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Boletim Trabalhista n° 20 - Outubro/2017 - 2ª Quinzena

Matéria elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações
legais.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A COMERCIALIZAÇÃO RURAL - CONSTITUCIONALIDADE


Funrural, Bitributação, Constitucionalidade, Inconstitucionalidade, Cobrança Retroativa

ROTEIRO

1. INTRODUÇÃO
2. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A COMERCIALIZAÇÃO RURAL
2.1. Contribuição Substitutiva da Folha de Pagamento
2.1.1. Redução da Alíquota em 01.01.2018
2.1.2. Casos Especiais da Não Aplicação da Substituição
2.2. Produtor Rural Pessoa Física - Bitributação
3. GFIP/SEFIP - LIMINAR DISPENSANDO O RECOLHIMENTO PREVIDENCIÁRIO
3.1. eSOCIAL
4. BITRIBUTAÇÃO
5. CONSTITUCIONALIDADE
6. INCONSTITUICIONALIDADE
6.1. Cobranças Retroativas

1. INTRODUÇÃO

O tema do recolhimento da contribuição previdenciária sobre a comercialização da produção rural (antigo Funrural), tem
sido constantemente discutido ao longo dos anos.

Tanto é assim que existem cerca de 15.000 processos tramitando no país, a fim de cessar o pagamento da contribuição,
com a concessão, muitas vezes, de liminares com essa finalidade.

A maior discussão sobre o assunto, por sua vez, trata da constitucionalidade de tal cobrança, o que acabou gerando a
interposição de vários recursos perante o STF (Supremo Tribunal Federal) a respeito.

Assim, em 2010 havia sido declarada a inconstitucionalidade do recolhimento, mas em março de 2017, o STF declarou a
constitucionalidade da referida contribuição, ou seja, esta passou a ser devida por todos os produtores rurais, pessoas
físicas ou jurídicas.

Em função das divergências, foi publicada a Resolução SF n° 015/2017, a qual dispõe sobre a impossibilidade de
cobranças retroativas da contribuição previdenciária sobre a comercialização da produção rural.

2. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A COMERCIALIZAÇÃO RURAL

O recolhimento da contribuição previdenciária sobre a comercialização da produção rural do produtor rural pessoa física
está prevista no artigo 25 da Lei n° 8.212/1991.

Já de acordo com o artigo 166 da IN/RFB n° 971/2009, será devido o recolhimento da contribuição sempre que houver
comercialização de produção rural por produtor rural pessoa física ou jurídica e agroindústrias.

Também constituem fatos geradores de tal contribuição, conforme artigo 167 da mesma IN:

I - a destinação, para fins diversos daqueles que asseguram a isenção, de produto originariamente adquirido com

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isenção, tais como o descarte, a industrialização, a revenda, dentre outros;

II - a comercialização de produto rural vegetal ou animal originariamente isento de contribuição com adquirente que não
tenha como objetivo econômico atividade condicionante da isenção;

III - a dação em pagamento, a permuta, o ressarcimento, a indenização ou a compensação feita com produtos rurais pelo
produtor rural com adquirente, consignatário, cooperativa ou consumidor;

IV - qualquer crédito ou pagamento efetuado pela cooperativa aos cooperados, representando complementação de preço
do produto rural, incluindo-se, dentre outros, as sobras, os retornos, as bonificações e os incentivos próprios ou
governamentais;

V - o arremate de produção rural em leilões e praças, exceto se os produtos não integrarem a base de cálculo das
contribuições.

Assim, ocorrendo um dos fatos geradores, será devido o recolhimento da contribuição previdenciária.

2.1. Contribuição Substitutiva da Folha de Pagamento

O artigo 22, incisos I e II, da Lei n° 8.212/1991 determina que as empresas, de um modo geral, são obrigadas ao
recolhimento da contribuição previdenciária patronal (20%) e RAT sobre a remuneração paga aos seus empregados.

No caso dos empregadores rurais, é possível a substituição de tal recolhimento sobre a folha de empregados, pelo
pagamento da contribuição previdenciária sobre a comercialização rural, conforme a Lei n° 10.256/2001.

Assim, como disposto no artigo 175 da IN/RFB n° 971/2009, o recolhimento sobre a comercialização da produção rural
substitui o recolhimento previdenciário patronal de 20% e o RAT incidente sobre a folha de pagamento dos empregados.

A substituição, no entanto, não se aplica para a contribuição patronal de 20% devida sobre a remuneração dos
contribuintes individuais que lhes prestem serviços, prevista no inciso III do artigo 22 da Lei n° 8.212/1991.

Em razão da substituição, o produtor rural deverá recolher sobre a folha de pagamento de seus empregados apenas a
alíquota de 2,7% referente a outras entidades, sendo 2,5% a título de Salário Educação e 0,2% para o INCRA (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária), além da contribuição previdenciária descontada dos empregados, cuja
alíquota será de 8%, 9% ou 11%, de acordo com o salário do trabalhador e da CPP sobre a remuneração dos
contribuintes individuais que lhe prestem serviços.

2.1.1. Redução da Alíquota em 01.01.2018

Com a publicação da MP n° 793/2017, a alíquota de 2% que compõe a contribuição do empregador rural pessoa física,
em substituição à contribuição patronal de 20% sobre as remunerações pagas a empregados, contribuintes individuais e
do segurado especial, destinada à Seguridade Social, será reduzida para 1,2% da receita bruta proveniente da
comercialização da sua produção.

Importante ressaltar que uma MP é um instrumento com força de lei, mas seu prazo de vigência é de 60 dias,
prorrogáveis uma vez por igual período.

Assim, em 01.01.2018 cabe observar a aplicabilidade da alteração em questão.

2.1.2. Casos Especiais da Não Aplicação da Substituição

Como dito acima, o recolhimento da contribuição previdenciária sobre a comercialização da produção rural substitui o
pagamento da contribuição previdenciária patronal e do RAT sobre a folha de pagamento de seus empregados.

No entanto, há algumas hipóteses em que não é possível ocorrer a substituição, como prevê o artigo 175, § 2°, da
IN/RFB n° 971/2009:

I - às agroindústrias de piscicultura, de carcinicultura, de suinocultura e de avicultura, bem como às sociedades


cooperativas, exceto no caso do inciso II do § 1° do artigo 175 da IN RFB n° 971/2009;

II - às indústrias que, embora desenvolvam as atividades relacionadas no artigo 2° do Decreto-Lei n° 1.146/1970, não se

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enquadram como agroindústrias nos termos do artigo 22-A da Lei n° 8.212/1991, por não possuírem produção própria;

III - quando o produtor rural pessoa jurídica, além da atividade rural:

a) prestar serviços a terceiros em condições que não caracterize atividade econômica autônoma, definida no inciso XXII
do artigo 165 da IN RFB n° 971/2009, exclusivamente em relação a remuneração dos segurados envolvidos na prestação
dos serviços, excluída a receita proveniente destas operações da base de cálculo das contribuições referidas no caput do
artigo 175, da mesma norma;

b) exercer outra atividade econômica autônoma, definida no inciso XXII do artigo 165 da IN RFB n° 971/2009, seja
comercial, industrial ou de serviços, em relação à remuneração de todos os empregados e trabalhadores avulsos;

IV - em relação à remuneração dos segurados envolvidos na prestação de serviços a terceiros pela agroindústria,
independentemente de ficar a mesma caracterizada como atividade econômica autônoma, sendo, neste caso, excluída a
receita proveniente destas operações da base de cálculo da contribuição sobre a receita bruta.

Neste caso, será devido o recolhimento integral da CPP e RAT sobre a folha de pagamento dos empregados, conforme
previsto no artigo 22, incisos I e II, da Lei n° 8.212/1991.

Quando ocorrer prestação de serviço a terceiros por produtor rural em condições que não caracterize atividade
econômica autônoma, bem como, na prestação de serviço a terceiros pela agroindústria, devem ser elaboradas folha de
pagamento e GFIP com informações distintas por tomador, sendo excluída a receita proveniente destas da base de
cálculo da contribuição sobre a receita bruta.

Ainda, quando o produtor rural pessoa jurídica produzir ração exclusivamente para alimentação dos animais de sua
própria produção, contribui com base na receita bruta da comercialização da produção, sendo que, se produzir ração
também para fins comerciais, caracterizar-se-á como empresa agroindustrial.

Também não caberá a substituição da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento (incisos I e II do artigo 22
da Lei n° 8.212/1991) pela contribuição sobre a comercialização rural, conforme § 5° do artigo 175 da IN/RFB n°
971/2009, quando:

a) relativamente à atividade rural, a empresa se dedica apenas ao florestamento e reflorestamento como fonte de
matéria-prima para industrialização própria e utiliza processo industrial que modifique a natureza química da madeira ou
a transforme em pasta celulósica; e

b) na hipótese de efetuar venda de resíduos vegetais, sobras ou partes da produção rural, a receita bruta dela decorrente
represente menos de 1% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção.

De acordo com o § 6° do artigo 175 da IN/RFB n° 971/2009, considera-se que ocorre a modificação da natureza química
da madeira quando, por processo químico, uma ou mais substâncias que a compõem se transformam em nova
substância, tais como pasta celulósica, papel, álcool de madeira, ácidos, óleos que são utilizados como insumos
energéticos em combustíveis industriais, produtos empregados na indústria farmacêutica, de cosméticos e alimentícia, e
os produtos que resultam dos processos de carbonização, gaseificação ou hidrólise.

2.2. Produtor Rural Pessoa Física - Bitributação

O recolhimento da contribuição previdenciária sobre a comercialização da produção rural é tratado, por muitos produtores
rurais pessoa física, como uma bitributação, uma vez que, além de fazer tal pagamento, para fazerem jus aos benefícios
previdenciários, são obrigados a fazer seus recolhimentos previdenciários na condição de contribuinte individual.

Da mesma forma, também é considerada bitributação o recolhimento sobre a produção rural e sobre a folha de
pagamento dos empregados.

3. GFIP/SEFIP - LIMINAR DISPENSANDO O RECOLHIMENTO PREVIDENCIÁRIO

Em razão do grande número de processos judiciais em tramitação no Poder Judiciário de todo o país, em que houve a
concessão de liminares isentando os produtores rurais do recolhimento da contribuição sobre a comercialização da
produção rural, foi publicado o Ato Declaratório Executivo CODAC n° 006/15, que determina a forma como deve ser feita
a informação na GFIP, neste caso.

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De acordo com o referido Ato Declaratório, as informações em GFIP devem ser feitas conforme abaixo:

a) lançar na GFIP o valor da receita bruta proveniente da comercialização da produção rural adquirida desse produtor;

b) lançar no campo Compensação o valor da contribuição patronal calculada pelo Sistema Empresa de Recolhimento do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (Sefip);

c) manter controles relativos à compensação efetuada para fins de fiscalização.

3.1. eSOCIAL

A partir de janeiro de 2018 e de julho de 2018, as informações feitas em GFIP serão substituídas por informações no
eSocial.

Os prazos de início de obrigatoriedade de transmissão das informações por meio do eSocial, foram atualizados pela
Resolução CDES n° 002/2016.

EMPREGADORES PRAZO
A partir de 01.01.2018 (exceto para as informações indicadas logo
Empregador com faturamento acima de R$ abaixo)
78 milhões, no ano de 2016 A partir da competência julho de 2018, referente informações dos
eventos relativos a Saúde e Segurança do Trabalhador (SST)
A partir de 01.07.2018 (exceto para as informações indicadas logo
abaixo)
Demais Obrigados
A partir da competência janeiro de 2019, referente informações dos
eventos relativos a Saúde e Segurança do Trabalhador (SST)

O tratamento diferenciado, simplificado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte,
ao Microempreendedor Individual (MEI) com empregado, ao empregador doméstico, ao segurado especial e ao pequeno
produtor rural pessoa física, será definido em atos específicos, observados os prazos acima.

Deste modo, as informações serão prestadas no novo programa, inclusive quanto à aquisição e venda da produção rural.

4. BITRIBUTAÇÃO

Os segurados especiais têm a opção de contribuir para a Previdência para fazer jus a benefícios previdenciários, ou seja,
o recolhimento é opcional, bastando para tanto, comprovar a atividade rural.

No entanto, aqueles produtores rurais que não se enquadrem como segurado especial, são obrigados a fazer tais
recolhimentos, além da contribuição sobre a comercialização da produção rural.

Esses dois recolhimentos são considerados, por muitos, como uma bitributação, já que são feitos dois recolhimentos para
a mesma finalidade.

Assim, muito se discute sobre a constitucionalidade e inconstitucionalidade do recolhimento da contribuição sobre a


comercialização da produção rural.

5. CONSTITUCIONALIDADE

No dia 30.03.2017, o STF decidiu que a cobrança da contribuição previdenciária sobre a comercialização da produção
rural (antigo Funrural) da pessoa física empregadora rural é constitucional, ou seja, a contribuição, com alíquota de 2,3%
sobre a receita bruta é devida.

A tese aprovada pelos ministros diz que “é constitucional, formal e materialmente, a contribuição social do empregador
rural pessoa física, instituída pela Lei n° 10.256/2001, incidente sobre a receita bruta obtida com a comercialização de
sua produção”.

A decisão do STF possui repercussão geral e assim, desde aquela data, todos os processos tramitando no país terão de
seguir essa orientação. No entanto, ela é bastante complexa, já que envolve e levanta muitas questões, principalmente a
respeito de segurança jurídica e previsibilidade da carga tributária, bem como sobre o que deverá ocorrer com aqueles
produtores que estavam se valendo de decisões liminares ou cautelares para deixar de recolher a contribuição em suas

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operações.

A insegurança jurídica pairava, especialmente, quanto à possibilidade de ocorrer a cobrança retroativa dos valores
inadimplidos referentes ao Funrural nos últimos cinco anos, que passaria a ser devido acrescido de juros e multa de
mora.

6. INCONSTITUICIONALIDADE

Em 2010 e em 2011, o STF, em decisões de Recursos Extraordinários, declarou a inconstitucionalidade da cobrança da


contribuição previdenciária sobre a comercialização da produção rural.

Segundo o Supremo, havia inconstitucionalidades na Lei do “Funrural”, com bitributação do produtor e empregador rural
(pessoa física), já que ele pagava a contribuição sobre a folha de salários e também sobre o faturamento da produção. O
tratamento não era isonômico com o produtor rural que não tinha empregados, que só pagava o imposto sobre o
resultado da comercialização de seus produtos.

Com essa decisão, inúmeros produtores rurais deixaram de recolher o tributo.

6.1. Cobranças Retroativas

O Senado Federal, através da Resolução SF n° 015/2017, suspende, nos termos do artigo 52, inciso X, da Constituição
Federal, a execução do inciso VII do artigo 12 da Lei n° 8.212/1991, e a execução do artigo 1° da Lei n° 8.540/1992, que
deu nova redação ao artigo 12, inciso V, ao artigo 25, incisos I e II, e ao artigo 30, inciso IV, da Lei n° 8.212/1991, todos
com a redação atualizada até a Lei n° 9.528/1997.

Com a publicação desta suspensão, os empregadores produtores rurais pessoas físicas ficam livres de cobranças
retroativas das contribuições previdenciárias sobre a comercialização da produção rural, bem como, das empresas
adquirentes dos seus produtos rurais.

ECONET EDITORA EMPRESARIAL LTDA


Autor: Rosa Camila Biava Stradiotto

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