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Saude.abril.com.br
24 46
o que tuberculose:
comer para a infecção mais
envelhecer bem mortal do mundo
Quer ficar cheio de energia Mesmo com tratamento
lá na frente? Então comece curativo, ela continua a fazer
a cuidar do seu prato hoje um estrago danado
34 50
é festa do sinfonia pela
pinhão sua saúde
O alimento carrega um Músicas têm poder de
extenso currículo ecológico, remédio para silenciar
cultural e nutricional. Hora vários males — de dor
de conhecer suas virtudes a depressão
40 54
diabetes & exercício
coração: o perigo para domar a
bate no peito pressão alta
Dados inéditos revelam o que Saiba ajustar o treino para
o povo sabe sobre o elo entre potencializar seus benefícios
diabetes e os males do coração contra a hipertensão
24
FOTO: Flash Parker - getty images / ilustração: daniel almeida
seções
4.............Ao leitor 12...........Compare 21...........Alternativa 61...........Filhos
8.............Mural do leitor 14...........Nutrição 22...........Atividade física 62...........Papo-cabeça
9.............Internet 18...........Medicina 58........... Sempre quis saber 64..........Zoom
10...........Radar da saúde 20..........Envelhecer 60..........Bichos 66..........Com a palavra
Diogo Sponchiato
Redator-Chefe
Fundada em 1950
Conselho Editorial:
Fabio Carvalho e Thomaz Souto Corrêa
PUBLICIDADE E PROJETOS ESPECIAIS Marcos Garcia Leal (Diretor de Publicidade), Daniela Serafim (Financeiro, Mobilidade, Tecnologia, Telecom, Saúde e
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Redação e Correspondência: Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, Freguesia do Ó, CEP 02909-900, São Paulo, SP Tel. (11) 3037-2302 Publicidade São Paulo e informações
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SAÚDE É VITAL, edição 443, junho de 2019 (ISSN 0104-1568), é uma publicação mensal da Editora Abril. Distribuída em todo o país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de
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de capa, morreu no dia diferença na vida delas. objetividade. Vim apenas (11) 5087-2112
30 de julho, cerca de Carla Matos Viegas,
fazer uma observação em Demais localidades:
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POR MOTIVO DE CLAREZA OU ESPAÇO, AS CARTAS PODEM SER PUBLICADAS RESUMIDAMENTE
8 • S a ú de é vital • agosto 2 0 1 9
INTERNET
SAÚDE NAS
REDES SOCIAIS
Notícias quentinhas na sua tela
foto: Brand X Pictures - getty images
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 9
radar da saúde por andré biernath
presente
1 0 • Sa ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
passado futuro uma frase
“Para
enfrentar
o câncer,
precisamos
ressignificar
a política. A
política não
Dica QuentíssimA: Uma tatuagem que pode ser um
coma sopas mede os batimentos
confronto de
Eis o tema da reportagem Fabricada com partículas
de capa de SAÚDE de de grafeno, ela é grudada interesses
agosto de 1989, há exatos no lado esquerdo do peito entre uns
30 anos. A matéria traz e consegue monitorar o poucos atores,
receitas e aposta na ritmo cardíaco de maneira muitos dos
criatividade para misturar contínua. A tecnologia,
quais até
folhas, carnes, tubérculos, ainda em desenvolvimento
raízes, leguminosas, cereais na Universidade do Texas, corruptos.
e temperos, sem pesar a nos Estados Unidos, poderá A política
mão no sal ou nos queijos. rastrear irregularidades precisa ter o
Uma pedida deliciosa para e auxiliar no diagnóstico objetivo claro
a temporada de inverno. de doenças do coração.
de melhorar
a vida das
um lugar um dado pessoas.”
Wilson Merino,
coordenador
nacional do
Acuerdo contra
el Cancer, do
Equador
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 1 1
compare por diogo sponchiato
1 2 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
1241220-ABRIL COMUNICAÇÕES-1_1-1.indd 13 05/08/2019 15:07:50
Nutrição por goretti tenorio
Validade
extra
para os
vegetais
Com o uso de
nanotecnologia,
pesquisadores da
Embrapa criaram um
revestimento com
cera de carnaúba
capaz de manter por
mais tempo a firmeza,
fontes: Elizabeth Nabeshima, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital); Alexandre Martins, gerente de projetos do Fraunhofer Project Center
a cor e o sabor de
no Ital (Pão de queijo); mauro fisberg, nutrólogo da unifesp; bruna hassan, Consultora da actbr Promoção da Saúde (taxação de bebidas); *Euromonitor 2018;
Nota Técnica nº 60-SEI/2017/ministério da saúde (bebida adocicada) / fotos: PauloVilela - getty images (pão de queijo) e Foodcollection RF - getty images (suco)
frutos. “Depois
de colhidos, os
1 4 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
DEU CERTO Lá fora Só educar não resolve não é o único vilão recurso limitado
No México, 10% de alta no Estudiosos afirmam que Engordar demais é A taxação recai só sobre os
imposto resultou em 7,6% informar sobre os males resultado de uma gama produtos industrializados
menos consumo de refris, do excesso não tem sido de problemas e não se e não melhora os preparos
além de ter aumentado a suficiente para inibir a relaciona somente à de bebidas em casa, nas
ingestão de água. compra e o ganho de peso. alimentação inadequada. escolas e nos restaurantes.
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 1 5
As startups da alimentação
Mapeamento aponta os principais ramos e nomes do mercado
e as vantagens que já agregam ao setor e ao consumidor
transformação à mesa
Alguns exemplos de áreas de atuação e startups brasileiras contempladas no Liga Insights
1 6 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
reaproveitamento Tecnologia
de recursos alimentar
É o campo voltado a gerenciar resíduos e São empresas que, amparadas em
descartes e evitar desperdícios de alimentos pesquisa e biotecnologia, criam novas
— algo comum na cadeia produtiva. A formas de cultivar, aproveitar ou fabricar
Desperdício Zero é um dos representantes. comida. Caso da Gran Moar.
ilustrações: laura luduvig
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 1 7
já é possível fabricar
uma nova pele
Tecnologia repõe as células da derme e da epiderme após
acidentes ou queimaduras de grandes proporções
tecido reciclado
Atualmente, é preciso recorrer a enxertos para tratar os ferimentos mais graves
pele não
atingida
camadas de pele
recuperadas
scanner
digital
impressora
especial
1 8 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
A retina Os primeiros biossimilares
como 100% brasileiros
nunca Com ação semelhante ao dos produtos originais, dois medicamentos
se viu desenvolvidos no país devem impactar o acesso e o custo do tratamento
As doenças que
atingem essa área
no fundo dos olhos,
como a degeneração
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, acaba de dar sinal
verde para os biossimilares somatropina (hormônio do crescimento
humano), do laboratório Cristália, e rituximabe, da Libbs. Feitos por meio
macular, acometem de uma engenharia reversa, esses remédios têm a mesma função dos
cerca de 46 milhões produtos biológicos de origem, disponíveis no mercado há mais tempo: o
de pessoas no mundo primeiro será prescrito para crianças com distúrbios do desenvolvimento
todo. Para piorar, e baixa estatura, enquanto o segundo é empregado contra alguns tipos
são bem difíceis de de câncer. “O fato de termos uma nova opção nas farmácias aumentará
detectar em seus a concorrência, o que potencialmente diminuirá os preços”, vislumbra
estágios iniciais. Essa Márcia Bueno, diretora de relações institucionais da Libbs.
demora no diagnóstico
dificulta o tratamento
e aumenta pra valer o
de trás para a frente
risco de cegueira. Mas
Entenda as diferenças entre um fármaco biológico e um biossimilar
um novo exame com
lentes ópticas promete
acelerar esse processo:
Biológico
desenvolvido na Escola
É um remédio produzido
Politécnica Federal de
a partir de um organismo,
Lausanne, na Suíça, como uma bactéria. Os
ele conta o número cientistas fazem algumas
de células e avalia seu modificações genéticas
formato. Se há poucas nesse ser vivo para que
unidades ou elas estão ele passe a liberar uma
deformadas, é sinal de substância com algum
que algo não vai bem. efeito terapêutico.
“O método chega a
ser dez vezes mais
preciso em relação ao
que temos disponível biossimilar
atualmente”, compara A partir de uma molécula já
o engenheiro elétrico existente, os especialistas
fazem adaptações em outro
Timothé Laforest, um
micro-organismo, que
ilustrações: guilherme henrique
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 1 9
envelhecer por andré biernath
entre os 60+
entre as redes mais conhecidas
74% 74%
WhatsApp
Se sentem abertos para Se consideram 98 % conhecem
testar novas tecnologias pessoas digitais
95% já utilizaram
eles consomem Facebook
conteúdo em: 96% conhecem
91% já utilizaram
70% 58%
27% YouTube
94% conhecem
Netflix Spotify Sites e apps de 51% já utilizaram
relacionamento
Messenger
2 0 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
alternativa por André biernath
Sa ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 2 1
olhos vidrados
Será que vemos muita TV?
Pelo menos os participantes
31%
dos voluntários
do estudo americano, sim passam mais de quatro
horas diante da televisão
33%
deixam o aparelho ligado
36%
assistem entre duas e
por menos de 120 minutos quatro horas
2 2 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
Remédio menopausa: um treino
contra o para manter a forma
colesterol Depois desse período, fica um pouco mais difícil preservar o
não afeta condicionamento. Mas um tipo de atividade física vem ajudar
o treino
Um dos possíveis
efeitos colaterais
A queda na produção hormonal típica dessa fase e o envelhecimento
em si aceleram a perda de musculatura e o acúmulo de gordura na
barriga. Esse processo, no entanto, pode ser contido com sessões na
das estatinas, academia. E o chamado sprint interval training (SIT) — ou treinamento
comprimidos de tiros intervalados, em tradução livre — começa a se destacar entre
usados para baixar as modalidades. Em uma pesquisa da Universidade de New South
o colesterol, é o Wales, na Austrália, 20 mulheres experimentaram o método por oito
surgimento de dores semanas. “Nesse curto espaço de tempo, elas já ganharam massa magra
musculares. Para ver e perderam gordura”, relata a fisiologista Yati Boutcher, responsável pelo
se tais incômodos achado. No entanto, é cedo para eleger essa prática como a ideal para a
sabotariam o pós-menopausa. O mais importante é sair do sedentarismo mesmo.
rendimento nos
esportes, cientistas
da Universidade
de Copenhague, o que é o sit?
na Dinamarca, Ele alterna momentos
selecionaram 25 pegados com outros
usuários do remédio mais levinhos
com desconfortos
e outros 37 livres
desse evento adverso.
Todos puxaram ferro
e correram na esteira.
1 esforço máximo
Após um aquecimento,
dê tiros bem rápidos de
“A performance dos corrida ou bicicleta por
dois grupos foi similar. aproximadamente
Ou seja, a medicação 20 a 30 segundos.
não compromete a
capacidade física”,
conclui o médico
Thomas Morville, um
2 recupere o fôlego
Diferentemente
de outros treinos
dos que conduziram intervalados, este dá
o experimento. É mais tempo para o
um recado bacana descanso: baixe o ritmo
para quem se por 2 a 4 minutos.
motiva ao aprimorar
3
o desempenho
e lá vamos
esportivo — até nós de novo
porque o esforço físico Repita o processo. A
reduz o colesterol. quantidade de repetições
varia para cada um.
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 2 3
o que
comer para
envelhecer
bem
A diferença entre um idoso
frágil e dependente e outro
cheio de energia começa
a ser delineada bem antes
de os cabelos brancos
despontarem. E uma das
formas de garantir disposição
e saúde lá na frente é olhar
para o seu prato hoje mesmo
por thaís manarini | design letícia raposo
ilustrações daniel almeida
24 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
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2 6 • S a ú d e é v i tal • agosto 2 0 1 9
S a ú d e é v i tal • ag osto 2 0 1 9 • 27
tomou água?
Segundo Simone, muita gente perde a
percepção da sede com a idade. E tem
quem troque a água por sucos, refris e
afins. Mas nada bate o líquido natural
em matéria de hidratação. “Não
bebê-lo pode levar a confusão mental
e infecção urinária”, cita Simone. Até
a pele fica mais envelhecida. “Não
adianta passar creme no rosto e
esquecer de beber água.”
2 8 • Sa ú de é v i tal • ag o sto 2 0 1 9
meta possível
Alimentos que trazem cálcio na medida
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 2 9
fonte: Sergio Maeda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Regional São Paulo.
é a gordura saturada, de carnes, necessário”, recomenda Maristela.
lácteos e itens industrializados. Perder Para adultos, o objetivo deve ser
a linha diante dela representa maior atingir pelo menos 20 nanogramas
risco de enfrentar doenças crônicas, da vitamina por mililitro de sangue.
especialmente as cardiovasculares. Já a Assim, a perda óssea tende a não ter
trans, ou parcialmente hidrogenada, não impacto tão negativo. A partir dos 45
deve ter vez: ela sobe o colesterol ruim e anos, estima-se que 0,5% de massa
faz o bom cair. Ainda está presente em desapareça por ano. Nas mulheres,
alguns alimentos industrializados. com a menopausa, o valor chega a 1%.
Sardinha
(pode ser em lata)
Salmão
Óleo de milho
Óleo de girassol
Óleo de fígado de bacalhau
Salmão grelhado
5 15
a
minutos
Óleo de soja Sardinha em lata de exposição
Atum ao sol, entre 10
Óleo de cártamo Ovo cozido e 17 horas, três
Semente de linhaça
Shiitake cozido vezes na semana,
Semente de chia enchem o corpo
Leite integral de vitamina D.
3 0 • S a ú de é v i tal • ag osto 2 0 1 9
identificando um
ultraprocessado
S a ú d e é v i tal • ag osto 2 0 1 9 • 3 1
decisiva no desenvolvimento da
massa muscular. “O magnésio
ainda é fundamental para a
contração dos músculos”, descreve
Simone. A nutricionista da SBGG
ainda lembra que o mineral, assim
como a vitamina D, atua em favor
fotos menores (ícones tabelas): Alex Silva, Bruno Marçal, Dercílio, Dulla, Fabio Castelo, Gustavo Arrais, Pedro Rubens e Sheila Oliveira
2 conchas de feijão-carioca.............. 84 mg
3 2 • S a ú de é v i ta l • agosto 2 0 1 9
S a ú d e é v ita l • ag osto 2 0 1 9 • 3 3
L
á se vão centenas e centenas de anos maiores fãs da sapecada e detêm quase toda
em que o pinhão, essa semente legi- a população do pinheiro que leva o nome
timamente brasileira, se tornou uma de Araucaria augustifolia, embora estados do
das melhores companhias na tempo- Sudeste, como São Paulo e Minas Gerais,
rada mais fria do ano. Apreciado no Sul e apresentem uma pequena concentração.
Sudeste do país, ele ostenta uma mistura de Segundo o engenheiro-agrônomo Flávio
ingredientes que, além de aquecer o estô- Zanette, professor da Universidade Federal
mago, faz muito pelo nosso corpo. Fornece do Paraná (UFPR), existem relatos indi-
energia na forma de carboidrato, fibras, mi- cando a ocorrência dessas árvores em uma
nerais e os celebrados compostos fenólicos, faixa que incluía desde a Bahia até o Sul
defensores das nossas células. A fama tam- do país. “A espécie pode ser considerada
bém chega à cozinha: o alimento cai bem um fóssil vivo, já que existe há milhões de
sozinho ou em pratos doces e salgados. anos e resistiu até mesmo à era glacial”, re-
Mas vem dos tempos pré-colombianos vela. Sobreviveu a tantas intempéries... Só
a maneira mais tradicional de saboreá-lo. não contava com a busca desenfreada por
Pelas bandas do Sul, ela ganhou o apelido sua madeira, de altíssima qualidade, que a
de sapecada: o pinhão é torrado em meio colocou à beira da extinção.
às brasas de grimpas, isto é, os ramos secos Dados da Embrapa Florestas, no Paraná,
da sua árvore de origem, a araucária. Povos sustentam que as matas de araucária co-
indígenas que inclusive ajudaram a disse- briam perto de 185 mil quilômetros quadra-
minar a espécie, caso dos caingangues e dos dos antes da colonização. Hoje restam ape-
choclengues, e, depois, os tropeiros que iam nas 2% dessas florestas. É assombroso, mas,
e vinham pelo Brasil de antigamente eram felizmente, já se articula um movimento
grandes fãs desse preparo de gosto peculiar. de proteção, advogado por pesquisadores
A fogueira e a receita costumam juntar e ambientalistas. “A ameaça de desapareci-
familiares e amigos até os dias de hoje. mento desencadeou algumas ações, entre as
Café, vinho e um bom violeiro também quais a proibição do corte”, contextualiza
marcam presença, variando o acompanha- Zanette. Ainda bem. Afinal, quem conhece
mento de acordo com o local. Paraná, San- a riqueza dessa árvore vai querer a araucária
ta Catarina e Rio Grande do Sul somam os e seus pinhões sempre por perto.
3 4 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
Com vocês,
a araucária
O pinhão vem dessa
árvore típica do Sul
do Brasil
a copa
À medida que o
pinheiro envelhece, os
galhos se concentram
no topo, em formato
de candelabro.
a altura
A árvore alcança de
20 a 25 metros, mas
pode atingir até 50,
de acordo com o
clima e a região.
o fruto
As bolotas chamadas
de pinha são os
verdadeiros frutos e
guardam as sementes,
ou pinhões.
a região
A araucária prefere
áreas de serra, com
altitudes acima de
500 metros, para
se reproduzir.
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 3 5
Com o objetivo de zelar pela espécie, a cie de gel, o que garante maciez ao alimento
Embrapa Florestas, em parceria com órgãos e aumenta a saciedade”, esmiúça Cristiane.
estaduais e universidades do Sul, está por trás Diferentemente do tipo simples, digerido em
do projeto “Estradas com Araucárias”. Ele 20 minutos, o amido resistente pode levar
oferece incentivo financeiro para o plantio até duas horas para ser processado e ainda é
desses pinheiros em divisas de propriedades fermentado no intestino, numa atuação que
rurais. Além de embelezar as vias com as filei- equilibra a composição da microbiota e, de
ras de árvores, colabora com a fauna e, claro, quebra, dá aquela força contra a constipação.
aumenta a cultura do nutritivo pinhão. Até o Soma-se a essa peculiaridade um mix
final do ano passado, já foram contabilizadas de fibras solúveis e insolúveis, que poten-
mais de 20 mil novas araucárias em 70 pro- cializa seus efeitos no sistema digestivo. É
priedades de Santa Catarina e Paraná. graças a essa fórmula, aliás, que o pinhão
Outra iniciativa em prol da causa aten- também tem aparecido em pesquisas como
de pelo nome de Biodiversidade para Ali- aliado no controle da glicemia — contri-
mentação e Nutrição (BFN). “Entre 2012 buindo para afastar o diabetes ou facilitar
e 2018, reunimos instituições internacio- a vida de quem convive com ele. Embora
nais, governo e estudiosos para promover o conteúdo proteico do pinhão não seja
o uso sustentável e ampliar o consumo de exorbitante, Cristiane ressalta sua qualida-
alimentos nativos”, resume a nutricionista de: “Ele reúne proteína de alto valor bioló-
Fernanda Camboim Rockett, da Universida- gico e pouco encontrada em fontes vege-
de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tais”. A semente ainda tem um pingo de
e membro do BFN. Entre outras estratégias gorduras — a maioria do tipo ômega-9, que
pregadas, destaca-se o estímulo ao rodízio traz tantos louros ao azeite de oliva.
de ingredientes para evitar a monotonia no A gama de sais minerais do alimento é
cardápio e alavancar o cultivo de espécies. É outro bom motivo para olhá-lo com mais
uma inspiração para fazer como os tropeiros atenção no mercado. A química Bianca
dos séculos passados, que trocaram as casta- Schveitzer, da Empresa de Pesquisa Agrope-
nhas europeias por pinhões e ajudaram na cuária e Extensão Rural de Santa Catarina
difusão da semente. Foi assim que nasceram (Epagri), ressalta os níveis de ferro, fósforo,
receitas como a carne à moda da Bocaina. cálcio, entre outros. A cientista apurou a
fundo a estrutura da semente e trabalhou
Carboidrato sui generis com uma farinha feita do alimento. “Agora
Para quem tem o pé atrás com o pinhão pelo precisamos avaliar sua biodisponibilidade,
receio de ele ser calórico, Fernanda tranqui- conta. Ou seja, o próximo passo é saber
liza: o alimento entrega menos calorias do como o corpo aproveita os nutrientes ali.
que as gringas nozes, castanhas e amêndoas. Cristiane chama atenção para um fenô-
E não pense que o carboidrato que ele aloja meno curioso e bem-vindo quando o pi-
reserva apenas energia para o organismo. A nhão vai à panela. “Durante o cozimento,
química e cientista de alimentos Cristiane alguns minerais e outras substâncias be-
Helm, da Embrapa, é mais uma entusiasta néficas migram da casca para o interior da
e estudiosa da semente que vive se surpre- semente”, revela. Embora seja considerado
endendo com ela. “Um dos destaques do pi- quase um empecilho, já que nem sempre
nhão é o amido resistente”, relata. Trata-se é fácil de extrair, o invólucro brilhoso e
de um carboidrato especial, capaz de retardar resistente que recobre a polpa esbanja nu-
a digestão e, assim, segurar a fome. trientes. “Por isso mesmo já existem pro-
“Ao ser cozido com água, seus grânulos jetos para aproveitar a casca na indústria
se enchem de líquido e formam uma espé- alimentícia”, sinaliza Cristiane.
3 6 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
o Todo-poderoso pinhão
A pinha é o verdadeiro fruto da araucária. Redonda como uma
bola, ela ultrapassa 3 quilos e costuma guardar 100 sementes, que
são os pinhões. “Mas já desenvolvemos variedades com 240”,
revela o professor Flávio Zanette, da UFPR. Por carregarem o
embrião da espécie, eles são cheias de nutrientes. Confira alguns
destaques em 100 gramas de pinhão cozido.
energia carboidratos
São 160 calorias O alimento traz um
numa porção. Menos amido especial, bacana
do que oleaginosas. para o intestino.
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 37
Na próxima vez que você cozinhar o pi- obtida da semente da araucária e incorporada
nhão, observe a cor da polpa. Ela deixa de a uma pré-mistura para bolos. Quando com-
ser branca e adquire tons marrons, vindos parada ao preparo feito com farinha de arroz,
de sua nutritiva casca. “O tom denuncia a ganha em textura e sabor e arrasa no teor de
presença de compostos fenólicos que foram nutrientes, especialmente o de fibras. Por ser
incorporados durante o processo de cocção”, isenta de glúten, trata-se de uma opção genui-
informa Cristiane. Com ação antioxidante, namente brasileira para os celíacos. “A farinha
essas substâncias estão entre os principais de pinhão pode ser destinada a pessoas com
guardiões do nosso organismo no mundo essa doença, que causa desconfortos pela atro-
da nutrição. Blindam células, artérias e até o fia da mucosa intestinal”, diz Mônica Ikeda,
DNA contra danos provocados pelos radicais engenheira de alimentos da UFPR.
livres, moléculas instáveis que surgem natu- Recorrer à farinha é também uma manei-
ralmente e, em excesso, causam estragos. ra de ter sempre o pinhão à mão, já que sua
Para evitar desperdício, a dica é não dis- colheita é sazonal. Embora existam araucá-
pensar nem o líquido que sobra na panela. rias que frutifiquem em fevereiro e setem-
“Ele pode ser aproveitado para o preparo bro, a safra se concentra no outono e no
de caldos e até do arroz”, ensina a expert inverno. Nessa época, é presença marcante
da Embrapa. Aliás, o pinhão entra em tudo na festa de São João e nas tradicionais cele-
quanto é receita — basta usar a criativida- brações de Lages, em Santa Catarina, de São
de. A premiada chef de cozinha paranaen- Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul, e
se Manu Buffara, do restaurante Manu, em na cidade de Pinhão, no Paraná.
Curitiba, prepara até brigadeiro com a se- Quando maduras, as pinhas despencam
mente. “É um ingrediente muito versátil, da árvore e se espatifam no chão, onde são
entra em risotos, sopas, farofas e nas tradi- coletadas. Mas há quem se aventure a esca-
cionais paçocas”, enumera. Ela também vol- lar os troncos altos e colher direto na copa. É
ta às suas origens e se delicia com o pinhão trabalho para os experientes, que, inclusive,
sapecado na brasa. “Nossa família sempre se precisam respeitar a maturação do fruto. Se as
reuniu em volta da fogueira, lá em Marin- pinhas saem do pé antes da hora, pode haver
gá”, conta. Manu se junta ao coro do resgate prejuízos na propagação da espécie. Ainda
de alimentos regionais e de sua incorpora- que pássaros como a gralha-azul atuem no
ção à gastronomia contemporânea. “Temos replantio dos pinheiros do Sul, precisamos
que incentivar a agricultura local, o que aju- fazer nossa parte. Assim, as futuras gerações
da na preservação do ambiente”, afirma. também terão muito a festejar.
3 8 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
do mercado à sua mesa vai uma torta
A nutricionista Renata Guirau, do Oba Hortifruti, ensina alguns macetes com pinhão?
Aprenda a receita
da chef Manu Buffara,
de Curitiba
Ingredientes
1 berinjela grande em cubos
Pesto:
ao comprar ao guardar ao consumir
A casca deve ter cor Pode deixar na gaveta da Não vale exagerar. Uma 1 buquê de manjericão fresco
vibrante, marrom nas geladeira, dentro de um porção de 30 gramas, 50 g de parmesão ralado
extremidades e mais saco, em temperatura cerca de oito unidades 150 g de pinhão cozido e picado
amarelada ao centro. entre 2 e 10 graus. cozidas, já está adequada 3 dentes de alho
Não pode ceder à Uma opção é congelar para um lanche da tarde,
100 ml de azeite de oliva
pressão dos dedos. depois de cozido. por exemplo.
Massa:
200 g de farinha de trigo
3 ovos
1 colher (sopa) cheia de
fermento em pó
100 ml de azeite de oliva
100 ml de creme de leite fresco
200 g de queijo feta cortado em
cubos pequenos
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Modo de preparo
Preaqueça o forno a 180 °C.
Enquanto isso, refogue a
berinjela com um pouco de
azeite, mexendo por 30 minutos.
Deixe esfriar. Prepare o pesto:
no liquidificador ou mixer, bata
o manjericão com o parmesão,
o pinhão e o alho. Adicione o
azeite aos poucos, sem parar de
bater. Reserve. Para a massa, em
uma tigela, misture a farinha, os
ovos e o fermento. Aos poucos,
adicione o azeite. Junte o creme
de leite, batendo vigorosamente.
Incorpore o pesto à massa. Em
seguida, acrescente o queijo
feta. Tempere com a pimenta
e corrija o sal. Misture a massa
delicadamente e coloque-a em
uma fôrma retangular. Leve ao
forno por 45 minutos. Deixe
esfriar antes de desenformar
e sirva a seguir.
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 3 9
N
a última edição do Endodebate, even-
to que reuniu mais de 600 médicos
em São Paulo entre os dias 19 e 20
de julho, o endocrinologista e coor-
denador da iniciativa, Carlos Eduardo Barra
Couri, repetiu uma frase à exaustão: “Falta de
informação mata. E mata do coração!”. Seu
mantra faz referência a uma das principais
descobertas da pesquisa inédita apresentada
no encontro. O estudo, feito por SAÚDE e
pela área de Inteligência de Mercado do Gru-
po Abril, com a curadoria do doutor Couri
e o apoio do laboratório Novo Nordisk, de-
tecta a persistência de um desconhecimento
sobre o elo entre o diabetes e os problemas
cardiovasculares. O achado é alarmante se le-
varmos em conta que situações como infar-
to, AVC e insuficiência cardíaca representam
hoje a principal causa de morte entre quem
precisa tratar a glicose nas alturas.
Para chegar a essa e a outras conclusões,
foram entrevistados 1 439 brasileiros de to-
diabetes & coração das as regiões do país por meio de questioná-
o perigo
rios via internet —
611 indivíduos com e 828
sem diabetes tipo 2, a versão mais prevalente
da doença. A pesquisa Quando o Diabetes Toca
o Coração escancara percepções equivocadas
capazes de repercutir nos cuidados com a
bate no
saúde. Praticamente dois terços dos partici-
pantes sem diabetes não enxergam a doença
como algo muito grave e mais da metade dos
cidadãos com o problema tampouco a encara
como uma condição extremamente séria.
peito
Na comparação entre os fatores de risco
para os males do coração, o diabetes é visto
como menos impactante em comparação
com outros perigos clássicos, caso da pres-
são alta e do cigarro. Enquanto a maioria
esmagadora dos respondentes associa a do-
Boa parte dos brasileiros ainda desconhece ença a amputações, um quarto do público
com diabetes e quase metade daqueles sem
a séria conexão entre diabetes e doenças a condição não concordam nem sabem
cardiovasculares e, sem orientação adequada, dizer que existe relação direta entre diabe-
tes e infarto. Ora, podemos afirmar que a
negligencia cuidados para evitar que esses sobrecarga de açúcar no sangue — e tudo
problemas encurtem anos de vida que vem na companhia dela — é um prato
por diogo sponchiato | design e infografia thiago lyra cheio para o entupimento das artérias.
4 0 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
Sem diabetes Com diabetes tipo 2
1 439 brasileiros
Consumo de doces
duas ou mais vezes
Estão abaixo do peso 4% 4%
Estão dentro do peso ideal 44% 24%
828 611
por semana
58% Estão acima do peso 43% 55%
Sem Com diabetes 44%
diabetes tipo 2 Estão muito acima do peso 9% 17%
Prática de atividade
48% 46% física pelo menos três
realização de consultas médicas
masculino masculino vezes por semana
de rotina (pelo menos uma vez
50% ao ano) para verificar a saúde
52% 54% 42% e problemas como colesterol
feminino feminino alto, hipertensão e diabetes:
Ingestão de açúcar
diariamente (no café,
sucos etc.)
Região do país em que eles vivem: 49%
24% 21%
Não 79%
12% 10% 18% 20% Consumo de frituras Sim
e pratos gordurosos
9%
Norte + Centro-Oeste Nordeste
duas ou mais vezes 91%
por semana
36%
35%
Consumo de bebida
alcoólica mais de uma Quanto o médico que acompanha
vez por semana o entrevistado fala e orienta
25% sobre problemas do coração:
18%
Não tem
acompanhamento
regular 15% 7%
Consumo de
mais alimentos
industrializados Não orienta nada 11% 6%
que naturais
18% 4% 1%
Sudeste 16%
Sul
14% 11%
Cigarro
15% 18%
7%
17% 16% 54% 54% 7% Orienta completamente 41% 57%
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 41
Para Couri, que também é pesquisador números que preocupam
da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Percepções erradas, falta de exames, lacunas de adesão ao
Preto, reverter esse cenário de desinformação tratamento e presença de alguns sintomas chamam atenção
passa por campanhas, compartilhamento Base • 828 / • 611
de conteúdo de qualidade e muita conversa
no consultório. “Os médicos, especialmente
exames feitos Não sabe/
diante de alguém com diabetes, têm o dever nos últimos Sim Não
não lembra
de esclarecer e orientar a prevenção das do- 12 meses:
enças cardiovasculares”, enfatiza. É um as-
sunto de saúde pública: falamos da principal Exame de
sangue para 96%
causa de morte no Brasil e no mundo. medir a 1% 0% 84% 15% 4%
Mas por que o diabetes pesa tanto nessa glicose
história? Para resumir uma ópera bioquímica
um tanto complexa, anos de açúcar dando
sopa na circulação geram um ambiente de Medida 0% 0% 93% 97% 7% 3%
da pressão
estresse e inflamação que, em última análi-
se, leva à obstrução nos vasos (e, aí, infarto e
AVC espreitam) e ao enfraquecimento do co-
ração (lá vem insuficiência cardíaca). “Além Teste 3% 3% 32% 38% 65% 59%
ergométrico
disso, o diabetes não costuma vir sozinho. É
comum estar atrelado a excesso de peso, co-
lesterol alto, hipertensão...”, nota Couri.
É claro que o paciente, devidamente Polissonografia 13% 14% 5% 5% 82% 81%
instruído, tem seu quinhão de responsabi-
lidade. E a pesquisa mostra que, embora as
pessoas tenham boa noção de um estilo de
vida saudável, há uma dificuldade ou resis- Medida da
tência na incorporação desses hábitos. Nesse circunferência 4% 4% 45% 43% 51% 53%
abdominal
sentido, os números mais preocupantes es-
tão do lado de quem tem diabetes. Menos da
metade pratica atividade física na frequência Exame de
recomendada pela Organização Mundial da colesterol 1% 0% 81% 91% 18% 9%
e triglicérides
Saúde — pelo menos três vezes por semana
— e, ainda que o tabagismo esteja em queda,
tudo leva a crer que gordura e açúcar apare- Exame da
cem mais do que deviam no cardápio. função renal 7% 7% 37% 53% 56% 40%
A balança também preocupa. Mais de 50%
dos indivíduos sem diabetes e 70% dos su-
jeitos com a doença se consideram acima ou
muito acima do peso. E o estudo revela que
nem metade dos entrevistados foi submetida como e
quanto os
a uma medida da circunferência abdominal entrevistados
no último ano. “É um exame simples e bara-
to cujo resultado chega a ser mais importan-
seguem o
tratamento
médico:
6% 66%
te do que os quilos da balança”, diz Couri. A Base • 454 / • 607
gordura da barriga está associada a descontro- (apenas quem toma remé-
dio regularmente) Toma os remédios de maneira
le da glicemia e maior risco cardiovascular. correta. Nunca esquece
4 2 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
Sem diabetes Com diabetes tipo 2
Câncer
90% 7% 2% 0% 1% 72% 21% 6% 1% 0%
Pressão alta
92% 6% 1% 0% 1% 74% 21% 4% 1% 0%
AVC Colesterol e 59% 27% 11% 3% 0%
78% 19% 3 % 0% 0% triglicérides
altos 60% 30% 9% 1% 0%
79% 17% 3% 0% 1% 42% 30% 21% 6% 1%
Diabetes
Infarto
61% 25% 11% 2% 1%
74% 20% 4% 1% 1%
47% 34% 15% 3% 0%
20% 4% 0% 1% Sedentarismo
75 %
46% 37% 15% 1% 1%
Alzheimer
72% 18% 7% 1% 1% 39% 33% 21% 6% 1%
Alimentação
desequilibrada
74% 18% 6% 1% 1% 40% 36% 20% 3% 1%
Insuficiência renal 71% 19% 8% 2% 0%
57% 31% 10% 1% 1% Tabagismo
7% 20% 6% 1% 0%
70 % 25 % 4 % 0 % 1 %
perguntamos se “Existe relação direta entre diabetes e infarto”
Insuficiência cardíaca os respondentes
49% 37% 11% 2% 1% concordam, 54% 8% 38%
discordam ou
não sabem dizer
56% 33% 9% 1% 1% o que pensam 75% 5% 20%
sobre as frases
Diabetes ao lado: “Existe relação direta entre diabetes e AVC”
36% 34% 25% 4% 1% 57% 10% 33%
Sim Não sei
18% 14% 9% 9% 5% 7% 1% 4%
Esquece de tomar pelo Esquece de tomar pelo Não esquece, mas não toma da Esquece de tomar
menos uma vez por mês menos uma vez por semana maneira que o médico instruiu quase diariamente
S a ú de é vita l • ag osto 2 0 1 9 • 4 3
A pesquisa Quando o Diabetes Toca o Co- em foco: quem tem diabetes
racão acusa um déficit na realização de con- Um bloco do estudo foi dirigido exclusivamente aos brasileiros com
sultas e exames de rotina. Mais de 20% dos diabetes tipo 2. Há pontos a melhorar do lado do médico e do paciente
respondentes sem diabetes admitem não ir Base • 611
ao médico pelo menos uma vez ao ano. O
público com a doença se sai um pouco me-
Há quanto tempo foi
lhor: ainda assim, um em cada dez não vai diagnosticado com diabetes:
ao consultório uma vez sequer no período
de 12 meses. Alguns exames importantes
para averiguar ou monitorar complicações
do quadro também passam batidos. Exem-
plos críticos: só 38% dos pacientes fizeram Menos de Menos de Mais de um ano Mais de
um teste ergométrico, que apura presença seis meses um ano até cinco anos cinco anos
de irregularidades cardíacas, e 47% não re-
alizaram (ou não se lembram de ter feito)
uma prova da função renal no último ano.
Lacunas significativas de orientação mé-
3% 4% 31% 62%
dica e adesão ao tratamento também foram
observadas. Pensando nos pacientes com
diabetes, em 44% dos casos o profissional
que os acompanha não falou sobre proble-
mas do coração na última consulta e, em Com qual profissional de saúde
faz o acompanhamento da doença:
16%, se falou, a orientação foi considerada
insatisfatória. O dado reforça a necessidade 3%
de abordar mais e de forma contundente o 1% Não sabe, faz no posto
Nutricionista de saúde/hospital
papel da doença nas enfermidades cardio-
vasculares em consultório. Inclusive para
1% 3%
engajar as pessoas a seguirem o plano tera- Ginecologista Não faz
pêutico: 34% dos indivíduos com diabetes acompanhamento
revelaram não levar ao pé da letra a prescri- 1%
Geriatra
ção na hora de tomar os remédios.
A pesquisa soa outro alarme. Parcela ex-
pressiva dos entrevistados relata a presença
de sintomas que podem indicar comprome-
timento nas artérias, como tontura e dor nas
pernas e no peito. No mínimo, eles pedem
uma investigação detalhada com o médico.
E tem mais um ponto urgente: entre os 87 13%
participantes diabéticos que já tiveram infar- Cardiologista
61%
to, AVC ou outro perrengue do gênero, mais Endocrinologista
de um terço admite não ter começado a se
cuidar mais após o episódio e, para a maio-
ria, o profissional não alterou o tratamento
do diabetes. “Isso é gravíssimo, porque são Na pesquisa, 87 pessoas com diabetes
as pessoas mais vulneráveis a esses perigos. tiveram um problema cardiovascular sério.
Tanto os médicos como os pacientes preci- 17% Mas quase 40% não passaram a se cuidar
Clínico geral
sam vencer a inércia”, defende Couri. mais depois disso, continuando em risco
4 4 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
Com diabetes tipo 2
Base 263
Para o
63% colesterol
Hipertensão 69% 12% 9% 3% 7%
Base 605
Para o
diabetes
48% 68% 14% 8% 3% 7%
Impotência
sexual
(apenas Base 23
homens) Para a perda
de peso 48% 13% 4% 9% 26%
39%
Comprome-
timento da apuramos como mudou a perguntamos: em sua
visão rotina das pessoas com diabetes última consulta para
que passaram por um infarto, avc controle do diabetes,
ou insuficiência cardíaca: o médico orientou
sobre problemas do
coração?
10% Base • 87 (apenas quem teve uma Passaram a fazer Base • 567 (apenas quem
Doença complicação cardiovascular) mais exercícios faz acompanhamento regular)
renal
36%
Sim, e foram informações
Passaram a se Dependem mais esclarecedoras e satisfatórias
cuidar mais de serviços de saúde 40%
9% 63% 31%
Insuficiência Sim, mas foram informações
cardíaca insatisfatórias
Têm mais gastos Ficaram
16%
com a saúde deprimidos Não
63% 23% 44%
7%
Infarto Passaram a tomar
remédios com a Sentem mais medo medicamento para
frequência correta de morrer o diabetes não foi
57% 18% alterado pelo médico
na maioria dos casos
2% de comprometimento
AVC
Dependem mais cardiovascular sério:
Passaram a dos outros (família,
amigos etc.)
31 %
comer melhor
48% 13%
Houve
1% mudança
Amputação Ficaram com a vida Nenhuma mudança
de membros mais limitada se aplica
11% 69%
38%
Não houve
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 4 5
tuberculose
A infecção
mais mortal
do mundo
O diagnóstico é fácil e o tratamento cura. Mesmo assim,
a doença ainda faz muito estrago por aí. Saiba o que
falta para ela finalmente virar coisa do passado
por andré biernath | design Glenda Capdeville | ilustrações victor bauren
M
uito antes de se tornar destino conta a historiadora Ana Enedi Prince, da
turístico badalado no inverno, Universidade do Vale do Paraíba (SP), auto-
a cidade paulista de Campos ra de quatro livros sobre esse período.
do Jordão cresceu e ganhou Com o passar dos anos, a prática da cha-
fama por abrigar pacientes com tuberculo- mada climaterapia, tão em voga em Campos
se. Desde a segunda metade do século 19, do Jordão e outras localidades, como a Suíça,
acreditava-se que o ar frio e puro de suas perdeu força pela falta de evidências sobre
montanhas era o melhor tratamento con- sua eficácia. Além disso, a chegada dos anti-
tra o Mycobacterium tuberculosis, o bacilo bióticos, nos anos 1940, revolucionou de ver-
de Koch, bactéria que invade os pulmões e dade esse campo da medicina e permitiu que
provoca danos potencialmente fatais. os indivíduos acometidos fossem curados.
Em poucas décadas, foram construídas Porém, engana-se quem pensa que essa
casas de repouso grandes e luxuosas para moléstia seja um assunto superado: em ple-
atender os clientes ricos, enquanto os mais no século 21, 70 mil brasileiros continuam
pobres eram acolhidos em sanatórios man- a ser diagnosticados todos os anos com a
tidos por associações de caridade. “O fluxo condição — sete pessoas a cada hora! Desses,
de pessoas aumentou tanto que o governo 4 500 morrem. No mundo, são 10 milhões Contágio
do estado de São Paulo construiu na déca- de casos a cada 12 meses e 1 milhão de A doença se espalha
da de 1910 uma linha de trem até o mu- óbitos. Números tão expressivos fazem da facilmente em locais
nicípio, a pedido dos famosos médicos sa- tuberculose o quadro infeccioso que mais fechados por meio de
nitaristas Victor Godinho e Emílio Ribas”, mata no planeta. tosses e espirros.
4 6 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
Bacilo da
tuberculose
bactéria globalizada
A situação é precária na Ásia e na África. Nas Américas,
o Brasil responde por cerca de 30% dos casos da doença
7 brasileiros
são infectados
a cada
1
hora 1/3
da humanidade
tem o bacilo
de Koch vivendo
em seus pulmões
70 10
25 - 99
100 - 199
200 - 299 mil 4 500 milhões 1 milhão
300 e mais novos casos morrem novos casos morrem
Sem informação
Não se aplica
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 47
Transmitida por meio de gotículas que
contexto de fragilidade saem da boca e do nariz, a tuberculose se es-
Alguns grupos têm um risco elevadíssimo de desenvolver a doença palha fácil: estima-se que o bacilo de Koch
esteja presente nos pulmões de pelo menos
um terço da humanidade. Mas por que al-
guns desenvolvem a doença e, em outros, ela
permanece silenciosa? “Isso está relacionado
ao sistema imunológico de cada um. Quem
não se alimenta bem, por exemplo, não res-
ponde à invasão de maneira adequada”, ex-
plica a epidemiologista Ethel Leonor Maciel,
da Universidade Federal do Espírito Santo
(Ufes). Indígenas em situações precárias, in-
56x
pessoas em
divíduos infectados com HIV sem tratamen-
to adequado e pessoas privadas de liberdade
ou em situação de rua estão sob risco muito
situação de rua
maior de sofrer a pane respiratória.
A condição é frequente nos países mais
pobres do globo. Ela se desenvolve justa-
mente em favelas e cortiços, locais com
pouca circulação do ar e grande concentra-
ção de habitantes. Quem mora nesses lu-
28x gares pena com a falta de dinheiro para se
indivíduos alimentar e não tem um serviço de saúde
privados de de qualidade. Tanto é que pequenas melho-
liberdade ou rias na condição social já são decisivas para
infectados uma queda nos números. Um estudo da
com HIV Ufes, publicado no periódico científico The
Lancet, mostrou que o Bolsa Família, estraté-
6 MESES gia que fornece uma verba extra a cidadãos
de tratamento de baixa renda, aumentou as taxas de cura
3x da tuberculose em 8%. Esse dinheiro talvez
indígenas permita uma dieta mais saudável ou sirva
75% para pagar o transporte até os consultórios
e clínicas onde é feito o acompanhamento.
de cura
4 8 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
Por mais que esses grupos sejam prio- biologista Pedro Eduardo da Silva, vice-
ritários, cabe ressaltar que a infecção não -presidente da Rede-TB, associação que re- O poder
distingue classe social: até famosos, como o úne profissionais da saúde interessados no da BCG
zagueiro da seleção Thiago Silva e a cantora tema. É preciso persistir nos comprimidos Essa vacina, aplicada
Simaria (que faz dupla com Simone), foram durante um semestre para evitar que a do- logo nos primeiros
afetados nos últimos anos. “E quem sofre ença volte mais forte algum tempo depois. dias do bebê, é
com doenças crônicas, como diabetes e ar- A estratégia atual é bastante eficiente. Po- essencial para evitar
trite reumatoide, ou usa remédios que aba- rém, ainda restavam algumas situações em os quadros mais
lam o sistema imune também precisa ficar que, mesmo com o extenso arsenal de dro- graves de
atento e fazer testes periódicos”, recomenda gas, os bacilos continuavam a tocar o terror. tuberculose na
o médico Olavo Henrique Munhoz, da So- Mas até esse cenário ganhou uma alternati- infância. Ela costuma
ciedade Brasileira de Infectologia. va, com a recente aprovação da bedaquilina, deixar uma
O recado que fica é: se estiver com tosse da farmacêutica Janssen, a primeira novida- marquinha no braço,
frequente por mais de duas semanas, pro- de contra a tuberculose dos últimos 50 anos. que muitas pessoas
cure um médico para avaliar a situação. Os “Ela será utilizada nos casos especiais que são carregam pelo resto
exames que flagram a bactéria são relativa- multirresistentes às opções disponíveis hoje da vida. Mais
mente simples. Quando a suspeita é maior, como padrão”, esclarece a pneumologista recentemente surgiu
o médico também pede uma radiografia do Margareth Dalcolmo, da Fundação Oswaldo a dúvida: quem não
fonte: comissão de tuberculose da sociedade brasileira de pneumologia e tisiologia
tórax. Há ainda métodos mais modernos Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. tem a tal cicatriz
chegando ao mercado, como uma análise de Essa novidade e outras que estão por vir, deve tomar um
sangue desenvolvida pela empresa EuroIm- como princípios ativos e vacinas que passam reforço desse
mun. “Ela identifica até os quadros latentes, por pesquisas, serão decisivas para a gente imunizante? Não
que não dão sintomas”, destaca Gustavo alcançar as metas da Organização Mundial precisa! Uma dose já
Janaudis, diretor executivo da companhia. da Saúde: diminuir em 90% o número de é suficiente para
Se a moléstia for detectada, a boa notícia casos e em 95% a mortalidade da tuberculo- ganhar proteção.
é que na maioria das vezes o tratamento se até 2035. “Para alcançar isso, montamos
tem poder curativo. E o melhor é que ele um plano nacional em que estipulamos di-
está disponível para todos na rede pública ferentes cenários e recomendações para que
— não é nem possível comprar remédios cada cidade melhore a sua rede de assistên-
antituberculose em farmácias, pois todo cia”, conta a infectologista Denise Arakaki,
o processo é regulado e padronizado pelo responsável pelo planejamento das ações
Ministério da Saúde. “Nos primeiros dois contra a doença no Ministério da Saúde.
meses, prescrevemos quatro fármacos. Nos A tuberculose não é mesmo coisa do passa-
quatro meses seguintes, é necessário tomar do… E vai depender de um esforço conjunto
dois medicamentos”, descreve o micro- para ela não comprometer nosso futuro.
Metas da OMS
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 49
sinfonia
pela sua
saúde
A música está ganhando poder de remédio para silenciar
males tão distintos quanto dor e depressão. Entenda como
ritmos e melodias reverberam na cabeça e no corpo
por andré biernath | design eduardo pignata | ilustrações jonatan sarmento
A
cacatua Snowball virou febre no instigadas — poucas atividades intelectuais
YouTube: seus vídeos chegam a 7 têm um efeito tão amplo. “Regiões respon-
milhões de visualizações. Neles, sáveis por atividade motora, memória, lin-
a ave dança e chacoalha a cabeça guagem e sentimentos são recrutadas para
ao som de hits do cantor Michael Jackson interpretar os estímulos sonoros”, destrin-
e da banda Queen. Esse requebrado todo cha a enfermeira Eliseth Leão, pesquisado-
chamou a atenção de cientistas das univer- ra do Instituto Israelita de Ensino e Pesqui-
sidades americanas Tufts e Harvard, que sa Albert Einstein, na capital paulista.
resolveram investigar a fundo essa habili- Mas essas reações não se limitam à massa
dade única. Eles descobriram que o pássa- cinzenta. Experimentos mundo afora vêm
ro, morador de um santuário na cidade de testando e reconhecendo o poder terapêu-
Duncan, na Carolina do Sul (EUA), é ca- tico das melodias para enfrentar os males
paz de realizar 14 movimentos, que variam que abalam a mente e também o corpo.
conforme a batida das canções. Tanto é que estudiosos já ousam encará-las
O bailado de Snowball pode até parecer como um remédio de verdade, com prescri-
inusitado e arrebatar milhões de espectado- ção de dose e esquema de uso.
res. Mas você já parou pra pensar sobre a in- Os trabalhos pioneiros nessa área foram
fluência que a música tem sobre nós, seres iniciados na psiquiatria e mostraram que as
humanos? Afinal, ela está presente em todas composições têm um papel a cumprir em
as fases da vida e dita o ritmo das mais varia- doenças como a ansiedade e a depressão.
das situações e momentos. Pode reparar: até “Elas também são capazes de reduzir o nível
mesmo os bebês recém-nascidos fazem sons de estresse durante um procedimento cirúr-
com a boca e são atraídos por barulhos mui- gico, baixam a pressão arterial e a frequência
to antes de dizerem as primeiras palavras. cardíaca e até aceleram a recuperação após
Para a ciência, não há dúvidas de que a uma sessão de exercícios físicos”, lista o fisio-
música tem um impacto nas emoções, no logista Vitor Engrácia Valenti, da Universida-
comportamento e, em última análise, até de Estadual Paulista, em Marília, que publi-
na saúde de cada um de nós. Quando to- cou uma série de pesquisas que investigam
camos um instrumento ou ouvimos algu- essas questões. Mas será que todos os estilos
ma gravação, diversas áreas do cérebro são musicais têm o mesmo efeito?
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 5 1
Intuitivamente, nós sabemos selecionar Essa profissão, que começa a ganhar
o melhor tipo de som para cada ocasião. Na mais força e destaque no Brasil, tem atu-
academia de ginástica, por exemplo, preferi- ação garantida em diversas áreas da saúde.
mos ritmos mais acelerados, que ajudam a Pode aprimorar, por exemplo, o aprendiza-
dar aquele gás extra para o esforço físico. Já do na infância ou até mesmo dar suporte
durante a meditação ou a leitura, apostamos para que crianças autistas interajam me-
em composições mais calmas, que auxiliam lhor com amigos e familiares. “Por meio
a focar e relaxar. Mas é preciso considerar que dos sons, trabalhamos habilidades impor-
isso muda de acordo com o lugar onde você tantes, como os movimentos corporais, a
nasceu. “Na cultura ocidental, batidas mais memória e o raciocínio, além da percepção
rápidas e progressivas são sinal de alegria, auditiva e espacial”, lista o psicopedagogo
enquanto um compasso lento denota certa Junior Cadima, do Instituto Brasileiro de
tristeza”, ensina o neurocientista Raphael Formação de Educadores, em São Paulo.
Bender, do Centro Estadual de Educação Pro- A musicoterapia ganha espaço em ou-
fissional Professora Lourdinha Guerra, em tras fases da vida. Ela vem se mostrando
Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Em um recurso importante após um acidente
alguns países orientais, essa lógica se inverte. vascular cerebral (AVC), especialmente nos
Com base nessas observações, cientis- casos em que o indivíduo desenvolve uma
tas começaram a questionar se havia um sequela chamada afasia. Nessas situações,
estilo musical que fosse mais vantajoso há uma dificuldade em encontrar as pala-
que os outros. A escolha natural na maio- vras para descrever as coisas e se comunicar
ria das pesquisas são as músicas clássicas com os outros. Por meio das canções, essa
compostas por Mozart, Bach ou Vivaldi. recuperação se torna mais suave e natural.
“É impressionante como elas continuam O mesmo princípio se encaixa em outras
a transmitir uma mensagem mesmo após doenças, como o Alzheimer e o Parkinson.
três ou quatro séculos de seu lançamento”, Há tentativas ainda mais sofisticadas que
observa Eliseth. Porém, não dá pra cravar envolvem criar melodias específicas vol-
que esse seja o estilo mais saudável de to- tadas para tratar determinadas condições,
dos. Ora, se você não curte a Nona Sinfonia como o zumbido ou o excesso de estresse.
de Beethoven, escutá-la repetidamente só É o que faz o maestro Marcelo Fagundes, de
vai deixá-lo mais incomodado. Por isso, São Paulo, que desenvolveu um aplicativo
nesse processo é essencial botar na balança com as chamadas músicas binaurais. “Por
os gostos pessoais de cada um. meio de fones, nós mandamos frequências
É justamente aí que entra a figura do de sons diferentes para os ouvidos direito e
musicoterapeuta, profissional que faz uma esquerdo, o que traz um ganho ao cérebro”,
graduação ou uma pós-graduação com o conta. Pesquisas estão em curso para men-
objetivo de aplicar a música como um tra- surar a eficácia dessa estratégia.
tamento complementar às mais diversas De maneira geral, a ciência precisa evoluir
condições. “Lançamos mão de técnicas que bastante antes de realmente entendermos to-
envolvem a audição, a recriação de sons, das as potencialidades da música em nossa
a composição e o ato de tocar um instru- saúde e a prescrição delas como um medi-
mento para alcançar um objetivo terapêu- camento. Enquanto esse dia não chega, nos
tico, sempre levando em consideração o resta botar o fone de ouvido (em um volu-
histórico e as preferências do paciente”, me não tão alto, por favor), relaxar e curtir
explica o musicoterapeuta José Davison da os cantores e instrumentistas que deixam a
Silva Junior, professor da Universidade Fe- mente leve e feliz — quem sabe até remexen-
deral de Minas Gerais. do o corpo feito a cacatua Snowball.
5 2 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
pílulas de dó, Autismo
ré, mi, fá, sol... Brincar com
instrumentos é uma
As aplicações terapêuticas forma de interagir
da música com maior número com os outros e
de evidências científicas estabelecer laços
sociais fortes.
Estresse AVC
Tons calmos e As letras e
alegres aliviam composições são
a tensão do dia uma tática para
a dia e aplacam recordar palavras
o nervosismo perdidas após um
acumulado. derrame.
Hipertensão Dor
O coração tende Experimentos viram
a acompanhar as que a quantidade de
batidas da música. analgésicos usados
Se o ritmo for mais após a cirurgia era
lento, a tendência menor em quem
é a pressão cair. escutava música.
aprendizado
Parkinson Canções e paródias
Percussões bem são um recurso usado
demarcadas ajudam por professores para
no tremor e ajudar os alunos a
na marcha. memorizar certos
A musicoterapia é conteúdos.
uma boa pedida aqui.
exercício
para domar a
A atividade física pode e deve integrar o dia a dia de quem tem hipertensão.
A questão é como ajustá-la para minimizar os riscos e potencializar os benefícios
por fernando barros | design eduardo pignata | ilustrações niege borges
“
H
ipertensos são proibidos de se exer- explica Claudia Forjaz, profissional de edu-
citar.” Se você já ouviu essa frase cação física da Universidade de São Paulo
ou, pior, soltou-a por aí para justi- (USP). Essa molécula, para quem não a co-
ficar o próprio sedentarismo, saiba nhece, relaxa as artérias.
que cada vez mais surgem evidências cien- Entre as várias modalidades esporti-
tíficas do contrário. Uma revisão recente vas a serem escolhidas pelos hipertensos,
de nada menos que 391 estudos publicada cabe destacar as aeróbicas, que trabalham
no British Journal of Sports Medicine (BJSM) bastante o fôlego. “Elas promovem uma
indica, por exemplo, que o esforço físico melhor distribuição sanguínea e a geração
tem o mesmo potencial dos remédios no de substâncias vasodilatadoras. O óxido
controle dessa doença. nítrico, por exemplo, é liberado em maior
Então quer dizer que o pessoal ativo quantidade com esse tipo de prática”, ob-
pode abandonar a medicação? De jeito ne- serva André Fernandes, vice-presidente do
nhum! Os resultados dessa investigação, Conselho Regional de Educação Física do
conduzida por instituições americanas e Rio de Janeiro e Espírito Santo (CREF-1).
europeias, sugerem encarar as doses diá- Mas não é para deixar de lado os treinos
rias de movimentação como parte central de força, não. A musculação prepara o corpo
do tratamento, junto com os comprimi- para outros exercícios — o que diminui o
dos. Para entender o porquê, cabe lembrar e, acima de tudo, contribui
risco de lesões —
que, na hipertensão, as artérias ficam mais para a saúde de maneira geral. Até porque
contraídas do que o normal, dificultando a ninguém se resume a uma doença, certo?
passagem do sangue. Esse aperto, por sua Para controlar a hipertensão de vez e, assim,
vez, faz a pressão decolar. “Os exercícios re- dar mais espaço às coisas que fazem a vida
gulam o sistema nervoso simpático [ordens valer a pena, separamos a seguir os princi-
do cérebro que incluem a constrição dos vasos] pais cuidados que alguém com esse proble-
e aumentam a produção de óxido nítrico”, ma crônico precisa ter ao abandonar o sofá.
5 4 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
Pare de
malhar
se tiver:
• Tontura
• Dor no peito
• Fadiga incomum
• Palpitação
• Falta de ar
• Desmaio
• Aumento
expressivo e
súbito da pressão
a interação
entre esporte
e os remédios
Como largar o
sedentarismo reduz
a pressão, o médico
talvez precise
acertar as doses
das medicações
anti-hipertensivas.
Além disso, algumas
classes de remédios
podem alterar a
frequências dos
dose a intensidade batimentos
cardíacos ou
Sim, sessões esportivas regulares contêm a hipertensão no longo prazo. Mas, deflagrar cãibras
durante o suadouro, a pressão sobe um pouco — e o grau de esforço é um dos — dois fatores
principais moduladores desse fenômeno. Logo, atividades muito vigorosas podem que atrapalham
gerar picos de pressão, capazes de desembocar em ameaças como um AVC. Como as passadas e
saber se o ritmo está entre leve e moderado? Se você tiver que parar uma frase curta pedaladas. Se isso
no meio para buscar fôlego, é sinal de que passou do ponto. “Numa caminhada, acontecer, converse
corrida ou dança, podemos também considerar a frequência cardíaca máxima. O com o doutor.
recomendado é treinar entre 50 e 70% desse indicador”, pontua Luana Queiroga,
educadora física das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Aparelhos
eletrônicos e especialistas ajudam a fiscalizar esses números no treino.
S a ú d e é v i tal • ag osto 2 0 1 9 • 5 5
Aposte na Valorize
duração atividades
Ao contrário da aeróbicas
intensidade, o tempo
Segundo um
de exercício não vai
capítulo assinado
provocar picos de
pela professora
pressão. Ou seja,
Claudia Forjaz
os hipertensos
no livro Avaliação
conseguem domar
e Prescrição de
seu problema
Exercícios Físicos:
com segurança ao
Normas e Diretrizes
prolongar o período
(Editora Manole),
destinado ao
essas modalidades
treino. Em relação
reduzem em 6,9
aos aeróbicos,
mm/Hg a pressão
recomendam-se
sistólica (o primeiro
pelo menos 30
valor da medida)
minutos, três vezes
nos hipertensos.
na semana (o que
Mas essa queda
pode aumentar com
é significativa?
o passar dos meses).
“Estudos indicam
Já na academia,
que cada 3 mm/Hg
“apostar na duração”
a menos diminuem
significa reduzir
o peso e elevar o
descanse e meça a pressão em 8% o risco de
Na musculação, é importante repousar de um a dois minutos entre morte por AVC e
número de repetições
um aparelho e outro. Essa pausa serve para baixar os batimentos em 5% o de óbitos
a cada série.
do coração e não deixar a pressão ir às alturas. Os intervalos, aliás, por problemas
são uma oportunidade para verificar se o sistema cardiovascular cardíacos”, destaca
está se comportando direitinho. “Um limite aceitável durante Claudia. Por outro
os exercícios é de 200 mm/Hg na pressão sistólica”, sugere o lado, restam dúvidas
cardiologista e vice-presidente do Conselho Regional de Medicina se puxar ferro
do Estado da Bahia (Cremeb), Júlio Braga. Conversar com um baixa mesmo
profissional para definir o próprio limiar é uma boa medida. Se a pressão.
ultrapassá-lo, bote o pé no freio, pelo menos por um momento.
5 6 • S a ú d e é v i ta l • ag osto 2 0 1 9
foque em
poucos grupos
musculares
Essa dica visa especificamente
os treinos de força. Quanto maior
a massa muscular recrutada
Não prenda o ar em uma série, mais a pressão
dispara. “Isso porque uma maior
Eis uma prática comum em exercícios isométricos — aqueles em que ficamos região corporal está contraída,
parados numa postura — ou quando levantamos peso demais. Pois fique sabendo oferecendo resistência à
que o simples ato de segurar o ar na malhação é contraindicado a hipertensos. passagem do sangue”, esclarece
“Nessa manobra, a contração da musculatura respiratória estimula a ação do Claudia. Em outras palavras,
sistema nervoso simpático”, informa Rafael Pitta, educador físico do Hospital quem foi diagnosticado com
Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Com ele no comando, a pressão sobe. hipertensão se beneficia ao
priorizar exercícios na academia
que isolem um ou outro músculo.
Sempre converse Uma possibilidade é, em vez
de fortalecer as duas pernas
com um profissional de uma vez, revezar entre elas.
Exemplos não faltam e podem ser
Antes de sair por aí suando a camisa,
discutidos com o professor.
o indivíduo com hipertensão deve se
submeter a uma avaliação médica do
próprio condicionamento físico, que em
geral inclui o teste ergométrico. O recado
vale principalmente para quem também
apresenta diabetes, colesterol alto ou
outras encrencas cardiovasculares.
Buscar a orientação de um educador físico
é outro conselho precioso para afastar os
riscos de qualquer exercício.
S a ú d e é v i ta l • ag osto 2 0 1 9 • 57
Sempre quis saber por goretti tenorio
trás da dor
de garganta?
A queixa, mais frequente quando
as temperaturas caem e o ar fica
mais seco, é capaz até de levar a
complicações em outros órgãos
pus
1 vilões em cena
O problema pode ser causado por
vírus ou bactérias. A infecção viral, vírus bactéria
amígdala
2 confusão armada
Os vírus ou bactérias infectam células
e se multiplicam na área da garganta.
O sistema imune reage, desatando uma
inflamação. Se o agente for um vírus, o
contra-ataque do organismo acontece
em toda a região. Quando a causa é
inflamação
uma bactéria, a batalha tende a se
concentrar nas amígdalas.
Uso excessivo
da voz, irritação a
ar seco e fumaça,
alergias e refluxo
levam à chamada
dor de garganta
não infecciosa
5 8 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
célula do
sistema
imune
hora de agir
Descubra se os itens
abaixo ajudam quando a
dor de garganta se instala
Pastilhas
Com propriedades
analgésicas e anti-
-inflamatórias, elas
atenuam as dores, mas
não tratam a infecção.
3 incômoda consequência
A ofensiva viral e a reação inflamatória
despertada por ela afetam toda
antibióticos
Combatem só o ataque
bacteriano. Se for viral, o
a mucosa da garganta, gerando
jeito é aliviar os sintomas
vermelhidão, coceira, inchaço e dor.
com analgésicos e anti-
Na bacteriana, as amígdalas ficam
garganta -inflamatórios.
inchadas e podem sediar uma placa
esbranquiçada, o pus. A febre pode dar
as caras em ambos os casos.
Própolis
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 5 9
bichos por goretti tenorio
é uma forma de prevenir”, esclarece a veterinária Maria Cristina Timponi, quieto demais
presidente da Comissão de Entidades Veterinárias do CRMV-SP. Enquanto Ele fica mais abatido e
a catarata é caracterizada pelo turvamento do cristalino, lente natural do deprimido. Se for glaucoma,
olho, o glaucoma compromete o nervo óptico. Pode ocorrer em função de que provoca dor, tende a
uma luxação na lente ocular, traumas ou mesmo infecções disseminadas passar a pata nos olhos.
por carrapatos. “O diagnóstico é feito com exames do fundo do olho e
medição da pressão intraocular”, explica Maria Cristina. Quanto mais cedo sensível à luz
forem detectadas e tratadas as encrencas, maior a chance de seu amigo de O animal pisca o tempo
quatro patas continuar fazendo festa ao ver você chegar. todo e a parte branca
do olho tende a ficar
avermelhada.
mal à vista
Entenda as enfermidades
que acabam com a visão
catarata
• O cristalino, lente
ocular que normalmente
é translúcida, fica opaco
e não permite que a luz
passe, diminuindo a visão.
Glaucoma
• Há um problema de
drenagem dos líquidos
foto: Martin Poole - getty images
• Tratamento: colírios
e medicamentos que
diminuem essa pressão.
6 0 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
filhos por goretti tenorio
O alerta vem do
Centro de Controle
e Prevenção de Doenças
Pode ser vaivém, bolinha... sessões extras após doces.
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 61
papo-cabeça por diogo sponchiato
J á encarados como algo sem nexo nem valor científico, os sonhos que
há mais de um século foram resgatados por Sigmund Freud (1856-
-1939) hoje encontram na neurociência as provas de seu fascinante papel
para o cérebro, a mente e a cultura humanas. Se povos e civilizações
antigos os interpretavam como profecia e guia para decisões coletivas,
dá pra dizer que, do ponto de vista psicológico e biológico, as narrativas
oníricas permitem recrutar memórias e dados do passado (muitos
inconscientes) para prever problemas e planejar soluções no dia a dia.
É o que defende o cientista brasileiro Sidarta Ribeiro, do Instituto do
Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande Norte, no livro O Oráculo
da Noite. A obra revisita nossas origens como espécie e sociedade e, com
um extenso repertório que mescla de literatura antiga a experimentos
de laboratório de última geração, vislumbra o potencial de usarmos os
sonhos para nos aperfeiçoarmos como indivíduos e humanidade.
6 2 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
Restrições ou prejuízos ao Pesquisas feitas aqui no Brasil
período em que deveríamos atestam esse papel e mostram
estar sonhando podem afetar que isso é verdade até mesmo
nossa saúde? em casos de psicose. Estudos que
Sabemos que o sono tem um se valem de relatos de sonhos
grande impacto na saúde física e mostram, por exemplo, que eles
mental. Quem dorme mal corre são úteis para diagnosticar
maior risco de ter obesidade, distúrbios psiquiátricos,
hipertensão, depressão, principalmente a esquizofrenia.
Alzheimer... Mas um sonho ruim
[a capacidade de sonhar A capacidade de domar os
prejudicada], ainda que possua próprios sonhos — o sonho
efeitos mais sutis, tem lúcido — pode ser bem-vinda
repercussões negativas para a à humanidade?
memória. O período do sono Controlar os próprios sonhos é
REM, em que a gente mais sonha, uma maneira reconhecida de
é fundamental para atenuar o superar traumas, se libertar de
impacto de vivências negativas, pesadelos e episódios negativos.
por exemplo. Aprimorar essa capacidade seria
bem-vindo a pessoas saudáveis,
O senhor defende no livro embora não pareça algo bom para
que a gente busque recordar pessoas com psicose, porque há
os sonhos. Por quê? o risco de se confundir ainda mais
O sonho é uma antena de tudo realidade com imaginação. Da
que acontece ao redor e que perspectiva da espécie humana
por vezes fica no inconsciente. e do planeta, os sonhos foram
Voltar-se para os sonhos é abandonados nos últimos 500
uma forma de lidar com os anos por um mundo focado na
acontecimentos e preparar-se aquisição de bens, que pouco se
para o que vai ocorrer. Para nos preocupa aonde as coisas vão
recordarmos deles, podemos chegar. O sonho lúcido nos abre
criar o hábito de mentalizar, para a possibilidade de sermos
antes de dormir, o que queremos mais introspectivos e controlarmos
sonhar e a intenção de recuperar melhor nossa mente, e isso nos
esses sonhos, e o de, ao ajuda a prever rumos e a escolher
despertar, ficar mais alguns qual o mundo que queremos, algo
minutos na cama tentando que hoje parece estar num
resgatar o que foi sonhado. caminho um tanto perigoso.
S a ú de é v i ta l • ag osto 2 0 1 9 • 6 3
ZOOM por diogo sponchiato
6 4 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
no maior
grude
Nosso corpo não gosta
de chorar pelo sangue
derramado. Por isso
dispõe de elementos
que, uma vez desatada
a sangria, se deslocam
para prestar socorro e
estancar o ferimento.
São as plaquetas, estas
semicélulas que se
grudam para formar
coágulos e impedir que
o sangue vá embora.
16
milhões
É a quantidade média
de plaquetas em uma
gota de 50 milímetros
cúbicos de sangue.
8 10 A
É o número de dias
que uma plaqueta
vive, em geral, no
nosso sangue.
S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9 • 6 5
com a palavra
Gustavo Belchior
O que esperar da
Cannabis medicinal?
O potencial terapêutico da
Cannabis sativa, planta mais
conhecida mundo afora pelo uso
costuma ter consequências
indesejadas. A dependência,
de qualquer tipo, tende a afundar
Gustavo Belchior
é biólogo, Ph.D.
recreativo (maconha), nunca o usuário em sofrimentos ainda em bioquímica e
esteve tão em alta. Cada vez maiores do que aqueles que o biologia molecular
mais estudos mostram efeitos levaram ao consumo, às vezes pela Universidade
promissores para a melhoria de arrastando amigos e familiares. de São Paulo e
fundador e CEO da
sintomas em diferentes doenças. Quando a substância é um
Core Us Consultoria
Entre elas estão a esclerose entorpecente ilícito, então, o e Comunicação
múltipla, distúrbios do sono, contexto se agrava. Mas o ponto Científica
quadros de dor crônica, alguns é que a proibição total e irrestrita
tipos de epilepsia e o enjoo da Cannabis, o que inclui seu uso
e a náusea provocados pela medicinal, impactaria não só
quimioterapia. Em alguns casos, pacientes já beneficiados, mas
os medicamentos derivados da potencialmente muitos outros.
Cannabis são os únicos capazes E, com a pesquisa de novas
de beneficiar pacientes que aplicações também proibida, não
não encontraram alívio com se pode sequer investigar mais
os tratamentos clássicos. efeitos terapêuticos da planta.
Mas por que, então, a Assim, precisamos deixar claro
liberação desses medicamentos que a Cannabis em si não é um
gera tanta preocupação no país? vilão. Tratá-la desse jeito seria o
Apesar de o emprego medicinal mesmo que condenar todas as
da planta ter surgido na China facas de cozinha do mundo por
há milênios, na sociedade atual episódios de violência com o
a Cannabis é mais conhecida por utensílio. Tudo depende da
propiciar recreação, escape ou forma e do objetivo do uso.
diversão — algo completamente Portanto, a discussão sobre a
diferente da aplicação regulamentação da Cannabis
terapêutica. Esse uso foi proibido deve visar a um saldo positivo
no Brasil desde a década de 1960, para a sociedade — num
vetando, na realidade, todo e movimento que exige a máxima
qualquer tipo de utilização. E aí responsabilidade de médicos,
está o início de uma confusão pacientes, cientistas, indústria
que se estende até hoje, mas e governo. Com prudência e a
ilustração: marcelo garcia
6 6 • S a ú d e é v i ta l • ag o sto 2 0 1 9
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