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Aula 03 - Civil 6 - Casamento

Refiro-me ao casamento civil e não ao religioso. Até o séc. XIX o casamento


era um só, pois o catolicismo era a religião oficial do Império brasileiro, mas com
a República e a separação da Igreja do Estado, o casamento pode ser só civil ou
só religioso. O Juiz só casa no civil, mas o padre/pastor pode casar no religioso
com efeito civil, e este é o modo mais comum de se casar (§ 1º do 1516). Então
os noivos se habilitam no cartório civil e fazem a celebração numa igreja com
exclusividade, festa, recepção, etc. Se os noivos só desejam o casamento civil,
vão se submeter a casamentos coletivos e desanimados no Fórum.

Conceito: casamento é a proteção que a lei dá à família para a união permanente


do homem com a mulher a fim de se reproduzirem, criarem os filhos e viverem
juntos com fidelidade, ajudando-se mutuamente.

Comentários ao conceito:

- a lei protege a família, base da sociedade, através do casamento (226,


caput, CF).

- o casamento é permanente/duradouro: antes era


perpétuo/indissolúvel, até que a morte separasse os cônjuges, mas atualmente
existe a possibilidade de divórcio nos termos do § 6º do art. 226, CF. O
casamento tende a durar anos, décadas, mas não é mais indissolúvel.

- homem com mulher: casamento exige união do par andrógeno, não


sendo possível casamento de homossexuais. Os §§ 3º e 5º do art. 226 da CF
deixam claro que casamento é entre homem e mulher. União entre gays e
lésbicas é tratada como um contrato, uma sociedade civil, regulada pelo Direito
das Obrigações, e não pelo Direito de Família. Nada impede, contudo, que
mudanças na sociedade e na Constituição venham a admitir no futuro casamento
entre homossexuais.

- reprodução: é um objetivo importante do casamento, mas não é


essencial, tanto que a lei permite casamento entre idosos ou entre pessoas
estéreis, bem como não anula casamento quando os cônjuges optam em não ter
filhos. O casamento apenas legaliza a relação sexual para fins de reprodução.

criação dos filhos: reprodução não é essencial, mas se tiverem filhos surgirá a
maior obrigação para um casal que é a de criar e educar os filhos.

- viver junto: o casal deve coabitar, morar no mesmo teto;

- fidelidade: é outra obrigação dos cônjuges, honestidade, respeito,


consideração e fidelidade um para com o outro.

- ajuda mútua: a assistência recíproca é mais uma obrigação do casal,


tanto ajuda material como espiritual, na fartura como na pobreza, na saúde como
na doença, na alegria como na tristeza (vide art. 1566, CC).
O casamento assim irá formar um vínculo jurídico entre homem e mulher,
que não serão parentes um do outro, mas cônjuges ou consortes, com direitos e
obrigações (1565).

Natureza jurídica: para a Igreja Católica o casamento é um sacramento,


ou seja, é uma prova de fé juntamente com o batismo, a primeira comunhão, a
crisma, a confissão, etc. Já para o Direito o casamento é um negócio jurídico de
Direito Privado, afinal o Direito de Família integra o Direito Civil.

O negócio jurídico é uma declaração de vontade para produzir efeito


jurídico, podendo ser mais livremente posto pelas partes do que previamente
imposto pela lei, ou seja, o negócio pode ser informal como a maioria dos
contratos (art. 107). Mas há negócios jurídicos que são solenes, sendo mais
previamente impostos pela lei do que livremente postos pelas partes (ex:
casamento, testamento, alienação de imóvel que exige escritura pública, etc).
Casamento é assim um negócio jurídico solene, mas não o equiparo a um
contrato solene, pois o casamento tem uma grande face institucional e
sociológica, além disso precisa de uma autoridade (o Juiz) para sua celebração e
dissolução ( = divórcio), aspectos que um contrato não possui, pois pode ser
dissolvido por um distrato sem intervenção estatal. Depois revisem os fatos
jurídicos, assunto de Civil I, escrevi alguma coisa sobre isso no nosso e-mail.

Princípios do casamento são dois:

1) o da livre união: antigamente as esposas eram compradas ou escolhidas


pelo pai do noivo, hoje predomina a felicidade, então não se deve casar por
interesse, dinheiro, ou coação, mas sim por amor. Tanto que os nubentes
precisam afirmar perante o Juiz que sua vontade é livre e espontânea (1538 e
pú). Casamento é negócio puro, não admite prazo ou condição. Imaginem o Juiz
perguntar “João que casar com Maria?”, e o noivo responder “depende”, isto não
é possível.

2) princípio da monogamia: só se pode casar uma vez, salvo se viúvo ou


divorciado. O casamento do bígamo é nulo (1521, VI c/c o 1548, II). Mesmo sem
cometer bigamia, o cônjuge não pode ter outra parceira (e vice-versa) por causa
do dever de fidelidade (1566, I). Adultério e bigamia são coisas diferentes, mas
ambos são proibidos.

Deveres conjugais: os cônjuges têm vários deveres que devem ser


ressaltados pelo Juiz quando da celebração. Estas obrigações constam no art.
1566. Já falamos desses deveres quando comentamos o conceito de casamento
acima. O inc V não constava do código velho e eu acho dispensável, afinal
respeito e consideração estão implícitos em fidelidade e mútua assistência. A
principal obrigação é a de criar e educar os filhos.

Direitos dos cônjuges:

a) direito ao parentesco afim, de modo que o casamento leva o cônjuge a ser


parente por afinidade dos parentes consangüíneos do outro cônjuge (1595;
observem que pelo § 2º sogra é para sempre, mesmo com o divórcio ou a viuvez;
se você se divorciar/enviuvar pode se casar com a cunhada, mas com a sogra
jamais);
b) direito ao nome (§ 1º do 1565, o marido se quiser pode também usar o
sobrenome da mulher, afinal os direitos e deveres são recíprocos, 1511);

c) direito a dispor dos bens, de modo que o cônjuge passará a ter direitos sobre
os bens do outro (1639, 1647, I, 1667);

d) direito à emancipação caso o noivo seja menor de 18 anos (5º, pú, II, 1517,
1551);

e) direito sucessório, pois com o casamento o cônjuge passa a ser herdeiro


necessário do outro (1845 – veremos isso no próximo semestre).

Pressupostos do casamento:

a) diversidade de sexos;
b) consentimento livre e inequívoco;
c) competência do celebrante (Juiz Criminal, Federal ou Trabalhista não tem
competência);
d) amor!

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