo direito
brasileiro. Atualmente, a é regulada pela Lei nº 5.474/68. Vale ressaltar, no entanto,
que, além da Lei 5.474/68, aplicam-se, à duplicata e à triplicata, no que couber, os
dispositivos da legislação sobre emissão, circulação e pagamento das Letras de
Câmbio (Lei Uniforme de Genebra).

Duplicata e fatura são documentos diferentes: A fatura é o documento que descreve


a compra e venda mercantil ou a prestação de serviços. Na fatura constam a descrição
e os preços dos produtos vendidos ou do serviço prestado. A fatura não é título de
crédito. O título é a duplicata, que é emitida a partir de uma fatura. A fatura apenas
prova a existência do contrato. Todas as vezes que for celebrado um contrato de
compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no Brasil, com prazo não inferior
a 30 dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor é
obrigado a extrair uma fatura para apresentar ao comprador (art. 1º, da Lei nº
5.474/68). No caso de prestação de serviços (qualquer prazo) ou de compra e venda
inferior a 30 dias, a emissão de fatura é facultativa.

Espécies de duplicata
 Duplicata mercantil: emitida por causa da compra e venda mercantil;
 Duplicata de serviços: emitida por causa da prestação de serviços.

Características da duplicata
a) Título causal: a duplicata só pode ser emitida para documentar o crédito decorrente
de dois negócios jurídicos: a compra e venda mercantil ou a prestação de serviços.
Essa causa da duplicata é mencionada no próprio título. Por conta dessa característica,
alguns autores afirmam que se trata de um título impróprio. Obs: o contrário dos
títulos causais são os “não causais” ou “abstratos”, como o caso da nota promissória.
b) Ordem de pagamento.
c) Título de modelo vinculado (título formal): os padrões de emissão da duplicata são
fixados pelo Conselho Monetário Nacional. A duplicata somente produz efeitos
cambiais se observado o padrão exigido para a constituição do título.

Emissão da duplicata: O vendedor ou prestador dos serviços emite a fatura


discriminando as mercadorias vendidas ou os serviços prestados. Com base nessa
fatura, esse vendedor ou prestador poderá emitir a duplicata. Toda duplicata sempre
terá origem em uma fatura. Uma duplicata só pode corresponder a uma única fatura
(art. 2º, § 2º, da Lei). Depois de emitir a duplicata, ela deverá ser enviada ao devedor
(comprador) para que este efetue o aceite e a devolva.

Aceite: É o ato por meio do qual o sacado assina a cártula se obrigando a pagar, na
data do vencimento, o crédito que está descrito no título. O aceite existe em dois títulos
de crédito: na letra de câmbio e na duplicata. A diferença é que:
 na letra de câmbio o aceite é facultativo;
 e na duplicata, o aceite é obrigatório, somente podendo ser recusado nas
hipóteses legalmente previstas.

O aceite existe porque a letra de câmbio e a duplicata são ordens de pagamento


emitidas pelo próprio beneficiário.

Remessa da duplicata para aceite: Emitida a duplicata, o sacador (quem emitiu o


título), nos 30 dias seguintes, deverá remeter o título ao sacado (comprador ou
tomador dos serviços) para que ele assine a duplicata no campo próprio para o aceite,
restituindo-a ao sacador no prazo de 10 dias.

Principal efeito do aceite na duplicata: É o reconhecimento, pelo sacado (comprador),


da legitimidade do ato formal de saque promovido pelo sacador (vendedor). Em
outras palavras, o sacado declara que a duplicata é válida e eficaz porque o negócio
causal realmente existiu. Por isso é que, após o aceite, não é permitido ao sacado
reclamar de vícios do negócio causal realizado, sobretudo porque os princípios da
abstração e da autonomia passam a vigorar.

Quando o sacado promove o aceite no título, a dívida, que era somente obrigacional,
passa a ser também cambiária. Nasce o título de crédito que poderá ser executado
como título executivo extrajudicial (art. 15, I, da Lei nº 5.474/68).

O aceite na duplicata mercantil transforma o comprador em devedor cambiário do


sacador ou, ainda, do endossatário, caso o título tenha sido posto em circulação por
meio do endosso.

O aceite na duplicata é obrigatório: Na duplicata, o título documenta uma obrigação


surgida a partir de um contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de
serviços. Desse modo, se o vendedor, que no caso foi o sacador, cumpriu as suas
obrigações contratuais, não há motivo para o devedor recusar o aceite. Em virtude
dessa circunstância, a doutrina afirma que o aceite na duplicata é, em regra,
obrigatório, somente podendo ser recusado nas hipóteses previstas nos arts. 8º e 21 da
Lei 5.474/68.

Recusa do aceite: Como vimos, o aceite é, em regra, obrigatório. As hipóteses previstas


na lei em que o aceite pode ser recusado estão relacionadas com situações em que o
sacador (vendedor ou prestador dos serviços) não cumpriu corretamente suas
obrigações contratuais ou em que há divergência entre aquilo que foi combinado no
contrato e o que consta da duplicata. Vejamos:

Recusa do aceite na duplicata de serviços:

Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata


por motivo de:
I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não
expedidas ou não entregues por sua conta e risco;
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade
das mercadorias, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

Recusa do aceite na duplicata mercantil:

Art. 21. O sacado poderá deixar de aceitar a duplicata de


prestação de serviços por motivo de:
I - não correspondência com os serviços efetivamente
contratados;
II - vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados,
devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.
O aceite é feito mediante a assinatura do sacado na própria cártula.

Indaga-se: se o sacado lançar o aceite em um documento separado do título, isso pode


ser considerado válido também? Neste caso, a duplicata passará a ter eficácia como
título cambial? NÃO. O aceite lançado em separado da duplicata mercantil não
imprime eficácia cambiária ao título. STJ. 3ª Turma. REsp 1.334.464-RS, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/3/2016 (Info 580).

Art. 25. O aceite é escrito na própria letra. Exprime-se pela


palavra 'aceite' ou qualquer outra palavra equivalente; o aceite
é assinado pelo sacado. Vale como aceite a simples assinatura
do sacado aposta na parte anterior da letra.

Logo, o aceite lançado em documento que não seja a própria duplicata não possui
nenhuma eficácia cambiária.

O sacador ficará, então, no prejuízo? Não necessariamente. O sacador poderá utilizar


este documento no qual o sacado deu o aceite para ajuizar uma ação monitória ou ação
ordinária de cobrança (art. 16 da Lei 5.474/68). Assim, o aceite realizado fora da
duplicata faz com que esta não tenha força de título cambial. No entanto, este
documento no qual foi aposto o aceite pode servir como prova da obrigação,
instrumentalizando ação monitória ou ordinária.

Tipos de aceite:
a) aceite ordinário (expresso): ocorre quando o sacado (comprador ou tomador dos
serviços), não encontra nenhum problema em aceitar e, por isso, assina em um campo
próprio localizado na frente (anverso) do título, devolvendo-o em seguida.
b) aceite presumido: ocorre quando o sacado resolve não assinar ou não devolver a
duplicata assinada, no entanto, ao receber as mercadorias compradas, ele assinou o
comprovante de recebimento, sem fazer qualquer ressalva quanto aos bens
adquiridos. Ora, se ele recebeu normalmente as mercadorias é porque se presume que
o vendedor cumpriu sua obrigação contratual. Logo, esse comprador deveria ter feito
o aceite da duplicata. Nesses casos, o sacador deverá fazer o protesto do sacado por
falta de aceite ou por falta de pagamento. Diante disso, é admitido como aceite
presumido da duplicata: o comprovante de entrega das mercadorias assinado pelo
sacado acompanhado do instrumento do protesto do título por falta de aceite ou falta
de pagamento.

"A grande diferença entre o aceite expresso e o aceite presumido se


manifesta na execução da duplicata. Com efeito, a duplicata aceita
expressamente, como é título de crédito perfeito e acabado, pode ser
executada sem a exigência de maiores formalidades. Basta a
apresentação do título. No entanto, a execução da duplicata aceita
por presunção segue regra diferente. Além da apresentação do
título, são necessários o protesto (mesmo que a execução se dirija
contra o devedor principal) e o comprovante de entrega das
mercadorias. Essa sistemática está prevista no art. 15 da Lei das
Duplicatas." (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito
Empresarial esquematizado. 6ª ed., São Paulo: Método, 2016).
Veja o que diz o art. 15 da Lei das Duplicatas:

Art. 15. A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será


efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos
executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código
de Processo Civil ,quando se tratar:
l - de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não;
II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que,
cumulativamente:
a) haja sido protestada;
b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da
entrega e recebimento da mercadoria; e
c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite,
no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º
e 8º desta Lei.
§ 1º - Contra o sacador, os endossantes e respectivos avalistas
caberá o processo de execução referido neste artigo, quaisquer
que sejam a forma e as condições do protesto.
§ 2º - Processar-se-á também da mesma maneira a execução de
duplicata ou triplicata não aceita e não devolvida, desde que
haja sido protestada mediante indicações do credor ou do
apresentante do título, nos termos do art. 14, preenchidas as
condições do inciso II deste artigo.

Dessa forma, no caso de aceite presumido, para que a duplicata possa ser um título
executivo extrajudicial, é necessário comprovar a entrega das mercadorias mais o
protesto. Se o vendedor não conseguir demonstrar isso, ainda assim ele poderá ajuizar
ação monitória ou mesmo ação de cobrança contra o devedor.

6.3. Duplicata virtual é válida

O STJ considera válida a duplicata virtual.


As duplicatas virtuais, emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação
eletrônica, podem ser protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do
título não é imprescindível para o ajuizamento da execução, conforme previsto no
art. 8º, parágrafo único, da Lei 9.492/1997.
Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual devidamente
acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de
entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços suprem a ausência física do
título cambiário eletrônico e constituem, em princípio, títulos executivos
extrajudiciais.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.024.691-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgados em 22/8/2012.

7. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL


7.1. Prazo prescricional da repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de
crédito rural – (Info 592)

Qual é o prazo prescricional da ação de repetição de indébito envolvendo contrato


de cédula de crédito rural?
 Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: 20 anos.
 Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: 3 anos.
O termo inicial do prazo prescricional é a data do pagamento (efetiva lesão).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.361.730-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 10/8/16 (recurso
repetitivo) (Info 592).

7.2. Invasão do MST e exigibilidade de cédula de crédito rural hipotecária – (Info


589)

A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural, por si só, não
é fato suficiente para configurar o evento como de força maior, pois deve ser
analisada, concretamente, a presença dos requisitos caracterizadores do instituto
(necessariedade e inevitabilidade – art. 393, parágrafo único, do Código Civil).
A parte que faz esta alegação deverá comprovar que a ocupação ilegal da
propriedade rural pelo MST criou óbice intransponível ao cumprimento da
obrigação. Deverá também provar que não havia meios de evitar ou impedir os seus
efeitos.
Assim, a cédula de crédito rural hipotecária permanecerá exigível na hipótese de o
MST invadir o imóvel do financiado e este deixar de comprovar que a invasão
constitui óbice intransponível ao pagamento do crédito e que não existiam meios
de evitar ou impedir os efeitos dessa ocupação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.705-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 16/8/16
(Info 589).

8. CÉDULA DE PRODUTO RURAL


8.1. Juros moratórios e cédula de produto rural financeira – (Info 603)

No caso de cédulas de PRODUTO rural financeira (CPR-F), os juros também estão


limitados a 1% ao ano, conforme prevê o DL 167/67 para as cédulas de CRÉDITO
rural?
1ª corrente: NÃO. A limitação dos juros moratórios ao patamar de 1% ao ano,
estabelecida pelo art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 167/67, não se aplica à
cédula de produto rural financeira (CPR-F).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.435.979-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 30/3/17
(Info 603).

2ª corrente: SIM. Os juros de mora no caso de CPR-F deverão ficar limitados em 1%


ao ano, nos termos do art. 5º do Decreto-Lei nº 167/1967.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 906.114/PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 06/10/2016.

9. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO


9.1. Abusividade da cláusula-mandato - (Info 570) – IMPORTANTE!!!

Nos contratos de cartão de crédito, é abusiva a previsão de cláusula-mandato que


permita à operadora emitir título cambial contra o usuário do cartão.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.084.640-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 23/9/15 (Info 570).

9.2. Contrato de abertura de crédito rotativo


O contrato de abertura de crédito rotativo, ainda que acompanhado dos extratos
relativos à movimentação bancária do cliente, não constitui título executivo.
Aplica-se a Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que
acompanhado de extrato da conta-corrente, não é título executivo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.022.034-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
12/3/2013.

10. COMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES DE EMPRESAS DE TELEFONIA


10.1. Súmula 551-STJ – (info 571)

Súmula 551-STJ: Nas demandas por complementação de ações de empresas de


telefonia, admite-se a condenação ao pagamento de dividendos e juros sobre
capital próprio independentemente de pedido expresso. No entanto, somente
quando previstos no título executivo, poderão ser objeto de cumprimento de
sentença.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 14/10/2015, DJe 19/10/2015 (Info 571)

11. RECUPERAÇÃO JUDICIAL


11.1. O fato de a empresa se encontrar em recuperação judicial não obsta a
homologação de sentença arbitral estrangeira – (Info 610)

O fato de a empresa se encontrar em recuperação judicial não obsta a homologação


de sentença arbitral estrangeira.
No caso, empresa brasileira foi condenada, em sentença arbitral proferida na Suíça,
a pagar determinada quantia a empresa estrangeira. A credora pediu a
homologação desta sentença no STJ. A empresa brasileira encontra-se em processo
de recuperação judicial no Brasil. Isso, contudo, não impede que o STJ homologue
esta sentença estrangeira. Depois, a credora terá que habilitar este crédito no juízo
da recuperação.
STJ. Corte Especial. SEC 14.408-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/6/17 (Info
610).
OBS:
O processo de homologação de sentença estrangeira tem natureza constitutiva e tem
por objetivo conferir eficácia jurídica, no Brasil, a um provimento jurisdicional
alienígena (“sentença estrangeira”). Isso é feito a fim de permitir que a decisão possa
vir a ser executada em nosso país.
Dessa forma, a homologação é um pressuposto lógico da execução da decisão
estrangeira, não se confundindo com o próprio processo de execução, o qual será
instaurado posteriormente, se for o caso. Em outras palavras, homologação de
sentença estrangeira não é execução do crédito. Trata-se de providência necessária
para, no futuro, o credor pedir a execução do crédito.
Em virtude disso, o simples fato de a empresa estar em recuperação judicial não faz
com que seja proibida a homologação da sentença estrangeira porque não haverá,
ainda, qualquer ato de constrição do patrimônio do devedor. Por essa razão, o
processo de homologação de sentença estrangeira em face da empresa recuperanda
não atrapalha o princípio da preservação da empresa, que é o grande objetivo da
recuperação judicial.
Não se aplica, no caso, a suspensão de que trata o art. 6º, § 4º da Lei 11.101/05 (Na
recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese
nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 dias contado do deferimento do
processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito
dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de
pronunciamento judicial)? NÃO. Não se aplica o art. 6º, § 4º, da Lei de Falências como
óbice à homologação da sentença arbitral, uma vez que se está em fase antecedente à
execução, apenas emprestando eficácia jurídica ao provimento homologando. Logo, o
pedido de homologação não se enquadra no conceito de “ações” ou “execuções” de
que trata o art. 6º, § 4º.

11.2. A habilitação de crédito deverá limitar a incidência de juros de mora e correção


monetária até a data do pedido de recuperação judicial mesmo que a sentença diga de
forma diversa – (Info 610)

O credor deverá apresentar ao administrador judicial da falência o valor do seu


crédito, atualizado com juros e correção monetária. Vale ressaltar que o termo final
da incidência dos juros e correção monetária é a data do pedido de recuperação
judicial, nos termos do art. 9º, II, da Lei nº 11.101/2005.
Assim, mesmo que a sentença condenatória transitada em julgado tenha
determinado que os juros e correção monetária iriam incidir até a data do efetivo
pagamento, quando este crédito for habilitado na recuperação judicial ele será
atualizado até a data do pedido de recuperação judicial. Segundo o STJ decidiu,
isso não ofende a coisa julgada. Nesse sentido:
Não ofende a coisa julgada a decisão de habilitação de crédito que limita a
incidência de juros de mora e correção monetária, delineados em sentença
condenatória de reparação civil, até a data do pedido de recuperação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.662.793-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 8/8/17 (Info 610).
OBS:
RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga
“concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do
devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam
preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A
recuperação judicial consiste em um processo judicial, no qual será construído e
executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de
efetivamente ir à falência.

FASES DA RECUPERAÇÃO: De forma resumida, a recuperação judicial possui 3


fases:
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até
o despacho de processamento;
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a
decisão concessiva;
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da
recuperação judicial.

Habilitação dos créditos: Depois que a recuperação judicial é decretada ocorre a


habilitação dos créditos que deverão ser pagos pela empresa recuperanda. Assim, as
pessoas que tiverem créditos para receber da empresa em recuperação deverão
apresentá-los ao administrador judicial, na forma do art. 9º da Lei 11.101/05. A
verificação dos créditos será realizada, então, primeiro pelo administrador judicial,
com base nos livros contábeis e nos documentos comerciais e fiscais do devedor e nos
documentos que lhe forem apresentados pelos credores. A partir desse trabalho
inicial, confecciona-se um edital cujo teor pode ser alterado por novas habilitações ou
divergências quanto aos créditos ali relacionados.

Valor do crédito atualizado: O credor deverá apresentar ao administrador judicial da


falência o valor do seu crédito, atualizado com juros e correção monetária, nos termos
do art. 9º, II, da Lei nº 11.101/2005:
Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos
termos do art. 7º, § 1º, desta Lei deverá conter:
(...) II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação
da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua origem
e classificação;

Vale ressaltar que o termo final da incidência dos juros e correção monetária é a data
do pedido de recuperação judicial. Isso significa dizer que todos os créditos serão
necessariamente atualizados até a data do pedido de recuperação judicial. A partir de
então, poderá o plano deliberar modificação das condições originalmente contratadas,
impedindo a fluência de juros e correção monetária após o requerimento de
recuperação judicial.

O art. 9º, II, da Lei de Falências afirma expressamente que a atualização do valor do
crédito habilitado deverá ocorrer até a data do pedido de recuperação judicial.
Todos os créditos devem ser tratados de maneira igualitária, sejam eles fundados em
título judicial ou extrajudicial, sempre com vistas à formação harmoniosa do quadro
geral de credores e sua desejável realização prática a viabilizar o soerguimento da
empresa. Assim, todos os créditos deverão respeitar a regra do art. 9º, II.
Além disso, o art. 49, §2º, da Lei de Falências estabelece que “as obrigações anteriores à
recuperação judicial observarão as condições originalmente contratadas ou definidas em lei,
inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no
plano de recuperação judicial.”
Em habilitação de créditos na recuperação judicial, aceitar a incidência de juros de
mora e correção monetária em data posterior ao pedido da recuperação judicial
implica negativa de vigência ao art. 9º, II, da Lei de Falências. Esse entendimento não
representa violação da coisa julgada, significando apenas que está sendo feito um
“exercício de interpretação normativa própria da matriz axiológica que norteia o
instituto da recuperação judicial” (Min. Nancy Andrighi).
Deve-se lembrar, por fim, que o art. 59 da Lei de Falências dispõe que “o plano de
recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e
todos os credores a ele sujeitos”. A novação do crédito, oriundo de sentença condenatória
por reparação civil, permite o ajuste do cálculo da dívida na recuperação, sem que isso
implique violação da coisa julgada, pois a execução seguirá as condições pactuadas na
novação e não na obrigação extinta.

11.3. Os bondholders podem votar no plano de recuperação da empresa – (Info 607)

Os bondholders – detentores de títulos de dívida emitidos por sociedades em


recuperação judicial e representados por agente fiduciário – têm assegurados o
direito de voto nas deliberações sobre o plano de soerguimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.670.096-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/6/17 (Info 607).

OBS:
RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga
“concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do
devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam
preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A
recuperação judicial consiste em um processo judicial, no qual será construído e
executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de
efetivamente ir à falência.

FASES DA RECUPERAÇÃO: De forma resumida, a recuperação judicial possui 3


fases:
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até
o despacho de processamento;
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a
decisão concessiva;
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da
recuperação judicial.

JUÍZO FALIMENTAR: A Lei 11.101/05, em seu art. 3º, prevê que é competente para
deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor
ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação
judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.

PLANO DE RECUPERAÇÃO: Em até 60 dias após o despacho de processamento da


recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação
da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em
falência (art. 53 da Lei 11.101/05). Este plano deverá conter:
 discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados
(art. 50);
 demonstração de sua viabilidade econômica; e
 laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor,
subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.

Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela
assembleia geral de credores.

Credores são avisados sobre o plano, podendo apresentar objeções: Após o devedor
apresentar o plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo
aviso aos credores sobre o recebimento do plano e fixando prazo para a manifestação
de eventuais objeções. Os credores serão chamados a analisar esse plano e, se não
concordarem com algo, poderão apresentar objeção. O prazo para os credores
apresentarem objeções é de 30 dias.

Se não houver objeção dos credores: Caso nenhum credor apresente objeção ao plano
no prazo fixado, considera-se que houve aprovação tácita. Nessa hipótese, não será
necessária a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano.
Se houver objeção por parte dos credores: Havendo objeção de algum credor, o juiz
deverá convocar a assembleia-geral de credores para que ela decida sobre o plano de
recuperação apresentado. A assembleia-geral, após as discussões e esclarecimentos
pertinentes, poderá:
a) aprovar o plano sem ressalvas;
b) aprovar o plano com alterações;
c) não aprovar o plano.

Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, §
1º).

Se o plano for aprovado: o juiz homologa a aprovação e concede a recuperação


judicial, iniciando-se a fase de execução. Atenção: no regime atual, o plano de
recuperação é aprovado pelos credores e apenas homologado pelo juiz.

“BONDHOLDERS”
Noções gerais: Tem sido cada vez mais comum que empresas brasileiras emitam
títulos (ou papeis representativos de dívida) no mercado internacional como uma
forma de captar recursos.
Assim, é como se fosse um “empréstimo” que a empresa obtém no exterior emitindo
títulos em favor dos investidores estrangeiros. Esses títulos de dívida são conhecidos
como bonds (“obrigação”) e os investidores que adquirem esses títulos são chamados
de bondholders (“obrigacionistas”). Assim, os bondholders são investidores que
adquiriram títulos de dívida (bonds) emitidos por companhias brasileiras que
buscaram financiar suas atividades no exterior. A emissão desses bonds é
instrumentalizada (formalizada) por meio de uma escritura (indenture), que deve
indicar o nome do agente fiduciário (indenture trustee) responsável por atuar em favor
dos investidores finais. Essa escritura (indenture) deverá estabelecer os direitos e
deveres dos titulares (bondholders), quais são emissores e os garantidores dos títulos e
também quem é o agente fiduciário (indenture trustee) que funciona como
representante dos interesses dos bondholders.

Os bondholders são credores da empresa. Caso a empresa que emitiu os títulos


requeira a recuperação judicial, os bondholders poderão participar da Assembleia
Geral de Credores? SIM. Os bondholders, diretamente ou por meio do agente fiduciário,
poderão participar da Assembleia Geral de Credores, possuindo direito de voz e voto.
Em regra, no processo de recuperação judicial, consta apenas o nome do agente
fiduciário na lista de credores.
Ocorre que, na realidade, os verdadeiros titulares do interesse econômico-financeiro,
que sofrerão diretamente os efeitos da reorganização empresarial, são os investidores
finais (bondholders), pois são eles os reais credores das recuperandas. Por esse motivo,
é possível conferir a possibilidade de os bondholders votarem diretamente nas
assembleias de credores, a fim de que possam deliberar acerca de questões que
guardam relação direta com seus interesses.

11.4. O crédito trabalhista decorrente de serviço prestado pelo empregado antes da


recuperação judicial a ela estará sujeito – (Info 604)
Os créditos trabalhistas litigiosos referentes a serviços prestados pelo trabalhador à
empresa antes da recuperação judicial deverão estar sujeitos a ela, mesmo que no
momento do pedido tais créditos não estivessem consolidados?
SIM. A partir do momento em que o empregado trabalha, ele se torna credor de seu
empregador, tendo direito ao recebimento das verbas trabalhistas. Esse crédito
existe independentemente de decisão judicial. Se o empregador não paga e o
empregado ingressa com reclamação trabalhista, a sentença apenas reconhecerá
(declarará) a existência do direito do trabalhador, condenando o patrão a pagar. Não
é a sentença, contudo, que constitui o direito, mas apenas o declara.
Isso significa que, se este crédito foi constituído em momento anterior ao pedido
de recuperação judicial, deverá se submeter aos seus efeitos.
Desse modo, se as verbas trabalhistas estão relacionadas com serviços prestados
pelo empregado em momento anterior ao pedido de recuperação judicial, tais
verbas também estarão sujeitas a esse procedimento, mesmo que a sentença
trabalhista tenha sido prolatada somente depois do deferimento da recuperação.
A consolidação do crédito trabalhista (ainda que inexigível e ilíquido) não depende
de provimento judicial que o declare — e muito menos do transcurso de seu
trânsito em julgado —, para efeito de sua sujeição aos efeitos da recuperação
judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.046-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min.
Marco Aurélio Bellizze, j. 25/4/2017 (Info 604).

11.5. O juízo da recuperação judicial é o competente para decidir sobre os bens da


empresa devedora mesmo que tramite em outro juízo execução cobrando crédito
decorrente de relação de consumo – (Info 598) – (TJPB-2015)

Depois de ter sido deferido o processamento da recuperação judicial, todas as ações


e execuções contra o devedor que está em recuperação judicial ficam suspensas,
excetuadas as que demandarem quantia ilíquida (§ 1º do art. 6º da Lei nº
11.101/2005) e as execuções fiscais (§ 7º).
Além de as ações e execuções contra o devedor em recuperação ficarem suspensas,
o destino do patrimônio da sociedade em processo de recuperação judicial não
poderá ser atingido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita
o processo de reerguimento, sob pena de violação ao princípio maior da
preservação da atividade empresarial. Em outras palavras, qualquer decisão que
afete os bens da empresa em recuperação deverá ser tomada pelo juízo onde tramita
a recuperação.
O juízo onde tramita o processo de recuperação judicial é o competente para decidir
sobre o destino dos bens e valores objeto de execuções singulares movidas contra
a recuperanda, ainda que se trate de crédito decorrente de relação de consumo.
Ex: João comprou uma geladeira em uma loja. O produto apresentou vício e o
consumidor propôs, no Juizado Especial, ação de indenização contra o fornecedor.
O juiz julgou o pedido procedente, condenando a empresa a pagar R$ 10 mil. Como
não houve pagamento espontâneo, o magistrado determinou a penhora on line da
quantia. Ocorre que, em março de 2017, antes que o dinheiro penhorado fosse
transferido para João, o Juízo da Vara Cível deferiu a recuperação judicial da
referida loja. Como já foi deferida a recuperação judicial, a competência para
decidir sobre o patrimônio do devedor passa a ser do juízo da recuperação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.702-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/02/17 (Info 598).
(PGM Goiânia-2015-UFG): O Município de Goiânia ajuizou execução fiscal em
face de empresa prestadora de serviços que acumulava débitos relativos a tributos
municipais. No curso da execução fiscal houve a falência da empresa devedora.
Nesse contexto, o produto da alienação dos bens penhorados deve ser repassado
ao Juízo universal da falência, para apuração das preferências do crédito.

OBS:
Decisões sobre o patrimônio da empresa que está em recuperação deverão ser tomadas
pelo juízo onde tramita a recuperação: Além de as ações e execuções contra o devedor
em recuperação ficarem suspensas, o STJ afirma também que o destino do patrimônio
da sociedade em processo de recuperação judicial não pode ser atingido por decisões
prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o processo de reerguimento, sob
pena de violação ao princípio maior da preservação da atividade empresarial,
insculpido no art. 47 da LFRE. Em outras palavras, qualquer decisão que afete os bens
da empresa em recuperação deverá ser tomada pelo juízo onde tramita a recuperação.
Nesse sentido:
(...) o destino do patrimônio da empresa em processo de
soerguimento judicial ou falimentar, como no presente caso,
não pode ser atingido por decisões prolatadas por juízo
diverso daquele da recuperação ou da falência.
STJ. 2ª Seção. CC 137.178/MG, Rel. Min. Marco Buzzi, j.
28/09/16.

Trata-se da vis attractiva do juízo universal da recuperação judicial.

Vale ressaltar que, mesmo em processos de execução fiscal – hipóteses nas quais a lei
expressamente prevê a continuidade de tramitação (art. 6º, § 7º), o STJ tem entendido
que, embora as ações não se suspendam, compete ao juízo universal da recuperação
dar seguimento a atos que envolvam a expropriação de bens do acervo patrimonial
do devedor. Dito de outro modo, depois de deferida a recuperação judicial, as
execuções fiscais prosseguem, mas os atos de expropriação deverão ser decididos pelo
juízo onde tramita a recuperação judicial. Confira:
(...) A execução fiscal não se suspende com o deferimento da
recuperação judicial; todavia, fica definida a competência do
Juízo universal para dar seguimento aos atos constritivos ou
de alienação.
STJ. 2ª Seção. AgInt no CC 140.021/MT, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, j. 10/08/2016.

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João comprou


uma geladeira em uma loja de departamentos ("Atacadão dos Eletros"). O produto
apresentou vício e o consumidor, como não conseguiu resolver a questão, foi obrigado
a propor, em abril de 2016, ação de indenização por danos morais e materiais contra a
loja. A ação proposta por João tramita no Juizado Especial. O juiz julgou o pedido
procedente, condenando a empresa a pagar R$ 10 mil em favor do autor. Como não
houve pagamento espontâneo, o magistrado determinou a penhora on line da quantia,
tendo a medida tido sucesso, ou seja, foi localizado e penhorado esse valor em uma
das contas bancárias da loja. Ocorre que, em março de 2017, antes que o dinheiro
penhorado fosse transferido para João, o Juízo da Vara Cível deferiu a recuperação
judicial da "Atacadão dos Eletros".
Neste caso, o juiz do Juizado Especial poderá determinar a transferência do valor
para João? NÃO. Como já foi deferida a recuperação judicial, a competência para
decidir sobre o patrimônio do devedor passa a ser do juízo da recuperação judicial.
Foi o decidido no Info 598 do STJ.

Uma vez deferido o pedido de recuperação judicial, fica obstada (proibida) a prática
de atos expropriatórios por juízo distinto daquele onde está tramitando o processo
recuperacional. Isso vale mesmo para créditos decorrentes de relação de consumo,
como no caso do exemplo acima dado.

Mesmo já tendo havido penhora, como no exemplo? SIM. Mesmo que a penhora já
tenha sido realizada em data anterior ao deferimento do pedido de recuperação
judicial, ainda assim os próximos atos de expropriação somente poderão ser decididos
pelo juízo da recuperação judicial:
A jurisprudência desta Corte assentou-se no sentido de que,
decretada a falência ou deferido o processamento da
recuperação judicial, as execuções contra o devedor não
podem prosseguir, ainda que exista prévia penhora. Na
hipótese de adjudicação posterior levada a efeito em juízo
diverso, o ato deve ser desfeito, em razão da competência do
juízo universal e da observância do princípio da preservação
da empresa.
STJ. 2ª Seção. CC 111.614/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j.
12/6/13.

O juízo da recuperação é o que está mais próximo da realidade das empresas em


dificuldades, tendo, por isso, maiores condições de definir se as medidas constritivas
incidentes sobre seus acervos patrimoniais podem ou não comprometer o sucesso do
plano de reerguimento.
Admitir a não sujeição de valores objeto de execuções singulares à vis attractiva do foro
recuperacional representaria clara afronta aos princípios da universalidade e unidade
do juízo e da preservação da empresa.

11.6. Vinculação de todos os credores à determinação de plano de recuperação


judicial aprovado por maioria pela assembleia geral de credores – (Info 591)

Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles - devidamente


representados pelas respectivas classes - optar, por meio de dispositivo
expressamente consignado em plano de recuperação judicial, pela supressão de
todas as garantias fidejussórias e reais existentes em nome dos credores na data da
aprovação do plano, todos eles - inclusive os que não compareceram à Assembleia
ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à
homologação do acordo - estarão indistintamente vinculados a essa determinação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/9/16 (Info
591).
OBS:
ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES PODERÁ DISPENSAR AS GARANTIAS
PRESTADAS: Em comentários a outros julgados, vimos que, na novação da
recuperação judicial, em regra, não haverá a extinção das garantias prestadas.
Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a
ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas,
circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros
garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de
fiadores, avalistas ou coobrigados em geral.

Indaga-se: a Assembleia Geral de Credores poderá dispensar as garantias que haviam


sido prestadas por terceiros? SIM. Na deliberação do plano de recuperação os
credores negociam com a empresa devedora e decidem a extensão de esforços e
renúncias que estão dispostos a suportar, no intento de reduzir os prejuízos que se
avizinham. Apesar disso não ser exigido pela lei, os credores poderão decidir
dispensar as garantias real e fidejussórias se assim entenderem pertinente.

Esta decisão da Assembleia vincula também os credores que não estavam presentes?
SIM. Essa deliberação atinge a todos os credores, inclusive os que não compareceram
à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente
à homologação do acordo. Todos eles, indistintamente, estarão vinculados a essa
determinação. Nesse sentido é também a opinião da doutrina:
"Em princípio, todos os credores anteriores ao pedido de
recuperação judicial estão sujeitos aos efeitos do plano de
recuperação aprovado em juízo. Mesmo os que haviam se
oposto ao plano e votado por sua rejeição devem se curvar à
decisão judicial respaldada na maioria dos credores. Não tem
outra alternativa. Se no plano aprovado em juízo é prevista a
substituição de determinada garantia real por outra de menor
valor, o credor atingido simplesmente não tem meios para se
opor ao mérito dessa medida, por mais que considere seus
interesses injustamente sacrificados." (COELHO, Fábio Ulhoa.
Comentários à Lei de Falências e de Recuperação de
Empresas. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 236)

É possível, em tese, que o Poder Judiciário faça o controle de legalidade do plano de


recuperação judicial aprovado pela assembleia geral de credores? SIM.
Afigura-se absolutamente possível que o Poder Judiciário,
sem imiscuir-se na análise da viabilidade econômica da
empresa em crise, promova controle de legalidade do plano
de recuperação judicial. Esse controle de legalidade do plano
de recuperação não significa a desconsideração da soberania
da assembleia geral de credores. À assembleia geral de
credores compete analisar, a um só tempo, a viabilidade
econômica da empresa, assim como da consecução da
proposta apresentada. Ao Poder Judiciário, por sua vez,
incumbe velar pela validade das manifestações expendidas, e,
naturalmente, preservar os efeitos legais das normas que se
revelarem cogentes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591).

11.7. Súmula 581-STJ – (Info 590) – (TJPB-2015)


Súmula 581-STJ: A recuperação judicial do devedor principal não impede o
prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores
solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 14/09/2016, DJe 19/09/2016 (Info 590).
(PGM-Campinas-2016-FCC): Empresa X firmou contrato de adiantamento de
crédito com o Banco Y e emitiu, em garantia, títulos de crédito avalizados por seus
sócios. Posteriormente, firmou com o Banco Y contrato de financiamento que foi
afiançado por seus sócios, os quais se obrigaram solidariamente pelo pagamento
do empréstimo, renunciando ao benefício de ordem. Inadimplidos ambos os
negócios, o Banco Y ajuizou duas ações de execução contra os sócios da Empresa
X, uma tendo como objeto o aval dos títulos de crédito, outra tendo como objeto a
fiança prestada ao contrato de financiamento. Posteriormente, foi deferida a
recuperação judicial da Empresa X. De acordo com jurisprudência consolidada do
STJ, a recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento
nem induz a extinção das execuções ajuizadas contra os devedores solidários
coobrigados por garantia cambial ou fidejussória. BL: S. 481, STJ.

OBS:
RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga
“concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do
devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam
preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A
recuperação judicial consiste em um processo judicial, no qual será construído e
executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de
efetivamente ir à falência.

FASES DA RECUPERAÇÃO: De forma resumida, a recuperação judicial possui 3


fases:
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até
o despacho de processamento;
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a
decisão concessiva;
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da
recuperação judicial.

JUÍZO FALIMENTAR: A Lei 11.101/05, em seu art. 3º, prevê que é competente para
deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor
ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação
judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.

PLANO DE RECUPERAÇÃO: Em até 60 dias após o despacho de processamento da


recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação
da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em
falência (art. 53 da Lei 11.101/05). Este plano deverá conter:
 discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados
(art. 50);
 demonstração de sua viabilidade econômica; e
 laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor,
subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.
Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela
assembleia geral de credores.

Credores são avisados sobre o plano, podendo apresentar objeções: Após o devedor
apresentar o plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo
aviso aos credores sobre o recebimento do plano e fixando prazo para a manifestação
de eventuais objeções. Os credores serão chamados a analisar esse plano e, se não
concordarem com algo, poderão apresentar objeção. O prazo para os credores
apresentarem objeções é de 30 dias.

Se não houver objeção dos credores: Caso nenhum credor apresente objeção ao plano
no prazo fixado, considera-se que houve aprovação tácita. Nessa hipótese, não será
necessária a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano.

Se houver objeção por parte dos credores: Havendo objeção de algum credor, o juiz
deverá convocar a assembleia-geral de credores para que ela decida sobre o plano de
recuperação apresentado. A assembleia-geral, após as discussões e esclarecimentos
pertinentes, poderá:
a) aprovar o plano sem ressalvas;
b) aprovar o plano com alterações;
c) não aprovar o plano.

Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, §
1º).

Se o plano for aprovado: o juiz homologa a aprovação e concede a recuperação


judicial, iniciando-se a fase de execução. Atenção: no regime atual, o plano de
recuperação é aprovado pelos credores e apenas homologado pelo juiz.

APROVADO O PLANO, OCORRE A NOVAÇÃO DOS CRÉDITOS ANTERIORES


AO PEDIDO:
A homologação do plano de recuperação judicial autoriza a retirada do nome da
empresa recuperanda e dos seus respectivos sócios dos cadastros de inadimplentes,
bem como a baixa de eventuais protestos existentes em nome destes? SIM. A atual Lei
de Falências e Recuperação Judicial estabelece que o plano de recuperação judicial
acarreta a novação dos créditos anteriores ao pedido:
Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos
créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os
credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado
o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.

Qual é a consequência jurídica de haver a novação dos créditos? A novação ocorre,


dentre outras hipóteses, quando o devedor contrai com o credor nova dívida para
extinguir e substituir a anterior (art. 360, I, CC). Desse modo, o que o art. 59 está
afirmando é que, quando o plano de recuperação judicial é homologado, as dívidas
que o devedor (recuperando) possuía com os credores são extintas e substituídas por
outras novas obrigações. Como a novação induz a extinção da relação jurídica
anterior, substituída por uma nova, não será mais possível falar em inadimplência do
devedor com base na dívida extinta (Min. Nancy Andrighi). Diante disso, não se
justifica a manutenção do nome da recuperanda ou de seus sócios em cadastros de
inadimplentes em virtude da dívida novada.
Assim, “a novação extingue a dívida anterior; estando o autor adimplente quanto ao novo
débito, é ilícita a inscrição em órgãos de proteção ao crédito fundamentada em inadimplemento
de parcela vencida anteriormente à novação” (AgRg no Ag 948.785/RS, 3ª Turma, Rel. Min.
Ari Pargendler, DJe de 05.08.08). Essa regra do art. 59 tem como norte a preocupação
de recuperar a empresa em dificuldade financeira, atendendo ao chamado “princípio
da preservação da empresa”.

A novação decorrente da recuperação judicial implica a extinção de garantias que


haviam sido prestadas aos credores?
NÃO. A novação prevista no Código Civil extingue sim os
acessórios e as garantias da dívida, sempre que não houver
estipulação em contrário (art. 364).
No entanto, na novação prevista no art. 59 da Lei 11.101/05
ocorre justamente o contrário, ou seja, as garantias são
mantidas, sobretudo as garantias reais, as quais só serão
suprimidas ou substituídas “mediante aprovação expressa do
credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da alienação
do bem gravado (art. 50, § 1º).
 Novação do CC: em regra, extingue as garantias
prestadas.
 Novação da recuperação judicial: em regra, não
extingue as garantias prestadas.
Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere
novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou
fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que
possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros
garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções
aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em
geral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, j. 8/4/14 (Info 540).

Exemplo: A sociedade GW Ltda. emitiu uma nota promissória em favor da empresa


X. Gabriel (sócio da GW) figurou como avalista na nota promissória, ou seja, ele
ofereceu uma garantia pessoal de pagamento da dívida. Ocorre que a sociedade GW
Ltda. requereu recuperação judicial e o plano foi aprovado. A empresa X ajuizou
execução de título extrajudicial cobrando de Gabriel o valor da nota promissória
vencida. Gabriel defendeu-se alegando que, como foi aprovado o plano de
recuperação judicial, houve novação e a execução deveria ser extinta. O STJ não
concordou com a tese, pois a homologação do plano de recuperação judicial da
devedora principal não implica a extinção de execução de título extrajudicial ajuizada
em face de sócio coobrigado. Conforme já explicado, muito embora o plano de
recuperação judicial opere novação das dívidas anteriores, as garantias (reais ou
fidejussórias), como regra, são preservadas. Logo, o aval (garantia) prestado por
Gabriel não foi extinto com a aprovação do plano. Diante disso, o credor poderá
exercer seus direitos contra Gabriel (terceiro garantidor), devendo, portanto, ser
mantida a execução proposta contra ele.

Qual é o fundamento legal para essa conclusão? O § 1º do art. 49 da Lei 11.101/05:


§ 1º Os credores do devedor em recuperação judicial
conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados,
fiadores e obrigados de regresso.

O STJ reafirmou esse entendimento em recurso especial repetitivo, fixando a seguinte


tese:
A recuperação judicial do devedor principal não impede o
prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou
extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores
solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real
ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista
nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o
art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da
Lei n. 11.101/2005.
(STJ. 2ª Seção. REsp 1333349/SP, Rel. Min.Luis Felipe Salomão,
j. 26/11/14)

Na I Jornada de Direito Comercial do CJF⁄STJ já havia sido aprovado enunciado


espelhando a posição:
Enunciado 43: A suspensão das ações e execuções previstas no
art. 6º da Lei n. 11.101⁄2005 não se estende aos coobrigados do
devedor.

Agora o tema foi sumulado.

11.8. Submissão de credor dissidente a novo plano de recuperação judicial aprovado


pela assembleia geral de credores – (Info 580)

Se, após o biênio de supervisão judicial e desde que ainda não tenha ocorrido o
encerramento da recuperação judicial, houver aprovação de novo plano de
recuperação judicial, o credor que discordar do novo acordo não tem direito a
receber o seu crédito com base em plano anterior aprovado pelo mesmo órgão.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.302.735-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
17/3/2016 (Info 580).
OBS:
RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga
“concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do
devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam
preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A
recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será
construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em
vias de efetivamente ir à falência.

FASES DA RECUPERAÇÃO: De forma resumida, a recuperação judicial possui 3


fases:
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até
o despacho de processamento;
b) Processamento: vai do despacho de processamento até a
decisão concessiva;
c) Execução: da decisão concessiva até o encerramento da
recuperação judicial.

JUÍZO FALIMENTAR: A Lei 11.101/05, em seu art. 3º, prevê que é competente para
deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor
ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação
judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.

PLANO DE RECUPERAÇÃO: Em até 60 dias após o despacho de processamento da


recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação
da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em
falência (art. 53 da Lei nº 11.101/2005). Este plano deverá conter:
 discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados
(art. 50);
 demonstração de sua viabilidade econômica; e
 laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor,
subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.

CRÉDITOS QUE ESTÃO SUJEITOS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Na recuperação


judicial, a empresa devedora, que está “sufocada” por dívidas, irá pagar os seus
credores de uma forma mais “suave”, a fim de que consiga quitar todos os débitos e
se manter funcionando. Assim, os credores da empresa em recuperação judicial são
inscritos no “quadro geral de credores”, e cada um receberá seu crédito de acordo com
o que for definido no plano de recuperação. Um dos temas importantes sobre esse
assunto é saber quais créditos estão sujeitos à recuperação judicial, ou seja, quais
credores irão ter que receber seus créditos conforme o plano de recuperação e quais
poderão seguir com seus contratos como estavam originalmente previstos.

Regra: Em regra, estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na


data do pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput, da Lei
11.101/05). Ex: a empresa tem que pagar uma dívida com um fornecedor daqui a 9
meses; se o pedido de recuperação foi feito hoje, esse crédito já será incluído nas regras
da recuperação judicial, mesmo que ainda não tenha chegado a data do vencimento.

Consequência dessa regra: Como vimos acima, tendo sido decretada a recuperação
judicial, os credores irão receber conforme o plano. Como consequência disso, em
regra, as ações e execuções que tramitam contra a empresa em recuperação são
suspensas para poder não atrapalhar a execução do plano. Veja:

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do


processamento da recuperação judicial suspende o curso da
prescrição e de todas as ações e execuções em face do
devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio
solidário.
(...)
§ 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput
deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo
improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do
deferimento do processamento da recuperação,
restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos
credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções,
independentemente de pronunciamento judicial.

Exceções à regra: A regra acima exposta (caput do art. 49) possui exceções que estão
elencadas nos §§ 3º e 4º. Dessa feita, nesses parágrafos estão previstos determinados
créditos que não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial.

Assim, depois de ter sido deferido o processamento da recuperação judicial, todas as


ações e execuções contra o devedor que está em recuperação judicial ficam suspensas,
excetuadas as que demandarem quantia ilíquida (§ 1º do art. 6º) e as execuções fiscais
(§ 7º):
Art. 6º (...)
§ 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se
processando a ação que demandar quantia ilíquida.
§ 7º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo
deferimento da recuperação judicial, ressalvada a concessão
de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e
da legislação ordinária específica.

Decisões sobre o patrimônio da empresa que está em recuperação deverão ser tomadas
pelo juízo onde tramita a recuperação: Além de as ações e execuções contra o devedor
em recuperação ficarem suspensas, o STJ afirma também que o destino do patrimônio
da sociedade em processo de recuperação judicial não pode ser atingido por decisões
prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o processo de reerguimento, sob
pena de violação ao princípio maior da preservação da atividade empresarial,
insculpido no art. 47 da LFRE. Em outras palavras, qualquer decisão que afete os bens
da empresa em recuperação deverá ser tomada pelo juízo onde tramita a recuperação.
Nesse sentido:
(...) o destino do patrimônio da empresa em processo de
soerguimento judicial ou falimentar, como no presente caso,
não pode ser atingido por decisões prolatadas por juízo
diverso daquele da recuperação ou da falência.
STJ. 2ª Seção. CC 137.178/MG, Rel. Min. Marco Buzzi, j.
28/09/16.

Trata-se da vis attractiva do juízo universal da recuperação judicial.

Vale ressaltar que, mesmo em processos de execução fiscal – hipóteses nas quais a lei
expressamente prevê a continuidade de tramitação (art. 6º, § 7º), o STJ tem entendido
que, embora as ações não se suspendam, compete ao juízo universal da recuperação
dar seguimento a atos que envolvam a expropriação de bens do acervo patrimonial
do devedor. Dito de outro modo, depois de deferida a recuperação judicial, as
execuções fiscais prosseguem, mas os atos de expropriação deverão ser decididos pelo
juízo onde tramita a recuperação judicial. Confira:
(...) A execução fiscal não se suspende com o deferimento da
recuperação judicial; todavia, fica definida a competência do
Juízo universal para dar seguimento aos atos constritivos ou
de alienação.
STJ. 2ª Seção. AgInt no CC 140.021/MT, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, j. 10/08/2016.
CONCESSÃO DA RECUPERAÇÃO
Plano aprovado: Imagine que o plano de recuperação tenha sido aprovado pelos
credores e, em razão disso, o juiz concedeu a recuperação judicial do devedor (art. 58).

Supervisão judicial: Depois que o juiz proferir a decisão concessiva, o devedor


permanecerá em recuperação judicial até que sejam cumpridas todas as obrigações
previstas no plano que se vencerem até 2 anos depois da concessão da recuperação
judicial. Esse período é chamado de biênio da supervisão judicial. Durante este
período, caso o devedor descumpra qualquer obrigação prevista no plano, isso
acarretará a conversão da recuperação em falência. Se a empresa recuperanda cumprir
as obrigações vencidas neste prazo de 2 anos, o juiz decretará, por sentença, o
encerramento da recuperação judicial (art. 63).

Na recuperação judicial, dentre outros, destacam-se três princípios:


a) a relevância dos interesses dos credores;
b) a par conditio creditorum; e
c) a preservação da empresa.

Essa base principiológica tem servido de alicerce para a constituição do órgão de


representatividade máxima dos inúmeros credores existentes ao tempo da
recuperação judicial, denominado Assembleia Geral de Credores. É por meio dela que
se expressa a vontade de sua maioria, prevalecendo inclusive sobre a intenção
daqueles credores ausentes.

Dentre as diversas atribuições pertencentes à Assembleia, uma merece destaque, que


é a de aprovar ou rejeitar o plano de recuperação judicial, nos moldes apresentados
pelo Administrador Judicial da empresa recuperanda.

Sendo uma verdadeira mesa de negociações, não há rigidez nas deliberações da


Assembleia. Há, sim, certa maleabilidade nas tratativas entre os credores para se
adequar os seus interesses àqueles relativos aos propósitos de reestruturação
estabelecidos pelo devedor. Sem essa adequação, a preponderância da vontade dos
credores poderia desordenar o intuito de soerguimento da empresa, levando-a, muito
possivelmente, à bancarrota, o que prejudicaria exponencialmente as pretensões
creditórias.

Nesse cenário, a doutrina recente acena com a "teoria dos jogos" na recuperação
judicial. Segundo a teoria dos jogos, existe um relacionamento estratégica entre o
devedor e os credores, a fim de que se possa chegar a um consenso mínimo de ambas
as partes a respeito do plano de recuperação judicial. Essa negociação deve se pautar
pelo abandono de um olhar individualizado de cada crédito e um apego maior à
interação coletiva e organizada, já que isso evitaria consequências mais drásticas,
como a quebra da empresa.

11.9. Não sujeição à recuperação judicial de direitos de crédito cedidos


fiduciariamente – (Info 578)

Não se submetem aos efeitos da recuperação judicial do devedor os direitos de


crédito cedidos fiduciariamente por ele em garantia de obrigação representada por
Cédula de Crédito Bancário existentes na data do pedido de recuperação,
independentemente de a cessão ter ou não sido registrada no Registro de Títulos e
Documentos do domicílio do devedor.
Ex: determinada empresa recebeu um empréstimo de um banco. Como garantia de
que iria pagar este empréstimo, ela cedeu fiduciariamente uma CCB.
Posteriormente, esta empresa entrou em recuperação judicial. O banco possui,
portanto, um crédito a ser pago pela empresa representado por meio da CCB. Este
crédito do banco não entrará na recuperação judicial.
A situação enquadra-se no art. 49, § 3º da Lei nº 11.101/2005.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.412.529-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para
acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/12/2015 (Info 578).
OBS:
Imagine agora a seguinte situação adaptada: A empresa "LWS" recebeu mútuo
bancário de R$ 2 milhões e emitiu em favor da instituição financeira uma Cédula de
Crédito Bancário (CCB). Além disso, como garantia, fez a cessão fiduciária para o
banco de títulos e direitos que ela possuía para receber. Em outras palavras, a empresa
tinha valores para receber no futuro (daqui a alguns dias, meses ou anos) de alguns
devedores e cedeu fiduciariamente tais créditos para o banco. Se ele pagasse o
empréstimo, o banco "devolveria" os créditos; caso se tornasse inadimplente, o banco
se tornaria, em definitivo, proprietário dos valores.

Cédula de Crédito Bancário com garantia (CCB): É um título de crédito extremamente


comum na atividade empresarial, estando disciplinada nos arts. 26 a 45 da Lei nº
10.931/2004. Quando uma pessoa física ou jurídica adquire um empréstimo bancário,
a instituição financeira exige que este mutuário emita, em favor do banco, uma cédula
de crédito bancário, que é um papel no qual o emitente se compromete a pagar para o
beneficiário determinada quantia ali prevista. Este papel (CCB) fica em poder do
credor. Caso o emitente não cumpra a sua promessa e não pague a dívida no prazo, o
credor poderá executar a CCB, que é um título de crédito e, portanto, título executivo
extrajudicial. A CCB poderá ser emitida com ou sem garantia (art. 27 da Lei nº
10.931/2004). Em caso de empréstimo de pequenos valores, os bancos normalmente
não exigem garantia, bastando a CCB, que é título executivo. No entanto, se a quantia
for grande, as instituições exigem que o mutuário, além de emitir a cédula, forneça
uma garantia (ex: hipoteca de um bem imóvel, cessão fiduciária de bens móveis etc.).
Em nosso exemplo, o banco exigiu a garantia.

Voltando ao exemplo: Após alguns meses, a referida empresa "LWS" entrou em


recuperação judicial. Diante disso, os demais credores da empresa queriam que este
título e os créditos que foram cedidos para o banco fossem trazidos para a recuperação
judicial a fim de que servissem para pagar as dívidas.

O pedido dos credores deverá ser aceito? Estes créditos cedidos fiduciariamente pela
empresa para o banco deverão se submeter às regras da recuperação judicial? NÃO.
Estes créditos cedidos ao banco fiduciariamente como garantia da dívida não deverão
entrar na recuperação judicial, ou seja, estarão excluídos das regras da recuperação
judicial porque se tratam de uma exceção à regra do caput do art. 49, nos termos do §
3º do mesmo artigo. Veja:

§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário


fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador
mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel
cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em
incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de
venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá
aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos
de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais,
observada a legislação respectiva, não se permitindo,
contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º
do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento
do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade
empresarial.

Encontra-se sedimentado no STJ o entendimento de que:


- a alienação fiduciária de coisa fungível;
- a cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis;
- a cessão fiduciária de títulos de créditos,
... por possuírem a natureza jurídica de propriedade fiduciária, não se sujeitam aos
efeitos da recuperação judicial, nos termos do § 3º do art. 49 da Lei nº 11.101/2005.

Os credores argumentaram que esta cessão fiduciária dos créditos não teria validade
porque não foi registrada no cartório do Registro de Títulos e Documentos. Esta tese
foi acolhida pelo STJ? NÃO. Não é necessário que a cessão de crédito realizada tenha
sido registrada em cartório. Mesmo sem registro no RTD, esta cessão feita pela
sociedade empresária ao banco é válida. Foi o que decidiu o STJ. A alienação fiduciária
de bens móveis fungíveis, quando o credor fiduciário for instituição financeira, é
regida pelo art. 66-B da Lei nº 4.728/65. Esta Lei não exige o registro para que haja a
constituição da propriedade fiduciária.

A constituição da propriedade fiduciária em caso de cessão fiduciária de direitos sobre


coisas móveis e de títulos de crédito dá-se a partir da própria contratação, afigurando-
se, desde então, plenamente válida e eficaz entre as partes.

O único efeito extra no caso de as partes decidirem fazer o registro do contrato é que,
com essa providência, ele passará a produzir efeitos em relação a terceiros, ampliando
a sua publicidade. No entanto, o contrato já é válido mesmo que celebrado apenas
entre as partes e sem registro.

Vale ressaltar, ainda, que o art. 42 da Lei nº 10.931/2004 prevê que "a validade e
eficácia da Cédula de Crédito Bancário não dependem de registro, mas as garantias
reais, por ela constituídas, ficam sujeitas, para valer contra terceiros, aos registros ou
averbações previstos na legislação aplicável, com as alterações introduzidas por esta
Lei."

No caso, a garantia dada não foi real, mas sim de bens móveis (títulos e direitos
creditícios). Logo, não era necessário registro ou averbação.

11.10. Retificação do quadro geral de credores após homologação do plano de


recuperação judicial – (Info 567)
Ainda que o plano de recuperação judicial já tenha sido homologado, é possível a
retificação do quadro geral de credores fundada em julgamento de impugnação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.371.427-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
6/8/2015 (Info 567).

11.11. Deferimento da recuperação judicial e cadastros de restrição e tabelionatos de


protestos – (Info 564) – IMPORTANTE!!!

Tendo sido decretada a recuperação judicial, as ações e execuções que tramitavam


contra a empresa em recuperação serão suspensas. A dúvida que surge é a seguinte:
além da suspensão das ações e execuções, o deferimento da recuperação judicial
acarreta também a retirada do nome da empresa do SPC, SERASA e demais cadastros
negativos? A empresa em recuperação judicial tem direito tirar seu nome dos serviços
de restrição de crédito e tabelionatos de protesto? NÃO. O deferimento do
processamento de recuperação judicial, por si só, não enseja a suspensão ou o
cancelamento da negativação do nome do devedor nos cadastros de restrição ao
crédito e nos tabelionatos de protestos.
O deferimento do processamento de recuperação judicial suspende o curso das
ações e execuções propostas em face do devedor. Como vimos acima, isso está
expressamente previsto no art. 6º, caput e § 4º, da Lei nº 11.101/2005. Contudo, essa
providência (suspensão das ações e execuções) não significa que o direito dos
credores (direito creditório propriamente dito) tenha sido extinto. A dívida
continua existindo.
Assim, se a dívida continua existindo (e apenas a execução é que está suspensa),
não se pode aceitar a retirada do nome da empresa em recuperação dos serviços de
proteção ao crédito e tabelionato de protesto.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.259-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
2/6/2015 (Info 564).

11.12. Extinção das execuções individuais propostas contra devedor em recuperação


judicial – (Info 564)

Após a aprovação do plano de recuperação judicial pela assembleia de credores e a


posterior homologação pelo juízo competente, deverão ser extintas - e não apenas
suspensas - as execuções individuais até então propostas contra a recuperanda nas
quais se busca a cobrança de créditos constantes do plano.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.272.697-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
2/6/2015 (Info 564).

11.13. Mudança de domicílio da sociedade em recuperação judicial e prova da má-fé


– (Info 564)

A mudança de domicílio da sociedade em recuperação judicial, devidamente


informada em juízo, ainda que sem comunicação aos credores e sem data
estabelecida para a instalação do novo estabelecimento empresarial, não é causa,
por si só, para a decretação de ofício da falência.
Ex: a sociedade empresária "XXX" encontrava-se em recuperação judicial. O
administrador decidiu mudar a sede da empresa do bairro "A" para o bairro "B".
Assim, a empresa deixou de funcionar no bairro "A", mas ainda não se mudou
fisicamente para o bairro "B" uma vez que as obras no local ainda não ficaram
prontas. Vale ressaltar que essa mudança foi comunicada ao juízo falimentar, mas
não foi informada aos credores. Determinado dia, um dos credores procurou a
empresa devedora no bairro "A" e não a encontrou, razão pela qual pediu a
decretação de sua falência, nos termos do art. 94, III, "f", da Lei nº 11.101/2005. Esse
pedido deverá ser indeferido porque a mudança do domicílio comercial
desacompanhada de comunicação aos credores não é suficiente, por si só, para
caracterização do abandono. É necessário provar que a mudança foi furtiva e
realizada com o objetivo de fraudar os interesses dos credores. É preciso, portanto,
demonstrar a má-fé do devedor.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.366.845-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
18/6/2015 (Info 564).

11.14. Crédito de honorários advocatícios sucumbenciais constituído após o pedido


de recuperação judicial – (Info 564)

Os créditos que surgiram após o pedido de recuperação judicial não estão sujeitas
ao plano de recuperação judicial aprovado, independentemente da natureza do
crédito. Em outras palavras, o plano de recuperação abrange apenas as dívidas da
empresa que foram contraídas antes do pedido de recuperação. As dívidas
posteriores estão fora do plano.
Assim, se, após a empresa ter feito um pedido de recuperação judicial, surgiu contra
si um novo débito de honorários advocatícios sucumbenciais, o advogado que for
credor dessa dívida, para receber a quantia, não precisará habilitar esse crédito no
juízo universal da recuperação judicial. O credor poderá executar esses honorários
no juízo comum, não ficando a execução suspensa por força da recuperação judicial.
No entanto, apesar disso, o juízo universal da recuperação judicial deverá exercer
o controle sobre os atos de constrição ou expropriação patrimonial do devedor. O
juízo universal da recuperação pode decidir, por exemplo, que determinado bem
da empresa não deverá ser penhorado porque é essencial à atividade empresarial
e, se fosse expropriado, isso prejudicaria a sobrevivência da sociedade empresária
que está em recuperação. Ex: no juízo comum o credor pediu a penhora da principal
máquina da indústria que está em recuperação judicial; o juízo universal da
recuperação pode obstar que essa coisa seja penhorada porque se trata de bem de
capital essencial à atividade empresarial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.298.670-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
21/5/2015 (Info 564).

11.15. Despesas feitas após o deferimento do processamento da recuperação judicial


são créditos extraconcursais – (Info 543 e 557)

Créditos extraconcursais consistem em dívidas contraídas pela massa falida, ou


seja, após ter ocorrido a quebra. Os créditos extraconcursais são pagos antes dos
concursais porque são dívidas que surgem depois de ter sido decretada a falência e
em decorrência dela. Em regra, são débitos que nascem para que o processo de
falência possa ser realizado. Caso fossem pagos após os demais créditos, a massa
falida teria muita dificuldade de conseguir levar em frente o procedimento da
falência, já que ninguém iria querer prestar serviços para uma sociedade
empresária que está quase falindo com a promessa de receber somente após todos
os demais credores.
O STJ tem decidido que, em caso de decretação de falência, serão considerados
extraconcursais os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor entre
a data em que se defere o processamento da recuperação judicial e a data da
decretação da falência, inclusive aqueles relativos a despesas com fornecedores de
bens ou serviços e contratos de mútuo. Assim, são extraconcursais os créditos
originários de negócios jurídicos realizados após a data em que foi deferido o
pedido de processamento de recuperação judicial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.399.853-SC, Rel. originária Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para
acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 10/2/2015 (Info 557).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.398.092-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/5/2014
(Info 543).

11.16. Inaplicabilidade do prazo em dobro para recorrer aos credores na recuperação


judicial – (Info 557)

O CPC prevê que, quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais
autores) ou passivo (dois ou mais réus), caso os litisconsortes tenham advogados
diferentes, os seus prazos serão contados em dobro (art. 191 do CPC 1973 / art. 229
do CPC 2015).
Na recuperação judicial existe a possibilidade de litisconsórcio ativo. Ex: três
sociedades empresárias, integrantes do mesmo grupo econômico, estão em situação
de extrema dificuldade econômica e decidem pedir a recuperação judicial. Em caso
de litisconsórcio ativo, é possível aplicar o art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC
2015).
Por outro lado, na recuperação judicial não existe a possibilidade de litisconsórcio
passivo. O motivo é muito simples: no processo de recuperação judicial não existem
réus. Os credores não são réus. Ocupam a posição de interessados. Portanto, não
havendo réus, não se pode falar que exista litisconsórcio passivo entre os credores
da recuperanda.
Assim, se no processo de recuperação judicial uma decisão desagradar aos credores
e eles decidirem recorrer, não terão prazo em dobro, mesmo que possuam
advogados diferentes. Em outras palavras, é inaplicável aos credores da sociedade
recuperanda o prazo em dobro para recorrer previsto no art. 191 do CPC 1973 (art.
229 do CPC 2015).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.324.671-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/3/2015
(Info 557).

11.17. Prosseguimento das execuções e demais ações contra terceiros devedores


solidários ou coobrigados – (Info 554)

A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das


execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros
devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou
fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52,
inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art.
49, § 1º, todos da Lei 11.101/2005.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.349-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
26/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 554).
11.18. Créditos que estão sujeitos e excluídos da recuperação judicial – (Info 551) –
(TJDFT-2016)

Em ação de despejo movida pelo proprietário locador, a retomada da posse direta


do imóvel locado à sociedade empresária em recuperação judicial, com base na Lei
do Inquilinato (Lei 8.245⁄91), não se submete à competência do Juízo universal da
recuperação.
O credor proprietário de imóvel, quanto à retomada do bem, não está sujeito aos
efeitos da recuperação judicial (Lei 11.101⁄2005, art. 49, § 3º).
Em suma: a ação de despejo não se submete ao juízo universal da falência, podendo
continuar a tramitar normalmente, inclusive com a retomada do bem pelo locador
(proprietário).
STJ. 2ª Seção. CC 123.116-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 14/8/2014 (Info 551).

11.19. Créditos que estão sujeitos e excluídos da recuperação judicial – (Info 550)

Situação 1 – REGRA: estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos


existentes na data do pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art.
49, caput). Devem obedecer ao plano de recuperação e as ações ficam suspensas.
Situação 2 – EXCEÇÃO: os créditos de alienação fiduciária não estão sujeitos à
recuperação judicial e as ações relacionadas com tais créditos podem continuar ou
ser propostas (§ 3º do art. 49).
Situação 3 – EXCEÇÃO DA EXCEÇÃO (volta para regra): se a garantia da alienação
fiduciária for o imóvel que funciona o estabelecimento do devedor ou forem bens
móveis essenciais à atividade empresarial da empresa em recuperação judicial,
nesse caso, mesmo sendo crédito de alienação fiduciária, deverá ficar sujeita aos
efeitos da recuperação judicial.

Assim, conforme decidiu o STJ: não se submetem aos efeitos da recuperação


judicial os créditos garantidos por alienação fiduciária de bem não essencial à
atividade empresarial. Isso porque tal crédito se enquadrará na situação 2 acima
explicada (exceção à regra).
STJ. 2ª Seção. CC 131.656-PE, Rel. Min. Maria Isabel Galloti, julgado em 8/10/2014
(Info 550).

11.20. Magistrado não pode fazer análise da viabilidade econômica do plano de


recuperação judicial – (Info 549) – IMPORTANTE!!!

O juiz pode recusar-se a homologar o plano de recuperação judicial alegando que ele
não tem viabilidade econômica, mesmo já tendo sido aprovado em assembleia e
estando formalmente perfeito?
NÃO. Se o plano cumpriu as exigências legais e foi aprovado em assembleia, o juiz
deve homologá-lo e conceder a recuperação judicial do devedor, não sendo
permitido ao magistrado se imiscuir (intrometer) no aspecto da viabilidade
econômica da empresa.
O magistrado não é a pessoa mais indicada para aferir a viabilidade econômica do
plano de recuperação judicial.
O juiz deve exercer o controle de legalidade do plano de recuperação, analisando
se há fraude ou abuso de direito. No entanto, não cabe a ele fazer controle sobre a
viabilidade econômica do plano.
No mesmo sentido são os enunciados 44 e 46 da I Jornada de Direito Comercial do
CJF/STJ.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.319.311-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
9/9/2014 (Info 549).

11.21. Novação de dívidas por força de recuperação judicial não extingue as garantias
prestadas – (Info 540)

A novação prevista no Código Civil extingue os acessórios e as garantias da dívida,


sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364). No entanto, na novação
prevista no art. 59 da Lei 11.101/2005 ocorre justamente o contrário, ou seja, as
garantias são mantidas, sobretudo as garantias reais, as quais só serão suprimidas
ou substituídas “mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva
garantia”, por ocasião da alienação do bem gravado (art. 50, § 1º).
Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas
a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas,
circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros
garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de
fiadores, avalistas ou coobrigados em geral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 8/4/14 (Info 540).

12. FALÊNCIA
12.1. Contribuição previdenciária reconhecida por juiz trabalhista pode ser
habilitada na falência sem CDA – (Infos 530 e 618)

É desnecessária a apresentação de Certidão de Dívida Ativa (CDA) para


habilitação, em processo de falência, de crédito previdenciário resultante de
decisão judicial trabalhista.
STJ. 3ª Turma. REsp 1591141-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 5/12/17
(Info 618).
STJ. 4ª Turma. REsp 1170750-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/08/13 (Info 530).
OBS: No caso das contribuições previdenciárias que forem reconhecidas pela Justiça
do Trabalho, não será necessário que com relação a elas haja um lançamento
tributário a ser realizado pelo Fisco. Dito de outra forma, as contribuições
previdenciárias que forem apuradas pelo juiz trabalhista não precisam de novo
lançamento tributário para serem executadas. É a própria sentença que é executada
pela Justiça Laboral e não o tradicional crédito constituído pela via administrativa do
lançamento tributário. Isso ocorre por força de mandamento constitucional:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas
no art. 195, I, “a”, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das
sentenças que proferir;

A partir disso, o STJ conclui que o crédito tributário poderá decorrer:


 Do lançamento na via administrativa (hipótese tradicional, regulada pelo
CTN); ou
 Da sentença da Justiça do Trabalho que reconhecer a existência de
contribuições previdenciárias devidas (hipótese excepcional, trazida pelo art.
114, VIII, da C/88).
Desse modo, como as contribuições previdenciárias já foram reconhecidas na
sentença pelo juiz trabalhista, já houve a constituição do crédito tributário, sendo
desnecessário que haja um procedimento administrativo de lançamento tributário.
Isso já é suprido pela sentença trabalhista. Logo, é indevida a exigência feita pelo juízo
falimentar, sendo possível que o INSS habilite o crédito tributário decorrente das
contribuições previdenciárias apenas com a sentença trabalhista.

12.2. Competência para julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa
falida – (Info 617)

A competência para processar e julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos


contra massa falida, quando em litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de
direito público, é do juízo cível no qual for proposta a ação de conhecimento,
competente para julgar ações contra a Fazenda Pública, de acordo as respectivas
normas de organização judiciária.
STJ. 1ª Seção. REsp 1643856-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 13/12/17 (recurso
repetitivo) (Info 617).
OBS:
Massa falida: A expressão “massa falida” possui duas acepções:
a) Massa falida SUBJETIVA (massa passiva): É o conjunto dos credores do falido.
Trata-se de um ente despersonalizado (não possui personalidade jurídica). Apesar
disso, é sujeito de direito, podendo praticar atos, inclusive processuais, para a defesa
dos interesses dos credores. A massa falida pode atuar a “favor” ou “contra” a
sociedade empresária falida.
Ex1: a massa falida pode ajuizar ação de cobrança contra um devedor da sociedade
falida exigindo o pagamento da dívida. Nesse caso, é como se a massa falida estivesse
agindo “em favor” do falido. Na verdade, a massa falida aqui atua como sucessora da
sociedade empresária falida.
Ex2: a massa falida pode ajuizar ação revocatória contra o falido caso este tenha
praticado atos com a intenção de prejudicar os credores.

b) Massa falida OBJETIVA (massa ativa): é o conjunto dos bens do falido que foram
arrecadados no processo falimentar.
Essa distinção acima é feita pela doutrina, não havendo tal diferenciação na lei.

A massa falida é administrada e representada pelo administrador judicial. O


administrador judicial é o que antigamente chamavam de “síndico da massa falida”,
tendo esta expressão sido abandonada pela Lei 11.101/05. A massa falida, embora seja
um ente despersonalizado (não é uma pessoa jurídica), tem capacidade de estar em
juízo como autora ou ré de processos judiciais. Em juízo, a massa falida é representada
pelo administrador judicial. Vale ressaltar que se alguém deseja ingressar com ação
contra o falido, deverá propor a demanda contra a massa falida.

Imagine a seguinte situação hipotética: A “Rodo Ltda” era responsável pelo


transporte coletivo (ônibus) no Município de Guarulhos. João foi atropelado por um
ônibus da “Rodo Ltda” e ficou inválido. Antes que João pudesse ingressar com
qualquer medida contra a causadora do acidente, o juízo da 1ª Vara de Falências
decretou a falência da sociedade empresária “Rodo Ltda.”. João quer agora ajuizar
uma ação de indenização por danos morais contra a massa falida da “Rodo Ltda” em
litisconsórcio passivo com o Município de Guarulhos. Vale ressaltar que a ação na qual
se busca indenização por danos morais é considerada como uma demanda cível com
pedido ilíquido, pois cabe ao magistrado avaliar a existência do evento danoso, bem
como determinar a extensão e o valor da reparação para o caso concreto. João ajuizou
a referida ação na 1ª Vara de Falências afirmando ser este o juízo universal para
demandas contra a massa falida. O Município contestou a demanda afirmando que a
ação deveria ter sido proposta na Vara da Fazenda Pública municipal, considerando
que a lei de organização judiciária afirma que esta é vara cível competente para julgar
as demandas propostas contra o Município.

A tese do Município foi acolhida pelo STJ? De quem é a competência para julgar
demanda cível ilíquida contra a massa falida, quando no polo passivo se encontra,
como litisconsorte passivo, pessoajurídica de direito público? SIM.

Juízo universal da falência: Com a decretação da falência, instaura-se o chamado juízo


universal da falência. Isso significa que, em regra, todas as ações que envolvem o
devedor falido deverão ser julgadas pelo juízo que decretou a falência. Isso é chamado
de vis attractiva ou aptidão atrativa do juízo falimentar, estando prevista no art. 76
da Lei nº 11.101/2005:
Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para
conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do
falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não
reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou
litisconsorte ativo.

Exceções: A universalidade do juízo falimentar, contudo, não é absoluta. Há exceções.


Uma dessas exceções diz respeito às ações que demandem quantia ilíquida. Veja o que
diz o art. 6º, § 1º da Lei nº 11.101/2005:
Art. 6º (...)
§ 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se
processando a ação que demandar quantia ilíquida.

(...) Tratando-se de demandas cujos pedidos são ilíquidos, a


ação de conhecimento deverá prosseguir, não havendo falar
em competência absoluta do Juízo Falimentar para apreciar
e julgar a demanda, nos termos do artigo 6°, §1°, da Lei n
.11.101/2005. (...)
STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1.617.538/PR, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/12/2016.

Assim, as ações que estiverem cobrando quantia ilíquida não precisam tramitar no juízo
universal da falência, podendo continuar ou serem propostas no juízo cível competente
segundo as leis de organização judiciária.

O que são ações que demandam quantia ilíquida? “A expressão usada pela lei não é
muito clara e deve ser interpretada como abrangendo as ações de conhecimento, nas
quais se discute a existência ou o valor de certos créditos.” (TOMAZETTE, Marlon.
Curso de Direito Empresarial. São Paulo: Atlas, 2017, p. 404).

O art. 6º, § 1º, fala em “prosseguimento”, ou seja, dando a entender que a ação já
havia sido proposta antes da falência. Se a ação cobrando quantia ilíquida for
proposta depois da falência, também será uma exceção ao juízo universal? SIM.
Tanto no caso de ações propostas antes como depois da decretação da falência, se
estas estiverem cobrando quantia ilíquida, não se submetem ao juízo universal da
falência, seguindo normalmente a competência estipulada na lei de organização
judiciária. Veja:
(...) A decretação da falência, a despeito de instaurar o juízo
universal falimentar, não acarreta a suspensão nem a atração
das ações que demandam quantia ilíquida: se elas já tinham
sido ajuizadas antes, continuam tramitando no juízo onde
foram propostas; se forem ajuizadas depois, serão
distribuídas normalmente segundo as regras gerais de
competência. Em ambos os casos, as ações tramitarão no juízo
respectivo até a eventual definição de crédito líquido. (...)
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.471.615/SP, Rel. Min. Marco
Buzzi, julgado em 16/9/2014.

A ação de indenização por danos morais se enquadra nesse conceito de “ação que
demandar quantia ilíquida”? SIM. Confira precedente nesse sentido:
(...) 3. A ação na qual se busca indenização por danos morais -
caso dos autos - é tida por "demanda ilíquida", pois cabe ao
magistrado avaliar a existência do evento danoso, bem como
determinar a extensão e o valor da reparação para o caso
concreto.
4. Tratando-se, portanto, de demanda cujos pedidos são
ilíquidos, a ação de conhecimento deverá prosseguir perante
o juízo na qual foi proposta, após o qual, sendo determinado
o valor do crédito, deverá ser habilitado no quadro geral de
credores da sociedade em recuperação judicial. Interpretação
do § 1º do art. 6º da Lei n. 11.101/2005. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1.447.918/SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 7/4/2016.

Voltando ao exemplo dado: A ação proposta por João cobrava quantia ilíquida. Logo,
enquadrava-se no art. 6º, § 1º da Lei de Falências. Diante disso, o juízo da falência não
é competente para essa demanda, devendo a ação ser proposta na vara da Fazenda
Pública municipal, conforme previsão na lei de organização judiciária.

12.3. A incidência de juros e correção monetária sobre os créditos habilitados deve


ocorrer até a data em que a sentença é prolatada – (Info 609)

A Lei de Falências afirma que o credor terá direito de receber seu crédito do falido
com juros e correção monetária que são calculados até a “data da decretação da
falência”.
Quando a lei fala em “decretação da falência” deve-se considerar a data em ela foi
prolatada (não importando quando ocorreu a sua publicação).
Assim, no processo de falência, a incidência de juros e correção monetária sobre os
créditos habilitados deve ocorrer até a decretação da quebra, entendida como a data
da prolação da sentença (e não sua publicação).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.198-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 3/8/17 (Info 609).
OBS: Assim, o credor terá direito de receber seu crédito do falido com juros e correção
monetária que são calculados, contudo, até a data da decretação da falência. Após a
decretação, em regra, não correm mais juros e correção monetária mesmo que o
pagamento efetivo ainda demore para ser realizado.

A lei falimentar não condicionou os efeitos da falência à publicação da sentença de


quebra.
Sérgio Campinho ensina que “os seus efeitos materiais são de imediato produzidos, a
partir, portanto, da assinatura pelo juiz, dadas as consequências que de logo acarreta.
A sua publicação no órgão oficial, além de servir à sua publicidade, tem por fim a
produção de efeitos de ordem processual, como a contagem do prazo recursal e do
prazo de habilitação dos credores.” (Falência e Recuperação de Empresa. 7ª ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2015, p. 311).

12.4. A extinção das obrigações do falido não aproveita os codevedores – (Info 605)

A extinção das obrigações do falido, em decorrência da aplicação do art. 135, III, do


Decreto-Lei nº 7.661/45 (art. 158, III, da Lei 11.101/05), não extingue nem impede o
prosseguimento de execução ajuizada contra avalista e devedor solidário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.104.632-PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 20/4/17 (Info 605).
OBS:
Art. 158. Extingue as obrigações do falido:
(...)
III – o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do
encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado
por prática de crime previsto nesta Lei;

A causa extintiva da obrigação prevista no art. 135, III, do Decreto-Lei nº 7.661/45 (art.
158, III, da Lei nº 11.101/2005) constitui-se em direito pessoal do falido, tratando-se,
deste modo, de exceção (exceção = meio de defesa) que não pode ser aproveitada pelos
demais codevedores, nos termos da parte final do art. 281 do CC/2002:
Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as
exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe
aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor.

12.5. A extinção das obrigações do falido depende da quitação dos tributos? – (Info
601)

Nos processos de falência ajuizados anteriormente à vigência da Lei 11.101/05, a


decretação da extinção das obrigações do falido prescinde da apresentação de prova
da quitação de tributos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.426.422-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/3/17 (Info 601).

Existe divergência se, na vigência da Lei nº 11.101/2005, a quitação dos tributos é


condição para a extinção das obrigações do falido. A Min. Nancy Andrighi sustenta
que sim.
Em provas objetivas, fique atento porque pode ser cobrada a redação literal do art.
191 do CTN, devendo essa alternativa ser assinalada como correta: “Art. 191. A
extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de todos os tributos.”
12.6. Autor do pedido de falência não precisa provar insolvência patrimonial do
devedor – (Info 596)

O autor do pedido de falência não precisa demonstrar que existem indícios da


insolvência ou da insuficiência patrimonial do devedor, bastando que a situação se
enquadre em uma das hipóteses do art. 40 da Lei nº 11.101/2005.
Assim, independentemente de indícios ou provas de insuficiência patrimonial, é
possível a decretação da quebra do devedor que não paga, sem relevante razão de
direito, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos
executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-
mínimos na data do pedido de falência (art. 40, I, da Lei nº 11.101/2005).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.154-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 18/10/16
(Info 596).

12.7. Credor trabalhista possui legitimidade ativa para pedir falência de devedor –
(Info 589)

A natureza trabalhista do crédito não impede que o credor requeira a falência do


devedor. Assim, o credor trabalhista tem legitimidade ativa para ingressar com
pedido de falência, considerando que o art. 97, IV, da Lei 11.101/05 não faz distinção
entre credores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.544.267-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 23/8/16
(Info 589).
OBS:
Conceito: Falência é o processo coletivo de execução forçada de um empresário ou
sociedade empresária cuja recuperação mostra-se inviável.

Finalidade: Tem como objetivo reunir os credores e arrecadar os bens, ativos e


recursos do falido a fim de que, com os recursos obtidos pela alienação de tais bens,
possam os credores ser pagos, obedecendo a uma ordem de prioridade estabelecida
na lei.

Legislação aplicável: Atualmente, a falência do empresário e da sociedade empresária


é regida pela Lei nº 11.101/05.

Quem pode requerer a falência do empresário ou da sociedade empresária? A pessoa


que requer a falência é chamada de “sujeito ativo” da falência (deve-se lembrar que a
falência acarreta um processo judicial).

Segundo o art. 97 da Lei 11.101/2005, podem requerer a falência do devedor:

I — o próprio devedor;
(Obs.: é a chamada autofalência.)

II — o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou


o inventariante;
(Obs.: ocorre no caso de empresário individual que morre e os
seus herdeiros percebem que o falecido estava em situação de
insolvência, razão pela qual optam por requerer a falência.)

III — o cotista ou o acionista do devedor;


(Obs.: ocorre quando o sócio da sociedade empresária, seja ele
cotista ou acionista, entende que a empresa está insolvente e
que o único caminho é a falência.)

IV — qualquer credor.
(Obs.: é a hipótese que ocorre em 99% dos casos.)

Hipóteses nas quais pode ser requerida a falência: O art. 94 da Lei 11.101/05 prevê
que a falência poderá ser requerida em três hipóteses.

I — Impontualidade injustificada
Quando o devedor, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento,
obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma
ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de falência.
Adotou-se neste inciso o critério da impontualidade injustificada.

II — Execução frustrada
Quando o devedor é executado por qualquer quantia líquida, mas não paga, não
deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal.
A lei presume que o devedor, ao adotar esse comportamento na execução contra si
proposta, demonstra estar insolvente. Para o legislador, o devedor praticou um “ato
de falência”, ou seja, um ato de quem está em falência. Adotou-se neste inciso o
chamado critério da enumeração legal.

III — Atos de falência


Quando o devedor pratica uma série de atos listados nas alíneas do inciso III do art.
94 da Lei nº 11.101/2005.
Aqui a lei também presumiu que o devedor está falido pelo fato de ter praticado
algum dos comportamentos descritos na lei. Assim, também se adotou neste inciso o
chamado critério da enumeração legal.

Feitas as considerações acima, imagine a seguinte situação hipotética: João era


empregado da empresa “XX”. Ele foi demitido sem justa causa e não recebeu as verbas
rescisórias a que teria direito. João ajuizou reclamação trabalhista, julgada procedente
pelo Juiz do Trabalho, condenando a empresa a pagar um valor equivalente a 50
salários-mínimos. Ocorre que o ex-empregado não conseguiu receber o valor da
condenação, considerando que a empresa não pagou nem foram localizados bens
penhoráveis que pudessem satisfazer o crédito. Diante disso, João requereu, na Justiça
comum estadual, a falência da empresa “XX”, fundamentando seu pedido no art. 94,
II, da Lei nº 11.101/2005:

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:


II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não
deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do
prazo legal;
A empresa contestou o pedido alegando que o autor não tem legitimidade ativa nem
interesse de agir para requerer a falência, considerando que se trata de credor
trabalhista. Segundo a ré, o credor trabalhista dispõe de inúmeros instrumentos
processuais céleres e eficientes para a cobrança de seu crédito, de forma que não é
razoável que peça a falência da empresa, o que ocasionaria prejuízos à atividade
econômica, gerando desemprego e queda na arrecadação do país.

A tese da empresa foi aceita pelo STJ? O credor trabalhista é impedido de requerer a
falência da empresa por dispor de meios mais eficientes de cobrança do crédito? NÃO.
O fato de o crédito ser trabalhista não afasta o direito do autor de requerer falência,
uma vez que o inciso IV, do art. 97 da Lei de Falências afirma que qualquer credor
poderá formular o pedido, não havendo diferenciação entre os “tipos” de credores.
Confira:

Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:


IV – qualquer credor.

O legislador foi enfático e utilizou a palavra “qualquer” como forma de deixar claro
que todas as espécies de credores podem requerer a falência do devedor, não
importando se titulares de créditos civis, comerciais ou trabalhistas.

No caso do inciso II do art. 94, o principal requisito para requerer a decretação de


falência do devedor reside na caracterização de sua omissão ao ser devidamente
citado em execução. Tal omissão deve ser demonstrada mediante a juntada aos autos
de certidão que descreva o processo de execução frustrado, bem como as infrutíferas
tentativas de satisfação do crédito pelo credor e o valor atualizado da dívida.

Situação correlata. A Fazenda Pública possui legitimidade para requerer a falência


do devedor? Prevalece que não. O STJ possui julgados antigos afirmando que não é
possível o requerimento de falência formulado pela Fazenda Pública considerando
que ela dispõe de um instrumento específico e eficiente para a cobrança do crédito
tributário, qual seja, a execução fiscal. Nesse sentido: STJ. REsp 287.824/MG, Rel. Min.
Francisco Falcão, j. 20/10/05.

Em âmbito doutrinário, existe um enunciado da Jornada de Direito Comercial no


mesmo caminho:
Enunciado 56: A Fazenda Pública não possui legitimidade ou
interesse de agir para requerer a falência do devedor
empresário.

12.8. Responsabilidade pela remuneração do administrador judicial – (Info 580)

É possível impor ao credor que requereu a falência da sociedade empresária a


obrigação de adiantar as despesas relativas à remuneração do administrador
judicial, quando a referida pessoa jurídica não for encontrada - o que resultou na
sua citação por edital e na decretação, incontinenti, da falência - e existirem dúvidas
se os bens a serem arrecadados serão suficientes para arcar com a mencionada
dívida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.526.790-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/3/16
(Info 580).
OBS:
Administrador judicial: É uma pessoa escolhida pelo juiz para auxiliá-lo na condução
do processo de falência praticando determinados atos que estão elencados no art. 22
da Lei 11.101/05. Na antiga Lei de Falências, o administrador judicial era chamado de
"síndico". O administrador judicial deve ser um profissional idôneo,
preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador.
Pode ser também uma pessoa jurídica especializada neste tipo de atividade (art. 21 da
Lei).

Remuneração do administrador judicial: É um profissional (ou uma empresa) e


precisará, obviamente, ser remunerado pelos serviços que prestar em prol do processo
de falência. O valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador
judicial são fixados pelo juiz, observados alguns critérios estabelecidos pelo art. 24 da
Lei:
 capacidade de pagamento do devedor;
 grau de complexidade do trabalho; e
 os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades
semelhantes.

Os parágrafos do art. 24 trazem outras regras específicas sobre a remuneração do


administrador judicial.

Quem é responsável pelo pagamento da remuneração do administrador judicial?


Caberá ao devedor ou à massa falida arcar com as despesas relativas à remuneração
do administrador judicial e das pessoas eventualmente contratadas para auxiliá-lo
(art. 25 da Lei).

Deve-se aplicar à situação a regra prevista no art. 82 do CPC 2015:

Art. 82. Salvo as disposições concernentes à gratuidade da


justiça, incumbe às partes prover as despesas dos atos que
realizarem ou requererem no processo, antecipando-lhes o
pagamento, desde o início até a sentença final ou, na execução,
até a plena satisfação do direito reconhecido no título.

Caso a ação prossiga e sejam arrecadados bens suficientes para a remuneração do


administrador, a massa falida irá restituir o valor adiantado pelo credor, fazendo com
que seja cumprido o art. 25 da Lei 11.101/05.

12.9. O protesto do cheque para fins falimentares é obrigatório para se comprovar a


impontualidade injustificada – (Info 572)

O protesto tirado contra o emitente do cheque é obrigatório para o fim de


comprovar a impontualidade injustificada do devedor no procedimento de falência
(art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005) e deve ser realizado em até 6 meses contados do
término do prazo de apresentação (prazo prescricional da ação cambial).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.249.866-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
6/10/2015 (Info 572).
12.10. Declaração de extinção das obrigações do falido – (Info 572)

O reconhecimento da extinção das obrigações não tributárias do falido, nos termos


do art. 158 da Lei nº 11.101/2005 não depende de prova da quitação de tributos.
STJ. 4ª Turma. REsp 834.932-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 25/8/2015 (Info
572).

12.11. Capacidade processual do falido para a propositura de ação rescisória – (Info


558)

O falido poderá propor ação rescisória para desconstituir a sentença que decretou
a falência?
SIM. O falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a
sentença transitada em julgado que decretou a sua falência.
Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui
personalidade jurídica e não poderá postular, em nome próprio, direitos da massa
falida, nem mesmo em caráter extraordinário. Diz-se que ela sofre uma capitis
diminutio (diminuição de sua capacidade) referente aos direitos patrimoniais
envolvidos na falência, sendo afastada da administração dos seus bens. Sendo
assim, num processo em que se discuta, por exemplo, a venda desses bens, o falido
apenas poderia acompanhá-lo como assistente. Ele não poderia, portanto, tomar a
iniciativa das ações com relação a bens da massa.
No entanto, no caso em que se pretenda rescindir decisão que decreta falência, a
situação é diferente. Nesse caso, nem a massa nem os credores têm interesse na
desconstituição da decretação de falência. Realmente, o falido é o único
interessado. Por isso, se a legitimidade deste para propor a rescisão do decreto
falimentar fosse retirada, ele ficaria eternamente falido, ainda que injustamente,
ainda que contrariamente à ordem legal.
Desse modo, o STJ entende que o falido mantém a legitimidade para a propositura
de ações pessoais, podendo, inclusive, ajuizar ação rescisória para tentar reverter o
decreto falimentar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.126.521-MT, Rel. originário Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/3/2015 (Info 558).

12.12. Alienação extraordinária de ativo da falência e desnecessidade de prévia


publicação de edital – (Info 555)

Depois que os bens da massa falida forem arrecadados, ou seja, listados e


organizados formalmente, eles serão vendidos a fim de arrecadar dinheiro para
pagar os credores. Essa venda é chamada pela lei de “realização do ativo”.
No art. 142 da Lei estão previstas as modalidades ordinárias de realização do ativo
(leilão, propostas fechadas e pregão). No caso da alienação ordinária, a Lei exige
que haja prévia publicação de um anúncio em jornal de ampla circulação (§ 1º do
art. 142). Além das modalidades ordinárias de alienação, a Lei prevê formas
extraordinárias de venda, que estão disciplinadas nos arts. 144 e 145 para casos em
que se exige uma maior celeridade e informalidade.
O STJ decidiu que, em caso de alienação extraordinária, NÃO é necessária a prévia
publicação do anúncio em jornal de grande circulação de que trata o § 1º do art. 142.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.809-GO, Rel. Min. Paulo De Tarso Sanseverino, julgado em
10/2/2015 (Info 555).
12.13. No pedido de falência, é desnecessária a demonstração da insolvência
econômica do devedor – (Info 550)

No pedido de falência, é desnecessário que o requerente demonstre a insolvência


econômica do devedor. Se ele não pagou a dívida e esta se enquadra na descrição
dos incisos do art. 94, é possível fazer o pedido de falência independentemente da
condição econômica real do empresário.
O pressuposto para a instauração de processo de falência é a insolvência jurídica,
que é caracterizada a partir de situações objetivamente apontadas pelo
ordenamento jurídico no art. 94 da Lei 11.101/2005: a impontualidade injustificada
(inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de falência (inciso III).
A insolvência que autoriza a decretação de falência é presumida, uma vez que a lei
presume que o empresário individual ou a sociedade empresária que se encontram
em uma das situações apontadas pela norma estão em estado pré-falimentar.
É bem por isso que se mostra possível a decretação de falência independentemente
de comprovação da insolvência econômica, ou mesmo depois de demonstrado que
o patrimônio do devedor supera o valor de suas dívidas.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
18/9/2014 (Info 550).

12.14. Pedido feito com base no art. 94, I, não pode ser considerado abusivo mesmo
que a devedora possua grande capacidade econômica – (Info 550)

Diante de depósito elisivo de falência requerida com fundamento na


impontualidade injustificada do devedor (art. 94, I, da Lei 11.101/2005), admite-se,
embora afastada a decretação de falência, a conversão do processo falimentar em
verdadeiro rito de cobrança para apurar questões alusivas à existência e à
exigibilidade da dívida cobrada, sem que isso configure utilização abusiva da via
falimentar como sucedâneo de ação de cobrança/execução.
Assim, se o autor da ação de falência fez o requerimento baseado no inciso I do art.
94 e a dívida não paga era realmente superior a 40 salários-mínimos, não se pode
dizer que o pedido tenha sido abusivo, mesmo que a devedora tenha grande porte
econômico.
Nesse caso, se a devedora efetuar o depósito elisivo, não cabe ao magistrado
extinguir o processo sem resolução de mérito, devendo continuar o feito como se
fosse uma ação de cobrança, discutindo a dívida e, ao final, proferindo sentença
resolvendo o mérito quanto à dívida e julgando improcedente a falência.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
18/9/2014 (Info 550).

12.15. Habilitação de créditos decorrentes do término de apartamento de construtora


falida – (Info 548)

Incorporadora foi a falência sem terminar o edifício de apartamentos que estava


construindo. Os adquirentes se reuniram e, com recursos próprios, terminaram o
prédio. Obtiveram na justiça sentença transitada em julgado determinando que a
incorporadora reembolse esse valor a eles. Ocorre que a incorporadora está em
processo de falência, de forma que esse crédito deverá ser habilitado no concurso
de credores, sendo classificado como crédito quirografário.
Em suma, quando o adquirente de unidade imobiliária, em razão da falência da
incorporadora, tenha assumido as despesas necessárias à conclusão do prédio
residencial, os gastos desembolsados pelo adquirente devem ser inscritos no
processo de falência da referida incorporadora como créditos quirografários.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.185.336-RS, Rel. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/9/2014
(Info 548).

12.16. Pedido de falência – (Info 547)

A falência do devedor poderá ser decretada quando ele, sem relevante razão de
direito, não pagar, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou
títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-
mínimos na data do pedido de falência (art. 94, I, da Lei 11.101/2005).
Para pedir a falência com base neste inciso não é necessário que o requerente tenha
tentado executar o título. Não se revela como exigência para a decretação da quebra
a execução prévia. Assim, é desnecessário o prévio ajuizamento de execução
forçada para se requerer falência com fundamento na impontualidade do devedor.
A duplicata virtual protestada por indicação é título executivo apto a instruir
pedido de falência com base na impontualidade do devedor. Logo, se o devedor
não pagar uma duplicata virtual em valor superior a 40 salários-mínimos é possível
que seja decretada a sua falência
STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
26/8/2014 (Info 547).

12.17. Créditos decorrentes de honorários advocatícios e falência – (Info 540) –


(PGM/BH-2017)

I – Caso um advogado tenha créditos de honorários advocatícios para receber da


sociedade empresária falida, tais créditos estarão em que lugar na ordem do art. 83
da Lei 11.101/05?
Em primeiro lugar, enquadrando-se no inciso I do art. 83. Os créditos resultantes
de honorários advocatícios (sucumbenciais ou contratuais) têm natureza alimentar
e são equiparados aos créditos trabalhistas para efeito de habilitação em falência,
estando, portanto, enquadrados no art. 83, I.

II – Se um advogado é contratado pela massa falida, os honorários advocatícios


desse causídico deverão ser pagos também segundo a ordem do art. 83?
NÃO. Os honorários de advogado resultantes de trabalhos prestados à massa
falida, depois de ter sido decretada a falência são considerados como créditos
extraconcursais, nos termos dos arts. 84 e 149 da Lei 11.101/2005.
STJ. Corte Especial. REsp 1.152.218-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
7/5/2014 (recurso repetitivo) (Info 540).
(PGM/BH-2017-CESPE): Marcos, advogado, prestava serviços advocatícios, sem
vínculo empregatício, a determinada sociedade empresária que lhe pagava R$ 10
mil mensais. Tendo ficado sem receber a quantia relativa a um dos meses de
prestação de serviços, o advogado tomou conhecimento de que a empresa havia
decretado falência. Ainda assim, o administrador judicial decidiu, com a anuência
do comitê de credores, pela continuidade do contrato em relação à massa falida,
para evitar o aumento do passivo. Acerca dessa situação hipotética, assinale a
opção correta à luz da legislação aplicável: Após a decretação da falência, o crédito
de Marcos é considerado extraconcursal. BL: Info 540, STJ.

12.18. Competência para processar e julgar o pedido de falência de empresa em


liquidação extrajudicial

A competência para processar e julgar o pedido de falência de empresa em


liquidação extrajudicial, ou seja, sob intervenção do BACEN é da Justiça Estadual
(e não da Justiça Federal).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.162.469-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
12/04/2012.

13. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL


13.1. Pode ser pedido o arrolamento de bens mesmo que já tenha sido decretada a
indisponibilidade – (Info 592)

Mesmo que já tenha sido decretada a indisponibilidade de bens, nos termos do art.
36 da Lei 6.024/74, o MP continua tendo interesse de agir para pedir o arrolamento
de bens do administrador da instituição financeira em liquidação extrajudicial.
Isso porque tais institutos possuem finalidades, limites e efeitos distintos.
O arrolamento tem por finalidade conservar bens ameaçados de dissipação e,
assim, garantir a responsabilidade do administrador de instituição financeira.
A prévia indisponibilidade visa salvaguardar o interesse público, em caso de
fraude ou ilícito no curso da liquidação extrajudicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.375.540-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/10/16 (Info 592).

13.2. Análise do art. 18, “a” da Lei 6.024/74 – (Info 562)

João ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra o plano de
saúde “XXX”, que está em processo de liquidação extrajudicial. O juiz extinguiu o
processo sem resolução do mérito afirmando que havia impossibilidade jurídica
do pedido, já que o art. 18, “a”, da Lei 6.024/74 proibiria a propositura de novas
ações após o início da liquidação:
Art. 18. A decretação da liquidação extrajudicial produzirá, de imediato, os seguintes
efeitos:
a) suspensão das ações e execuções iniciadas sobre direitos e interesses relativos ao
acervo da entidade liquidanda, não podendo ser intentadas quaisquer outras,
enquanto durar a liquidação; (...)
Agiu corretamente o juiz?
NÃO. A suspensão das ações e execuções ajuizadas em desfavor de instituições
financeiras sob regime de liquidação extrajudicial e a proibição da propositura de
novas demandas após o decreto de liquidação (art. 18, “a”, da Lei 6.024/74) não
alcançam as ações de conhecimento voltadas à obtenção de provimento judicial
relativo à certeza e liquidez do crédito.
Em outras palavras, esse dispositivo não suspende nem impede a propositura de
ações que tenham como objetivo conseguir ainda um título executivo, ou seja,
conseguir a certeza e liquidez de um crédito que o autor alega possuir contra a
entidade.
Se o autor ainda não tem uma declaração judicial acerca do pretenso crédito (não
tem um título executivo), ele não poderá habilitar esse crédito no procedimento
administrativo de liquidação extrajudicial. Logo, se essa proibição do art. 18, “a” o
alcançasse, ele não teria como habilitar o crédito nem teria como conseguir o título.
Ficaria, portanto, sem alternativa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.298.237-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
19/5/2015 (Info 562).

13.3. Suspensão da fluência dos juros legais e contratuais – (Info 551)

Após a decretação da liquidação extrajudicial de instituição financeira, os juros


contra a massa liquidanda, sejam eles legais ou contratuais, terão sua fluência ou
contagem suspensa enquanto o passivo não for integralmente pago aos credores
habilitados, devendo esses juros serem computados e pagos apenas após a
satisfação integral do passivo, se houver ativo que os suporte, observando-se a
ordem do quadro geral de credores.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.102.850-PE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 4/11/14 (Info
551).

14. DIREITOS AUTORAIS


14.1. Termo inicial do prazo prescricional para reparação civil decorrente de plágio
– (Info 609)

O termo inicial da pretensão de ressarcimento nas hipóteses de plágio se dá quando


o autor originário tem comprovada ciência da lesão a seu direito subjetivo e de sua
extensão, não servindo a data da publicação da obra plagiária, por si só, como
presunção de conhecimento do dano.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.746-BA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 6/6/17
(Info 609).

15. PROPRIEDADE INDUSTRIAL


15.1. Danos materiais e morais em caso de uso indevido de marca – (Info 619) –
IMPORTANTE!!!

O uso indevido da marca acarreta dano material uma vez que a própria violação do
direito revela-se capaz de gerar lesão à atividade empresarial do titular. O uso
indevido da marca provoca desvio de clientela e confusão entre as empresas,
acarretando indiscutivelmente dano material.
Desse modo, se ficar demonstrado o uso indevido de marca, o juiz deverá declarar
a existência do dano (an debeatur). O quantum debeatur, por sua vez, deverá ser
apurado no âmbito da liquidação pelo procedimento comum, haja vista a
necessidade de comprovação de fatos novos, nos termos do art. 210 da LPI.
Quanto ao prejuízo extrapatrimonial, prevalece que o uso indevido da marca gera
dano moral in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da mera comprovação da
prática de conduta ilícita - contrafação -, revelando-se desnecessária a
demonstração de prejuízos concretos ou a comprovação probatória do efetivo abalo
moral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1327773-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28/11/17 (Info
619).
OBS: Sendo assim, a própria Lei de Propriedade Industrial presume a existência dos
danos materiais, sendo decorrência natural da contrafação e da violação da
concorrência do mercado. A norma, inclusive, estabelece critérios específicos para se
melhor alcançar o quantum debeatur.
Veja o que diz a Lei:
LPI, Art. 208. A indenização será determinada pelos
benefícios que o prejudicado teria auferido se a violação não
tivesse ocorrido.
LPI, Art. 209. Fica ressalvado ao prejudicado o direito de
haver perdas e danos em ressarcimento de prejuízos causados
por atos de violação de direitos de propriedade industrial e
atos de concorrência desleal não previstos nesta Lei, tendentes
a prejudicar a reputação ou os negócios alheios, a criar
confusão entre estabelecimentos comerciais, industriais ou
prestadores de serviço, ou entre os produtos e serviços postos
no comércio.
§ 1º Poderá o juiz, nos autos da própria ação, para evitar dano
irreparável ou de difícil reparação, determinar liminarmente
a sustação da violação ou de ato que a enseje, antes da citação
do réu, mediante, caso julgue necessário, caução em dinheiro
ou garantia fidejussória.
§ 2º Nos casos de reprodução ou de imitação flagrante de
marca registrada, o juiz poderá determinar a apreensão de
todas as mercadorias, produtos, objetos, embalagens,
etiquetas e outros que contenham a marca falsificada ou
imitada.
Art. 210. Os lucros cessantes serão determinados pelo critério
mais favorável ao prejudicado, dentre os seguintes:
I - os benefícios que o prejudicado teria auferido se a violação
não tivesse ocorrido; ou
II - os benefícios que foram auferidos pelo autor da violação
do direito; ou
III - a remuneração que o autor da violação teria pago ao
titular do direito violado pela concessão de uma licença que
lhe permitisse legalmente explorar o bem.

A norma, em nenhum momento, condiciona a reparação à efetiva demonstração do


dano, até porque, como dito, é inerente ao uso indevido da marca a concorrência
desleal, o desvio de clientela, a confusão entre estabelecimentos,
independentemente da análise do dolo do agente ou da comprovação de prejuízos.
O dispositivo autoriza a reparação material se houver “ato de violação de direito de
propriedade industrial e atos de concorrência desleal”, ou seja, a demonstração do
dano perpassa pela comprovação da existência do fato - uso indevido de marca.
Ademais, deve-se levar em consideração que a referida prova é de dificílima execução.
Assim, se ficar demonstrado o uso indevido de marca, o juiz deverá declarar a
existência do dano (an debeatur). O quantum debeatur, por sua vez, deverá ser
apurado no âmbito da liquidação pelo procedimento comum, haja vista a
necessidade de comprovação de fatos novos, nos termos do art. 210 da LPI. Nesse
sentido:
O dano patrimonial causado ao titular de direito de marca
configura-se com a violação dos interesses tutelados pela Lei
de Propriedade Industrial, sendo despicienda a comprovação
da intenção do agente em prejudicar a vítima ou do prejuízo
causado, devendo o montante ser apurado em liquidação de
sentença.
STJ. 3ª Turma. REsp 1635556/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 10/11/2016.

E quanto ao dano moral? Vamos pelo início: a pessoa jurídica pode sofrer dano
moral? SIM. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227-STJ). A pessoa
jurídica é possuidora de bens extrapatrimoniais. Conforme previsto no art. 52 do CC,
apesar de despida de direitos ligados à personalidade humana (saúde, integridade
física e psíquica), a pessoa jurídica é titular de direitos da personalidade, tais como
à tutela ao nome, à marca, à imagem, à reputação, à honra (objetiva), à intimidade
(como nos segredos industriais), à liberdade de ação etc.

No caso de uso indevido de marca, o dano moral precisa ser provado? NÃO. O tema
ainda não é pacífico no STJ, mas prevalece que o dano moral decorre
automaticamente da constatação do uso indevido da marca. Vejamos:
Os prejuízos causados pelo uso não autorizado de marca
alheia prescindem de comprovação, pois se consubstanciam
na própria violação do direito do titular, derivando da
natureza da conduta perpetrada. A demonstração do dano se
confunde com a demonstração da existência do fato, cuja
ocorrência é premissa assentada pelo acórdão recorrido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1674375/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 07/11/2017.

Por sua natureza de bem imaterial, é ínsito que haja prejuízo moral à pessoa
jurídica quando se constata o uso indevido da marca. Isso porque, obrigatoriamente,
a reputação, a credibilidade e a imagem da empresa acabam sendo atingidas perante
todo o mercado (clientes, fornecedores, sócios, acionistas e comunidade em geral),
além de haver o comprometimento do prestígio e da qualidade dos produtos ou
serviços ofertados, caracterizando evidente violação de seus direitos, bens e interesses
extrapatrimoniais.

Assim, o dano moral por uso indevido da marca é aferível in re ipsa, ou seja, sua
configuração decorre da mera comprovação da prática de conduta ilícita - contrafação
-, revelando-se desnecessária a demonstração de prejuízos concretos ou a
comprovação probatória do efetivo abalo moral.

15.2. COMPETÊNCIA: Ações envolvendo trade dress e nulidade de registro de


marca – (Info 618) – IMPORTANTE!!!
As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência
desleal e outras demandas afins, por não envolver registro no INPI e cuidando de
ação judicial entre particulares, é inequivocamente de competência da Justiça
estadual, já que não afeta interesse institucional da autarquia federal.
No entanto, compete à Justiça Federal, em ação de nulidade de registro de marca,
com a participação do INPI, impor ao titular a abstenção do uso, inclusive no
tocante à tutela provisória.
STJ. 2ª Seção. REsp 1527232-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 13/12/17 (recurso
repetitivo) (Info 618).
OBS:
COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÕES ENVOLVENDO TRADE DRESS E
REGISTRO DE MARCA
De quem é a competência para julgar ação na qual o autor alega que está sendo
desrespeitada a sua trade dress, o que enseja concorrência desleal, pedindo, em razão
disso, indenização, além da cessação da prática? Justiça Estadual.

Conforme explica a doutrina, “(...) no Brasil, a proteção jurídica do 'trade dress' situa-
se no âmbito da Repressão à Concorrência Desleal, e insurge-se contra a prática de
atos de natureza fraudulenta que venham a desviar clientela de outrem, notadamente
pela reprodução e/ou imitação desautorizada de características distintivas de
produtos, serviços e estabelecimentos comerciais” (MANARA, Cecília. ADOLFO,
Luiz Gonzaga Silva; MORAES, Rodrigo. Propriedade intelectual em perspectiva. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 10-11).

As disputas relacionadas com concorrência desleal não são dirimidas diretamente


pelo INPI, considerando que a sua constatação depende de procedimento a ser
realizado no âmbito do Poder Judiciário, com ampla possibilidade de produção de
provas, inclusive pericial. Nesse sentido é a lição de Denis Borges Barbosa:
“Em suma, não há competência para o INPI aplicar
diretamente a regra de concorrência desleal. Sempre tal
competência recaiu no Poder Judiciário.
(...)
Por isso, a apuração da concorrência desleal se faz num
procedimento judicial plenamente sujeito ao devido processo
legal, com apuração de fatos, ampla perícia, avaliação
dilatada, tudo que inexiste no restrito, inespecífico e (no que
toca à concorrência desleal) incompetente procedimento
registral do INPI.” (BARBOSA, Denis Borges. Tratado da
propriedade intelectual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p.
516-518).

Desse modo, entende-se que não há interesse do INPI em figurar na demanda que
se discute violação do trade dress e concorrência desleal, sendo esta ação de
competência da Justiça Estadual.

Por outro lado, de quem é a competência para julgar ação na qual se requer a nulidade
de uma marca registrada no INPI, pedindo-se ainda a cessação de seu uso? Justiça
Federal. Isso porque, nesta situação, haverá interesse jurídico do INPI na demanda,
considerando que foi a autarquia que concedeu o registro, incidindo, portanto, na
hipótese do art. 109, I, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa
pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes
de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;

No mesmo sentido, prevê a Lei nº 9.279/96:


Art. 175. A ação de nulidade do registro será ajuizada no foro
da justiça federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no
feito.

A discussão sobre a validade de um registro de marca, patente ou desenho industrial,


nos termos da LPI, tem de ser travada administrativamente ou, caso a parte opte por
recorrer ao judiciário, deve ser empreendida em ação proposta perante a Justiça
Federal, com a participação do INPI na causa. Sem essa discussão, os registros
emitidos por esse órgão devem ser reputados válidos e produtores de todos os efeitos
de direito. STJ. 3ª Turma. REsp 1281448/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5/6/2014.

A alegação de que é inválido o registro, obtido pela titular de marca perante o INPI,
deve ser formulada em ação própria, para a qual é competente a Justiça Federal. Ao
Juiz estadual não é possível, incidentalmente, considerar inválido um registro vigente
perante o INPI. STJ. 3ª Turma. REsp 1322718/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j.
19/6/12.

Embora a Lei 9.279/96 preveja, em seu art. 56, § 1º, a possibilidade de alegação de
nulidade do registro como matéria de defesa, a melhor interpretação desse dispositivo
indica que ele deve estar inserido numa ação própria, na qual que discuta, na Justiça
Federal, a nulidade do registro. STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 254.141/SP, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/6/12.

15.3. TRADE DRESS: Para analisar se houve violação do trade dress, é


indispensável a prova pericial – (Info 612)

Trade dress ou conjunto-imagem consiste no conjunto de elementos distintivos


que caracterizam um produto, um serviço ou um estabelecimento comercial
fazendo com que o mercado consumidor os identifique.
A caracterização de concorrência desleal por confusão, apta a ensejar a proteção ao
conjunto-imagem (trade dress) de bens e produtos, é questão fática a ser examinada
por meio de perícia técnica.
Ainda que se esteja diante de uma notória semelhança entre os dois produtos, é
indispensável analisar se esta similitude é aceitável do ponto de vista legal ou se
estamos diante de um ato abusivo, usurpador de conjunto-imagem alheio e
passível de confundir o consumidor.
Ex: a empresa líder do mercado ajuizou ação contra a ré (empresa nova) afirmando
que esta passou a utilizar embalagem copiando as cores e o design da autora. Será
necessária perícia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.353.451-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 19/9/17 (Info
612).
OBS:
Ao contrário de outros países, no Brasil ainda não existe uma legislação que proteja,
de forma específica, as violações ao trade dress. Apesar disso, a jurisprudência tem
protegido os titulares das marcas copiadas. Nesse sentido:
(...) A despeito da ausência de expressa previsão no
ordenamento jurídico pátrio acerca da proteção ao trade dress,
é inegável que o arcabouço legal brasileiro confere amparo ao
conjunto-imagem, sobretudo porque sua usurpação encontra
óbice na repressão da concorrência desleal. Incidência de
normas de direito de propriedade industrial, de direito do
consumidor e do Código Civil. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1677787/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 26/09/2017.

Na verdade, é possível dizer que a proteção ao trade dress decorre do art. 5º, XXIX, da
CF/88, que estabelece que a lei assegurará aos autores de inventos industriais
privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais,
à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos.

Trade dress é diferente de marca e desenho industrial: O conjunto-imagem distingue-


se dos institutos denominados “marca” e “desenho industrial”. Tanto a marca como o
desenho industrial e o conjunto-imagem têm, em comum, a finalidade de designar um
produto, mercadoria ou serviço, diferenciando-o dos concorrentes. Apesar da
finalidade ser semelhante, eles possuem características diferentes.

Marca: É um sinal que designa a origem do produto, mercadoria ou serviço. A marca


cria um vínculo duradouro entre o bem e a pessoa que o colocou em circulação. As
marcas, para serem registradas, devem atender à distintividade ou novidade
relativa, ou seja, dentro do mercado em que se insere o produto, o sinal visivelmente
perceptível deve se distanciar do domínio comum, a fim de propiciar a utilização
comercial exclusiva por seu titular. Esta fruição exclusiva, que será assegurada por
meio do registro, pode se estender indefinidamente no tempo, desde que
promovidas as tempestivas prorrogações. Isso porque o direito de exclusividade da
marca tem por escopo assegurar ao consumidor a correspondência entre o produto
designado e a empresa que o colocou em circulação.

Desenho industrial: Protege a configuração externa de um objeto tridimensional ou


um padrão ornamental (bidimensional) que possa ser aplicado a uma superfície ou
a um objeto. O desenho industrial insere no mercado uma inovação estética em objeto
comum ou facilmente reproduzível em escala industrial. O desenho industrial, por se
caracterizar em uma inovação estética facilmente reproduzível em escala industrial,
a partir de sua publicidade, passa a integrar o estado da técnica. Nota-se, portanto,
que o desenvolvimento de desenhos industriais movimenta-se, ao longo do tempo,
numa crescente, podendo ser posteriormente incorporada pelos produtos de seus
concorrentes de forma lícita e regular. Ao seu desenvolvedor (autor) é assegurado,
mediante registro, o direito de exploração exclusiva, porém temporária (até, no
máximo, 25 anos), nos termos do art. 108 da Lei nº 9.279/96.

Trade dress: O denominado trade dress, não disciplinado na legislação nacional atual,
tem por finalidade proteger o conjunto visual global de um produto ou a forma de
prestação de um serviço. Materializa-se, portanto, pela associação de variados
elementos que, conjugados, traduzem uma forma peculiar e suficientemente distintiva
de inserção do bem no mercado consumidor, vinculando-se à identidade visual dos
produtos ou serviços. Apesar de não haver legislação específica, a proteção do trade
dress é assegurada com fundamento no dever geral de garantia de livre mercado, ou
seja, no dever estatal de assegurar o funcionamento saudável do mercado, de forma a
expurgar condutas desleais tendentes a criar distorções de concorrência.

Violação ao trade dress: O trade dress é violado quando uma empresa imita sutilmente
diversas características da marca concorrente (normalmente a líder do mercado) com
o objetivo de confundir o público e angariar vendas com base na fama da marca
copiada.

Exemplo de violação ao trade dress: Em um caso concreto, o TJSP entendeu que uma
empresa cuja marca era “Uai in box” teria violado a trade dress da “China in box”.
Além do nome parecido, a empresa “Uai in box” também oferecia comida em delivery
com pacotes iguais ao da “China in box”.

15.4. PATENTES: Para que o pedido seja arquivado ou a patente extinta por falta de
pagamento da retribuição, exige-se notificação prévia do depositante ou titular – (Info
608)

Para arquivamento de pedido ou extinção de patente por falta de pagamento da


retribuição anual prevista no art. 84 da Lei 9.279/96, exige-se notificação prévia do
respectivo depositante ou titular.
Obs: retribuição anual é um valor que deve ser pago anualmente ao INPI pelo fato
de o indivíduo ter pedido ou já ser titular de uma patente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.131-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 27/6/17
(Info 608).

15.5. Possibilidade de o INPI analisar as cláusulas dos contratos de transferência de


tecnologia que são submetidos a seu registro – (Info 599) – APENAS CONCURSOS
FEDERAIS!!!

Os contratos que impliquem transferência de tecnologia, para produzirem efeitos


em relação a terceiros, precisam ser registrados e/ou averbados no INPI (art. 211 da
Lei 9.279/96).
O INPI, ao examinar os contratos que lhe são submetidos para averbação ou
registro, pode e avaliar as cláusulas contratuais exigindo a alteração daquelas que
forem abusivas ou ilegais?
SIM. O art. 211 da Lei nº 9.279/96 em conjunto com o art. 2º da Lei nº 5.648/70 (com
redação dada pelo art. 240 da Lei nº 9.279/96) permitem que o INPI analise as
cláusulas dos contratos de transferência de tecnologia que lhe são submetidos para
registro, podendo reprimir cláusulas abusivas e/ou ilegais.
O INPI pode intervir no âmbito negocial de transferência de tecnologia, diante de
sua missão constitucional e infraconstitucional de regulamentação das atividades
atinentes à propriedade industrial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.200.528-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 16/2/17 (Info 599).

16. MARCA
16.1. Termo inicial do prazo prescricional de ação de abstenção de uso de marca –
(Info 593)

A pretensão de abstenção de uso de marca nasce para seu titular com a violação do
direito de utilização exclusiva.
No caso concreto, o titular da marca havia autorizado que terceiro a utilizasse até
determinada data. A pretensão inibitória nasceu a partir do momento em que este
terceiro desrespeitou a data assinalada como termo final de vigência da autorização.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.874-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25/10/16 (Info 593).

16.2. PROPRIEDADE INDUSTRIAL: Termo inicial para o pagamento da


retribuição quinquenal prevista no art. 120 da Lei 9.279/96 – (Info 578)

O prazo para o pagamento da "retribuição quinquenal" prevista no art. 120 da Lei


nº 9.279/96 conta-se da data do depósito do pedido de registro do desenho
industrial no INPI, e não da data do certificado de registro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.470.431-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
23/2/2016 (Info 578).
OBS:
Desenho industrial: É a forma ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de
linhas e cores que possa ser aplicado a um produto (art. 95 da Lei nº 9.279/96). Ex: um
novo formato de relógio, de brinquedo, de carro etc. Em palavras mais simples,
desenho industrial é o design. O autor de um desenho industrial pode pedir o seu
registro no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), que é uma autarquia
federal situada no Rio de Janeiro (RJ). No Brasil, o desenho industrial é protegido por
meio de "registro", e não de patente, como ocorre em outros países.

Requisitos: Para que um desenho possa ser registrado como "desenho industrial", ele
deverá preencher os seguintes requisitos:

a) Novidade (é um conceito difícil de explicar; significa que o


desenho não pode ser nenhum que já existe segundo o estado
atual da técnica);
b) Originalidade (deve ter uma configuração visual diferente
dos outros já existentes);
c) Utilização ou aplicação industrial (deve ser possível
reproduzir este desenho industrialmente).

Procedimento para registro: O autor de um desenho industrial, para solicitar seu


registro no INPI, deverá pagar uma taxa mediante guia de recolhimento da União
(GRU), preencher um formulário de depósito e apresentar as figuras do desenho. É
possível fazer o pedido pela internet ou em papel. Inicia-se, então, um procedimento
interno no INPI, onde o pedido passará por diversos setores. Pode ser que os técnicos
da autarquia solicitem mais documentos e esclarecimentos do autor a fim de verificar
se estão presentes os requisitos acima elencados. Vale ressaltar que o autor que faz o
pedido de registro de um desenho industrial possui apenas uma expectativa de direito.
Isso quer dizer que ele ainda será examinado e o INPI poderá conceder ou não o
certificado de registro.
Prazo de proteção: O prazo de vigência do registro é de 10 anos, contados da data de
depósito. Este prazo poderá ser prorrogado por mais três períodos sucessivos de 5
anos. Enfim, no total, o titular poderá ter uma proteção do seu desenho industrial por
25 anos.

Retribuição quinquenal: O titular do registro deverá pagar um valor chamado de


"retribuição quinquenal", que serve como uma espécie de taxa de manutenção do
registro. Esta taxa encontra-se prevista no art. 120 da LPI:

Art. 120. O titular do registro está sujeito ao pagamento de


retribuição qüinqüenal, a partir do segundo qüinqüênio da
data do depósito.
§ 1º O pagamento do segundo qüinqüênio será feito durante o
5º (quinto) ano da vigência do registro.
§ 2º O pagamento dos demais qüinqüênios será apresentado
junto com o pedido de prorrogação a que se refere o art. 108.
§ 3º O pagamento dos qüinqüênios poderá ainda ser efetuado
dentro dos 6 (seis) meses subseqüentes ao prazo estabelecido
no parágrafo anterior, mediante pagamento de retribuição
adicional.

Desse modo, de cinco em cinco anos o autor deverá pagar esta taxa.

A partir de quando é contado o prazo de 5 anos para pagamento da retribuição


quinquenal? Deverá ser contado a partir do dia em que o autor fez o depósito do
pedido de registro ou da data em que o INPI concedeu o certificado de registro? Da
data do depósito. Este é o texto expresso do art. 120: "o titular do registro está sujeito
ao pagamento de retribuição quinquenal, a partir do segundo quinquênio da data do
depósito."

16.3. Caducidade de marca (art. 143 da LPI) – (Info 563) – ATENÇÃO! CONCURSOS
FEDERAIS! – (Advogado/Telebrás-2015)

A Lei 9.279/96 prevê a possibilidade de o registro da marca caducar se não for usada:
Art. 143. Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com legítimo
interesse se, decorridos 5 (cinco) anos da sua concessão, na data do requerimento:
I - o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou
II - o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos consecutivos,
ou se, no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com modificação que implique
alteração de seu caráter distintivo original, tal como constante do certificado de
registro.

Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa começa a fabricá-lo aqui
no Brasil, mas ele só é vendido para o mercado externo, nunca sendo
comercializado aqui. Há risco de haver a caducidade da marca com base no inciso
I?
NÃO. Se o titular da marca registrada no Brasil industrializa, fabrica, elabora o
produto em território nacional, claramente inicia e faz uso da marca no Brasil,
merecendo toda proteção legal, pois aqui empreende, gerando produção, empregos
e riqueza, sendo indiferente que a mercadoria aqui produzida seja destinada ao
mercado interno ou exclusivamente ao externo. Produzir no País o produto com a
marca aqui registrada atende suficientemente ao requisito legal de “uso da marca
iniciado no Brasil”.

Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa (de grande porte) começa
a fabricá-lo aqui no Brasil, mas depois de mais de 5 anos, somente produziu cerca
de 70 pacotes do produto. Há risco de haver a caducidade da marca com base no
inciso II?
SIM. É possível que se reconheça a caducidade do registro da marca quando, em
um período de cinco anos, o valor e o volume de vendas do produto relacionado à
marca forem inexpressivos.

No caso analisado pelo STJ, o uso esporádico da marca, com escassas negociações
no mercado, foi considerado inexpressivo dentro da magnitude das operações
bilionárias realizadas pela empresa, portanto, insuficiente para configurar e
comprovar o uso efetivo da marca.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.236.218-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, j. 5/2/2015 (Info 563).
(Advogado/Telebrás-2015-CESPE): Passados cinco anos da concessão do registro
de marca, determinada pessoa, com legítimo interesse, solicitou ao INPI que fosse
declarada a caducidade do registro das marcas de duas sociedades empresárias,
com base nos seguintes fatos: o produto elaborado e fabricado no Brasil pela
primeira sociedade era destinado exclusivamente ao mercado externo; a marca da
segunda sociedade era de uso esporádico, com escassas negociações no mercado
e rentabilidade ínfima nos cinco anos anteriores. Com relação a essa situação
hipotética, julgue o item subsecutivo acerca do registro das marcas, nos termos da
jurisprudência do STJ. O INPI deverá denegar o pedido de caducidade do registro
de marca da primeira sociedade empresária, pois o simples fato de o produto
elaborado e fabricado no Brasil ser destinado ao mercado externo não demonstra
a caducidade do registro de marca por desuso. BL: Info 563, STJ.

16.4. Em regra, é lícita a propaganda comparativa – (Info 550) – (TJDFT-2015)

A propaganda comparativa é forma de publicidade na qual se compara, explícita


ou implicitamente, produtos ou serviços concorrentes, a fim de conquistar a escolha
do consumidor.
Em nosso país, não há lei definindo o que seja publicidade comparativa.
A doutrina e o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária do CONAR
afirmam que a publicidade comparativa, em regra, é permitida, desde que não viole
alguns princípios.
Segundo decidiu o STJ, é lícita a propaganda comparativa entre produtos
alimentícios de marcas distintas e de preços próximos no caso em que:
a) a comparação tenha por objetivo principal o esclarecimento do consumidor;
b) as informações vinculadas sejam verdadeiras, objetivas, não induzam o
consumidor a erro, não depreciem o produto ou a marca, tampouco sejam abusivas
(art. 37, § 2º, do CDC); e
c) os produtos e marcas comparados não sejam passíveis de confusão.
A publicidade comparativa não é vedada pelo CDC, desde que obedeça ao
princípio da veracidade das informações, seja objetiva e não abusiva.
De igual forma, em regra, a propaganda comparativa não é proibida pela Lei
9.279/96 (LPI). Para que a propaganda comparativa viole o direito marcário do
concorrente, as marcas devem ser passíveis de confusão ou a menção à marca do
concorrente deve ser feita de forma depreciativa, acarretando a degradação
(desgaste do outro produto) e o consequente desvio de clientela.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.377.911-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
2/10/2014 (Info 550).

16.5. Requisitos para a concessão da patente “pipeline” – (Info 550)

O registro sob o sistema “pipeline” não se submete à regra do art. 8º, ou seja, não
se exige dele novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.
Os requisitos para a concessão da patente “pipeline” estão disciplinados nos 230 e
231 da Lei de Propriedade Industrial e, uma vez concedida a patente “pipeline” por
outra jurisdição, ela não poderá ser anulada invocando-se a ausência de um dos
requisitos de mérito previstos no art. 8º da LPI para a concessão das patentes
ordinárias (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial).
Assim, uma patente pipeline concedida no exterior e revalidada no Brasil não pode
ser anulada ao fundamento de falta de um dos requisitos de mérito do art. 8º da Lei
9.279/96 (Lei de Propriedade Industrial – LPI), mas apenas por ausência de requisito
especificamente aplicável a ela (como, por exemplo, por falta de pagamento da
anuidade no Brasil) ou em razão de irregularidades formais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.201.454-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/10/14
(Info 550).

16.6. Direito exclusivo de uso de marca registrada – (Info 548) – ATENÇÃO!


CONCURSOS FEDERAIS!

A empresa “A” oferece serviços de orientação e reeducação pedagógica a alunos


com dificuldades escolares. Essa instituição registrou no INPI a expressão
“CRESCER”, adquirindo o direito de uso da marca.
Alguns anos depois, foi inaugurada uma escola (empresa “B”) e passou a também
utilizar a palavra “CRESCER” em suas atividades empresariais.
O STJ entendeu que o uso da expressão “CRESCER” por parte da escola viola o
direito de uso exclusivo de marca pertencente à empresa “A”. Isso porque, embora
as atividades exercidas sejam distintas, elas se enquadram na mesma classe de
serviços, a de serviços de educação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.309.665-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 4/9/14
(Info 548).

16.7. Precedência de nome empresarial que não implica direito ao registro de marca
– (Info 548) – ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS!

Determinada sociedade empresária registrou seu ato constitutivo na junta


comercial de Blumenau (SC) com o nome empresarial de “Multimed Distribuidora
de Medicamentos Ltda”.
Anos mais tarde, uma sociedade empresária do Rio Grande do Sul (“Multiclínica
Serviços de Saúde Ltda.”) registrou no INPI, como marca, a expressão
“MULTIMED”.
O STJ entendeu que esse registro da marca MULTIMED foi válido mesmo o nome
empresarial da outra empresa sendo igual. Isso porque as formas de proteção do
nome empresarial e da marca comercial não se confundem.
Em regra, a proteção do NOME EMPRESARIAL fica restrita ao Estado/DF de
competência da Junta Comercial em que foi registrado o ato constitutivo da
empresa. Ex: se a empresa “A” registrou seu ato constitutivo na Junta Comercial de
Blumenau, a proteção será apenas em Santa Catarina. Essa proteção poderá ser
estendida a todo o território nacional, desde que seja feito pedido complementar
de arquivamento nas demais Juntas Comerciais.
A proteção da MARCA é mais extensa e, depois do registro no INPI, apenas o titular
desta marca poderá utilizá-la em todo o território nacional.
Para que nome empresarial da empresa “Multimed Distribuidora de
Medicamentos Ltda” pudesse impedir que outra empresa registrasse no INPI a
marca “MULTIMED” seria necessário que ela tivesse feito pedido complementar
de arquivamento do seu nome empresarial nas demais Juntas Comerciais do país.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.184.867-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/5/2014 (Info 548).

16.8. Licenciamento da marca e obrigação de o licenciador zelar pela sua integridade


e reputação – (Info 538)

É possível ao titular do registro de marca, após conceder licença de uso, impedir a


utilização da marca pelo licenciado quando não houver observância à nova
padronização dos produtos e dos serviços, ainda que o uso da marca tenha sido
autorizado sem condições ou efeitos limitadores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.387.244-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 25/2/14 (Info
538).

17. AÇÃO DE NULIDADE DE REGISTRO DE MARCA


17.1. Honorários sucumbenciais em desfavor do INPI – (Info 585)

Em ação de nulidade de registro de marca a que o INPI não deu causa nem ofereceu
resistência direta, não cabe condenação do instituto em honorários advocatícios
sucumbenciais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.378.699-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 7/6/16 (Info
585).

Na ação de nulidade de registro de marca em que o INPI foi indicado como réu ao
lado de sociedade empresária em virtude da concessão indevida do registro e do
não processamento do procedimento administrativo para anular o registro
indevidamente concedido, o Instituto responde solidariamente pelos honorários
advocatícios sucumbenciais, ainda que tenha reconhecido a procedência do pedido
formulado na Inicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.258.662-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 2/2/16 (Info
576).

17.2. Responsabilidade do INPI pelos honorários sucumbenciais, custas processuais


e reembolso de despesas feitas pelo autor – (Info 576)
Este julgado tratava sobre uma ação de nulidade de registro de marca proposta por
uma sociedade empresária ("A") contra o INPI e contra outra empresa concorrente
("B"), titular da marca questionada na demanda. A ação foi julgada procedente e
discutiu-se se o INPI deveria pagar honorários advocatícios, custas e despesas
processuais. Foram expostas três conclusões:
I - Na ação de nulidade de registro de marca o INPI foi indicado como réu ao lado
de sociedade empresária porque concedeu indevidamente o registro para a empresa
"B" mesmo gerando confusão com a marca da empresa "A" e também porque não
deu andamento ao pedido administrativo formulado pela empresa "A" para anular
o registro indevidamente concedido. Assim, diante disso, o referido Instituto deve
responder solidariamente pelos honorários advocatícios sucumbenciais mesmo
que, na ação proposta, ele tenha reconhecido a procedência do pedido formulada
na Inicial.
II - Em ação de nulidade de registro de marca, o INPI é isento de pagamento de
custas.
III - Em ação de nulidade de registro de marca em que o INPI for sucumbente, cabe
a ele reembolsar as despesas judiciais feitas pela parte autora.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.258.662-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
2/2/2016 (Info 576).

18. CONTRATOS EMPRESARIAIS


18.1. Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em
contêiner – (Info 586)

É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos


do segurado, de indenização pela deterioração de carga em navio por falha em
contêiner.
Aplica-se, neste caso, o art. 8º do Dec-Lei 116/67, que trata sobre o prazo
prescricional envolvendo as ações por extravio, perdas e avarias de carga.
Não se aplica o art. 206, § 3º, V, do CC considerando que se trata de norma geral e,
por isso, não revogou o art. 8º do DL 116/67, que é considerado norma especial.
Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do STF que, apesar de antiga, continua
vigente:
Súmula 151-STF: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver
indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.278.722-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/5/16 (Info
586).

18.2. Legalidade de cláusula de raio em contrato de locação de espaço em shopping


center – (Info 585) – IMPORTANTE!!!

Em tese, não é abusiva a previsão, em normas gerais de empreendimento de


shopping center ("estatuto"), da denominada "cláusula de raio", segundo a qual o
locatário de um espaço comercial se obriga - perante o locador - a não exercer
atividade similar à praticada no imóvel objeto da locação em outro estabelecimento
situado a um determinado raio de distância contado a partir de certo ponto do
terreno do shopping center.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.535.727-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 10/5/16 (Info 585).
OBS:
Controle judicial sobre cláusulas empresariais é restrito:O shopping center constitui
uma estrutura comercial híbrida e peculiar e o contrato firmado com os locatários
possui diversas cláusulas extravagantes que têm como objetivo fazer com que o
negócio tenha o retorno econômico planejado, além de fazer com que se mantenha
como centro comercial atrativo aos consumidores. Assim, para o sucesso e viabilização
econômica/administrativa do shopping center, os comerciantes interessados aceitam
se vincular a uma modalidade específica de contratação, não podendo alegar que tais
cláusulas são abusivas. O controle judicial sobre eventuais cláusulas abusivas em
contratos de cunho empresarial deve ser restrito, porque aqui vigora o princípio da
autonomia privada, da livre iniciativa, do pacta sunt servanda, da função social da
empresa e da livre concorrência de mercado.

Não se trata de mero contrato de adesão: Os ajustes locatícios, notadamente aqueles


firmados para locação de espaço em shopping center, não constituem mero contratos
de adesão, pois são de livre estipulação/comutativo entre os contratantes, sem a
preponderância de um sobre outro. Assim, tanto o locador como o locatário estão
livres para pactuarem as cláusulas contratuais que melhor assistam às suas
necessidades.

Não há prejuízo aos consumidores: A "cláusula de raio" não prejudica os


consumidores. O simples fato de o consumidor não encontrar em todos os shopping
centers que frequenta determinadas lojas não implica efetivo prejuízo a ele, pois a
instalação dos lojistas em tais ou quais empreendimentos depende, categoricamente,
de inúmeros fatores. De fato, a lógica por detrás do empreendimento se sobrepõe à
pretensão comum do cidadão de objetivar encontrar, no mesmo espaço, todas as
facilidades e variedades pelo menor preço e distância.

Direito de propriedade: Ademais, nos termos do ordenamento jurídico pátrio, ao


proprietário de qualquer bem móvel ou imóvel - e aqui se inclui o(s) dono(s) de
shopping center - é assegurado o direito de usar, gozar e dispor de seus bens e, ainda,
de reavê-los do poder de quem injustamente os possua. Denota-se que, para o
exercício desses atributos inerentes à propriedade, principalmente a permissão do uso
por terceiros, pode o proprietário impor limites e delimitar o modo pelo qual essa
utilização deverá ser realizada. Assim, diversas são as restrições que pode o dono
impor aos usuários do estabelecimento (vestimentas, ingresso com animais, horário
de funcionamento, entre outros) e, como já mencionado antecedentemente, inúmeras
são as cláusulas contratuais passíveis de inserção nos contratos de locação atinentes
aos centros comerciais híbridos, sem que se possa afirmar, genérica e categoricamente,
sejam elas abusivas ou ilegais, uma vez que, em última análise, visam garantir a
própria viabilidade do uso, a implementação do empreendimento e, pois, o alcance e
incremento real da função social da propriedade.

Conquista de mercado: Além do mais, o fato de shopping center exercer posição


relevante no perímetro estabelecido pela "cláusula de raio" não significa que esteja
infringindo os princípios da ordem econômica estampados na CF/88, visto que
inserções de "cláusulas de raio" em determinados contratos de locação são realizadas
com o propósito de servir à logística do empreendimento. Aliás, a conquista de
mercado resultante de processo natural fundado na maior eficiência de agente
econômico em relação a seus competidores não caracteriza ilícito, tanto que prevista
como excludente de infração da ordem econômica (§ 1º do art. 36 da Lei nº
12.529/2011).
Pode-se dizer que a cláusula de raio é proibida pela Súmula 646 do STF ("Ofende o
princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de
estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área")? NÃO. A
Súmula 646 do STF não diz respeito às cláusulas contratuais estabelecidas em pactos
firmados entre locador e locatário. Ela se refere apenas a leis municipais, ou seja, a
situações em que o próprio poder público impede e inviabiliza a implementação do
princípio da livre concorrência. O enunciado não tem relação, portanto, com contratos
empresariais.

18.3. Vedação de repasse ao sacado de despesas referentes a tarifa de emissão de


boleto bancário – (Info 578)

É abusiva a cobrança ou o repasse, pelo atacadista (beneficiário) ao varejista


(pagador), de despesa referente a tarifa de emissão de boleto bancário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.568.940-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
1º/3/2016 (Info 578).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "DistriDroga" é uma grande
distribuidora de remédios. Ela é responsável por comprar os remédios das indústrias
farmacêuticas e distribuí-los (revendê-los) para todas as drogarias do Estado. Quando
a drogaria encomenda os remédios que quer comprar, a distribuidora emite um boleto
bancário para que a farmácia efetue o pagamento. A distribuidora é a cedente do título
e a drogaria que comprou o medicamento é o sacado. Ocorre que a distribuidora cobra
R$ 1,80 das drogarias por cada boleto bancário que emite, afirmando que faz isso para
cobrir os custos, já que os bancos exigem dela este valor. As drogarias (varejistas) são
pequenas e não têm condições de, individualmente, discutir cláusulas contratuais com
a distribuidora (atacadista), que é maior em termos de poderio econômico. Diante
disso, o sindicato das drogarias e farmácias ingressou com ação de obrigação de fazer
contra a distribuidora requerendo que esta seja condenada a se abster de cobrar ou
repassar as despesas para as varejistas quanto aos custos de emissão dos boletos
bancários. Após ser julgado pelo juiz e pelo TJ, a questão chegou até o STJ.

O pedido do sindicato foi aceito? SIM. A tarifa bancária pela emissão de boletos é algo
cobrado pelos bancos com base em um contrato firmado exclusivamente entre a
instituição financeira e o cedente do título, no caso, o fornecedor, com a finalidade de
remunerar pelo fato de este fornecedor estar se utilizado da rede bancária como um
mecanismo de arrecadação pela venda de seus produtos. Logo, considerando-se que
referida tarifa é fruto de negociação entre o cedente (fornecedor/atacadista) e o banco,
não se pode perder de vista que a discussão aqui travada encontra-se no âmbito
específico da atividade bancária, matéria que, nos termos da Lei nº 4.595/64, rege-se
pelas disposições do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do
Brasil (BC). Nesse contexto, foi editada a Resolução nº 3.919/2010, que estabeleceu o
seguinte:

Art. 1º (...)
§ 2º É vedada a realização de cobranças na forma de tarifas ou
de ressarcimento de despesas:
(...)
II - do sacado, em decorrência da emissão de boletos ou faturas
de cobrança, carnês e assemelhados.

Dessa forma, o referido dispositivo proíbe que seja cobrado do sacado o ressarcimento
das despesas realizadas com a emissão de boletos. Nesse contexto, não se afigura
razoável o repasse da cobrança de tarifa que, por força de Resolução do CMN, é
considerada ilegal e cuja pactuação não foi negociada com o sacado. A proibição
deste repasse ao sacado não fere os princípios da liberdade de contratar, da probidade
e da boa-fé. Isso porque a matéria não é apenas contratual e está inserida também no
âmbito do sistema financeiro, especialmente no que tange à atividade de
intermediação financeira, de modo que a liberdade de contratar encontra limites que
se operam em prol da higidez e da estabilidade de todo o sistema. Vale ressaltar, por
fim, que os bancos não podem mais cobrar tarifas pela emissão de boletos, conforme
expresso em entendimento sumulado do STJ:

Súmula 565-STJ: A pactuação das tarifas de abertura de


crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra
denominação para o mesmo fato gerador, é válida apenas nos
contratos bancários anteriores ao início da vigência da
Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30/4/2008.

19. CONTRATO DE LOCAÇÃO DE ESPAÇO EM SHOPPING CENTER


19.1. Legitimidade ativa para pleitear de empreendedor de shopping center
indenização por danos causados ao estabelecimento – (Info 589)

Foi firmado um contrato entre o sócio, enquanto pessoa física, e a administradora


do shopping para a locação de um espaço para funcionamento de uma loja.
O contrato foi, portanto, assinado pela pessoa física do sócio.
Se esta loja sofrer prejuízos causados pelo shopping, a pessoa jurídica poderá
ajuizar ação contra a administradora do shopping.
Assim, ainda que no contrato de locação estabelecido com o empreendedor de
shopping center conste como locatário apenas o sócio majoritário, a sociedade
empresária possui legitimidade ativa ad causam concorrente para pleitear
indenização por danos ao estabelecimento instalado no centro comercial.
Em um contrato de shopping center, a sociedade empresária tem legitimidade ativa
ad causam, em concorrência com o locatário (pessoa física), para demandar o
empreendedor nas causas em que houver interesses relativos ao estabelecimento
empresarial, desde que, no contrato firmado entre as partes, haja a expressa
destinação do espaço para a realização das atividades empresariais da sociedade da
qual faça parte.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.358.410-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 4/8/16 (Info 589).
OBS:
"Societas distat a singulis": Existe um brocardo que apregoa societas distat a singulis,
o que significa, em linhas gerais, que a pessoa jurídica tem existência distinta da dos
seus membros. Esse brocardo tem grande aplicação sob o ponto de vista patrimonial.
De fato, em regra, vigora o princípio da autonomia patrimonial, de forma que o
patrimônio da pessoa jurídica é diferente do patrimônio de seus sócios. Como exceção
a essa regra, temos as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica.
Mitigação deste brocardo: Estabelecimento (ou fundo de comércio) é o conjunto de
bens (materiais e imateriais) e serviços que o empresário reúne e organiza com o
objetivo de realizar a atividade empresarial e gerar lucros. Seu conceito legal está
previsto no art. 1.142 do CC/02:

Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de


bens organizado, para exercício da empresa, por empresário,
ou por sociedade empresária.

Vimos acima que, sob o ponto de vista patrimonial, o princípio societas distat a singulis
é aplicado de forma bem intensa. No entanto, sob a perspectiva do estabelecimento,
há uma mitigação do referido axioma latim. Quando falamos em estabelecimento
empresarial, existe uma absoluta sintonia de interesses da pessoa física com a jurídica,
interesses que estão diretamente ligados ao aviamento.

Aviamento é o conjunto de fatores pessoais, materiais e imateriais, que fazem com que
um estabelecimento dê certo e gere lucros.

O que se quer dizer com tudo isso é o seguinte: se a pretensão a ser defendida em juízo
diz respeito ao estabelecimento, neste caso, a ação poderá ser proposta não apenas
pela sociedade empresária (pessoa jurídica), mas também pelos seus sócios porque
estes, como também almejam os mesmos objetivos, possuem interesses juridicamente
protegidos capazes de habilitá-los como titulares de direito material, podendo,
eventualmente, deduzi-los em juízo.

Conceito de estabelecimento não abrange todos os bens da pessoa jurídica: O


estabelecimento não abrange necessariamente todos os bens pertencentes à pessoa
jurídica, mas apenas aqueles que estejam voltados para o exercício da atividade
empresarial. Nesse sentido:
"O estabelecimento, como conjunto de bens afetados ao
exercício da atividade do empresário, pode não abranger a
totalidade de seu patrimônio. É, tão somente, a parcela do
patrimônio do empresário composta por aqueles bens por ele
utilizados para o exercício de sua atividade. Outros bens que
integrem o patrimônio do empresário sem tal destinação, não
se enquadram na noção do estabelecimento.
Assim, não se considera pertencente ao estabelecimento a casa
de moradia do empresário individual, porque voltada para a
finalidade distinta. Da mesma forma, um imóvel de uma
sociedade empresária havido em pagamento de dívida e por
ela mantido sem utilização econômica ou com destinação
diversa daquela que diz respeito à sua atividade empresarial
não se inclui entre os bens do seu estabelecimento."
(GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa:
comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil. São
Paulo: RT, 2016, p. 647)

Isso significa que o sócio não teria legitimidade ativa para defender em juízo um bem
imóvel da pessoa jurídica que não compusesse o conceito de estabelecimento. De igual
forma, a sociedade empresária só teria legitimidade para ajuizar ação defendendo um
bem particular do sócio se este estivesse sendo utilizado para o exercício da atividade
empresarial.

No presente caso, a sociedade empresária tem legitimidade porque possui, assim


como o sócio, o interesse de resguardar todo o complexo de bens que compõe o
estabelecimento.

Aplicação analógica da Lei 8.245/91: A fim de corroborar a tese adotada, é possível


aplicar ainda ao caso concreto o art. 51, §2º, da Lei 8.245/91, que trata sobre as ações
renovatórias:

Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o


locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo,
desde que, cumulativamente:
(...)
§ 2º Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o
imóvel para as atividades de sociedade de que faça parte e que
a esta passe a pertencer o fundo de comércio, o direito a
renovação poderá ser exercido pelo locatário ou pela
sociedade.

19.2. Validade da cláusula de 13º aluguel em contrato de locação de espaço em


shopping center – (Info 582)

Não é abusiva a mera previsão contratual que estabelece a duplicação do valor do


aluguel no mês de dezembro em contrato de locação de espaço em shopping center.
Assim, é válida a chamada cláusula de "aluguel dúplice" (ou "13º aluguel") nos
contratos de locação de espaço em shopping center.
Fundamento: princípio da autonomia privada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.409.849-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/4/16
(Info 582).
OBS:
O que rege o contrato de locação de espaços em shopping center? É regido,
primordialmente, pelas condições fixadas entre as partes, aplicando-se apenas as
disposições sobre procedimento previstas na Lei de Locações. Nesse sentido, confira
a redação do art. 54 da Lei nº 8.245/91:

Art. 54. Nas relações entre lojistas e empreendedores de


shopping center, prevalecerão as condições livremente
pactuadas nos contratos de locação respectivos e as
disposições procedimentais previstas nesta lei.

20. CONTRATOS BANCÁRIOS


20.1. A instituição pode cobrar tarifa bancária pela liquidação antecipada do saldo
devedor? – (Info 605) – IMPORTANTE!!!

 Contratos celebrados antes da Resolução CMN nº 3.516/07 (antes de


10/12/07): SIM
 Contratos firmados depois da Resolução CMN nº 3.516/07 (de 10/12/07 para
frente): NÃO
Assim, para as operações de crédito e arrendamento mercantil contratadas antes de
10/12/07 (data de publicação da referida Resolução), podem ser cobradas tarifas pela
liquidação antecipada no momento em que for efetivada a liquidação, desde que a
cobrança dessa tarifa esteja claramente identificada no extrato de conferência.
É permitida, desde que expressamente pactuada, a cobrança da tarifa de liquidação
antecipada de mútuos e contratos de arrendamento mercantil até a data da entrada
em vigor da Resolução nº 3.501/2007 (10/12/2007).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.370.144-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/2/17 (Info
597).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.392.449-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 24/5/17 (Info 605).
OBS:
Art. 52 (...)
§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do
débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional
dos juros e demais acréscimos.

Assim, a liquidação antecipada consiste na quitação, total ou parcial, de uma dívida


antes do seu vencimento, acarretando a redução proporcional dos juros e demais
acréscimos.

Resolução CMN nº 3.516/2007: Antes da Resolução CMN nº 3.516/2007 não havia


proibição para esta prática, de forma que o STJ considera que ela era permitida. No
entanto, a Resolução CMN nº 3.516/2007, em seu art. 1º, proibiu expressamente a
cobrança. Veja:
Art. 1º Fica vedada às instituições financeiras e sociedades de
arrendamento mercantil a cobrança de tarifa em decorrência
de liquidação antecipada nos contratos de concessão de
crédito e de arrendamento mercantil financeiro, firmados a
partir da data da entrada em vigor desta resolução com
pessoas físicas e com microempresas e empresas de pequeno
porte de que trata a Lei Complementar nº 123, de 14 de
dezembro de 2006.

20.2. Período de legalidade da cobrança de tarifa de renovação de cadastro (TRC) –


(Info 584)

É válida cláusula contratual que prevê a cobrança da tarifa de renovação de cadastro


(TRC) em contrato bancário celebrado ainda no período de vigência da Circular
3.371/07 do BACEN, considerando que ela autorizava que os bancos exigissem a
TRC.
Posteriormente, com a edição da Circular 3.466/2009 do BACEN, que entrou em
vigor no dia 14/09/09, foi proibida a cobrança da referida tarifa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.303.646-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 10/5/16 (Info
584).

21. CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL


21.1. Presunção da existência de exclusividade em zona – (Info 601)
É possível presumir a existência de exclusividade em zona de atuação de
representante comercial quando:
a) não houver previsão expressa em sentido contrário; e
b) houver demonstração por outros meios da existência da exclusividade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.077-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 9/3/2017 (Info 601).

21.2. Denúncia do contrato e concessão de aviso prévio – (Info 546)

Não é devida a verba atinente ao aviso prévio – um terço das comissões auferidas
pelo representante comercial nos três meses anteriores à resolução do contrato (art.
34 da Lei 4.886/1965) –, quando o fim do contrato de representação comercial se der
por justa causa.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.190.425-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 2/9/14 (Info 546).
OBS:
O art. 34 da Lei 4.886/65 estabelece a seguinte regra:

Art. 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa


justificada, do contrato de representação, ajustado por tempo
indeterminado e que haja vigorado por mais de seis meses,
obriga o denunciante, salvo outra garantia prevista no
contrato, à concessão de pré-aviso, com antecedência mínima
de trinta dias, ou ao pagamento de importância igual a um
terço (1/3) das comissões auferidas pelo representante, nos
três meses anteriores.

Pela leitura do dispositivo, percebe-se que poderá haver a denúncia do contrato de


representação por qualquer das partes, mesmo que sem justo motivo, desde que seja
concedido o aviso prévio de 30 dias ou paga indenização ao prejudicado.

Essa regra, contudo, não se aplica quando o fim do contrato de representação


comercial ocorrer por justa causa. Reconhecida a existência de justa causa, não é
necessário que se dê o aviso prévio de 30 dias nem que seja paga a indenização de 1/3
das comissões.

Segundo explica Rubens Requião, “o aviso prévio é incompatível com a arguição de


falta grave cometida pela outra parte. Assim, se cometida falta grave, a denúncia do
contrato, seja de agência, seja de representação comercial, terá natureza abrupta,
rompendo-se o contrato tão logo a denúncia chegue ao conhecimento da parte faltosa”
(REQUIÃO, Rubens Edmundo. Nova regulamentação da representação comercial
autônoma. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 153).

Assim, o art. 34 da Lei 4.886⁄65 somente incide no caso de denúncia vazia (sem justa
causa) do contrato por qualquer das partes, não sendo aplicado nos casos em que uma
das partes toma a iniciativa de romper o contrato diante da existência de motivo justo,
conforme previsto na lei especial de regência.

22. DIREITOS ANTIDUMPING


22.1. Suspensão da exigibilidade do direito antidumping provisório – (Info 584)
Não se pode aceitar as máquinas do importador como caução idônea (garantia) para
liberar as mercadorias importadas e que estão sujeitas a direitos antidumping
provisórios.
Isso porque o art. 3º da Lei 9.019/95 prevê que a exigibilidade dos direitos
provisórios poderá ficar suspensa, até decisão final do processo, a critério da
CAMEX, desde que o importador ofereça garantia mediante: depósito em dinheiro
ou fiança bancária.
Essas hipóteses do art. 3º são taxativas e, portanto, não se admite como garantia o
oferecimento de maquinário.
A suspensão da exigibilidade do direito provisório é um benefício excepcional e,
portanto, não se pode permitir a interpretação extensiva do art. 3º para alcançar
outras formas de garantias nele não previstas, sob pena de o Poder Judiciário atuar
como legislador positivo e afrontar o princípio da separação dos poderes.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.516.614-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 10/5/16 (Info 584).
OBS:
Dumping: "O dumping consiste na conduta dos agentes econômicos que vendem os
seus produtos fora do país abaixo do custo de produção e também por preço inferior
aos cobrados no país de origem." (MASSO, Fabiano Del. Direito Econômico
esquematizado. São Paulo: Método, 2ª ed., p. 283).
Trata-se de uma prática comercial predatória por meio da qual uma empresa exporta
seus produtos por preços inferiores ao custo com o objetivo de fazer com que as
indústrias do país importador não consigam competir e, assim, quebrem. Durante um
tempo, a empresa exportadora fica suportando o prejuízo de vender suas mercadorias
abaixo do custo. No entanto, depois de não ter mais concorrentes no mercado (já que
eles faliram por não acompanharem os preços), a empresa que praticou o dumping
aumenta absurdamente os preços de seus produtos, considerando que o público
consumidor não terá mais opções de outras empresas. É uma forma, portanto, de
eliminar a concorrência.

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