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FACULDADE SÃO LUIZ

Leitura e análise de texto


Professor: Dr. José Francisco dos Santos
Acadêmico: Rhendel Rodrigues

OS BENS COMUNS NA CONCEPÇÃO DE ARISTÓTELES

No segundo capítulo do livro II de "A Política" Aristóteles aborda a temática


dos bens comuns. A primeira de suas indagações questiona se seria viável que as
terras de uma cidade fossem propriedades privadas, ao passo que os produtos
nelas cultivados seriam compartilhados com todos; ou o contrário, que as terras
fossem comuns e seus produtos seccionados entre os habitantes; ou ainda, se
ambas - tanto as terras quanto os produtos nela cultivados - deveriam ser comuns.
Viver em comum e partilhar as atividades é uma tarefa árdua. A comunidade de
bens traz essa adversidade, a saber, os atritos decorrentes da partilha de
determinadas posses. Para Aristóteles, deve-se ter um balanço entre ambos. Tanto
bens privados, quanto bens comuns. "Os bens devem ser comuns em certo sentido
e privados de modo geral"1. A administração dos bens, se dividida entre seus
possuidores, não provocará queixas de nenhuma das partes, e eles crescerão na
medida em que se dedicarão simultaneamente a um negócio pessoal; por outro
lado, as qualidades do cidadão com que os bens do amigo sejam comuns.2
O indivíduo, não obstante possuidor de seus bens privados, compartilha os
frutos dos mesmos com seus semelhantes, fazendo uso de suas posses tal como se
fossem bem comum. Na Lacedemônia, exemplifica Aristóteles, isso acontece com os
bens tais como os escravos, cavalos e cães. A propriedade deve, por conseguinte,
ser privada. Mas seu uso deve, de certa forma, ser comum. É necessário que se
compartilhe para uma melhor convivência, sem, no entanto, ceder sua posse. A
tarefa de preparar os cidadãos para tal sistema é do legislador.
Nessa questão também emerge o seguinte problema: As pessoas tendem a
ter mais zelo, e consequentemente mais apego, às coisas que são propriamente
suas. Ao passo que são propensas a desvalorizar e destratar aquilo que lhes é tido
como comum. O indivíduo sente prazer quando o bem é exclusivamente seu, o que
pode, em determinados casos, gerar um egoísmo exacerbado. Não obstante,

1
ARISTÓTELES, Política. Trad. de Mário da Gama Kury. Brasilia: Editora Universidade de Brasília,
1985, p. 1263b
2 Cf. ibid
também obtém satisfação ao prestar uma atitude de caridade para com o próximo. E
isso só é possível quando tem-se bens próprios.
Essa vantagem é perdida quando, como alguns governantes tentavam fazer
(Na época de Aristóteles) uma unificação extrema da cidade, e isso põe em risco a
liberalidade do uso das próprias posses. Ou seja, "(...) ninguém mais seria capaz de
demonstrar a sua liberdade ou de praticar um único ato de generosidade, pois esta
só existe quando se faz uso das próprias posses".3
Por conseguinte, para Aristóteles as posses devem ter um caráter
essencialmente privado, mas, ao mesmo tempo, devem ser compartilhadas por seus
proprietários sem que isso comprometa a integridade de sua posse. Essa partilha
nos proporciona prazer, que nos é destituído quando tenta-se unificar a cidade, uma
vez que, nas palavras de Aristóteles : " (...) vemos muito mais discórdia entre
aqueles que possuem ou usam os bens em comum do que aqueles que têm bens
próprios".4

3 ibid
4 ibid

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